1º Ten Al RENATA LOPES DE MEDEIROS MARIA 2010 – O BICENTENÁRIO DA MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL – A EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL E NO EXÉRCITO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Administração do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Orientador: Cap QCO Orlange Salvador 2009 1º Ten Al RENATA LOPES DE MEDEIROS MARIA 2010 – O BICENTENÁRIO DA MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL – A EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL E NO EXÉRCITO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Administração do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Aprovado em: 30 / 10 / 2009 _____________________________________________________ CLÁUDIO RIANELLI GROSSO – Major – Presidente Escola de Administração do Exército _________________________________________________ ANDRÉ BOU KHATER PIRES – Capitão – 1º Membro Escola de Administração do Exército ______________________________________________________ ORLANGE SODRÉ ROCHA – Capitão – 2º Membro Escola de Administração do Exército RESUMO Este trabalho tem por finalidade discorrer sobre o estabelecimento da Medicina Veterinária no Brasil, considerando seu desenvolvimento nas esferas civil e militar, mais especificamente no Exército Brasileiro. Inicia-se com um histórico da Medicina Veterinária nas forças militares brasileiras, destacando os primórdios da prática da veterinária dentro do militarismo. Aborda questão da importância da Medicina Veterinária nas Forças Armadas, procurando elencar as principais funções de tal ciência no âmbito militar, justificando a presença dos profissionais da área no Quadro Complementar de Oficiais do Exército. O presente trabalho também se preocupa em tratar da Veterinária no que concerne ao âmbito civil, e para tal procura fazer um histórico da profissão no Brasil, através de um levantamento das principais escolas de Medicina Veterinária civis. Também dá destaque, neste momento, aos Conselhos de Medicina Veterinária, rememorando a data de criação de tais órgãos, especificando suas principais atribuições e realizando um breve histórico dessas entidades. Por fim, o texto se preocupa em lançar o olhar para a profissão de medico veterinário no Brasil, no que diz respeito ao seu importante, porém ignorado papel na sociedade brasileira, problematizando a desvalorização sofrida por profissionais da área. Ainda fez-se mister mencionar, para efeito de agregar à profissão seu merecido valor, as principais atribuições e o impacto socioeconômico que a Medicina Veterinária tem sobre o País. Palavras-chave: História. Medicina Veterinária. Veterinária Militar. ABSTRACT This paper is about the establishment of Veterinary Medicine in Brazil, considering its development in civil and military spheres, specifically in the Brazilian Army. It starts with the history of Veterinary Medicine in Brazilian Military Forces, emphasizing the beginning of the Veterinary practice in Militarism. It addresses the issue of the importance of the Veterinary Medicine in the armed forces, while points out the main functions of such military science, justifying the presence of those professionals in the Complementary Framework of Military Officers. This paper also approaches the Veterinary Medicine on the civil sphere, historicizing the profession in Brazil through a list of the main Veterinary Medicine Schools. Also emphasizes the Councils of Veterinary Medicine, looking back on the date of creation of these agencies, specifying their main assignments and performing a brief history of those entities. That being so, the paper focuses on the Veterinary profession in Brazil, regarding its important, however ignored, role in the brazilian society, highlighting the devaluation suffered by professionals. It is important to mention, for the purpose of aggregate to the profession their rightful value, the main assignments of Veterinary Medicine and the impact of this science in brazilian society and Economy. Key-words: History. Veterinary Medicine. Military Veterinary Medicine. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO …....................................................................................................... 6 2 A HISTÓRIA DA MEDICINA VETERINÁRIA NO MUNDO E NO BRASIL..... 9 2.1 A Veterinária Militar no Brasil …................................................................................ 11 2.1.1 Resumo Histórico ..................................................................................................... 12 2.1.2 O Patrono da Medicina Veterinária Militar ….......................................................... 13 2.1.3 A Escola de Medicina Veterinária do Exército …..................................................... 14 2.1.4 A Ação da Veterinária em tempos de paz e de guerra ….......................................... 16 2.1.5 A Veterinária e o Quadro Complementar de Oficiais do Exército …....................... 20 2.2 A Veterinária no âmbito civil ….................................................................................. 22 2.2.1 O Ensino de Medicina Veterinária Civil no Brasil …................................................ 23 2.2.2 Os Conselhos de Medicina Veterinária e suas aplicações …..................................... 27 3 O MÉDICO VETERINÁRIO E SEU PAPEL NA SOCIEDADE ............................ 28 4 CONCLUSÃO …........................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS …........................................................................................................... 33 6 1 INTRODUÇÃO A Medicina Veterinária é uma ciência de extrema relevância para a sociedade, tendo em vista a sua aplicação técnica, a qual se baseia na prevenção, controle, erradicação e tratamento das doenças ou qualquer outro agravo à saúde do animais; na saúde pública, no controle da produção e sanidade de produtos e subprodutos de origem animal; e na higiene e segurança alimentar. No entanto, é percebida significativa desvalorização do profissional veterinário perante à sociedade. Em 1952, um artigo publicado na Revista Militar de Remonta Veterinária ratificava tal concepção: “[...] a Veterinária é constantemente ignorada ou mal interpretada.” (SILVA, 1952, p. 81). Visto este fato, faz-se mister a busca de informações precisas sobre o início e o desenvolvimento da profissão de Médico Veterinário na sociedade civil e no Exército Brasileiro, assim como seu papel nos dias de hoje, com intuito de esclarecer as origens e as atribuições da profissão, aumentando o seu valor. Indubitavelmente, a historiografia da Medicina Veterinária no Brasil ainda permanece pouco desenvolvida e carece de estudos documentais mais aprofundados, visto que é através da heurística da historiografia veterinária que será possível compreender o desdobrar da profissão no País e, consequentemente, com esse conhecimento adquirido, divulgá-lo na sociedade brasileira, com a finalidade de fortalecer a classe. (HATSCHBACH, 200-?). Outro relevante aspecto observado é a limitada quantidade de referências bibliográficas e pesquisas científicas disponíveis sobre o assunto, assim como a análise de fontes documentais que permanecem inéditas ou pouco exploradas. O presente trabalho discorrerá sobre as raízes históricas da Medicina Veterinária no Brasil e no Exército Brasileiro e também sobre as principais atribuições desse profissional, desde a criação do cargo de veterinário no Brasil até a atualidade. Também será avaliado o impacto da profissão nas necessidades socioeconômicas do País e do Exército Brasileiro (EB). O objetivo geral deste trabalho se resume em verificar e levantar maiores informações sobre a História e a evolução da Medicina Veterinária no Brasil, assim como sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade brasileira e no EB. Com a finalidade de viabilizar a obtenção do objetivo geral do tema em estudo, foram formulados os objetivos específicos, que tratam de discorrer sobre os fatores relevantes e precursores que proporcionaram a introdução da Medicina Veterinária no País; sobre a 7 correlação do desenvolvimento da Ciência Veterinária com as necessidades sócio-econômicas da sociedade e do EB através de seu Bicentenário; sobre o estabelecimento das atribuições gerais e privativas do Médico Veterinário, inclusive no âmbito do EB; e por fim, não só tratam de explicitar a relevância do médico veterinário como promotor da saúde dos animais, como também esclarecem a aplicação de seu conhecimento técnico na sanidade e inspeção de produtos de origem animal, na higiene e vigilância sanitária, mantendo assim também a saúde de nossa população, ou no caso do EB, a saúde de toda