REPRESENTAÇÕES FEMININAS EM “UM ESCÂNDALO NA BOÊMIA” Ginê Duarte FERRO (UESPI)1 Maria do Socorro Baptista BARBOSA (UESPI)2 RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar as representações dos perfis femininos na escrita masculina em um conto do livro As Aventuras de Sherlock Holmes (1892)de Sir Arthur Conan Doyle, assim como pontuar as característicasdessas representações femininas através das suas ações e papeis na sociedade dentro do enredo. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, o instrumento utilizado foi o fichamento crítico do conto. O conto selecionado como corpus desse trabalho foi ―Um Escândalo na Boêmia‖ escrito em 1892 por Arthur Conan Doyle. Os perfis femininos analisados apresentam diferenças de comportamento em relação ao papel feminino da época vitoriana. Como afirma Dr. Watson ―Para Sherlock Holmes, ela é sempre a mulher‖ (DOYLE, 1892, p.1). O ―ela‖ na passagem acima é Irene Adler, que se torna uma personagem excepcional por conseguir enganar um dos detetives mais brilhantes na literatura (Sherlock Holmes). Para ele, ―Irene eclipsa e domina todo o sexo feminino‖ (DOYLE, 1892, p.1). Em contraste, temos o perfil feminino que é exemplo do que seria a mulher europeia no final do século XIX, a princesa que se casará com o rei da Boêmia. A 1 Mestrando em Letras – Literatura, memória e cultura (UESPI); Graduado em Letras – Língua Inglesa (UESPI); E-mail: [email protected] 2 Professor-orientador; Doutora em Letras – Inglês e Literatura Correspondente pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005) - UFSC; professora adjunta da Universidade Estadual do Piauí. E-mail: [email protected] análise foi feita tendo como referenciais Zolin (2010),Bourdieur (2012) e Beauvoir (2002), entre outros. PALAVRAS-CHAVE: Sherlock Holmes; Representação Feminina; Século XIX. ABSTRACT: This article has the aim to analyze the representation of the female profile in the male writing in a short story from the book The Adventures of Sherlock Holmes (1892) by Sir Arthur Conan Doyle, as well as punctuate the characteristics of these female representations through their actions and roles in society inside the plot. The methodology used was bibliographical research; the instrument used was critical analysis of the short story. The short story selected as corpus of this work was ―A Scandal in Bohemia‖ written in 1892 by Arthur Conan Doyle. The female profiles analyzed present behavioral differences in relation to the female role in the Victorian Age. As Dr. Watson claims ―To Sherlock Holmes, she is always the woman‖(DOYLE, 1892, p.239). The ―she‖ in the excerpt above is Irene Adler, who becomes an exceptional character because she can deceive one of the most brilliant detectives in all literature (Sherlock Holmes). To him ―she eclipses and predominates the whole of her sex.‖(DOYLE, 1892, p.239). In contrast, we have the female representation which is an example of what the European woman would be in the late 19th century, the princess who will get married with the hereditary King of Bohemia. The analysis was made having the references of Zolin (2010), Bourdieur (2012) and Beauvoir (2002), among others. Key Words: Sherlock Holmes; Feminine representation; 19th Century; 1 INTRODUÇÃO A leitura do conto O Escândalo na Boêmia de Sir Arthur Conan Doyle, publicado em 1892, mostra, em meio à narrativa envolvente que este romance policial busca proporcionar, representações femininas bastante diferentes entre si e do que se esperava da mulher vitoriana no final do século XIX. Esse conto causou bastante repercussão na época de sua publicação por ser a primeira vez que Sherlock Holmes 2 perdia um caso e logo para uma mulher. Este artigo tem como objetivo descrever o papel da mulher no final do século XIX, momento em que se passa o enredo do conto analisado aqui, no intuito de se compreender porque a personagem Irene Adler causou uma grande repercussão. O segundo objetivo é caracterizar e analisar as representações femininas dentro do conto ―Um Escândalo na Boêmia‖ e por último comparar as representações do conto entre si. Algumas questões importantes veem a tona quando se trata de representação, como por exemplo, se o personagem representado precisa se encaixar aos conceitos existentes em relação ao que se espera da masculinidade e da feminilidade da época em que se passa o enredo, outra questão é, se o personagem representa alguém quem ele representa? Para quem ele representa? ―O conceito de representação aponta significações múltiplas, entre elas, para o ato de fazer as vezes da realidade representada; ou para o de tornar uma realidade visível, exibindo-lhe a presença‖ (GINZBURG, 2001apud ZOLIN, 2009) O que se pode na verdade afirmar é que quando se trata de representações de gênero é que a personagem deve, simultaneamente, comporta-se de acordo com os parâmetros estabelecidos de masculinidade e feminilidade e ser verossímil, ―as representações são variáveis e determinadas pelos grupos ou pelas classes que as edificam; sendo que o poder e a dominação estão sempre presentes.