COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Estudo comparativo geo-mecânico de rochas britadas de gnaisse e granito para uso em lastro ferroviário Hebert da Consolação Alves Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, [email protected] Tatiane de Oliveira Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, [email protected] João Hélio Castro Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, [email protected] Gilberto Fernandes Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, [email protected] RESUMO. Com o objetivo de atender a nova demanda e disponibilidade das vias ferroviárias, é imprescindível que o lastro, responsável por determinadas funções na superestrutura ferroviária, esteja em conformidade com as especificações técnicas de segurança e qualidade. As suas características técnicas devem ser mantidas ao longo dos ciclos de carga assim como a ausência de contaminação do solo. Os pavimentos ferroviários que operam com trens de carga no Brasil utilizam lastro de pedra britada nas faixas granulométricas adequadas. Os principais fatores envolvidos na seleção de material de lastro são a disponibilidade de material presente na região e os aspectos econômicos. Dessa maneira, uma variedade de litologias é aplicada, como granito, basalto, calcário, gnaisse, escória e pedregulho. A presente proposta de pesquisa tem como objetivo precípuo o estudo do comportamento e desempenho dos produtos britados de gnaisse e granito, com o intuito de analisar a possibilidade da aplicação em lastro padrão de forma corrente, e assim dar suporte a melhor escolha para o uso nas ferrovias. O estudo torna-se extremamente relevante visto que as propriedades geo-mecânicas constituem fator fundamental para a sua utilização. Neste projeto de pesquisa foram analisadas duas amostras de produtos britados, que para efeito de comparação receberam a seguinte denominação, MB1 para gnaisse e MB2 para granito. O processo de caracterização e avaliação da brita foi realizado no laboratório de Ferrovias e Asfalto da Universidade Federal de Ouro Preto-MG por meio de ensaios de compressão axial, massa específica, absorção de água, porosidade aparente, macio friável e resistência à intempérie seguindo como especificado na norma para Lastro Padrão NBR-5564 editadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os resultados obtidos foram analisados de acordo com a referida norma e os desempenhos dos materiais analisados foram comparados entre si, como forma de apontar o produto britado que melhor se enquadra para lastro ferroviário e material de via permanente. Os referidos resultados apontaram que nos ensaios de compressão axial, absorção de água, porosidade aparente, macio friável e resistência à intempérie a amostra MB1 se sobressaiu em relação à outra amostra. Já no ensaio de massa específica o material MB2 obteve melhor resultado em comparação à primeira amostra. Por meio desses resultados conclui-se que para uso em lastro ferroviário a utilização de material britado de gnaisse constitui-se uma melhor opção. PALAVRAS-CHAVE: Lastro ferroviário, material britado de gnaisse e granito, ensaios laboratoriais . 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 1 menor custo. Neste cenário o emprego intensivo de processos de mecanização dos serviços de via permanente é inevitável e a pesquisa com objetivo de se encontrar materiais de maior disponibilidade no mercado, desde que seja comprovada a viabilidade econômica (LIMA, 1998). Para tanto, é necessário que exista uma política de manutenção que determine o tipo e o volume de serviços a realizar, indicando a sua localização, a sua duração e o nível de precisão que será atingido. Esta política de manutenção depende diretamente do manuseio e do conhecimento do estado de vida útil de cada componente para garantir padrões de segurança e qualidade com o melhor custo benefício possível. Um destes componentes é o Lastro Ferroviário. O lastro é de extrema importância para a execução de uma ferrovia. Dentre outras características, ele é responsável por distribuir as cargas sobre a plataforma. A estabilidade e a durabilidade da malha depende dele, visto que, o lastro também é responsável em suprimir irregularidades da plataforma; garantir a elasticidade da via; manter firme a posição dos dormentes; facilitar a restauração e manutenção da geometria da via; melhorar a permeabilidade e ventilação e evitar bolsas de lama. Historicamente vem sendo utilizado