tropa. Além disto, esta introdução tem por finalidade apresentar o método utilizado para solucionar o problema de pesquisa, especificando os procedimentos necessários para obter as informações de interesse e analisá-las, contemplando a investigação da História da Medicina Veterinária e também o registro, a análise e a interpretação dos fatos ocorridos no passado para que, por meio de generalização, compreenda-se a relevância do Médico Veterinário para a sociedade e para o EB. O presente trabalho será desenvolvido através da pesquisa descritiva, ou seja, pelo levantamento e análise de fatos históricos relacionados à Medicina Veterinária no Brasil e no EB, desde sua introdução até a atualidade. Trata-se de uma pesquisa histórica realizada metodologicamente pela técnica de documentação indireta, na qual serão utilizadas a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica. O segundo capítulo destina-se ao levantamento historiográfico da Veterinária no País. Inicia-se com um breve histórico da Veterinária, citando passagens relevantes do ofício no mundo, e o surgimento dos primeiros “veterinários práticos” no Brasil, cujo conhecimento técnico-científico era extremamente limitado, em virtude da falta de estabelecimentos de ensino veterinário no País. Em seguida, com a criação das primeiras escolas de Medicina Veterinária no País, inicia-se o caminho para a profissionalização da Veterinária Militar no Brasil e da Veterinária no âmbito civil, retratadas separadamente no capítulo em questão. Nas subseções incluídas na Veterinária Militar no Brasil explana-se, inicialmente, sobre a criação da Escola de Medicina Veterinária do Exército, sobre o patrono da Medicina Veterinária Militar e, também, sobre a influência dessa escola para a profissão. Prossegue com a descrição do Serviço de Veterinária no Exército, desde sua criação até sua extinção, seguindo da ação da Veterinária em tempos de guerra e ou de paz nas OM, e da inserção do Médico Veterinário no Quadro Complementar de Oficiais do EB, no ano de 1992. A Veterinária no âmbito civil relata, além do resumo histórico, o desenvolvimento das principais Escolas de Veterinária civis de todo País, citando o início do funcionamento das mesmas. Já o subitem Conselho de Medicina Veterinária descreve a criação e a 8 regulamentação da profissão através dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária, suas atribuições e atuação na fiscalização. No terceiro capítulo aborda-se o papel do médico veterinário na sociedade brasileira, em prol da manutenção da saúde pública, dando ênfase à contribuição do médico veterinário para a manutenção da saúde humana. Relata as atividades gerais e privativas do profissional, assim como os impactos socioeconômicos que delas poderão surgir. 9 2 A HISTÓRIA DA MEDICINA VETERINÁRIA NO MUNDO E NO BRASIL Nos primórdios do desenvolvimento da civilização humana, a característica principal dos homens era o caráter migratório. No período Mesolítico (Idade da Pedra Intermediária), o domínio do fogo e desenvolvimento de técnicas de agricultura possibilitaram a fixação dos homem, surgindo assim, concomitantemente, o processo de domesticação dos animais. Os animais têm sido utilizados pelo homem nas mais diferentes fases da civilização, tais como: companhia, meio de transporte, trabalho, alimento, esporte, lazer e, ainda, criados com o caráter econômico na produção de leite, mel e ovos, assim como seus derivados (couro e penas) para vestimentas e, na atualidade, até como produtos terapêuticos. (BIANCHI; VILLELA, 2005, p. 6 apud GERMINIANI, 1992). De acordo com Hatchbach (200-?), ainda não se pode fixar a data inicial da prática da cura dos animais. Porém, um documento denominado “Papiro de KAOUN”, encontrado pelo professor Finders Petrie entre 1889 e 1890, na cidade de Kaoun, no deserto do Egito, relata em diversos de seus capítulos o diagnóstico, prognóstico, sintomas e tratamento de diversas doenças de aves, peixes, cães, equinos e bovinos. [...] o homem primitivo do Brasil, como noutros países, que vivia da caça, capturando e criando animais para coabitação, domesticação ou conservação de seus produtos, provavelmente já procurava conhecer como prevenir as doenças que tornavam impróprios para consumo e cria. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2002, p. 15). Hatchbach (200-?) cita outro documento que narra a atuação do veterinário: “O Código de Hammurabi” do século 19 A.C., no qual se relata a cobrança de honorários e as responsabilidades técnicas do “médico dos animais” e outras citações históricas, como por exemplo o tratado enciclopédico chamado HIPPIATRIKA, que continha 420 artigos sobre a criação e doenças de animais, sendo 121 escritos por APSIRTOS, considerado no mundo ocidental o pai da Medicina Veterinária. Anteriormente à criação das Escolas de Veterinária no mundo, o médico prático que cuidava de animais denominava-se “albeitar”, palavra derivada do médico de animais espanhol, cujo nome de origem árabe era "EB-EBB-BEITHAR" (HATCHBACH, 200-?). “A etimologia mais simples e mais provável de Veterinária é um adjetivo veterina, que significava os animais de carga (animalia veterina ou bestia veterina). A expressão genérica veterinarius, representava primitivamente todas as pessoas que se ocupavam dos veterina”. 10 (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2002, p.13). A possível presença desses profissionais no Brasil, no período colonial, ainda não foi devidamente pesquisada. Durante muitos anos os criadores de animais tiveram problemas com doenças, melhoramento e manejo, procurando solucioná-los por meios de conhecimentos tradicionais e práticas empregados nas outras colônias portuguesas. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2002, p.15). Em 1761, surge em Lyon, na França, a primeira Escola de Medicina Veterinária no mundo e alguns anos depois, em 1766, foi criada a Escola de Veterinária Alfort, em Paris, duas referências no ensino da Medicina Veterinária mundial. A Medicina Veterinária moderna, organizada a partir de critérios científicos, começou a desenvolver-se com o surgimento da primeira escola de Medicina Veterinária do mundo, em Lyon-França, criada pelo hipologista e advogado francês CLAUDE BOUGERLAT, a partir do Édito Real assinado pelo Rei Luiz XV, em 04 de agosto de 1761. Este primeiro centro mundial de formação de Médicos Veterinários iniciou o seu funcionamento com 8 alunos, em 19 de fevereiro de 1762. (HATSCHBACH, 200-?). No Brasil, relata-se que as unidades hipomóveis eram utilizadas desde o início do século XVIII, nos estados de Minas Gerais e no Rio de Janeiro, para a manutenção da ordem pública e no combate de guerras externas. (FILHO, 2006, p. 19). De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (2002, p. 67), “As primeiras Unidades de Cavalaria no Brasil foram organizadas em Lisboa e transferidas para Vila Rica em 1719.” […] o governador da Capitania de São Paulo e Minas Gerais, Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho organizou, em Ribeirão do Carmo, atual Mariana, duas companhias de cavalaria, ou de cavalos, para atender às necessidades de ordem pública decorrentes da extração de ouro em Minas Gerais. (FILHO, 2006, p. 19). A presença de animais em unidades militares, relatada desde o Brasil Colônia, fez com que houvesse uma preocupação crescente com a saúde do efetivo animal. Segundo Germiniani (2004, p. 1), visando a manutenção desse efetivo, o Conde de Linhares, Ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros da Guerra, originou em 5 de dezembro de 1810, o cargo de Veterinário, apoiado em decreto do Rei D. João VI. A criação desse cargo visava à orientação técnica e apoio aos trabalhos de Hipologia e Hipiatria do 1º Regimento de Cavalaria do Exército, situado no Rio de Janeiro. Neste mesmo local, em 1818, D. João VI estabeleceu a criação de um Curso de Alveitaria, cuja coordenação e ensinamentos ficaram a encargo do “Artista Veterinário” português João Batista Moncuet, 11 um primeiro passo para a criação do ensino da Medicina Veterinária no País. Em 1875, houve uma nova tentativa de criação da Escola de Medicina Veterinária no Brasil, desta vez por parte do Imperador D. Pedro II. Segundo Camoleze (1996), o Imperador estava preocupado em amenizar as doenças infecto-contagiosas que atingiam o rebanho nacional e o efetivo equino militar. Ao viajar para a França, D. Pedro II visitou a Escola de Veterinária de Alfort, impressionando-se com a Conferência ministrada pelo veterinário e fisiologista Collin. Apesar do desejo do Imperador, novamente houve insucesso na criação da escola. Sendo assim, pode-se observar que apesar da criação do cargo de médico veterinário em 1810, como não havia Escola de Veterinária no País, o conhecimento técnico dos profissionais da época se restringia à prática. Este fato colocava em risco a saúde dos rebanhos e dos homens, em virtude das antropozoonoses, extremamente disseminadas pela carência de medidas higiênico-sanitárias. Germiniani (1998, p.2) cita que a classificação cronológica da criação das escolas de veterinária é dificultada pelo fato de que a legislação que determinava a criação nem sempre implicava no funcionamento imediato do curso. Somente a partir da primeira metade do século XX pode-se observar a ativação das Escolas de Medicina Veterinária no Brasil, que culminou na formação de profissionais efetivamente capacitados tecnicamente, de acordo com os padrões científicos da época. 