JUNTE-SE AO DEEP GREEN RESISTANCE SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE 2 Por que Deep Green Resistance? 2 O que é a Deep Green Resistance? 3 PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DEEP GREEN RESISTANCE 4 Declaração de Princípios 4 Código de Conduta 4 DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA A SOLIDARIEDADE FEMINISTA 6 Introdução 6 Diretrizes 6 DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA ALIADOS BRANCOS 7 Introdução 7 Diretrizes 8 DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES DE SOLIDARIEDADE INDÍGENA 9 Introdução 9 Diretrizes 9 PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE 9 FAQ FEMINISTA RADICAL 29 TECNOLOGIA VERDE E ENERGIA RENOVÁVEL 39 FAQs 39 Leitura / Consulta Adicional 45 Referências 45 CULTURA DE SEGURANÇA 45 O que é Cultura de Segurança? 45 Regras da Cultura de Segurança 46 Mitos da Cultura de Resistência 47 Violações da Cultura de Segurança 48 Recursos 49 Perguntas Frequentes 49 Mais perguntas ou preocupações sobre segurança? Mande um e-mail: 50 Junte-se ao Deep Green Resistance - 1 / 85 http://deepgreenresistance.org RESISTÊNCIA ESTRATÉGICA 50 GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA 52 COLLAPSE SCENARIOS 53 Ausência De Resistência 53 Resistência Limitada 57 Ataque Total À Infraestrutura 61 Estratégia De Guerra Ecológica Decisiva 63 QUATRO FASES DA GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA 66 Fase I – Redes e Mobilização 66 Fase II – Sabotagem e Ação Assimétrica 67 Fase III – Interrupção de Sistemas 69 Fase IV: Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura 71 IMPLEMENTANDO A GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA 73 Underground Organization 74 Analysis of Strategy 75 Strategic Criteria Checklist 80 DEEP GREEN RESISTANCE BYLAWS 85 General 85 Steering Committee 86 Administrative Committee 86 Membership 86 Chapters 86 Meetings 86 Caucuses 86 Conflict Resolution 87 Finances 87 SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE Por que Deep Green Resistance? • A civilização industrial está matando toda a vida no nosso planeta, nos levando a extinção de 200 espécies por dia, e isso não irá parar de acontecer espontaneamente. • O aquecimento global está acontecendo agora, e a uma velocidade alarmante. A única solução honesta é parar a civilização industrial de queimar os combustíveis fósseis. • Most consumption is based on violence against people (human and non-human) and on degrading landbases across the planet. Junte-se ao Deep Green Resistance - 2 / 85 http://deepgreenresistance.org • A vida no planeta Terra é mais importante que essa cultura temporária e insana baseada na hiper exploração de recursos naturais finitos. Essa cultura precisa ser destruída antes que ela consuma toda a vida no planeta. • Humanity is not the same as civilization. Humans have developed many sane and sustainable cultures, themselves at risk from civilization. • Most people know this culture is insane and needs radical change, but don't see any way to bring the change about. • Unlike most environmental and social justice organizations, Deep Green Resistance questions the existence and necessity of civilization itself. DGR asks "What if we do away with civilization altogether?" • Unlike most environmental and social justice organizations, DGR asks "What must we do to be effective?", not "What will those in power allow us to do?" • DGR offers organized, reliable ways to promote sane ways of living and surviving the ongoing crisis. • DGR has a realistic plan to stop the insanity, Decisive Ecological Warfare. Listen to Deep Green Resistance members explain why they joined. O que é a Deep Green Resistance? O Deep Green Resistance (Resistência Verde Profundo) é uma análise, uma estratégia e a única organização deste tipo. Como uma análise, revela a civilização como a instituição que está destruindo a vida na Terra. Como estratégia, oferece um plano concreto de como parar essa destruição. Como uma organização, o Deep Green Resistance está implementando essa estratégia. O objetivo do DGR é privar os ricos de sua capacidade de roubar os pobres e os poderosos de sua capacidade de destruir o planeta. Esta é uma grande empreitada, mas é preciso ser dito: isso pode ser feito. A civilização industrial pode ser detida. O DGR é uma organização aboveground (movimento de superfície) que usa ação direta na luta para salvar o nosso planeta. Também defendem a necessidade de um movimento underground (clandestino) que pode se focar na infra-estrutura estratégica da industrialização. Mas essas ações separadas nunca seriam uma estratégia suficiente para alcançar um resultado aceitável. Qualquer estratégia voltada para um futuro satisfatoriamente habitável deve incluir um esforço para construir democracias diretas com base nos direitos humanos e culturas materiais sustentáveis. Which means that the different branches of a resistance movement must work in tandem: the aboveground and belowground, the militants and the nonviolent, the frontline activists and the cultural workers. We need it all. E precisamos de coragem. A palavra "coragem" vem da mesma raiz de coeur, a palavra francesa para coração. Precisamos de toda a coragem de que o coração humano é capaz, forjada tanto em espada quanto em escudo para defender o que resta deste planeta. E a força vital da coragem, é claro, é o amor. Assim, apesar do DGR se tratar de contra-atacar, no fim, esta organização se trata de amor. Os pássaros e o salmão precisam de seu coração, não importa o quão exausto, porque mesmo um coração partido ainda é feito de amor. Eles precisam de seu coração, porque eles estão desaparecendo, entrando para a mais longa noite de extinção, e a resistência não tem nada em vista. Teremos de construir essa resistência com qualquer coisa que vier à mão: sussurros e orações, história e sonhos, de nossas palavras e ações mais corajosas e mais valentes. Vai ser difícil, haverá um custo, e em muitas auroras implacáveis ■■vai parecer impossível. Mas vamos ter de fazê-lo de qualquer maneira. Reúna o seu coração e junte-se com todos os seres vivos. Com o amor como a nossa Causa Primordial, como podemos falhar? Junte-se ao Deep Green Resistance - 3 / 85 http://deepgreenresistance.org Eu não nego que eu planejei atos de sabotagem. Mas eu não planejei isso com um espírito de irresponsabilidade, nem porque eu tenho algum amor pela violência. Eu planejei como resultado de uma avaliação calma e sóbria da situação política que tínhamos depois de muitos anos de tirania, exploração e opressão do meu povo pelos brancos. -Nelson Mandela PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DEEP GREEN RESISTANCE Declaração de Princípios O solo, o ar, a água, o clima e os alimentos que ingerimos são criados por comunidades complexas de seres vivos. As necessidades das comunidades vivas são básicas; a moralidade individual e social deve emergir de uma relação humilde com a teia da vida. A civilização, especialmente a civilização industrial, é fundamentalmente destrutiva para a vida na Terra. Nossa tarefa é criar um movimento de resistência centrada na vida que vai desmontar a civilização industrial por qualquer meio necessário. Resistência política organizada é a única esperança para o nosso planeta. O Deep Green Resistance (Resistência Verde Profundo) trabalha para acabar com o abuso nos níveis pessoais, organizacionais e culturais. Também nos esforçamos para erradicar a dominação e subordinação de nossas vidas privadas e práticas sexuais. O Deep Green Resistance se alinha com feministas e outros que buscam erradicar toda a dominação social e promover a solidariedade entre os povos oprimidos. Quando a civilização chegar ao fim, o mundo vivo festejará. Devemos ser pessoas biofílicas, a fim de sobreviver. Aqueles de nós que se esqueceram, devem aprender novamente a viver com a terra, com o ar, com a água e as criaturas que nos cercam em comunidades construídas no respeito e gratidão. Nós damos boas vindas a este futuro. O Deep Green Resistance é uma organização feminist radical. Os homens, enquanto classe, estão travando uma guerra contra as mulheres. Estupro, espancamento, incesto, prostituição, pornografia, pobreza e gynocídio (assassinato de mulheres enquanto um fenômeno social) são as principais armas nesta guerra e são as condições que criam o sexo-classe mulher. O gênero não é natural, não é uma escolha, e não é um sentimento: é a estrutura da opressão às mulheres. As tentativas de criar mais "escolhas" dentro do sistema de sexo-casta apenas servem para reforçar as realidades brutais do poder masculino. Como radicais, temos a intenção de destruir o gênero e todo o sistema de patriarcado que ele encarna. A liberdade das mulheres, como classe, não pode estar separada da resistência à cultura dominante como um todo. Escute uma versão em áudio da Declaração de Princípios (English) Código de Conduta Todas as sociedades - incluindo as mais pacíficas; especialmente as mais pacíficas - têm entendido a necessidade de códigos de conduta, que nada mais são do que normas de comportamento. Todas as organizações sérias têm códigos de conduta dos quais as pessoas precisam respeitar. Os anarquistas espanhóis tinham. Assim como o IRA. Os Freedom Riders tinham um código de conduta, assim como os lutadores de Nat Turner. Os códigos de conduta são ainda mais importantes em movimentos de resistência de militantes que Junte-se ao Deep Green Resistance - 4 / 85 http://deepgreenresistance.org têm um histórico de mau comportamento. Rejeitar o conceito de um pacto social é rejeitar toda a responsabilidade (que vem da raiz "dar em troca") e, enfim, todas as relações humanas. O código de conduta moderno, ocidental, individualista, capitalista, diz que não pode haver algo como um código de conduta que não seja o que beneficia o indivíduo o máximo possível. Nossos movimentos não podem usar isso como uma medida de libertação ou como um modelo para as nossas organizações ou comunidades. Se quisermos ser bem sucedidos em uma tarefa tão monumental, é preciso investir tempo e energia em nossos relacionamentos. Concordar em respeitar um código de conduta não é limitante, é libertador. Ele vai garantir que todos os envolvidos estejam de acordo sobre os protocolos básicos que nos orientam nesta luta. A civilização, especialmente a civilização industrial, é fundamentalmente destrutiva para a vida na Terra. A resistência política organizada é a única esperança para o nosso planeta. Nossa tarefa é criar esse movimento de resistência. Com este objetivo em mente, nós concordamos em aderir ao seguinte Código de Conduta em nossos grupos organizadores: Ação Política: Grupos do DGR só vão se envolver em atividades aboveground não-violentas. Estas podem incluir manifestações legais, bem como a desobediência civil. Solidariedade: Os membros não-indígenas do DGR precisam ter em mente que estamos vivendo em terra roubada em meio a um genocídio em curso. A tarefa dos não-indígenas é construir solidariedade com os povos indígenas em defesa da terra, preservando as culturas tradicionais e protegendo cerimônias sagradas da exploração. Justiça: Estamos enredados em sistemas de sobreposição do poder sádico construídos sobre a riqueza roubada, privilégio branco, a misoginia e sobre a supremacia humana. Como indivíduos, é nossa responsabilidade reconhecer esses sistemas e fazer alianças com os despossuídos. Coletivamente, é nossa tarefa botar abaixo esse sistema. Liberdade: Grupos DGR têm uma política de tolerância zero para o abuso de qualquer um, humano ou não-humano. A integridade física e a segurança emocional são direitos humanos básicos que o DGR jurou defender. O DGR vai banir qualquer membro que estuprar, violentar ou abusar de qualquer criatura viva. A masculinidade, com sua psicologia militarizada e sua violação imperativa, tem que ser abandonada pessoalmente e desmantelada globalmente. Caráter: O DGR é uma empresa séria que requer lealdade, compromisso, integridade e coragem. Os membros devem tratar todos com respeito. Segurança: Todos os membros do DGR são obrigados a respeitar os princípios da Cultura de Segurança e abordar diretamente as violações. Tanto uma segurança fraca quanto a paranóia são perigosos para a nossa organização. Toda atividade não-política ilegal coloca todos em risco e não é apropriada para os membros. Os grupos do DGR devem educar os novos membros na Cultura de Segurança. Escute uma versão em áudio do Código de Conduta (English) Junte-se ao Deep Green Resistance - 5 / 85 http://deepgreenresistance.org DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA A SOLIDARIEDADE FEMINISTA Desenvolvido pelo grupo de Solidariedade Feminista do Deep Green Resistance, com orientação do Women’s Caucus. Introdução Enquanto classe, os homens desenvolveram um sistema entrincheirado de poder chamado patriarcado, a fim de naturalizar a exploração das mulheres por meio de seus corpos, de seu trabalho, tempo, crianças, etc. O patriarcado é composto por um sistema interligado de estruturas sociais, econômicas, políticas, legais e culturais destinadas a oprimir as mulheres para o benefício dos homens. Este sistema fornece aos homens privilégios em todos os aspectos de nossas vidas; nós somos os beneficiários diretos. Enquanto homem, muitas vezes confundimos estes privilégios com os direitos naturais. Não é suficiente sermos "bons rapazes". Isso não é o suficiente para pessoalmente se isentar da exploração das mulheres. Não é suficiente sermos pessoalmente conscientes e respeitosos com as mulheres. Não é suficiente mantermos a igualdade em nossas relações com as mulheres. Embora todas essas coisas sejam importantes, isentar-se pessoalmente de um comportamento abertamente opressivo não questiona o patriarcado como um sistema de poder. Há comandos de decência básicos que nós devemos trabalhar com mulheres para arrancar e desmontar todo este sistema patriarcal de dentro de nós, de dentro de nossos grupos e comunidades, e de dentro de instituições e da cultura em geral. As seguintes diretrizes visão encorajar homens ativistas do DGR a mudarem seu comportamento e se aliarem melhor com as mulheres. Enquanto ativistas homens, nós fomos socializados em uma cultura de dominação que nos torna suscetíveis a carregar, praticar e reproduzir o patriarcado. Lembre-se: ser um aliado é um processo contínuo, e não um título que se ganha; isso deve ser sempre definido por mulheres, que irão determinar pelas ações diárias e comportamentos de um homem quão aliado ele realmente é. Diretrizes 1. Aprenda a ficar em silêncio, se segurar, ser humilde e a escutar as vozes femininas. Esteja atento às formas sutis com as quais você pode acabar desvalorizando as mulheres ou ameaçando-as injustamente. 2. Escute o que cada mulher individualmente tem a dizer. Entenda o que elas dizem e responda apropriadamente. Respeite as mulheres o suficiente para discordar delas, ao invés de fingir que concorda com algo que você obviamente discorda; quando você realmente concorda, faça com elas saibam disso. 