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K-LOG: UMA FERRAMENTA PARA GESTÃO DO
CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES
Aura Celeste S. Cunha
Mestrado Profissional em Computação – UECE / CEFET-CE
[email protected]
Elian de Castro Machado, Ph.D.
Universidade Federal do Ceará – UFC
[email protected]
Resumo: A revolução tecnológica centrada na tecnologia da
informação tem sido o elemento impulsor das profundas
transformações sociais ocorridas nas sociedades. Do ponto de vista
acadêmico, a gestão do conhecimento representa um novo campo na
confluência entre teoria da organização, estratégia de gestão e
sistemas de informação, lidando principalmente com os aspectos
críticos para a adaptação e sobrevivência da organização, perante um
ambiente de mudança crescente e descontínua. John Robb, CEO da
Userland Software, disseminou o conceito de knowledge log ou k-log
que nada mais é do que um ‘blog’, abreviatura de ‘weblog’, voltado
para o ambiente corporativo com a finalidade de estimular a
colaboração e a organização pessoal do conhecimento. Através da
aplicação de k-logs em uma Intranet (e/ou Extranet) os indivíduos
dentro das organizações terão o poder e a responsabilidade de
expandir as formas pelas quais se conectam, além de ter uma
oportunidade de comunicar a sua “marca” – o seu capital intelectual
único – de forma mais ampla. O k-log pode ser visto como um
representante do novo modelo do espaço do conhecimento
preconizado por Lévy, no momento que surge como uma ferramenta
democrática nos processos de gestão do conhecimento nas
organizações.
Palavras-chave: k-log, blog, weblog, gestão do conhecimento,
tecnologias da informação.
1. O espaço do conhecimento na Sociedade em Rede
A revolução tecnológica centrada na tecnologia da informação tem sido
o elemento impulsor das profundas transformações sociais ocorridas
nas sociedades. Dawbor (1998) apresenta esse conjunto de
transformações como uma “sinergia da comunicação, informação e
formação, criando uma realidade nova conhecida como espaço do
conhecimento”. O conceito de educação frente a essa nova motivação
social, fruto de uma pressão generalizada no sentido de repensar a
dinâmica do conhecimento elevada a um outro nível, mais amplo em
sua atuação, e as novas funções do educador como mediador do
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processo, modificam o papel das estruturas de ensino no sentido de se
tornar muito mais um organizador dos espaços culturais e científicos do
que propriamente ser um mero transmissor de informação no sentido
mais tradicional. Na área organizacional essas transformações não
atuariam de forma diferente. Enquanto que nos sistemas de produção
tradicional as empresas poderiam se contentar com um trabalhador
pouco formado, hoje é fator sine qua non a excelência de formação
desse indivíduo, que não significa apenas uma formação de “carreira”,
pois o conceito de conhecimento especializado torna-se cada vez mais
fluídico, mas o indivíduo que faça parte desse universo de
conhecimentos, reduzindo a concepção de estoque de conhecimento a
transmitir e ampliando a utilização de metodologias de aprendizagem
em um processo de formação contínua, fator primordial para a
permanência desse individuo no mercado de trabalho.
A rede tem uma função primordial em toda essa revolução tecnológica
já mencionada. É a instituição da nossa época: um sistema aberto,
uma estrutura dissipada tão ricamente coerente que está em constante
fluxo, pronta para ser reorganizada, capaz de uma transformação
contínua. É o espaço cibernético de Pierre Lévy (2003), capaz de
transformar as relações humanas no seu aspecto social, educacional e
organizacional pela velocidade do surgimento e da renovação dos
saberes. É uma matriz para a exploração pessoal e a ação coletiva, a
autonomia e o relacionamento, na qual as “mensagens ganham
plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata,
alterando o saber-fluxo e o saber-transação de conhecimento e
modificando profundamente os dados do problema da educação e da
formação”. Frente a toda essa evolução, não cabe mais a
verticalização dos processos informacionais, a necessidade de novos
modelos do espaço dos conhecimentos abertos, não-lineares e
contínuos é uma constante.
