PRÁTICAS DE UMA PROFESSORA, SONHO DE UM IDEAL: A CONTRIBUIÇÃO DE JÚLIA MEDEIROS NA EDUCAÇÃO NORTE-RIO-GRANDENSE Manoel Pereira da Rocha Neto Maria Arisnete Câmara de Morais UFRN O Presente trabalho é vinculado à Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais: abordagens históricas, educativas e literárias, e tem como objetivo analisar as práticas pedagógicas da professora Júlia Medeiros empreendidas no Grupo Escolar Senador Guerra, em Caicó, no Rio Grande do Norte. Investigo também a sua participação na imprensa daquela cidade, por meio do Jornal das Moças (1926-1932), e a sua contribuição na luta pelos direitos das mulheres nas décadas de 1920 e 1930. Utilizo como referencial teórico-metodológico os conceitos da História Cultural, que tem o seu olhar para a história periférica, para as práticas culturais, ao contrário da história dos grandes objetos, tais como as revoluções, as lutas de classe, os grandes personagens e os grandes heróis. A História Cultural tem sua atenção voltada para as práticas culturais e experiências sociais trazendo, por exemplo, alunos, professores, famílias e costumes. As manifestações humanas, como pequenos gestos, sentimentos, festas, o corpo, a loucura, a marginalidade, assim como a morte, a criança, a mulher, desde que consideradas sob a ótica da História Cultural estão no mesmo nível de importância que os objetos estudados pala História tradicional, como o Estado, a luta de classes, as grandes revoluções, os modos de produção, entre outros. Portanto, a distinção feita tradicionalmente entre o que é central e o que periférico perde sentido. Desta forma, os diversos níveis da atividade humana podem ser analisados sem que se tenha necessariamente a recorrer a outros níveis supostamente mais centrais (PINHEIRO, 1997, p. 32). Essa concepção de História é aplicada às atividades humanas consideradas descentralizadas, como as práticas culturais de alunos, das famílias, dos costumes, professores entre outros. A História Cultural narra a história das minorias, entre as quais, a história das mulheres. Esse novo olhar epistemológico ampliou os campos de pesquisa da história com a inclusão dos “excluídos”, dos “pequenos”, do “ordinário”, como advoga Certeau (2002), por meio, por exemplo, da construção da história dos gestos, do trabalho, dos costumes, do corpo, de perfis de mulheres, enfim, da vida cotidiana. Busco entender as práticas complexas, múltiplas, diferenciadas que constroem o mundo como representação. Como era a representação de mulher e de educadora nas décadas de 1920 e 1930? O conceito de representação, a partir do pensamento de Chartier (1990) compreende as exclusões e classificações que formam as configurações sociais e conceptuais próprias de uma época, ou de um espaço. Elas são originadas pelas práticas políticas, discursivas e sociais. Práticas estas que busco, por meio de diversas fontes, em diversos lugares. Nessa perspectiva, desejo elucidar, em parte, a sociedade e o perfil de Júlia Medeiros, os movimentos das mulheres naquela sociedade. Os seus escritos revelam o que pensava essa pedagoga sobre a mulher, sobre a educação, sobre o casamento, sobre o seu espaço e seu cotidiano escolar. Segundo Nóvoa (1995, p.19) o estudo historiográfico da educação deve abrir espaço também para a compreensão de práticas e histórias de vida de professores. Segundo ele, esses estudos podem “produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do cotidiano dos professores”. De acordo com ele, a história da educação nas últimas décadas vem questionando a abordagem tradicional, uma vez que ela não privilegia as experiências dos atores educativos, suas vidas e projetos pessoais. Baseado na reflexão de Nóvoa (1995), percebi que era possível, por meio das práticas e histórias de vida de Júlia Medeiros, reconstituir parte da educação primária no município de Caicó, do cotidiano escolar da instituição na qual lecionava, como também a sua contribuição na imprensa e na construção da sociedade letrada norte-rio-grandense. Para a realização desta pesquisa utilizo, como uma das fontes, os