3. Nós precisamos seguir a liderança da mulher e priorizar questões que são trazidas por mulheres ou que digam respeito a elas. A cultura que queremos criar será centrada nas mulheres: nós devemos avançar nessa direção. Faça com que mulheres em posições de poder se torne uma prioridade e promova novas líderes mulheres. Isto inclui o reconhecimento de que líderes mulheres são geralmente objetificadas e silenciadas, e assuma tolerância zero para esse tipo de comportamento. 4. Não é apropriado que nós falemos como autoridades em assuntos que as mulheres experienciam diretamente. Por sermos homens nós não compreendemos e não podemos compreender essas experiências. Se formos falar desses assuntos, devemos fazê-lo apenas depois das mulheres ou se as mulheres nos pedirem para fazê-lo, e nunca a partir de nossa própria perspectiva. Junte-se ao Deep Green Resistance - 6 / 85 http://deepgreenresistance.org 5. Devemos questionar nosso próprio comportamento patriarcal, como padrões de silenciamento ou desvalorização das mulheres ou usando uma linguagem patriarcal (como discursos do ódio, piadas baseadas em humilhação e degradação, e generalidades identificadas por homens). 6. Não faça uso de pornografia ou prostituição. Liberte sua sexualidade das estruturas patriarcais capitalistas que exploram a mulher. Questione publicamente a indústria da exploração sexual. 7. Questione os deveres das mulheres para com os homens. As mulheres não devem coisa alguma aos homens, seja um sorriso, uma conversa, um abraço, um relacionamento ou intimidade de qualquer tipo. Os homens não têm o direito de ocupar espaços à custa do conforto das mulheres ou de seus limites pessoais. 8. Questione o comportamento sexista de seus amigos, familiares, colegas e aliados políticos. Corte relações com os homens que continuam a incentivar ou praticar o sexismo. Nós não precisamos de permissão para alertar os homens sobre o comportamento patriarcal; essa é nossa principal responsabilidade. Chamar a atenção dos homens sobre isso em espaços e grupos ocupados apenas por homens é uma prioridade. 9. Argumentação machista não será tolerada. Com isto queremos dizer discurso masculino arrogante, paternalista, condescendente ou que de alguma outra forma rebaixe a voz das mulheres ou coloque a voz do sexo masculino em um pedestal. 10. Enquanto o patriarcado não fere homens de algumas formas, seu alvo principal são as mulheres. Por isso, quando não somos feridos pela masculinidade, não podemos dizer que somos oprimidos por ela. 11. Precisamos nos familiarizar com as questões que afetam as mulheres e com a teoria e história feminista. Não espere se tornar um entendedor sobre feminismo sem nenhum esforço. 12. Dentro da cultura dominante, os homens são perpetradores de assédio e violência. Muitas mulheres são sobreviventes dessa violência – estudos estimam que cerca de 1/3 de todas as mulheres já foram agredidas sexualmente ou espancadas por homens, e muitas mulheres dizem que esses números são baixos. Qualquer mulher tem o direito de supor que não é seguro ter homens ao redor. 13. Nós não estamos aqui para salvar ou resgatar as mulheres. Nós não estamos aqui para sermos heróis. Nós não estamos aqui para sermos protetores das mulheres; as mulheres podem se proteger. Nosso trabalho não é proteger as mulheres; é respeitar seus desejos e trabalhar em solidariedade com elas para destruir o patriarcado. Se assumirmos algum desses papéis contra os desejos particulares das mulheres envolvidas em uma situação, estamos violando fronteiras. 14. As diretrizes estabelecidas acima representam a base para um comportamento aceitável. Segui-los não é nada excepcional e não faz com que se mereça uma recompensa. Por outro lado, optar por ignorar o comportamento sexista será visto como um ato de colaboração com a cultura da dominação masculina. DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA ALIADOS BRANCOS Developed by white Deep Green Resistance members, with guidance from the People of Color Caucus. Introdução A Supremacia Branca é um sistema de poder ativo hoje bem como em toda a história desta cultura. Enquanto ativistas brancos, fomos socializados em uma cultura de dominação e frequentemente carregamos, praticamos e reproduzimos o racismo em nosso próprio trabalho. O racismo é uma ameaça à saúde e continuação de todas as comunidades, incluindo as políticas. Nós também pedimos a todos os ativistas para comprometerem-se em todos os aspectos de suas vidas, politicamente ou de outras formas, com o desmantelamento do racismo, pessoalmente e culturalmente. Comunidades não brancas (do original people of color) sozinhas não podem mudar comunidades Junte-se ao Deep Green Resistance - 7 / 85 http://deepgreenresistance.org brancas de fora, e isso não é responsabilidade deles. Como Stokely Carmichael disse, "Pessoas brancas devem começar a construir essas instituições [anti-racistas] dentro das comunidades brancas, e essa é a verdadeira questão que acredito que ativistas brancos estão encarando hoje: podem eles de fato transformar e botar a baixo as instituições que têm nos colocado nessa situação desfavorável em que fomos inseridos nos últimos cem anos?” Como aliados de pessoas e comunidades não brancas, esse é o nosso trabalho. As seguintes diretrizes visam encorajar ativistas brancos a eliminar o racismo de seu comportamento e linguagem, e para se aliarem melhor com pessoas não brancas. Diretrizes 1. Entendemos que, enquanto pessoas brancas beneficiadas por uma sociedade de supremacia branca, somos racistas. É impossível trabalhar para acabar com o racismo sem reconhecer o racismo arraigado que é ensinado a nós desde que somos muito jovens. Ativistas brancos não precisam se ■■sentir culpados por isso, mas sim, devemos nos sentir obrigados a desmantelar o racismo, tanto dentro de nós mesmos quanto externamente. 2. Entre os ativistas, o racismo não se manifesta sempre em explosões de raiva ou violência; mas frequentemente é encontrado na linguagem cotidiana, nas interações e suposições que em última instância visam silenciar e desvalorizar as pessoas não brancas. Trabalhe para respeitar e ouvir as vozes e as escolhas das pessoas não brancas. 3. Apóie, encoraje e respeite as lideranças de pessoas não brancas. 4. Ofereça apoio e assistência a ativistas trabalhando em comunidades de pessoas não brancas. Conheça e respeite as emergências primárias dessas comunidades. 5. Trabalhe para combater os esforços de supremacistas brancos e grupos fascistas. 6. Tenha a humildade e a coragem para questionar a si mesmo e aprender com os outros sobre questões de raça e supremacia branca. 7. Não participe ou tolere humor racista. Não utilize termos depreciativos com base em raça. Não fale em dialetos raciais estereotipados. 8. Questione comportamentos racistas em seus amigos, familiares, colegas e aliados políticos. Quando for o caso, corte relações com pessoas que continuam a incentivar ou praticar racismo. 9. Discuta o racismo com os jovens em sua vida. Ajude-os a identificar e enfrentar o racismo, a tornarem-se aliados melhores para as pessoas não brancas, e a se envolver com o trabalho para o fim da supremacia branca. 10. Comprometa-se com a sua auto-educação permanente sobre a história e teoria da opressão racial. Não fale como uma autoridade em assuntos que as pessoas não brancas sofrem diretamente e você não. Se você precisar falar sobre esses assuntos, que seja depois das pessoas não brancas ou se elas lhe pedirem para fazê-lo. 11. O poder da supremacia branca é mantido em grande parte por instituições (moradia, educação, in-justiça criminal, bancos, cultura, mídia, extração, e etc.) e não por racistas individuais. Nosso trabalho principal é acabar com o racismo, e isso vai além de confrontar racistas individuais; em última análise, isso exige o desmantelamento das instituições e da cultura racista. 12. Entenda que quando você opta por lutar contra o racismo e o imperialismo, você está se juntando a uma longa e antiga luta em que os povos indígenas e pessoas não brancas sempre estiveram na linha de frente. Enquanto pessoas brancas, devemos permitir que aqueles que experienciaram essas histórias em primeira mão nos dêem informação para a nossa resistência. 13. As diretrizes estabelecidas acima representam a base para um comportamento aceitável. Segui-las não é nada excepcional e não lhe dá direito a méritos. Optar por ignorar o comportamento racista será visto como um Junte-se ao Deep Green Resistance - 8 / 85 http://deepgreenresistance.org ato de colaboração com a cultura da supremacia branca. DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES DE SOLIDARIEDADE INDÍGENA Introdução É importante que membros da cultural colonial aliem-se às comunidades indígenas que lutam por seus direitos e sobrevivência, mas há maneiras certas e erradas para expressar solidariedade. As seguintes diretrizes foram colocadas juntas por membro da Deep Green Resistence com a ajuda de ativistas indígenas. Eles não são um completo guia de como fazer - cada comunidade e cada situação é diferente - mas espero que possam apontar em uma boa direção para agir de forma eficaz e com respeito. Diretrizes 1. Antes de tudo precisamos reconhecer que pessoas não-indígenas estão ocupadas roubando terras em um genocídio que está em curso há séculos. Nos devemos afirmar nossa responsabilidade de permanecer(fazer frente) com as comunidades indígenas que querem suporte e darmos o máximo de si para proteger seus territórios e culturas de futuras devastações; elas estiveram nas linhas de frente do biocídio e dos genocídios por séculos, e como aliados, nós precisamos nos levantar e nos juntar a elas. 2. Você está sendo solidária com movimentos indígenas não por culpa, mas por um desejo feroz de confrontar os sistemas opressivos de poder colonial. 3. Você não está ‘ajudando’ comunidades indígenas, você está lá para: somar-se, confrontar junto, e lutar com elas contra esses sistemas de poder. Você deve desejar colocar seu corpo na linha também. 4. Reconheça seus privilégios como membro da cultura colonizadora. 5. Você não está aqui para se engajar em nenhum tipo de necessidade cultural, espiritual ou religiosa que você talvez tenha; você está aqui para se engajar em ação política. Além disso, lembre-se que sua mensagem política é secundária para a causa. 6. Nunca use drogas enquanto se engaja em trabalhos de solidariedade indígena. Nunca. 7. Pratique mais a escuta do que a fala, você ficará surpreso com o que poderá aprender. 8. Reconheça que haverá comunidades indígenas que não vão querer que você participe de suas cerimônias. Humildemente abstenha-se de participar das cerimônias. 9. Reconheça que você e aliados indígenas provavelmente serão a minoria de uma causa que valha a pena a lutar. 10. Trabalhe com integridade e respeito, seja confiável e faça o que você disse que vai fazer. PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE Quem fala em nome da Deep Green Resistance? Junte-se ao Deep Green Resistance - 9 / 85 http://deepgreenresistance.org A Deep Green Resistance não é monolítica. Todos aqueles associados a ela têm opiniões que podem ser diferentes das opiniões dos outros membros da DGR. Assim, qualquer coisa dita por um membro da DGR não deve ser interpretada como política oficial da DGR, a menos que essas pessoas estejam falando especificamente pela DGR. A DGR respeita a diversidade de opinião expressada com respeito. A DGR é uma organização feminista? Incondicionalmente sim. (Veja também: Perguntas e Respostas sobre Feminismo Radical) Nas palavras de Andrea Dworkin “feminismo é a prática política de luta em favor das mulheres enquanto classe contra a supremacia masculina”.1 Comecemos com a frase "mulheres enquanto classe". De uma perspectiva radical, a sociedade é composta por grupos de pessoas; alguns grupos têm poder sobre outros grupos. Os poderosos utilizam a ideologia para naturalizar seu domínio e a submissão de grupos subordinados: se a sociedade for realmente ordenada pela natureza, ou por deus ou pelo cosmos, então não existe forma de luta contra ela. A ideologia pode ser bem eficiente para extinguir a resistência. O modelo de racismo que herdamos nos Estados Unidos foi originalmente criado pelos ingleses em suas tentativas de colonizar a Irlanda. Antes disso, diferenças entre povos eram vistas como culturais. Mas no século XVII, os ingleses desenvolveram uma ideologia que fazia apelos biológicos à uma suposta inferioridade dos irlandeses. Os irlandeses não eram culturalmente deficientes – eles eram, por sua natureza, "selvagens". A imagem que os ingleses tinham dos irlandeses era construída em torno do conceito de que eles eram uma "raça" separada da dos ingleses. Uma raça sem deus, imoral, preguiçosa, "doente, bárbara e incivilizada". Na base desta imagem estava a "crença de que muitos irlandeses eram incapazes de serem civilizados, que os 'selvagens' irlandeses, aqueles que mais vigorosamente resistiram à hegemonia inglesa, permaneceriam indomados: e que a única maneira de trazê-los para alguma forma de controle civilizado era escravizá-los.2 Com essa ideologia racial, pessoas ao redor do mundo poderiam ser escravizadas ou simplesmente exterminadas sem nenhuma reserva ética ou moral da parte dos colonizadores. Isto tem durado por centenas de anos. O ponto é que raça não é algo biologicamente real. Politicamente, socialmente, economicamente, raça é, é claro, uma realidade brutal ao redor do globo. Mas o conceito de raça é uma criação dos poderosos. Se nós queremos um mundo justo, as instituições materiais que mantêm pessoas que não são consideradas brancas [no original: people of color] subordinadas precisam ser derrubadas. Com isso, os conceitos de "branquitude" e "negritude" serão por fim abandonados na medida em que não fizerem mais sentido fora das realidades da supremacia branca. Muita gente fica confusa quando lhes é pedido para aplicar a mesma análise radical ao gênero. Mas a partir de uma perspectiva feminista, os paralelos são óbvios. Existem diferenças no tom de pele no âmbito da espécie humana? Sim. Por que essas diferenças ganham tanto significado? Porque um arranjo corrupto e brutal do poder precisa de uma ideologia chamada racismo. Existe diferença nas formas dos genitais das pessoas? Sim. Por que estas diferenças importam tanto? Por causa de um corrupto e brutal arranjo do poder – patriarcado – que precisa de uma ideologia chamada gênero. Patriarcado é um sistema político que separa machos e fêmeas por sua biologia e os transforma em categorias sociais chamadas homens e mulheres. Dessa forma a classe dos homens pode dominar "pessoas chamadas mulheres".3 Gênero é para mulheres o que raça é para as pessoas de cor: a construção ideológica que sustenta nossa subordinação. A Socialização masculina é o processo que transforma uma criança em um menino e, em seguida, em um homem. Ser um homem requer uma psicologia baseada na auto-afirmação, na dormência emocional e em uma dicotomia Junte-se ao Deep Green Resistance - 10 / 85 http://deepgreenresistance.org entre o eu e o outro. A masculinidade é essencial para qualquer cultura militarizada, porque esses são os traços psicológicos necessários para os soldados. Só se pode matar por um comando se o impulso humano para cuidarmos uns dos outros tiver sido subjugado ou erradicado. A constante necessidade de transformar os outros em Outro é um dos resultados: os rejeitados, peças "soft" do self, são projetados para fora, para que