1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. DOCÊNCIA VIRTUAL EM EDUCAÇÃO MUSICAL: PARTICULARIDADES DOS SABERES E COMPETÊNCIAS DOCENTES Nome André Garcia Corrêa Orientador Prof. Dr. Daniel Mill Mestrado Linha de Pesquisa Formação de Professores e outros agentes educacionais, novas tecnologias e ambientes de aprendizagem Resumo A pesquisa tem como foco as particularidades dos saberes docentes e competências específicas de um professor de Educação Musical em EaD e suas adaptações pedagógicometodológicas para a modalidade. Pretende-se analisar o seu papel e suas responsabilidades na equipe docente responsável pelo processo de ensino-aprendizagem da EaD. Os objetivos específicos são: 1) Caracterizar o perfil do docente virtual de um curso de Licenciatura em Educação Musical a distância; 2) Comparar suas práticas virtuais com as do um curso de Licenciatura em Música presencial; 3) Identificar possíveis adequações pedagógicas para o ensino de música a distância; e 4) Analisar sua situação trabalhistal. A pesquisa tem caráter qualitativo. Os procedimentos metodológicos serão: a) Análise documental; b) Entrevistas semi-estruturadas; c) Dados coletados em campo; e d) Questionários. Os dados serão analisados com o referencial teórico de EaD, de formação de professores e EaD para Educação Musical. Palavras Chaves Saberes Docentes, Formação de Professores, Docência Virtual, Educação Musical, São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. INTRODUÇÃO O presente projeto tem como foco de estudo as particularidades dos saberes docentes e competências específicas de um professor da modalidade EaD em Educação Musical. Vários autores citados por Belloni (2009) dão diversas definições de Educação, Ensino e Aprendizagem a distância. Basicamente, essa compilação de diferentes definições fala de ensino sem a presença física do professor, com o uso de métodos que separam o processo de ensino do processo de aprendizagem ou métodos que permitem o processo de ensino-aprendizagem mesmo sem a comunicação cara a cara, educação por correspondência e através de outras mídias. As novas tecnologias de comunicação, que não param de se desenvolver e se aperfeiçoar, proporcionam novas ferramentas, viabilizando cada vez mais o processo de ensino-aprendizagem. Com essas novas tecnologias, viu-se surgir um novo ambiente de aprendizagem: os AVAs.1 Nesses ambientes os alunos interagem, mediados por um educador, utilizando de inúmeras e variadas ferramentas de comunicação a distância (vídeos, fóruns, chats, e-mail, material de áudio e escrito, etc) para o fim comum de construírem seu conhecimento. A principal vantagem destes ambientes são as maiores possibilidade de comunicação e interação proporcionadas pelas tecnologias midiáticas. Alunos em diferentes ambientes podem se comunicar como um grupo sem estarem restritos à sala de aula ou ao período de duração de uma aula. Não podemos simplesmente transpor as metodologias e técnicas empregadas na modalidade presencial para a nova modalidade a distância. Tampouco devemos creditar às novas tecnologias todo o êxito da modalidade. Um elemento deve estar presente quando relacionamos tecnologia e educação: a convicção que o uso de uma tecnologia, em situação de ensino-aprendizagem, deve ser acompanhado de uma reflexão sobre o conhecimento embutido no artefato tecnológico e em seu contexto de produção e utilização. (BELLONNI, 2009) A docência virtual implica que os professores incorporem novos saberes. Dentre eles, destacam-se o domínio das TIC2. O surgimento destas novas tecnologias São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. acrescentou variantes espaciais e temporais. Elas expandem o potencial de diversidade de meios e suportes para acrescentar um conceito já que uma imagem, uma música ou um filme, por exemplo, podem ser visualizados, manipulados, reproduzidos em contextos bem diferentes do contexto de origem. (CARVALHO, 2010) Fora o conhecimento sobre as TIC a docência virtual demanda a capacidade de trabalhar em equipe e gestão do tempo além das responsabilidades do professor de escolha do conteúdo específico da disciplina, as metodologias adotadas e o gerenciamento dos alunos. O acesso às