jornais da época ora investigada. Entre esses periódicos destaco os exemplares disponíveis do Jornal das Moças (1926-1932), folha em que Júlia Medeiros desempenhava a função de redatora. Dessa forma configuro, em parte, a sociedade e o perfil de Júlia Medeiros e os movimentos das mulheres nesse espaço. Os jornais, de maneira geral, contam diariamente a história, o movimento da sociedade e dos cidadãos comuns, esquecidos com o passar dos anos. Eles remetem a um passado e narram a história localizada, periférica, desprovida de “grandes vultos”, comum à Historiografia tradicional. Esses jornais trazem, em suas páginas, marcas e resquícios de uma época: É fascinante ler a história através dos jornais. Em cada página nos deparamos com aspectos significativos das vidas de nossos antepassados, que permitem recuperar suas lutas, idéias, compromissos e interesses. Manancial dos mais férteis para o conhecimento do passado, a imprensa possibilita ao historiador acompanhar o percurso dos homens através dos tempos (CAPELLATO, 1994, p.13). Desse modo a imprensa também desempenha a função de reconstituir a história de um dado lugar e de um dado período. De acordo com Michel de Certeau (2002, p.109) “as práticas cotidianas estão na dependência de um grande conjunto, difícil de delimitar e que, a título provisório, pode ser designado como o dos procedimentos”. Ou seja, as práticas diárias como, por exemplo, trabalhar, ir às compras, participar dos eventos sociais ou religiosos, ir à escola, entre outras inúmeras práticas cotidianas, em diversas sociedade e épocas. Elas correspondem aos procedimentos dos indivíduos no seu espaço e no seu tempo, as suas operações na sociedade. São as articulações dos indivíduos que Certeau (2003) advoga como “maneiras de fazer”. A investigação das “maneiras de fazer” não centra sua análise no atomismo social dos indivíduos, mas na relação entre esses indivíduos. As práticas cotidianas têm como pressuposto a investigação dos seus modos de operação social ou seus esquemas de ação. Neste sentido, “concebe-se que a dimensão da análise histórica em diferentes espaços e momentos a partir de crenças, representações e práticas cotidianas, tidas como aparentemente banais, são tão importantes quanto os grandes objetos” ( PESAVENTO, 2003, p.1). O recorte histórico do presente trabalho, as décadas de 1920 e 1930, é um período marcado por um conjunto de acontecimentos que refletiam as mudanças pelas quais passava o país. Tais mudanças se caracterizavam pelas lutas operárias, cujo caráter reivindicatório contemplava melhores condições de vida – incluía aí a regulamentação do trabalho das mulheres; o movimento modernista no qual se destaca a Semana de Arte Moderna, em 1922, entre outros, que configuram o perfil de modernidade que vivia o Brasil. Nesta época algumas mulheres se constituíram mulheres notáveis, numa sociedade patriarcal, na qual a educação era privilégio dos homens. Elas venceram barreiras e tiveram acesso á educação, indo na contra da mão da história, principalmente no meio rural, distante dos centros urbanos. Nesse contexto, destaca-se a professora Júlia Medeiros, nascida no sertão norte-rio-grandese em 28 de agosto de 1896. Desde menina, Júlia Medeiros teve acesso às primeiras letras, devido à visão pedagógica do seu pai, o fazendeiro Antônio Cesino de Medeiros, que não fazia distinção de sexo. De acordo com Félix (1997), essa linha de pensamento era uma exceção naquela região. Essa autora observa que, mesmo exercendo a função de educador, o professor Juvenal Chagas Teixeira Campo Verde não escolarizou as próprias filhas, ao passo que os filhos do sexo masculino receberam a educação escolar oferecida na época. No entanto, Júlia Medeiros seguiu caminho inverso da maioria das meninas do sertão. Foi alfabetizada em sua própria residência, numa das salas da Fazenda Umari, sob a orientação de Misael Barros, o seu mestre-escola. O mestre-escola era privilégio de uma elite rural, excludente, tanto do ponto de vista econômico, quanto como em relação à condição feminina. O interesse maior das