3. Conceitos, termos e autores Um [dos meus sonhos] consistia em arranjar a cópia de uma chave da Secção Infantil da Biblioteca Nacional, entrar sub-repticiamente e passar um fim de semana sem mais companhia para além dos livros [...]. Sonhava que todos aqueles livros aprisionados queriam falar, que esperavam o interlocutor certo e que esse era eu. Sonhava que os livros me falavam na sua linguagem silenciosa… Luis Sepúlveda, O Poder dos Sonhos, ASA, 2006 II11GP_F05 II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 65 2/24/14 8:57 AM 66 Ideias & Imagens | Guia do Professor Acrílico (técnica) All Over (técnica) Processo de pintura usado por certos artistas abstratos (como os da Action Painting e de outros informalismos) em que o suporte se encontra igualmente preenchido de tintas-formas, não se distinguindo qualquer foco central ou área dominante. Alla Prima (termo técnico) Numa tradução, à letra, significa “à primeira”. Designa um método de pintura que se concretiza com uma única camada de pigmento sobre uma superfície/fundo branco, sem sobreposições nem retoques. Antefixo (à letra, “o que é colocado na frente”) Termo usado em arquitetura para designar o elemento estrutural e ornamental que é colocado no final da fieira de telhas das águas de um telhado para proteção face ao risco de deslizamento. O elemento é de origem greco-romana, mas foi muito usado na arquitetura do Neoclassicismo e do estilo Regência, e ainda no mobiliário Estilo Império. Antiarte (conceito) Designa os objetos realizados por artistas e com intenção artística, que, não obstante, parecem contrariar e desafiar todos os conceitos e pressupostos até aí definidores de “arte”. O termo foi usado pela primeira vez por Marcel Duchamp, durante a sua adesão ao Movimento Dada, corrente que, numa atitude provocatória e inovadora, dizia que toda a verdadeira arte era antiarte. Exemplo de um objeto antiarte é a Mona Lisa com Bigode de Marcel Duchamp. Antunes, João (1643-1712) Foi um dos mais importantes arquitetos do Barroco português, tendo exercido os cargos de arquiteto-mor das Ordens Militares (desde 1697) e de arquiteto real, desde 1699. Discípulo de Filipe Terzi, foi também autor da Igreja do Bom Jesus de Barcelos (1701-05), da Igreja de Santiago, em Alcácer do Sal (1700), dos palácios da Bemposta e do Conde de Tarouca, na Cotovia (em 1701 e 1698, respetivamente). II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 66 Importante mostra internacional de arte realizada em Nova Iorque, entre 17 de fevereiro e 15 de março de 1913, no 69.º Regimento Armory. Esta exposição foi responsável pela divulgação na América de todas as vanguardas artísticas da Arte europeia da época, com exceção do Expressionismo alemão e do Futurismo italiano que não estiveram representados. II11GP © Porto Editora Nome que se atribui às tintas que utilizam como medium (aglutinador) um produto sintético à base de resina. A pintura a acrílico seca muito mais rapidamente, exigindo uma técnica própria. A partir de meados do século XX começou a substituir o óleo e é, hoje, um dos processos mais utilizados pelos pintores. Armory Show Arte Autre (termo/conceito) Expressão usada pelo teórico e crítico de arte Michel Tapié (1909-1987), em 1952, numa obra com o mesmo nome, para designar a arte produzida pelo artista alemão Alfred Wolfgang Schulze ou Wols (1913-1951) e pelo francês Jean Fautrier (1898-1964), após a 2.ª Grande Guerra. A arte abstrata criada por estes artistas parecia opor-se por completo a todos os tipos de arte até aí conhecidos – era “uma outra arte”, de outro cariz. Sendo estas expressões artísticas de raiz informalista, o termo Arte Autre tem também sido usado para referenciar a arte informalista europeia, com o mesmo significado de Abstração Lírica. Arte Degenerada (do alemão “entartete Kunst”) Nome provocatório dado pelos nazis a uma célebre exposição de arte de vanguarda, realizada em Munique em 1937, onde a tendência dominante foi a expressionista. As obras foram expostas de modo caótico e com letreiros que ridicularizavam os seus temas e conteúdos, bem como os seus autores. Arte pela Arte (conceito) Expressão utilizada para referir a arte que é produzida apenas com intencionalidade plástica e estética, desligada de intuitos morais, doutrinais ou sociais. Foi usada pela primeira vez por Charles Baudelaire e pelo crítico e ensaísta francês Théophile Gautier (1811-1872), referenciando a sua própria arte. O conceito foi amplamente utilizado e difundido pelo Esteticismo inglês (Aesthetic Movement). Assemblage (técnica/conceito) A palavra significa, numa tradução à letra, ato de reunir, juntar. Especificamente, designa um método de criação de obras de arte, na pintura e na escultura, pela junção de objetos bi e tridimensionais sobre uma superfície ou em composição independente, intervindo ou não sobre eles com tinta ou outros meios. Esta técnica ou processo deriva da colagem iniciada pelos cubistas na passagem da fase analítica para a hermética e foi, depois, continuada pelos Dadaístas e Neodadaístas. 2/19/14 3:31 PM 67 II11GP © Porto Editora 3. Conceitos, termos e autores Azulejo A palavra azulejo é um vocábulo de origem árabe (zulej – que define uma superfície polida), aparecido em Portugal a partir do final do século XV. Como revestimento foi, também, conhecido desde essa data e possuiu grande importância, sobretudo nos séculos XVII e XVIII, sentindo-se a sua influência até aos nossos dias. Foi nas centúrias de 1600 e 1700 que o azulejo cobriu grandes superfícies parietais, convertendo os espaços em verdadeiros panos cenográficos. Primeiramente, foi utilizado como revestimento enriquecendo as igrejas mais antigas e mais pobres, em cujos programas construtivos a decoração pictórica e/ou escultórica não tinha sido contemplada. Mais tarde, o seu emprego foi alargado a igrejas mais complexas, em particular as de planta centrada, sentindo-se nelas o programa decorativo imposto pela Contrarreforma que, segundo o Dicionário da Arte Barroca em Portugal, “pensava o corpo da arquitetura como uma alegoria católica do próprio corpo de Cristo: um corpo desprezível (o exterior das igrejas reduzido à mera funcionalidade de muros separadores) suportando a riqueza interior da alma (o espaço interior repleto de azulejos, combinados ou não com a talha, a pintura, a escultura, visando a obtenção da obra de arte total)”. No Barroco, este tipo de revestimento foi alargado aos espaços profanos, às construções palacianas interiores e exteriores (jardins) onde a temática foi laica – temas dicotómicos (Sol/Lua, Bem/Mal, Noite/Dia), do tempo (estações do ano, meses), do mundo (as quatro partidas), do Universo (planetas), de tradição clássica e mitológicas – ao contrário da das igrejas, dominantemente religiosas, com temas como os do Antigo e do Novo Testamentos, da vida da Virgem e dos santos, dos quatro evangelistas, das virtudes, etc. O azulejo teve neste tempo três funções básicas: – uma meramente decorativa – destinou-se a dinamizar os espaços por meio de uma repetição (padronagem), quando era não figurativo; – outra simultaneamente decorativa e narrativa – serviu para ampliar os espaços em cenas perspetivadas em trompe-l’œil; – finalmente, uma terceira, comum às duas anteriores, a apelativa, que se destinou a seduzir o espectador, dominando-o e convencendo-o pelos efeitos ilusionísticos do cromatismo e da luminosidade que imprimia aos ambientes. II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 67 No século XVII, o azulejo teve, em Portugal, as propostas mais originais afirmando a vitalidade da arte portuguesa e