Saúde investe em pesquisas de doenças negligenciadas
Brasília - Nos países desenvolvidos, doenças como leishmaniose, dengue,
tuberculose e hanseníase não representam mais risco para a saúde pública.
Essas nações não investem mais em pesquisas voltadas ao tratamento dessas
patologias. No entanto, em países pobres ou em desenvolvimento, essas doenças
ainda causam preocupação às autoridades de saúde e provocam demanda de
investimentos em estudos científicos.
Para combater as chamadas doenças negligenciadas, o Ministério da Saúde, em
parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), vai investir R$ 20 milhões – em 2006 e 2007 – em pesquisas científicas.
Os recursos servirão para pesquisas de malária, doença de Chagas, dengue,
leishmaniose, tuberculose e hanseníase. Por não fazerem parte do grupo de
enfermidades mais incidentes no mundo, as doenças negligenciadas também
ficam excluídas da lista de patologias que afligem apenas 10% da humanidade e,
apesar disso, consomem 90% dos recursos de pesquisa em Saúde, de acordo
com o Fórum Global de Saúde.
“Como não há investimento significativo em pesquisa científica por parte da
indústria farmacêutica internacional, resta aos países em desenvolvimento tomar
frente nesses estudos”, explica a diretora do Departamento de Ciência e
Tecnologia do Ministério da Saúde, Suzanne Serruya. “O Brasil tem o privilégio de
contar com pesquisadores nessa área; por isso, tem mais chances de produzir
conhecimento para promover o controle dessas doenças”, observa.
O esforço nacional no estudo de doenças negligenciadas coloca o Brasil na lista
de Países em Desenvolvimento Inovadores (IDCs), da qual também fazem parte
China, Índia e África do Sul. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS),
da Organização Médicos Sem Fronteiras, do Fórum Global para Pesquisas em
Saúde e de outras entidades engajadas no tema mostram que as populações
desses países ainda não dispõem de intervenções sanitárias eficazes contra as
doenças negligenciadas. Esse cenário reafirma a necessidade de se investir ainda
mais em pesquisas relacionadas a esses problemas de saúde.
Exclusão – Em 1990, o Fórum Global de Saúde apontou o chamado “Hiato 10/90”.
O termo se refere a um conjunto de doenças que atingem apenas 10% da
humanidade e recebem 90% dos investimentos para estudos e pesquisas
científicas. As doenças negligenciadas estão fora deste grupo.
Com o financiamento de pesquisas nessa linha, o Brasil se coloca na dianteira do
grupo de nações interessadas em estudar patologias que ainda merecem atenção
dos governantes, principalmente na América do Sul. De acordo com Suzanne
Serruya, as seis doenças que integram os editais foram escolhidas por terem mais
incidência no país e apresentarem maior carga de debilitação, ou seja, os
pacientes acometidos por elas ficam impedidos durante certo período de executar
suas atividades habituais.
Ainda segundo Suzanne Serruya, o principal objetivo das pesquisas é aumentar o
conhecimento sobre as doenças e, conseqüentemente, oferecer melhor qualidade
de vida à população. “O Brasil já pensa em estabelecer parcerias com países da
América do Sul e da África para produzir vacinas e medicamentos que combatam
as doenças negligenciadas”, adianta Serruya.
Entre 2004 e 2005, o Ministério da Saúde investiu cerca de R$ 16,2 milhões no
tratamento dessas doenças. As pesquisas serão feitas por representantes de
instituições de pesquisa científicas, universidades, governos e outras autoridades
no assunto. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE),
do Ministério da Saúde, promoveu, durante a primeira semana de abril, oficinas de
trabalho para discutir a elaboração de editais públicos que orientarão a
metodologia das pesquisas. A chamada pública para início dos estudos está
prevista para este semestre.
Doença de Chagas - Hoje, a doença de Chagas está sob controle pela adoção de
estratégias de monitoramento que identificam a presença do barbeiro, inseto
transmissor. Após localização do inseto, desencadeiam-se ações de combate ao
vetor. A utilização de inseticidas específicos e a melhoria das condições
habitacionais nas regiões endêmicas são algumas das medidas preventivas para a
contenção do avanço da doença.