famílias do sertão era instruir os filhos homens, todavia as meninas tinham permissão de assistir às aulas com a autorização do pai. Esses educadores entraram pelo sertão adentro instruindo os futuros políticos, padres ilustres, entre outros: Mestre-escola e Professore Régio atravessaram a segunda metade do século XVIII e enfiaram pelo século XIX, entocados nos sertões, prestando serviços relevantes, desarnando com beliscões, palmatória e vara de marmeleiro os futuros chefes políticos, padres ilustres, soldados valorosos e fazendeiros onipotentes, saudosos do tempo da escola, da oração inicial e de pedido de benção ao mestre cujos direitos morais jamais prescreveram (CASCUDO, 1977, p. 262). Após ser alfabetizada Júlia Medeiros seguiu para a capital potiguar em busca de ampliar seus conhecimentos. Segundo Euza Monteiro em seu depoimento, em maio de 2002, Júlia Medeiros e as suas colegas Maria Leonor Cavalcante e Olívia Pereira foram levadas nas costas de burro pelo coletor estadual Eulâmpio Monteiro. A viagem até Natal durou cerca de oito dias. Na capital norte-rio-grandense freqüentou inicialmente o Colégio Nossa Senhora da Conceição. Posteriormente decidiu ser professora e com esse objetivo ingressou, em 1921, na Escola Normal de Natal. Após concluir seus estudos foi diplomada no dia 30 de janeiro de 1926. De volta a Caicó, com o propósito de fundar um externato para as crianças, faz publicar no Jornal das Moças (1926-1932), uma nota, por meio da qual, oferecia os seus serviços como professora particular. Júlia Medeiros, diplomada pela Escola Normal do Estado, tendo o propósito de abrir um externato para crianças de ambos os sexos, oferece os seus serviços aos pais de família da nossa terra (JORNAL DAS MOÇAS, 03/05/1926). O desejo de fundar um externato não se concretizou. Com o intuito de instruir as crianças de sua terra, essa professora entra para o quadro pedagógico do Grupo Escolar Senador Guerra, em 30 de junho de 1926. Assina, junto com a professora Maria Leonor Cavalcante – colaboradora do Jornal das Moças (1926-1932) – perante o diretor Joaquim Coutinho, um termo de compromisso de professora suplente da Cadeira Infantil-misto Suplementar, e começou a lecionar em 1 de julho daquele ano. O programa do Infantil-misto constava de Canto, Leitura e Escrita, Língua Materna, Aritmética, Geografia, História Pátria, Moral e Civismo, Desenho Natural, Trabalhos Manuais, Exercícios Físicos. As práticas da professora Júlia Medeiros se assemelhava à Pedagogia do Amor, às concepções pedagógicas da Reforma Pinto Abreu (Lei nº 249 de 22 de novembro de 19077 – operacionalizada por meio do Decreto nº 178, de 29 de abril de 1908), que davam uma nova orientação pedagógica ao ensino norte-rio-grandense. O princípio básico da Pedagogia do amor é a bondade expressada numa forma de responder às exigências reais dos jovens. O método adotado por essa professora era o intuitivo, que não fazia o uso de nenhum castigo físico. Segundo Cambi (1999), os princípios intuitivos de ensino foram elaborados a partir das idéias organizadas pelo educador suíço Pestalozzi no século XIX. Nessa concepção de aprendizagem é o produto da observação, e da experiência entre aluno e o objeto do conhecimento. Os sentidos, como o olhar, o ouvir, o tocar, eram pressupostos para o raciocínio e aprendizagem. Eles despertavam o interesse e a curiosidade do aluno a partir das impressões e das atividades propostas. Os processo intuitivos de ensino configuram as práticas educativas brasileiras desde o final do século XIX, perpassando a educação norte-rio-grandense até final da década de 1930. Na sala de aula da mestra Júlia Medeiros, a palmatória havia sido abolida e suas práticas eram da conciliação na relação professor-aluno. Segundo entrevista dos seus ex-alunos, como Elza Filgueira, uma vez por semana Júlia fazia o Argumento, geralmente nas quintas-feiras ou nos sábados. O argumento era feito de voz alta numa sucessão de vozes. No ensino infantil era adotado como primeiro livro a carta do ABC e a tabuada. A carta de ABC começava pelo alfabeto, depois passava