superando, em quantidade e qualidade, a pintura mural. Os azulejos deste período possuíram um cromatismo extremamente rico, constituído, na sua maioria, por amarelos, azuis, castanhos-alaranjados, verdes-azeitona e castanhos-arroxeados, aos quais foram acrescentados, nos finais de Seiscentos, os verdes mais avermelhados. Ainda no final deste século, prolongando-se pelo século seguinte, deram-se mudanças radicais quer na temática quer no colorido do azulejo. Para essas mudanças contribuíram os novos programas estéticos trazidos pela importação de azulejaria holandesa, que era de melhor qualidade, onde dominavam as cores azul e branca, que passaram a constituir a expressão cromática exclusiva. Só mais tarde, no tempo do Marquês de Pombal, o azulejo retomaria a policromia que caracterizará a produção tipicamente portuguesa. Os especialistas – Santos Simões e José Meco – classificaram a azulejaria do século XVIII em três etapas de desenvolvimento, assim balizadas: 1.a – Grande Pintura (1700-1725), na qual apareceram várias personalidades criadoras. Deste tempo são exemplo as obras de S. Vítor de Braga, a Sé de Faro e a matriz do Sardoal (1703)… 2.a – Grande produção (1725-1755), na qual se desenvolveram as potencialidades cénicas do azulejo, na composição (bocas de cena, narrativas, enquadramentos arquitetónicos…), atingindogranderiquezaediversidadeeconvertendo-se num verdadeiro espectáculo. Exemplo desta produção são os azulejos de S. Vicente de Fora. 3.a – Azulejaria rococó (desde cerca de 1735 até ao final do século, no qual está incluído o tempo pombalino), retoma a policromia, com predominância do amarelo-suave que coexiste com as formas barrocas. Tal como na pintura, este período é rico na representação de cenas galantes e nos motivos de inspiração naturalista: aves, grinaldas, conchas, etc. Desta fase destaca-se a produção de fábricas nacionais, como a Real Fábrica de Faianças do Rato, em Lisboa, e as fábricas de Coimbra, do Porto e de Alcobaça. Barroquismo (conceito) Ato de complicar as formas e os elementos decorativos pela profusão e exagero dos mesmos. 2/19/14 3:31 PM 68 Ideias & Imagens | Guia do Professor Bernini. Gian Lorenzo, dito O (Nápoles, 1598 – Roma, 1680) Foi arquiteto, escultor, pintor, decorador de teatros e festas barrocas, músico, caricaturista e comediante. Aprendeu escultura com o seu pai, Pietro Bernini (1562-1629) escultor maneirista e, para alguns, o autor da Fonte da Barcaccia na Praça de Espanha em Roma, mas ficou célebre, especialmente, nas áreas de arquitetura, pintura e escultura que tão bem soube interligar, representando assim o espírito global da Arte Barroca, da Roma dos Papas e do ideário da Contrarreforma. Foi protegido e pretendido pelos mais importantes mecenas da época, como a família dos Borghese e dos Barberini; pelos papas Paulo V, Gregório XV, Urbano VIII, Inocêncio X, Alexandre VII, Clemente IX, Clemente X e Inocêncio XI; e pelo Cardeal Richelieu e Luís XIV de França. Foi contemporâneo de Borromini e de Pietro de Cortona com os quais nem sempre teve relações muito amistosas. Senhor de uma prodigiosa capacidade criativa, produziu uma grande quantidade de obras, geralmente em mármore e de tamanho natural, das quais se salientam David (1623); Apolo e Dafne (1622), O Êxtase de Santa Teresa de Ávila (1645-52) para a Capela Cornaro na Igreja de Santa Maria da Vitória, em Roma, e a Beata Ludovica Albertoni (1671-75), para a Igreja de S. Francisco a Ripa, Roma. Foi também um notável retratista das celebridades do seu tempo, acentuando gestos, posições, expressões faciais, visando a expressividade e o intimismo, como no busto de Constanza Buonarelli (1635), sua amante; a descrição psicológica, como no retrato de Francisco d'Este (1650); pormenores realistas como no busto de Gabriele Fonseca (166875) e no busto de Luís XIV (feito no ano de 1665, em Versailhes, descrevendo um rei oficial e pomposo). Criou também um novo tipo de monumentos funerários como os túmulos dos Papas Urbano VIII (1647) e Alexandre VII (1678), na Basílica de S. Pedro, em Roma, onde interpretou a espiritualidade barroca através de texturas, cores e materiais diferentes. Foi também o autor de numerosas fontes, das quais se referem, em Roma, a dos Quatro Rios (c. 1649), na Praça Navona, e a do Tritão, na Praça II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 68 Barberini; em todas conseguiu a fusão do espaço urbano com a água e com formas dinâmicas e rebuscadas, numa conceção plástica teatral perfeita, onde os efeitos de perspetiva, os ângulos de visão insólitos e as combinações próximas e distantes dos elementos arquitetónicos e escultóricos foram conseguidos. Em 1629, após a morte de Maderno, foi nomeado arquiteto da Basílica de S. Pedro em Roma; completou a sua decoração interior; construiu o gigantesco baldaquino (entre 1624-34); para a entrada do Palácio do Vaticano projetou a Scala Regia (de 1666, cuja abóbada de berço e colunas só tem um efeito plástico, pois, decorando, reduzem a altura e a largura da escadaria) e fez a grandiosa colunata da Praça de S. Pedro (1667). Uma das suas últimas obras arquitetónicas religiosas foi a Igreja de Santo André do Quirinal (1658-78), com uma fachada de linhas retas e curvas, de espaços côncavos e convexos e uma planta elíptica, cujas paredes se prolongam numa cúpula bem iluminada. Na arquitetura civil, foi a autor da fachada do Palácio Barberini, dos projetos do Palácio de Monte Cetório em Roma (1650-55) e do Palácio Chigi-Odescalchi (1664), o arquétipo da arquitetura palaciana europeia; foi também autor (em 1665) de um projeto para a fachada leste do Louvre, que não foi aprovado. Detentor de uma prodigiosa técnica e grande imaginação, soube integrar o vocabulário e as regras barrocas na vasta obra produzida. Explorou a atração pelo celestial e logo pelo ritmo ascendente, especulou com o espaço natural, urbano e de interiores, criando espaços festivos, onde arquitetura, decoração, escultura e pintura se interligam e completam. Distinguiu-se também pela criação de uma escultura com um toque de liberdade e de sensualidade, caracterizada por figuras com contornos ziguezagueantes, formadas por vários blocos, harmonizadas com o espaço envolvente e cuja expressividade é captada no ponto culminante da ação. II11GP © Porto Editora Beaux-Arts (conceito/estilo) Em arquitetura, o termo designa um estilo académico e eclético que se desenvolveu entre finais do século XIX e princípios do século XX, e que seguia os rigorosos preceitos dos manuais de ensino das academias da época, de que a principal era a de Paris. Recebe inspiração direta do classicismo greco-romano e renascentista, que mistura com materiais e técnicas mais contemporâneas. Bordalo Pinheiro, Rafael (Lisboa, 1846-1905) Caricaturista, retratista, desenhador e ceramista. Irmão do pintor Columbano, aprendeu a desenhar primeiro com o seu pai, Manuel Maria Bordalo Pinheiro, e depois frequentou a Academia de Belas-Artes de Lisboa. A caricatura espirituosa fascinava-o e por aí enveredou; preteriu o convite de revistas inglesas, francesas e espanholas para criar, em Portugal, várias publicações de cariz satírico. São conhecidas Lanterna Mágica, O Calcanhar de Aquiles, de 1870 (álbum de caricaturas gravadas 2/19/14 3:31 PM 69 3. Conceitos, termos e autores II11GP © Porto Editora em água-forte dos principais políticos e intelectuais), O Binóculo, O Mapa de Portugal, A Berlinda e A Paródia. Entretanto, resolveu partir para o Brasil e também lá continuou a sua atividade de caricaturista em jornais como O Mosquito, Psit e O Besouro. Regressado a Portugal, fundou a folha