valeparaibano | DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2009
Alex Brito
Em Foco
primeiro caderno
3
ÁREA VERDE
Vista aérea do Parque Santos Dumont,
uma das principais áreas
verdes localizadÍas na
região central de São José
Meio Ambiente
Inpe estuda poluição atmosférica no Vale
Instituto e a USP vão monitorar a qualidade do ar e avaliar os efeitos na saúde de 1 milhão de habitantes
Divulgação
São José dos Campos
Estudo revela
danos graves
à população
São José dos Campos
A poluição do ar causada pelo
trânsito e pelas indústrias pode
provocar efeitos no sistema circulatório, reprodutivo e também
causar doenças cardíacas, segundo pesquisa feita pelo Departamento de Poluição Atmosférica
do Departamento de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo).
A equipe constatou que os
efeitos da poluição se assemelham ao do cigarro, só que em
uma proporção menor, mas
constante. “O que sai dos escapamentos do carro entram direto
pelas vias respiratórias e interferem na saúde”, disse o pesquisador Paulo Saldiva.
Segundo ele, a poluição do ar
também pode provocar reações inflamatórias nas vias respiratórias e
nos bronquios —os danos mais comuns em crianças e idosos.
Também pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica
da USP, o médico Luiz Alberto
Amador Pereira, diz que estudos
já realizados em São Paulo mostram que as partículas poluidoras
produzidas pelos escapamentos
são as mais comuns nos organismos dos paulistanos. Minúsculas, podem entrar nas menores
vias respiratórias e estimular
problemas cardiovasculares.
O Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) de São José
dos Campos e o Departamento
de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) vão estudar os
efeitos da poluição atmosférica
na saúde de mais de 1 milhão de
moradores da região.
Para isso, será criada uma rede
de monitoramento da qualidade
do ar por meio da instalação de
cinco estações de medição da poluição em quatro cidades —São
José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá e Cachoeira Paulista.
Plantas também serão utilizadas para medir a quantidade de
ozônio e de material particulado
presente no ar da região. A instalação da rede deve ser realizada a
partir de julho e irá consumir R$
500 mil em investimentos.
Responsável pelo projeto, o
professor Paulo Saldiva da Faculdade de Medicina da USP disse que os dados serão coletados
por um período de dois anos e
depois cruzados com dados sobre saúde para analisar de que
forma a poluição interfere na saúde dos moradores da região.
O estudo, patrocinado pelo
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), também será realizado
em Belém do Pará, Belo Horizon-
te, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ao todo, serão investidos R$ 9 milhões no programa.
Segundo Saldiva, o Vale do Paraíba foi escolhida para o estudo
em razão de ser uma região de
grandes contrastes, com áreas
paradisíacas e outras de grande
concentração de poluente.
“É um laboratório natural em
razão de sua forte industrialização e do intenso tráfego de veículos que cortam duas grandes rodovias, a via Dutra e a Carvalho
Pinto. Além disso, o sistema de
avaliação da poluição é muito
precário, com apenas uma estação de medição”, disse.
ESTAÇÕES - As estações irão funcionar como filtros. Por meio deles será possível identificar a presença e a proporção de metais pesados e gases tóxicos. “A maior
poluição sai dos escapamentos de
carro, no entanto, a região do
Vale, com sua forte produção industrial, tem mais um fator poluente a ser estudado”, afirmou.
Saldiva disse que, para obter
resultados mais completos, vai
combinar técnicas de biomonitoramento, usando plantas com
equipamentos mecânicos de medição. “Por meio das plantas poderemos ter uma dimensão
maior de pesquisa. Sem contar,
que o custo é menor.”
Os dados serão coletados dia-
riamente e irão servir de base
para políticas públicas de redução na emissão de poluentes. “O
objetivo é fornecer informações
sobre quem está produzindo a
poluição, qual é a dose e quais
são os efeitos”, disse.
PARCERIA -Em São José, a pesquisadora do Inpe Maria Paulete Pereira
Martins atua no monitoramento da
qualidade do ar desde 2005. Segundo ela, por meio da parceria com a
Faculdade de Medicina da USP
será possível quantificar melhor a
qualidade do ar na região.
“São José tem apenas uma estação de monitoramento da qualidade do ar, instalada em 2000 e que
mede ozônio, material particulado
e dióxido de enxofre. A qualidade
do ar é considerada boa pela Cetesb, mas as ultrapassagens de padrão de ozônio são freqüentes.”
Segundo ela, São José está
crescendo, tem muitas indústrias,
muitos carros e uma indústria petroquímica dentro de sua área urbana. “É difícil ter um ar de boa
qualidade nessa situação.”
Os equipamentos de monitoramento serão instalados em universidades e institutos. Em São José,
haverá dois pontos —um no Inpe e
outro no distrito de São Francisco
Xavier. Em Taubaté e Guará, os
equipamentos serão instalados em
universidades e, em Cachoeira
Paulista, no Cptec.
