O LAÇO ROSA
DA MINHA VIDA
(30 de Outubro de 2006 – dia Nacional de prevenção do cancro da mama)
Eu, sou mais uma das tantas pessoas em que, a doença do século (CANCRO), bate à porta
pela terceira vez na minha vida. Esta maldita doença que não para de fazer vítimas, que nada nem
ninguém ainda conseguiu travar, que por muito que se continue a investigar está tão longe de
alcançar a cura, a doença que me levou o meu pai, com cancro da prostata e apenas com 38 anos,
tinha eu 8, à minha tia materna, que lhe foi diagnosticado cancro da mama em estado avançado em
2004, e que vai lutando dia após dia pela vida.
Em 2005 chegou a minha vez, com 38 anos, a idade que tinha o meu pai quando morreu, cá
estou eu com carcinoma na mama direita.
Como tudo começou:
Tudo começou no Verão de 2004, em Setembro, tinha eu deixado de exercer funções de auxiliar de
acção educativa para passar a exercer funções de assistente administrativa, uma meta há tanto
tempo esperada e, só agora alcançada. Meia dúzia de dias depois de passar a euforia da minha
nova categoria e, ainda em estado de estágio, uma sombra começa a pairar sobre a minha cabeça.
Comecei a sentir uma sensibilidade estranha no bico da mama direita, previdente como sempre fui,
dirigi-me à médica de família, expliquei-lhe os meus sintomas e o drama que estava a passar-se com
a minha tia naquele momento que, se encontrava a fazer tratamento de quimioterapia e na minha
casa pois, sendo ela uma pessoa sozinha eu e a minha família fizemos questão de lhe dar todo o
apoio.
Passou-me os exames, mas foi-me dizendo que não tinha idade para fazer mamografia e muito
menos para esse tipo de doença, que tivesse “juízo”.
Nessa altura já me doía debaixo do braço, tomava o “Aulin” e passava , mas mais tarde voltava a
doer. Os resultados dos exames não são preocupantes, nada leva a crer que se passe algo de
errado, nenhum nódulo é encontrado. Mas, mesmo assim, algo me dizia, não fiques por aqui,
continua a investigar, e assim fiz.
Marquei uma consulta particular numa ginecologista, fez-me a palpação e, verificou que, por cima do
bico existia efectivamente um empastamento que a preocupou ao ponto de, ignorar os exames que
levei e pediu que fizesse novos, na GINOECO, sítio da sua inteira confiança, de forma que foi a
própria doutora a marcar os exames pelo telefone naquele mesmo instante, valendo-se da sua
condição.
Desta vez o caso foi diferente, já se esboçava um nódulo de 15 mm, foi-me imediatamente sugerido
uma biopsia, mas, apesar da minha insistência, não me foi feita de imediato pois, a burocracia tem
de andar sempre primeiro. Era necessário o P1, além de que, era altura de Natal e o especialista
nessa área, ia de férias. A minha mãe, com a sua normal preocupação, pegou nos exames e, levouos ao Dr. Rigaud de Abreu, médico que encaminhou a minha tia e, por isso que já conhecíamos.
Marcou a biopsia para os primeiros dias de 2005.
1 O resultado da biopsia:
Dia 13/01/2005, é chegada a altura do resultado, um misto de ansiedade e medo percorre todo o
meu corpo, CARCINOMA, tumor maligno, que apesar de ser pequeno, tem se ser extraído na
totalidade, salvaguardando uns centímetros à sua volta para que, a margem de segurança seja
atingida na sua plenitude. Como o peito já era pequeno, quase nada iria sobrar, decidiu-se então
que, a melhor solução seria fazer a mastectomia radical, de forma a que mais tarde e, se assim o
desejasse, pudesse fazer a reconstrução sem problemas e com maior perfeição.
Não sei explicar tudo o que senti, o que ouvi e muito menos o que vi. Sei que a minha alma levitou,
saiu do meu corpo por alguns momentos, por muito estranho que pareça eu vi-me a mim e ao meu
marido lá em baixo, sentados e o médico à nossa frente. O meu marido agarrando à minha mão com
força e, a dizer que tudo ia correr bem. Quando o médico disse “TUMOR MALIGNO”, tive noção que
era grave, não fiz muitas perguntas, estava em pânico, não sabia muito bem o que se estava a
passar, muito menos tive a noção de que estava com CANCRO.