material pétreo para o lastro ferroviário (gnaisse, basalto, granito, quartizito, etc). Estudos recentes vêm viabilizando a utilização do agregado siderúrgico (escórias) como lastro ferroviário. Para atender a nova demanda de disponibilidade da via, é fundamental que o lastro ferroviário, responsável por determinadas funções de resistência aos esforços transmitidos à via, seja de qualidade e especificado de tal maneira que todos os padrões de segurança e qualidade da via sejam atendidos. Suas características devem ser mantidas ao longo dos ciclos de carga e a contaminação a menor possível. A manutenção e conservação de um lastro de qualidade a custos acessíveis, só é possível, quando o material granular de constituição do lastro seja de boa qualidade conforme figura 1 que é apresentada logo abaixo. INTRODUÇÃO As ferrovias no Brasil cresceram num ritmo acelerado desde 1854 quando do surgimento da necessidade de ligar as cidades do litoral com o interior do País, até 1940 existiam 34.252km de linhas instaladas. A partir desta década, o lento ritmo de construção, aliado à erradicação de trechos economicamente inviáveis, à elevação dos custos do material e à dificuldade em obtêlo marcaram o declínio acentuado do crescimento das estradas de ferro. (TORRACA, 1996). Por razões diversas, ligadas a ciclos econômicos, várias destas estradas vinham apresentando prejuízos, entrando em processos de declínio financeiro. Visando a se evitar o alastramento de uma crise econômica mais abrangente, o Governo Federal formulou um projeto de unificar o conjunto das ferrovias em uma malha integradora. Criou, em 1957, a Rede Ferroviária Federal para disciplinar a operação ferroviária no País, padronizando seus equipamentos, serviços e métodos de trabalho. A nova Empresa dispunha de uma malha de cerca de 30.000km, que é, até hoje, aproximadamente, a extensão da rede ferroviária brasileira, com todas as erradicações e construções de novas ferrovias ocorridas desde então. A falta de investimento no setor ferroviário provocou uma drástica deterioração da estrutura ferroviária, diminuindo a capacidade das linhas, terminais, frotas de vagões e locomotivas, ocasionando a redução de escoamento de produtos por estemodal. De acordo com a ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, em1958 havia, aproximadamente, 38.000 km de linha férrea, hoje esse número é de 29.798 km (fonte: ANTT, 2003). Atualmente, o sistema ferroviário brasileiro acha-se quase que totalmente concedido (praticamente, as exceções são os Metrôs e transporte urbano de passageiros em alguns estados). A urgência de reverter o processo da degradação e de tornar esse modal economicamente rentável impõe também modificação das técnicas usuais de manutenção em busca de outras mais eficientes e também de 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. dos materiais e utilizou como parâmetros de verificação os ensaios descritos a seguir: 3.1 As propriedades de massa específica aparente, absorção e porosidade aparente podem dizer muito sobre a qualidade do material em relação à sua utilização como material de lastro. Estas propriedades são determinadas de acordo com a norma NBR 7418 – Determinação da massa específica aparente, da absorção de água e da porosidade aparente do material, editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. Figura 1 – Lastro Ferroviário 2 OBJETIVOS DA PESQUISA Caracterizar e avaliar os agregados que são utilizados como lastro ferroviário através dos ensaios prescritos na NBR 5564 (EB-655/91) – Lastro Padrão e verificar o enquadramento dos resultados aos índices recomendados nesta mesma norma e em outras, editadas por outros órgãos normativos com igual competência e experiência no desenvolvimento tecnológico de materiais para lastro realizando uma análise comparativa dos resultados. O estudo torna-se extremamente relevante, pois o conhecimento das propriedades físicas dos materiais é essencial para aumentar a qualidade e otimizar o processo de utilização do materiais em questão. 