TEMA TRANSPORTE DE OBRAS DE ARTE BIDIMENSIONAIS PELO MODAL AÉREO E SUAS PARTICULARIDADES AUTOR PRINCIPAL Mário Pereira Roque Filho (Fatec Guarulhos) [email protected] OUTROS AUTORES Bianca Rariz Silva (Fatec Guarulhos) [email protected] Fabiane da Veiga Alves (Fatec Guarulhos) [email protected] Patrícia Pereira Amaral(Fatec Guarulhos) [email protected] ÁREA TEMÁTICA Transporte de Cargas Especiais e Perigosas RESUMO Este artigo procura demonstrar a análise do transporte de obras de arte (bidimensionais) na modalidade aérea. Fundamenta-se em pesquisa exploratória, onde foram levantados livros e textos publicados, visita técnica e questionário qualitativo. Apresenta o transporte aéreo e as cargas especiais, onde são mostradas algumas informações quanto à especificidade do modal aéreo no que tange ao transporte de obras bidimensionais; informações estas colhidas por fonte oral devido à experiência prática profissional de um courier. Em seguida é apresentada a importância das embalagens quanto à integridade física e estrutural das obras de arte. Destacamos na pesquisa o profissional responsável por acompanhar as obras de arte de prego a prego (da origem ao destino), o courier que é um técnico com condições de acompanhar e garantir que todas as etapas do traslado sejam efetuadas corretamente. Por fim, é apresentado o resultado da pesquisa por meio da percepção de duas funcionárias de diferentes instituições, mas especificamente, de dois dos principais museus de São Paulo, MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e MAB Museu de Arte Brasileira da FAAP Faculdade Armando Álvares Penteado, através de questionário qualitativo e pesquisa de campo, questionário este que confirma a pesquisa exploratória bibliográfica e documental. Palavras-chave: Transporte (bidimensional). Embalagem aéreo. Obra de Arte ABSTRACT This artigue seeks to demonstrate how the international loan of screen processes occurs, with regards to logistics, techniques and procedures. The research is still examining the transport of art works (two-dimensional) in air transportation. Based on exploratory research literature and documents, were collected books and published papers, technical visit and qualitative questionnaire. The first stage presents air transportation and specials cargos, which is shown some information on the specificity of transport art works (two-dimensional) by air, information gathered by oral source due to the experience of professional practice - courier. It is then shown the importance of packing regarding the physical and structural of the art works. The research highlight the professional responsible for monitoring the art works, nail to nail, the courier, it is a technician in a position to monitor and ensure that all stages of the transfer are performed correctly. Finally, it is present the research results through the perception of two employees of different institutions, but specifically, two of major São Paulo museums, MASP – College Paulo´s Art Brazilian Museum and FAAP Museum – Armando Álvares Penteado University Museum, through qualitative questionnaire ad field research, this survey confirm the exploratory research literature and documents. Keywords: Air transport. Art Work (two-dimensional), Packaging INTRODUÇÃO Coletar, guardar ou distribuir materiais diversos de modo separado ou agrupado, são atos próprios e essenciais do homem. Existem, porém, certas diferenças no que tange ao tipo, seleção, tratamento a ser dado, propósito e preço atribuído, entre outros. Certos objetos tornaram-se especiais e raros ao longo da história, como os achados em escavações arqueológicas, outros produzidos pelo homem, legados materiais e intelectuais. Para guardar tais relíquias foram criados os museus. Grandes museus reúnem profissionais de diferentes áreas, museólogos, conservadores, arquitetos, gestores logísticos, historiadores, químicos e muitos mais, devido à curadoria e montagem de exposições, pois nesses momentos fica óbvia a necessidade de inúmeros profissionais exigindo grande conhecimento. As exposições oferecem idéias, formas, além de comunicar o assunto tratado na obra de maneira clara para que qualquer que seja o visitante possa compreender. Para a realização de uma exposição existem inúmeras questões envolvidas. Ao considerar os aspectos sóciopolítico-econômicos, tem-se um grande trabalho a ser feito e muitas fases que são ignoradas pelo público visitante. Os diferentes profissionais se completam e caminham para uma concordância de idéias que resulta na exposição. Da origem ao destino, é imprescindível estar atento às técnicas de conservação dos objetos à mostra, à escolha dos materiais a se fazer uso como suporte, ao lugar de montagem, ao clima