A minha mãe estava lá fora à nossa espera, eu saí e não disse nada, parecia que não era comigo,
fiquei bloqueada, não tive qualquer tipo de reacção. O meu marido explicou como soube e como
pôde pois, eu estava em estado de choque mas, tenho a certeza que ele não estava melhor.
O meu marido deixou-me em casa com a minha mãe e foi trabalhar, não sabia muito bem o que
fazer, comecei a chorar mas, de imediato a minha mãe olhou-me nos olhos e disse: não vale a pena
chorar, tens de enfrentar a situação e cortar o mal pela raiz, vamos em frente, não há nada que não
tenha solução.
Decidi contar ao meu filho, não o fiz da melhor forma, mas foi como me saiu. Foi um choque para ele,
atirou-se para cima da cama e desatou a chorar e eu, então aí sim, não consegui e chorei, chorei
muito. Mesmo assim decidi que o melhor a fazer seria continuarmos as nossas vida com
normalidade. E assim foi, o meu filho foi para a escola e eu, que tinha de dar o exemplo, também fui
trabalhar, precisava de me manter ocupada. Contei aos meus colegas de trabalho e, fui e ainda sou
muito apoiada por todos. A minha família esteve sempre a meu lado, em todos os momentos apesar
de sentir que para que esse apoio resultasse, eu também tinha de demonstrar a força e a esperança
necessária para enfrentarmos juntos, o mau bocado que abalou a nossa casa. Não sei como mas,
Deus esteve sempre dentro de mim, dando-me uma força que eu julgava não ter, a esperança e a
vontade de vencer, continuando a viver por mim e pelos meus. Deus ensinou-me que a força estava
cá, bem dentro de mim e que eu ia vencer a doença e nunca, em tempo algum seria a doença a
vencer-me a mim.
No dia seguinte lá estava eu, bem cedinho no hospital, para fazer todas as análises e exames
necessários para que a cirurgia fosse efectuada com a maior brevidade possível pois, nestes casos,
o tempo corre contra nós, não só pela doença, como pelo facto de ser nova e as células,
especialmente as malignas, multiplicam-se em grande velocidade. A minha sentença estava ditada,
tinha de ir em frente, sem medos e com muita, muita esperança, tudo tinha de correr bem. Só no dia
em que fui fazer o RX ao tórax, quando encontrei uma amiga que trabalha no hospital, ficando ela a
saber do meu diagnóstico, disse que, estava contente por saber que eu estava a encarar tão bem a
situação e que, hoje em dia o CANCRO DA MAMA, quando diagnosticado em estado precoce tem
grandes probabilidades de cura. Bem, foi aí, nesse dia e nessa hora que o CANCRO bateu dentro de
mim, então sim, tive a noção clara que, afinal o meu caso era mais grave do que eu supunha, só o
nome assusta.
Encarei a situação da melhor forma que consegui, de frente, de cabeça erguida, decidida a vencer a
doença e, nem pensar que seria ela a vencer-me. A pesar de ser difícil e de ter dias com mais força
que outros, devo confessar que, nunca me passou pela cabeça a ideia da morte. Mesmo o facto de
2 ficar sem a mama, não me assustou, era um dado adquirido, não havia o que pensar, tinha de ser
mesmo assim por isso, vamos em frente, avançando na direcção certa.
Não nego que a minha vida mudou, claro que sim, eu já era uma pessoa muito reservada, de poucas
conversas, mesmo com a minha família e, passei a fechar-me ainda mais, fico perdida nos meus
pensamentos.
Um turbilhão de pensamentos que, muitas vezes até se atropelam e, se me perguntarem no que
estou exactamente a pensar, não sei mesmo responder. Não consigo organizá-los, é um misto de
pensamentos, ideias, emoções, eu sei lá, vem tudo ao mesmo tempo, o passado, o presente e até
mesmo o futuro. Tudo passa como se de um filme se tratasse e, neste caso, a protagonista sou EU.
Todos os dias que se seguiram, foram de ansiedade e medo. Desejava que o dia da operação
chegasse logo pois, sabia que cada dia que passava o “bicho” aumentava.