2.1 A Veterinária Militar no Brasil O Conselho Federal de Medicina Veterinária (2002, p. 67) lembra que “Como no restante do mundo, também no Brasil, a Medicina Veterinária apoiou-se, inicialmente, na Cavalaria.” A mesma obra refere-se à Cavalaria como fator de estímulo para o progresso da Medicina Veterinária, pois a higidez dos efetivos equinos era exigida pelos chefes militares, gerando a busca incessante por novas técnicas e métodos. (ibidem, p. 66). Em 1883, a situação sanitária existente no Rio de Janeiro era considerada aterradora, pois baixo nível cultural da população, aliado à inexistência da higiene pública, davam surgimento às epidemias. Sendo assim, em um artigo publicado na Revista do Exército Brasileiro, o Capitão de Artilharia ARAÚJO CORREIA, expunha a situação preocupante e sugeria a criação da Escola de Medicina Veterinária, com a finalidade de evitar prejuízos 12 econômicos e principalmente, as perdas de preciosas vidas humanas. (ibidem, p. 67). 2.1.1 Resumo Histórico O Quadro de Veterinária do Exército foi criado em 4 de janeiro de 1908, pela Lei nº 1860 de Organização do Exército, assinado pelo Ministro da Guerra Marechal Hermes da Fonseca, durante o governo de Afonso Pena, com o intuito de atender as unidades hipomóveis já existentes. (EXÉRCITO BRASILEIRO, 1958, p. 35). Pela inexistência de Escolas de Veterinária no País, o recrutamento destes oficiais foi realizado, inicialmente, através de concurso, “[...] sendo admitidos candidatos sem diploma científico, bastando como idôneos, atestados ou justificações fornecidas por pessoas competentes no assunto.” (ARAGÃO, 1918, p. 6). Segundo diversos autores, foi solicitada pelo governo brasileiro ao Instituto Pasteur de Paris uma Missão Militar Francesa, composta pelos Oficiais Veterinários franceses Capitão Paul Ferret e Tenente-Coronel Antoine Depuy, para melhorar o conhecimento técnico dos oficiais admitidos. Esses militares, formados pela Universidade de Alfort, colaboraram prestando serviços relevantes ao desenvolvimento e treinamento dos oficiais. Como foi citado, fazia mister a criação da escola de veterinária já que, apesar da criação do Serviço de Veterinária, não havia profissionais com a formação acadêmica desejada para o cargo em questão, dispondo “somente de práticos” (ARAGÃO, 1918, p.6). Em 1911, Dupuy e Ferret retornaram à França, e somente em 1913 foram substituídos pelo major André Ventillard e o capitão Henri Marliangeas, também procedentes da Escola de Alfort. Estes deveriam constituir parte do corpo docente da escola recém criada pelo Decreto de nº 2.232 de 6 de janeiro de 1910. Em 17 de julho de 1914, foi instalado o Curso Prático de Veterinária no quartel do então Grupo de Obuzeiros, em São Cristóvão, assumindo a direção do curso o capitão médico Dr. João Muniz Barreto de Aragão. (EXÉRCITO BRASILEIRO, 198-?, p. 2157). No entanto, em 07 de agosto do mesmo ano, “com a deflagração da primeira grande guerra mundial, a segunda Missão de Veterinários franceses foi obrigada a retornar à França, cujo golpe não abateu o Dr. João Moniz1 no seu ideal puro” (SOUSA, 1976, p.61). São bastante conhecidos os detalhes referentes à implantação desta Escola. A tenacidade do Coronel João Moniz Barreto de Aragão, trabalhando no Laboratório Militar de Microbiologia (mais tarde Instituto Militar de Biologia), realizando 1 Na literatura, o nome do Médico Dr João Muniz de Aragão Barreto é apresentado também com Moniz. 13 pesquisas de interesse médico e veterinário, juntamente com pesquisadores estrangeiros e nacionais do mais alto gabarito foi fundamental para a criação do Curso de Veterinária. Anteriormente ao decreto de criação da Escola, muitos passos essenciais foram dados e muitas decisões foram tomadas no sentido de viabilizar o ensino de Veterinária. (BIANCHI; VILLELA, 2005, p.6 apud GERMINIANI, 1992). A partir de 1920, uma terceira Missão Francesa chegou ao Brasil, permanecendo até 1933 e contava com a presença do agora Ten Cel Henri Marliangeas, e o Major Paul Dieulouard. Marliangeas assumiu o cargo de Diretor do Curso Prático de Veterinária, tendo nesta data o Sr. Dr. João Muniz de Aragão assumido o cargo de Inspetor do Serviço de Veterinária do Exército. O médico militar Muniz de Aragão destacou-se pelo seu grandioso empenho na criação da Escola de Veterinária e pela sua contribuição no desenvolvimento científico da Medicina Veterinária, tendo sido declarado em 20 dezembro de 1940, pelo Decreto-lei nº 2.893, o Patrono do Serviço de Veterinária do Exército Brasileiro. 2.1.2 O Patrono da Medicina Veterinária Militar João Muniz Barreto de Aragão, médico militar e pioneiro da Medicina Veterinária no Brasil, nasceu em 17 de junho de 1874, na cidade de Santo Amaro, recôncavo baiano. Ingressou na Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus obtendo a graduação, com destaque, de doutor em ciências médico-cirúrgicas. Conforme a biografia descrita por Sousa (1976, p. 54), Muniz de Aragão participou como médico voluntário na guerra de Canudos, na qual recebeu citação honrosa de generais e políticos por sua atuação nos teatro de operações. De espírito investigador, polivalente e vocacionado, teve uma carreira militar brilhante, marcada pelo pioneirismo, pela originalidade e pela relevância na pesquisa científica. Em 9 de abril de 1904, o então médico militar Dr. João Muniz Barreto de Aragão foi designado para servir no Laboratório Militar de Microscopia Clínica e Bacteriologia, o atual Instituto de Biologia do Exército. Desenvolveu inúmeros estudos científicos, realizando pesquisas bacteriológicas e inspeção da higiene nos quartéis (SOUSA, 1976, p. 57) e plantéis de equinos, contribuindo enormemente para evolução da Medicina Humana e Veterinária. João Muniz Barreto de Aragão dedicou-se enormemente a hipiatria, publicando 14 diversos trabalhos de repercussão nacional e internacional. Introduziu a campanha de combate ao mormo, zoonose infectocontagiosa que acometia a cavalhada do Exército Brasileiro de forma exacerbada, comprometendo todo o efetivo equino. Em 1908 o estado sanitário da cavalhada do Exército era alarmante, provocado por uma zoonose. O mormo recrudescia. Basta lembrar que no 2º Regimento de Artilharia Montada, dos 355 animais do efetivo, 233 eram mormosos, e, no 1º Regimento de Cavalaria Divisionário, no efetivo de 336 solípedes, 328 eram portadores da mesma zoonose, isso comprovado pelo Dr. João Moniz, após introduzir o método da reação de maleína. (ibidem, 1976, p. 59). Este autor ainda relata que a campanha de combate ao mormo teve início em 1908 prosseguindo até a sua erradicação no ano de 1920, sendo o sucesso da campanha atribuído à fé inabalável do Médico Militar João Muniz em persistir na missão. Entre outras atividades, destacou-se no estudo da febre aftosa no Município de Cantagalo, no Rio de Janeiro, organizou o Serviço de Defesa Animal e de Produtos de Origem Animal para o Ministério da Agricultura, estabeleceu o Código de Polícia Sanitária Animal e ainda fundou, com outros companheiros de farda, a Sociedade Médico-Cirúrgica Militar. Na manhã do dia de 16 de janeiro de 1922, morria João Muniz de Aragão Barreto. “Aos quarenta e sete anos de idade desaparecia o homem de ciência, deixando um exemplo vivo de quanto podem realizar a inteligência, a proficiência e amor extremado ao Brasil e a sua gente” (SOUSA, 1976, p. 64). Segundo este mesmo autor (1976, p. 65), em 1927 foi inaugurada no jardim da Escola de Veterinária do Exército a herma de Muniz de Aragão, cuja solenidade contou com a presença do Dr. Washington Luís, presidente da República. No pedestal de granito foi inscrito a legenda de autoria do general Dr. Waldemiro Pimentel: “Vivo, bem vivo, é quem, morto, o bronze perpetua”. Nos dias atuais, o busto de Muniz de Aragão encontra-se na Fazenda Modelo do Instituto de Biologia do Exército (Rio de Janeiro), em homenagem a esta figura de suma importância. 