humorista António Maria e depois Álbum de Glórias e Pontos nos ii. Em 1885, passou a dedicar-se à cerâmica, criando a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha; com ela relançou a louça das Caldas que estava abastardada pela cópia de maus modelos e desnaturalizada, à mercê de alheias influências, surgindo assim obras como A Jarra Beethoven e figuras de engonço como o sacristão, o padre, o polícia, a ama de leite, a alcoviteira, e especialmente, as figuras da Maria da Paciência e do Zé Povinho de 1875. Esta figura reflete os acidentes do dia a dia [...] a tal besta que geme e paga e não bufa, [...] completada pelo manguito, uma resistência indómita segundo as palavras de José-Augusto França. Bordalo Pinheiro contribuiu também para o desenvolvimento do cartaz artístico em Portugal. Borromini, Francisco (1599-1667) Arquiteto italiano. É a partir de 1609 que está documentada a sua presença em Roma, a trabalhar como escultor nas obras da Catedral da São Pedro, em Roma, sob a orientação dos arquitetos Maderno e Bernini; por volta desta data, realizou obras para o Palácio dos Barberini. Em 1634, começa a construir a sua primeira obra de arquitetura, o claustro do Convento de San Carlo alle Quattro Fontane e o interior da igreja, para a Ordem dos Trinitários. Depois de 1637 seguem-se outras obras, como: o Convento dos Filippini; a Igreja de Sant'Ivo alla Sapienza, começada em 1642; o restauro da Basílica de São João de Latrão, entre 1646-49; a Igreja de Santa Inês, na Praça Navona, entre 1652-55, e parte da fachada da Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, entre 1665 e 1667, altura em que se suicidou, tendo sido concluída pelo seu sobrinho Bernado. Trabalhou, maioritariamente, para ordens religiosas, pois não foi, como Bernini, um artista da corte papal; aliás, Borromini mantinha com este uma grande rivalidade, até mesmo nas conceções artísticas. Foi um temperamental, como Miguel Ângelo e Caravaggio, mas também como eles um inovador. A sua arte chegou a ser mesmo melhor aceite na Europa Central que na Itália. O seu estilo caracterizou-se: pela aplicação da elegância e da plasticidade nas formas (visíveis nas plantas flexíveis, na alternância e contraposição da concavidade/convexidade e do retilíneo/curvilíneo das paredes ondulantes e grossas); pela integração e exploração da luz e da sombra, daí resultantes; II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 69 pelo uso de elementos funcionais, mas aliados à decoração; por uma nova conceção de espaço, movimentado, ritmado e fragmentado, mas correspondente à estrutura da planta elíptica, numa oposição ao eixo transversal e à visão frontal e mais rígida de Bernini. Bourdelle, Émile-Antoine (França, 1861-1929). Escultor. Aluno na Escola de Belas-Artes de Toulouse, foi tido, inicialmente, como um dos seguidores de Rodin, pois foi um dos seus colaboradores; mas depois, numa atitude de reação contra a arte do mestre e na procura de um estilo próprio, enveredou por uma mistura harmoniosa do Realismo com o Classicismo, realizando uma estatuária monumental com figuras gigantescas e isoladas. De entre as suas 900 esculturas são exemplos: O Archeiro Héracles, 1902; O Centauro Moribundo, 1914; O Monumento à Polónia, em Paris; os numerosos estudos sobre Beethoven; a decoração arquitetural do Teatro dos Champs Éllysées e um sem-número de bustos de personalidades do seu tempo. Em Paris existe um museu com o seu nome. Brancusi, Constantin (Roménia, 1876 – Paris 1957). Escultor. Estudou na Escola de Belas-Artes de Bucareste e depois em Paris. Em 1906 expôs as suas obras no Salon de Outono, em Paris; aí contactou com as obras de Gauguin, conheceu Rodin, Modigliani, Léger, Matisse, Duchamp, Henri Rousseau, Picasso, Picabia e Triztan Tzara. Conviveu com vários movimentos artísticos, esteve perto do Cubismo e do Expressionismo, mas nunca se integrou em corrente alguma. A obra O Beijo de 1908 marca a sua fase antinaturalista e a procura de uma estilização de formas e volumes bem definidos, eliminando os atributos acessórios e captando os estados anímicos. Em 1913, para Armory Show, em Nova Iorque, Brancusi enviou cinco das suas esculturas e tornou-se tão famoso que, em 1921, The Little Review dedicou-lhe um número especial e, em várias galerias, fizeram-lhe exposições individuais. Depois da 1.ª Guerra Mundial foi progressivamente retirando a figuração das suas peças, caminhando cada vez mais para uma escultura abstrata; influenciado pela escultura egípcia, cicládica e mexicana, partiu para formas ovais mais lisas e mais perfecionistas, como em Mademoiselle Pogany, 1913-33. Demorava muito tempo para produzir as suas peças, mas atingiu uma unidade estilística exemplar bem patente, por exemplo, em Pássaro no Espaço, 1919-40, e em Coluna sem Fim, 1920-30 (cujas superfícies lisas e polidas permitem um maior reflexo de luz). Nunca abandonou as 2/19/14 3:31 PM 70 Ideias & Imagens | Guia do Professor Bucrânio Motivo decorativo, esculpido ou pintado, em forma de caveira de boi com cornos. O seu uso remonta à época greco-romana. Capricho (do italiano caprice) Género de pintura que mistura realidade e imaginação. Incide sobre a representação de paisagens e/ou de cenas arquitetónicas imaginárias. O termo divulgou-se no século XVIII em oposição a um outro termo italiano – vedute ou vista. O “capricho” é uma “veduta ideata”, isto é, uma vista imaginada, idealizada. Castro, Joaquim Machado de (Coimbra, 1731-1822) Escultor. Formou a Academia do Nu e a Aula, Laboratório ou Casa da Escultura das Obras Públicas e venceu o concurso público para a execução da estátua equestre do Rei D. José, no Terreiro do Paço, em Lisboa. Da sua vasta obra salientam-se as oito estátuas colossais para a frontaria da Basílica da Estrela e especialmente os seus presépios. A sua produção, marcada pelo gosto barroco (obras no Real Edifício de Mafra) e rococó, denota já influências neoclássicas nas esculturas do Palácio da Ajuda. Deixou vasta obra como pedagogo. Catalogue Raisonné Termo francês que designa o inventário ou listagem escrita da totalidade das obras de um artista, ou de um conjunto de artistas, ou ainda de um certo tipo de arte, cuidadosamente datadas e referenciadas, indicando proveniências e citações bibliográficas. Apareceram pela primeira vez no século XVI e foram-se tornando cada vez mais frequentes a partir do século XVIII. São, hoje, instrumentos importantes para os historiadores e críticos de arte. Chillida, Eduardo (San Sebastian, Espanha, 1924-2002). Escultor. Estudou, inicialmente, arquitetura na Universidade de Madrid de 1943 a 47 e, ao mesmo tempo, cursou desenho e escultura numa academia livre. No final dos anos 40, vivendo em Paris, dedicou-se, exclusivamente, à escultura figurativa, influenciado pela arte clássica e por Henry Moore. II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 70 Nos anos 50, utilizando uma forja artesanal e trabalhando o ferro incandescente, criou as suas primeiras formas abstratas, como Ilarik, 1951 (uma estrutura metálica simples, um monumento à língua basca de que Chillida sempre foi tido como um defensor). Em 1958, na Bienal de Veneza, ganhou o Grande Prémio da Escultura. Depois passou a trabalhar com outros materiais, nomeadamente, com a madeira e, a partir de 1959, com o alabastro (ex.: Homenagem a Kandinsky, 1965), o granito, o aço, a terracota e o betão (como La Casa de Goeth, 1986, em Frankfurt e o Elogio del Horizonte, 1990, em Gijón). O seu percurso artístico continuou, sendo conhecido como um dos maiores escultores da segunda metade do século XX na Europa e nos Estados