‖ (ZOLIN, 2009). Para escrever uma obra literária o autor, independente do gênero, terá que se utilizar de personagens femininas e a construção de suas personagens terão parâmetros de feminilidade de acordo com a sociedade. Para se entender a construção dessas personagens no conto de Doyle é que se pretende descrever resumidamente o papel da mulher no final do século XIX na Inglaterra vitoriana agora. 2 A MULHER NO FINAL DO SÉCULO XIX NA INGLATERRA Quando falamos da mulher na Inglaterra no final do século XIX é impossível separá-la do ícone que a rainha Vitoria foi, pois até as vestes da mesma eram copiadas pelas mulheres da época. Durante o reinado da Rainha Vitoria o lugar da mulher era em casa como doméstica e mãe do lar que eram consideradas os únicos afazeres necessários a mulher dessa época. A era Vitoriana (1837 – 1901) é caracterizada como a era doméstica, mas quem era a mulher vitoriana? Além da esfera domestica, a mulher 3 vitoriana era virtuosa, devota, respeitável e ocupada, o que significava que ela não tinha uma vida prazerosa e tinha um papel de companheirismo e gerenciamento da casa. A mulher na Inglaterra do século XIX, principalmente a de classe média, passava mais tempo com os seus filhos do que com o marido. Apesar de este aspecto parecer um aprisionamento em relação aos dias de hoje, na época esse relacionamento com os filhos era considerado um avanço para as mulheres, tendo em vista que a mulher da idade média se via obrigada a dar a luz confinada em um quarto e que não tinham o habito de amamentar os filhos. A maternidade foi vista como a afirmação da identidade da mulher britânica.O idealismo feminino da época com a mulher sendo a dona de casa não atingiu somente a classe média, essa ideologia de trabalho doméstico também foi poderosa na classe trabalhadora. Os homens das classes trabalhadoras começaram a exigir os privilégios da domesticidade para suas esposas. Embora estivesse ocorrendo essa situação, a domesticidade para as mulheres das classes trabalhadoras significava uma ideologia bastante diferente do que o mesmo significava para as mulheres da classe média, pois, para as mulheres da classe média a domesticidade e a maternidade eram complementos emocionais, vistos como uma doce tarefa que nada tinha que se preocupar com as despesas da casa. Contudo a mulher de classe baixa tinha que trabalhar em casa, e por essa razão era mal remunerada e ainda tinha que manter os cuidados com o lar. Resumindo a mulher na Inglaterra no século XIX, apesar de algumas mudanças estarem acontecendo como os movimentos em relação a se ter o direito de votar, não era tão independente como queriam, pois a domesticidade era parte fundamental na vida delas. 3 SOBRE A OBRA “UM ESCÂNDALO NA BOÊMIA” Uma vez observado o papel da mulher vitoriana, época em que se passa o conto, é necessário entender o enredo capcioso desse conto que o torna marcante. ―Um Escândalo na Boêmia‖ foi publicado em 1892 e logo se tornou polêmico devido a um de seus personagens Irene Adler. Nesse conto temos o narrador-testemunha Dr. Watson, fiel companheiro de Sherlock Holmes, que já retrata no começo do conto a impressão que Sherlock Holmes tem sobre Irene Adler, ―Para Sherlock Holmes, ela é sempre a mulher‖ (DOYLE, 1892, p.239).Dr. Watson passava pela Baker Street 221b quando vê Holmes passando em frente à janela e decidi visitá-lo. Holmes diz que está esperando um cliente e que esse 4 caso vai ser interessante, o cliente logo chega tentado esconder sua identidade, contudo Holmes logo descobre de que se tratava do rei hereditário da Boêmia que logo fala o motivo de está lá. Alguns anos atrás o Rei da Boêmia tinha se apaixonado por uma contralto que se chamava Irene Adler que possuía uma foto com o rei que estava prestes a se casar com Clotilde Lothman von Saxe- Meningen, segunda filha do rei da Escandinávia e Irene