Mostra Trajetória Continuada de Marcelo Colares Produção de texto e curadoria: Camila Vieira Claudia Cassal Helen Helena Almeida Laís Minori Paula Simão Toledo Orientação: Prof.a Sônia Campaner Marcelo Colares (Montes Claros, 1969) é artista autodidata e redator publicitário. Sua mãe, Maria Aparecida, lecionava aulas de pintura, e seu tio, Raymundo Colares, foi artista de grande destaque no cenário brasileiro a partir dos anos 60. A pintura, que num primeiro momento era um hobby, se tornou parte importante da vida de Marcelo, cuja maior influência vem das obras de seu tio. Em suas obras, observa-se a desconstrução da ordem, harmonizada pela força das cores e das formas. Nos últimos dois anos a PUCSP tem cedido este espaço do prédio 2 do Campus Marquês de Paranaguá para a exposição de mostras organizadas por alunos e professores da Universidade. Algumas mostras foram realizadas durante esses anos como a série Entremeios 1, 2 e 3, que reuniu um coletivo de artistas urbaos, além de Sudários, por artista plástico João Bosco Millen. A mostra “Trajetória Continuada”, realizada por alunas do curso de Arte: História, Crítica e Curadoria e organizada pela Profª Sônia Campaner, do Departamento de Filosofia da PUC-SP, traz 12 obras de Marcelo Colares. O título da exposição, escolhido pelo próprio artista, evoca tanto a configuração espacial das obras como a influência que seu tio Raymundo Colares teve na produção dos quadros. Raymundo Colares (Minas Gerais,1944 -1986), , figura de proa no cenário da pop art brasileira dos anos 60 e 70, perdeu a vida num incêndio numa cama de hospital. Em Ponto de Mudança: Ocorrência de uma Trajetória (1974), obra icônica do período concreto, Raymundo fragmentou a imagem de um ônibus em ângulos diferentes, numa composição cinematográfica, empregando a velocidade como verbo transitivo direto entre o Concretismo e a Arte Pop. Num paralelo, Incêndio (2013), obra presente nesta mostra, Marcelo expõe em cores quentes linhas que atravessam diagonal e horizontalmente o quadro, criando uma composição que subconsciente ou não, divide em cenas a presença de um corpo em chamas, atravessando, como o ônibus de seu tio, o abstrato e o figurativo. Mais do que isso, a composição elucida de tal maneira a vontade de Marcelo por reavivar a memória do tio, que num lance puramente espiritual as linhas inicialmente tracejadas de modo aleatório parecem formar a palavra “Fé” na parte inferior do quadro. Do mesmo modo que nas composições “Gibis” de Raymundo, as telas “Sem Título”, de Marcelo Colares, podem ser rotacionadas e, como as páginas de gibis, têm uma conexão linear entre si, que pode ser formada tanto pela contraposição das cores metálicas produzidas pela tinta acrílica, quanto pela justaposição das lineaturas que atravessam o plano, denotando uma trajetória que não tem começo nem fim, porque contínua. Vertigem Apropriando-se do espaço pictórico da tela com sua geometrização, Marcelo Collares constrói uma narrativa poético-visual, utilizando-se de perspectivas, formas e fundos. Vertigem pode ser a primeira palavra a saltar à cabeça do observador, pois suas linhas se fragmentam e se recompõem com a mesma velocidade. É através desta vertigem construtiva e deste movimento contínuo que Marcelo expressa sua admiração e carinho ao tio e artista plástico Ray Collares, figura de proa no cenário da pop art brasileira dos anos 60 e 70. O quadro intitulado Incêndio é a mola propulsora desta homenagem, pois foi somente através de sua execução que o artista conseguiu superar a trágica morte do tio, ocorrida em um incêndio, em 1986. Sensações de angústia e sufocamento foram deixadas para trás, cedendo lugar à luz, ao movimento e à cor, permitindo a construção desta vibrante e pulsante Trajetória Continuada. Claudia Cassal Trajetória Continuada Memória e proposição Em obras prismáticas que dialogam entre si, as linhas arteriais extrapolam a dimensão da tela, formando uma unidade rítmica. Molduras são dispensáveis frente ao ímpeto de expansão. Dessa forma Marcelo Colares reencontra o universo poético do seu tio. É o afeto e a admiração do artista por Raymundo Colares que habita e constitui o significante da mostra que tem na obra Incêndio, de 2013, o fio condutor exposição: é a primeira homenagem ao tio. Através da textura áspera e do veemente cromatismo, faz referência à dor e à angustia frente a sua morte carbonizado. A partir desta tela, se desenrolam as demais, buscando na memória a vida e produção de Raymundo para tecer sua própria poética, em que o abstrato esconde o figurativo. Helen Helena Almeida