Movimentos Sociais Brasileiros
Você imagina a democracia sem eles?
Com a vitória de um metalúrgico como presidente do Brasil muita coisa mudou
na política nacional. A primeira mudança quase imediata aconteceu nos
discursos dos grupos empresariais. Quase que por mágica as palavras
mercado,
estado
mínimo,
privatizações saíram
da
agenda
dos lideres
empresariais e entraram temas como solidariedade, sustentabilidade, pacto
social, justiça e inclusão.
Para um observador mais atento chegou a doer nos ouvidos certas lideranças
que meses atrás faziam palestras enfatizando que o caminho único era o do
livre mercado e da restrição das ações do estado na economia passarem, como
que por metamorfose, a defenderem políticas de um estado de bem estar
social,fazendo marketing com o Programa Fome Zero e apoiando as iniciativas
do Governo Brasileiro na promoção de um país mais justo.
Mas logo ficou claro que a postura pública mais próxima das idéias do novo
governante era apenas uma roupagem nova para a mesma política de usar o
estado para os privilégios de sempre. Como era arriscado atacar o governante
iniciou-se um processo de criminalizar seus aliados e a sua base social - os
movimentos sociais organizados que são os verdadeiros protagonistas da
vitória do metalúrgico à Presidência.
Neste sentido, começou uma campanha de criminalização dos movimentos
sociais e das ONGs que atuam como apoio a estes movimentos por verem
neles o protagonismo da sociedade civil organizada. Aqui cabe uma pequena
reflexão sobre a postura de determinados setores quanto aos movimentos
sociais organizados. Estes setores quando olham o povo reunido, mas sem
opinião, sem direção, sem políticas claras enxergam aí o genuíno povo
brasileiro e louvam sua presença.
Mas quando vêem um povo organizado, com opinião própria, com liderança,
com posições e bandeiras claras, de imediato denunciam uma suposta
manipulação por lideranças escusas e estranhas ao povo brasileiro, como se
povo organizado com opinião própria fosse algo impensado.
Esta campanha de criminalizar as ações legitimas dos movimentos sociais
brasileiros tem sido cada vez mais freqüente no sul do Brasil. Atualmente
temos mais de 100 lideranças do Movimento dos Atingidos pelas Barragens –
MAB respondendo processos judiciais em função das ações de mobilização
denunciando
o
hidroelétricas;
desrespeito
há
cerca
dos
direitos
40
mulheres
de
humanos
do
na
Movimento
instalação
de
de
Mulheres
Camponesas – MMC na mesma situação por tentarem trazer à público as
ilegalidades das empresas de reflorestamento que desrespeitam a Constituição
Federal ao plantarem mudas a menos de 200 quilômetro das fronteiras; hoje
várias lideranças da marcha do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra estão
respondendo a ações judiciais por se mobilizarem de forma pacifica, legitima e
eu diria até patriótica estão exigindo do estado brasileiro que ele cumpra com
a Lei do Plano Plurianual e as Leis de Diretrizes Orçamentárias dos anos de
2004, 2005 e 2006 que foram aprovadas democraticamente e DETERMINARAM
recursos para a reforma agrária
É preciso abrir os olhos da sociedade brasileira para o fato de que a violência
não é maior no Brasil porque milhões de pessoas ainda acreditam na
democracia e, ao invés de tentar conquistar pelas próprias mãos seus direitos,
organizam
movimentos
sociais,
exigem
dos
poderes
constituídos
democraticamente que os mesmos cumpram com as suas obrigações. Em
suma, acreditam na democracia.
A ABONG acredita que a democracia brasileira somente irá se consolidar
quando o estado estiver aberto para receber as demandas sociais e tenha
mecanismos de diálogo com as mais diversas formas de organização da
sociedade. Quando o estado não se colocar à serviço das grandes corporações
empresariais que, quando interessa colocam a lei na mesa, mas não titubeiam
em contratar milícias armadas para assassinar trabalhadores que lutam por
seus direitos.
A ABONG aposta e apóia os movimentos sociais urbanos e rurais, os
movimentos por direitos das mulheres, dos afrodescendentes, das crianças e
adolescentes, da juventude, dos indígenas, pela direitos dos mais variados
segmentos culturais. Criminalizar os movimentos sociais é desacreditar na
democracia. É uma nova forma de manter os privilégios nas mãos da minoria
que sempre se beneficiou das políticas públicas para seus interesses. Para nós
é impossível democracia sem os movimentos sociais brasileiros.
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