possam ser destruídos.4 Este é um projeto que, provavelmente, nunca terá fim enquanto os humanos tiverem coração e alma, e isso não pode ser extirpado, tentem os homens o quanto puder. Os veteranos do Vietnã que sofreram o maior estresse pós-traumático não foram os que sobreviveram às atrocidades, mas aqueles que cometeram atrocidades.5 A masculinidade requer o que os psicólogos chamam de um grupo de referência negativo, que é um grupo de pessoas “que um indivíduo... usa como padrão representando opiniões, atitudes ou comportamentos a se evitar." Meninos em culturas patriarcais criam grupos de referência negativos por uma questão de disciplina. O primeiro Outro que os meninos começam a desprezar é, claro, as meninas. Nenhum insulto é pior do que alguma versão do termo "menina", geralmente uma parte da anatomia feminina é deformada em discursos de ódio. Mas, com esse processo psicológico já em curso, a categoria "mulher" pode facilmente ser substituída por qualquer grupo que uma sociedade hierárquica precise dominar ou erradicar. Uma personalidade com um impulso infinito de provar a si mesmo contra o outro, qualquer outro, combinado com o “direito” que o poder traz, cria um imperativo de violação. Os homens se tornam "homens de verdade" quebrando limites, sejam eles as fronteiras sexuais das mulheres, as fronteiras culturais de outros povos, os limites políticos de outras nações, as fronteiras genéticas das espécies, os limites biológicos das comunidades de seres vivos ou os limites físicos do próprio átomo. Para a psique empodeirada a única razão pela qual o "Não" existe é para prover a emoção sexual de contestá-lo à força. O verdadeiro brilhantismo do patriarcado está nisso: ele não apenas naturaliza a opressão, mas também sexualiza atos de opressão. Ele erotiza a dominação e a submissão. Através dos conceitos – e da realidade vivida – de masculinidade e feminilidade, o patriarcado institucionaliza a dominação e a submissão através da cultura e se aprofunda em nossas psicologias. E assim, os homens cometem atos de brutalidade e violação como uma coisa natural. Perfis psicológicos de estupradores demonstram "que eles são homens ‘normais’ e ‘comuns’ que atacam sexualmente mulheres a fim de afirmar seu poder e controle sobre elas."6 O espancamento à mulheres é o crime violento mais comum nos EUA, cometido uma vez a cada quinze segundos. Trata-se de um homem batendo em uma mulher. É uma das principais causas de lesões e morte de mulheres nos EUA.7 Um estudo canadense descobriu que quatro em cada cinco estudantes universitários do sexo feminino tinham sido vítimas de violência em um relacionamento de namoro.8 A Organização Mundial da Saúde estima que "uma em cada quatro mulheres será estuprada, espancada, coagida a fazer sexo ou abusada de outra forma durante a sua vida, por vezes com consequências fatais".9 Qualquer coisa que aconteça nesta escala é vista como totalmente normal, uma parte da vida cotidiana, o comportamento para o qual a cultura global de dominação masculina está socializando os homens naturalizando-o. Neste momento, o patriarcado é a religião dominante do planeta. As mulheres são apenas mais um recurso para os homens usarem em uma busca sem fim para provar sua masculinidade nóciva e gerar soldados para o constante estado de guerra em que a civilização vive. A masculinidade e a guerra – contra o povo e contra o planeta – juntas criaram uma máquina de movimento perpétuo de dominação e destruição da terra e dos direitos humanos. É por esse motivo que o militarismo é uma questão feminista, que o estupro é uma questão ambiental e que a destruição do meio ambiente é uma questão de paz. Nós nunca iremos desconstruir a misoginia enquanto a dominação continuar sendo erotizada. Nós também nunca conseguiremos acabar com o racismo, nem vamos montar uma resistência efetiva contra o fascismo, uma vez que, como Sheila Jeffreys apontou, a raiz do fascismo é, enfim, a erotização da dominação e da subordinação – o fascismo é, em essência, um culto à masculinidade.10 Essas são todas enormes extensões desse mesmo princípio e o resultado é a tortura, o estupro, o genocídio e o biocídio. Junte-se ao Deep Green Resistance - 11 / 85 http://deepgreenresistance.org O coração desse inferno é a personalidade autoritária estruturada em torno da masculinidade. Lundy Bancroft, sobre a mentalidade dos homens abusivos, escreve: "A raiz [do abuso] é a propriedade, o tronco é o direito, e os ramos são o controle".11 Não há como fazer uma descrição mais clara da civilização ou do reinado de terror do patriarcado. O que é feminilidade? Feminilidade é um conjunto de comportamentos que são, em essência, a submissão ritualizada. A socialização feminina é um processo de constrangimento psicológico para diminuir as meninas – também conhecido como "aliciamento" – para criar uma classe de vítimas conformadas. Em toda a história essa diminuição tem incluído as chamadas "práticas de beleza", como a MGF (mutilação genital feminina) e o enfaixamento dos pés, bem como o abuso sexual infantil. A feminilidade é na verdade apenas a psique traumatizada exibindo aquiescência. Tornou-se chique abarcar noções modernas de pós-modernismo em alguns círculos de ativistas. Isto inclui a idéia de que sexo é um "binário". Mas o gênero não é um binário: é uma hierarquia, global em seu alcance, sádica em sua prática e assassina em sua conclusão, assim como raça, assim como classe. Sexo é a ideologia que subjaz as condições materiais de vida das mulheres: estupro, espancamento, pobreza, prostituição e gynocídio. Essas condições não poderiam existir sem a criação de categorias sociais como "homens" e "mulheres" – e sem as violentas e violadoras práticas que são, por sua vez, o que criam pessoas chamadas mulheres. Essas condições, conhecidas pelo termo geral patriarcado, têm que ser combatidas e desconstruídas até o conceito de gênero não ter mais significado. Noel Ignatiev, autor de How the Irish Became White (Como os Irlandeses Tornaram-se Brancos), defendeu a abolição da raça branca, definida como "privilégio branco e identidade racial."12 O DGR convida as pessoas brancas para realizarem esse projeto tão necessário, tanto pessoalmente quanto politicamente. Da mesma forma, o DGR quer desconstruir o sexo-classe homem, que é simplesmente o privilégio masculino e a identidade de gênero. Os homens podem ser traidores de sua classe, as mulheres podem se recusar a se submeter aos constrangimentos de esmagamento de gênero, materialmente e psicologicamente. Todos nós podemos lutar. O planeta está em pedaços; os indígenas estão deslocados e sendo exterminados; a escravidão é um modo de vida apenas temporariamente encoberto pela distância e pelos combustíveis fósseis; a supremacia masculina está carregada de sadismo sexual, mulheres e meninas sem voz estão sendo violadas. Nós dizemos: já basta. A liberdade e um planeta cada vez mais vivo só serão alcançados quando a masculinidade – sua religião, sua economia, sua psicologia, seu sexo – for confrontada e derrotada. O DGR está com as mulheres nessa guerra. Junte-se a nós! 1Dworkin, "Woman-Hating Right and Left", p. 30. p. 63. 3Dworkin, Letters, p. 270. 4Griffin. 5Grossman. 6Lenskyj. 7Langford and Thompson, p. 7. 8DeKeseredy and Kelly. 9"UN calls for strong action to eliminate violence against women." 10Jeffreys, p. 65. 11Bancroft, p. 75. 12Ignatiev. 2Smedly, _________________________________________________________________________ Junte-se ao Deep Green Resistance - 12 / 85 http://deepgreenresistance.org Bibliografia Bancroft, Lundy. Why Does He Do That? Inside the Minds of Angry and Controlling Men. New York: G.P. Putnam’s Sons, 2002. DeKeseredy, W. and K. Kelly. "The Incidence and Prevalence of Woman Abuse in Canadian University and College Dating Relationships: Results From a National Survey." Ottawa: Health Canada, 1993. Dworkin, Andrea. Letters from a War Zone. New York: E.P. Dutton, 1988. Dworkin, Andrea."Woman-Hating Right and Left," in Dorchen Leidholdt and Janice G. Raymond, eds. The Sexual Liberals and the Attack on Feminism. New York: Pergamon Press, 1990. Griffin, Susan. Pornography and Silence: Culture’s Revenge Against Nature. New York: Harper & Row, Publishers, 1981. Grossman, Lt. Col. Dave. On Killing: The Psychological Cost of Learning to Kill in War and Society. New York: Little, Brown and Company, 1995. Ignatiev, Noel. How the Irish Became White. New York: Routledge, 1996. Langford, Rae and June D. Thompson. Mosby’s Handbook of Diseases, 3rd Edition. St. Louis, MO: Elsevier Health Sciences, 2005. Lenskyj, Helen. "An Analysis of Violence Against Women: A Manual for Educators and Administrators." Toronto: Ontario Institute for Studies in Education, 1992. Jeffreys, Sheila. "Sado-Masochism: The Erotic Cult of Fascism." Lesbian Ethics 2, No. 1, Spring 1986. Smedley, Audrey. Race in North America: Origin and Evolution of a Worldview. Boulder, CO: Westview Press, 2007. "UN calls for strong action to eliminate violence against women." UN News Centre. http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=16674&Cr=&Cr1=. SUGESTÕES DE LEITURA Andrea Dworkin. Life and Death. New York: The Free Press, 1997. Cordelia Fine. Delusions of Gender. New York: W.W. Norton, 2010. Sheila Jeffreys. Beauty and Misogyny. New York: Routledge, 2005. Robert Jensen. Getting Off: Pornography and the End of Masculinity. Boston: South End Press, 2007. Rebecca M. Jordan-Young. Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2010. Como você define "civilização"? O Deep Green Resistance utiliza a definição de civilização de Derrick Jensen que foi exposta em Endgame vol. 1, p. 17 da seguinte forma: Junte-se ao Deep Green Resistance - 13 / 85 http://deepgreenresistance.org Civilization is a culture—that is, a complex of stories, institutions, and artifacts—that both leads to and emerges from the growth of cities (civilization, see civil: from civis, meaning citizen, from Latin civitatis, meaning city-state), with cities being defined—so as to distinguish them from camps, villages, and so on—as people living more or less permanently in one place in densities high enough to require the routine importation of food and other necessities of life. Veja também a descrição de Aric McBay para civilização. What's wrong with civilization? Why would anyone want it to end? O livro em dois volumes de Derrick Jensen, Endgame, explora extensamente essa questão. Ele desenvolveu 20 Premissas em sua analise: Premissa Um : A civilização não é e nunca será sustentável. Isto é especialmente verdadeiro para a civilização industrial. Premissa Dois: As comunidades tradicionais não desistem ou vendem voluntariamente os recursos nos quais se baseiam até que estejam destruídas. Elas também não aceitam deixar que seus territórios sejam danificados para que os outros recursos – ouro, petróleo e assim por diante – sejam extraídos. Disso resulta que aqueles que querem os recursos farão o que podem para destruir as comunidades tradicionais. Premissa Três: O nosso modo de vida - a civilização industrial – se baseia, exige e entraria em colapso muito rapidamente sem violência persistente e generalizada. Premissa Quatro: A civilização está baseada em uma hierarquia claramente definida e amplamente aceita, ainda que muitas vezes desarticulada. A violência feita por aqueles acima na hierarquia para os abaixo é quase sempre invisível, ou seja, despercebida. Quando se percebe, ela é totalmente racionalizada. A violência feita por aqueles abaixo na hierarquia para os acima é impensável e, quando ocorre, é considerada com choque, horror e fetichização das vítimas. Premissa Cinco: A propriedade dos acima na hierarquia é mais valiosa que a vida das pessoas abaixo. É aceitável para aqueles acima aumentarem a quantidade de bens que eles controlam – na linguagem cotidiana, ganhar dinheiro – destruindo ou tirando a vida das pessoas abaixo. Chama-se isso de produção. Se os que estão abaixo causam danos à propriedade dos acima, estes podem matar ou destruir a vida das pessoas abaixo. Chama-se isso de justiça. Premissa Seis: A civilização não é recuperável. Esta cultura não sofrerá qualquer tipo de transformação voluntária para uma forma sã e sustentável de viver. Se não colocarmos um fim nela, a civilização continuará a causar miséria para a grande maioria dos seres humanos e a degradar o planeta até que ela (a civilização e provavelmente o planeta) entre em colapso. Os efeitos dessa degradação continuarão a prejudicar os seres humanos e não-humanos por um longo tempo. Premissa Sete: Quanto mais tempo esperarmos para que a civilização entre em colapso – ou quanto mais tempo esperarmos antes de derrubá-la – pior será a queda e as coisas ficarão piores para aqueles seres humanos e não-humanos que habitam nela e os que virão depois. Premissa Oito: As necessidades do mundo natural são mais importantes que as necessidades do sistema econômico. Outra maneira de colocar Premissa Oito: Todo sistema, econômico ou social, que não beneficia as comunidades naturais em que se baseia, é insustentável, imoral e burro. Sustentabilidade, moralidade e Junte-se ao Deep Green Resistance - 14 / 85 http://deepgreenresistance.org inteligência (assim como a justiça) exigem o desmantelamento de qualquer sistema econômico ou social – ou, pelo menos, o impedimento – que danifique o seu território. Premissa Nove: Embora claramente um dia existirão menos humanos que atualmente, há muitas maneiras desta redução na população ocorrer (ou ser alcançada, dependendo da passividade ou atividade que escolhermos para abordar essa transformação). Algumas serão caracterizadas por extrema violência e privação: Guerra nuclear, por exemplo, reduziria tanto a população quanto o consumo, mas terrivelmente; o mesmo seria válido para uma continuação do crescimento seguido por uma queda. Outras formas são caracterizadas por menos violência. Dados os atuais níveis de violência desta cultura, tanto contra os seres humanos quanto contra o mundo natural, no entanto, não é possível falar de redução populacional e do consumo que não envolvam violência e privação, não porque as reduções necessariamente envolveriam violência, mas porque a violência e as privações tornaram-se o padrão de nossa cultura. No entanto, algumas formas de reduzir a população e o consumo, mesmo violentas, consistiriam em diminuir os atuais níveis de violência – requeridos e causados pelo movimento (muitas vezes à força) de recursos dos pobres para os ricos – e seriam, naturalmente, marcados por uma redução da violência em curso contra o mundo natural. Pessoal e coletivamente, podemos ser capazes de reduzir a quantidade e suavizar o caráter da violência que ocorre nesta mudança de curso e, talvez, em longo prazo. Ou talvez não. Mas uma coisa é certa: se não a abordarmos ativamente – se não falarmos sobre a nossa situação e o que faremos sobre ela – a violência certamente será muito pior e a privação mais extrema. Premissa Dez: A cultura como um todo, assim como a maioria dos seus membros, é insana. A cultura é impulsionada por um desejo de morte, um desejo de destruir a vida. Premissa Onze: Desde o início, essa cultura – a civilização – tem sido uma cultura de ocupação. Premissa Doze: Não existem pessoas ricas no mundo e não