Unidos. Herdeiro de Brancusi, Calder e Giacometti, de quem foi amigo, e conhecedor da obra de David Smith, a sua arte tem um sentido político, um carácter monumental, uma linguagem abstrata muito própria e rigorosa, num constante diálogo entre as propriedades expressivas dos materiais, o espaço envolvente, a Natureza e os elementos cósmicos. O conceito de espaço interior e exterior da própria escultura leva-o à construção de uma escultura arquitetónica, intrínseca à sua formação. Cinquenta das suas peças mais relevantes encontram-se no museu pessoal em Hernani, o Chillida-Leku (o espaço de Chillida, em Euskera), quer no edifício, quer no relvado e bosque, inaugurado em setembro de 2002. II11GP © Porto Editora referências à Natureza, nem que seja só com um toque simbólico. Uma novidade proposta por Brancusi foi a importância dada ao suporte, ao pedestal, que passa a ter um valor e um volume esculturais. Como algumas das peças eram grandes e colocadas no exterior, teve sempre em atenção o espaço envolvente. Brancusi influenciou Arp, Archipenko, Naum Gabo, Pvsner e Carl André. Chinoiserie (ou “chinesice”) Termo francês usado desde o século XVIII para designar os motivos decorativos de origem chinesa, muito em voga no período rococó. No século XIX, e por derivação, usou-se também o termo “japonesices”. Churriguera Família de desenhadores, arquitetos e escultores espanhóis da Catalunha. De entre os seus elementos salientamos José Simão (m. 1682), o pai e os seus três filhos: José Benito (Madrid, 1665-1725). Desenhador, arquiteto e construtor de retábulos. Começou como desenhador da corte espanhola, depois realizou vários retábulos, ricamente decorados (um deles com 27,5 m) para a Catedral de Segóvia e para a Igreja de Santo Estêvão, em Salamanca; mas a sua obra maior foi a realização do conjunto urbanístico de Nuevo Baztán (1709-13), constituído por um palácio, uma igreja, uma oficina para o fabrico de vidro fino e casas para os operários. Joaquín (Madrid, 1674-1724). Arquiteto. Colaborou com o seu irmão José Benito no projeto da Nova Catedral de Salamanca e do pátio do Colégio 2/19/14 3:31 PM 71 3. Conceitos, termos e autores de Calatrava, cuja decoração foi inspirada nas formas platerescas do século XVI. Alberto (Madrid, 1676-1750). Arquiteto. Continuador do projeto da Catedral de Salamanca, criou também para esta cidade os planos para a Igreja de São Sebastião (1731) e para a Plaza Mayor (1729), de planta quadrada, emoldurada pelas fachadas de palácios muito decorada. Das obras dos Churriguera derivou o termo e o estilo Churriguerismo que perdurou durante o final do século XVII e princípio do XVIII e que se caracterizou pela utilização de abundante, confusa, ondulante e monumental decoração, resultante da influência da decoração plateresca com a do Barroco. Dois bons exemplos do Churriguerismo são o Altar Transparente da Catedral de Toledo (1715-40) e a Ponte de Toledo em Paris. Daqui nasceu o Rococó espanhol; este estendeu-se às zonas da América Latina, sob o domínio espanhol, e aí misturou-se com a arte dos povos pré-colombianos. Este estilo decaiu nos finais do século XVIII. Cloison (termo técnico) Compartimento ou célula, formada por pequenos filamentos de metal, usada na técnica de esmaltagem. CoBrA (1948-1951) Grupo formado em Paris por artistas europeus de tendência expressionista, oriundos das cidades de Copenhaga, Bruxelas e Amesterdão, cujas iniciais deram origem ao nome. O grupo foi composto por Pierre Alechinsky (n. 1927), Asger Jorn (1914-1973), Lucebert, nome artístico de Lubertus Jacobus Swaanswijk (1924-1994), e Karel Appel (1921-2006). II11GP © Porto Editora Combine Painting (à letra “pintura combinada”) Obra plástica que associa objetos bi e tridimensionais sobre superfícies pintadas. Esses objetos podem ser intervencionados pelo pintor com tinta ou deixados ao natural. O termo foi inventado por Robert Rauschenberg (no seu período neodadaísta), que usou nas suas pinturas objetos como pelagem de animais, aparelhos de rádio, têxteis e outros. Commedia dell'Arte Nome que se atribuiu a um tipo de teatro cómico, popular, nascido em Itália no século XV. Era praticado por companhias itinerantes, de estrutura familiar, e as suas peças representavam-se praticamente de improviso, a partir de um pequeno roteiro escrito (daí chamar-se também commedia all’improviso). As personagens eram contudo fixas, inspiradas por figuras-tipo do imaginário coletivo II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 71 e/ou da sociedade. As mais comuns eram o arlequim, a colombina, o palhaço, o pantalone, o doutor e o soldado. Os enredos, de intuito satírico e folgazão, partiam sempre de situações comuns do quotidiano: as intrigas amorosas; as de ciúme e inveja; as de ânsia de poder e de vaidade, etc. As representações eram feitas nas ruas e praças públicas, em palcos improvisados ou utilizando as próprias carroças em que a companhia se deslocava. Incluíam sempre diálogos, cantorias, pantominas e acrobacias. A primeira companhia de que há registo foi a Il Gelosí (Os Ciumentos), criada em Pádua, Itália, em 1545. Mas muitas outras se foram afirmando com o tempo, tendo algumas conseguido a proeza de levar as suas representações a palácios de nobres e da realeza. Tendo granjeado muita popularidade, a Commedia dell’Arte invadiu a Europa ocidental, prolongando-se com sucesso até ao século XVIII. Prova desse êxito é o facto de os seus enredos e personagens terem inspirado frequentemente artistas plásticos, poetas, escritores e dramaturgos, saltando da arte popular para a erudita. Divisionismo (técnica) Técnica de pintura usada pelo Neoimpressionismo e inventada por Georges Seurat que consiste em usar apenas pinceladas de cores puras que não se misturam, nem na paleta nem na tela. Duchamp, Henri-Robert Marcel (Blainville, França, 1887 – Nova Iorque, 1968). Pintor. As suas primeiras obras denotam influências do Neoimpressionismo, do Pós-impressionismo, dos Nabis, do Fauvismo e do Cubismo. Expôs, pela primeira vez, em 1909, no Salão dos Independentes e no Salão de Outono, em Paris. Em 1912, pintou Nu descendo a escada n.° 2, que expôs na Armory Show. Entretanto, envereda por uma espécie de niilismo estético, procurando formas experimentais nos ready-mades (objetos vulgares apresentados como obras de arte) como a Roda de bicicleta (1913) até à realização de A noiva despida mesmo pelos celibatários ou O grande vidro (1915-23), pintura sobre uma chapa de vidro com fragmentos de estanho colados. Em 1915, já em Nova Iorque, funda com Man Ray, Picabia e outros A Sociedade Anónima contribuindo para o nascimento do Dadaísmo. Entre 1917-21 escandalizou o mundo com Ampola Contendo 50 cc de Ar de Paris, e toda uma série de ready-mades, como a Fonte (1917), Why not Sweeze Rose Selavy e a obra A Gioconda com Bigode (1919). Durante a primeira década do século XX, realizou uma série de máquinas que 2/19/14 3:31 PM 72 Ideias & Imagens | Guia do Professor Environment (termo/conceito) Tipo de arte tridimensional e efémera, que utiliza materiais naturais e outros objetos, e que se integra e/ou interage com o meio ambiente. Surgiu nos finais da década de 50 do século XX e teve alguns dos seus melhores autores em Alan Kaprow e Joseph Beüys. Escola de Paris Nome originalmente atribuído à arte produzida por um grupo de artistas não franceses que trabalhou em Paris no período em torno da 1.