A operação:
Dia 9/02/2005, o telefone toca, atendo, o internamento é amanhã, um friozinho percorre todo o meu
corpo. O dia está marcado, estou pronta, seja o que Deus quiser.
O dia seguinte foi um dia de muita tensão, como é de calcular, entreguei-me a cem por cento nas
mãos de Deus, pedi-lhe que guiasse as mãos dos médicos, que apenas me tirassem o que fosse
estritamente necessário, nem mais nem menos. Pedi-lhe que me desse uma luz, um sinal de que
tudo iria correr bem.
Esse sinal chegou, a 11/02/2005, bem cedinho, recebi uma mensagem do meu filho a dizer: mãe
amo-te muito, vai correr tudo bem, não me contive, as lágrimas saltaram de imediato, deu-me muita
força, guardo-a até hoje e sempre que a leio a emoção é a mesma.
Mais tarde, estava eu em cima da maca, apenas coberta por uma bata azul, enquanto me injectavam
a anestesia no soro juntamente com um calmante e, lembro-me que uma luz intensa me percorreu,
senti-me calma e apaguei por completo.
Quando acordei senti-me bem, nunca pensei, foi um recobro perfeito. O médico aproximou-se de
mim, perguntou como me sentia e disse: correu tudo muito bem, a operação foi um sucesso, o tumor
estava muito localizado e, como tínhamos combinado a mastectomia foi radical, de forma a que a
cirurgia seja definitiva e curativa.
Todos os dias passados no hospital foram muito difíceis, não tinha dores mas, não me podia mexer
muito, tinha os drenos colados a mim e, o medo de que algo pudesse abrir ou até mesmo os drenos
pudessem sair do sítio, era grande.
Na altura, sempre que se fazia uma mastectomia era feito juntamente o esvaziamento axilar,
retirando os gânglios linfáticos para analisar se há metástases, ou seja células malignas espalhadas
e, consequentemente evitar que o mal se alastre. Eu digo na altura porque, hoje em dia já é possível
fazer um exame que revela se as células estão espalhadas ou não e, no caso de não existirem
metástases, já não há necessidade de efectuar o esvaziamento axilar. No meu caso, graças a Deus
não existiam metástases, mas como ainda não se fazia este exame e por segurança fizeram-me o
esvaziamento axilar na totalidade. O braço fica pesado, adormecido, nem parece meu, é uma
sensação horrível. Por muito tempo dormi com uma almofada a amparar o braço pois caía, tão
grande era a sensação de peso morto.
Mesmo depois de regressar a casa não foi fácil. A situação era muito delicada, tinha medo que a
costura abrisse, o braço pouco mexia, eu estava totalmente dependente, o tempo parece que não
passa.
A minha mãe fazia o trabalho de casa, o meu marido colaborava e ainda colabora em tudo o que
pode. Depois de tirar os pontos, passou a ser a minha mãe a fazer-me o curativo diariamente e com
3 um jeitinho muito especial, muitas vezes as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo, que situação,
como era possível estar a passar por tudo aquilo.
Eu, durante muito tempo não tive coragem nem de me olhar. Mas um dia decidi-me a fazê-lo e devo
dizer que não me assustei, estava cicatrizado, o vazio era grande mas, tinha noção de que o “bicho”,
tinha sido extraído na totalidade, por isso, não havia nada a temer, o pior tinha passado.
O braço tinha de começar a mexer, fazer movimentos simples, como pentear o cabelo doía muito
mas, tinha mesmo de ser, cada dia fazia um movimento novo, de forma a que aos poucos retomasse
a mobilidade, esticando, levantando-o o mais possível. Fiz sempre os exercícios em casa, nunca
precisei de fisioterapia.
Nunca mais foi o mesmo, nem nunca será, terei de ter mil cuidados para toda a vida. Não posso
pegar em pesos desse lado, não posso aspirar, a carteira teve de mudar para o ombro esquerdo, dou
a ferro com a mão esquerda, etc. Mas, mesmo assim dou graças a Deus, pois os cuidados têm sido
recompensados, o braço nunca inchou e espero que nunca inche.
Fiquei uma pessoa mais fria, mais egoísta, durante muito tempo não consentia que ninguém me
tocasse, fiz uma redoma à minha volta, tinha medo que me magoassem, estava demasiado sensível,
fisicamente e psicologicamente, o lado direito não podia ser tocado de forma alguma. O meu filho ou
mesmo o meu marido, só se podiam sentar do meu lado esquerdo.