pelas sílabas, por último para as frases curtas e os provérbios, alguns extraídos da bíblia. Vários são os alunos que recordaram do entusiasmo com que Júlia Medeiros regia, de apontador na mão, os seus alunos nos dias de marcha. Distribuídos em fila, seus alunos marchavam na própria sala de aula, contornando as carteiras e entoando cânticos que eram aprendidos de cor. Cantavam também para iniciar e terminar as aulas. Eis a letra de uma das músicas cantadas na entrada do Infantil-misto: Deixemos os brinquedos, vamos estudar. O mestre é nosso amigo, a escola o nosso lar Atentos, pois, ouçamos dos mestres As lições que ilustram nossas mentes e nos tornam bons. A escola não fadiga quem amor lhe tem Nos mostra a existência e nos aponta o bem Colegas, estudemos nesta quadra (sic) Infantil para sermos no futuro A glória do Brasil. (FÉLIX ,1997, P.28) Escolheu a profissão de professora para participar efetivamente da vida letrada e social de sua terra. Além de ser remunerada por esse ofício, conquistou, por meio dele, respeito. Seu prestígio se alargava devido às influências que adquiria em suas constantes viagens a Natal, Mossoró e Rio de Janeiro; nesses lugares mantinha contatos com lideranças políticas, como a feminista Bertha Lutz, entre outras. A missão de professora, na sua concepção, não bastava. Acreditava que era possível fazer mais. Começou atuar na imprensa e a reivindicar instrução para as mulheres. Colaborou para a revista Pedagogium, órgão oficial da Associação de Professores do Rio Grande do Norte, na qual publicou o artigo intitulado A missão da mulher. No referido artigo Júlia Medeiros questiona o papel da mulher: A missão da mulher poderá se estender além do lar, cujo programa será sempre a dedicação, não procurando vencer senão pela virtude, visando que a nossa força e o nosso prestígio representam a modéstia e as delicadezas inerentes ao próprio sexo (REVISTA PEDAGOGIUM, Nº 21, OUT/SET DE 1925). No mesmo ano que entra para lecionar no principal Grupo Escola de Caicó, Júlia Medeiros passa a fazer parte do corpo redacional do Jornal das Moças (1926-1932), folha fundada em 7 de fevereiro de 1926 pela professora Georgina Pires e sob a gerência de Dolores Diniz. Esse jornal tinha técnicas jornalísticas dentro dos padrões dos grandes jornais do Rio Grande do Norte, e direcionado ao público feminino. A edição de 28 de julho de 1926 registra a sua chegada ao jornal: Temos hoje o prazer de contar com mais uma distinta e inteligente companheira, a nossa brilhante colaboradora professora Júlia Medeiros que entra para o corpo redacional. Aos nossos bons leitores e às nossas gentis leitoras, levamos os nossos parabéns pelo belo ornamento que vem realçar o nosso modesto jornalzinho (JORNAL DAS MOÇAS, 28/07/1926). Professora querida por uns e “não agradável” para outros, por causa de seu comportamento avançado, foi chamada de “louca”. Nas primeiras décadas do século XX, diversas mulheres tentaram fazer uma revolução nos costumes, exigindo a participação no espaço público, mas muitas foram impedidas, e as que conseguiram foram, assim como Júlia Medeiros, foram consideradas mulheres loucas. Elas diferenciavam-se das demais, atuavam no espaço público e reivindicavam seus direitos. Possuidora de comportamento diferenciado, Júlia Medeiros também chocou ao dirigir um automóvel. O casamento para ela era uma maneira de ficar presa no espaço privado, o lar. Em virtude desses dois aspectos renderam-lhe versos cantados pelas crianças nas calçadas da cidade: “Júlia Medeiros, no seu carro Ford, virou a princesa do caritó” (FÉLIX, 1997, p.32). Segundo a tradição do sertão, a moça passa por três oportunidades na vida para conseguir um casamento. Segundo depoimentos de moradores e populares da região, a referida expressão é caracterizada nas seguintes fases da vida da moça: o “primeiro tiro da macaca” seria por volta dos dezoito anos de idade. O “segundo tiro da macaca”, por sua vez, era aos 21 anos de idade aproximadamente, e por fim, aos 25 anos, a última esperança. Caso não conseguisse um casamento estava destinada a ficar