UMA FLOR PARA MARIA Efigênia Chaves Janoni Hoje, eu não quero nem saber, Rejeito quaisquer desculpas, Não aceito conformação, Não relevo, não abro mão. Nem me importa a inflação, a hiper, a maxi-desvalorização. Mas hoje, impreterivelmente, hoje, Careço de uma flor, Uma flor para Maria! Afinal, ficou ou não decretado, Um dia internacional de Maria? Maria, Maria, mulher Maria! Maria de Jesus, Maria de José, Maria sem José, Toda e qualquer Maria, Uma flor para Maria! Maria lavadeira que enxagua as mágoas da vida; Maria cozinheira que refoga alegria sem glória; Maria faxineira que clareia o chão de nossa alma; Maria secretária que arquiva as páginas da história; Maria bailarina, atriz, Pianista que se entrega na ribalta; Maria meretriz que dá a vida na sarjeta, Maria funcionária, Universitária, Maria do lar, da rua, Empresária, Maria professora que ensina esperança, Maria deputada! Ministra! Prefeita! E, agora, presidenta! Mas, também, Maria mãe, Maria filha, Maria irmã, Maria confidente, amiga, Maria amante, companheira! Como você correu, Maria! Esqueceu o seu lugar? É aqui, ali ou lá? Nem um passo atrás, nem meio a frente, Mas, apenas e tão somente, Um lugar ao lado, Bem ao lado de José! Porque assim quis a História Humana, desde a sua criação, quando de um lado do coração, fez Deus de Adão a mulher! E não foi que o Criador, Seduzido pela criatura, Não resistiu aos encantos, quis ser Homem, para também se embalar na suprema ventura da suavidade de um colo de mãe! Por isso, eu acho, Maria, Você tem qualquer coisa de santa, de deusa, de samaritana, ás vezes, até um quê de bruxa, de fada, de anjo, de cigana, quando pendura o avental, veste o macacão, sobe a tribuna, agita bandeiras e derruba séculos de repressão navegando mares nunca d’antes imagináveis, continua a luta, entre tabus velados e camuflados preconceitos, invadindo os gabinetes dos Senhores Administradores, penetrando até nos insondáveis campos frios dos computadores! Porém, apesar da vitória, Maria continua Maria, que sabe cozinhar, amar, dar de mamar, que ainda gosta de flores! Então, Maria, você sempre será Maria Josefina, minha mãe querida, Maria, nossa mãe preta Maria, Maria Benedita, Raimunda, Herundina, Maria Zélia, Maria Dorothéia, Toda e qualquer Maria, sentimento do mundo à flor da pele! E, por falar em flor, eu ainda insisto, persisto, não desisto. Por favor, José, necessito, urgentemente, encarecidamente, de uma flor, uma flor para Maria! (Esse poema foi escrito por volta de 1990. Publicado no livro: Poetas Queluzianos e Lafaietenses em outubro de 1991.)