O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de ArteEducação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP Design at the Museum: Graphic Project of Material to Children’s Art-Education to the Museum of Art of São Paulo Assis Chateaubriand, MASP Razzo, Miriã; Graduada em Design com habilitação em Comunicação Visual; Faculdade de Administração e Artes de Limeira (FAAL) [email protected] Sniker, Tomas Guner; Mestre em Artes Visuais; Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) [email protected] Resumo O presente trabalho aborda o desenvolvimento de um projeto para material gráfico arteeducativo direcionado ao público infantil dentro de museus de arte paulistas, em específico, para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP. A partir de uma análise do público-alvo e suas relações com a arte e a experiência de visitação ao museu, objetivou-se o desenvolvimento de um material infantil estimulador de relações qualitativas com o fazer artístico. A produção deste material fundamentou-se nos métodos de concepção projetuais do design gráfico, estabelecendo correlações entre o museu e a exposição da arte. Palavras-chave: Arte-educação; museu; design gráfico. Abstract This paper discusses the development of a project for an art-educational graphic material directed at children within art museums in the city of São Paulo, in particular the Museum of Art of São Paulo Assis Chateaubriand, MASP. From an analysis of audience and their relationship with the art and the experience of visiting the museum, we aimed to develop a children's material able to stimulate qualitative relationships with the art making. The production of this material was based on projective methods of graphic design, aimed at establishing correlations between the museum and the exhibition of art. Keywords: Art-education; museum; graphic design. DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP Introdução A partir da metade do século XX, a preocupação com a arte-educação nos museus brasileiros ganhou espaço dentre as atividades proporcionadas nestas instituições. Vários são os programas e ações direcionados aos mais diversos públicos dentro dos museus paulistanos. No entanto, percebe-se que existe um grupo em específico que ainda não usufrui de toda a informação a respeito da arte que poderia receber nos museus. Este grupo compreende as crianças. Ainda que em grandes museus paulistanos existam atividades direcionadas às crianças, preparadas e executadas dentro de suas instalações, nota-se a ausência de qualquer material gráfico arte-educativo institucional distribuído gratuitamente ou mesmo vendido para as crianças. É possível verificar esta carência no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Museu de São Paulo de Arte Contemporânea), e no MAM (Museu de Arte Moderna). Tais museus mantêm programas arte-educativos, entretanto, a ausência de material gráfico desenvolvido em acordo com as necessidades do público infantil é claramente perceptível. Sendo assim, este trabalho contempla o desenvolvimento projetual deste material gráfico para ser usado em um museu paulistano. O MASP foi selecionado para o desenvolvimento de uma análise mais profunda e, posteriormente, para a produção deste material condizente com a sua realidade. Esta escolha se justifica também por se tratar de uma instituição com grande destaque na cidade de São Paulo e no Brasil, com um histórico significativo com relação às atividades de arte-educação infantil providas na cidade. Proposta de material gráfico arte-educativo para o MASP Apesar das diversas atividades mantidas no MASP, a abrangência da apresentação da arte à criança ainda é restrita, por fornecer apenas uma interlocução direta momentânea. Não existe no local material disponível sobre as exposições ou sobre o acervo do museu especialmente para crianças. Com isso, a instituição ainda deixa muito a desejar se comparada a museus como o The Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque (EUA), que possui ampla variedade de materiais gratuitos e não gratuitos distribuídos ou vendidos dentro de suas instalações, especialmente concebidos para o público infantil. A proposta deste projeto para o MASP fundamentou-se no estudo do processo de concepção artística criativa pela criança, o entendimento dos métodos de arte-educação empregados no museu, e a relação do conteúdo aplicado ao material com o design da informação. Deste modo, buscou-se a otimização das práticas pedagógicas voltadas para as crianças no ambiente do museu, por meio do emprego do processo de projeto de design gráfico na criação deste material, capaz de suprir a necessidade de comunicação pré e pósvisita, fomentando o interesse pela arte mediante diálogos e atividades