2.1.3 A Escola de Medicina Veterinária do Exército Somente em 6 de janeiro de 1910, o Decreto de nº 2.232, em seu artigo 22, autorizava 15 o governo a criar a Escola de Veterinária do Exército, na mesma data que organizou o Serviço de Saúde do Exército. Até o presente momento, não existia Escola de Veterinária no País ou profissionais que pudessem assumir a responsabilidade do ensino. “Persistia o Dr. João Moniz em alertar sobre a ameaça permanente que pairava sobre os nossos rebanhos com o quadro de veterinários do Exército, constituído de profissionais sem cursos, verdadeiros curandeiros de animais.” (SOUSA, 1976, p. 62). “A fundação da Escola de Veterinária do Exército, para a formação de profissionais civis e militares, deve ser assinalada como acontecimento transcendental para o nosso País e representa para o glorioso exército brasileiro outro fato notável nos seus anais [...]”(SOUSA, 1976, p.61). O primeiro regulamento da Escola de Veterinária do Exército, aprovado pelo decreto nº 14.229 de 23/06/1920, seguiu a organização da École Veterinaire D’Alfort (na França), definindo como objetivos da instituição "preparar veterinários, militares ou não, com os conhecimentos indispensáveis ao tratamento e conservação dos animais de tropa, em particular, e ao tratamento e conservação dos animais em geral" (art. 1°). Quanto ao ensino ministrado, era predominantemente prático e visava o estudo das "doenças comuns a todos os animais, em geral, e ao cavalo de guerra, em particular e, mais de quanto se relacione com a higiene veterinária e com a arte de ferrador, bem como com a inspeção das carnes e conservas". Com o objetivo de organizar o aprendizado prático ficaram instalados, anexos à Escola, um hospital, uma policlínica e um curso de ferrador. (FIOCRUZ, 200-?). Ao final do ano de 1917, graduou-se a primeira turma da Escola de Veterinária do Exército com cinco alunos, sendo três militares e dois civis. Ainda de acordo com o regulamento, ao final do curso os alunos aprovados recebiam um certificado de veterinário, sendo classificados na ordem das notas obtidas. Os dois primeiros classificados com nota dez eram aproveitados no intervalo de um ano no quadro de veterinários do Exército. E os demais que prestassem concurso tinham prioridade em relação aos diplomados por outras escolas. (FIOCRUZ, 200-?). O artigo supracitado faz referência ao Regulamento do Serviço de Veterinária no Exército em Tempo de Paz, aprovado pelo decreto de nº 15.229 de 31 de dezembro de 1921, que amplia os objetivos da Escola. O curso passa a ser definido pelo decreto acima como de “ensino teórico-prático, visando dar aos alunos o conhecimento preciso da medicina veterinária em geral, e mais particularmente, do que interessa ao serviço militar, e ainda de quanto se relacione com a higiene, inspeção de carnes e conservas e arte de ferrador”. (FIOCRUZ, 200-?). Durante os seus anos de funcionamento, a Escola de Veterinária do Exército desenvolvia, além do curso de formação de ensino superior de Medicina Veterinária, o curso 16 prático de Enfermeiro Veterinário, o de Mestre Ferrador e Ferrador. No final de sua existência, no ano de 1973, a Escola ainda abrigou um curso de Adestramento de Cães de Guerra. (EXÉRCITO BRASILEIRO, 198-?, p. 2350). No ano de 1930, pelo decreto nº 19.155 de 03 de abril, entrou em vigor o Regulamento para a Escola de Aplicação do Serviço de Veterinária do Exército, nova denominação que substituiu a de Escola de Veterinária do Exército. Ao ser inativado seu curso de graduação, seus alunos foram transferidos para a Escola Nacional de Veterinária. Neste momento, a Escola passa a ter como foco principal o aperfeiçoamento dos Oficiais Veterinários do Exército. Em 1937, a Escola de Veterinária do Exército diplomou a última turma e encerrou suas atividades sendo os alunos transferidos para a Escola Nacional de Veterinária. A antiga Escola foi transformada em Escola de Aplicação do Serviço de Veterinária do Exército, passando a ministrar um Curso de um ano para os Veterinários formados por outras escolas. (GERMINIANI, 1998, p.3). Segundo a obra do Conselho Federal de Medicina Veterinária (2002, p. 70), a desativação da Escola trouxe um grande descontentamento para toda a classe da Medicina Veterinária. Em outubro de 1939, em virtude da extinção da Diretoria do Serviço de Veterinária e a criação do Serviço de Remonta e Veterinária, a Escola fica subordinada a essa última. Pode-se observar que, desde sua criação, a escola teve suma importância para a sociedade como um todo, administrando seus cursos para militares e civis, sendo um núcleo de desenvolvimento da pequisa científica. Em 1972, tem sua última turma formada no Curso de Formação de Oficiais do Exército. Três anos após, em março de 1975, sua atividade foi extinta pelo Decreto nº 75, de 06 de março de 1975. 2.1.4 A Ação da Veterinária Militar em tempos de paz e de guerra As atribuições do Médico Veterinário Militar estão descritas no Regulamento Interno e dos Serviços Gerais do Exército, R-1 (RISG). Neste regulamento é enfatizado as atividades desenvolvidas com equinos e caninos como, por exemplo, o cuidado com a saúde dos animais e a vigilância sanitária, o cuidado com o forrageamento e com as rações fornecidas aos 17 animais. A atividade de inspeção de alimentos é pouco abordada, sendo superficialmente relatada a inspeção de produtos de origem animal. No entanto, no art. 69 do RISG descreve-se que outras atribuições e deveres do Médico Veterinário poderão ser dispostas em outros Regulamentos. Desta forma, o EB estabelece que o Médico Veterinário deve atuar em diversas vertentes, em razão da pluralidade dos seus conhecimentos. Nesta seção serão descritas as funções desempenhadas pelo Oficial Veterinário na Força, dentre as quais podemos citar a assistência médica e cirúrgica aos cães-de-guerra e equinos, a inspeção de alimentos e de instalações, o estudo e preservação da fauna e do meio ambiente, o controle de qualidade da água, a produção de imunobiológicos, a prevenção de zoonoses, o controle da população de vetores e roedores e a contribuição para a defesa nacional frente aos riscos biológicos. A clínica médica e cirúrgica dos cães-de-guerra e equinos tem como finalidade a manutenção da saúde do efetivo animal do Exército Brasileiro. O Conselho Federal de Mecina Veterinária (2002, p. 66) destaca que “No Brasil, a primeira referência ao uso do cão veio pelos bandeirantes na qualidade de esclarecedor e em patrulhas. Foi também bastante utilizado em guerrilhas contra quilombos.” O Exército Brasileiro utiliza-se dos cães-de-guerra na Força Terrestre, em atividades de guarda pessoal, guarda de instalações, farejo de substâncias entorpecentes, farejo de explosivos, controle de distúrbios civis e patrulhamento (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2005), ou seja, são animais utilizados em atividades policiais, em tempo de paz ou de guerra, como arma não mortal e de efeito moral significativo. De acordo com Silva (2006, p. 181) “Os cães treinados usados para guarda, além de economizar efetivo, agem como força intimidadora, detectam e alertam precocemente a presença de intrusos, e podem ser usados como verdadeiras armas quando necessário”. Inicialmente, os equinos eram utilizados no combate direto em ações de choque e de reconhecimento, dando mobilidade aos combatentes. Com o invento dos veículos motorizados e blindados, os equinos perderam sua utilidade direta na guerra moderna. Na atualidade, esses animais são frequentemente utilizados em resoluções de conflitos nas cidades, ou seja, atividades de Garantia da Lei e da Ordem. Os cavalos são empregados nas instruções de equitação ministradas nas Escolas Militares, para contribuir no desenvolvimento de atributos da área afetiva extremamente importantes na formação do militar. A relação do militar com o cavalo proporciona desenvolvimento de atributos da área 18 afetiva como cooperação, disciplina, dedicação, determinação, responsabilidade, coragem e capacidade de superação de obstáculos. As instruções de equitação nas escolas de formação militar funcionam no aperfeiçoamento desses atributos, contribuindo para a aplicação prática desses conceitos, fatos estes adequadamente expostos no Projeto Interdisciplinar sobre Seções de Equitação nos Colégios Militares, envolvendo aspectos econômicos, pedagógicos, psicológicos, esportivos e terapêuticos. Em tempos de paz o cavalo pode ser usado para ações sociais como a equoterapia, que enfatiza o cavalo como elemento de desenvolvimento humano. Essa atividade, contribui para a melhoria da imagem do Exercito como mão amiga da sociedade, podendo proporcionar o auto financiamento do custo desses animais, propiciando o desenvolvimento de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, e o