existem pessoas pobres. São apenas pessoas. O rico pode ter muitos pedaços de papel verde que muitos fingem valer alguma coisa – ou sua presumida riqueza pode ser ainda mais abstrata: números em discos rígidos nos bancos – e que os pobres não possuem. Estes “ricos” alegam que possuem terra e muitas vezes aos “pobres” é negado o direito de fazer essa mesma reivindicação. A finalidade principal da polícia é fazer cumprir as ilusões daqueles com muitos pedaços de papel verde. Os sem-papel verde geralmente caem nesses delírios quase tão rápida e completamente como aqueles que possuem papel verde. Essas ilusões trazem consequências extremas no mundo real. Premissa Treze: Aqueles no poder comandam pela força e quanto mais cedo rompermos as ilusões em contrário, mais cedo poderemos ao menos começar a tomar decisões razoáveis sobre se, quando e como vamos resistir. Premissa Quatorze: Do nascimento – e, provavelmente, desde a concepção, mas eu não sei como seria nesse caso – somos individual e coletivamente aculturados para odiar a vida, odiar o mundo natural, odiar o selvagem, odiar os animais selvagens, odiar as mulheres, odiar as crianças, odiar o nosso corpo, odiar e temer as nossas emoções, odiar a nós mesmos. Se nós não odiássemos o mundo não permitiríamos que ele fosse destruído diante de nossos olhos. Se nós não odiássemos a nós mesmos, não permitiríamos que nossos lares – e nossos corpos – fossem envenenados. Premissa Quinze: Amor não implica pacifismo. Premissa Dezesseis: O mundo material é primário. Isso não significa que o espírito não existe, nem que o mundo material é tudo que existe. Isso significa que o espírito se mistura com a carne. Isso significa também que as ações no mundo real têm conseqüências no mundo real. Isso significa que não podemos confiar em Jesus, Papai Noel, a Grande Mãe, ou mesmo no Coelho da Páscoa para nos tirar dessa bagunça. Isso significa que essa bagunça é realmente uma bagunça e não só o movimento das sobrancelhas de Deus. Isso significa que temos que enfrentar essa bagunça nós mesmos. Isso significa que durante o tempo que estamos aqui na Terra – quer acabemos ou Junte-se ao Deep Green Resistance - 15 / 85 http://deepgreenresistance.org não em outro lugar depois da morte ou se estamos condenados ou privilegiados a viver aqui – a Terra é o ponto. É primária. É o nosso lar. Ela é tudo. É bobagem pensar ou agir como se este mundo não fosse real e primário. É bobo e patético não viver nossas vidas se as nossas vidas são reais. Premissa Dezessete: É um erro (ou, mais provavelmente, uma negação) basear as nossas decisões e as ações delas decorrentes na possibilidade delas assustarem ou não os que estão em cima do muro ou a massa da população. Premissa Dezoito: O nosso sentido atual de nós próprios não é mais sustentável do que o nosso uso atual de energia ou de tecnologia. Premissa Dezenove: O problema da cultura está, acima de tudo, na crença de que controlar e abusar do mundo natural seja justificável. Premissa Vinte: Dentro dessa cultura, a economia – não o bem-estar comunitário, não a moral, nem a ética, nem a justiça e nem a própria vida – conduz as decisões sociais. Modificações da Premissa Vinte: As decisões sociais são determinadas principalmente (e muitas vezes exclusivamente) em função do fato de que estas decisões vão aumentar a fortuna monetária dos decisores políticos e aqueles a quem servem. Re-modificação da Premissa Vinte: As decisões sociais são determinadas principalmente (e muitas vezes exclusivamente) em função do fato de que estas decisões vão aumentar o poder dos decisores políticos e daqueles a quem servem. Re-modificação da Premissa Vinte: As decisões sociais são fundadas principalmente (e muitas vezes exclusivamente) na crença quase totalmente impensada de que os decisores políticos e aqueles a quem servem têm o direito de ampliar seu poder e/ou fortunas financeiras à custa dos que estão abaixo. Re-modificação da Premissa Vinte: Se você cavar até o coração disso – se sobrou qualquer coração – você descobrirá que as decisões sociais são determinadas principalmente com base no quão bem essas decisões servem para as finalidades de controlar ou destruir a natureza selvagem. Porque a civilização precisa ser desconstruída? Não estamos chegando a um ponto de inflexão da opinião pública? Derrick Jensen: Em 2004, George Bush recebeu mais de 62 milhões de votos nos Estados Unidos. É certo que os democratas são apenas o bom policial em um cenário de “policial bom/policial mau”, mas isso não altera o fato de que 62 milhões de pessoas votaram em George Bush. Agora as pessoas estão acampando durante a noite inteira para para fazer pressão pela assinatura de Sarah Palin. No pequeno município onde eu moro, existem poucas questões que podem mobilizar um número de pessoas suficientemente entusiasmadas para realizar algum protesto. Uma delas é que eles querem ter o direito de cultivar pequenas quantidades de maconha. Outra é que eles querem ter o direito de dirigir seus ORVs (veículos Off-Road) em qualquer lugar que desejarem. As pessoas não estão protestando contra a falta de vontade deste governo de prestar cuidados de saúde. As pessoas não estão protestando contra a intoxicação total do ambiente e de seus entes queridos que estão morrendo de câncer. Eles não estão protestando contra os Estados Unidos gastando bilhões de dólares – bilhões e bilhões de dólares – para matar pessoas em todo o mundo. Pelo contrário, uma das mais inteligentes jogadas políticas que qualquer político pode fazer é aumentar o orçamento militar. Isso é tremendamente popular. Junte-se ao Deep Green Resistance - 16 / 85 http://deepgreenresistance.org Essa cultura deve ser desfeita completamente. Essa é uma necessidade absoluta. A humanidade viveu sem industrialismo durante a maior parte de sua existência. O industrialismo está matando o planeta. Os seres humanos não podem existir sem o planeta. O planeta (e a existência humana sustentável) é mais importante do que o industrialismo. Claro, todos nós iríamos preferir que houvesse uma transformação voluntária, um ponto de inflexão. Mas se este ponto de inflexão não ocorrer, precisamos de um plano B. Não, a civilização não vai se transformar em algo sustentável. Isso não é concretamente possível. A civilização é funcionalmente insustentável. E o fato de idéias como o centésimo macaco serem tão usadas pelo discurso público nos permite perceber a distância extrema a que estamos de alcançar o tipo de mudanças que são necessárias. O fato de que as pessoas ainda estão falando a favor deste nível de alheamento da realidade material concreta é a própria prova de que não haverá uma transformação voluntária. Não, o momento é muito inflexível. O que precisamos fazer é dar um fim a esta cultura antes que ela mate o planeta. E, eu não posso falar por você, mas eu não vou confiar em um centésimo macaco ficcional para fazer o trabalho por mim quando eu posso fazer o trabalho sozinho. Você não pode forçar as pessoas a mudar. Uma mudança de paradigma não vai ocorrer, eventualmente, e trazer consigo um sistema sustentável? Derrick Jensen: Os proponentes da estratégia educacional frequentemente afirmam que o persistente trabalho em construir a consciência pública acabará por resultar em uma "mudança de paradigma" global, que irá mudar radicalmente as ações e opiniões da maioria. O termo mudança de paradigma vem do livro de 1962, de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, mas por alguns motivos, é inaplicável a nossa situação. Embora a expressão tenha ganhado popularidade na década de 1990 como um chavão de marketing, Kuhn escreveu explicitamente que a idéia só é aplicável a esses campos normalmente chamados de ciências exatas (física, biologia, química, e assim por diante). Um paradigma, segundo ele, é um sistema dominante de explicação presente em uma dessas ciências, ao passo que "um estudante na área de humanas tem constantemente diante dele [sic] um número de soluções concorrentes e incomensuráveis ■■para estes problemas, assim como soluções que ele deve por fim analisar por si mesmo". Os cientistas que tentam usar as equações para explicar, por exemplo, a mecânica orbital, podem chegar a um acordo sobre qual teoria é melhor, porque eles estão tentando desenvolver as equações de predição mais precisas. As ciências sociais e outras áreas não têm esse luxo, porque não há acordo sobre quais problemas são mais importantes, sobre como avaliar as suas respostas, sobre que tipo de resposta é a mais importante e quão exata ela precisa ser, e o que fazer quando as respostas surgem. Devido a estas diferenças, Kuhn argumentou que as verdadeiras mudanças de paradigma científico sempre levam a paradigmas melhores – que explicam melhor uma parte do mundo. Mas na sociedade em geral não é assim que acontece – visões de mundo dominantes podem ser substituídas por visões de mundo que são consideravelmente piores para explicar o mundo ou que são prejudiciais para os seres humanos e para a vida no planeta, um fenômeno que é tristemente comum na história. Além disso, Kuhn argumentou que mesmo quando um paradigma muito melhor é apoiado por forte evidência a comunidade científica não necessariamente muda rapidamente. Os cientistas que têm praticado o paradigma obsoleto por toda a sua carreira não vão mudar as suas mentes mesmo na presença de provas contundentes. Kuhn cita o Prêmio Nobel Max Planck, que disse que "uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo-os ver a luz, mas sim porque seus oponentes eventualmente morrem e uma nova geração que é mais familiar a ela surge". Junte-se ao Deep Green Resistance - 17 / 85 http://deepgreenresistance.org Ainda pior para nós, Kuhn e Planck estão supondo que as pessoas em questão estão genuinamente e deliberadamente tentando encontrar o melhor paradigma possível. Fazer isso requer muito tempo de trabalho. Nós realmente acreditamos que a maioria das pessoas vai gastar suas horas vagas tentando obter uma compreensão mais profunda do mundo, tentando vasculhar a enorme quantidade de informações disponíveis, tentando compreender a história, a ecologia e a economia? A própria idéia de uma mudança de paradigma pressupõe que a maioria das pessoas esteja ativamente tentando encontrar soluções em grande escala para a nossa situação atual em vez de serem ignorantes e profundamente comprometidos com um sistema econômico e social conveniente que recompensa as pessoas por destruir o planeta. Na verdade, parte do problema com a "educação" é que não são apenas os esquerdistas que caem nessa tendência, isso raramente é imparcial. Estudos têm demonstrado que na direita política, as pessoas mais educadas são menos propensas a admitir a existência do aquecimento global. Isto acontece, provavelmente, porque eles têm justificativas mais sofisticadas para seus delírios. Mas vamos parar por um momento e tomar a interpretação mais otimista (mesmo que deformada) do conceito de Kuhn e assumir que uma mudança de paradigma benéfica vai acontecer, ao invés de um agravamento da política e uma amplificação de visões de mundo dominantes. Essa mudança exigiria provas abundantes de que a cultura dominante – civilização – é inerentemente destrutiva e está condenada a se autodestruir, juntamente com o planeta vivo. Como não podemos fazer vários testes experimentais em uma civilização industrial global, para muitas pessoas, a única demonstração empírica incontornável da insustentabilidade fundamental do sistema dominante seria o colapso do sistema. Só nesse momento a maioria das pessoas iria se comprometer seriamente e pessoalmente em aprender a viver sem destruir o planeta, e mesmo assim, essas pessoas provavelmente iriam continuar a insistir em sua visão de mundo ultrapassada, até que, como Max Planck observou, morressem, resultando em um atraso de décadas após o colapso para que um paradigma benéfico se tornasse dominante. Isso significa que, mesmo na avaliação mais otimista e razoável, uma "mudança de paradigma global" aconteceria décadas mais tarde do que o necessário. Eu sou um fã de Daniel Quinn. Ele diz que devemos simplesmente sair da civilização. O que há de errado com essa estratégia? Derrick Jensen: Há dois problemas com isso. Com a civilização em processo de metástase, espalhando-se por todo o globo e bombardeando a Lua, para onde você poderia ir? Você pretende fugir para o Ártico em derretimento? Você pretende fugir para o meio do oceano, onde há quarenta e oito vezes mais plástico do que fitoplânctons: dentro dessa cultura, a economia – e não o bem-estar das comunidades, não a moral, nem a ética, nem a justiça, nem mesmo a vida si – é quem impulsiona as decisões sociais. Sendo assim, para onde você deve ir? Há dioxina no leite materno de cada mãe, de forma que você não pode sequer beber leite materno sem ingerir patógenos. Há substâncias cancerígenas em cada rio dos Estados Unidos e, provavelmente, do mundo. Para onde você pretende fugir? Alguns respondem a isto dizendo: "Oh, não, ele está falando de um estado mental. Nós deveríamos ir embora emocionalmente e sair". Mas o mundo material é a base para toda a vida e você não pode retirar-se dele. Fugir em face da complexidade moral não é resposta alguma. Fugir em face de atrocidades não é resposta alguma. Duas centenas de espécies foram extintas hoje. Quando nos confrontamos com essas atrocidades cometidas cabe-nos parar essas atrocidades usando qualquer meio necessário. Se você estivesse sendo torturado até a morte em algum porão e eu soubesse disso, você gostaria que eu te abandonasse e fugisse? Você aceitaria que eu dissesse: "Oh, já sei o que fazer, vou dar no pé." Do que você me chamaria se eu fizesse isso? Eu estou supondo que "covarde" seria a palavra mais gentil que você poderia usar. Junte-se ao Deep Green Resistance - 18 / 85 http://deepgreenresistance.org Como eu posso saber se a civilização é irrecuperável? Derrick Jensen: Olhe ao seu redor. Noventa por cento dos grandes peixes nos oceanos desapareceram. Os salmões estão em colapso. Os pombos passageiros sumiram. Os maçaricos esquimós sumiram. Noventa e oito por cento das florestas nativas sumiram, noventa e nove por cento das zonas úmidas, noventa e nove por cento dos campos nativos. Do que mais você precisa? Do que você precisa para finalmente reconhecer que ela não é recuperável■■? Em A Language Older Than Words eu expliquei como todos nós estamos sofrendo do que Judith Herman chamaria de "Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo." Judith Herman pergunta: "O que aconteceria se você fosse criado em cativeiro? O que aconteceria se você fosse mantido em cativeiro por um longo prazo, como um prisioneiro político, como um sobrevivente de violência doméstica?" Você é levado a acreditar que todos os relacionamentos são baseados em poder, que o poder faz bem, que não existem relações totalmente mútuas. Isso, é claro, descreve toda a epistemologia desta cultura e toda a forma desta cultura se relacionar. Os povos indígenas têm dito que a diferença fundamental entre formas ocidentais e indígenas de ser é que mesmo os ocidentais com a mente mais aberta vêem e ouvem o mundo natural como uma metáfora, em oposição à forma como o mundo realmente funciona. Assim, o mundo é feito de recursos a serem