Por ser um processo, uma jornada, e não uma estrutura cristalizada,
esse espaço apresenta uma grande massa de informações que tendem
a perder-se nesse universo profícuo e intenso; a questão está em
encontrar os melhores meios para “organizar” e compartilhar essas
informações conforme os objetivos ou contextos nos quais cada
indivíduo ocupa uma posição singular e evolutiva.
2. A gestão do conhecimento e a utilização da tecnologia da
informação
Do ponto de vista acadêmico, a gestão do conhecimento representa
um novo campo na confluência entre teoria da organização, estratégia
de gestão e sistemas de informação, lidando principalmente com os
aspectos críticos para a adaptação e sobrevivência da organização,
perante um ambiente de mudança crescente e descontínua. Para as
organizações mais inovadoras, o conhecimento coletivo é reconhecido
como uma competência fundamental para o desempenho
organizacional, baseando-se nas habilidades e experiências individuais
em relação ao trabalho realizado. Segundo Garvin (1998), a Gestão do
Conhecimento captura e compartilha bens intelectuais, com o objetivo
de conseguir melhores resultados em termos de produtividade e
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capacidade de inovação nas organizações. É um processo que
engloba gerar, reconhecer, assimilar e aproveitar o conhecimento com
vistas a conceber uma organização mais inteligente e competitiva.
É comum encontrar, na literatura especializada, as questões da gestão
do conhecimento associadas aos conceitos de aprendizagem
organizacional, reengenharia de processos, corporações virtuais, novas
formas de organização, educação para o trabalho, criatividade,
inovação e tecnologias da informação e comunicação (TIC).
O sociólogo Castells (2001) afirma que na Sociedade em Rede “a
formação será contínua e não se limitará à formação escolar”, os
indivíduos experimentarão mudanças constantes e deverão se adaptar
para viver em um mundo diferente dentre vários que serão criados
sucessivamente. Diante dessa perspectiva, Castells revela uma
mudança de paradigma da tecnologia da informação dentro das
organizações e apresenta algumas características importantes quanto
a sua matéria-prima: a informação. A primeira característica seria que,
de uma forma diferente das revoluções tecnológicas anteriores, as
tecnologias da informação serão tecnologias para agir sobre a
informação, não apenas informações para agir sobre a tecnologia.
Outra característica seria o alto grau de absorção dessas tecnologias,
uma vez que a informação é uma parte integral de toda a atividade
humana, todos os processos de uma existência individual e coletiva
são diretamente moldados (mas não determinados) pelo novo meio
tecnológico. Quanto à sua capacidade de reconfiguração característica topológica da rede que se expande e passa a ser
implementada materialmente em todos os tipos de processos e
organizações - na tentativa de estruturar o não-estruturado, mantendose a sua flexibilidade, um aspecto decisivo em uma sociedade
caracterizada por constantes mudanças e mobilidade organizacional. E
como última característica, e talvez a mais perceptível, é a
convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente
integrado, como, por exemplo, a multimídia interativa, na qual textos,
imagens, sons e vídeos estão presentes na rede, resultando em
informações com transformações permanentes ao permitir a interação
no seu mais alto nível.
O desafio para a área de tecnologias de informação passa a ser migrar
de uma posição de suporte a processos para o suporte a
competências. É preciso sair da condição do processamento de
transações, da integração da logística, do workflow, do comércio
eletrônico e até da implementação mais recente dos sistemas de
suporte à decisão, chamados de portais corporativos e agregar um
perfil de construção de formas de comunicação, de conversação e
aprendizagem on-the-job, de comunidades de trabalho e de
estruturação e acesso às idéias e experiências.
Nesse sentido, a empresa precisa de três itens fundamentais: uma
nova arquitetura de informação que inclua novas linguagens,
categorias e metáforas para identificar e desenvolver perfis e
competências; uma nova arquitetura tecnológica que seja mais social,
aberta, flexível, que respeite e atenda às necessidades individuais e
que dê poder aos seus usuários; uma nova arquitetura de aplicações
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mais orientada para a solução de problemas e para a representação do
conhecimento, do que somente voltada para as transações e
informações.