informações chega a ser quase irrestrito, fazendo com que o docente tenha de assumir um papel de mediador e orientador dos discentes, desenvolvendo possibilidades de trabalho na construção do conhecimento. (OLIVEIRA; RIBEIRO; MILL, 2010) As diferentes modalidades acarretam que seus professores precisam ter diferentes abordagens nas suas práticas e diferentes estratégias metodológicas. As disciplinas de um curso em EaD precisam ser minuciosamente planejadas para atenderem às necessidades especificas desta modalidade. Ao compararmos as duas modalidades em relação aos papéis dos atores do processo de ensino-aprendizagem notamos que na educação presencial as responsabilidades e funções que seriam de um único docente são divididas entre uma equipe na modalidade a distância. A essa equipe dá-se o nome de polidocente. Mill (2010b) entende que esta equipe é um grupo de trabalhadores necessário para que se realizem as atividades de ensino-aprendizagem na educação a distância. Pode-se analisar uma disciplina em EaD dividindo-a em dois no momentos: no primeiro ocorre o seu planejamento, no segundo a sua oferta. (MILL, 2010a) Porém, na EaD, estas etapas se caracterizam de forma diferenciada: o que está a cargo de apenas um docente no modo presencial é dividido por uma equipe na EaD. O professor na modalidade a distância precisa trabalhar na criação da disciplina e sua oferta em conjunto com um grupo. Para entendermos melhor este processo, vamos à descrição feita por Mill (2010b) de alguns indivíduos que constituem a equipe da polidocência: São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. Professor-conteudista: É um especialista no conteúdo da disciplina e sua função é elaborar materiais didáticos em diversas mídias. É responsável pela elaboração dos conteúdos e por adequar metodologicamente os conceitos e atividades de aprendizagem. Quando acumula a função de aplicador da disciplina, geralmente é denominado professor-coordenador. Professor-formador: Seu papel consiste em acompanhar os alunos durante a aplicação da disciplina e gerenciar os tutores. Em determinadas situações, por motivos financeiros, gestores em EaD compram o conteúdo do professor-conteudista e o dispensam. Assim, nestas situações, não há um professor formador, ficando a formação por conta dos tutores. A importância de se ter este integrante na equipe é a presença de um especialista. Tutor virtual: Geralmente especialista na área da disciplina que trabalha. Deve acompanhar os alunos em seus estudos, orientando-os em suas dificuldades. Devido ao grande número de alunos que podem estar matriculados em uma mesma disciplina, o tutor auxiliam o professor-formador. Tutor presencial: Sua função é dar atendimento local ao aluno e auxiliam os docentes-formadores em atividades presenciais diversas. Projetista Educacional: É o responsável pela adequação dos conteúdos da disciplina às mídias adotadas nos cursos na modalidade a distância. Trabalha na organização da disciplina em conjunto com o professor. Tendo em vista esta equipe polidocente parcialmente descrita acima3, acreditamos que a docência virtual implica que os professores incorporem novos saberes. Dentre eles, destacam-se o domínio das tecnologias de informação e comunicação (TIC), capacidade de trabalhar em equipe e gestão do tempo. Entretanto, continuam sendo responsabilidades do professor a escolha do conteúdo específico da disciplina, as metodologias adotadas e o gerenciamento dos alunos. (OLIVEIRA; RIBEIRO; MILL, 2010) A percepção do que se entende por sala de aula em EaD muda, exigindo uma nova gestão de sala de aula virtual com diferentes possibilidades de interação: É certo que uma sala de aula virtual continua sendo uma sala de aula, pois sua composição básica mantém-se. Todavia, a gestão do conhecimento pelo professor para São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. uma aprendizagem efetiva exigirá saberes e estratégias pedagógicas distintas daquelas desenvolvidas e aplicadas pelos docentes da educação presencial. Como exemplo, destaca-se a aprendizagem de um diálogo intenso entre todos os participantes, destacando aqueles que compõem a docência coletiva (polidocência). (OLIVEIRA; RIBEIRO; MILL, 