baseados no desenvolvimento saudável da capacidade criadora infantil. O processo de projeto de design gráfico aplicado ao conteúdo relativo à arte e ao museu originou um folder apto a cumprir suas funções comunicativas. A criança Tendo em vista a criação de um material gráfico que funcione de forma incentivadora à expressão artística, é necessário compreender alguns pontos que constituem o processo criativo pela criança. Segundo Lowenfeld, a pintura da criança não é uma representação DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP objetiva, uma vez que ela combina seu conhecimento das coisas e sua relação própria e individual para com elas: Se a criança, em seu trabalho criador, procura continuamente relacionar entre si todas as suas experiências, tais como pensar, sentir, perceber (ver, tocar etc.), tudo isso deve também exercer um efeito de integração sobre a sua personalidade. (Lowenfeld, 1977, p. 17) Portanto, as manifestações artísticas favorecem, além da arte, o pensamento inventivo da criança. Desta forma, pode-se dizer que objetos de incentivo à pintura, ao desenho ou outras atividades artísticas gráficas, como cadernos para colorir, ou gráficos previamente elaborados com o intuito de fazer a criança terminar o que já está começado, são equivocados – do ponto de vista da arte-educação – pois interferem diretamente delimitando a liberdade de criação e expressão. Produtos como esses dirigem o pensamento da criança, suprimindo a liberdade de criação e sua expressividade individual já existente em sua personalidade. A criança torna-se inflexível, pois não é capaz, naquele momento ou naquela atividade, de reunir e exprimir suas próprias experiências de maneira artística e pessoal. O mesmo acontece nas situações em que a criança, ao ver uma obra de arte no museu, é influenciada por monitores a criar um desenho que seja parecido com a obra vista logo antes. Dessa forma, a identidade criativa da criança é anulada, e a capacidade de produção artística fica prejudicada. Buoro afirma que a pintura deve ser “[...] apresentada não como modelo a ser copiado pelos alunos, mas como objeto estético, que dialoga com a originalidade infantil” (Buoro, 2003, p. 48). Considerando que o processo criativo vem de uma somatória de relações entre fatores sociais e culturais, mais a experiência de vida específica do indivíduo e suas necessidades de expressão, Leite argumenta que “a relação com o outro é, então, de suma importância na formação do sujeito-desenhista.” (Leite, 2001, p. 111) Fazendo-se um paralelo com Lowenfeld, quando diz que a forma de apresentação da arte e o que é feito dela são extremamente importantes para o desenvolvimento da produção artística da criança (além de sua personalidade), é possível ver a linha conectora entre o “mediador” e a criança. O que é importante compreender é que a atividade dos mediadores, sejam eles pais ou educadores, é fundamental na apresentação da arte à criança, mas não é autossuficiente. A criança necessita desenvolver, por si só, meios de expressar sua identidade criativa, seja testando e errando, ou testando e acertando, mas sempre experimentando, ousando, fazendo, sem obedecer a um padrão estipulado por um adulto. Ela precisa de liberdade para colocar seu traço pessoal no papel, para exprimir aquilo que ocupa sua mente naquele momento, para expressar seus desejos e sua imaginação como bem entender. Portanto, o trato com a chamada mediação deve ser redobrado, tendo em vista os futuros danos causados quando esta é malfeita ou simplesmente ignorada. Trazendo-se estes argumentos para a realidade deste projeto, e considerando os seus usuários - as crianças - e o contexto onde será aplicado - o museu -, é perceptível que não haverá um interlocutor mediando diretamente esta atividade criativa da criança interagindo com o material gráfico. Entretanto, os diálogos e atividades propostos pelo material, neste caso, assumem a função do interlocutor indiretamente, pois serão elas que farão a mediação entre a criança e a arte. Além disso, é necessário não apenas atentar para questões de apresentação da arte, como também tomar os cuidados necessários para situar o produto no ponto de equilíbrio entre a indução de conceitos artísticos e a apresentação livre dos mesmos. O museu DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP O MASP foi pioneiro no Brasil em estabelecer atividades educativas para vários públicos. Suas atividades educativas iniciaram-se na década de 1940, e desde então vem promovendo cursos diversos em suas instalações. O Serviço Educativo, coordenadoria responsável pela interlocução criadora com o visitante, foi implantado em 19971. Em entrevista concedida em 06 de Março de 2010, o coordenador do Serviço Educativo