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Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press
• Brasília, quinta-feira, 25 de novembro de 2010 • CORREIO BRAZILIENSE
SÉRIE B
Lesão virou
motivo de
palestra
Da esquerda para direita a babá Cris,
a mulher Tatiana, a filha Giovanna,
Adrianinho e o filho Mário Victor
Responsável por comandar o
processo cirúrgico de Adrianinho,
o médico do Brasiliense, Paulo Lobo não só o colocou em condições
de voltar aos gramados como também pôde expor ao Brasil inteiro o
procedimento não muito comum
no mundo do futebol. As vésperas
da apresentação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo da
África do Sul, o doutor do Jacaré,
especialista em ortopedia, se reuniu com os principais médicos do
país num congresso realizado no
CT do Atlético-PR, em Curitiba. “O
caso do Adrianinho é emblemático. Foram quatro lesões no joelho.
A principal delas foi a fratura arrancamento da cartilagem do côndilo medial do fêmur. Essa é a que
demora mais para recuperar, são
nove a 12 meses”, contou Paulo
Lobo. Enquanto o médico do Jacaré apresentou o problema de
Adrianinho, o da Seleção Brasileira, José Luiz Runco, mostrou um
caso de lesão muscular e outros
apresentaram casos distintos.
Líder da equipe que operou o jogador, Paulo Lobo destacou toda a
dedicação de Adrianinho no processo de recuperação. “Foi uma vitória
muito grande, um momento que
não tem preço. Ele sempre foi muito
aplicado em todas as fases de recuperação. Foi uma equipe inteira responsável por isso e graças a Deus
deu tudo muito certo. Eu também
chorei com o gol dele”, confessa Paulo Lobo, que deixou o campo após o
duelo com a Ponte Preta abraçado
com o anjo loiro do Serejão.
Um sorriso
que andava
escondido
Recuperado de quatro lesões no joelho, Adrianinho recebe
o Correio em seu apartamento e conta com detalhes o
sofrimento que passou. Após gol salvador, pensamento
agora é só em tirar o Jacaré da zona de rebaixamento
» ROBERTO WAGNER
ESPECIAL PARA O CORREIO
gol marcado aos 44 minutos do segundo tempo,
que selou a vitória do Brasiliense sobre a Ponte Preta por 2 x 1, no último sábado, pode ter sido o ponto final da recuperação do meia Adrianinho iniciada há nada menos que um ano
e três meses. Porém, com certeza,
não foi o último ato do jogador
nos campos de futebol. Aos 30
anos, Adriano Manfred Laaber, o
anjo loiro do Serejão, carrega nas
veias o sangue austríaco. Duro na
queda, frio, e persistente, ele venceu uma luta particular ao recuperar-se de uma lesão não muito
comum (veja arte) diante do clube que o revelou em 1998 e agora
deseja ajudar o Jacaré a superar o
desafio contra o rebaixamento —
sábado, às 17h, o time de Taguatinga entra em campo pela última
vez na Série B de 2010 e precisa de
uma combinação de resultados
para escapar do descenso.
Ainda emocionado com o desfecho da luta iniciada em 1º de
agosto de 2009, Adrianinho abriu
as portas de seu aparatamento e,
junto da família, a quem atribui
ter tirado forças para superar a dor
das quatro lesões sofridas no joelho, foi enfático ao contar ao Correio o principal objetivo daqui para frente. “Meu interesse maior era
em voltar a jogar futebol. Agora
O
que voltei, quero ajudar o Brasiliense a não cair. É nisso que penso e é isso que vou tentar fazer em
campo”, garante o meia. As seguras palavras de Adrianinho ao projetar o próximo confronto (sábado, às 17h, contra o América-RN)
contrastram com tamanho o sofrimento passado por ele. “Eu treinava me arrastando, mas não parava. Sentia muito dor no joelho,
muita mesmo. Mas como os médicos diziam que era normal, eu
forçava até não aguentar. Treinei
muitas vezes chorando por dentro”, conta o anjo loiro do Jacaré,
que logo foi interrompido pela esposa Tatiana. “Na verdade, todo
dia ele chegava triste em casa, mas
ele não chora. Um dos piores dias
para mim foi quando o vi correndo em volta do gramado sozinho
naquele Serejão vazio”, recorda.
A rotina de treinos em separado, com dores, e sem perspectiva
de retorno ao gramado, aos poucos minavam a esperança do jogador de voltar a atuar. “Eu fiquei
muito treinando assim, mas
quando eu vi que o quadro não
estava evoluindo pensei que nunca mais não poderia mais jogar.
Foi então que liguei par ao doutor
Paulo Lobo e fui ao escritório dele. Fiquei lá até umas 23h, quando
ele deixou uma cirurgia e me atendeu”, revelou o meia. Durante a
conversa com o médico do Brasiliense, Adrianinho contou com
todos os detalhes as dores que
ainda sentia no joelho direito.
Amparado pela mulher que disse
à Paulo Lobo que “se as dores que
o ele sentia fossem normais ele
não jogaria mais futebol”, o meia
recebeu uma esperança imediata.
“Na hora que ele começou a me
examinar vi que estava tenso. Depois de um tempo de avaliação
ele deu um suspiro forte, de alívio.
Aquilo me deu muita esperança”,
revela Adrianinho. Ali, há pouco
mais de dois meses, o problema
da última dor sentida pelo atleta
foi decifrada. “Ele estava com um
problema fora do joelho. Na parte
cirúrgica estava tudo resolvido,
então fizemos um trabalho específico para tirar essa dor”, explica
o doutor Paulo Lobo.