ameaçava destruir o casamento com essa foto que ela mandaria no dia do anuncio docasamento do Rei. Holmes aceita o caso e no dia seguinte disfarçado parte para casa de Irene Adler a fim de descobrir mais informações. Logo Homes descobre que Irene se encontra frequentemente com um advogado chamado Godfrey Norton e por coincidência, naquele dia, o advogado apareceu na casa de Adler, permaneceu por meia hora e partiu em direção a igreja, Adler depois de pouco tempo também partiu na mesma direção, como não podia perder a oportunidade Holmes seguiu-os também e por esse motivo presenciará o casamento dos dois. Dado essa situação Holmes se apressa em arquitetar um plano temendo que Irene fosse embora com o advogado e ele perdesse a chance de recuperar a foto, para que isso não acontecesse ele coloca logo em prática seu plano. Após arquitetar o plano e passar os detalhes para Watson e pedir a sua ajuda também Holmes segue para a casa de Adler. Disfarçado como sacerdote Holmes fingiu está machucado após uma confusão que começará na rua no momento em que Irene descia da carruagem, toda a confusão tinha sido armada pelo próprio Sherlock Holmes. A moça oferece ajuda ao sacerdote que é levado para dentro de sua casa, nesse momento Holmes dá o sinal para que Watson jogasse uma bomba de fumaça dentro da casa e saísse gritando fogo, com a ameaça de fogo dentro da casa Irene correrá justamente para onde Holmes queria o lugar onde a foto estava guardada. Certo de onde está a foto Holmes vai a casa de Irene com o Rei da Boêmia e Watson, entretanto ao chegar lá se deparam com uma velha mulher que entrega um carta para Holmes com a assinatura de Irene. Na carta Irene afirmava que sabia que o grande detetive estava em seu encalce e que não havia reconhecido ele como um velho sacerdote em seu apartamento, mas que ao perceber que a bomba era um alarme falso de fogo logo ela deduzirá que aquele velho sacerdote era Holmes, contudo ela só confirmará que era Holmes depois de se disfarçar de homem após o ocorrido seguir ele até perto de sua casa e cumprimentar ele na rua pelo nome. Por fim ela diz que permanecerá com a foto por segurança para que o rei não queira destruir sua reputação, 5 e que por enquanto ela está feliz de está com o novo marido e que considera o caso encerrado. No final Holmes se desculpa ao Rei por não ter conseguido recuperar a foto e pede uma única coisa, a foto que Irene deixará junto com a carta. No final Watson descreve a mudança de comportamento de Holmes que não faz mais piadas sobre a inteligência das mulheres e que quando ele se refere aquela foto que ficara é sempre com o título honroso de a mulher. 4 AS PERSONAGENS Ao longo do conto temos quatro referências a mulheres. A primeira representação feminina que temos é a de Irene Adler, contudo essa será a última representação feminina a ser descrita aqui, por ser uma das personagens principais na trama do conto ―Um Escândalo na Boêmia‖ e também por ter várias aparições dentro do conto, já as outras personagens são citadas brevemente na trama. A primeira a ser descrita neste artigo é a segunda filha do rei da Escandinávia, a princesaClotilde Lothman von SaxeMeningen, no conto ela é brevemente apresentada pelo Rei hereditário da Boêmia que diz: (...) “Clotilde Lotman von Saxe-Meningen, second daughter of the King of Scandinavia. You may know the strict principles of her Family. She is herself the very soul of delicacy. A shadow of a doubt as to my conduct would bring the matter to an end.”3(DOYLE, 1892, p.247). Observando as palavras do Rei podemos afirmar dois fatores: o primeiro é que a família da princesa Clotilde possuía princípios rigorosos, por ser uma família que pertencia a realeza e que por esse motivo tinha que ser exemplo de retidão aos padrões da sociedade da época, pode-se até afirmar que pelo costume da realeza na Europa no século XIX este casamento com o Rei hereditário da Boêmia era uma casamento arranjado, ou seja, a princesa Clotilde representa a mulher nobre que não tinha poder de escolha e por isso não poderia decidir o seu futuro. O segundo fator que se pode observar na fala do Rei Wilhelm Gottsreich é a natureza delicada da princesa, que para o mesmo representava a própria alma da delicadeza, mostrando que era só mais uma representação da mulher fraca e delicada.Outras representações femininas dentro do conto são Mary Jane e a mulher de Watson, “As to Mary Jane, she 3 ―Clotilde Lothman von Saxe-Meningen, segunda filha