3 Massa específica aparente, absorção e porosidade aparente 3.2 Fragmentos macios e friáveis O material para lastro deve ser composto em quase toda sua totalidade por partículas consideradas “sãs”, livres de fragmentos macios ou facilmente friáveis, sendo dessa forma o teor de materiais macios e friáveis um condicionante para a aceitação de um dado material. Neste trabalho a determinação desses teores foi feita de acordo com a norma NBR 8697 – Lastro padrão - Determinação do teor de material macio e friável, editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, que descreve a confecção de um equipamento especifico para este ensaio (Figura 2). METODOLOGIA Foram checadas neste estudo as propriedades físicas recomendadas pela NBR 5564 (EB655/91), editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e com os valores recomendados no manual da AREMA ( 2002). O material foi coletado em uma pedreira na região de Cariacica – ES (granito) e em uma pedreira na região de Santa Bárbara – MG (região do quadrilátero ferrífero).Os ensaios foram executados no laboratório de Ferrovias e Asfalto da Escola de Minas – UFOP. A amostra de gnaisse foi denominada de M1 e a de granito M2 para se facilitar a identificação. O estudo comparativo realizou nove ensaios de verificação das características geo - mecânicas Figura 2– Aparelho para a deterinação do teor de material macio e friável. 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 3.3 Sendo De o diâmetro equivalente das partículas de escórias, definido pela ASTM D5731-95 dado por (3.3.2). Carga Pontual (Compressão Axial): O ensaio de carga pontual (Figura 3) é realizado em amostras selecionadas com forma aproximadamente prismática, de acordo com a norma ASTM D5731-95 (ASTM, 1995). O carregamento pontual é aplicado na posição correspondente à metade do comprimento e à metade da largura de cada corpo-de-prova. Nos ensaios realizados, o carregamento foi aplicado com orientações distintas dos corpos-de-prova; metade deles posicionados em direção paralela ao sistema de aplicação das cargas e a outra metade posicionada normalmente em relação ao mesmo. Em todos os casos os diâmetros das partículas variaram entre 30 e 80 mm (ASTM D5731-95). De = 3.3 (3.3.2) Resistência a Intempéries A determinação da resistência a intempéries do material de lastro de via férrea é fundamental para se avaliar o comportamento do material em campo com relação a condições climáticas(sol e chuva).Os procedimentod deste ensaio estão descritos na norma NBR 7702 – Lastro Ferroviário – Determinação da resistência do material à intempérie (ABNT,1983). Esta norma recomenda avaliar a porcentagem em massa de resíduos coletados em relação a massa total do corpo de prova e observar modificações em relação ao mesmo, especialmente quanto à evolução de trincas e/ou à falta de homogeneidade entre os quatro fragmentos que são avaliados em cada ensaio. 4 carga pontual (compressão axial). RESULTADOS Os resultados dos ensaios realizados no Laboratório de Ferrovias e Asfalto da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto foram comparados às normas NBR 5564 para lastro padrão, e com o Manual AREMA (2002). Tais resultados foram comparados entre as amostras MB1 e MB2 e apresentados na tabela a seguir: O ensaio é considerado válido quando o plano de ruptura coincide com a seção transversal de cada corpo-de-prova. Para cada ensaio determinou-se o índice de carregamento pontual Is, a partir da carga de ruptura P, estimado com base na seguinte relação (3.3.1). P De2 π Sendo As a área do plano de ruptura, definida, de forma aproximada, de acordo com a norma ASTM D5731-95. Figura 3 – Sistema de aplicação e execução de ensaio de IS = 4 AS (3.3.1) 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Tabela 1 –Resultados dos ensaios NBR Manual 5567 AREMA, Propriedade (Lastro Padrão) MB1 Outros ensaios previstos na NBR 5564 (Abrasão Los Angeles, Índice de Tenacidade) que foram realizados, porém foram apresentados nesta pesquisa também atestaram os melhores resultados da amostra MB1. MB2 2002 Massa 6 específica aparente 2,4 2,6 2,69 2,79 1 1 0,51 0,37 1 - 0,87 0,66 80 80 184┴ 121┴ 159// 107// 5 5 5 5 O estudo concluiu que a amostra M1, constituída de Gnaisse oferece melhores vantagens quando usada como lastro para via férrea do que a amostra M2 constituída de granito. No entanto, este fato não é indicativo contra a utilização de materiais constituídos de matrizes rochosas semelhantes ao da amostra M2 que também atende a quase todas as especificações da NBR 5564. Na verdade, pode-se ressaltar que o material para lastro constituído de matriz rochosa metamorfica, obtem um desempenho melhor que aquele alcançado por materiais de outras matrizes rochosas. Uma outra observação a ser feita é que apesar da amostra M2 apresentar melhores resultados no que se diz respeito a massa específica, absorção e porosidade aparente, a mesma possui menor