local (temperatura), à umidade, a intensidade e qualidade da iluminação, a embalagem, o meio de transporte, enfim, a logística necessária para que uma exposição aconteça. (SHELLEY,2010) Segundo Banzato (1987), existem quatro modos de transporte: modal, segmentado, sucessivo e intermodal ou multimodal. Modal: quando a mercadoria é transportada utilizando-se apenas um meio de transporte. Segmentado: quando se utilizam veículos diferentes e são contratados separadamente os vários serviços e os diferentes transportadores que terão a seu cargo a condução da mercadoria do ponto de expedição até o destino final. Sucessivo: quando a mercadoria, para alcançar o destino final necessita ser transportada para prosseguimento em veículos da mesma modalidade de transporte. Intermodal ou Multimodal: quando a mercadoria é transportada utilizando-se duas ou mais modalidades de transporte. No transporte de obra de arte se aplica o modal, o segmentado e intermodal ou multimodal. Considerando que as Obras de arte, atualmente, são geralmente transportadas pelo modal rodoviário, aéreo e raramente pelo marítimo, existem muitos desafios desses transportes. (BANZATO, 1997). A Arte e o Transporte Aéreo: A história de um encontro A palavra transporte origina-se do latim. “Trans” significa, de um lado a outro e “portare” significa, carregar. Pode-se dizer que, em resumo, transporte é o deslocamento de passageiros ou cargas de um lugar para outro. O meio de transporte na modalidade aérea teve um importante crescimento nas últimas décadas, com ênfase para o transporte de passageiros, devido às mudanças estruturais ocorridas no setor: modernização das aeronaves e acesso das pessoas ao transporte frente à queda dos preços das passagens aéreas. Houve um crescimento expressivo no transporte de passageiros, entretanto, o mesmo não ocorre com o transporte de cargas, por ter um alto custo em função da incapacidade de deslocamento de grande volume, ademais, os custos de manutenção e combustível das aeronaves são elevados. Desta forma, o transporte aéreo de cargas ocorre devido à necessidade de agilidade na entrega ou recebimento de algo ou em casos específicos tais como: cargas leves, produtos perecíveis, carga valor, cargas vivas, etc. (BALLOU, 2007). Vibrações - Alguns tipos de aeronaves podem apresentar vibrações intensas em pontos de sua estrutura, na faixa de 300 a 500 Hz. Embora as intensidades destas vibrações sejam relativamente baixas, podem acorrer danos por fadiga em peças que respondam às freqüências de vibração mantidas durante muitas horas. Temperatura e Umidade – A temperatura do avião em voo a grande altitude, principalmente à noite, pode cair a níveis muito baixos. Como consequência, haverá um aumento da umidade relativa interna se ele não for equipado com desumificadores. Pressão – As mercadorias insensíveis a baixas pressões, como sapatos, tecidos etc., são colocados nos compartimentos normais do avião, não pressurizados. Outras cargas, porém, como animais vivos e aerosóis, devem ser colocados em compartimentos pressurizados. Cargas Especiais - Obras de Arte Carga especial é toda e qualquer carga que de acordo com a sua natureza, peso ou dimensões, necessita de cuidados especiais no manuseio, carregamento e descarregamento. A carga especial somente é aceita mediante determinadas condições, estando subordinada a exigências de transporte e armazenamento especiais. Quando esta é transportada na modalidade aérea deve-se informar o comandante do voo, por meio do NOTOC Notification To Captain Formulário de Notificação ao Comandante. As caixas que contêm as obras de arte jamais devem ser abertas durante o percurso da sua viagem, nem mesmo para inspeções aduaneiras. As aberturas das caixas devem ocorrer no local da exposição. Quando forem transportadas por via aérea, deverá seguir como bagagem de mão ou como carga de valor. Em ambos os casos o museu poderá designar um courier para acompanhar a obra. Sob determinadas circunstâncias e, em acordo com a instituição requerente, o museu poderá designar um segundo courier e/ou a presença de um técnico especialista para a montagem e desmontagem da obra de arte. Os bilhetes de avião serão de classe econômica. No caso de a obra de arte ser transportada como bagagem de mão, ou o voo durar mais de seis horas (incluindo conexões), o bilhete de avião será de classe executiva. As despesas de transporte, ida e volta de alojamento e despesas do courier, ou qualquer outra pessoa designada pelo museu para acompanhar as obras serão de responsabilidade da instituição requerente. RELATO CIRCUNSTANCIADO Para a realização desta pesquisa foram utilizados métodos bibliográficos e documentais realizados na biblioteca do MASP (Museu de Artes de São Paulo