solteira, gerando preocupação na sua família. “ O último tiro da macaca” seria portanto, a última esperança de se casar, caso contrário, se tornaria moça no “caritó”, expressão popular para designar moça solteira. De acordo com Cascudo (1977, p.142-143), na sua obra Locuções Tradicionais do Brasil, a expressão “Morte da macaca”, nos veio dos Galibis das Guianas e é pouco usado no Brasil letrado. Ele explica: Morte da macaca significa desgraçada. Pela terminação feminina, o português julgou-o feminino, concordante com o gênero de morte [...], seria, inicialmente, morte de macaca, sucumbir com ela, caçada a tiro de pedra, flecha e bala. Macaca passou a ser infelicidade [...]. Dar tiro na macaca significa ficar sem casar, perder as esperanças. Era a cobrança do comportamento das moças da época, pois toda mulher deveria se casar, caso contrário, ficaria no “caritó”. Este termo faz referência a um móvel, uma prateleira bastante usual chamada de “caritó”, que era localizado no canto do quarto ou sala das residências sertanejas (ROSUT, 1994, p.180). Dessa maneira, a mulher sem marido, sem o cônjuge, estaria destinada a ficar esquecida, no canto, tal qual o móvel dos sertanejos. A opção de ficar solteira desafiava as normas, pois na maioria das vezes restava às solteiras cuidar dos sobrinhos, “ficar pra titia”. A professora Júlia Medeiros pensava diferente. Sintonizada com a causa das mulheres, escreve mais uma página na história de Caicó. Foi a primeira mulher de Caicó a se alistar como eleitora. Juvenal Lamartine, político norte-rio-grandense simpático à causa feminina, concedeu o direito de sufrágio às mulheres antes de assumir o governo do Rio Grande do Norte. O estado foi o primeiro do Brasil no qual as mulheres podiam votar e ser votadas, representadas pelas professoras Celina Guimarães; primeira mulher a se alistar, na cidade de Mossoró/RN; e Alzira Soriano, primeira mulher a se eleger prefeita de um município no Brasil, a cidade de Lajes/RN. Com o desejo de avançar na sua luta pelo direito da mulher, Júlia Medeiros candidatase a uma vaga na Câmara Municipal de Caicó. Em 1950, aos 54 anos de idade, é eleita vereadora pelo Partido Social Democrático - PSD. Obteve na eleição 214 votos, num universo de 4.469, correspondendo a 4,78% da votação. Concorreu com 28 candidatos e foi a 6ª colocada. Reelegeu-se para novo mandato para o período de 1954 a 1958. Após encerrar o mandato como vereadora, Júlia Medeiros se encontrava perturbada mentalmente. Segundo seus familiares, ela se trancava em sua casa e permanecia dias sem comunicação. Segundo O historiador Adauto Guerra, a debilidade de Júlia Medeiros pode estar associada a sua trajetória de mulher sempre atuante naquela sociedade: “Júlia Medeiros trabalhava mais do que a força humana”, assinala ele. A professora Júlia Medeiros foi uma mulher de vanguarda. Ela quebrou regras e tabus na Caicó de outrora, com seu comportamento avançado e, na maioria das vezes extremado para os padrões sociais vigentes. Ela chocou a sociedade como forma de questionamento, foi contra o casamento. Torna-se mulher no “caritó” para ela foi uma opção, enquanto para a maioria das mulheres do seu tempo seria o fim da sua vida, o tiro de misericórdia. Nesse contexto, ela não aceitava as convenções sociais. Sua vida sempre foi vinculada ao espírito de luta, liberdade, conquistas e evolução. Referências I - Entrevistas e depoimentos ARAÚJO, Antonia Figueiredo de. Sobre Júlia Medeiros e suas práticas pedagógicas no Grupo Escolar Senador Guerra. Caicó, 14 jun.2004. BRITO, Nilson de. Sobre a cultura de Caicó e a fundação da cidade. Caicó, 07 mai. 2002. BRUNO, Lúcia. Vizinha de Júlia Medeiros na Rua da Misericórdia. Sobre os últimos anos da professora Júlia Medeiros. Natal, 18 jun.2004. DANTAS, Maria Julieta. Sobre a professora Júlia Medeiros. Caicó, 14 jun. 2004. FAUSTO, Adjuto. Sobre as moças da cidade de Caicó na década de 1920. Natal, 04 fev. 2002. GUERRA FILHO. Adauto. Sobre a professora Júlia Medeiros. FILGUEIRA, Elza. Ex-aluna de Júlia Medeiros da turma concluinte de 1940. Sobre as práticas