O meu marido é uma pessoa muito calma, muito paciente, enfrentou este drama sempre a meu lado,
dando-me força, amor e nunca olhou para mim de forma diferente, nunca me fez sentir menos
mulher, adoro-o.
A Quimioterapia:
Três semanas se passaram, o resultado do tumor retirado chega, é dia de saber os passos a seguir,
o medo bloqueia-me por completo. O meu nome é chamado, dirijo-me ao consultório de oncologia,
sempre acompanhada pelo meu marido. A Drª Ana Paula começa a ler o meu processo, aí se
encontra a decisão da consulta de grupo, (é uma consulta onde vários médicos da especialidade se
reúnem, com a finalidade de definirem qual o melhor tratamento a aplicar a cada caso). A médica
não diz uma palavra, são médicos muito frios, lidam diariamente com estas situações e esquecem-se
que os doentes não estão preparados para o que se segue, parece que são indiferentes. Antes da
operação os médicos contavam que no meu caso, apenas fosse necessário fazer radioterapia e, foi
para isso que me preparei psicologicamente mas, a médica começa a escrever numa folha de
quimioterapia, fiquei gelada, o que eu mais temia estava a acontecer, não foi preciso dizer nada, eu
consegui ler, QUIMIOTERAPIA.
A médica começa a explicar de uma forma muito sintetizada que, a decisão do grupo de médicos,
tinha sido a quimioterapia e, que apesar de não existirem metástases (graças a Deus), eu era muito
nova e com isso as minhas células também eram muito mais “aceleradas”, era necessário prevenir,
queimar algum resíduo que ficasse por lá e, que mais tarde viesse a manifestar-se.
Esta notícia caiu como uma bomba, sabia que não ia ser fácil. Saí do consultório e lá estava a minha
mãe à espera de novidades, recebeu a notícia com a naturalidade de quem já está à espera.
Dirigi-me à enfermeira Isabel, com o guia de tratamentos para as quatro sessões de quimioterapia,
ela de forma meiga e sábia, explicou-me tudo o que se iria passar e que o cabelo ia cair. No entanto,
como estávamos quase na Páscoa, sugeriu que iniciasse os tratamentos só depois. Mas era para
mim e era, quanto mais depressa começasse, mais depressa acabava. Fiz logo nesse mesmo
instante as análises ao sangue para que, se tudo estivesse bem, pudesse iniciar no dia seguinte. E
assim foi, no dia seguinte dei início aos tratamentos.
4 Foram três longos meses de tratamentos rigorosos, com muitos vómitos, sem suportar o cheiro da
comida nos três primeiros dias, falta de forças, uma sensação de queimadura pela traqueia abaixo,
ter muito cuidado com o sol pois, escurece a pele, etc…, sensações únicas e inexplicáveis que, só
quem passa por elas sabe dar o valor.
Todos estes efeitos secundários são desastrosos mas, passados alguns dias voltamos ao normal,
claro que quando nos sentimos quase a cem por cento, é altura de começar outro tratamento.
Conforme vão avançando as sessões, os efeitos secundários são maiores, o nosso sistema
imunitário começa a ressentir-se cada vez mais. Temos de pensar que já falta menos um, e assim
sucessivamente. Nós próprios temos de interiorizar que é para nós, ninguém pode fazê-lo por nós.
Ficar sem cabelo é o efeito secundário mais traumatizante, não é sequer imaginável, é algo que nos
transforma por completo, por dentro e por fora, não conseguimos preparar-nos para o que vai
acontecer, nem nos conseguimos habituar aquela imagem que vimos reflectida no espelho, que não
conhecemos, mas é nossa e por muito tempo. Fiz os possíveis para ultrapassar mais esta fase mas,
foi muito dolorosa e longa. Optei por comprar uma cabeleira o mais parecida com o meu tom e corte
de cabelo e, devo dizer que, ninguém notava que não era o meu cabelo, ninguém ficava a olhar para
mim mas, eu sabia, eu sentia, o calor apertava e eu estava sempre ansiosa por chegar a casa e pôrme à vontade, transpirava muito, era desconfortante. Em casa andava sem nada, até brincava-mos
com esta situação. Ajudou-me muito o à vontade com que o meu filho (de 14 anos) me acompanhava
para qualquer lado, não tinha vergonha de andar comigo, ia-mos a todo o lado e, eu acabava por me
sentir descontraída.
