Yasmim B. Della Nina A sala de espelhos Não sei ao certo como havia chegado lá, só sei que acordei dentro de uma sala de espelhos. O chão era de concreto e estava úmido e gelado. O teto parecia não ter fim e, assim como o resto da minha sala, era feito de espelhos. Levantei-me devagar, meu corpo inteiro dormente, e forcei meu cérebro a tentar lembrar o que estava fazendo ali. Porém, não me lembrava de nada. Locomovendo-me com dificuldade, comecei a procurar a saída. A sensação de pessoas a minha volta estava me assustando, mas quando me virava para ver o que era, só via meu reflexo nos espelhos. De repente, as imagens nas finas superfícies de vidro começaram a distorcer e, nelas, diversas partes da minha vida se repetiam como um filme diante dos meus olhos. Minha primeira namorada, o dia em que meu dentinho de leite finalmente caiu, meu primeiro cachorro, as drogas, o dia em que eu dei o melhor presente do mundo para minha mãe, o dia em que aprendi a usar aquela arma, meu filho nascendo, o enterro da minha mulher, Alcoólicos Anônimos, meu filho de preto... e de repente tudo sumiu, os espelhos se quebraram e um barulho horrível penetrou os meus ouvidos. Parecia uma bomba - ou talvez um tiro? Nunca tinha ouvido algo tão tremendo! Queria ir embora, não aguentava mais! Sentia lagrimas jorrando dos meus olhos e ouvi um medonho grito agonizado. Chocado, percebi que era o meu. E na mesma velocidade, aquilo tudo cessou e a sala ficou fria. Minha respiração estava ofegante e, com medo, tudo que queria era ir embora. Fechei os olhos bem cerrados e desejei ir para casa. Abri os olhos cautelosamente, mas ainda estava na sala e, aos meus pés, encontrava-se uma carta. Com mãos trêmulas, peguei o papel e li as seguintes palavras: “Pense bem. Quando souber, aponte para as palavras que você escolherá para seu destino”. Que palavras? Olhei para os lados e ali estavam elas: à minha direita, estava “Recomeço!”. À minha esquerda, estava: “Conserte sua vida, porém não volte mais”. Elas estavam flutuando. Respirei fundo. Estava tão fora da realidade que acreditei mesmo que aquilo era verdadeiro, sério, e que tinha que tomar uma decisão inteiramente correta e coerente. Meu coração estava a mil. Levantei meu braço, e meu dedo indicador começou a ser separar de todos os outros dedos na minha mão. Sozinho, ele iria ter que apontar, mas para onde? Fechei os olhos, vi meu filho, minha esposa, minha vida, tudo que fiz - de errado, de bom, de errado – e assim, a confiança começou a surgir, e meu dedo apontou firme para meu destino. Senti algo em minhas mãos: a arma. Sorri e levei o duro metal à minha têmpora esquerda.