BELO HORIZONTE, 2 DE JUNHO DE 2010 – Nº 004 Isto, de fato, é o meu corpo Pe. Márcio Teodoro, sdb. A Igreja, nesta quinta-feira, solenemente, vai às ruas para proclamar sua fé em Jesus Cristo presente na Santíssima Eucaristia. Tapetes, painéis, procissões, velas e belíssimos cantos servem de ornamentos para a passagem do Corpus Domini. Para essa ocasião, vale tomar a reflexão que Raniero Cantalamessa faz, em seu livro, “Isto é meu corpo”, acerca de dois hinos eucarísticos. Contudo, aqui, vamos tomar somente uma das estrofes de um dos dois hinos, “Adóro te devote”: “Na cruz estava oculta somente tua divindade, mas aqui se esconde também a humanidade. Eu, porém, crendo e confessando ambas, peço-te o que pediu o ladrão arrependido.” Cantalamessa, para falar do “corpo, sangue, alma e divindade” de Jesus Cristo, faz uma analogia entre o bom ladrão e aquele que se aproxima com fé da Eucaristia. O bom ladrão na cruz, segundo o Evangelho de Lucas, viu um homem, de tudo condenado à morte, e mesmo assim acreditou que era Deus, recomendando-lhe o seu poder de lembrar-se dele em seu Reino. O cristão é chamado a fazer um ato de fé sob certo ponto de vista ainda mais difícil. O autor, tomando a segunda parte da estrofe, nos convida a ir além da profissão de fé do bom ladrão: elevar-nos à altura da fé do bom ladrão e proclamarmos que acreditamos na divindade como na humanidade de Cristo, crendo e confessando, pois não nos basta somente crer com o coração, mas, sobretudo proclamar, publicamente, essa mesma fé. Na época em que o hino “Adóro te devote” foi escrito, a Igreja tinha instituído a festa de Corpus Dimini. A verdade teológica central dessa estrofe, para o autor, “é que na Eucaristia, Cristo está, realmente presente com sua divindade e humanidade.” Ou seja, Cristo está presente na Eucaristia em corpo, sangue, alma e divindade, segundo uma fórmula tradicional. Contudo, como podemos entender essa presença real hoje? O que nos é necessário entender, segundo Raniero, é que “corpo”, na linguagem bíblica, “não indica uma terceira parte do ser humano, e sim o homem inteiro enquanto vive em uma dimensão corpórea.” Por exemplo, o evangelista João usava corpo para falar de carne: “O Verbo se fez carne”. Ou seja, o Verbo não só se fez “osso, carne, pele e nervos,” mas se fez homem: Ele definitivamente se encarnou. Porque então consagrar separadamente corpo e sangue se no corpo já está contido o sangue? Usando uma antiga explicação, o autor nos responde dizendo que “na Paixão de Cristo, da qual o sacramento é um memorial, nenhum outro componente foi separado de seu corpo exceto o sangue.” No entanto, o mais importante é lembrarmos que “Jesus escolheu esse sinal para nos deixar um vivo ‘memorial de sua Paixão’. Por isso, levemos nossas flores, nossos cantos às ruas. Façamos tapetes e nos juntemos às comunidades que, nesta quinta-feira, celebram tão rico mistério: Corpo e sangue, alma e divindade, tudo, para a nossa consolação, presente na Eucaristia deixada por Jesus. O hino “Adóro te devote” é atribuído a Santo Tomás de Aquino. O texto permaneceu desconhecido por mais de dois séculos. Só depois que São PIO V o introduziu entre as orações de preparação e de ação de graças da missa é que ele se impôs como uma das orações eucarísticas mais amadas do clero e do povo cristão. Bibliografia: CANTALAMESSA, Raniero. “Isto é meu corpo”: à luz de dois hinos eucarísticos. Trad. Silva Debetto C. Reis. Edições: Loyola, SP. 2008. 56-59.p