explorados, ao invés de ser feito de outros seres a se relacionar. Temos sido tão traumatizados que não somos capazes de perceber que os relacionamentos reais são possíveis. Essa é uma das razões pela qual essa cultura não é recuperável. Aqui está outra resposta. Em Culture of Make Believe, eu escrevi sobre como essa cultura é irrecuperável porque seus sistemas de recompensas sociais levam inevitavelmente à atrocidade. Esta cultura é baseada em competição ao invés de cooperação e, como tal, irá inevitavelmente levar a guerras por recursos. A antropóloga Ruth Benedict tentou descobrir por que algumas culturas são boas (para usar as palavras dela) e algumas culturas não são boas. Em uma boa cultura, os homens tratam as mulheres bem, os adultos tratam bem as crianças, as pessoas geralmente são felizes e não há muita concorrência. Ela descobriu que as boas culturas têm uma coisa em comum, elas descobriram algo muito simples: elas reconhecem que os seres humanos são criaturas sociais e também egoístas, que eles fundem egoísmo e altruísmo elogiando os comportamentos que beneficiam o grupo como um todo e não permitindo comportamentos que beneficiam o indivíduo em detrimento do grupo. As culturas ruins recompensam socialmente o comportamento que beneficia o indivíduo em detrimento do grupo. Se você recompensar o comportamento que beneficia o grupo, este é o tipo de comportamento que você vai estimular. Se você recompensar o comportamento que é egoísta, ganancioso, este é o comportamento que você vai estimular. Esse é um comportamento Mod. 101. Esta cultura premia o comportamento altamente consumista, psicopatológico, e esse é o comportamento que vemos se alastrar. É inevitável. Precisa de uma outra resposta? Em Endgame expliquei que uma cultura que importa recursos não pode ser sustentável. Para ser sustentável, uma cultura deve ajudar seu ambiente, mas a necessidade de importação de recursos resulta do fato de que um determinado recurso já foi esgotado desse ambiente. À medida que a cidade cresce, os recursos de uma área cada vez maior são esgotados. O modo de vida dessa cultura não pode ser sustentável. Este modo de vida é sempre baseado na violência. Se a cultura requer a importação de recursos, o comércio nunca será suficientemente confiável. Se pessoas viverem próximas de algum recurso de que essa cultura precisa, elas serão roubadas. Mesmo que todos nós nos tornássemos bodhisattvas, o exército dos EUA ainda teria que ser enorme. A civilização é irredimível em um nível funcional. Junte-se ao Deep Green Resistance - 19 / 85 http://deepgreenresistance.org Podemos falar tudo o que quisermos sobre as novas tecnologias, mas a partir do momento em que elas exigirem fiação de cobre, vão exigir uma infra-estrutura industrial, bem como uma infra-estrutura de mineração, o que é inerentemente insustentável. Neste momento os Estados Unidos estão gastando 100 bilhões de dólares por ano para invadir e ocupar o Afeganistão. Isso é cerca de três mil e quinhentos dólares para cada homem, mulher e criança afegã por ano. Ao mesmo tempo, todos os peritos da ala política da direita dão a mesma resposta: "É muito caro deter o aquecimento global". Há sempre dinheiro para matar pessoas. Nunca há dinheiro suficiente para fins de afirmação da vida. Eu olho em volta para todos os lados e não vejo nenhum sinal de possibilidade de recuperação nesta cultura. O mundo material está sendo assassinado. O padrão está claro. Precisamos reconhecer esse padrão, e em seguida temos que parar aqueles que estão matando o planeta. Como posso ter certeza de que minhas ações não vão causar ou adiantar a extinção dessas espécies que eu estou tentando salvar? Como posso ter certeza de que minhas ações não resultarão em pessoas famintas matando cada animal selvagem de sua região em busca de alimentos ou derrubando até a última árvore para produzir combustível? Derrick Jensen: Nós não podemos ter certeza absoluta de nada. A única coisa que podemos ter certeza é que, se a civilização continuar, ela vai matar cada ser existente na terra. Mas vamos dar um cenário razoavelmente pior de um evento cataclísmico. Chernobyl foi um desastre horrível, no entanto, teve um resultado ecológico espetacularmente positivo: os seres humanos têm sido mantidos fora da área e a vida selvagem está retornando. Sabe o que isso significa? O funcionamento do dia-a-dia da civilização é pior do que uma catástrofe nuclear. Seria difícil fazer pior do que Chernobyl. Entendo, basta ser minimamente inteligente para se fazer essas perguntas. Mas se não agirmos não haverá mais nada. O que o mundo precisa é ser deixado em paz. O que o mundo precisa é que essa cultura – que está continuamente cortando-o, torturando-o, matando-o – seja impedida de continuar. Como eu posso fazer alguma coisa para ajudar a derrubar a civilização e não simplesmente jogar fora a minha vida em um ato inútil? Derrick Jensen: Há três respostas. A resposta filosófica é que não podemos saber o futuro. Nunca podemos saber se alguma ação será útil. Devemos escolher o que achamos que são as ações mais eficazes, mas isso ainda não garante que qualquer ato terá sucesso. O que podemos saber é que, se essa cultura continuar na direção em que está indo, ela vai chegar ao seu destino, que é o assassinato do planeta. Já existem vítimas, como o salmão. Como os tubarões. Como as andorinhas pretas. Como os pássaros canoros. Como os oceanos e rios. Como os povos indígenas. Como os pobres. Como os agricultores de subsistência. Como as mulheres. A segunda resposta, é sobre a forma como os movimentos de resistência trabalham. Você perde e você perde e você perde até que você ganha. Eles esmagam sua cabeça, esmagam sua cabeça, esmagam sua cabeça, e então você vence. Você não pode saber quando deve começar, muitas vezes você tem que ter sua cabeça esmagada antes de vencer. Mas a luta se baseia em luta. Ela tem que começar em algum lugar e tem que ganhar impulso. Isso acontece por meio da organização, isso acontece por meio de ações, e isso acontece através de vitórias. Uma das melhores ferramentas de recrutamento é alguma espécie de vitória. E você não pode ter uma vitória a menos que você tente. E agora o pragmático: estamos em um número terrivelmente menor e não temos o luxo de jogar fora nossas vidas. Como podemos ser mais eficazes? Temos que ser inteligentes. Escolha alvos com cuidado, tanto no que diz respeito ao valor estratégico quanto à segurança. E nós temos que nos unir. A possibilidade de uma pessoa Junte-se ao Deep Green Resistance - 20 / 85 http://deepgreenresistance.org solitária desencadear um movimento maior é muito mais baixa do que a de um grupo de pessoas organizadas. Qualquer ação que uma pessoa coloca em prática (e isso é verdade em todas as áreas da vida) precisa contar. Muitas das ações que estão sendo tomadas agora são essencialmente atos de vandalismo, em oposição a atos de sabotagem ativa que retardam o movimento da máquina. Então escolha. Como você pode fazer suas ações (e sua vida) terem o melhor resultado em termos de impedir a perpetração da atrocidade? All those who begin to act against the powers of any repressive state need to recognize that their lives will change. They need to take that decision very seriously. Some of the people captured under the Green Scare knew what they were getting into, and some of them made the decision more lightly. The latter were the people who turned very quickly when they were arrested. One person turned within five seconds of getting into the police car. That person probably didn't seriously consider the ramifications of his actions before he began. The Black Panthers knew when they started the struggle that they would either end up dead or in prison. Finally, we have to always keep what we're fighting for in sight. We are fighting for life on the planet. And the truth is, the planet's life is worth more than you. It's worth more than me. It is the source of all life. That doesn't alter the fact that we should be smart. We need to be very strategic. We need to be tactical. And we need to act. Será que John Brown jogou sua vida fora? Por um lado, pode-se dizer que sim. Seu projeto acabou por fracassar. Mas, por outro lado, pode-se dizer que ele criou coisas muito maiores. Será que Nat Turner jogou sua vida fora? Será que os membros da revolta de Sobibor jogaram as suas vidas fora? Por um lado, pode-se dizer que sim. Por outro lado, você poderia dizer que eles fizeram o que era absolutamente certo e necessário. E algo que devemos sempre lembrar é que aqueles que participaram do levante do Gueto de Varsóvia tiveram uma taxa de sobrevivência maior do que aqueles que não participaram. Quando todo o planeta está sendo destruído, sua inação não vai te salvar. Devemos escolher a maior vida. Devemos escolher fazer o que é certo para proteger o planeta. Ela é a nossa única casa. O que se entende por "aboveground" e "underground" ou "belowground"? No DGR usamos esses termos para distinguir diferentes partes de um movimento. "Aboveground" refere-se às partes de um movimento de resistência que trabalham abertamente e operam mais ou menos dentro dos limites das leis do Estado. Isso significa que o ativismo aboveground e a resistência geralmente limitam-se a não-violência. O DGR é uma organização aboveground; atuamos publicamente e não tentamos esconder quem somos ou o que nós desejamos, porque a abertura e a ampla participação é o que faz com que as organizações aboveground sejam eficazes. "Underground" ou "belowground" referem-se às partes de um movimento de resistência que operam em segredo. Geralmente, esses grupos usam táticas mais militantes ou violentas, como destruição de propriedade e sabotagem, para alcançar seus objetivos. O uso destas táticas faz com que se tornem inimigos abertos do Estado, o que torna a segurança e o sigilo muito importantes para esses grupos clandestinos. Historicamente, esses grupos têm um processo de adesão rigoroso para garantir que os novos recrutas estejam preparados para as demandas psicológicas e/ou físicas do trabalho underground e sejam treinados em combate e outras operações necessárias, bem como em uma cultura de segurança adequada. A cultura de segurança aboveground também é importante para manter a eficácia dos grupos mais expostos. O DGR é uma organização estritamente aboveground. Não vamos responder a perguntas sobre o desejo pessoal de alguém de fazer parte ou formar um grupo underground. Nós não queremos nos envolver ou conhecer qualquer organização underground. Fazemos isso para garantir a segurança de todos os envolvidos com o Deep Green Resistance. Junte-se ao Deep Green Resistance - 21 / 85 http://deepgreenresistance.org O que é uma "Cultura de Resistência"? A cultura de resistência existe para incentivar e promover a resistência política organizada, alimentando a vontade de lutar. Ela ajuda as pessoas a quebrar a sua identificação psicológica com o sistema opressivo e criar uma nova identidade baseada no auto-respeito e solidariedade. Oferece o apoio emocional de uma comunidade funcional que acredita na resistência, bem como uma atmosfera intelectualmente vibrante que incentiva a análise, discussão e desenvolvimento da consciência política. Ela gera produtos culturais como poemas, músicas e arte organizados em torno do tema da resistência. Ela constrói as novas instituições que assumirão quando as instituições corruptas caírem. Fornece lealdade e material de apoio para os resistentes da linha de frente aboveground e para os presos políticos. Por que eu deveria praticar ação direta em grande escala contra o sistema quando quase ninguém mais, especialmente no primeiro mundo, irá fazer o mesmo? Derrick Jensen: Porque o mundo está sendo assassinado. E porque os membros do chamado "primeiro mundo" são os principais beneficiários. Não cabe aos pobres estar na linha de frente mais uma vez. Não cabe aos indígenas serem a linha de frente. Não cabe aos não-humanos ser a linha de frente. Dar fim a esse sistema é nossa responsabilidade enquanto beneficiários dele. O MEND (Movimento para a Emancipação do Delta do Níger) foi capaz de reduzir a produção da indústria de petróleo em cerca de 30 por cento na Nigéria. Eles têm feito isso porque amam a terra em que vivem e porque ela está sendo destruída. Nós temos muito mais recursos à nossa disposição. É nossa responsabilidade usar esses recursos e o privilégio que temos para impedir que esta cultura mate o planeta. O que é que distingue uma resistência anti-civilização de outros movimentos já conhecidos, os quais têm sido dominados com sucesso por aqueles que estão no poder por meio de métodos de contra inteligência? As pessoas têm novas estratégias e táticas que podem combater estes novos sistemas e tecnologias? Derrick Jensen: Francamente, não. As pessoas de hoje têm uma enorme desvantagem em relação às pessoas do passado, já que agora vivemos dentro de um panóptico. A capacidade de vigiar e matar à distância aumentou muito mais do que era no passado. Compare os poderes do Estado no momento com aqueles, digamos, na Alemanha nazista. Para os nazistas, tecnologia de impressão digital ainda era muito novo. Eles não tinham nada parecido com a capacidade de vigiar as pessoas que os Estados modernos têm. Eles tinham apenas computadores rudimentares. Eles não tinham a capacidade de produzir softwares de reconhecimento de voz. Eles não tinham nenhum software. Então, quem está no poder tem uma enorme vantagem em relação aos movimentos populares históricos. Os movimentos de resistência indígena e de povos tradicionais tiveram aldeias onde eles poderiam ficar seguros. Eles tinham lugares selvagens onde poderiam ficar seguros. Eles tinham seu próprio território. As pessoas agora não têm isso. Eles, no entanto, têm uma vantagem significativa se comparados aos movimentos de resistência indígena dos últimos 500 anos, aos quais se misturaram. Tecumseh não poderia ter andado pela Filadélfia sem ser reconhecido. As pessoas hoje têm essa vantagem. Mas a maior vantagem que as pessoas de hoje têm sobre as pessoas de épocas anteriores é que a era dourada acabou. A era do petróleo barato acabou. Os impérios de hoje estão a caminho do colapso. É de conhecimento comum que a civilização parece estar se dissolvendo, qualquer um que fosse mesmo remotamente contrário teria dificuldade para defender sua posição. Mas hoje tudo indica que se a civilização cair, seus imperadores não poderão nem mesmo manter-se em comunicação, mesmo que pelos modos mais arcaicos, muito menos manter o nível de opressão que historicamente têm perpetrado contra aqueles que se opõem ao império. Pense no colapso Junte-se ao Deep Green Resistance - 22 / 85 http://deepgreenresistance.org da União Soviética; ela simplesmente caiu sem nem mesmo instigar repressões ou gulags. A União Soviética não tinha os recursos. Mesmo os Estados Unidos está caindo aos pedaços. O governo dos EUA não pode sequer manter os sistemas de água e as estradas do país. Os governos estaduais e federais não podem mais pagar por faculdades. Os que estão no poder não têm o dinheiro, eles não têm os recursos, e esses recursos nunca irão voltar. Se alguém tivesse tirado algum pedaço importante da infra-estrutura nos últimos anos, quem está no poder hoje seria