desenvolvimento técnico e cientifico. (SILVA, 2006, p. 181). A contribuição do equino ainda é observada na produção de imunobiológicos, ou seja, plasma hiperimune antibotrópico e anticrotálico, anti-escorpiônicas e anti-aracnídico. Este plasma é utilizado na produção de soro contra picada desses animais peçonhentos, mediante parceria com a Fundação Butantan. (EXÉRCITO BRASILEIRO, IBEx, 2009). Os profissionais veterinários realizam a manutenção desse efetivo de animais do Exército, exercendo essa atividade através dos cuidados clínicos e cirúrgicos necessários, de medidas profiláticas e controle higiênico-sanitário das instalações. Outra área de suma importância da Veterinária no Exército e na sociedade é a higiene e inspeção de alimentos, na qual somente profissional veterinário está apto a analisar os produtos de origem animal. Seu objetivo visa a reduzir ao máximo a probabilidade de que esses alimentos sejam veiculadores de doenças. O veterinário adquire em sua formação o conhecimento técnico que, quando aplicado, garante a inocuidade do alimento. Ao Veterinário cabe a realização de inúmeros procedimentos, que vão desde a inspeção durante o abate dos animais até a avaliação físico-química e microbiológica do produto pronto para consumo. Deste modo, obtém-se uma redução dos casos toxi-infecções alimentares, garantindo a saúde da tropa. Silva (2006, p. 180) ainda cita que a missão do Veterinário Militar especialista em inspeção de alimentos é estratégica mesmo em Tempos de Paz, devendo estar atento desde à aquisição de produtos de boa qualidade até às instruções dos manipuladores de alimentos. Porém, deve-se chamar atenção à manutenção das condições para que suas funções sejam exercidas com presteza, o que colocaria em risco a saúde de toda tropa. O Médico Veterinário inspetor de alimentos tem importância inquestionável tanto em tempos de paz como em conflitos […]. Alguns laboratórios de analises (LIAB) estão defasados tecnicamente ou parados por falta de material, e ate mesmo por falta de profissionais habilitados, dificultando o desenvolvimento de pesquisas, e produção de conhecimento tecnológico na área de bromatologia. (SILVA, 2006, p. 180). 19 Em se tratando da fauna e do meio ambiente, o Exército contribui para a preservação e conservação de espécies de animais selvagens, realizando estudos sobre a fauna e a flora da região amazônica, através de um plano de gestão ambiental realizado no Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). O trabalho junto aos animais é desenvolvido no Hospital Veterinário, dotado em sua infraestrutura de salas de cirurgia e anestesia, radiologia, medicina interna e ambulatorial A partir de janeiro de 2009, o Zôo do CIGS passou a contar ainda com o Núcleo Avançado de Pesquisas do Instituto de Biologia do Exército (NAPIBEx), a ser estruturado em área cedida pelo CIGS para o desenvolvimento de pesquisas com agentes biológicos de interesse da Força Terrestre na Amazônia. (EXÉRCITO BRASILEIRO, CIGS, 2009). Outra atribuição do médico veterinário na Força é o controle de pragas, vetores e roedores. A atuação do veterinário faz-se necessária, visto que a infestação dos alimentos por essas pragas determina prejuízos econômicos e à saúde humana, contribuindo para a deterioração dos alimentos e provocando as doenças transmitidas por alimentos. Somado a isso, os roedores são responsáveis pela disseminação de doenças, como a leptospirose, a hantavirose, entre outras, podendo levar à morte. O médico veterinário está envolvido diretamente com a manutenção da saúde da tropa. Sendo assim, deve utilizar seu conhecimento para o controle das doenças transmitidas pelos animais aos humanos, ou seja, as zoonoses. Como elucida Silva, (2006, p. 179): “Atualmente, as doenças zoonóticas emergentes e reemergentes representam um desafio a Medicina Veterinária”. A Medicina Veterinária Militar tem importante papel no controle de zoonoses, pois há exigência de disciplina, bem como profissionais capacitados aptos a uma vigilância permanente, sistemática, com um contingente sempre pronto para a realização de campanhas, estratégias preventivas e ações junto a sociedade, criando desse modo um sistema de vigilância epidemiológica eficaz. (SILVA, 2006, p. 179). Pode-se citar como exemplo de risco biológico a utilização de microrganismos com a finalidade de causar perdas na tropa inimiga. Com tal propósito, o Bacillus anthracis, bactéria causadora do Anthrax, foi usado na II Guerra Mundial e, na atualidade, também vem sendo utilizado como armamento biológico, com o intuito de causar pânico no chamado bioterrorismo. (PIZZINI; DIAS-CARNEIRO, 200-?). Disciplinas curriculares como Química Orgânica e Inorgânica, Bioquímica, Química Fisiológica, Fisiologia, Farmacologia e Toxicologia fornecem ao Médico Veterinário conhecimentos sobre os agentes químicos tóxicos, seus mecanismos de ação, formas de utilização, sinais clínicos e antídotos. Tendo capacitação para atuar 20 no uso de agentes químicos e defesa química. Outras disciplinas como Microbiologia Geral, Microbiologia Veterinária, Bacteriologia, Virologia, Doenças Parasitárias e Epidemiologia, se voltadas à visão da atividade militar, seriam ferramentas de grande utilidade ao Exército, principalmente no tocante a atualização dos manuais utilizados em instrução, como o Manual de Campanha C 3-40 de Defesa Contra os Ataques Químicos, Biológicos e Nucleares, cuja última versão data 1987, principalmente nas questões relativas aos agentes biológicos (SILVA, 2006, p. 183). Sendo assim, por sua formação multidisciplinar e afim à Defesa Química, Biológica e Nuclear, o Veterinário poderia contribuir e muito para a formação militar nesta área, porém ainda possui sua participação incipiente. (SILVA, 2006, p.183). 2.1.5 A Veterinária e o Quadro Complementar de Oficiais do Exército O Serviço de Veterinária do Exército Brasileiro, aprovado por decreto em 04 janeiro de 1908, pela Lei nº1860, possuía em seu quadro inicial 50 oficiais. “À falta de escolas de veterinária que pudessem fornecer ao Quadro, profissionais que bastassem para preenchê-lo foi o recrutamento processado entre candidatos habilitados em concurso.” (VILAS BOAS, 1951, p. 41). Teve seu desenvolvimento significativo a partir da criação da Escola de Veterinária no Exército e foi extinto em 1974, passando as funções desse quadro a serem incorporadas pela Diretoria da Saúde. Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (2002, p. 70), no período de 1975 à 1980, com a nova Organização do Exército, foram extintas diversas Unidades Hipomóveis (Regimentos, Fazendas (10), Coudelarias (07) e Granjas Militares (365) e toda a organização Médica Veterinária de sustentação e apoio às atividades agropecuárias desenvolvidas no Exército. Deste modo, o número de oficiais veterinários decaiu com o passar dos anos e devido a esse déficit surgido dentro da Instituição, em 1985 o Exército convoca oficiais veterinários temporários (R-2) para suprir a carência desses profissionais. A extinção desse quadro repercutiu, a médio e longo prazo, na qualidade dos gêneros alimentícios fornecidos a tropa. O Estado Maior do Exercito (EME), ressentindo-se do importante papel do Médico Veterinário no Exercito, conclui pela necessidade de manter a preparação de pessoal especializado para essa tarefa, e foi autorizado o CFO/QC na especialidade de Veterinária. (SILVA, 2006, p. 180). 21 Pela Portaria Ministerial 456, o Médico Veterinário passa a compor o Quadro Complementar de Oficiais (QCO), tendo sua formação realizada na Escola de Administração do Exército, em Salvador-BA, sendo inicialmente composta por uma turma de 6 alunos, formados em 1992. No ano de 1997, a formação dos Oficiais Veterinários do Quadro Complementar de Oficiais foi transferida para a Escola de Saúde do Exército, situada no Rio de Janeiro, na qual permaneceu até o ano de 2002, retornando à Escola de Administração do Exército (EsAEx) em 2003. Cinquenta e quatro oficiais veterinários concluíram o Curso de Formação de Oficiais do QCO na Escola de Administração do Exército desde sua criação em 1991. Atualmente, em 2009, o curso possui 4 Oficiais Alunos matriculados e, para o ano de 2010, existem 5 vagas previstas em edital. Apesar da reinclusão do Médico Veterinário no Exército, há alguns anos teria sido levantada uma discussão pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV/RJ) sobre a legalidade do posicionamento do Veterinário no Quadro Complementar dos Oficiais (QCO). Em uma observação feita pelo CRMV/RJ, de acordo com a Carta Magna do País, a Constituição Federal, em seu Art. 37, cita a existência da categoria dos profissionais da saúde. Pela Resolução nº 287, de 08 de outubro de 1998 do Ministério da Saúde, a