Tão meigo e tão rebelde, tão mau e tão educado, Assim sou eu com ela sentada ao meu lado… Mesmo sem face, ela é bela; e não há ninguém que me faça tanta companhia quanto ela… Mesmo surda, ela ouvia e compreendia O que eu sentia quando lhe declarava poesia, Nunca me abandonou um único segundo, Levou-me a viajar e a conhecer o mundo. E ajuda-me a escrever estes versos profundos, É fiel e nunca me deixou moribundo, Muitos desprezam-na enquanto eu venero-a, É a minha salvação neste mundo imundo… Ajuda-me nas escolhas mais difíceis, Estava lá quando amigos estavam indisponíveis; Ela é algo imanipulável e intocável, Tão perto e tão longe, é admirável… Para mim, alcançar a felicidade era o ideal, Mas, provavelmente só a alcançarei Quando “viver” na horizontal? Tudo o que foi dito para odiar, eu amei! As perguntas tomam controlo de mim, Quando será o meu fim? Irei sempre ficar assim? De onde eu vim? Qual o propósito de estar aqui? Nem eu sei, não encontro resposta, Sinto-me isolado com tanta gente à minha volta, E ninguém ouve o grito da minha revolta? Nesta crise haverá reviravolta? Vivo um dia de cada vez para evitar o fracasso, E neste momento o talento já é escasso. Vou continuar a amá-la, quer queiram, quer não. Toda a gente a conhece, ela chama-se solidão. André Duarte