ª Grande Guerra. Posteriormente, o termo designou também todos os movimentos de vanguarda que tiveram Paris como seu centro difusor. Estilo Império Tendência artística de cariz neoclássico, nascida em França, que se inspirou no classicismo greco-romano. Desenvolveu-se sobretudo entre 1803 e 1815/20, acompanhando o período do Império napoleónico. Manifestou-se sobretudo na arquitetura, na decoração de interiores, no mobiliário e no vestuário. Forma fechada (termo técnico da escultura) Peça de estatuária que permanece muito próxima da forma do seu bloco original, não se abrindo ao espaço que a circunda nem parecendo interagir com ele. Frottage (técnica) Técnica de reprodução de texturas ou relevos através da passagem de um lápis ou crayon sobre uma folha de papel colocada sobre a superfície a reproduzir. Foi usada provocatoriamente pelos II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 72 dadaístas e depois por surrealistas (como Marx Ernst, por exemplo) e por outros movimentos contemporâneos. O mesmo que decalcomania. Gainsborough, Thomas (Sudbury, Suffolk, 1727 – Londres, 1788) II11GP © Porto Editora contribuíram para a criação da arte cinética, experiências óticas, ensaios fotográficos e curtas-metragens surrealistas, até que, em 1928, deixou de pintar e dedicou-se ao xadrez. Em 1937, realizou urna exposição individual em Chicago. Entretanto, foi criando alguns objetos 'absurdos', pois a Arte é um meio de se autointoxicar, como o ópio e deve provocar quem a olha. A partir de 1946 dedicou-se a organizar exposições, a ser conselheiro de colecionadores e a produzir, secretamente, uma construção "de ambiente" – Etant Donnés (num espaço fechado diversos materiais são tratados de uma maneira ilusionista). A sua arte deu origem aos mais variados movimentos, como: Pop Art, Land Art, Arte Povera, Anti-Form, Body Art, Happening, Arte Conceptual e Minimal Art. Duchamp desconstruiu o conceito de obra de arte e de beleza estética; as suas palavras confirmam-no: no fundo não acredito na função criativa do artista. É um dos mais conhecidos pintores ingleses do período rococó. Aluno do mestre francês Gravelot (1699-1773), foi influenciado pela pintura rococó francesa e pela pintura holandesa (nomeadamente pela de Van Dyck). Gainsborough começou por pintar paisagens e cenas pastoris, mas rapidamente se especializou no retrato, trabalhando para a nobreza e burguesia inglesas, em cujo meio as suas obras tiveram grande sucesso. Em 1774, estabeleceu-se em Londres, onde granjeou a simpatia da família real, a despeito da sua rivalidade com o maior pintor do momento em Inglaterra, Sir Joshua Reynolds (1723-1792). Em 1781 é aceite pela Royal Academy, onde expõe até 1784, ano em que se “zanga” com a Academia e passa a expor unicamente no seu próprio ateliê. O estilo de Gainsborough caracteriza-se pela extrema liberdade em relação às regras académicas da época e pela execução rápida, geralmente colhida com o motivo à vista. A sua pincelada leve e fluida esbate os contornos, conferindo às suas obras uma atmosfera poética, não isenta de emotividade e nostalgia. Os seus retratos, muitos deles de casais, fogem às regras clássicas do retrato renascentista, apresentando os retratados em cenários naturais, muitas vezes os parques e jardins da elite comitente. O seu gosto pela Natureza leva-o a pintar, numa fase mais avançada da sua vida, numerosos caprichos de influência italiana. Entre as suas obras mais conhecidas estão O Rapaz de Azul (1770), O Retrato do Sr. e da Sra. Robert Andrews (1748-50) e Mr. e Mrs. William Halett ou O Passeio Matinal (1785). Gutai (palavra japonesa que significa configuração) Nome de um grupo formado por artistas japoneses de vanguarda, em 1954, em Osaka. Celebrizou-se, sobretudo, pelos seus happenings e performances. O seu fundador foi o pintor abstrato Jiro Yoshihara (1905-1972). Lettering (ou letrismo) Termo usado desde 1950 para designar o uso de palavras, letras e signos em arte, pelo seu aspeto meramente visual, sem atender ao seu significado literal. 2/19/14 3:31 PM 73 3. Conceitos, termos e autores Macchiaioli (do italiano macchia ou mancha) Grupo de pintores italianos que trabalharam em Florença, entre 1855 e 1865, e que se rebelaram contra a arte académica da época, procurando uma pintura mais livre e individualizada, executada em contacto direto com o motivo e em pinceladas largas de cor. Colocam-se estilisticamente entre o realismo de Corbet e o Impressionismo. Entre os seus elementos mais representativos estão Giovanni Fattori (1825-1908) e Silvestro Lega (1826-1895). Mobile (termo) Obra de arte escultórica composta por diversos elementos que se movimentam diversamente, quer por deslocação de ar (vento) quer por processos mecânicos. A palavra foi usada pela primeira vez por Marcel Duchamp, em 1932, para descrever as obras realizadas pelo americano Alexander Calder. Nasoni, Nicolau (Florença, 1691 – Porto, 1773) Pintor, decorador e arquiteto. Formou-se e trabalhou em Itália (Siena e Roma) e em Malta (1724), de onde veio para o Porto a convite do deão da Sé desta cidade, D. Jerónimo de Távora e Noronha. No Porto casou (duas vezes) e trabalhou, deixando nesta cidade e nos arredores a maior parte da sua vasta obra. Dela destacam-se a renovação do Sé do Porto (nomeadamente o portal oeste e a galilé norte), a Igreja da Misericórdia, o Palácio do Freixo, várias moradias, fontes e solares, mas, sobretudo, a Igreja, Casa e Torre dos Clérigos, apogeu do seu estilo que os especialistas classificam de transição entre o Barroco e o Rococó. II11GP © Porto Editora Naturalismo Termo referente a uma abordagem artística em que um autor procura representar os objetos e a Natureza tais como empiricamente são observados, imitando-os. Este movimento estendeu-se por toda a Europa, na segunda metade do século XIX. Em Portugal destacaram-se Silva Porto, Marques de Oliveira, José Malhoa e Columbano na pintura, Soares dos Reis na escultura e Rafael Bordalo Pinheiro na cerâmica. Nazarenos A designação Nazarenos foi adotada, em 1809, por um grupo de pintores do Romantismo alemão, que pretenderam recuperar os princípios da espiritualidade cristã e da pintura dos primitivos italianos. Por isso viajaram para Itália. A sua aparência, vestindo longas vestes, à maneira bíblica, e até os seus penteados, faziam lembrar as personagens dessa época. Viveram em Roma, de forma monástica, recuperando o espírito II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 73 das oficinas medievais. Reagiram contra a ordem racional do Neoclassicismo e valorizaram a espiritualidade da arte. Autores deste movimento foram: Peter von Cornelius, Josef Führich, Johann Konrad Hottinger, Johann Friedrich Overbeck, Franz Pforr, Friedrich Wilhelm Schadow,, Julius Schnorr von Karolsfeld, Eduard Jakob von Steinle, Philipp Veit e Ludwig Vogel. Óbidos, Josefa de Ayala Figueira, conhecida como Josefa de, (Sevilha, 1634 – Óbidos, 1684) Pintora do período barroco. Filha do pintor português Baltazar Gomes de Figueira e de uma senhora espanhola, precocemente manifestou uma forte vocação para a gravura em metal. Trabalhou em conventos e igrejas para a família real, executando inúmeros retratos, naturezas-mortas e outras obras de carácter religioso e místico. Tornou-se especialista na pintura de flores e frutos. Foi influenciada pela pintura de Caravaggio e de La Tour. Objet-trouvé Objetos do quotidiano usados pelos artistas em assemblages, esculturas ou outros trabalhos plásticos. Os objetos podem ser usados tal como são ou intervencionados parcialmente; podem ser usados de per se (como ready-mades) ou associados e misturados com pintura [ver Combine Painting], colagem ou outros objetos. O conceito surgiu com o Dadaísmo (ex.: Kurt Schwitters), mas já o Cubismo o havia usado na fase das colagens (ex.: Picasso, Natureza Morta com fundo de Palhinha, de 1912). Parquet Pavimento revestido a tacos de madeiras diferenciadas (em tonalidade e veios), formando um padrão geométrico. Pátio de honra (do francês cour d’honneur) Pátio exterior de um palácio ou edifício público que antecede a entrada principal. Pereira, Manuel (c. 1588-1683) Escultor barroco. Nascido e criado no Porto, a partir de 1620 encontra-se em Madrid e foi o escultor de Filipe IV de Espanha. As peças São Bruno da Cartuxa de Miraflores, perto de Burgos, São Filipe de Nery, para o Convento de São Filipe, El Real, em Madrid, Cristo da Piedade, para o Oratório del Olivar, são algumas das suas mais importantes obras. Para Portugal parece que também fez alguns trabalhos, como Cristo na Cruz e a Senhora do Rosário, da Igreja de São Domingos de Benfica, Lisboa. 