2010, 72) Delimitamos agora o objeto de pesquisa deste projeto: o professor virtual. Pretende-se pesquisar os saberes e especificidades docentes do professor que atua como conteudista - que desenvolve o e prepara todo o material a ser utilizado – e que também atua como professor formador, trabalhando na segunda fase, de oferta da disciplina coordenando a equipe de tutores. Por saberes docentes, entendemos que se compõem de vários saberes provenientes de várias fontes. São os saberes disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais. “Pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.” (TARDIF, 2002, 36) Outro referencial importante dentro de nossa concepção é o conceito de base de conhecimentos de Shulman. Mizukami (2004), ao falar sobre este conceito, o descreve como elementos para que o professor possa propiciar o processo de ensinoaprendizagem em diferentes áreas de conhecimento, níveis e modalidades. É composta por um corpo de compreensões, conhecimentos habilidades e disposições envolvendo conhecimentos de diferentes naturezas necessários para a atuação profissional. Não sendo imutável, implica uma construção contínua.4 Porém, a pesquisa não intenciona investigar ao docente virtual de maneira geral, mas sim o docente de uma área específica: a Educação Musical. Existem várias formas de educação musical a distância e, de uma maneira geral, podemos considerá-la “uma situação em que um aprendiz interage com materiais pedagógicos planejados por um professor, que na maior parte do tempo do estudo não se encontra face a face com o aluno.” (GOHN, 2009, 29) A Educação Musical acontece em diversos cenários, muitas vezes sob a informalidade de aulas particulares de instrumento. Também, o aumento de recursos São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. tecnológicos tem afetado profundamente a maneira como as pessoas fazem e estudam música. Gohn (2009) trata da Educação Musical a distância, categorizando-a em três diferentes cenários: Aprendizagens autodirigidas, híbridas ou reguladas por cursos programados. Autodirigidas são quando o aprendiz direciona sua atenção e faz reflexões sobre os variados tipos de conhecimento musical. Como uma performance em vídeo, que pode ser assistida repetidas vezes, para que o aluno possa desenvolver a técnica instrumental. As aprendizagens híbridas acontecem quando o aluno de professor particular, tendo aulas regulares de instrumentos musicais, procura complementar seus estudos com pesquisas online ou materiais em vídeo. Nos cursos presenciais formais, acontece quando busca interações a distância fora dos horários de encontro em salas de aula. Neste sentido, o autor aponta que, devido ao atual contexto tecnológico, todo processo educacional em Educação Musical presencial envolve aprendizagens híbridas. O terceiro caso é aquele de cursos especificamente formatados para acontecerem a distância, com conteúdos preparados por docentes especialistas e sob a supervisão de tutores, que podem prestar auxílio através de TICs. Interessa-nos justamente este cenário de Educação Musical a distância, onde o educador musical encontra-se em um curso a distância com uma equipe nos moldes da polidocência. Portanto, o foco desta investigação é analisar quais os saberes docentes específicos do educador musical de um curso a distância enquanto mediador da construção de conhecimentos musicais de seus alunos e em cooperação com os demais atores da equipe polidocente. OBJETIVO GERAL Analisar as particularidades dos saberes docentes e competências específicas de um professor da modalidade EaD em Educação Musical. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1.Caracterizar o perfil do docente virtual do curso de Licenciatura em Educação Musical UAB-UFSCar São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. 2.Comparar a prática dos docentes do curso de Educação Musical a distância UAB-UFSCar com suas práticas no curso de Licenciatura em Música presencial da UFSCar. 3.Identificar possíveis adequações pedagógicas e/ou estratégias metodológicas, no âmbito da Educação Musical, desenvolvidas para as diferentes modalidades. 