capaz de substituí-lo. Mas agora os governos do mundo não têm dinheiro. E quanto mais eles gastam em reconstrução, menos dano primário eles podem fazer. Um movimento de resistência seria demonizado e retratado como eco-terrorista pela mídia mainstream. Existe uma mídia alternativa com uma estratégia para combater isso? Derrick Jensen: Há uma mídia alternativa, mas será que ela vai ser capaz de impedir esta demonização? Não. A mídia alternativa é morna e cheia de hostilidade horizontal. A questão maior é: "Existe um fórum de mídia que está apoiando a resistência séria contra essa cultura que está assassinando o planeta?" E a resposta, infelizmente, é não. Até mesmo as chamadas revistas de natureza têm uma enorme resistência a promover algo diferente de compostagem ou andar de bicicleta. Ou melhor, devo dizer, um monte de leitores delas também partilham dessa característica. Um dos propósitos do [Deep Green Resistance] é ajudar a criar essa literatura de resistência – o que é absolutamente necessário – que vai ajudar a criar uma mídia de resistência maior. Isso usa todas as formas de mídia, desde histórias em quadrinhos, filmes e livros até graffiti e pessoas batendo um papo na frente de casa. Precisamos discutir isso e precisamos discutir abertamente. Um primeiro passo absolutamente necessário para a resistência é falar sobre isso. Pode-se ver que isso está presente em cada movimento de resistência do passado e também estará nos movimentos futuros, desde que haja movimentos de resistência no futuro. Devemos colocar todas as opções sobre a mesa e discuti-las abertamente, honestamente, sinceramente. Existe uma rede de solidariedade/apoio pronta para apoiar alguém que vá para a prisão por ativismo? Existe um sistema de apoio consolidado para apoiar a família de alguém, caso um ativista que seja o sustento de sua família vá para a prisão? Derrick Jensen: Formalmente, existe. Por exemplo, a Cruz Negra Anarquista apóia presos políticos e também há outras organizações que dão suporte a presos políticos. Mas a verdade é que precisamos construir uma base muito mais ampla do que essa. Atualmente, o apoio a prisioneiros é muito precário. E é muito fácil fazer as coisas básicas. A minha mãe, a cada ano, escreve a muitos presos políticos em seus aniversários e em torno do solstício de inverno. Muitas dessas pessoas ficarão na prisão por trinta ou quarenta anos e as cartas que ela escreve podem ser uma das duas ou três que eles recebem durante todo o ano. Portanto, há organizações no local, mas as organizações têm que ser muito mais robustas. E, mais do que isso, como o apoio às famílias, não, não há. Mas deveria haver. Estas são coisas que podem e devem ser feitas por aqueles que estão totalmente aboveground. Temos enfatizado ao longo deste livro, que nem todo mundo precisa tomar ações ilegais graves. Mas precisamos de uma cultura de resistência e parte dessa cultura é uma ampla rede de apoio voltada para aqueles prisioneiros que estão na linha de frente. Precisamos de um sistema em que apoiamos as tropas, aqueles que estão realmente lutando para o planeta. Isso precisa estar consolidado, e até agora não está. Vocês têm advogados dispostos a nos ajudar/aconselhar em como devemos proceder? Atualmente, estamos construindo um suporte legal com esse objetivo. Precisamos de voluntários para esta e outras tarefas. Como eu poderia aceitar o risco de ser pego quando isso pode significar nunca mais poder ver ou ajudar a minha família/companheiro/filhos nestes tempos difíceis? Junte-se ao Deep Green Resistance - 23 / 85 http://deepgreenresistance.org Derrick Jensen: Nada neste livro é destinado a convencer as pessoas a fazer coisas que elas não queiram fazer. Aliás, nada neste livro é destinado a convencer as pessoas a fazer algo ilegal (mesmo sabendo que não estar envolvido em alguma atividade criminosa real não é garantia de que você não será punido por aqueles que estão no poder). Já dissemos várias vezes que há uma abundância de maneiras pelas quais uma cultura de resistência pode se manifestar, uma série de atividades que você pode participar e que não são tão imediatamente arriscadas quanto ações underground. Se a sua principal preocupação é o risco de ser apanhado, há uma variedade de outras coisas que você pode fazer. Mas lembre-se que quando a repressão do Estado ficar mais forte, agir com grupos aboveground não impedirá que o Estado vá atrás de você. Muitas vezes são os intelectuais formadores de opinião, os organizadores e os escritores que são jogados na cadeia. O pessoal que age com o underground, sem um perfil público, estão, por vezes, mais seguros. Talvez, porém, devesse-mos mudar a pergunta. "Você está disposto a arriscar não ter peixe nos oceanos?" Se as coisas continuarem do jeito que estão, até 2050 não haverá peixes nos oceanos. Os anfíbios já estão morrendo. As aves canoras migratórias já estão morrendo. O planeta está morrendo. Você está disposto a correr esse risco? Nada disso é teórico. Quando o sistema industrial desmoronar, isso será o meu fim. Sou dependente da medicina de alta tecnologia para manter a minha vida. Mas há algo maior e mais importante do que a minha vida. Se nós agirmos de forma eficaz contra aqueles que estão no poder, será que eles não irão apenas vir para cima de nós com ainda mais força? Derrick Jensen: Eles vão, mas isso não é motivo para se submeter. Esta é a forma como os regimes autoritários e abusadores trabalham: eles fazem suas vítimas terem medo de agir. Eles reforçam a idéia de que: "Se eu tentar deixar meu marido abusivo ou meu cafetão, ele pode me matar." E essa é uma boa razão para não resistir. Esta questão articula explicitamente o que todos nós sabemos ser verdade: a base dessa cultura é a força. A principal razão pela qual não resistimos é porque temos medo dessa força. Sabemos que se agirmos de forma decisiva para proteger os lugares e criaturas que amamos, ou se agirmos decisivamente para acabar com a exploração empresarial do pobre, isso fará com que aqueles que estão no poder venham para cima de nós com todo a força do Estado. Podemos falar tudo o que quisermos sobre como nós supostamente vivemos em uma democracia. Podemos falar tudo o que quisermos sobre o consentimento dos governados. Mas o que realmente importa é que se você efetivamente se opuser à vontade de quem está no poder, eles vão tentar te matar. Precisamos ter isso bem claro para que possamos enfrentar a situação em que estamos. E a situação em que estamos é a seguinte: os que estão no poder estão matando o planeta e explorando os pobres, estão matando os pobres, e não estamos impedindo-os porque estamos com medo. Mas tem que haver alguns de nós que estão dispostos a agir mesmo assim. Nunca devemos subestimar a gravidade de tentar parar quem está no poder. E nós também precisamos ser muito claros sobre a gravidade do que está acontecendo com o mundo. Se você está lendo este livro, você provavelmente vai perceber o quão desesperadoras as coisas estão. Qual é o legado que queremos deixar para os que virão depois de nós? Como você quer ser visto pelas gerações a seguir? Você quer ser visto como alguém que sabia o que era a coisa certa e não a fez porque estava com medo? Ou você quer ser lembrado como alguém que estava com medo e mesmo assim fez a coisa certa? Não há problema em ter medo. Quase todo mundo que conheço está com medo em algum momento ou outro. Mas há uma enorme alegria e emoção que vem, também, de fazer o que é certo. O fato de que quem está no poder vai usar seu poder contra os resistentes não é um motivo para desistir da luta antes mesmo de começar. É na verdade um motivo para ser muito, muito inteligente. Junte-se ao Deep Green Resistance - 24 / 85 http://deepgreenresistance.org O que aconteceu com aqueles que tentaram usar a violência? Fred Hampton, Laura Whitehorn, e Susan Rosenberg são apenas alguns dos muitos que tentaram usar a força e acabaram mortos, enquadrados ou na cadeia. Você diz que todos nós temos um papel; o que você pensa sobre propor que outros façam o que você não vai fazer? Derrick Jensen: Não é uma questão de correr mais ou menos riscos atuando aboveground ou underground. Quando a repressão torna-se mais aberta, são as pessoas que estão no aboveground, que, muitas vezes, são o primeiro alvo de quem está no poder. Erich Mühsam agia no aboveground, assim como Ken Saro-Wiwa. Muitos escritores agem assim. Esse é o nosso papel. O nosso papel é carregar grandes alvos em nosso peito para que possamos ajudar a formar uma cultura de resistência. Nosso papel é sermos públicos e, claro, se você for uma pessoa pública, você não pode estar no underground; deve haver uma separação absoluta de segurança entre as atividades e organizações aboveground e underground. Esta é um ponto básico da cultura de segurança. Não estamos pedindo que outras pessoas façam coisas que não estamos dispostos a fazer. Na verdade, não estamos pedindo para ninguém fazer nada em específico. Todos nós precisamos encontrar os nossos próprios papéis com base em nossa avaliação pessoal de quais são os riscos que estamos dispostos a correr e quais são as nossas capacidades. Quem está no poder virá para cima de nós se resistirmos. Não importa se essa resistência seja violenta ou não-violenta. A resistência traz consigo o risco e a retaliação, mas é da resistência que o nosso planeta precisa. Se derrubarmos a civilização, isso não vai matar milhões de pessoas nas cidades? E quanto a eles? Derrick Jensen: Não importa o que fizer, você vai sujar suas mãos com sangue. Se você participar da economia global, vai sujar suas mãos com sangue porque a economia global está matando os seres humanos e não-humanos de todo o planeta. Meio milhão de crianças morrem a cada ano como resultado direto do chamado "pagamento da dívida" dos países não-industrializados para nações industrializadas. Sessenta mil pessoas morrem todos os dias por causa da poluição. E o que dizer de todas as pessoas que estão sendo expulsas de suas terras? Há um monte de gente morrendo nesse momento. Deixar de agir em face da atrocidade não é uma resposta sensata. A triste realidade é que tanto a diminuição de energia quanto o colapso biótico serão cada vez mais graves na medida em que a cultura dominante continuar destruindo a base para a vida neste planeta. E, no entanto, algumas pessoas vão dizer que aqueles que propõem o desmantelamento da civilização estão, de fato, sugerindo um genocídio em massa. Os ursos polares e salmões prateados discordariam. Os povos indígenas tradicionais discordariam. Os seres humanos que herdarão o que resta deste mundo quando a cultura dominante finalmente cair também discordariam. Eu discordo. Minha definição de desmantelamento da civilização é privar os ricos de sua capacidade de roubar os pobres e privar os poderosos de sua capacidade de destruir o planeta. Ninguém a não ser um capitalista ou um sociopata (se é que há alguma diferença) pode discordar disso. Anos atrás, eu perguntei para Anuradha Mittal, ex-diretora do Food First: "Será que o povo da Índia não ficaria numa situação melhor se a economia global desaparecesse amanhã?" E ela disse: "É claro." Ela disse que os pobres de todo o mundo ficariam em uma situação melhor se a economia mundial entrasse em colapso. Há antigos celeiros na Índia que agora exportam alimentos para cães e tulipas para a Europa. Os pobres rurais em todo o mundo estão sendo explorados por este sistema. Eles não estariam em uma situação melhor? E os Junte-se ao Deep Green Resistance - 25 / 85 http://deepgreenresistance.org agricultores da Índia que estão sendo expulsos de suas terras para que a Coca-Cola possa se apropriar da sua água? E quanto àqueles que estão cometendo suicídio por causa da Monsanto? Uma parcela significativa de pessoas no mundo não tem acesso à eletricidade. Eles estariam em uma situação pior do que a que estão hoje com a queda da grade de transmissão de energia elétrica? Não, eles estariam em uma situação melhor. E quanto aos povos indígenas do Peru que estão lutando para impedir a exploração de petróleo em suas terras pela Hunt Oil possibilitada pelo acordo entre o governo do Peru e dos EUA? Quando alguém diz: "Muitas pessoas vão morrer", nós temos que falar sobre: de quais pessoas estamos falando. Pessoas de todo o mundo já estão enfrentando a fome, mas a maior parte delas não está morrendo de fome; eles estão morrendo de colonialismo, porque a sua terra e as suas economias foram roubadas. Ouvimos o tempo todo que o mundo está ficando sem água. Ainda há tanta água quanto havia no passado, mas 90 por cento da água utilizada pelos seres humanos está sendo utilizada para a agricultura e indústria. As pessoas estão morrendo de sede, porque a água está sendo roubada. Quando perguntei a um membro do grupo rebelde peruano MRTA, o Tupamarus, "O que você quer para o povo do Peru?" sua resposta foi: "O que queremos é poder crescer e distribuir nossa própria comida. Nós já sabemos como fazer isso, precisamos apenas ser autorizados a fazê-lo." Essa é toda a sua luta. I used to think it's true that the urban poor would be worse off at first, because the dominant culture, like any good abusive system, has made its victims dependent upon it for their lives. That's what abusers do, whether they are domestic violence abusers, or whether they are larger scale perpetrators. That's how slavers work: they make enslaved people dependent upon them for their lives. One of the brilliant things this culture has done has been to insert itself between us and our self-sufficiency, us and the source of all life. So we come to believe that the system provides our sustenance, not that the real world does. But I recently asked Vandana Shiva if the people of Mumbai, for example, would be better off quickly if the global economy collapsed. She said yes, for the same reasons Mittal did: most of the poor in major cities in India are there because they've been driven off their land, with their land stolen by transnational corporations. With the global economy gone, they would return to the country and reclaim the land. Given the option between getting their land back and staying in the city, nearly all would want to move back to the country. This is a huge number of people we are talking about. Most of the urban poor are people who live in third-world slums. That's more than a billion people, and, if trends continue, that will double in two decades. Many of these are people who have been forced off their traditional land. The poor will be able to take back this land if the governments of the world are no longer capable of propping up colonial arrangements of exploitation. Eu tenho ainda outra resposta. Quando esta cultura entrar em colapso, a maior parte da miséria será causada pelos ricos tentando manter seus estilos de vida. Levando em consideração que enquanto essa cultura continuar a entrar em colapso aqueles que estão explorando vão continuar explorando, não culpe aqueles que querem por um fim a essa exploração. Em vez disso, ajude a por fim a essa exploração que está matando as pessoas nesse exato momento. Os autores deste livro não estão pedindo tranquilamente para que você escolha quem deve morrer. Para pelo menos um de nós a resposta é: "Eu vou." Eu tenho a doença