do rei da Escandinávia. Talvez o senhor conheça os princípios severos da família da minha noiva. Ela própria é a alma da delicadeza. Qualquer sombra de dúvida a meu respeito acabaria com tudo. (tradução livre) 6 is incorrigible, and my wife has given her notice;”4(DOYLE, 1892, p.241). Como era de costume no século XIX as famílias de classe média contratavam uma empregada para ajudar nos afazeres domésticos, Mary Jane é o retrato dessa realidade dentro do conto, além disso, a senhoria evidencia uma tendênciado período próximo ao de quando foi escrito o conto, segundo Trueman (2003) em History Learning Sitemais de 1.740,800 mulheres trabalhavam como empregadas domésticas na Grã-Bretanha em 1900, em comparação com outro dado que estima que apenas 212 mulheres trabalhavam na mesma Grã-Bretanha como doutoras. Outra personagem feminina nessa passagem é a mulher do Dr. Watson. A mulher dona de casa, exemplo claro da mulher vitoriana, que passa a maior parte do dia em casa. ―É doloroso pensar, escreve Michelet, que a mulher, o ser relativo que só pode viver a dois, se ache mais amiúde só do que o homem. Êle encontra a sociedade por toda parte, cria relações novas para si. Ela não é nada sem a família. E a família acabrunha-a; todo o peso lhe cai em cima." (MICHELET, apud, BEAUVOIR, 2002, p. 308). Em uma das passagens do conto temos Sherlock Holmes fazendo mais uma de suas famosas deduções, dessa vez sobre a pessoa de Watson, ele diz: “Wedlock suits you, he remarked. I think, Watson, that you have put on seven and a half pounds since I saw you.”5 (DOYLE, 1892, p.240). O motivo de Watson ter engordado pode ser visto como consequência de sua mulher está se dedicando em cuidar do marido e para isso a mulher tem que dedicar um certo tempo em casa e não podemos inferir essa dedicação a senhoria da casa (Mary Jane), pois em uma de suas deduções Sherlock Holmes infere: “How do I know that you have been getting yourself very wet lately, and that you have a most clumsy and careless servant girl?”6(DOYLE, 1892, p.240). Demonstrando que a empregada era atrapalhada e que não tinha todos os cuidados que a dona da casa, a mulher de Watson, tem com os afazeres domésticos. Por último analisa-se a representação feminina mais marcante no conto, Irene Adler. Tomando a citação ―Ninguém nasce mulher: torna-se mulher‖(BEAUVOIR, 2002, p.9) pode-se afirma que Irene a principal personagem feminina nesse conto representa essa ―mulher‖, que através dos seus atos se torna mulher que musa a visão de Sherlock Holmes sobre o seu gênero. 4 ―Quanto à Mary Jane, é incorrigível, e minha mulher já a despediu;‖ (tradução livre) ―O casamento foi bom para você — disse ele. — Creio, Watson, que você pesa mais três quilos e meio desde a última vez que o vi.‖ (tradução livre). 6 ―Como é que sei que tem apanhado muita chuva nestes últimos dias e que tem uma empregada bronca e descuidada?‖ (tradução livre). 5 7 Antes de qualquer consideração em relação a personagem é importante dizer que Irene é vista pela perspectiva masculina, somos expostos a ela através da escrita de Conan Doyle pela visão do Dr. Watson que observa o que Holmes faz e vê, ou seja, o que se tem é uma personagem que passa por três perspectivas masculinas e que por esse aspecto pode distanciar o leitor da personagem,“Como estamos incluídos, como homem ou mulher, no próprio objeto que nos esforçamos por apreender, incorporamos, sob a forma de esquemas inconscientes de percepção e de apreciação, as estruturas históricas da ordem masculina; arriscamo-nos, pois, a recorrer, para pensar a dominação masculina, a modos de pensamento que são eles próprios produto da dominação.‖ (BOURDIEU, 2012, p. 15). Contudo podemos afirmar que Irene puxa a essência da primeira onda do feminismo que defendia que as mulheres e os homens tinham traços separados, e que os traços femininos não eram negativos. O que torna a personagem tão especial é o fato de ser a primeira vez que Holmes era derrotado em um caso, Holmes era visto até então como o insuperável, intocável gênio e uma mente que ninguém poderia igualar. No inicio do conto temos uma breve noção do seu perfil antes de vê-la em ação, Holmes tinha por hábito documentar assuntos ou pessoas, sendo assim seria difícil ele não ter qualquer tipo de informação sobre alguém ou alguma coisa e tendo o Rei citado o nome dela logo pediu que Watson procurasse Irene em seu arquivo que dizia: “Born in New Jersey in the year 1858. Contralto—hum! La