BANCO DE HORAS www.sindpdsc.org.br CONHEÇA OS PERIGOS dessa prática EDITORIAL 2 Melhores condições de trabalho é o que deseja a maioria dos trabalhadores. Os patrões, porém, mesmo sabendo disso, utilizam em larga escala o famigerado Banco de Horas, que é um instrumento que rebaixa direitos e salários, se contrapondo a tudo que almejam os trabalhadores. Os patrões procuram dourar a pílula falando que o Banco de Horas vai permitir mais liberdade aos trabalhadores. A prática, no entanto, mostra justamente o contrário. São muitos os casos de abusos de hora extra para além de limites legais e humanos, de trabalhadores que ficam “reféns” da empresa, de problemas de saúde ocasionados por longas jornadas e etc. Leia com atenção a cartilha que o sindicato preparou. Fique por dentro dessa prática e a relação dela não só com a redução de seus direitos e salários, mas também com os perigos para sua saúde. Alertamos também aos trabalhadores que mais ataques estão por vir com o ACE (Acordo Coletivo Especial), uma forma mais ampla de rebaixar mais conquistas dos trabalhadores. Os patrões insistem na prática do Banco de Horas porque aumenta seus lucros e o trabalhador é descartável para eles. Devemos dar um basta a isso! Não devemos nos intimidar! Vamos à luta em defesa dos salários, dos direitos e da nossa saúde! Forte Abraço, Diretoria do SINDPDSC Índice O que o tem haver com a saúde do trabalhador .................................................... 03 Como influencia no cálculo do seu Salário e da sua Aposentadoria .................... 05 O que tem haver com sua liberdade ....................................................................... 07 O que tem haver com o seu Emprego ..................................................................... 08 Mas afinal, de onde veio o banco de horas ............................................................ 09 Vem mais ataque por aí .......................................................................................... 09 O Banco de Horas não é a saída ............................................................................ 11 www.sindpdsc.org.br O que o Banco de Horas tem haver com a saúde do trabalhador? No Brasil há um limite legal extremamente alto de 44h semanais para a jornada de trabalho . Os patrões usam o Banco de Horas extendendo esses limites legais, prolongando abusivamente essa jornada. E em troca oferecem a promessa de algumas horas de folga, que jamais recuperarão todas as perdas fianceiras e desgastes da saúde acumulados pelo trabalhador. Longas jornadas exigem um grande esforço físico e mental, gerando situações prolongadas de stress, ansiedade, monotonia e controle rígido da produtividade. No setor de TI há uma força de trabalho jovem em sua maioria e os patrões se aproveitam disso. Quando se é mais jovem muitas vezes não se percebe que o tempo passará e todos envelhecerão e com o avanço dos anos, os problemas surgirão. Neste setor de trabalho a maioria dos problemas de saúde não aparecem da noite para o dia, e sim se acumulam durante anos até surgirem os primeiros sintomas. Assim, o terreno fica mais propício aos patrões para se livrarem de suas responsabilidades. O Setor já era conhecido pelos problemas de LER/DORT. Agora começa a ser conhecido também pelas doenças psicossomáticas decorrentes das longas jornadas de trabalho, sendo o Banco 3 de Horas um dos maiores vilões. Lembre-se trabalhador: A preservação de sua força de trabalho é sua maior garantia de futuro. O mesmo patrão que incentiva você a cumprir longas jornadas não lhe dará o amparo necessário depois, quando este for imprescindível. Muitos trabalhadores, após anos de dedicação, se deparam com a dramática situação de falta o apoio e a proteção necessária, quando sua capacidade de trabalho é comprometida, devido a doenças ocupacionais ou a acidentes de trabalho. Prevenir é sempre melhor do que remediar! BANCO DE HORAS FIQUE ATENTO As empresas normalmente obrigam o trabalhador ou a trabalhadora a lançarem no banco de horas o tempo gasto em consultas médicas, tratamentos de saúde ou acompanhamentos médicos. Essas horas devem ser abonadas e não compensadas. É outro direito seu que o Banco de Horas ataca. 