Assis Chateaubriand), em sites e trabalhos referentes ao assunto, visando um maior conhecimento na área desejada. Foram consideradas notícias de telejornais, realizam-se também, visitas técnicas com o intuito de localizar os gargalos do processo logístico, a maneira que os funcionários desempenham suas tarefas, bem como conferir se as bases teóricas são adotadas no processo prático. Realizou-se questionário qualitativo com a Coordenadora de Intercâmbio do MASP e (via email) com a Administradora do MAB (Museu de Arte Brasileira da FAAP Faculdade Armando Álvares Penteado), buscou-se descobrir quais são os métodos e medidas tomados pelas instituições e seus colaboradores para o transporte seguro de obras de arte e quais são as maiores dificuldades dos profissionais que acompanham as obras nos seus trajetos. Neste trabalho dá-se uma visão geral do transporte de obras de arte (bidimensionais). Apresenta-se a vinculação dos parâmetros logísticos para atender às exigências de uma exposição em todos os seus processos. Método Entrevistada: Claudia Caroli Administradora do museu da FAAP Museu da FAAP Faculdade Armando Alvares Penteado Rua: Alagoas, 903 Higienópolis (São Paulo- SP) 1) Como o Masp analisa as condições de infraestrutura dos terminais de cargas dos aeroportos brasileiros no que diz respeito ao manuseio de cargas especiais, como as obras de arte? O museu se preocupa muito com a preservação das obras de arte, ao analisar as condições de infraestrutura dos terminais de carga; o certo seria um armazém climatizado, porque no caso da obra de arte, no aeroporto a colocam no cofre, ela fica protegida 24 h, mas, não é o local ideal, além da segurança necessita de climatização (25ºC com oscilações de 2ºC para mais ou para menos). 2) De acordo com estudos realizados, uma pintura não pode ser transportada deitada ou inclinada. Quais são os reais motivos para esta especificação? Além de não poder ser deitada e inclinada, a posição ideal para uma obra de arte (tela) pelo modal aéreo é no sentido da direção do vôo, se não for assim ela pode sofrer com as vibrações e as partículas de pintura podem se desprender. Outro ponto importante a considerar é que só emprestamos obras cuja caixa atinja 1,60m porque é a altura máxima que a porta do avião permite, pois acima de 1,60m tem que tombar ligeiramente a obra para poder entrar. Se a obra for maior que 1,60m tem que viajar em aeronave cargueira. 3) Sabe-se que algumas obras são acompanhadas por profissionais conhecidos como couriers. Toda obra de arte é obrigatoriamente acompanhada por um courier? Se não, o que determina o acompanhamento da obra? No caso do MASP é obrigatório, sempre viaja com courier. O courier é uma questão de segurança da obra, as seguradoras (como os valores são muito altos) exigem um acompanhamento constante. 4) Um courier acompanha a obra “prego a prego”, durante esse processo quais são as maiores dificuldades encontradas? O que pode ser considerado como “um gargalo”? Nós temos um pouco de dificuldade com os fiscais da receita. Há uns vinte anos, o fiscal da alfândega vinha até o museu e acompanhava a embalagem da obra para não ser aberta no aeroporto. Atualmente, devido a custos, o fiscal não vem mais ao museu. Por haver grande rotatividade de fiscais, há aqueles que querem abrir e verificar o conteúdo, então, conversamos muito, apelo para o bom senso e depois de muita conversa resolvemos. Outro gargalo é a morosidade interna da documentação que deveria ser um pouco menos burocrática. 5) De acordo com pesquisa realizada, o museu é responsável pelo manuseio e embalagem da obra. A partir de que momento a transportadora começa a atuar no que tange à responsabilidade? No MASP, os nossos técnicos embalam com o material que a transportadora traz, mas a responsabilidade passa a ser da transportadora no momento em que ela literalmente pega a caixa e a coloca no carrinho para levar até o caminhão, até o momento da entrega nos terminais de carga da Infraero. 6) Qual a documentação necessária para o transporte aéreo de obras de arte? Sabemos que as obras de arte só podem ser desembaladas no lugar de destino. Em casos de conexão qual a documentação exigida para que não haja abertura da obra nos postos alfandegários e de imigração? Depende das características da obra, no caso tela, na área pressurizada. Segue como bagagem de mão quando pequena e fácil de manusear. 7) Quais as tecnologias que estão sendo utilizadas para auxiliar no processo de segurança do transporte de obras de arte? As que conheço são sensores, lacres; a transportadora usa um adesivo para não ser rompido. 