do MASP, Paulo Portella Filho, explica como funcionam as visitas feitas ao MASP e as diferenças existentes entre o monitor tradicional e o interlocutor: O trabalho que o museu faz não é de monitoria, o trabalho que o museu faz não é conduzido por monitores, todo investimento que o museu faz pra isso - esse tipo de atuação direta – é claramente intermediado através de materiais éticos. (informação verbal)2 A monitoria tradicional, ditada e pré-concebida, além de prejudicar a função apresentativa da arte para com a criança, interfere de maneira significativa no desenvolvimento da criatividade infantil. O museu preza pela interlocução, uma atividade pessoal como a monitoria tradicional, porém distinta pelo tipo de abordagem, pois visa a transmissão das noções de arte presentes em determinada exposição, sem apelar para conceitos equivocados e/ou pré-definidos. O interlocutor é responsável por transmitir informações, por ser parte de uma conversa entre a obra de arte e a criança. Fazendo-se um paralelo com as produções gráficas, podemos equiparar um material que promova atividades mecânicas com a monitoria tradicional. Em contrapartida, podemos equiparar um material que promova atividades criativas, apresentando a arte ao mesmo tempo que incentiva a expressão criativa pessoal, com a interlocução presente em museus como o MASP. Portella Filho comenta a ausência de material gráfico disponível especificamente para crianças, e diz que não é por falta de interesse, mas por investir nas abordagens diretas entre o educador e a criança. Ele ainda argumenta que o MASP já adaptou publicações de outros países anteriormente, mas que nem sempre há um recurso prévio destinado especificamente para isso, no entanto admite que é favorável à criação de um material gráfico infantil para o museu: “Deveria existir uma produção, um material equivalente ao que existe nos museus correspondentes no mundo inteiro, mas é uma realidade que a gente tem” (informação verbal)3. Um material gráfico direcionado à análise geral e individual das obras de arte torna possível, consequentemente, uma absorção maior das informações vistas pessoalmente no museu. Além disso, ele ultrapassa o que foi visto e presenciado, pois o conteúdo ali presente não depende de uma correlação direta com o que está atualmente em exibição no museu, levando em consideração que o MASP, o museu foco desta pesquisa, alterna as peças de seu acervo em exibição constantemente. As funções do interlocutor, explícitas anteriormente, podem ser equiparadas com as funções aplicadas ao material gráfico por meio do diálogo estabelecido entre seu conteúdo e a criança. Dessa maneira, considerando as funções do interlocutor transpostas para a abordagem indireta, aliando-as ao conteúdo artístico característico do museu em questão, obtemos um material gráfico didático capaz de apresentar a arte presente no museu de forma educativa e incentivadora, fomentando a expressão artística e a criatividade infantil. Design gráfico do material O designer é responsável por traduzir uma determinada ideia para o campo visual e, DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP então, comunicá-la de forma eficiente por meio de técnicas e conceitos gráficos, facilitando e promovendo sua interpretação por parte de seu público-alvo. Então, pode-se afirmar que onde existe um usuário, existe a necessidade de aplicação do pensamento projetual inerente ao design. Neste trabalho em específico, tem-se um usuário carente de soluções comunicativas permanentes, público este que compreende não apenas as crianças da cidade de São Paulo que podem, com menos dificuldade, comparecer às atividades no ateliê infantil da instituição, mas também todas as outras que se deslocam de suas cidades numa oportunidade única de entrar em contato pessoal com a arte. Ao pensar o projeto como um todo, é necessário também pensar os elementos que compõem este folder explicativo. Esta peça gráfica, dentro de seu espaço, deve estar em coerência de linguagem, pois necessita comunicar visualmente seu conteúdo de maneira clara e única, uma vez que esta não exibe precedentes e nem pertence a um conjunto de materiais. A diagramação também é um elemento importante, pois nela se desenrolará o discurso gráfico, por meio do uso de tipografia adequada e harmônica entre si, que irá conferir ritmo ao conteúdo e à mensagem. Já o impacto provocado pela cor está além de uma mera sensação estética, ele tem uma forte ligação com o uso e com o propósito destinados ao elemento cor que, de acordo com Farina (2003), exerce uma ação tríplice sobre quem a recebe na forma de comunicação visual: impressionar, expressar e construir. Com relação ao uso das formas e das imagens para materiais direcionados ao