Medicina Veterinária é inserida no contexto das categorias profissionais de saúde de nível superior. Outro fator que poderia ser considerado quanto à inclusão dos Médicos Veterinários no QCO, segundo o mesmo autor, seria a Lei de Ensino do Exército, no Decreto nº 3.182, de 23 de setembro de 1999, que regulamenta a Lei 9.786 de 8 de fevereiro de 1999, e que enquadra a Medicina Veterinária como Linha de Ensino de Saúde. E de acordo com a definição, a Linha de Ensino Complementar, na qual a Veterinária atualmente se encontra, engloba as atividades que não podem ser enquadradas na linha bélica, tecnológica e de saúde. O mesmo autor, cita o Manual de Campanha C 8-1 como amparo para tal colocação, visto que, ao tratar do Serviço de Saúde em Campanha, prevê a participação do Médico Veterinário em operações e a estruturação da Veterinária em campanha em Esquadrão de Veterinária e Companhias de Saneamento do Batalhão da Saúde. De acordo com a Lei nº 5.292 de 08 de junho de 1967, que estabelece o Serviço Militar de Médicos, Farmacêuticos, Dentistas e Veterinários, inclui-se esta última categoria nas mesmas condições de tratamento que as demais. Tratando-se dessas condições, de acordo com o posicionamento do CRMV/RJ, seria 22 necessária uma reavaliação da classificação do Médico Veterinário no Exército Brasileiro, visto que sua missão vai além da assessoria prestada pelo Quadro Complementar de Oficiais. Segundo o Art. 22 da Portaria nº 36-DGS, de 16 de novembro de 1999, que aprova as Atividades de Veterinária em Tempo de Paz, a finalidade da Veterinária é cooperar para a preservação do potencial humano no Exército. Desta forma, a sugestão para solução desse impasse, dada pelo CRMV/RJ, poderia ser a reativação do Quadro de Veterinária ou a inclusão da Medicina Veterinária no Serviço de saúde. 2.2 A Veterinária no âmbito civil Para se tratar da Medicina Veterinária dentro do Exército Brasileiro, é indispensável que se acompanhe também o desenvolvimento de tal ramo profissional no âmbito civil, tendo em vista que as Medicinas Veterinárias Militar e civil evoluíram em consonância. Portanto, é preciso realizar um estudo mais detalhado da História da Medicina Veterinária civil brasileira. A história da Medicina Veterinária civil brasileira apresenta maior destaque a partir da chegada da Família Real, que aqui encontrou uma colônia de infraestrutura muito rudimentar em comparação à vida na Corte. Frente ao escasso desenvolvimento colonial das esferas urbana e rural, em que se destacavam questões de ordem agrícola a serem resolvidas, houve a necessidade de “mudanças rápidas e intensas nas características fisionômicas do novo reinado”. (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2002, p. 15). Segundo o mesmo autor, em 1860, D. Pedro II criava a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras públicas. No Decreto Imperial nº 2.747, de 16 de fevereiro de 1861, estabelecia a execução da secretaria em questão, e “[...] destacava a introdução e melhoramento de raças de animais e de 'Escolas de Veterinária' no País. Esses objetivos superiores não tiveram sequência e ficaram somente nas intenções”. (ibidem, p. 17). No ano de 1909, foi estabelecido um decreto pelo presidente Nilo Peçanha, que implementava a Diretoria da Indústria Animal e atribuía a ela as funções específicas: Incumbir-se da inspeção veterinária, cujo fim deve consistir, essencialmente, em zelar sobre o estado sanitário do gado, tomando e propondo todas as medidas capazes de evitar e combater as epizootias e concorrendo para fiscalização de matadouros e estábulos e melhoramento da higiene alimentar. (ibidem, p. 17). 23 Segundo o mesmo autor (2002, p.17), a Medicina Veterinária cresceu de expressão a partir do ano de 1910, com a criação de um decreto que estabelecia as bases de concorrência pública para instalação de matadouros modelos e entrepostos frigoríficos destinados à conservação e transporte de produtos animais nacionais e estrangeiros e, no mesmo ano, criou-se o Serviço de Veterinária, através do Decreto nº 8.331, de 31 de outubro de 1910. Em 1911, a nova regulamentação relativa à Diretoria do Serviço de Veterinária já detalhava os cuidados em relação à importação de animais. Previa, inclusive, o sistema de quarentenário e caracterizava as moléstias contagiosas que preocupavam as autoridades sanitárias. A Diretoria de Serviço não era ocupada por veterinários, certamente devido à ausência desses profissionais […]. Apenas as Inspetorias Veterinárias previam, no posto mais graduado, o Inspetor Veterinário e outro Médico Veterinário, da mesma forma que os Postos de Observação deviam ser administrados por esses profissionais. (ibidem, 2002, p. 19). O Conselho Federal de Medicina Veterinária (2002, p.19) ressalta que a criação de um serviço considerado essencial para o País, com a ausência do principal recurso humano qualificado, o Médico Veterinário, foi um fator preponderante para a criação das Escolas de Medicina Veterinária no País. 2.2.1 O Ensino de Medicina Veterinária Civil no Brasil Germiniani (1998, p.2) cita que, além da Escola de Veterinária do Exército, mais duas escolas foram criadas no início do século XX, sendo uma em Olinda e a outra no Rio de Janeiro, com datas muito próximas. A Escola de Veterinária de Olinda tem suas aulas iniciadas em 1º de fevereiro de 1914, o que por comparação de datas, foi anterior ao início das aulas na Escola de Veterinária do Exército. Seu mentor foi o Abade Dom Pedro Roeser, que propôs a montagem de seu currículo com base no padrões das escolas alemães. “Apesar do planejamento minucioso, do apoio dos Professores alemães, do entusiasmo e da dedicação dos monges beneditinos, a Escola teve uma vida efêmera tendo encerrado suas atividades em 29 de janeiro de 1926” (ibidem, p. 3). No Rio de Janeiro, pelo Decreto nº 8.319 do ano de 1910, foi criada a Escola Superior 24 de Agricultura e Medicina Veterinária, que deu origem a atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e em 1911 instalava-se a primeira sede da Escola no bairro de Maracanã, no Palácio do Duque de Saxe. Germiniani (1998, p. 3) ainda destaca que “A inauguração oficial aconteceu em 4 de julho de 1913, sendo diplomados os primeiros Veterinários em 1917. Se forem consideradas as datas de inauguração, esta Escola seria anterior à de Olinda e à de Veterinária do Exército”. A Instituição se ampliou e foi transferida várias vezes de sede até ocupar seu atual campus do Km 47 da antiga Estrada Rio-São Paulo. Outra Instituição surgida no início do século, de suma importância nos dias atuais, é a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. Sua origem encontra-se no ano de 1919, quando foi criado o Instituto de Veterinária. Subordinado à Secretaria de Agricultura de São Paulo e funcionando no Instituto Butantã, o objetivo do novo Instituto era estudar problemas relacionados com a pecuária paulista, doenças de animais domésticos e deveria tratar, ainda, do combate às pragas das lavouras. (GERMINIANI, 1998, p. 4). Segundo o mesmo autor, o Instituto de Veterinária transformou-se em Escola de Medicina Veterinária em 1928, e mais tarde foi extinta, em 1934, para ser incorporada à Universidade de São Paulo. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem sua origem no Instituto de Agronomia e Veterinária, e surgiu em 1913, em prédio próprio, não iniciando o curso de Veterinária imediatamente. É deste Instituto que derivam os atuais Cursos de Engenharia Agronômica e de Medicina Veterinária. O Instituto apoiava a produção animal e a agricultura com diagnóstico de moléstias infecciosas, preparo de soros e vacinas, orientando os criadores e estudando ectoparasitas, fitopatologia, fermentos utilizáveis nas indústrias de laticínio e na fabricação de vinhos, melhoramento do solo, bem como, insetos nocivos à agricultura e seu combate. (ibidem, p. 5). Atualmente afirma-se com convicção que a Medicina Veterinária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul está em expansão em virtude do desenvolvimento elevado da pecuária nesse estado. Como em outros estados, no Paraná, a Veterinária teve início ligada à Agronomia e, durante um período, o Curso de Química Industrial também integrou a mesma unidade. Em 5 de abril de 1918 foi criada a Escola Agronômica do Paraná reconhecida e subvencionada pelo Governo Estadual. Só em 7 de abril de 1931 aconteceu a fundação da Escola Superior de Veterinária do Paraná cujas atividades 25 tiveram início com a aprovação, em 16 de abril do mesmo ano dos Estatutos e Regimento Interno. A primeira turma de Médicos Veterinários veio a se formar em 1934. Neste mesmo dezembro de 1934, um decreto tornava autônoma a Escola Superior de Veterinária (ibidem, p. 