resistência à compressão que a amostra M1, este fato necessita de maiores análises, pois a resistência à compressão axial possui uma relação bastante estreita com a porosidade, ou seja, quanto maior fosse a porosidade, consequentemente menor seria a resistência à compressão axial. Estas novas análises podem conduzir a um objeto de estudo para pesquisa futura. Outra observação pertinente é o alto valor encontrado para a resistência à intempéries do material M2, por ser de uma matriz rochosa metarmófica esperava-se que a solução de sulfato de sódio reagisse menos com o material, porém este resultado pode ser relacionado com o grau de contaminação que a amostra chegou no laboratório. A resistência à intemperies determinaria a durabilidade que o material apresentaria em campo como lastro, enquanto que a resistência à compressão axial representaria a quebra ou desintegração do material quando submetido a cargas ferroviárias mínima. (g/cm3) Absorção de água máxima.(%) Porosidade aparente máxima.(%) Compressão Axial(Carga Pontual)MPa Resistência à intempérie 0,77 7,72 Máximo(%) Frag. macios e friáveis 1,9 6,9 máximo. (%) Observação: ┴ Significa que o plano de ruptura não coincide com a seção transversal // Significa que o plano de ruptura coincide com a seção transversal 5 CONCLUSÕES ANÁLISE DE RESULTADOS Observa - se que a amostra MB2 apresentou melhores resultados que a amostra MB1 no que se refere aos ensaios de massa específica, absorção e porosidade aparente.Porém, a amostra MB1 se apresenta com melhor resistência mecânica, pois tem maior resistencia à compressão, menor perda devido ao intemperismo e um menor teor de fragmentos macios e friavéis. A amostra M2 teve perda significativa devido ao intemperismo. 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. AGRADECIMENTOS NBR 11541: 1991 - Amostragens de material para lastro para via férrea – Procedimento. NBR NM 248: 2003 - Agregados - Determinação da composição granulométrica - Método de ensaio SENÇO, W. (1997). Manual de Técnicas de Pavimentação, Vol 1 e 2. Editora Pini, São Paulo, 746 p.; SOUZA,G.M.,2007,” Estudo Experimental das escórias de aciaria para fins de caracterização tecnológica como material de lastro ferroviário em vias sinalizadas. TORRACA, N. A., Produtividade e Qualidade do Serviço de Transporte Ferroviário de Cargas, Rio de Janeiro, 1996. O trabalho acima faz parte de um projeto realizado pelo Laboratório de Ferrovias e Asfalto da Universidade Federal de Ouro Preto, com o propósito de caracterizar escorias para utilização em lastro ferroviário. Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal de Ouro Preto, a Companhia VALE e a Fundação Gorceix pelo apoio na execução dos ensaios. REFERÊNCIAS AECB. O Papel da Ferrovia na Política Nacional de Transportes. 1° Encontro Nacional Ferroviário. ENFER. Associação de Engenheiros da Central do Brasil, Brasília, DF, 60p, 1991. ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres Disponível em: < www.antt.gov.br/ >. Acesso em: 05 dezembro 2003. AREMA. Manual for Railway Engineering. Lanham: American Railway Engineering and Maintenance Association- AREMA, 2002. v. I - IV. BARDET, J.P., Experimental soil mecanics, PRENTICE – HALL, 1997; FERNANDES, G., 2005, “Comportamento de estruturas de pavimentos ferroviários com utilização de solos finos e/ou resíduos de mineração de ferro associados a geossintéticos”; HEAD, K.H., Manual of soil laboratory testing, Vol 1,2,3, ELE. International limited, 1986; MACHADO, A.M.W., 2006, “Contribuição à metodologia de recebimento, manutenção e recebimento do lastro ferroviário”. NBR 5564: 1991 - Via férrea Lastro Padrão Especificação NBR 6465: 1984 - Agregados - Determinação da Abrasão Los Angeles - Método de ensaio NBR 6954: 1989 - Lastro padrão - Determinação da forma do material - Método de ensaio NBR 7218: 1987 - Agregados - Determinação do teor de argila em torrões e materiais friáveis - Método de ensaio NBR 7219: 1987 - Agregados – Determinação do teor de material pulverulento - Método de ensaio NBR 7418: 1987 - Lastro padrão - Determinação da massa específica aparente, da absorção de água e da porosidade aparente do material - Método de ensaio NBR 7702: 1983 - Lastro padrão - Determinação da resistência do material à intempérie do material Método de ensaio NBR 7702: 1984 - Lastro padrão - Determinação do teor de fragmentos macio e friável - Método de ensaio NBR 8938: 1985 - Determinação da resistência ao choque - Método de ensaio 6