ENTREVISTA
A
RITA FERRO
RODRIGUES
O talento e a vontade de surpreender em cada projecto deixou-me confiante no
meu sexto sentido, que viu nela uma das pivôs mais simpáticas da SIC NOTÍCIAS.
Numa troca de papéis, Rita Ferro Rodrigues confessou-se à entrevistadora.
Marisa Duarte
4º Ano do Curso de Comunicação Social
Marisa Duarte – Rita Ferro Rodrigues na primeira pessoa...
Rita Ferro Rodrigues - Na primeira pessoa…é tão difícil uma pessoa definir-se. Sou
simples, gosto muito da minha vida profissional, de me dar bem com as pessoas, mais
até do que me relacionar com bons profissionais, gosto de me relacionar com pessoas
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boas e é isso que tento fazer aqui na SIC. Gosto muito do que faço, da minha vida
pessoal, que graças a Deus ficou muito melhor desde que entrei para a SIC, porque
encontrei o Daniel. É Chefe de Redacção da SIC NOTÍCIAS, com quem tenho uma
filha. Cultivo e dou muita importância aos amigos e angustio-me com os problemas do
mundo. Talvez por isso me custe muito, às vezes, ser jornalista.
«Aqui [SIC NOTÍCIAS]] temos um traço de rigor e
conseguimos
fugir
ao
sensacionalismo
das
estações
generalistas…»
Marisa Duarte - Rita, como é ser uma jornalista célebre tão jovem?
Rita Ferro Rodrigues - Comecei com 12 anos a fazer um programa de informação, que
era o “Lentes de Contacto” da RTP, e depois fiz o “Caderno Diário”... que é, de certa
forma, uma referência para o público mais jovem de informação, porque trocar as
notícias mais importantes por “miúdos” e explicar o que é que se está a passar no
mundo foi muito importante. Depois, andei numa altura a ganhar dinheiro, como eu
costumo dizer e a fazer mais entretenimento por formação...que também me soube bem.
Mais tarde, aceitei de caras o projecto da SIC NOTÍCIAS. Aí, comecei a trabalhar a
informação no dia-a-dia, as chamadas hardnews . Mas, sinceramente, essa parte que tu
dizes ser célebre ou conhecida, não sinto nada disso...nada mesmo. Esporadicamente,
sinto que na rua as pessoas, às vezes, olham um bocadinho mais, ou fazem um
comentário simpático... mas eu não sinto nada disso.
Marisa Duarte - Como surgiu a vontade de ser jornalista?
Rita Ferro Rodrigues - Acho que isso nasceu comigo, porque eu desde miúda que
gosto muito que me expliquem o que se passa à minha volta. Por exemplo, eu ia de
férias e, quando não estava com os meus pais, telefonava-lhes a contar tudo o que se
passava. Se acontecia alguma coisa, eu contava logo e escrevia. E, portanto, essa
necessidade de relatar o que está à minha volta já vem desde miúda. Depois, fui para
Direito, mas odiei o curso e acabei por tirar Comunicação Social, que também não
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acabei. Mas acho que isso já vem desde pequenina...a vontade de conhecer o Mundo e
até de o mudar um bocadinho... às vezes também conseguimos fazer isso.
Marisa Duarte - O que vês na Televisão?
Rita Ferro Rodrigues - O que é que eu vejo? Pouquíssimas coisas. Agora vou ter que
ver mais desenhos animados, porque tenho uma filha pequenina. Mas vejo muita
informação - por razões óbvias .-, vejo filmes...
Não vejo muita televisão e, quando vejo, é muito tarde, porque os programas que gosto
mais de ver passam bastante tarde. E também pela incompatibilidade de horários e,
como sabes, aqui na SIC NOTÍCIAS nós não podemos ser fiéis a nada, nem a nenhum
programa, porque estamos sempre a mudar de horários e, portanto, não dá para fidelizar.
Marisa Duarte - Como vês a informação da SIC NOTÍCIAS, que é a estação na
qual estás integrada?
Rita Ferro Rodrigues - Vejo muito bem. Acho que é um oásis no panorama da
informação nacional, porque nós, de facto, aqui temos um traço de rigor e conseguimos
fugir ao sensacionalismo das estações generalistas e não abrimos os jornais com notícias
de “faca e alguidar”. Temos alguns critérios de grande qualidade que para mim me
enchem de orgulho. Acho que é um privilégio trabalhar nesta estação.