5). Em Minas Gerais, a Escola Superior de Veterinária passou a funcionar somente em 1º de março de 1932, em Viçosa, apesar de sua criação ter acontecido dez anos antes, por legislação estadual. “Muito cedo, no final da década de 60, foram criados Cursos de Mestrado em Medicina Veterinária e em Zootecnia, projetando a Escola no Brasil e em outros países da América do Sul”. (ibidem, p.6). A Escola de Veterinária da Universidade Federal Fluminense foi criada em 11 de março de 1936, também se originando de uma escola estadual. Um grupo de idealistas, incluindo integrantes da primeira turma formada pela Escola do Rio de Janeiro, verificando a importância que o Veterinário estava adquirindo e vislumbrando um crescimento das responsabilidades deste profissional e de suas áreas de atuação, foi responsável pelos passos que levaram à concretização da Escola. Seguia-se o currículo padrão da Escola Nacional de Veterinária tendo, os colegas de Niterói, feito alguns acréscimos que enriqueceram o currículo inicial. Uma das áreas em que a Veterinária fluminense tem destaque é a de Tecnologia de Produtos de Origem Animal, com notável expansão desde sua implantação, em 1949. (GERMINIANI, 1998, p. 6). O Governo Estadual de Pernambuco, através do Decreto nº 7 de 3 de outubro de 1933, criou a Escola de Agronomia e Veterinária de Pernambuco, decreto este que foi revogado antes do início do funcionamento do curso. Medidas governamentais foram criadas com a finalidade de proporcionar a infraestrutura de uma Universidade Tecnológica Rural de Pernambuco, a primeira do gênero no País. Entretanto, o que surgiu foi o Decreto nº 1741, de 24 de julho de 1947, criando a Universidade Rural de Pernambuco. (GERMINIANI, 1998, p. 6). A Escola de Veterinária da Bahia foi criada através da Lei estadual nº 423, em 20 de outubro de 1951, estando vinculada à Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado da Bahia. Suas aulas tiveram início em 20 de junho de 1952, no Pavilhão dos Peixes do Parque de Exposição de Ondina, em Salvador. Neste mesmo trabalho, Germiniani ainda adiciona uma observação do Professor Percy Hatschbach, profundo conhecedor da história veterinária, que considera que as escolas criadas que mantiveram seu funcionamento até 1960 são pioneiras. No entanto, Germiniani (1998, p. 6) ressalta que as mesmas “Apresentavam uma distribuição geográfica irregular e deixavam distantes do ensino veterinário regiões em que a atuação deste profissional tem importância 26 considerável no plano sócio econômico”. Nos dias atuais, há uma preocupação crescente com o número de faculdades de veterinária e a qualidade do seu ensino. Conforme levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, no ano de 1991, existiam 33 cursos de Medicina Veterinária em todo o País. Até 2008, pode-se notar um crescimento de 484,8%, chegando à impressionante marca de 160 cursos em um espaço de tempo de apenas 17 anos. (SILVA, 2008). Na tentativa de avaliar o ensino dessas faculdades, o Conselho Federal de Medicina Veterinária, através de Resolução, determinou que todos os diplomados fossem submetidos ao Exame Nacional de Certificação Profissional (ENCP), no qual os estudantes que possuíssem rendimento inferior a 50% da pontuação da prova não pudessem obter o seu registro profissional. O Conselho Federal de Medicina Veterinária determinou, através da Resolução nº 691/2001, que, a partir de 1º de janeiro de 2002, todos os diplomados em Medicina Veterinária […], por entidades de ensino reconhecidas pelo Ministério da Educação, devem se submeter ao Exame Nacional de Certificação profissional (ENCP). Assim o Conselho Regional de Medicina Veterinária vem esclarecer as principais dúvidas sobre o exame. (CRMV/MG, 2009). O Conselho Federal de Medicina Veterinária tinha o intuito de usar o exame como ferramenta de avaliação do padrão de qualidade do ensino da Medicina Veterinária no Brasil, além de tomar os resultados de tal exame como um indicador das melhores instituições no País, permitindo, ainda, que o próprio aluno avaliasse seu desempenho em diversas áreas (CRMV/MG, 2009); não obstante, é preciso destacar que as inscrições nos Conselhos Regionais dos médicos veterinários recém formados só eram efetivadas mediante a aprovação no ENCP. Até o ano de 2006 a prova de certificação ainda era realizada como caráter obrigatório para a inscrição junto ao conselho profissional. No entanto, a partir do ano de 2007 as normas afixadas para realização do Exame Nacional de Certificação Profissional estabeleciam o caráter facultativo, não sendo condição necessária para obtenção de inscrição do profissional médico veterinário nos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (ibidem, 2009). Analisando o conjunto da evolução do ensino veterinário no Brasil fica muito nítido que as Escolas mais antigas resultaram de trabalho idealista com minuciosa preparação de locais adequados para o ensino teórico e prático. Hoje, com a proliferação de Escolas, muitas delas particulares, os critérios adotados, às vezes, deixam muito a desejar. Não seria interessante concluir esta análise em um clima pessimista mas um detalhe, bem comprovado, precisa ser lembrado e deveria ser motivo de reflexão para todos nós: apesar de suas eventuais falhas, são as 27 Universidades Públicas as produtoras, no Brasil, do maior volume e dos melhores trabalhos de pesquisa. Se as Universidades e Escolas privadas continuarem a se multiplicar teremos profissionais formados não por Professores, na verdadeira acepção do termo, mas por repetidores de conhecimentos lidos ou ouvidos. (GERMINIANI, 1998, p. 6). 2.2.2 Os Conselhos de Medicina Veterinária e suas Aplicações Segundo Hatschbach, em 9 de setembro de 1933, através do Decreto nº 23.133, foram estabelecidas as funções privativas do médico veterinário, como a organização, a direção e a execução do Ensino Veterinário; os serviços de Defesa Sanitária Animal; a inspeção dos estabelecimentos de produtos de origem animal, hospitais e policlínicas veterinárias, entre outras. Este mesmo autor cita que a partir de 1940, o registro do diploma, feito pela Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura, tornou-se obrigatório, sendo este órgão também responsável pela fiscalização do exercício profissional. Em 1968, através da Lei 5.517, são criados os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária, transferindo para a própria classe a ação de fiscalização. Art. 8º O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem por finalidade, além da fiscalização do exercício profissional, orientar, supervisionar e disciplinar as atividades relativas à profissão de médico-veterinário em todo o território nacional, diretamente ou através dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMV’s) (BRASIL, 1968). É o CFMV o responsável por propor ao Governo Federal as alterações necessárias na Lei, com o intuito de fornecer melhorias na regulamentação do exercício da profissão. O CFMV ainda estabelece o código de ética, no qual estão submetidos os Médicos Veterinários através do seu juramento: Sob a proteção de Deus prometo que, no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial atenção ao Código de Ética, sempre buscando uma harmonização perfeita entre ciência e arte, para tanto aplicando os conhecimentos científicos e técnicos em benefício da prevenção e cura de doenças animais, tendo como objetivo o Homem. E prometo tudo isso fazer, com o máximo respeito à ordem pública e aos bons costumes, mantendo o mais estrito segredo profissional das informações de qualquer ordem, que, como profissional tenha eu visto, ouvido ou lido, em qualquer circunstância em que esteja exercendo a profissão. Assim o prometo. (CRMV/SP, 2009). 