4.Analisar a situação trabalhista do docente virtual de Educação Musical e se uma suposta precarização do seu trabalho pode afetar suas práticas pedagógicas. QUESTÃO DE PESQUISA Quais são as especificidades no que se refere aos saberes docentes, competências e adequações pedagógicas encontradas em um professor de Educação Musical a distância? METODOLOGIA A presente pesquisa se caracteriza como qualitativa. Entendemos aqui por pesquisa qualitativa a investigação rica em descrição do fenômeno a ser investigado, seus sujeitos e os significados que estes atribuem ao fenômeno e o contexto onde estão inseridos. Dentre as diferentes formas de pesquisa qualitativa, consideramos a mais adequada para a esta investigação a abordagem chamada de Indução Analítica. Um método que tem como foco da pesquisa uma questão específica. Após, o levantamento desta questão, procede-se à recolha e à análise dos dados de forma a criar-se um modelo descritivo que englobe todas as instâncias do fenômeno investigado. É usado largamente em entrevistas abertas, bem como observação participante e na análise documental. (BIKLEN; BOGDAN, 1994) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS • Análise Documental ◦ Projetos Pedagógicos dos cursos de Licenciatura em Música – UFSCar – e Licencitatura em Educação Musical UAB-UFSCar. ◦ Legislação e políticas públicas em EaD São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. ◦ Materiais didáticos, ferramentas tecnológicas e AVAs específicos para Educação Musical a distância. • Coleta de Dados ◦ Entrevistas com professores de ambos os cursos. ◦ Coleta de dados em campo – registro de aulas presenciais e das atividades em ambientes virtuais de disciplinas equivalentes dos dois cursos. Estas disciplinas devem ser de conteúdo prioritariamente musical e com ementas semelhantes. O intuito destes registros é tentar delimitar as adaptações metodológicas devido à diferença de modalidades. ◦ Questionários – Fornecerão dados relativos aos perfis dos profissionais sujeitos do estudo. Consta com questões que pretendem levantar dados específicos referentes a todos os objetivos específicos do projeto Resultados Esperados A análise dos dados, embasada nos referencias teóricos, visa atender o objetivo geral do projeto além de responder à questão de pesquisa apomtando as particularidades dos saberes docentes e competências específicas de um professor da modalidade EaD em Educação Musical . REFERÊNCIAS BELLONNI, M. L. Educação a Distância. 5ª ed. Campinas: Autores Associados, 2009. 115 p. BIKLEN, S. K.; BOGDAN, R. C. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto. 1994. 336 p. CARVALHO, I. A. Potencialidades e limites de uma disciplina do curso de Educação Musical a distância na UFSCar. Tese (Doutorado em Educação) São Carlos: UFSCar, 2010. 213 p. GOHN, D. M. Educação Musical a Distância: Propostas para o Ensino e Aprendizagem de Percussão. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2009. MILL, D. Elementos básicos para contratos de trabalho docente na educação a distância: reflexões sobre a tutoria como profissão. Revista Extra-Classe: Revista de Trabalho e Educação do SINPRO-MG, v.1, n.3, p.14-41, 2010a. MILL, D. Sobre o Conceito de Polidocência ou Sobre a Natureza do Processo de Trabalho Pedagógico na Educação a Distância. In: MILL, D.; RIBEIRO, L. R. C.; OLIVEIRA, M.R.G. São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011 1 III Seminário de Dissertações e Teses do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. (Orgs.). Polidocência na Educação a Distância: múltiplos enfoques. São Carlos: EdUFSCar, p.23-40, 2010b. MIZUKAMI, M.G. N. Aprendizagem da Docência: algumas contribuições de L. S. Shulman. Revista Educação, Santa Maria, v. 29, n. 2, 2004. Disponível em: http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2004/02/a3.htm Acesso em: 04/10/2011 OLIVEIRA, M. R. G.; MILL, D.; RIBEIRO, L. R. C. A Gestão da Sala de Aula Virtual e os Novos Saberes para a Docência na Modalidade de Educação a Distância. In: Mill, D.; RIBEIRO, L. R. C.; OLIVEIRA, M. R. G. (Org.) Polidocência na Educação a Distância: Múltiplos Enfoques. São Carlos: EdUFScar, 2010. p. 59-74 TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 325 p. São Carlos 29, 30 de novembro e 01 de dezembro de 2011