Scala, hum! Prima donna Imperial Opera of War- saw—yes! Retired from operatic stage—ha! Living in London—quite so!”7 (DOYLE, 1892, p.246). Dessa passagem atenta-se para o fato de queapesar do enredo se passar em Londres Irene não havia nascido na Inglaterra e sim nos Estados Unidos da América o que só vem a mostrar o quão independente ela era e que por esse motivo poderia ser vista com maus olhos pela população já que não seguia as normas da sociedade. Outra característica marcante de Adler é sua inteligência que é demonstrada não só em uma passagem, mas em várias a primeira prova de sua inteligência é o fato de o Rei com todo o seu poder não ser capaz de recuperar a foto comprometedora que tinha com ela. “Five attempts have been made. Twice burglars in my pay ransacked her house. Once we diverted her luggage when she travelled. Twice she has been waylaid. There has been no result”8 (DOYLE, 1892, p.247). Tantas tentativas mostram que no mínimo Irene sabia esconder muito bem a foto. Ainda na conversa de Holmes e o Rei ele afirma como Irene, além de inteligente, é firme e corajosa; “but she has a soul of steel. She has the face of the most beautiful of women, and the mind of the 7 ―Nasceu em Nova Jersey no ano de 1858. Contralto... hum! La Scala, hum! Prima-dona imperial, Ópera de Varsóvia... Sim! Retirou-se do palco... ah! Mora em Londres, é isso mesmo!‖ (tradução livre). 8 ―Cinco tentativas foram feitas. Em duas ocasiões os ladrões foram pagos por mim e reviraram-lhe a casa. Uma vez desviamos a bagagem dela quando viajava. Duas vezes lhe preparamos armadilhas. Mas tudo sem resultado.‖ (tradução livre) 8 most resolute of men.”9(DOYLE, 1892, p.240). Como se alguém que é resoluto, corajoso ou decidido não pudesse ser mulher, o rei traz a tona características masculinas para exalta-la. Uma das habilidades de Irene que merece também uma analise é a sua capacidade de se disfarçar, Holmes é conhecido por se utilizar facilmente dessa habilidade para se infiltra em lugares desconhecido e pegar as informações desejadas e nessa narrativa se vê enganado por uma de suas armas. Tudo acontece logo após Irene perceber que o seu apartamento não estava realmente pegando fogo e que havia sido enganada pelo famoso detetive que, aliás, ela já tinha sido avisada meses antes da possibilidade de Holmes estar em seu encalço, desconfiando desta eventualidade Irene põe em pratica sua habilidade de atriz e segue Holmes até sua casa, quando ela decide dar boa noite para Sherlock Holmesdisfarçada de homem com intuito de se certificar de que era Holmes que tinha armado toda a confusão em sua casa.“Well, I followed you to your door, and so made sure that I was really an object of interest to the celebrated Mr. Sherlock Holmes. Then I, rather imprudently, wished you good-night,”10(DOYLE, 1892, p.261), ou seja, Holmes foi enganado por um artifício que ele tanto usava, além disso a passagem acima retrata a versatilidade que Irene como mulher possuía. CONCLUSÃO È verdade que a personagem feminina principal em ―Um Escândalo na Boêmia‖ Irene Adler não é completamente moderna no que se refere aos ideais feministas atuais, entretanto quando se leva em consideração a época em que o conto foi escrito antes da primeira onda do feminismo e que foi criada através da escrita masculina, pode-se dizer que Irene Adler é um exemplo de heroína dentro da literatura, principalmente da narrativa de romance policial, que se torna um modelo de independência e coragem ao enfrentar e vencer o brilhante detetive Sherlock Holmes. A personagem é uma representação feminina à frente de sua época. REFERÊNCIAS BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. BOURDIEU, Pierre.A dominação masculina. 11° ed. - Rio de Janeiro, 2012. 160p. 9 ―ela tem uma alma de aço. O rosto da mais bela das mulheres e a mentalidade dos homens mais resolutos.‖ (tradução livre). 10 “segui-o então até sua porta, para ter a certeza de que verdadeiramente eu era objeto de interesse para Sherlock Holmes. Aí, um tanto imprudentemente, saudei-o com um 'boa-noite'” (tradução livre) 9 Sherlock Holmes: The Complete Novels and Stories, Vol. 1 by Sir Arthur Conan Doyle TRUEMAN, Chris. Women in 1900. History Learning Site. 2003. Disponível em: <http://<http://www.historylearningsite.co.uk/women_in_1900.htm>. Acesso em: 13 jan. 2014. ZOLIN, Luciana Osana. Questões de Gênero e de Representação na Contemporaneidade. Letras, Santa Maria, v. 20, n. 41, p. 183-195, jul./dez. 2010. 10