Essas medidas conferiram a dez estados brasileiros, o certificado de interrupção
da transmissão vetorial pelo T. infestans. São eles: São Paulo, Rio de Janeiro,
Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco,
Tocantins e Piauí. O estado da Bahia passará por nova avaliação para que se
confirme a eliminação do barbeiro.
A situação epidemiológica de cada país é avaliada pela Comissão Internacional de
Especialistas, constituída por representantes da Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS) e dos países do Cone Sul.
Leishmaniose- Em 2005, houve aproximadamente 2,7 mil casos de Leishmaniose
Visceral no Brasil. A região Nordeste teve maior concentração da doença, com
1.597 casos. Transmitida por um inseto, conhecido como mosquito palha, birigui
ou tatuquiras, a leishmaniose visceral ocorre, em especial, em locais de transição
entre o meio urbano e as matas. Nesses locais, a cadeia de transmissão inclui o
cachorro como reservatório do protozoário Leishmania L. chagasi, que causa a
doença tanto em animais quanto em humanos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a leishmaniose como uma das
principais zoonoses mundiais, com ocorrência de casos em 88 países de quatro
continentes.
Segundo a OMS, os principais fatores de risco envolvidos na ocorrência de novos
casos são as alterações ambientais – como migrações humanas intensas –,
urbanização e desmatamento. Já os fatores de risco individuais são HIV,
desnutrição e fatores genéticos.
Malária
A transmissão da malária no Brasil se concentra na Amazônia Legal, onde
ocorrem 99,5% dos casos. Essa região é composta pelos estados do Acre,
Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins.
No ano passado, foram notificados aproximadamente 600 mil casos de malária,
com 88 mortes. A ocorrência de malária está relacionada, principalmente, à
intensa e desordenada ocupação das periferias das capitais dos estados do
Amazonas (Manaus) e de Rondônia (Porto Velho), como também no município de
Cruzeiro do Sul (AC).
Dengue - Nos três primeiros meses do ano, foram confirmados 48,9 mil casos de
dengue, 24 de dengue hemorrágica e duas mortes pela doença. O maior número
de casos foi registrado no Sudeste (17 mil), seguido pelo Norte (11,2 mil), CentroOeste (10,8 mil), Nordeste (8,8 mil) e Sul (709).
Em 2005, o Ministério da Saúde repassou aos estados e municípios cerca de R$
700 milhões para vigilância epidemiológica. Cerca de 70% desses recursos foram
investidos em ações de combate à dengue. Neste ano, os recursos para ações de
vigilância epidemiológica são da ordem de R$ 772 milhões.
Hanseníase - A hanseníase é causada por um micróbio, o Mycobacterium leprae
(Bacilo de Hansen), que ataca a pele e os nervos, principalmente dos braços e
das pernas. A hanseníase tem cura e, se descoberta precocemente e tratada de
maneira adequada, não deixa seqüelas. Qualquer mancha clara e com perda de
sensibilidade na pele deve ser considerada suspeita de hanseníase e o portador
deverá ser encaminhado imediatamente para uma unidade de saúde pública.
Em 2005, a taxa de detecção da doença, no Brasil, ficou em 2,09 casos por 10 mil
habitantes. Em 2004, a taxa era de 2,76 por 10 mil. Ou seja, 38,4 mil novas
notificações contra 49,3 mil no ano anterior.
Com esses indicadores, a expectativa é de que a doença seja eliminada no país
até o final de 2006, segundo avaliação da Organização Pan-Americana da Saúde
(Opas).
Tuberculose - A tuberculose continua a ser um grave problema de saúde pública.
Hoje, 22 países, entre eles o Brasil, concentram 80% dos casos de tuberculose de
todo o planeta, o que exige atenção especial.
O Ministério da Saúde, a partir de 2003, passou a considerar o controle da
tuberculose como prioridade de governo. Por isso, procura sensibilizar gestores e
profissionais de saúde que atuam no Sistema Único de Saúde, como também a
sociedade. O objetivo é que a doença seja controlada por meio do alcance das
metas estabelecidas no Plano Nacional de Combate à Tuberculose.
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