público infantil, deve-se ter como prioridade a compreensão das formas e das imagens como elas devem ser entendidas de fato, evitando ao máximo a distorção de significado causada por elementos que as crianças, de acordo com cada idade e com o desenvolvimento biopsicológico da percepção, ainda não estão aptas a compreender. Além das formas, das imagens, das cores e da diagramação, outro elemento de fundamental importância na constituição de um impresso é o texto. Intrínseca ao texto de qualquer impresso está a tipografia utilizada para registrar graficamente o conteúdo textual. Analisando-se estes conceitos e técnicas, é possível perceber que, para o material infantil, o sentido de leitura e de observação da página deve ser claro e intuitivo, considerando que a tarefa de compreender as informações ali impressas já é bastante intensa, portanto não seria adequado adicionar mais um obstáculo a esta empreitada. De acordo com a linha de pensamento de Hurlburt (1980), também não é necessário usar letras com desenhos ou letras do estilo Fantasia, apenas porque se trata de um material voltado para as crianças. Paralelamente, mesmo se tratando de um material impresso contendo textos, não é obrigatório que o projeto textual seja construído com letras serifadas. As serifas, para um material infantil, acabam dificultando o processo de identificação dos caracteres, formação de palavras e compreensão do texto, uma vez que cada idade tem sua fase de leitura e, até que a criança alcance de 8 a 11 anos4, sua leitura ainda não é rápida e nem interpretativa. Uma das funções do designer implica em usar o material de forma que desperte o interesse à leitura, e isso inclui uma composição tipográfica que facilite a identificação de palavras e, consequentemente, do assunto disposto no impresso, incitando o interesse da criança para a leitura e apreciação do conteúdo. Famílias tipográficas regulares são mais adequadas a este público, juntamente com suas aplicações ao espaço, ao conjunto, às cores e às formas compostas no material. Sabendo ainda que as cores podem por si só transmitir ideias, sentimentos e expressões, é fundamental que elas sejam utilizadas neste projeto, uma vez que a presença delas é um elemento importante para apreender a atenção da criança ao material, incitando a curiosidade e favorecendo o aprendizado. A cor deve exercer as três funções básicas segundo Farina (2003) apresentadas anteriormente, impressionando a retina, expressando uma emoção de acordo com o conteúdo ali colocado, e construindo uma comunicação com a criança. A DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP “ausência de cor” (ou o uso exclusivo do preto e branco) também é desaconselhável, uma vez que empobrece o efeito de curiosidade que as cores implicam ao projeto, prejudicando a comunicação máxima com a criança. Com relação à transmissão de informação, sabe-se que ela abrange todo tipo de conteúdo emitido por alguém e recebido por outrem. Segundo Pignatari (2003), são quatro os canais envolvidos no processo total de transmissão da informação: fonte, emissor, receptor e destinatário. Neste caminho pelo qual atravessa o conteúdo da mensagem, podem haver obstáculos que atrapalhem sua recepção pura e, consequentemente, uma resposta satisfatória por parte do destinatário. Sabe-se ainda que as obras de arte também são informações, também são transmitidas e também são recebidas. Considerando que vivemos na chamada “era digital”, onde tudo está disponível a todos a qualquer hora através da internet, a obra de arte que antes era objeto único e exclusivo, disponível para poucos, agora é acessível a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Pignatari faz uma reflexão sobre a mudança de perspectiva entre o objeto e seu espectador: “[...] tem início a reversão do sistema de consumo da obra de arte: não é mais o espectador que vai ao objeto, mas o objeto que vai ao apreciador” (Pignatari, 2003, p. 48). Mesmo a criança que se desloca até o museu, ela está ali porque teve contato com alguma forma de arte que chegou até ela por meios de comunicação, por materiais educativos ou por intermédio de outro indivíduo. Ainda assim, a obra de arte chegou antes até seu apreciador, e só então o apreciador se deslocou até ela. A criança tem contato direto com a obra de arte original, coloca em prática seu fazer artístico e, numa situação ideal, dá continuidade ao seu aprendizado e desenvolvimento através de um material gráfico. Sendo ele distribuído dentro do ambiente do museu, o interesse da criança por seu conteúdo já está confirmado, ocasionando a redução de possíveis ruídos inseridos no processo de seleção. Portanto, a comunicação intencional deve ser recebida na totalidade de seu significado pretendido pelo