As estratégias para desenvolvimento do conhecimento devem ser
focalizadas na criação de mecanismos que permitam aos profissionais
manterem contatos e não apenas na captura e disseminação
centralizada de informação. As tecnologias de informação devem ser
utilizadas para facilitar a troca de experiências e o trabalho em conjunto
e também para mapear e acompanhar a participação de cada um.
As ferramentas tecnológicas de suporte ao conhecimento devem ser
flexíveis e de fácil utilização, dando a maior autonomia possível aos
membros das comunidades de trabalho, com um mínimo de
interferência da área.
As tecnologias úteis para a gestão do conhecimento são aquelas que
propiciam a integração das pessoas, que facilitam a eliminação das
fronteiras entre unidades de negócio, que ajudam a prevenir a
fragmentação das informações e permitem criar redes globais para
disseminação do conhecimento.
Em suma, as tecnologias de informação e comunicação devem ser
utilizadas para facilitar as atividades essenciais para a evolução da
empresa, tais como a solução de problemas e a inovação, frutos da
participação nas informações e experiências dos seus integrantes. Isso
significa fornecer os meios para que as pessoas possam representar
problemas, desenvolver protótipos e criar soluções. As ferramentas,
essas sim, devem ser flexíveis e fáceis de utilizar por todos na
organização.
3. K-log: o ‘blog’ do conhecimento
John Robb, CEO da Userland Software, disseminou o conceito de
knowledge log ou k-log que nada mais é do que um ‘weblog’, mais
comumente conhecido como ‘blog’, voltado para o ambiente
corporativo com a finalidade de estimular a colaboração e a
organização pessoal do conhecimento. Os blogs representam uma
forma simples de comunicar eletronicamente os seus pensamentos,
idéias e recursos. A interface relativamente simples torna o blog
acessível a todos os usuários de Internet (e/ou Intranet). O fato de que
controla o quê, como e quando o conteúdo é publicado, permite um
grau de liberdade que não tem estado disponível à maioria dos
usuários da Internet e, desta forma, comunidades de indivíduos com
interesses comuns podem se formar muito rapidamente. A diferença,
portanto, de um blog pessoal para um k-log não está no formato, mas
no conteúdo. Mais do que uma mera publicação pessoal, um k-log
pode ser compreendido como um companheiro no processo de
aprendizado e do trabalho cotidiano. Tendem a focalizar, naturalmente,
em assuntos de negócio e freqüentemente têm múltiplos contribuintes.
Os critérios para o sucesso de um k-log são os mesmo de um blog
pessoal: conteúdo útil e atualizado, personalidade e design limpos
podem assegurar uma via consistente para um k-log.
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Com a adição de características como uploading de arquivo e a
integração de e-mail, um k-log pode ser uma ferramenta poderosa para
a administração do conhecimento, administração de projeto ou
administração de conteúdo. Uma vez que fornece a possibilidade de
publicar, a cada momento, qualquer idéia, por menos estruturada ou
viável que seja, e revisitá-la posteriormente, acessar os comentários de
terceiros e possivelmente reconstruí-la de acordo com as novas
condições, é criado um ambiente de inovação e aperfeiçoamento
continuado, funcionando também um grande catalisador de insights.
4. Aplicação do k-log nas organizações
Através da aplicação de k-logs em uma Intranet (e/ou Extranet) os
indivíduos dentro das organizações terão o poder e a responsabilidade
de expandir as formas pelas quais se conectam e socializam suas
informações, além de ter uma oportunidade de comunicar a sua
“marca” – o seu capital intelectual único – de forma mais ampla. O fluxo
de conhecimento em uma organização pode ser altamente melhorado
através de um “blogging” eficaz, mas, tal como qualquer outra
ferramenta ou tecnologia, deve-se estabelecer inicialmente a
adequação cultural, a acessibilidade e as instruções de uso.
As categorias nas quais podem ser divididas as aplicações do k-log nas
organizações são: blogs de workgroup, blogs de projeto, blogs
individuais e blogs de Extranet.