28 3 O MÉDICO VETERINÁRIO E SEU PAPEL NA SOCIEDADE A Medicina Veterinária tem como principal fundamento a preservação da saúde, seja ela humana ou animal. O Médico Veterinário contribui com seu conhecimento e sua atuação em diversas vertentes para que esse objetivo seja alcançado com sucesso. De acordo com a Lei 5.517, de 23 de outubro de 1968, em seu Art. 5º, são estabelecidas as atividades e funções de competência privativa do Médico Veterinário. Encontram-se entre elas o planejamento e execução da defesa sanitária animal, a inspeção e fiscalização sob o ponto de vista sanitário, higiênico de estabelecimentos frigoríficos, matadouros ou qualquer outro que produza alimentos de origem animal. Na mesma legislação citam-se outras atribuições de competência do Médico Veterinário, dentre as quais se podem citar como sendo de caráter relevante para a sociedade, “o estudo e a aplicação de medidas de saúde pública no tocante às doenças de animais transmissíveis ao homem, a defesa da fauna, especialmente o controle da exploração das espécies animais silvestres e seus produtos e a organização da educação rural relativa à pecuária.” Tratando-se de saúde humana, as contribuições da Medicina Veterinária são inúmeras. “A primeira e mais básica função do sanitarista veterinário está fundamentada no contexto puramente veterinário por sua conexão com os animais inferiores e suas doenças, relacionado à saúde e bem-estar humanos.” (PFUTZENREITER, 2004, p. 1665) Pfutzenreiter (2004, p. 1665) ainda cita as atividades de saúde pública e que se relacionam diretamente com os animais, como o diagnóstico, o controle e a vigilância em zoonoses; os estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades não infecciosas dos animais em relação aos seres humanos; o intercâmbio de informações entre a pesquisa médica veterinária e a pesquisa médica humana com vistas à aplicação desta para as necessidades da saúde humana; o estudo sobre substâncias tóxicas e venenos provenientes dos animais; a inspeção de alimentos e a vigilância sanitária; o estudo de problemas de saúde relacionados às indústrias animais, incluindo o destino adequado de dejetos; a supervisão da criação de animais de experimentação; o estabelecimento de interligação e cooperação entre as organizações de saúde pública e veterinária com outras unidades relacionadas com animais; e a consulta técnica sobre assuntos de saúde humana relativos aos animais. “Essas atividades refletem as qualificações específicas dos médicos veterinários e normalmente são a base da formação do veterinário de saúde pública dos organismos de saúde”. 29 Considerando o campo de atuação do Médico Veterinário, observa-se que as inúmeras atividades desempenhadas por esse profissional refletem diretamente na saúde humana e na sociedade brasileira. Na agroindústria, a exportação pode ser gravemente afetada com a ocorrência de diversas doenças. Uma delas é a Febre Aftosa que, além de causar significativa queda da produção nos rebanhos de ruminantes e suínos, leva à interdição da propriedade produtora, à eliminação dos animais e à suspensão de comercialização dos seus produtos internacionalmente. Silva & Miranda (2005, p. 1) apud STEIN (2001) descrevem os prejuízos causados pela Febre Aftosa, “pelas perdas diretas devido aos sinais clínicos, com consequente queda na produção, e pelas perdas indiretas através dos embargos econômicos impostos pelos países importadores”. Silva & Miranda (2005, p. 4) ainda citam: “O status dos países quanto à doença afeta o desempenho econômico do setor exportador de carne bovina, reduzindo o crescimento econômico da pecuária e restringindo o acesso ao mercado internacional”. Nesse caso, os países estrangeiros que adquirem a carne do Brasil, em caso de ocorrência de febre aftosa, imediatamente suspendem a importação, trazendo enorme prejuízo aos produtores, com impacto direto na economia brasileira. Desta forma, o Veterinário atuará desde a profilaxia, através da assistência técnica aos produtores, até o controle e a eliminação, em caso de surgimento de focos da doença. Outros prejuízos também podem ser observados na produção de alimentos de origem animal. A atuação veterinária é indispensável na inspeção sanitária dos abatedouros de animais, das indústrias produtoras de alimentos de origem animal e até mesmo dos estabelecimentos que comercializam esses produtos prontos para consumo. Sua intenção é garantir que o produto final seja inócuo, pois os surtos de doenças transmitidas por alimentos causam aumento nos gastos públicos com a saúde, além dos impactos negativos na produção industrial e na confiabilidade da empresa perante o consumidor. “É expectativa da população que sua saúde esteja garantida e por isso confia na ação de regulação sanitária dos alimentos produzidos nas esferas industrial ou comercial visando proteção contra as doenças. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p. 9). Segundo Pfutzenreiter (2004, p. 1667), os veterinários têm grande importância na participação de novos desafios para a população mundial, no que se refere à sustentabilidade: “A redução da pobreza especialmente nas comunidades rurais, a produção de alimentos sem produzir desgaste ambiental e o controle de enfermidades relacionadas ao meio ambiente constituem alguns dos desafios para a população mundial atual”. Devem-se examinar os 30 padrões de produção e consumo, comprometendo-se com o crescimento econômico, porém respeitando o meio ambiente. Desta forma, pode-se extrapolar que o desempenho do Médico Veterinário na manutenção da saúde e no controle epidemiológico dos rebanhos, na inspeção de alimentos, na vigilância sanitária e no controle ambiental, influencia indiretamente o desenvolvimento sócio-econômico do País. 31 4 CONCLUSÃO A criação do cargo de Médico Veterinário no Brasil, assinada em 5 de dezembro de 1810 pelo Ministro Conde de Linhares, completará duzentos anos em 2010. Porém, os registros históricos indicam que os profissionais veterinários existentes até o surgimento das primeiras Escolas de Veterinária eram essencialmente práticos, não possuindo conhecimentos apurados sobre a profissão. Somente no século seguinte, foram abertas Escolas de Ensino Superior de Medicina Veterinária pelo País, em razão da necessidade de profissionalização nesta área, visando a melhorias nas condições higiênico-sanitárias dos plantéis e da população. Com o desenvolvimento das Escolas, durante o século XX, aliado ao progresso tecnológico, ampliaram-se as possibilidades da participação desses profissionais no mercado. No entanto, a baixa divulgação da classe faz com que o Médico Veterinário não tenha o seu devido valor reconhecido perante a sociedade brasileira. A maioria da população reconhece o Médico Veterinário por sua atuação através da clínica médica e ignora a atuação deste profissional na manutenção da saúde pública e da vigilância sanitária, contribuindo diretamente para a o bem estar da população. Portanto, este trabalho de divulgação histórica da Medicina Veterinária no País tem o intuito de contribuir para que essa visão distorcida da profissão seja dirimida. Outro fator crucial para a valorização da profissão é a manutenção do nível técnico profissional dos Médicos Veterinários. Deve ser dada prioridade na qualidade do ensino da Medicina Veterinária no País, considerando a adequação dinâmica da sua grade acadêmica ao mercado de trabalho e às demandas do desenvolvimento nacional e internacional. Da mesma forma, programas de qualificação, especialização ou atualização profissional podem contribuir para a melhoria técnica destes profissionais, trazendo benefícios à sociedade. Além disto, considerando a significativa participação da Agroindústria no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a atuação do Médico Veterinário torna-se imprescindível no processo de dinamização da economia brasileira. Isto se deve ao fato de que a manutenção do estado sanitário dos rebanhos e a eficiente inspeção dos alimentos de origem animal na indústria, dentre outros fatores, proporcionam a continuidade na exportação de produtos de origem animal, evitando embargos à carne brasileira por parte de seus compradores internacionais. No Exército Brasileiro, o Médico Veterinário desenvolve atividades de extrema 32 relevância para a manutenção da saúde do seu efetivo humano e animal. Através da realização de medidas higiênico-sanitárias, profiláticas, do controle de vetores e roedores e da qualidade da água, obtém-se a preservação de vidas e a diminuição de casos de doenças infectocontagiosas, parasitárias, o que consequentemente, reduzirá os gastos com saúde e queda de produtividade. Cabe ainda ressaltar que a atuação do Médico Veterinário na Defesa Química, Biológica e Nuclear poderia ser melhor aproveitada no Exército Brasileiro, visto a possibilidade de cooperação efetiva em pesquisas na área de contaminação e conservação de alimentos por meios físicos, biológicos e químicos. Além disto, este profissional ainda pode contribuir na educação sanitária da população, através de operações de ação cívico-social. Sendo assim, espera-se que os Médicos Veterinários possam continuar a colaborar para o desenvolvimento do País e do Exército Brasileiro, através do seu empenho e dedicação em servir aos homens e aos animais, tendo sua profissão valorizada e reconhecida pela sociedade brasileira. 33 REFERÊNCIAS ARAGÃO, João Muniz Barreto de. Organização nos Serviços de Veterinária do Exército. Conferência realizada no Clube Militar, Rio de Janeiro, p.6, 1918. BIANCHI, Margarete Del, VILLELA, Celso Leite. Medicina Veterinária – A História da Arte de Curar Animais, Bol. Med. Vet. 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