‘
O Vale do Paraíba é
um laboratório
natural em razão
de sua forte
industrialização
e do intenso tráfego
de veículos que
cortam duas grandes
rodovias, a via
Dutra e a Carvalho
Pinto
Do professor Paulo Saldiva, da
Faculdade de Medicina da USP
PESQUISA
O professor Paulo Saldiva, que
é responsável pelo projeto pela
Faculdade de Medicina da USP
São José está
crescendo, tem
muitas indústrias,
muitos carros
e uma indústria
petroquímica
dentro de sua área
urbana. É difícil ter
um ar de boa
qualidade nessa
situação
Da pesquisadora do Inpe,
Maria Paulete Pereira Martins
‘
Beatriz Rosa
Flávio Pereira
ESTUDOS - “Estudamos o número
de internações e os associamos
às áreas de concentração de poluentes para estudar os efeitos
no sistema circulatório, pulmão e
no modelo reprodutivo”, disse.
Segundo ele, o ser humano é a
porta de entrada da poluição. “E
em razão disso pode sofrer com a
inflamação dos bronquios, a viscosidade sanguínea e com doenças cardiovasculares.”
Pereira disse que entre os sintomas mais comuns estão a alteração do ritmo cardíaco. Já nas
gestantes o efeito interfere na
oxigenação dos fetos e pode fazer bebês perderem peso. Segundo ele, é preciso identificar qual
o DNA da poluição, para agir em
favor da saúde da população.
BIOMONITORAMENTO - Também
pesquisadora do instituto, Regiani Carvalho de Oliveira irá coordenadar o biomonitoramento na
região. Segundo ela, além de avaliar a qualidade do ar, o trabalho
também pretende atuar na área
da educação ambiental. Para
isso, será retomado o trabalho
com plantas biomonitoradoras.
Região sul tem maior incidência
São José dos Campos
Pesquisadores da Univap (Universidade do Vale do Paraíba) mapearam a incidência de doenças
respiratórias em bairros de São
José. A pesquisa apontou que a região sul possui a maior incidência
de casos de doenças respiratórias
em crianças de 0 a 4 anos.
Região com maior densidade
populacional —cerca de 200
mil—, a zona sul abriga os dois
bairros mais afetados por doenças respiratórias na cidade: Campo dos Alemães e Conjunto Residencial Dom Pedro.
A região norte também aparece com índices elevados de incidência de doenças respiratórias,
levando-se em conta a proporção
da ocorrência de doenças per capita. Lá, são os idosos que registram o maior número de casos.
Para mapear a incidência de
doenças, os pesquisadores Viviana Lima, Jojhy Sakuragi e Ana
Catarina Farah Perrella da Univap coletaram dados da Secretaria Municipal de Saúde sobre
atendimentos por doenças respiratórias de crianças entre 0 e 4
anos nas UBSs (Unidade Básica
de Saúde) e no Hospital Municipal entre 1998 e 2005.
Os dados foram tabulados e
confrontados com informações
meteorológicas captadas pelos
pesquisadores. A meta era traçar
um paralelo entre a ocorrência
de doenças respiratórias e a influência do clima em São José.
Os estudos, divulgados no início
do ano, apontaram que a direção
dos ventos muda conforme a época do ano e influencia na distribuição e dispersão dos poluentes presentes no ar. São José, por ser uma
cidade industrializada e cortada
pela via Dutra, recebe uma alta carga de poluentes diariamente.
Para piorar a situação, a topografia acidentada típica do Vale do
Paraíba, que forma uma grande bacia, dificulta a dispersão desses poluentes na atmosfera. Devido a esses fatores, nos meses mais secos,
aumenta a ocorrência de casos de
doenças respiratórias.
INCIDÊNCIA - O levantamento revelou que em oito anos de estudo, foram atendidas 10.414 crianças por
problemas respiratórios em São
José. O maior número ocorreu em
pacientes da região sul, com 2.070
casos, com predomínio no Campo
dos Alemães e Conjunto Residencial Dom Pedro. Em seguida, aparecem 1.258 casos registrados na
região leste. Na zona norte, foram
cadastrados 627.
IMPACTO
Ônibus passa pela avenida São
José, no centro da cidade;
escapamentos dos veículo é
responsável pela maior poluição
Prefeitura vai criar
rede de monitoramento
O secretário de Meio Ambiente de
São José, André Miragaia, apoiou a
criação das estações de medições e
disse que o município também dará
sua contribuição para o monitoramento da poluição do ar. Segundo o
secretário, por meio do inventário de
fontes poluentes, será possível diagnosticar as taxas de poluição para
que o município possa cobrar contrapartidas ambientais dos responsáveis. Miragaia disse ainda que a cidade também pretende criar uma rede
de monitoramento por meio a implantação de cinco estações em 2010.
Os investimentos devem chegar a R$
3 milhões. “A ideia é que a rede de São
José se some ao projeto do Inpe em
parceria com a USP.”
Download

Inpe estuda poluição atmosférica no Vale - Inaira