Marisa Duarte - A criação da SIC NOTÍCIAS funcionou como uma concorrente
relativamente à informação da SIC?
Rita Ferro Rodrigues - Não, não concordo muito. Concordo que ao princípio foi
muito complicado as pessoas da SIC perceberem que nós não vínhamos roubar o lugar a
ninguém. Vínhamos para trabalhar com eles e até para melhorarmos a informação da
SIC, no geral. Acho até que a informação da SIC deu grande credibilidade à SIC
NOTÍCIAS, porque não nos podemos esquecer que nós, na SIC NOTÍCIAS, somos uma
redacção muito jovem e eles já cá estavam há uma série de anos, já tinham travado
muitas batalhas, já tinham um lugar muito seguro na informação em Portugal e,
portanto, nós também beneficiamos muito com a credibilidade deles, e a SIC com a
nossa juventude. Acho que isto foi uma troca.
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Marisa Duarte - Achas que a Televisão em Portugal está pior?
Rita Ferro Rodrigues - Acho que é impossível estar pior. Está a atingir limites que eu
nunca pensei. Eu própria pareço uma velha de 80 anos a falar, mas de facto nunca
pensei que a televisão pudesse descer tão baixo. Mais uma razão para dizer que é muito
bom trabalhar na SIC NOTÍCIAS, que foge muito a esse grau de “vale tudo” na
televisão, neste momento.
«Interessam-me os estilos de vida das pessoas que vivem um
bocado à margem das outras, que são muitas vezes
esquecidas…»
Marisa Duarte -
Concordas com a exigência de um curso específico para o
exercício da actividade jornalística?
Rita Ferro Rodrigues - Concordo, mas tem que ser um curso muito diferente daqueles
que estão a ser ministrados, com autorização do Ministério da Educação. Os cursos
são muito teóricos... também têm que o ser, mas deviam ter uma componente prática
muito maior. E, sobretudo, o que me preocupa mais é a língua portuguesa, porque
existem pessoas que não sabem escrever e que acabam os cursos. Eu não sei como é que
isso é possível. Acho que pode haver cursos específicos de Jornalismo, mas têm que ter
um grau de exigência muito maior. Têm que preparar mais os alunos e ter aulas, a meu
ver, mais estimulantes do ponto de vista prático, para vocês chegarem aqui e saberem
melhor o que fazer.
Marisa Duarte - Sei que também estás integrada na SIC MULHER. Como
caracterizas o programa que fazes, o “Encontro Marcado”?
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Rita Ferro Rodrigues - É um programa que tem cinco apresentadoras, uma por cada
dia de semana. O meu dia é à quinta-feira. No meu dia, escolhi como tema as minorias.
É um tema de que eu gosto muito. Já trabalho há muitos anos a estudar as minorias...
interessam-me os estilos de vida das pessoas que vivem um bocado à margem das
outras, que são muitas vezes esquecidas. Portanto, tenho um programa muito simples,
que não tem invenções nenhumas. É construído com entrevistas e tento sempre procurar
pessoas que representem minorias. Já tive surdos, cegos, alunos da CRINABEL com
síndrome de Dawn, alcoólicos, pessoas com SIDA....
Ás vezes, os programas são deprimentes. Outros são tristes. Já falei com idosos sobre a
solidão... mas é mesmo assim que é a vida.
Marisa Duarte - Tens truques para gerir a simpatia televisiva?
Rita Ferro Rodrigues - Tenho. A simpatia é uma arma. Acho que se podem fazer
perguntas muito difíceis de uma forma simpática e educada e são essas pessoas que
fazem boas entrevistas. Às vezes, há tendência para serem arrogantes, antipáticas e
confundirem isso com o papel de grande jornalista. As melhores perguntas fazem-se
com uma boa cara e com ar educado. A Clara de Sousa é, para mim, um excelente
exemplo disso. Tem sempre um ar educado, está sempre bem disposta e faz perguntas
“tramadas”. Portanto, tento usar essa regra da simpatia, para fazer as perguntas mais
difíceis, nunca esquecendo que nós temos mesmo que fazer as perguntas mais difíceis,
mesmo que nos custe e até que gostemos muito da pessoa que está à nossa frente, o que
às vezes acontece…
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