emissor, principalmente pela ótica da informação estética. Então, se temos um material que emite informações estimuladoras da arte, a resposta exterior majoritária da criança será “faça arte” ou “tenha interesse na arte”, dependendo da proposta; e sua resposta interior dependerá de seu grau de proximidade com o assunto, de seu estímulo pessoal na ocasião e no momento da comunicação, e das possibilidades de colocar em prática a ação imediata indicada pela resposta exterior. A criança, ao visitar o museu e conhecer de perto o conteúdo referente ao universo artístico disponível ali, compila apenas uma parte do todo visto na memória e absorve parte das informações novas como conhecimento próprio. Com acesso ao material gráfico de conteúdo institucional, é possível aperfeiçoar a fixação das informações na mente infantil, obtendo uma resposta igualmente eficiente: um aprendizado que incremente o desenvolvimento artístico. Análise de similares Como base para o desenvolvimento do material gráfico, foram analisados alguns materiais com temática semelhante à deste projeto, distribuídos em um dos mais importantes museus mundiais, o The Metropolitan Museum of Art (MET), de Nova Iorque. Como a proposta deste projeto é criar um material que ainda não existe no ambiente em que será encontrado, há também um outro obstáculo para o sucesso do produto: a elaboração de atividades aplicadas ao material, juntamente aos diálogos estabelecidos em conjunto com a proposta conceitual. Um dos materiais analisados mostrou uma proposta mais próxima ao material institucional desenvolvido neste projeto. No material institucional “Kids Q&A”, distribuído DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP gratuitamente pelo museu nova-iorquino, há uma única atividade que estimula a percepção da criança durante a visita, atentando para as obras destacadas no top 10 do impresso, e pede para que indique qual a obra de arte que ela mais gostou na posição mais elevada do ranking (figuras 1 e 2). 1. “Kids Q&A”. 2. “Você escolhe o número um! – Qual a sua coisa favorita para ver no museu?” Atividades como as de “Kids Q&A”, são apropriadas para materiais institucionais devido à rapidez na execução das tarefas, podendo ser desenvolvidas durante o período da visita no museu. Na capa do impresso é possível observar um mapa em planta do museu, onde estão indicados os diversos setores em que a arte em exposição é classificada e localizada. A ideia do mapa é bastante interessante, mas a aplicação gráfica deixa a desejar se analisada do ponto de vista da funcionalidade e do interesse por parte do público. O detalhamento do mapa é complexo para algumas crianças, pois além de se empenharem em interpretar o conteúdo textual, precisam ainda decifrar os caminhos a percorrer de acordo com o mapa. No interior do material existe ainda uma classificação das obras de arte preferidas pelas crianças, numeradas de dois à dez, sendo o número um reservado para que a criança registre ali a sua obra de arte favorita. Esta atividade é didática e eficiente, pois não apenas DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP capta a atenção da criança ao material e a transpõe às obras vistas durante a visita, mas também permite que a criança exponha seu ponto de vista e decida criticamente o que registrar no topo da lista. O material é simples e barato, o que permite alcançar um grande número de crianças não só pela possibilidade de produção em maiores tiragens, mas também pela facilidade de compreensão dos conteúdos artístico e textual. Explore o MASP: desenvolvimento do material gráfico Como solução para o problema apresentado neste trabalho, idealizou-se a criação de um material institucional para distribuição gratuita, chamado “Explore o MASP”. Levando em consideração as possibilidades de patrocínio do museu, este material não teria condições de fazer uso de muitas páginas, o que certamente encareceria sua produção e dificultaria sua realização. Portanto, “Explore o MASP” foi pensado para ser um material de baixo custo por parte do museu, e de rápida compreensão por parte do público. Ocupando apenas uma folha com duas dobras, o material sugere um mapa pelo qual a criança é orientada a visitar todos os níveis públicos do museu, e ainda estimula sua percepção pessoal às obras ali expostas. Como este produto é um material institucional gratuito, com a intenção de ser distribuído para crianças de todas as idades, obviamente não poderia usufruir de um conteúdo muito extenso. Sendo assim, foi primordial a priorização da proposta temática do material ao invés da inclusão de várias atividades. O diálogo estabelecido nos textos é convidativo, de fácil compreensão e pensado de forma que pudesse transmitir o conteúdo e incentivar