O espírito corporativo atrás dos blogs de workgroup está em todos de
uma mesma equipe (RH, Desenvolvimento, Produção, etc.)
participarem e compartilharem as informações publicadas por cada
membro da equipe com o resto da organização. O fluxo da informação
é modificado drasticamente, uma vez que está aberto à toda
organização, fortalecendo o senso de equipe e trabalhando no aspecto
da identidade. Em um blog de grupo pode ser mais fácil procurar uma
informação do que em um e-mail ou um local de Intranet tradicional,
além de permitir ser um repositório único para documentos a fim de
evitar problemas com atualizações na organização.
Os blogs de Projeto criam um senso de identidade pela equipe do
projeto e provê um único ponto de contato para toda a comunicação
relacionada a ele, de conhecer notas e mudanças ocorridas para
reconhecimento público da excelência do esforço e das novas idéias
surgidas no grupo.
Os blogs individuais representam um modo para compartilhar a
referências individuais que participam do processo organizacional com
potenciais diferenciados dentro da organização. Atualmente, a área de
recrutamento online tem sido uma das mais dinâmicas dentro das
aplicações das tecnologias de informação no domínio da gestão de
pessoas e um blog individual se torna uma ferramenta criativa e
espontânea para a seleção e contratação de indivíduos que agreguem
valor à organização.
Os blogs de Extranet apresentam-se como um canal de comunicação
otimizado entre os clientes e funcionários de uma organização e isso
pode ter um efeito poderoso na linha de fundo de uma empresa.
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Como exemplos de utilização do k-log, podemos citar a experiência de
duas grandes empresas na área de informática: Pyra Labs que
desenvolveu um weblog interno denominado Stuff (www.pyra.com) e a
Cisco Systems que utiliza uma versão de teste de um weblog para
empresas chamado de Enterprise Blogger desenvolvido pela Pyra
Labs, uma das pioneiras da utilização de k-log como repositório de
informações e de compartilhamento de conhecimento. Uma descrição
detalhada dessas experiências pode ser encontrada no endereço
http://www.blogroots.com/chapters.blog/id/4, bem como a indicação
bibliográfica que auxiliará na implantação e manuseio de um weblog
corporativo (k-log) em http://www.blogroots.com/book.blog, do qual os
conceitos básicos de utilização dos k-logs em uma organização foram
utilizados como fonte deste trabalho.
5. Conclusão
O k-log pode ser visto como um representante do novo modelo do
espaço do conhecimento preconizado por Lévy (2003), no momento
em que surge como uma ferramenta democrática nos processos de
gestão do conhecimento nas organizações. Como falar em
compartilhar informações e difundir conhecimento quando são
utilizadas ferramentas voltadas para especialistas desta ou daquela
área? O k-log é a tecnologia da informação voltada para a informação,
com toda a fluidez, organicidade e plasticidade evidenciada pelos
estudiosos desse grande organismo vivo chamado rede. As
organizações voltadas para o aprendizado contínuo têm como centro
de seu compromisso possibilitar que os indivíduos dentro dessas
organizações aprendam e cresçam, em um processo de formação
contínua. Colocar à disposição ferramentas que permitam a autonomia
desses indivíduos é a função primordial da tecnologia da informação
utilizada por essas organizações.
6. Referências
ALVES, Rui. A Gestão do Conhecimento e as Tecnologias da
Informação. http://www.janelanaweb.com, acessado em março de
2003.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra,
2001. VOL. I, 5. ed.
GARVIN, D.A. Building a learning organization. Harvard Business
Review, 1998. p. 78-91.
LADISLAU, Dawbor. Conhecimento, educação e comunicação. Revista
ANPOCS, agosto de 1998.
LÉVY, Pierre. Educação e Cibercultura.
http://empresa.portoweb.com.br/pierrelevy/educaecyber.html, acessado
em março de 2003.
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LÉVY, Pierre. A Emergência do Cyberspace e as Mutações Culturais.
http://empresa.portoweb.com.br/pierrelevy/aemergen.html, acessado
em março de 2003.
http://whatis.techtarget.com/definition/0,,sid9_gci213547,00.html,
acessado em março de 2003.
http://www.aber.ac.uk/media/Documents/short/homepgid.html#A,
acessado em março de 2003.
http://www.sscnet.ucla.edu/soc/csoc/cinc/, acessado em março de
2003.
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