2/19/14 3:31 PM 74 Ideias & Imagens | Guia do Professor À letra, significa tudo o que é belo e digno de ser pintado. O termo generalizou-se no século XVIII, a partir da obra de Uvedale Price (1747-1829), Ensaio sobre o Pitoresco Comparado com o Sublime e o Belo, publicada em 1794. Nessa obra, Price teoriza o sentido da palavra pitoresco quer em pintura, quer em escultura, quer inclusive no design de jardins e no urbanismo. O termo nasceu associado à apreciação das pinturas de Claude Lorrain e Nicolas Poussin, cujas composições harmonizam cenários naturais e arquitetónicos de grande beleza. Raionismo Movimento artístico que surgiu na Rússia em 1911-1912, iniciado por Mikhail Larionov (1881-1964) e sua mulher Natalia Goncharova (1881-1962). Caracteriza-se pela prática de uma pintura abstrata, feita por raios de cores puras que atravessam a tela em várias direções, cruzando-se em ângulos agudos, e que procuram retratar a energia luminosa libertada pelos objetos. Deriva do Futurismo Italiano e do Orfismo de Robert Delaunay. Ready-made [ver também objet-trouvé] Objeto do quotidiano, retirado da sua função habitual e tratado como objeto artístico, sem contudo sofrer qualquer atuação por parte do artista. O termo surgiu cerca de 1915, com Marcel Duchamp, no início do Movimento Dada. Realismo Numa aceção ampla significa a tendência, por parte dos artistas, para representarem a Natureza e as coisas de um modo preciso e objetivo, enfatizando temas ligados à vida e às atividades do Homem comum. Como movimento autónomo, no campo das artes, surgiu em França e esteve ligado às ideias republicanas e socialistas que levaram à revolução de 1848. O termo passou a ser mais empregue na década de 50 desse século. A pintura esteve de acordo com a literatura, na análise atenta da sociedade, retratando-a de um modo autêntico, embora não necessariamente fotográfico. O líder do movimento foi o francês Gustave Courbet. Após a 1.ª Grande Guerra a arte europeia sofreu novo surto de realismo que, mantendo a raiz oitocentista, teve expressão e intencionalidade diferentes, consoante os países e suas circunstâncias político-sociais. II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 74 Rembrandt (Leiden, 1606 – Amesterdão, 1669) Pintor, gravador e desenhador holandês. Ingressou em 1620 na universidade da sua cidade natal, mas cedo a trocou pela pintura. Começou a trabalhar para artistas ligados à cultura italiana e à arte de Caravaggio, vindo depois a estabelecer-se como pintor independente. Assim, entre 1625-31, tornou-se reconhecido pelo seu estilo, que se caracteriza, numa fase experimental, pelos violentos contrastes de luz, pela utilização da luz lateral (que sugere volume, profundidade e uma atmosfera misteriosa), pelas composições complexas e pelo gosto em representar temas bíblicos, retratos e cenas do quotidiano, com pessoas comuns, em atitudes emocionais e expressivas. São telas feitas com rapidez e de tamanho pequeno, como Tobias com Ana e o Cabrito. II11GP © Porto Editora Pitoresco (conceito/adjetivo) Entretanto, já em Amesterdão, continuou a conquistar popularidade e bem-estar financeiro; casou com Saskia (o seu ideal de beleza feminina que pintou continuadamente) e tornou-se colecionador de obras de arte e adereços orientais, muitas vezes mostrados nas suas telas. A partir de 1632 e até cerca de 1640, fez muitos retratos de meio corpo e de três quartos e telas de grandes dimensões, mas teatrais. É desse ano a Lição de Anatomia do Dr. Tulp, de 1632 (é uma coleção de retratos objetivos e naturalistas, com atentos pormenores psicológicos, numa composição piramidal mas onde a luz, que foca o grupo e o cadáver, contrasta com a densa atmosfera envolvente). Os temas bíblicos e mitológicos são também da sua preferência mas tratados com dramatismo realista, parecem instantâneos misteriosos e melancólicos onde sobressaem contrastes de tons amarelos, castanhos-dourados, verdes e cinzentos. São exemplos A Descida da Cruz de 1632-1633 e Danae de 1636-1643. De 1640-42 a 1660 nota-se na obra de Rembrandt uma maior dimensão dramática e expressiva, conseguida pelos contrastes de claro-escuro, pela riqueza dos seus empastes texturados e sulcados pelo cabo do pincel, pela luz dourada, pelas cores ricas em tonalidades e misturadas à maneira de Ticiano e pelas pinceladas livres. As mortes de Saskia e da sua mãe e os problemas familiares e financeiros podem estar ligados a este acentuar da expressividade, a uma mais conseguida penetração psicológica e à exploração da emoção. São desta fase as telas Aristóteles contemplando o Busto de Homero de 1653 e a Ronda da Noite de 1642, a sua obra mais bem-sucedida, que descreve uma companhia militar mas que parece mais uma representação de um espetáculo operático. 2/19/14 3:31 PM 75 3. Conceitos, termos e autores II11GP © Porto Editora Nas décadas de 40 e 50, Rembrandt interessou-se também pelas paisagens e pelas naturezas-mortas, como O Cavaleiro Polaco e O Boi Abatido, ambas de 1655. As suas características pictóricas de um realismo analítico e expressivo e o seu alheamento em relação ao gosto das convenções da época e da sua clientela levam-no a explorar cada vez mais o retrato e o autorretrato. Assim, em 1662 pinta A Guilda dos Negociantes de Panos, onde fez uma descrição expressiva dos retratados e que não foi bem aceite. É nos seus mais de 60 autorretratos que melhor se pode entender a sua evolução artística e o seu percurso vivencial, pois são telas carregadas de sentimentos, de interrogações e de confidências. Na fase final da sua vida mostra mais autocrítica, mais intensidade dramática e mais misticismo conseguidos pela grande riqueza cromática que se concentra na modelação dos rostos e no sentido da luz, em obras como O Regresso do Filho Pródigo de c. 1669 e nos seus autorretratos. Ao lado da pintura cultivou também o longo de toda a sua vida a prática da gravura em água-forte onde se tornou um autor exímio dado que esta técnica lhe permitia explorar o seu traço expressivo e trabalhar o claro-escuro, como em A Peça dos 100 Florins, de 1642-45. Salão, O (do francês Le Salon) Mostra oficial de artes plásticas (pintura e escultura, sobretudo) da Academia de Belas-Artes de Paris, que se inaugurava no dia de São Luís (25 de agosto), mantendo-se aberta por várias semanas. As exibições iniciaram-se em 1745 e prolongaram-se até 1890, com carácter anual ou bianual. Durante o século XIX estas “mostras” foram, sem dúvida, os eventos artísticos mais importantes de todo o mundo ocidental, ditando modas e tendências. A tradição dos salões da Academia remonta à criação da primeira Escola de Belas-Artes em França, em 1648, pelo cardeal Mazarino, então primeiro-ministro. Esta escola foi transformada, em 1674, na Real Academia de Pintura e Escultura que fez a