de Crohn, e sou dependente de medicamentos de alta tecnologia para me manter vivo. Sem esses medicamentos, eu vou morrer. Mas a minha vida particular não é o que importa. A sobrevivência do planeta é mais importante que a vida de qualquer ser humano individual, incluindo a minha. Considerando-se que a civilização industrial está destruindo sistematicamente a infra-estrutura ecológica do planeta, quanto mais cedo a civilização cair, mais vida vai sobrar para dar suporte tanto aos humanos quanto aos Junte-se ao Deep Green Resistance - 26 / 85 http://deepgreenresistance.org não-humanos. Nós podemos possibilitar o bem-estar dos seres humanos que estarão vivos durante e imediatamente após o colapso energético e ecológico preparando as pessoas para conseguirem viver em suas localidades. Nós podemos arrancar o asfalto de estacionamentos abandonados e convertê-los em hortas comunitárias, ensinar as pessoas a identificar plantas comestíveis locais para que as pessoas não morram de fome quando eles não puderem mais ir até o supermercado. Nós podemos começar a organizar conselhos de bairro para tomar decisões, resolver conflitos e estimular a ajuda mútua. A civilização é a única coisa que impede que os criminosos violentos estuprem/matem as pessoas como acontece naqueles lugares horríveis e longínquos. Quem vai proteger a minha família se a civilização cair? Derrick Jensen: A alguns anos atrás, eu recebi um email de um policial de Chicago. Ele estava lendo Endgame, e gostando, exceto pelo fato de que ele achou que eu fui muito duro com os policiais. Ele disse: "Nosso trabalho é proteger as pessoas de sociopatas e isso é o que eu faço todos os dias. Eu protejo as pessoas de sociopatas." Eu escrevi de volta: "Eu acho que é ótimo que você nos proteja de sociopatas. Quando a casa da minha mãe foi assaltada, a primeira coisa que fiz foi chamar a polícia. Quando minha casa foi assaltada, eu fui correndo atrás da polícia. É ótimo que vocês nos protejam de sociopatas. Meu problema é que vocês só nos protegem mesmo de sociopatas pobres, não de sociopatas ricos." Depois de Bhopal, Warren Anderson foi julgado e condenado à revelia pelas atrocidades enquanto comandava a Union Carbide. Ele foi sentenciado à forca. Os Estados Unidos se recusam a extraditá-lo. Se dependesse de mim, todas as pessoas associadas com o vazamento de petróleo no Golfo, que está assassinando o Golfo, seriam executadas. Isso seria parte da função de um Estado. Em vez disso, uma das principais funções do governo é proteger os sociopatas ricos da indignação do resto de nós. Quem está protegendo os agricultores da Índia contra a Monsanto? Quem está protegendo os agricultores dos Estados Unidos contra a Cargill e a ADM? Eu prestei um apoio para um grupo de mexicanos-americanos que estavam tentando impedir que mais um depósito de lixo tóxico fosse construído em seu bairro. O lixo tóxico vinha, é claro, de algum lugar distante. A conversa acabou chegando em como seria se a polícia e os oficiais de justiça fossem impedidos de cumprir os ditames de corporações distantes em vez de os desejos das comunidades locais. Como seria se eles estivessem criando zonas livres de câncer? Ou zonas livres de desmatamento? Ou zonas livres de estupro? E então todos riram, porque todo mundo sabe que isso não vai acontecer. Mas e se nós em nossas comunidades decidíssemos formar grupos de defesa comunitária [e milícias] e disséssemos: "Esta será uma zona livre de câncer. Esta será uma zona de livre de desmatamento. Esta será uma zona livre de estupro. Esta será uma zona livre de represas." O que aconteceria se fizéssemos isso? É exatamente disso que estamos falando neste livro. Queremos que nossas comunidades sejam livres de câncer. Nós queremos que elas sejam livres de desmatamento. Nós queremos que eles sejam livres de represas. Nós queremos que eles sejam livres de estupro. E precisamos parar os sociopatas que estão nos ferindo. Se a sociedade civil colapsar dando espaço para o surgimento de um patriarcado, as coisas podem ser muito piores. Olhe para a República Democrática do Congo, onde são organizados estupros em massa. O que vamos fazer com relação a isso? Uma das coisas que precisamos fazer é nos preparar agora. É por isso que temos enfatizado tantas vezes neste livro que os revolucionários têm que ter um bom caráter. Um amigo meu diz que faz o trabalho ambiental que faz porque quando as coisas ficarem ainda mais caóticas ele quer ter certeza de que algumas portas permanecerão abertas. Se os ursos pardos se extinguirem em 20 anos, eles terão se extinguido para sempre. Mas se eles ainda existirem daqui a vinte anos, podem ser capazes de continuar vivendo. É o mesmo para a truta touro, o mesmo para as sequóias – se você derrubar essa floresta, ela já era. Mas se ela se mantiver de pé, quem sabe o que vai acontecer no futuro? E é o mesmo para as atitudes sociais das pessoas; quanto mais caóticas as coisas se tornam, mais incontroláveis os eventos se tornam. Temos que nos certificar de que certas idéias estão no lugar antes que isso aconteça. É por isso que temos enfatizado a tolerância zero para a Junte-se ao Deep Green Resistance - 27 / 85 http://deepgreenresistance.org hostilidade horizontal, a tolerância zero para a violência contra as mulheres, a tolerância zero contra o racismo. Porque quando a sociedade civil colapsar – não importa a causa deste colapso – os homens vão estuprar mais, e o tempo para se defender disso não é o futuro, mas sim agora. Há duas abordagens para o problema da agressão de homens contra as mulheres. Um deles é esclarecido em uma linha por Andrea Dworkin, "Minha prece para as mulheres do século XXI: endureçam os vossos corações e aprendam a matar." As mulheres precisam aprender auto-defesa e formar organizações de auto-defesa, e elas precisam ser feministas. Os homens devem manter absoluta sua aliança para com as mulheres. Eles devem ter uma política de tolerância zero para o abuso contra mulheres. O mesmo deve ser feito com relação aos crimes de ódio com base em raça. Quando o sistema econômico entrar em colapso, aqueles que obtiveram o direito de se colocar sobre os demais vão começar a culpar os outros (basta ver o Tea Party, por exemplo). E, contanto que o seu poder permaneça em vigor e contanto que o seu poder não esteja ameaçado você pode desprezar aqueles a quem você está explorando. Mas assim que esse poder se vê sob ameaça, esse desprezo transforma-se em ódio e violência pura e simples. Assim que a civilização entrar em colapso, veremos um aumento do padrão masculino de violência. Veremos um aumento da violência contra os que resistem. Veremos um aumento da violência contra as pessoas de cor. Já estamos vendo isso. Minha resposta para as pessoas de cor é, aprendam a se defender e formar organizações de auto-defesa. E o trabalho dos aliados brancos é fazer com que a sua lealdade para com as vítimas da opressão branca seja absoluta. Houveram muitos movimentos de resistência que formaram organizações de auto-defesa e suas próprias forças policiais. O IRA atuou como polícia comunitária, os anarquistas espanhóis organizaram sua própria força policial em algumas das grandes cidades e o Gulabi Gang organiza as mulheres para proteger a si mesmas e suas comunidades contra a polícia e a violência masculina. Precisamos de algo similar. Precisamos formar organizações de auto-defesa para defender os seres humanos e não-humanos que são agredidos e violados. Essas agressões vão continuar a acontecer até que sejam detidas. Para ser claro, civilização não é o mesmo que sociedade. A civilização é uma organização específica, hierárquica, baseada no "poder sobre." Derrubar a civilização, desfazer essa estrutura de poder, não significa o fim de toda a ordem social. Isso deve significar, em última análise, mais justiça, mais possibilidade de controle local, mais democracia e mais direitos humanos, e não menos. Será que a civilização não irá se re-erguer novamente? Derrick Jensen: Tenho várias respostas para isso. A primeira é que, não, este é um trabalho que não pode ser desfeito. As reservas de petróleo facilmente acessíveis já se foram. Nunca haverá outra era do petróleo. Nunca haverá outra época de ouro do gás natural. Nunca haverá outra época de ouro do ferro ou do bronze. Além disso, nunca haverá – ou, pelo menos, não durante muito, muito tempo – idade das caravelas, por exemplo, porque as florestas sumiram. Esta cultura tem destruído tanto que não haverá mais o fundamento sobre o qual uma civilização semelhante poderia ser construída. Não há mais solo para isso. Não, nunca haverá outra ascensão de uma civilização como esta. Pode haver – presumindo que os humanos sobrevivam – algumas civilizações de pequena escala, mas nunca haverá outra como esta. Em segundo lugar, eu realmente não acho que esta seja a pergunta certa. É como acordar no meio da noite e ouvir os gritos de sua família enquanto eles são torturados e, em seguida, olhar para cima e ver um assassino que está sobre sua cama. Então você vira para a pessoa dormindo ao seu lado e diz: "Querida, como podemos ter certeza de que os assassinos não vão invadir nossa casa amanhã?" Temos uma crise e precisamos lidar com ela. Eu gostaria que tivéssemos o luxo de podermos nos preocupar com a possibilidade da civilização se re-erguer no Junte-se ao Deep Green Resistance - 28 / 85 http://deepgreenresistance.org futuro, mas não temos esse luxo. Agora, temos que impedir que esta cultura mate o planeta e deixar as pessoas que virão depois de nós se preocuparem se ela vai se erguer novamente. Esta questão me faz lembrar de uma vez em que me perguntaram: "Quanto tempo você acha que nos resta?" Fiz um gesto para a pessoa ao lado e disse: "Imagine que ela está sendo torturada naquela sala atrás de você. Podemos ouvi-la gritar. Quanto tempo você acha que é ideal esperar antes de precisarmos agir? Por quanto tempo devemos permitir que os torturadores continuem antes de impedi-los?" Há injustiças acontecendo agora. Duas centenas de espécies foram extintas hoje. E quanto tempo eles tinham? Nenhum. A questão, não é se a civilização vai se re-erguer novamente. A questão é o que podemos fazer para proteger essas espécies agora. Se vemos estas injustiças, precisamos dar fim a elas. Como devo agir se alguém me disser: "Eu quero formar um grupo underground, ou fazer parte de um já existente, ou fundar um espaço de segurança, etc." Diga: "Somos uma organização aboveground. Nós não queremos nos envolver com isso. Nós não respondemos a perguntas de ninguém sobre o desejo pessoal de ser ou formar um grupo underground." Mude de assunto imediatamente caso perceba que a conversa não é segura. Às vezes, você tem que terminá-la definitivamente. Não diga, "o underground" – isto poderia implicar que estamos em contato com uma organização underground já existente. Em vez disso, use "um underground (o que pode ou não existir)." Why hasn't DGR taken a stance on vaccines, 9/11, or any conspiracy theories? Radical social movements tend to attract people who hold fringe beliefs. While we would never dictate what a person chooses to believe personally, DGR is strategic in what controversies and beliefs we hold positions on and in how we spend our time and energy. These beliefs do nothing to further DGR in achieving our goals and could alienate comrades and potential allies. Members who hold such views are expected to refrain from presenting or debating them while representing or engaging in DGR. Global warming is a reality, and is referred to in the foundational texts of the DGR organization. Some fringe beliefs, such as Holocaust denial, are in violation of DGR Principles and Code of Conduct and disqualify believers from membership. For more questions and answers, see Deep Green Resistance: An interview with Derrick Jensen and Rachel Ivey. FAQ FEMINISTA RADICAL Porque algumas pessoas estão acusando o DGR de ser transfóbico? O Deep Green Resistance tem sido acusado de transfobia porque nós temos uma opinião diferente a respeito da definição de gênero. O DGR não tolera a desumanização ou a violência contra qualquer pessoa, incluindo pessoas que se descrevem como trans. Os direitos humanos universais são universais. O DGR tem um código de conduta severo contra a violência e abuso. Qualquer um que violar este código não é mais um membro do DGR. Discordar com alguém, porém, não é uma forma de violência. E nós temos uma grande discordância. Junte-se ao Deep Green Resistance - 29 / 85 http://deepgreenresistance.org Feministas radicais criticam o próprio gênero. Nós não somos reformistas – somos abolicionistas do gênero. Sem os papéis de gênero socialmente construídos que constituem a base do patriarcado, todas as pessoas seriam livres para se vestir, se comportar e amar os outros da maneira que quisessem, não importando o tipo de corpo que têm. O patriarcado é um sistema de castas que transforma os seres humanos que nascem biologicamente macho ou fêmea em classes sociais chamadas de homens e mulheres. Pessoas do sexo masculino são transformadas em homens por meio da socialização voltada à masculinidade, que é definida por uma psicologia baseada na insensibilidade emocional e em uma dicotomia entre o eu e o outro. Esta é também a psicologia exigida aos soldados, e é por isso que não acho que você possa ser um ativista da paz sem ser feminista. No patriarcado, a socialização feminina é um processo com o objetivo de constranger psicologicamente e diminuir as meninas – também conhecido como "aliciamento" – para criar uma classe de vítimas conformadas. A feminilidade é um conjunto de comportamentos que são, em essência, a submissão ritualizada. Não vemos nada para comemorar ou abraçar na criação do gênero. O patriarcado é um arranjo de poder corrupto e brutal e queremos desfazê-lo para que a categoria de gênero não exista mais. Esta é também a nossa posição sobre raça e classe. As categorias não são naturais: elas só existem porque os sistemas hierárquicos de poder as cria (veja, por exemplo, o livro de Audrey Smedley Race in North America). Queremos um mundo de justiça e de igualdade, onde as condições materiais que atualmente criam raça, classe e gênero sejam para sempre superadas. O patriarcado facilita a exploração de corpos femininos para o benefício dos homens – para a gratificação sexual do sexo masculino, por mão de obra barata e para reprodução. Para dar apenas um exemplo, há aldeias inteiras na Índia, onde todas as mulheres têm apenas um rim. Por quê? Porque seus maridos têm vendido o outro. Gênero não é um sentimento – é uma violação dos direitos humanos contra toda uma classe de pessoas, “pessoas chamadas mulheres.”