BARROCO (Vitor Ramil) Eu tô girando pelo quarto Olhando o teto abobadado No centro exato de um palácio Com dez mil nobres no meu rastro Eu vejo o ouro brasileiro O terremoto de Lisboa Os espanhóis sonhando o mundo Os jesuítas no meu rastro No claro-escuro É que ela me vê E diz assim: "Sai daí, vem pra mim O paraíso fica aqui“ Eu, dividido, digo: "Se eu tiver que ler tudo do Barroco Que tempo vai sobrar pra minha nêga?" Jerusalém foi libertada O Conde Orgaz bateu as botas Os santos sobem pelos ares Santa Teresa no meu rastro Vejo cabelos no retrato Um movimento me arrebata É Pedro, o Grande, em seu cavalo Trezentos frades no meu rastro No claro-escuro É que ela me vê E diz assim: "Sai daí, vem pra mim O paraíso fica aqui“ Eu, dividido, digo: "Se eu tiver que ler tudo do Barroco Que tempo vai sobrar pra minha nêga?" Tenho jardins à minha volta O povo longe, além das grades Mas Holandeses que me azaram E tenebrosos no meu rastro Tô violento e apaixonado Absoluto e perturbado É que tem ecos pela sala De alguém furioso no meu rastro No claro-escuro É que ela me vê E diz assim: "Sai daí, vem pra mim O paraíso fica aqui“ Eu, dividido, digo: "Se eu tiver que ler tudo do Barroco Que tempo vai sobrar pra minha nêga?" Eu tô girando pelo quarto Olhando o teto abobadado No centro exato de um palácio Com dez mil nobres no meu rastro Eu vejo o ouro brasileiro O terremoto de Lisboa Os espanhóis sonhando o mundo Os jesuítas no meu rastro CONTRA-REFORMA; ANTONIO VIEIRA GRANDES NAVEGAÇÕES OPOSTOS PARADOXO FÉ No claro-escuro ANGÚSTIA É que ela me vê E diz assim: "Sai daí, vem pra mim O paraíso fica aqui“ Eu, dividido, digo: "Se eu tiver que ler tudo do Barroco Que tempo vai sobrar pra minha nêga?" “A Lição de Anatomia do Professor Tulp”, Rembrandt “Narciso”, Caravaggio BUSCANDO A CRISTO Gregório de Matos À vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados. A vós, divinos olhos, eclipsados De tanto sangue e lágrimas abertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados. A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me A vós, lado patente, quero unir-me, A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme. Jerusalém foi libertada O Conde Orgaz bateu as botas Os santos sobem pelos ares Santa Teresa no meu rastro Vejo cabelos no retrato Um movimento me arrebata É Pedro, o Grande, em seu cavalo Trezentos frades no meu rastro “O Enterro do Conde Orgaz”, El Greco “O Êxtase de Santa Teresa”, Bernini Pedro, O Grande – czar que modernizou a Rússia entre os séculos XVII e XVIII Tenho jardins à minha volta O povo longe, além das grades Mas Holandeses que me azaram E tenebrosos no meu rastro Tô violento e apaixonado Absoluto e perturbado É que tem ecos pela sala De alguém furioso no meu rastro INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL DURANTE O SÉC.XVII – SERMÃO DE VIEIRA AMBÍGUIDADE, ANTÍTESE