4 O Banco de Horas influencia no cálculo do seu Salário e da sua Aposentadoria? Quando você faz uma hora extra e ela cai no banco de horas, direitos importantes são perdidos, como a própria remuneração da hora extra e demais direitos que incidem sobre essa hora extra:o FGTS, o adicional de férias, o descanso semanal remunerado e o 13º salário. Ao não receber os adicionais e os encargos trabalhistas, o salário do trabalhador é reduzido sem ele perceber. Essa perda salarial reflete também em seus direitos previdenciários, pois o Ban- co de Horas também diminui seu salário de contribuição ao INSS e, consequentemente, diminui sua aposentadoria e outros direitos previdenciários, como o auxílio doença, caso você precise. Os patrões sabem muito bem disso e para lucrar mais incentivam o Banco de Horas. Com o Banco de Horas, no fim das contas, você trabalha mais e ganha menos. A quem interessa isso? Ao patrão ou ao trabalhador? FIQUE ATENTO Muitos trabalhadores pensam que a folga do Banco de Horas é um pagamento justo. O que é um grande engano. Se para cada hora extra você tem somente uma hora de folga, você perde os 70% de adicional e demais encargos trabalhistas já mencionados. Caso seja um feriado ou um domingo seu adicional é de 100% e sua perda é maior ainda. www.sindpdsc.org.br BANCO DE HORAS 5 O que o Banco de Horas tem haver com sua liberdade? Muitos trabalhadores querem o banco de horas na esperança de conquistar mais liberdade acumulando horas negativas de folga. Ou então para acumular horas positivas e depois compensa-las. então, quando o Banco de Horas dura muito tempo (a exemplo dos Bancos de Horas que vigoram no ano todo e sem limites) o trabalhador não raras vezes, fica sem o controle ou a certeza do quanto de horas teria de fato de folga e acaba sendo enganado pelo Em momentos de baixa pro- patrão. dução as empresas podem até conceder horas para os trabalhadores A empresa toma para si o temutilizarem, com isso, horas negativas po que o trabalhador dedicaria para o são acumuladas. Quando as empreestudo, a família, o lazer e outras atisas precisam aumentar a produção, situação mais comum de utilização vidades. Com o Banco de Horas, as 7 do banco de horas, ela cobra horas empresas pressionam para que a jorextras, de quem têm e de quem não nada de trabalho funcione de acordo com as metas de lucros imediatos e têm horas negativas. com os prazos de sua conveniência. Não são poucos os trabalha- “Flexibilizar a jornada” para o patrão dores que se veem na obrigação de é uma coisa, para o trabalhador é outer que virar noites para cumprir pro- tra completamente diferente. jetos ou metas e, depois, para piorar, Na prática o trabalhador fica refém a folga quem decide é o patrão. Ou da empresa. 6 FIQUE ATENTO A prática que permite com que trabalhadores que entrem mais cedo no trabalho para sair mais cedo ou entrar mais tarde para sair mais tarde, não depende de um Acordo de Banco de Horas, e pode ser implantado a qualquer momento. É importante a participação do sindicato no estabelecimento deste acordo para a flexibilização de jornada, com o objetivo de evitar distorções e abusos por parte da patronal. www.sindpdsc.org.br BANCO DE HORAS Mas afinal, de onde veio o banco de horas? 8 O que o Banco de Horas tem haver com o seu Emprego? O Banco de Horas é justamente mais um atalho para os patrões superarem esse problema, contratando menos e economizando mais ainda. Ao invés de investirem mais no setor e garantir melhores salários, atraindo mais trabalhadores para a área, ou investir maciçamente em formação de mão de obra qualificada, eles preferem obrigar os atuais trabalhadores a aumentarem suas jornadas com os salá O setor hoje está muito rios rebaixados. aquecido e o crescimento constante Colocam o lucro acima do acarreta na escassez de mão de obra seu bem-estar e das suas condições qualificada, mantendo postos de de trabalho. Até quando vamos aturar trabalho com vagas constantes. isso tudo!? Dados do DIEESE demonstram que é possível gerar no mínimo 1 milhão de novos postos de trabalho, só nas principais cidades do país, caso as horas extras não fossem uma prática comum nas empresas. O banco de horas é apontado como uma das principais formas de impulsionar as horas extras. www.sindpdsc.org.br O Banco de Horas nasceu no Brasil como uma saída encontrada pelas empresas automobilísticas na década de 90 para ganhar muito dinheiro explorando mais os trabalhadores. O então Governo Collor, contando com a colaboração do sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista, que