o fazerartístico sem pré-definir conceitos e sem direcionar a criatividade. O material teve sua concepção baseada na melhor aplicação ao público infantil, tanto com relação ao manuseio como em relação à própria temática visual. Portanto, com o intuito de reduzir custos e ser coerente ao design concebido, foram escolhidos o tipo de papel e o acabamento que melhor se adequassem às propostas estética e visual, sendo este o Papel Couchê Matte (fosco) 150 g/m2. Para os textos gerais deste material, a família escolhida foi a Helvetica que, além de completa, é uma fonte que favorece a leitura por parte do público infantil por sua forma levemente arredondada e também por sua semelhança com as letras utilizadas frequentemente nas salas de aula (figura 3). Além disso, não exibe serifas em seus caracteres, o que facilita ainda mais o rápido reconhecimento das letras. Em algumas áreas, optou-se pelo uso de outras tipografias, conferindo destaque ao conteúdo respectivo. 3. Sala de aula do ensino fundamental com alfabeto escolar em destaque. Com a finalidade de estabelecer a linha temática do material (a ideia de mapa do museu), a capa e a contracapa (figuras 4 e 5) foram constituídas por uma textura de pergaminho envelhecido, onde foram inseridos elementos característicos dos mapas do tesouro bastante conhecidos dos públicos infantil. Na capa, o destaque é a representação gráfica do edifício do MASP, famoso cartão-postal da cidade de São Paulo e referência obrigatória para toda a população paulistana. Se analisarmos o edifício do MASP semioticamente, podemos encaixá-lo na categoria dos ícones-símbolos, afinal, como ícone, DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP ele é a representação gráfica formal do MASP, e como símbolo, convencionalmente é relacionado à cidade de São Paulo. O título do impresso, “Explore o MASP”, recebeu ênfase pela tipografia utilizada, mantendo a fonte Futura do nome MASP, pertencente ao logotipo do museu, bem como sua cor original. 4. “Explore o MASP” – capa. 5. “Explore o MASP” – contracapa. A contracapa exibe informações importantes sobre o museu, como endereço, horário DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP de funcionamento e website, além de incentivar futuras visitas por meio do aviso sobre a entrada gratuita de crianças com até 10 anos de idade, destacado pela cor amarela sobre fundo marrom. Ao abrir o impresso, a criança logo se depara com duas seções (figura 6). A primeira delas, “Super Dica”, foi desenvolvida especialmente para chamar a atenção para duas áreas do museu, a Loja do MASP e o Ateliê Infantil do MASP. O padrão de textura aplicado à parte superior confere uma aparência divertida à cor marrom que, por seu caráter neutro, muitas vezes acaba transmitindo uma sensação demasiadamente séria. O amarelo da parte inferior é interpretado como alegria e proximidade, pois transfere suas qualidades de “cor quente” ao marrom neutro. As linhas pontilhadas, além de seguirem o padrão de textura da parte superior, trilham um caminho que delimita as informações dispostas nas seções, orientando a criança no sentido da leitura. 6. “Super Dica” e “Diário de Bordo”. Para a Loja do MASP, foi utilizada a figura de uma sacola de compras, ícone facilmente relacionado aos estabelecimentos comerciais. O texto ali disposto convida a criança a conhecer a loja e a levar uma recordação do museu para casa, promovendo o comércio de artigos e literaturas de arte encontrados na loja. Ao lado, o foco é o Ateliê Infantil do MASP, destacado pela fotografia de uma atividade em andamento no ateliê. Já a seção “Diário de Bordo” oferece a única atividade inserida neste material, propondo à criança que ela preste atenção às obras expostas no museu e que registre ali as coisas de que mais gostar. Sobre o mesmo fundo da seção anterior, foram dispostas folhas de caderno contendo o título da seção e os números de 1 a 9 em cada linha. O título foi composto em fonte manuscrita, com a finalidade de assemelhar-se ao estilo de caligrafia utilizado pelas professoras primárias e, desse modo, aproximar a criança da atividade proposta, incrementando seu interesse em registrar neste espaço as coisas de que mais gostou. Esta atividade promove o fazer-artístico de maneira indireta, pois enquanto incentiva a percepção do conteúdo artístico exposto no museu, estimula a criança a produzir suas próprias obras de arte em um momento oportuno. Ao registrar as coisas de que mais gostou durante a visita, a criança desenvolve seu senso crítico escolhendo aquilo de que deseja lembrar em detrimento daquilo que não lhe agradou o suficiente para ser registrado no “Diário de Bordo” e, consequentemente, em sua memória. DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP 7. “Explore o MASP” – mapa do museu. Ao abrir o impresso por completo, pode-se ver um corte do edifício do MASP, deixando à mostra todos os níveis públicos do museu (figura 7). Cada quadrante do material destaca um desses níveis em sentido horário de leitura, partindo do quadrante superior esquerdo. Cada nível é localizado no mapa por um indicador circular conectado a uma seta que direciona a leitura para o texto sobre cada um deles. Como o mapa foi construído com base em um corte longitudinal das instalações do museu, o layout da página foi elaborado a partir deste mesmo corte tendo, portanto, divisão entre céu e terra. Na divisão celeste, encontram-se dispostas as informações sobre os níveis superiores do museu e, na divisão terrestre, encontram os conteúdos sobre os níveis inferiores. Estas divisões ajudam na percepção dos níveis e na interpretação do corte, tarefa nem sempre fácil para o público infantil. No primeiro quadrante constam as informações sobre o “1º Piso”, destacadas por uma proteção azul escura sob letras claras. O texto informa aos pequenos sobre as exposições temporárias que ocupam este nível do museu de tempos em tempos, mas não informa sobre as exposições do momento, o que garante uma longevidade maior com relação à distribuição do material, uma vez que ele não vai sofrer reedições a cada troca de exposição. No segundo quadrante encontra-se o “2º Piso”, informando ao público sobre as exposições do acervo do MASP. Nesta área é dada ênfase à exposição “Olhar e Ser Visto”, com retratos e auto-retratos de vários artistas presentes no acervo do museu. O destaque aqui fica por conta da imagem da obra “O Escolar”, de Vincent Van Gogh, uma das obras encontradas nesta exposição. No terceiro quadrante, estão dispostas as informações sobre o “1º Subsolo”. O fundo amarelo recebe o mesmo padrão de textura das seções “Super Dica” e “Diário de Bordo”, transmitindo a sensação de solo e também conferindo um caráter divertido ao layout. Sobre o mesmo fundo estão localizadas as informações sobre o “2º Subsolo”, no quarto quadrante, referindo-se também ao Ateliê Infantil do MASP e exibindo uma fotografia de uma profissional do museu em atividade junto à criança no ateliê. Todo o conteúdo deste material baseou-se em estudos sobre a apresentação da arte à criança, de forma a transmitir informações artísticas sobre o acervo do museu incentivando, paralelamente, o exercício do DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN O Design no Museu: Projeto Gráfico para Material de Arte-Educação Infantil para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP fazer-artístico e o desenvolvimento do senso artístico crítico. Resultados Esta pesquisa, em conjunto com o desenvolvimento do material, possibilitou o conhecimento da situação atual do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), com relação à lacuna existe na produção e distribuição de materiais impressos destinados ao público infantil. A partir desta constatação, foram abordados assuntos diretamente relacionados aos materiais comumente produzidos com propostas arte-educativas para crianças e, analisando alguns pontos principais, chegou-se a um conjunto de diretrizes que, agregadas às teorias e técnicas relacionadas ao design, foram capazes de gerar um material passível de aplicação real no mercado editorial. Acredita-se que o material desenvolvido por meio desta pesquisa é capaz de cumprir as funções para as quais foi designado: promover a arte, estimular a criatividade e o fazer-artístico, e comunicar informações diretamente ligadas ao museu por intermédio do design, agente otimizador das atividades artísticas infantis. Notas 1. Informações disponíveis em: http://www.masp.art.br/masp2010/sobre_masp_historico.php. 2. Trecho de entrevista concedida por Paulo Portella Filho no MASP, São Paulo, em 06 de março de 2010. 3. Idem. 4. GAZOLA, André. O Desenvolvimento da Leitura em Crianças e Adolescentes. Lendo.org, 2008. Disponível em: http://www.lendo.org/desenvolvimento-leitura-criancasadolescentes/ Acesso em: 17 jul. 2010. Referências BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. São Paulo: SENAC, 2005. BUORO, Anamelia Bueno. O Olhar em Construção - Uma Experiência de Ensino e Aprendizagem da Arte na Escola. São Paulo: Cortez, 2003. DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ENCICLOPÉDIA dos Museus. Museu de Arte de São Paulo. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1973. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em Comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 2003. FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo; FUSARI, Maria Felisminda Rezende. Metodologia do Ensino de Arte. 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