pedagógicas de Júlia Medeiros. Natal, 17 jun 2004. MARIZ, Maria Melo. Sobre o Jornal das Moças e a professora Georgina Pires. Caicó, 07 de mai. 2002. MEDEIROS. Maria José. As práticas pedagógicas do Grupo Escolar Senador Guerra e a professora Júlia Medeiros. Caicó, 15 jun de 2004. MELO, Manoel Alves de. A vida da professora Julia Augusta de Medeiros. Natal, 18 out. 2001. MONTEIRO, Eldy. A sociedade caicoense e as mulheres na década de 1920 e 1930. Natal, 17 set. 2001. OLIVEIRA, José Brito de. As práticas educativas e a vida social da professora Júlia Medeiros. Natal, 18 out. 2001. SOUTO, Venceslau, Sobre os últimos anos da professora Júlia Medeiros na Rua da Misericórdia. Natal, 18 jun 2004. VERAS, Ivete Dantas, Sobre Júlia Augusta de Medeiros. Caicó, 06 mai. 2002. II – Documentos LIMA, Nestor dos Santos. DIRETORIA GERAL DE EDUCAÇÃO. Natal, 15 mai. 1925. LEI Nº 249 DE 22 DE NOVEMBRO DE 1907. DECRETO DE Nº 178, DE 29 DE ABRIL DE 1908. REGIMENTO DO GRUPO ESCOLAR AUGUSTO SEVERO: LEI Nº 249 DE 22 DE NOVEMBRO DE 1907. (DECRETO DE Nº 178, DE 29 DE ABRIL DE 1908). DIRETORIA GERAL DE EDUCAÇÃO. NATAL, 15 DE MAIO DE 1925. III - Periódicos Pesquisados Jornal das Moças (1926-1932). Semanário editado pelas professoras Georgina Pires, Dolores Diniz, Júlia Augusta Medeiros e outras colaboradoras da cidade de Caicó, Rio Grande do Norte. Revista Pedagogium (1921-1925). Órgão da Associação de Professores do Rio Grande do Norte. Nº 21, OUT/SET DE 1925 I V- Livros ALMEIDA, Jane Soares de. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Fundação editora UNESP, 1998. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil editora, 1999. BURKE, Peter. (Org.). Abertura: nova história, seu passado e seu futuro. In: A Escrita da história: novas perspectiva. Tradução por Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1992. p. 7-37. CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. CAPELLATO. Maria Helena Rolim. A imprensa na história do Brasil. 2.ed. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1994. CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras: pesquisa e lembranças na história do Rio Grande do Norte. Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1977. _____. Locuções tradicionais no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1977. ______. A invenção do cotidiano. Tradução por Ephraim Ferreira Alves. São Paulo: Vozes, 1994. CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Tradução por Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense - Universitária, 2002. CHARTIER, Roger. A historia cultural: entre práticas e representações. Tradução por Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 1990. _____. História hoje: dúvidas, desafios, propostas. São Paulo: ANPOCS, 1994. p.97-111. DUBY. Georges. A história continua. Tradução por Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed: Ed. UFRJ, 1993. FALCI, Miridan Knox, DEL PRIORI (org.). Mary. Mulheres do sertão nordestino. IN: História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/UNESP, 1997. FÉLIX, Ezequielda. MOREIRA, Aldo. FREIRE, Francisca Daise Galvão. Júlia Medeiros, peso da tradição, desejo de liberdade. Caicó, 1997. Monografia (Graduação em História) Departamento de Estudos Sociais e Educacionais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. FIRMINO, Jane Cortez. O voto de saias: a gênese do voto feminino no Rio Grande do Norte através do jornal A República. Natal: Fundação Vingt-un Rosado. Coleção Mossoroense, 2003 GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Problematizando fontes em história de educação. IN: Educação e Realidade, Porto Alegre, v.21, jul/dez. 1996. p.102. GUERRA FILHO, Adauto. O Seridó na memória de seu povo. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2001. LAMARTINE, Juvenal. Velhos costumes do meu sertão. Natal: Fundação José Augusto, 1965. LAGRAVE, Rose-Marie. Uma emancipação sob tutela. Educação e trabalho das mulheres no século XX. In: História das mulheres no ocidente. O século XX. (sob direção de Françoise Thébaud). Porto: Afrontamento, 1991. v. 5. p. 505-543. MEDEIROS, José Augusto Bezerra. Seridó, Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal. 1980 MEDEIROS, Júlia Augusta de. A missão da mulher. Revista Pedagogium, Natal, n.21, p.2426, set./out. 1925. MEDEIROS FILHO, Olavo. Caicó, cem anos atrás. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1980. _____. Velhas famílias do Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1981. _____. Índios do Açu e Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal. 1984. _____. Caicó: Tudo começou no sítio Penedo. Revista do 5° Jubileu da Paróquia de Sant’Ana de Caicó. João Pessoa, p. 04, jul. 1998. MELO, Manoel Rodrigues de. Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte: 1907-1987. São Paulo, Natal: Fundação José Augusto, 1999. MONTEIRO, Pe. Eymard L’Eraistre. Caicó: subsídios para a história completa do município. 2. ed. Natal: Nordeste gráfica/ Sebo vermelho, 1999. MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. – 2.ed. ver. Natal: Cooperativa Cultural, 2002. MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Leituras de mulheres no século XIX. Belo Horizonte: autêntica. 2002. 1996. _____. Vida íntima das moças de ontem: um encontro com Sophia Lyra. In: MIGNOT, Ana C. V. BASTOS, Maria H. C., CUNHA, Maria T. S. (Orgs.). Refúgios do eu: educação, história, escrita autobiográfica. Florianópolis: Mulheres, 2000. p.109-122. _____. Isabel Gondim: a educação enquanto prática de vida. In: MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. (Org.). A mulher em nove versões. Natal: EDUFRN, 2001. p.13-28 _____. Leituras de mulheres no século XIX. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. _____. Isabel Gondim: uma nobre figura de mulher. Natal: Fundação Vingt-un Rosado, 2003. MORAIS, Ione Rodrigues Diniz. Desvendando a cidade de Caicó em sua dinâmica espacial. Brasília: Gráfica do Senado Federal, 1999. NÓBREGA, Janúncio Bezerra da. Saudades do Seridó. Natal: Clima, 1978. _____. Revivendo o Seridó. Natal: Clima, 1981. NÓVOA, Antonio. Vida de professores. 2. ed. Portugal: Poro Editora, 1995. NUNES, Clarice. História de Educação: espaço do desejo. Em aberto. Brasília. V.9, n.47, jul./set. 1990. ______.Uma leitura das práticas educacionais à luz da nova história cultura. In: Educação em questão, v. 06, n. 02. Natal: EDUFRN, 1996. p.136-151. PEREIRA, Maria do Carmo Medeiros. Grupo Escolar Senador Guerra: uma tradição escolar que resiste aos embates do tempo. Caicó, 2002. Monografia (Graduação em Pedagogia) Departamento de Estudos Sociais e Educacionais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. PERROT, Michelle; DUBY, Georges (Org.). História das mulheres no ocidente. O século XX. (Sob a direção de Françoise Thébaud). Porto: Afrontamento, 1991. v. 5, p.7. PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. PESAVENTO. Sandra Jatahy. História & história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. PINHEIRO, Rosanália de Sá Leitão. Sinhazinha Wanderley: o cotidiano do Assu em prosa e verso (1876-1954). Natal, 1997. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações familiares. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. ROCHA NETO, Manoel Pereira da. Jornal das Moças (1926-1932): educadoras em manchete. Natal, 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. RODRIGUES, João Batista Cascudo. A mulher brasileira: direitos políticos e civis. Brasília: Brasiliense, 1993. ROSUT, Aleixo, BRASILIANO, F. da Silva Jr., ALBUQUERQUE, Caio. Dicionário completo da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1994. SANTA ROSA, Jaime da Nóbrega. A linguagem do seridoense: a influência do português arcaico e do clássico. In: Tempo Universitário. v. 1, n.1. Natal: UFRN, 1976. Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. SOIHET, Rachel. A pedagogia do espaço público pelas mulheres e a militância feminista de Bertha Lutz. In: Revista Brasileira de Educação. Campinas/SP: Autores associados, n. 15 set/out/nov/dez. 2000. p. 97-117. TAVARES, João de Lyra.- Apontamentos para a História Territorial da Parahyba. Paraíba, Imprensa Official, 1908.