tinha como Presidente Luiz Marinho, que posteriormente veio a ser presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Ministro da Previdência e do Trabalho durante o Governo Lula, conseguiu impor o Banco de Horas aos metalúrgicos. generalizando para todos os outros setores da economia, inclusive o de Tecnologia da Informação e Comunicação. Até que em 1998 o Governo FHC, por meio da Lei 9.601/98, instituiu oficialmente o Banco de Horas. O Banco de Horas é parte da ofensiva neoliberal em curso no país, que não só ataca direitos trabalhistas, mas também privatiza e sucateia empresas e serviços públicos. Assim, o Estado fica mínimo para os trabalhadores com menos políticas e garantias As empresas automobilísticas sociais, ao mesmo tempo em que fica lucraram muito às custas de seus tra- máximo para os patrões defendendo balhadores e o Banco de Horas foi se a todo custo seus lucros. VEM MAIS ATAQUE POR AÍ... Atualmente se discute, sem o conhecimento dos trabalhadores, um anteprojeto de lei que cria o Acordo Coletivo Especial (ACE) que ameaça diminuir, ou até mesmo retirar direitos históricos dos trabalhadores, como o 13º salário e férias. O ACE foi proposto pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), em São Paulo, berço sindical de Lula e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), aqueles mesmos que defenderam a criação do Banco de Horas (!!!). Com o ACE sendo aprovado no Congresso Nacional, em situações “especiais”, os direitos trabalhistas estarão ameaçados. Assim, com o ACE, o patrão que alegar dificuldades financeiras BANCO DE HORAS 9 (uma “situação especial”) tem a possibilidade de parcelar seu 13° salário em várias vezes, fracionar para além de limites legais suas férias, rebaixar salários, aumentar jornadas de trabalho e diversos outros ataques, caso um Acordo Especial seja fechado entre empresa e sindicato. Hoje isso não é possível, um acordo desses seria anulado pela justiça do trabalho. Patrões e governos sempre jogaram no mesmo time contra os trabalhadores. Lamentável é ver agora sindicatos trocando de camisa e vestindo a do patrão. O BANCO DE HORAS NÃO É A SAÍDA! ENTÃO, QUAL É A SAÍDA PARA MELHORAR NOSSAS CONDIÇÕES DE TRABALHO? 10 Existe alternativa ao Banco de Horas para poder garantir os direitos, o salário, a saúde e o tempo livre do trabalhador. Por isso, defendemos as seguintes medidas: a) Redução da jornada de trabalho para que haja mais tempo livre e de estudo, garantindo também a participação nos lucros e produtividade do setor; b) Valorização salarial e contratação de mais trabalhadores, gerando empregos, quando as necessidades de produção aumentam; www.sindpdsc.org.br c) Abono das faltas por razões médicas, seja por parte do empregado ou acompanhamento e, que nenhuma dessas faltas seja lançada no famigerado Banco de Horas; d) Qualquer compensação de horas deve ser eventual, a critério do empregado e respeitando direitos trabalhistas e a saúde do BANCO DE HORAS 11 trabalhador. Inclusive, é plenamente possível a flexibilização de entrada e saída dos trabalhadores para que se possa entrar mais cedo e sair mais cedo ou entrar mais tarde e sair mais tarde, também a critério do empregado e respeitando-se os limites legais; e) cado com a chefia imediata, tenha sua ausência abonada. Em empresas como SERPRO e DATAPREV, da base do SINDPD/ SC, os trabalhadores já têm seis dias de abono durante o ano. É necessário a extensão e aperfeiçoamento dessa cláusula para toda a categoria; Um método de gestão aberto nas empresas e baseado no dia- f) Pelo fim de qualquer reforma logo, onde o trabalhador que te- que retire direitos trabalhistas, a nha uma necessidade de sair na exemplo da atual legislação do hora do trabalho, e sendo justifi- Banco de Horas e do ACE! LUTE POR SEUS DIREITOS Não é utópico exigir esses direitos. Lembre-se que nós construímos tudo com nosso trabalho e dedicação, e nada mais justo de que isso se reflita para nós em direitos, já que são plenamente possíveis de serem concretizados. Direitos não se restringem, direitos se ampliam! Uma publicação do Sindpd/SC Tiragem: 3000 cópias Projeto Gráfico e editoração Eletrônica: Marcio Furtado Produção Gráfica ([email protected]) Textos e Revisão: Sindpd/SC Revisão final: Natália Silveira de Medeiros Ilustrações: Luiz Mendez Florianópolis, 2012. www.sindpdsc.org.br www.sindpdsc.org.br