Havia alturas que batia bem lá no fundo aquela imagem de “pinto careca”. Afinal quem era eu, o que
me estava a acontecer, porquê eu, que mais me iria acontecer, será que vou ter forças para chegar
ao fim? Tantas são as interrogações que nos percorrem os pensamentos naqueles dias que estamos
mais debilitados e não são tão poucos assim.
Durante esta fase, decidi continuar a trabalhar, precisava de estar ocupada de todas as maneiras, de
forma a que não houvesse lugar para pensamentos pessimistas pois, segundo várias investigações e
devidamente fundamentadas, o nosso optimismo faz o corpo reagir positivamente a qualquer
tratamento, “é como o código posta, é meio caminho andado”.
Ficava em casa na semana da quimio e, logo que me sentisse com forças, aí ia eu, com muita
vontade de recuperar os últimos dias. Precisava de mostrar a mim mesma que, eu estava ali, o pior
já tinha passado e que a vida continuava e eu, queria muito viver essa vida, agarrá-la com toda a
força.
Viver sem mama:
A mastectomia é uma mutilação no corpo e na alma da mulher, os seios são um dos seus pontos
fortes e, a partir do momento que um deles é cortado, a mulher não se sente completa.
No meu caso e, muito graças ao companheirismo do meu marido, esta situação foi pouco
traumatizante, ele demonstrou sempre o seu amor por mim e, apesar de eu não me exibir com muito
à vontade, nunca de forma alguma senti, da parte dele, qualquer inibição ou desconforto quando
olhava ou olha para mim. Este é o tratamento ideal para qualquer mulher mastectomizada, continuar
a sentir-se desejada pelo seu companheiro e marido.
5 Ainda tinha tirado os pontos à pouco tempo, quando o meu marido me levou a comprar um soutien
próprio para próteses, comprei também uma almofadinha, para encher o vazio que ficou no meu
corpo, sem magoar a costura que ainda estava muito fresca.
Comecei logo a usá-la e senti-me bem mais confortável. Depois de sentir que estava tudo bem
cicatrizado, e que ninguém me olhava de forma diferente, sentia-me confiante, se aos olhos dos
outros eu sou uma mulher normal, para quê pensar que não sou? Olho-me normalmente ao espelho,
sempre que é necessário e, devo confessar que não sinto qualquer tipo de incómodo, olho-me e
penso, graças a Deus, eu estou bem, fui a tempo, foi necessário para eu poder viver a minha vida
normalmente.
Agora, já substitui a almofadinha por uma prótese de tamanho semelhante à minha mama e devo
dizer que, ando à vontade e descontraída, sem qualquer tipo de complexo.
A altura que mais me custa é no calor, não poder usar decotes, nem biqinis simples, quando quase
toda a gente anda à vontade, não que eu fosse muito adepta dos decotes mas, por muito pequenos
que sejam, se me baixar, a prótese faz peso e vê-se tudo para dentro e, isso incomoda-me a mim e
aos outros, claro. Fora isso, sinto-me uma pessoa completamente normal.
Continuo a ser seguida a cada seis meses, faço semestralmente análises normais, pesquisa ao
sangue do CA 15.3 e CEA, ecografia mamária e abdominal. Anualmente faço RX pulmonar e
mamografia à outra mama. Terei de ser seguida toda a vida, a palavra CURA poderá nunca ser
ouvida, vale a pena viver um dia de cada vez, como do último se tratasse.
Peço a Deus que nada mais me aconteça, nem a mim nem aos meus, acho que já tivemos a nossa
dose, peço também que as investigações comecem a surtir efeitos positivos e concretos, para que
esta doença passe a ter cura a cem por cento, de forma rápida, definitiva, sem tratamentos tão
dolorosos e, sem mutilações.
Tenho a esperança de ver esse dia chegar.
A DOENÇA NÃO ME VAI VENCER
EU É QUE VOU VENCER A DOENÇA
ASSIM É E ASSIM SERÁ PARA SEMPRE
VENCER E VIVER – este é o lema forte e real de quem
viveu esta doença na pele
A Borboleta
10 de Novembro de 2006
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