sua primeira mostra pública no Salon Carré do Palácio do Louvre, onde as mostras se passaram a realizar daí em diante. O objetivo destas exposições era publicitar os trabalhos dos graduados da Academia, pelo menos daqueles cujos méritos eram reconhecidos pelo júri de mestres consagrados que presidia à seleção. Inicialmente destinadas apenas a artistas franceses e a um público de especialistas, estas exposições foram abertas ao público em geral a partir de 1737 e a artistas estrangeiros após a Revolução Francesa, tornando-se um dos eventos sociais de maior renome em Paris. II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 75 As mostras eram muito concorridas, enchendo-se as paredes do Salon Carré do chão ao teto, aproveitando todos os espaços. Para todas as exposições eram realizados catálogos descritivos que são, hoje, fontes importantes para os historiadores de arte. O fim dos “salões” deu-se em 1890 por dissidências internas na Associação dos Artistas Franceses (que haviam assumido a direção das mostras em 1881), o que conduziu à formação da Sociedade Nacional de Belas-Artes da França, que passou a realizar mostras similares no denominado Salão do Campo de Marte, em Paris, todas as primaveras. Salão de Outono Exposição anual de arte – pintura, escultura, gravura, arquitetura, artes aplicadas, etc. – realizada em Paris, no mês de outubro, no Petit Palais, desde o ano de 1903. A organização destas exposições nasceu da reação de um grupo de artistas ao conservadorismo e à burocracia que envolviam as outras duas exposições artísticas de Paris – a do “salon” e a da Sociedade. Entre os membros fundadores do Salão de Outono estão Pierre-Auguste Renoir e Auguste Rodin. Mais aberto e pluralista que os salões anteriores, o Salão de Outono, que se manteve ativo até finais do século XX, foi responsável pela exibição e lançamento de muitas das mais importantes correntes artísticas de vanguarda, tais como o Fauvismo e o Cubismo. Salão dos Recusados Nome atribuído à exposição de arte que acolhia as obras que haviam sido rejeitadas pelo júri do salão oficial. O primeiro Salão dos Recusados realizou-se em 1863, sob autorização expressa do imperador Napoleão III, face ao grande protesto gerado pela rejeição anormalmente numerosa ocorrida nesse ano no Salão Oficial. Foi nesse primeiro Salão dos Recusados que Édouard Manet expôs duas das suas mais conhecidas obras: Olímpia e Almoço na Relva. Schinkel, Karl Friedrich (Neuruppin, Alemanha, 1781– Berlim, 1841) Foi pintor e decorador, realizou cenários de ópera, mas foi como arquiteto do Neoclassicismo e teórico deste movimento que se notabilizou e é hoje consagrado. Fez a sua formação em Berlim, após o que partiu para uma estadia de cerca de dois anos em Itália (1803-1805), onde estudou a arte clássica. Regressado a Berlim, onde assentou o seu 2/19/14 3:31 PM 76 Ideias & Imagens | Guia do Professor Souza-Cardoso, Amadeo de (Manhufe, 1887 – Espinho, 1918) Pintor. Frequentou o curso de Arquitetura na ESBAL e também em Paris, mas acabou por desistir da arquitetura em detrimento da pintura, a que se dedicou a partir de 1907. Em Paris visitou locais de exposições, com particular destaque para a retrospetiva de Cézanne realizada em 1907; frequentou o Grupo do Bateau-Lavoir; assistiu à publicação do Primeiro Manifesto Futurista de Marinetti e às representações dos Ballets Russos de Diaghilev. O seu ateliê tornou-se um local de encontro dos artistas portugueses mas, em 1910, afastou-se deles por os considerar demasiado ligados às regras académicas. Conheceu, por volta de 1908-09, Amadeo Modigliani, que viria a ser o seu grande amigo e companheiro de trabalho em Paris. Os dois amigos expuseram pela primeira vez em 1911, com a ajuda preciosa de Constantin Brancusi. A partir daqui iniciou uma fulgurante participação em diversas exposições europeias (Berlim, Colónia, Hamburgo e Londres), culminando com o convite para integrar a Armory Show – International Exhibition of Modern Art –, em Nova Iorque, em 1913, onde foi o único português a participar. Conviveu com Sónia e Robert Delaunay, Constantin Brancusi, Juan Gris, Diego Rivera, Alexander Archipenko, Umberto Brunelleschi, Max Jacob, Pablo Picasso e Guillaume Apollinaire; travou conhecimento com os futuristas Gino Severino e Umberto Boccioni e, mais tarde, com Picabia, Chagall, Klee, Marc e Macke. Aquando da 1.ª Guerra Mundial, refugiou-se em Portugal, dividindo o seu tempo entre Manhufe, Porto e Espinho. Manteve correspondência com Eduardo Viana e com o casal Delaunay, que nesse tempo vivia em Vila do Conde. Com eles elaborou projetos de exposições no estrangeiro que nunca chegou a realizar. Nos últimos anos de vida conviveu, ainda, com Almada Negreiros e com o Grupo do Orpheu. Almada dedicou-lhe o seu livro KA, o Quadrado Azul. Em 1916, definiu-se ao jornal lisboeta O Dia, como impressionista, cubista, futurista e abstracionista. De tudo um pouco. Morreu com 30 anos, na cidade de Espinho, vítima da pneumónica. A obra II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 76 de Amadeo de Souza-Cardoso é o testemunho vivo da simultaneidade de expressões de um homem em constante mutação num tempo de mudança e de inovação. Foi, no dizer de Almada Negreiros, em 1917, a primeira descoberta de Portugal no século XX. II11GP © Porto Editora ateliê, deixou na região três das suas obras maiores: o Teatro da Ópera (1818-1821), em Gendarmenmarkt, o Altes Museum (Museu de Arte Antiga, de 1824) e a Igreja de São Nicolau (1830-1837), em Potsdam. Apesar de grande adepto do Neoclassicismo – corrente que ajudou a difundir no Norte europeu –, foi também apreciador do Neogótico, estilo a que obedeceu nos seus projetos para catedrais, dos quais só concretizou a Igreja de Friedrichwerder (1824-31), em Berlim. Talha (técnica e/ou modalidade artística) Em arte, a palavra é empregue para designar a escultura em madeira. Esta foi profusamente usada desde a Idade Média, com diferentes utilizações e diferentes acabamentos: podia ser deixada em branco, isto é, na cor natural da madeira, ou policromada ou dourada. A talha dourada (revestida a folha de ouro) foi a mais comum em Portugal e acompanhou o apogeu desta arte no país – o período dos séculos XVII e XVIII, época do Barroco e do Rococó. Com efeito, embora tenha subsistido até ao século XIX e haja alguns bons exemplares de talha neoclássica, esta arte entrou definitivamente em declínio a partir daí. Estilisticamente, o período mais interessante da talha portuguesa estende-se entre 1600 e 1780, acompanhando os estilos maneiristas, barroco e rococó. O período maneirista vai de 1600 até finais do século XVII. É o começo da expansão desta arte, o que se deve a um conjunto de fatores, entre os quais o económico foi seguramente importante. Vivendo-se, à época, uma das crises mais graves da História portuguesa (perda da independência face à Espanha, crise no Império ultramarino e comercial, etc.), a talha foi uma solução de menor custo para a decoração das igrejas e mosteiros, cumprindo os mesmos objetivos estéticos e doutrinais propostos pela Contrarreforma. Neste período, a talha surge mais frequentemente como emolduramento de pinturas e esculturas, dispostas em «registos» e obedecendo a uma programação iconográfica. É notória a influência de gravuras e tratados italianos e flamengos na iconografia e nos motivos decorativos em que elementos geométricos (como pontas de diamante, losangos salientes e cartelas) se combinam com motivos vegetalistas e figurativos (como cabeças de anjos e máscaras) e com elementos arquitetónicos como a coluna, cujo terço inferior é