Uma infiltração foi o suficiente
para Adrianinho voltar a correr
sem mancar e, principalmente,
sem sentir dor. Não demorou muito e ele conquistou a confiança de
Andrade, que o relacionou para o
jogo diante da Portuguesa, e diante da Ponte Preta o colocou em
campo nos minutos iniciais do segundo tempo — o suficiente para
ele fazer o gol da vitória. “Aquele
foi um momento mágico. Foi a
mão de Deus, se combinasse, chamassem um diretor de cinema,
não seria daquele jeito. Quando
entrei em campo já estava chorando, poucos viram isso. Em campo,
tentei me concentrar e graças a
Deus consegui fazer o gol”, lembrou o meia.
Receio dos treinadores
Liberado pelos médicos para treinar com os preparadores físicos, mas nunca relacionado para as
partidas, um dos motivos que levou Adrianinho a dar um ultimato ao doutor Paulo Lobo foi a
insegurança dos treinadores em escalá-lo. “Eu ficava ali treinando, mas ninguém me relacionava. O
Roberval Davino tinha me chamado uma vez, mas acho que foi para me animar. Só agora com o
Andrade foi que tive oportunidade”, conta o jogador.
Quem é ele
Eu treinava me
arrastando, mas não
parava. Sentia muito
dor no joelho, muita
mesmo. Mas como os
médicos diziam que era
normal, eu forçava até
não aguentar. Treinei
muitas vezes chorando
por dentro”
Adrianinho, meia do Brasiliense
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DIAS
Tempo em que Adrianinho ficou
parado recuperando-se da lesão
Nome: Adriano Manfred Laaber
Apelido: Adrianinho
Posição: meia
Data de Nascimento: 11 de Julho de 1980
Local: Jundiaí (SP)
Embarque cheio de confiança
» Embora não dependa das próprias forças, o Brasiliense acredita muito na
salvação nesta Série B. Em 17º, com 43 pontos, o Jacaré precisa da vitória
diante do América-RN, no sábado, e contar com um tropeço de
Guaratinguetá ou Vila Nova, para poder continuar na Segundona do ano
que vem. Hoje, o time embarca para Natal, onde fica os próximos dois
dias para tentar se manter na competição em 2011.
Força vem da família e dos amigos
A cada treino isolado no Serejão, a cada dia de trabalho suado, e
a cada momento de sofrimento
interno, Adrianinho repensava
quanto ao futuro como jogador de
futebol. Se logo quando marcou o
gol da vitória no jogo contra a
Ponte Preta, que deu sobrevida ao
Jacaré na luta contra o rebaixamento, o meia revelou que tinha
pensado parar de jogar, ontem, a
mulher Tatiana ajudou a esclarecer ainda mais a ocasião. “Naquele momento ali ele chegou a ter
vergonha de ir para o treino porque o pessoal ficava perguntando
quando ia voltar e ele não sabia
responder. Ele ficou mais triste
quando estava de muleta e as
crianças diziam que a casa só voltaria ao normal quando ele as tirasse”, conta Tatiana.
A tristeza só não tomou conta
de Adrianinho porque, de acordo
com ele, os amigos e a família não
o deixaram ficar sozinho. “Eles enxergaram muito a minha dificuldade. O Ricardinho (ex-jogador do
Brasiliense) vivia aqui em casa.
Muitos me davam força. Quando
fiz o gol, meu celular encheu de
mensagem. O Coquinho, Iranildo,
Rafael Toledo, Padovani… O Toledo disse que chorou na casa dele.
O Guto, o Bebeto e o Ruy me ligaram logo quando cheguei em casa.
O Ruy falou assim: ‘minha esposa
não tem ciúmes. Eu te amo’”, contou o agora sorridente Adrianinho.
No contato com jogador em
seu apartamento ficou evidente
que apoio dos familiares foi a principal fonte de engeria do jogador
na recuperação. Enquanto recordava o drama que passou, a filhinha Giovanna, de 4 anos, encheu
o pai de orgulho com um pulo no
colo e posteriormente a declara-
ção. “A gente aqui em casa torce
pelo papai.” Encantado com a filha caçula, Adrianinho revelou
uma oração feita por ela durante o
período de recuperação. “Eu combinei com ela de fazer uma oração
e ela veio com ‘papai do céu, proteja meu pai para que ele não machuque o outro joelho”, derramou-se o meia. (R.W.)
Na verdade, todo
dia ele chegava
triste em casa, mas
ele não chora. Um
dos piores dias
para mim foi
quando o vi
correndo em volta
do gramado
sozinho naquele
Serejão vazio”
Tatiana, mulher de Adrianinho
Cobrança de filha
O gol da vitória sobre a Ponte
Preta não foi o suficiente para
Adrianinho satisfazer a filhinha de
4 anos. Isso porque Giovanna tinha pedido ao pai que, caso fizesse um gol, mostrassem um coração com as mãos. Diante da reportagem, ela não perdoou. “Ele
esqueceu de fazer. Tinha que fazer
mesmo se fosse para a televisão”,
cobrou a caçula.
Fala, Paulo Lobo
“Foi uma vitória muito grande,
um momento que não tem
preço. Ele sempre foi muito
aplicado em todas as fases de
recuperação. Foi uma equipe
inteira responsável por isso e
graças a Deus deu tudo muito
certo. Eu também chorei com o
gol dele.”
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Força vem da família e dos amigos