8) Pensando na preservação e cuidado com o meio ambiente, que medidas o museu toma em relação à reciclagem, ao descarte das embalagens utilizadas para contenção e proteção das obras de arte? Nós temos muita consciência em questão de reciclagem e aproveitamento de materiais, nossos funcionários de área de conservação em geral utilizam retalhos de Tyvec, por exemplo, para embalar e guardar objetos pequenos. Aqui no MASP temos um setor educativo que reutiliza materiais como, isopor, caixa, madeira, num ateliê aberto à comunidade. Antigamente, havia marceneiros no museu, hoje as embalagens são de responsabilidade das transportadoras, que muitas vezes reformam embalagens antigas para fazer novas caixas, acho que é uma consciência que o mundo inteiro está tomando. 9) De acordo com a literatura, quando ocorre o transporte aéreo de obras de arte todos os profissionais envolvidos no processo, sem exceção, devem estar cientes desta carga especial. Por que é feita esta exigência e qual a sua importância? Anos atrás era muito comum essa cadeia de informações, atualmente ela é mais restrita entre despachante, Cia aérea, a instituição requisitante e a que empresta, pois não é conveniente identificar o nome da obra, o nome do autor porque só vai atrair a atenção de um eventual criminoso, então temos que manter o maior sigilo no transporte. Em casos excepcionais em que a obra viaja como bagagem de mão, é inevitável que todos, inclusive a tripulação, não fique sabendo, já que é reservado um assento para a obra e outro para o courier. 10) Quais os procedimentos adotados quando o laudo técnico não está de acordo com o estado da obra? Em caso de avaria quem responde pelos custos e restauração? Avaria é muito raro acontecer e quando acontece está coberta pelo seguro que inclui custo de restauração e reparação. 11) Sabe-se que as aeronaves mistas (que transportam passageiros e cargas), possuem porão que é dividido entre área pressurizada e despressurizada. Em qual dessas áreas as obras devem ficar e em que situação elas seguem como bagagem de mão? Depende das características da obra, no caso tela, na área pressurizada. Segue como bagagem de mão quando pequena e fácil de manusear. CONCLUSÕES Com base na pesquisa apresentada podemos assegurar que a teoria é aplicada à prática, no que diz respeito aos processos logísticos com razoável adequabilidade no sistema de transporte aéreo, com o levantamento de diversos tópicos de análise. Percebe-se que existe uma grande preocupação com a conservação, preservação, e integridade física da obra de arte, desde sua origem ao destino. Embora o transporte aéreo tenha sofrido uma grande evolução ao longo dos anos, ainda encontra-se alguma resistência quanto ao transporte aéreo de obras de arte dentro do país, uma vez que as instituições dão preferência ao transporte rodoviário nacional. Além disso, ainda notam-se alguns problemas quanto à consciência cultural uma vez que as dificuldades referentes à liberação alfandegária dão-se por falta de sapiência da importância histórica e patrimonial das obras de arte. Vislumbra-se, então, um grande e alarmante entrave a ser vencido. Nesse aspecto percebe-se que o sistema se preocupa em se adequar para o atendimento dessa deficiência. As técnicas e procedimentos por sua vez se mostram bem precisos em apresentar padrões e equipamentos que melhorem os processos para a realização de uma exposição. As operações para uma grande exposição são complicadas e trabalhosas, envolvem inúmeros profissionais de diferentes áreas. Uma boa comunicação entre as partes envolvidas é imprescindível. Se uma dessas partes encontra problemas por falta de conhecimento, competência ou indecisão, provavelmente o resto dos procedimentos sofrerão as consequências. Qualquer que seja o erro, dificilmente uma instituição ou colecionador emprestará a obra novamente. O ideal é fazer o possível e impossível para evitar erros na movimentação e montagem. Um bom planejamento de todas as fases evita problemas que não se esperam. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ballou, R. H. Logística Empresarial. São Paulo: Atlas, 2007. Banzato, R. A. Manual de Logística Volume 3. São Paulo: Imam, 1997. Crouch, T. D. Asas Uma história da aviação: das pipas à era espacial, Record, 2008. . Manual da IATA; Airport Handling Manual, 30TH, IATA, 2010 Manuseio e Embalagem das Obras de Arte. Rio de Janeiro: Funarte, 1989. MOURA, Reinaldo Aparecido ET AL. Dicionário de Logística: Supply Chain, movimentação e armazenagem, comércio exterior, produtividade e qualidade. 1 ed. São Paulo: IMAM, 2004. SHELLEY, Marjorie. The Care and Handling of Art Objects: practices in the Metropolian Museum of Art. Nova York: Metropolitan Museum of Art, 1987. STOLOW, Nathan. Conservation and Exhibition: packing, transport, storage and environmental considerations. Londres: Butterworth’s, 1987.