elegantemente trabalhado. É, no entanto, nesta época que a talha começa a autonomizar-se, abandonando a função de simples enquadramento de obras de arte. Sobretudo pelo progressivo desenvolvimento do retábulo. Este assume carácter arquitetónico, sendo frequentemente desenhado por arquitetos e posteriormente trabalhado pelos artífices da talha, podendo 2/19/14 3:31 PM 77 3. Conceitos, termos e autores também conter alguma pintura e/ou escultura independente. O conjunto é estruturado em andares, à semelhança de edifícios, com um leque de soluções variado, cobrindo completamente a parede por detrás dos altares. Os melhores exemplos de talha maneirista estão nas capelas-mores da Igreja de São Domingos de Benfica, da Igreja da Luz e da Igreja de São Roque, todas em Lisboa. Contudo, é também possível ver exemplos de talha deste período no Brasil e em Goa. II11GP © Porto Editora O período barroco da talha começa no último terço do século XVII e estende-se até meados do século XVIII. Inicia-se com o chamado “estilo nacional” que se desenvolve no período da Restauração e Guerras da Independência. Abandonam-se as influências estrangeiras e procura-se inspiração na arte portuguesa, nomeadamente nos portais românicos e renascentistas. Neste período, a talha prolifera nos interiores das igrejas portuguesas, revestindo completamente todo o espaço. Os retábulos desta fase possuem colunas com fuste torso que sustentam arquivoltas concêntricas decoradas com motivos ligados à eucarística (cachos de uvas e folhas de videira), pássaros simbolizando a mítica Fénix, conotada com a Eternidade, serafins e folhas de acanto. No centro desta estrutura surge um elemento exclusivo da talha portuguesa: o “trono”, uma espécie de pirâmide de degraus, em cujo topo se exibe o Santíssimo Sacramento. É ainda nesta época que se generaliza a utilização dos “quartelões”, composições compactas que preenchem completamente os espaços laterais das capelas-mores e que são constituídas por mísulas, pilastras e outros elementos decorativos diversificados. À talha de estilo nacional seguiu-se a talha joanina, associada à figura do rei D. João V (que reinou entre 1707 e 1750). Historicamente foi um período de paz e serenidade, conjugadas com uma maior prosperidade económica e prestígio internacional. A decoração reflete a influência do Barroco romano, devido à influência de gravuras e tratados (como o Perspectiva pictorum et architectorum de Andrea Pozzo), à importação de obras de arte de Itália e à vinda para Portugal de artistas italianos ou de formação italiana. A talha em geral, e os retábulos em particular, vão seguir este novo espírito, adotando um novo esquema movimentado e cenográfico, abandonando uma certa rigidez que caracterizava a talha nacional. Na estrutura retabular são utilizadas colunas salomónicas; as figurações humanas multiplicam-se, com destaque para os atlantes que sustentam toda a composição; o trono eucarístico é tratado de forma mais majestosa; e a temática decorativa, de grande exuberância (querubins, elementos vegetalistas, sanefas, II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 77 cortinados, festões, etc.) contribui para o crescente ritmo cénico. A decoração espalha-se por toda a igreja, chegando ao extremo de cobrir literalmente toda a superfície disponível – abóbadas, paredes, colunas, arcos e púlpitos –, como acontece nas igrejas de Santa Clara e de São Francisco, no Porto. Em Lisboa, são exemplares deste período: os retábulos dos altares principais das igrejas da Pena e de Santa Catarina e ainda a talha do Convento da Madre de Deus e da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Marvila. O período rococó manifesta-se em Portugal a partir dos finais da primeira metade de Setecentos, sendo marcante a influência de artistas franceses como Quillard, Debrie, Le Bouteaux e Meissonier. A talha caracteriza-se por formas assimétricas e flamejantes, remates sinuosos e linhas onduladas, apresentando as diversas escolas interpretações muito próprias. Apesar da diversidade regional, é de salientar a talha rococó do Norte, nomeadamente a da região de Braga onde trabalhou André Soares. Tachismo (corrente/movimento) Vocábulo derivado do francês (de tache, palavra que significa mancha) usado pela primeira em 1951 pela crítica de arte – primeiro por Pierre Guéguen e por Charles Estienne (1908-1966) e depois difundido por Michel Tapié – para nomear a pintura abstrata nascida no pós-2.ª Grande Guerra (anos 40 e 50 do século XX) que se opunha quer à arte abstrata geométrica (suprematismo, neoplasticismo e construtivismo), quer a qualquer outra corrente até aí conhecida. Caracterizava-se pelo uso de manchas cromáticas de formas irregulares, com ou sem textura, executadas por pinceladas animadas por gestos soltos e espontâneos, em tinta grosseiramente misturada ou retirada diretamente dos tubos; estas manchas podiam estar associadas a jatos e escorridos, pingos e linhas orgânicas, numa proximidade à caligrafia [ver lettering]. É, assim, uma pintura abstrata, sensitiva, orgânica e espontânea que se exprime unicamente através da matéria pictural, afastando-se da restante pintura abstrata europeia que, negando o conteúdo figurativo, continuava contudo ligada aos valores clássicos da composição. Entre os artistas associados ao movimento estão: Henri Michaux (1889-1984), Camille Bryen (1907-1977), Georges Mathieu (1921-2012), Sam Francis (1923-1994), Jean Messagier (1920-1999) e Arnulf Rainer (n. 1929). O Tachismo tem sido considerado como o equivalente europeu da Arte Informal e do Expressionismo Abstrato americano. 2/19/14 3:31 PM 78 Ideias & Imagens | Guia do Professor Movimento estético inglês nascido em Londres no início do século XX, com expressão na literatura e nas artes plásticas. Neste último campo assumiu-se como uma alternativa ao expressionismo, ao cubismo e ao futurismo, embora receba destes movimentos as suas principais influências. Teve como fundadores o pintor e escritor canadiano Percy Wyndham Lewis (1882-1957) e o escritor e poeta americano a viver na Europa Ezra Pound (1885-1972), a que se associaram mais nove artistas ingleses. Juntos formaram o grupo de onze que assinou o Manifesto do movimento, publicado no primeiro número da revista Blast, magazine literária propriedade do Vorticismo, saído em 2 de julho de 1914. Tal como o Futurismo, o Vorticismo exaltou a modernidade – as máquinas, a indústria, as grandes cidades, o cinema –, mas fê-lo de modo diferente. Ezra Pound escreveu um artigo citando as diferenças II11GP_20133335_F05_4PCimg.indd 78 entre Vorticismo e Futurismo: «O Futurismo descende do impressionismo. Na medida em que constitui um movimento artístico, é uma espécie de impressionismo acelerado. É uma arte de superfície, ou extensiva, em contraste com o Vorticismo, que é intensivo. [...] O Futurismo é essencialmente uma aceleração de imagens sucessivas – como o Nu descendo As Escadas, de Marcel Duchamp; o Vorticismo amplia essa aceleração em profundidade, criando um turbilhão de perspetivas, ou seja, um vórtice.» Numa pintura vorticista, a vida moderna é-nos mostrada como um feixe de linhas de cores “duras” que canalizam o olho do observador para o centro da tela. II11GP © Porto Editora Vorticismo (corrente/movimento) Nascido em Londres, em tempo de guerra, o movimento, que ambicionava internacionalizar-se, teve, contudo, curta duração, não se mantendo para além de 1919. Deixou, todavia, forte influência no modernismo britânico, em obras de artistas como Henri Moore (1898-1986), Francis Bacon (1909-1992) e Ben Nicholson (1894-1982). 2/19/14 3:31 PM