[1] Nós não somos "transfóbicos." Temos, no entanto, um desacordo sobre o que é o gênero. Generistas acreditam que o gênero é natural, um produto da biologia. As feministas radicais acreditam que o gênero é social, um produto da supremacia masculina. Generistas acreditam que o gênero é uma identidade, um conjunto interno de sentimentos que as pessoas podem ter. As feministas radicais acreditam que gênero é um sistema de castas, um conjunto de condições materiais em que se nasce. Generistas acreditam que o gênero é um binário. As feministas radicais acreditam que gênero é uma hierarquia, com os homens na parte superior. Alguns generistas afirmam que o gênero é "fluido". Feministas radicais apontam que não há nada de fluido em seu marido vender seu rim. Então, sim, nós temos algumas grandes divergências. Feministas radicais também acreditam que as mulheres têm o direito de definir seus limites e decidir quem é permitido em seu espaço. Acreditamos que todos os grupos oprimidos têm esse direito. Fomos chamados de transfóbicos porque as mulheres do DGR não querem homens – pessoas nascidas com o sexo masculino e socializadas para a masculinidade – em espaços criados só para mulheres. O DGR apóia as mulheres nessa decisão. Quando Feministas Radicais usam o termo “gênero”, o que elas querem dizer? 1. Diálogo “O Fim do Gênero” na Conferência do DGR de 2013 2. Diálogos Sobre Gênero. 3. Quem Governa o Gênero? Junte-se ao Deep Green Resistance - 30 / 85 http://deepgreenresistance.org O Feminismo Radical é essencialista? Não, definitivamente não. Essencialismo é a idéia de que o sexo é biológico, não social. Algo como, os meninos são naturalmente agressivos e aventureiros, enquanto as meninas são cuidadosas e emocionais. Onde o comportamento generizado é atribuído a estruturas cerebrais, ou hormônios, ou ambos. As feministas têm enfrentado o essencialismo desde o início. O essencialismo biológico tem sido utilizado como desculpa para tudo, desde a exclusão das mulheres da educação até a violência sexual dos homens. Quem está no poder precisa naturalizar sua dominação e a submissão do grupo subordinado: se a sociedade fosse realmente organizada pela natureza, por Deus ou pelo cosmos, então não haveria nenhum motivo para combatê-la. A ideologia do essencialismo pode ser muito eficaz na exclusão da resistência. Pense em raça. A raça não é biologicamente real. Politicamente, socialmente, economicamente, a raça é, realmente, uma realidade brutal ao redor do globo. O conceito de raça, no entanto, é uma criação dos poderosos. Se quisermos um mundo justo, as instituições materiais que mantêm as pessoas de cor subordinadas precisam ser desmontadas. E os conceitos de "branquitude" e "negritude" acabarão por serem abandonados já que eles não fazem sentido fora das realidades da supremacia branca. Muitas pessoas ficam confusas quando se exige que elas apliquem essa mesma análise radical ao gênero. Mas a partir de uma perspectiva feminista, as semelhanças são óbvias. Existem diferenças no tom da pele na espécie humana? Sim. Por que essas diferenças significam tanto? Porque um arranjo corrupto e brutal de poder precisa de uma ideologia chamada racismo. Existem diferenças nas formas dos órgãos genitais das pessoas? Sim. Por que essas diferenças são importantes? Porque um arranjo corrupto e brutal do poder – patriarcado – precisa de uma ideologia chamada de gênero. O patriarcado é um sistema político que leva homens e mulheres biológicas e transforma-os em categorias sociais chamadas homens e mulheres, de modo que a classe de homens possa dominar pessoas chamadas mulheres. Gênero é para as mulheres o mesmo que raça é para as pessoas de cor: uma construção ideológica que sustenta sua subordinação. Portanto, somos firmemente contra a ideia de que o sexo é biológico. Na verdade, são os generistas que fazem reivindicações de gênero essencialistas. Na opinião deles, homens e mulheres apresentam dominação e submissão, respectivamente, não por causa das condições sociais, mas porque temos cérebros diferentes. Comportamento de gênero é natural, dizem eles, em função de nossa biologia. A alegação é que muitas vezes os hormônios pré-natais geram essas tendências, e que os hormônios "errados" podem produzir o cérebro "errado". Por isso, é possível ter o corpo de um homem com cérebro de uma mulher. Achamos muito estranho que sejamos acusados ■■de essencialismo quando acreditamos no exatamente oposto. O gênero é socialmente construído desde sua raiz, e essas raízes estão encharcadas do sangue das mulheres. Nosso objetivo é desmantelar isso. Se o gênero fosse um produto da nossa biologia, isso não seria possível. Rejeitamos a idéia de que exista um cérebro feminino tão firmemente como rejeitamos a idéia da existência de um "cérebro Negro".[2] E nós nunca vamos aceitar que a feminilidade seja natural para as mulheres. Isso é a apresentação ritualizada da submissão criada pela traumatização e pela exigência de todos os grupos oprimidos em uma hierarquia social. Nós nos recusamos a nos submeter e encorajamos as mulheres em todos os lugares a resistir. Outras leituras: Delusions of Gender: How Our Minds, Society, and Neurosexism Create Difference by Cordelia Fine Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences by Rebecca Jordan-Young. Junte-se ao Deep Green Resistance - 31 / 85 http://deepgreenresistance.org The Emperor's New Penis by Lierre Keith and Derrick Jensen Vocês não estão apenas reafirmando o gênero ao criarem espaços só para mulheres? Não, estamos reconhecendo o gênero e seus danos terríveis quando criamos espaços só para as mulheres. Estamos lutando contra o gênero, com suas exigências de submissão feminina e sua afirmação de que as mulheres existem para cuidar dos homens. O gênero é social e politicamente muito real e muito mortal. É a estrutura da opressão das mulheres. Fingir uma "cegueira de gênero" individualmente não faz com que o gênero desapareça: somente a ação radical em uma escala política ampla pode fazer isso. O gênero não é apenas uma construção social, mas uma construção social especificamente projetada para privilegiar uma classe (machos) em detrimento de outra classe (fêmeas). Agir como se o gênero não existisse não poderia combatê-lo: pelo contrário, isso só ajuda a mascarar um sistema de poder opressor. Ninguém sugeriria que a classe trabalhadora poderia enfrentar o capitalismo abandonando sua consciência de classe. Da mesma forma, as pessoas de cor têm sido inflexíveis a respeito de que o "daltonismo racial" só é útil ao projeto de supremacia branca, escondendo a existência de relações raciais opressivas. Por estarem conscientes de sua condição de grupo, as mulheres e os homens podem permanecer conscientes de sua própria opressão ou privilégio relativo, o que é necessário ao combate de sistemas de poder opressivo. A criação de espaços só para mulheres garante que as mulheres em nossa organização tenham um espaço libertador para trabalhar, se organizar, criar laços, livres do impacto negativo dos homens. Todos os povos oprimidos precisam de seu próprio espaço para sentir alguns momentos de liberdade, criar uma comunidade, e superar a submissão e os comportamentos de ódio de si mesmos. Todos os povos oprimidos têm o direito de traçar uma fronteira, incluindo as mulheres. O DGR tem o compromisso de defender o direito da mulher de definir o seu próprio espaço. Como o feminismo radical se relaciona com a luta de raças e de classes? Alice Walker, Audre Lorde, e Barbara Smith, entre outros, foram fundamentais para a segunda onda da teoria feminista radical. Muitas mulheres de cor e da classe pobre/trabalhadora certificaram-se de que questões de raça e de classe fossem combatidas de uma forma que não havia sido abordada em toda a Esquerda. Isso foi essencial, uma vez que alguns indivíduos feministas da Segunda Onda e grupos que fizeram contribuições para a teoria e prática feminista radical desconheciam seu privilégio de raça e classe, que alienou as mulheres de cor e as mulheres da classe trabalhadora no movimento. As mulheres acima mencionadas certificaram-se de que esses sistemas de opressão sobrepostos fossem reconhecidos e destacados. Os sádicos sistemas de racismo e classismo se cruzam com o patriarcado. Todas as mulheres são oprimidas por serem do sexo feminino, mas essa opressão assume diferentes formas e graus de gravidade ao longo das linhas de raça e classe. O status da casta-sexo mulher como uma classe não anula as diferenças de experiências entre mulheres de diferentes classes econômicas e raciais. Mulheres brancas, de classe média/alta, e mulheres privilegiadas de outro modo têm a responsabilidade de provarem-se como aliadas às mulheres de cor. Somente após essa confiança e solidariedade serem estabelecidas é que as mulheres serão capazes de se organizar coletivamente para derrubar o poder masculino. Se o feminismo radical afirma que as pessoas trans masculinas ainda mantêm o privilégio masculino, como fica a questão da violência dirigida contra eles? Todos os machos biológicos beneficiam-se do patriarcado. Nenhuma identidade interna ou estado emocional pode mudar a realidade material desses benefícios. Apenas mudando as condições materiais – pondo fim ao patriarcado – podemos acabar com esses benefícios. Junte-se ao Deep Green Resistance - 32 / 85 http://deepgreenresistance.org Dito isto, as pessoas que não estejam em conformidade com os estereótipos de gênero enfrentam riscos. Elas são odiadas porque são a prova de que o gênero não é natural. Todos os sistemas de poder precisam naturalizar suas hierarquias, por razões óbvias. É muito mais difícil de combater uma ordem social que foi criada por Deus, ou pela natureza, ou pela evolução. A supremacia masculina alega que a masculinidade e a feminilidade são biologicamente ou mesmo cosmicamente reais. As mulheres que resistem à feminilidade e os homens que se recusam à seguir a masculinidade são a prova viva de que o patriarcado não é inevitável. Eles podem até mesmo servir como uma inspiração para o resto de nós para estourarmos uma greve geral na fábrica de gêneros. Essas pessoas irão, naturalmente, ser punidas com a ridicularização, com a censura e até mesmo com a violência. Mas todas as mulheres estão sujeitas ao ridículo, censura e violência por parte dos homens. As mulheres que estão em conformidade com a feminilidade são punidas e as mulheres que resistem a ela também. Estatísticas globais sobre violência masculina mostram exatamente como os homens cruelmente punem as mulheres pelo pecado de simplesmente serem mulheres. Ambos os caminhos – resistência ou conformidade – conduz a potencial violação, tortura e assassinato. Andrea Dworkin chamou isso de "barricada de terrorismo sexual".[3] Todas as mulheres vivem dentro dela, mesmo se resistirmos ou darmos o nosso melhor para estar em conformidade. Nada do que fazemos individualmente nos libertará. Não há saída a não ser destruir a barricada, tijolo por tijolo. Sexo existe porque as pessoas no topo – homens – necessitam de saber o que pode ser considerado humano e o que pode ser considerado um objeto, uma coisa a ser usada. Isso tem que ficar bem claro, tanto ideologicamente quanto visualmente. É por isso que os judeus foram obrigados a usar estrelas amarelas, eles tiveram que ser visualmente demarcados como sub-humanos. É por isso que a roupa das mulheres e dos homens é tão diferente. Até muito recentemente, nas sociedades ocidentais, era ilegal para as mulheres usar roupas masculinas.[4] No Irã, não é apenas ilegal um barbeiro dar a uma menina um corte de cabelo "de menino": isso é punível com a morte. A demarcação visual é fundamental para a delimitação ideológica entre o ser humano e o não-humano, sujeito e objeto, pessoa e coisa. A roupa das mulheres tanto nos anuncia como sexualmente disponíveis quanto constrange nosso movimento: nós existimos para ser usadas e, apenas no caso de nos opormos, não podemos fugir. No centro de tudo isso está o estupro. Como Catharine MacKinnon colocou de forma sucinta: "O homem fode a mulher; sujeito, verbo, objeto".[5] Os homens precisam saber quem está na categoria de objeto. Eles precisam que essa categoria seja absoluta, porque eles precisam saber que eles nunca vão estar nela. Eles sabem muito bem o sadismo que eles construíram com sua sexualidade. Este é o acordo que eles fazem uns com os outros: não faça isso comigo, faça isso com ela. Pessoas que não se conformam com o gênero jogam uma chave inglesa nas engrenagens. Se os homens não podem dizer quem é homem e quem é mulher, como eles vão saber quem é humano e quem existe para ser usado, quem eles podem foder? É por isso que a homofobia brota da misoginia. A divisão entre sujeito e objeto tem que ser absoluta para manter os homens – homens de verdade – a salvo uns dos outros, fisicamente e ideologicamente. É por isso que as pessoas que não estejam em conformidade com as exigências visuais de gênero são punidas tão cruelmente pelos homens. Os homens investidos de masculinidade estão apavorados com a possível confusão. Eles não podem ter o menor indício de "homossexualidade" anexado a si, a idéia de que alguns homens podem acabar na categoria objeto é horrível. Seu medo é baseado em uma avaliação real do sadismo sexual masculino e dos castigos intermináveis ■■lançados sobre àqueles na categoria objeto. Então, os homens que não se conformam têm que ser punidos até que eles se conformem, para manter todos os homens seguros. A única maneira de parar isto é desmantelando a supremacia masculina. Ninguém pertence à categoria objeto: nem mulheres, nem homens homossexuais, nem pessoas que não se conformam por qualquer motivo. A socialização que cria o gênero – a violência e a violação que os homens e os meninos exercem sobre meninas e Junte-se ao Deep Green Resistance - 33 / 85 http://deepgreenresistance.org mulheres – tem de acabar, assim como o poder que exige a existência de gênero. Quando isso acontecer, o patriarcado terá seu fim e o conceito de gênero não terá qualquer significado. E quanto a outros papéis de gênero presentes em culturas indígenas, como pessoas de dois/três espíritos? Pessoas não-indígenas não têm o direito de dar opiniões sobre essa questão. E quanto às crianças que se identificam com o outro sexo ou com o gênero ao qual não foram atribuídas quando jovens? Estas crianças estão simplesmente agindo como elas mesmas. Se não existisse o patriarcado e sua camisa de força do gênero, nem faríamos essa pergunta. É incrivelmente frustrante que nestes dias ainda temos de argumentar que não há problema em meninas brincarem como meninos geralmente brincam, ou meninos usarem vestidos enquanto crianças, e para o resto de suas vidas se quiserem. O gênero é que é o problema, não as crianças, e definitivamente não os corpos das crianças. Ultimamente há um impulso assustador para medicar crianças não-conformadas, incluindo "tratamento" com drogas perigosas e experimentais. É profundamente regressivo alterar química e cirurgicamente as crianças para colocá-las em conformidade com caricaturas de gênero. E algumas das crianças sobre as quais estes experimentos foram realizados já demonstram arrependimentos. (Veja os links abaixo). De fato, a pesquisa mostra que a maioria das crianças que têm sintomas de "disforia de gênero", quando não "tratadas" com alguma forma de intervenção médica, cresce e se torna feliz, saudável■■, adultos sem disforia de gênero, a maioria dos quais se tornam gays ou lésbicas.[6] O que está acontecendo é o apagamento médico da juventude gay e lésbica. Devemos estar muito preocupados com esta tendência social como a versão mais recente da eugenia. Algumas leituras adicionais: 1. Ria Cooper: Britain’s youngest sex change patient reverses treatment 2. Detransition: A young transman’s story back to womanhood 3. I’m questioning my gender again 4. Leave the Kids Alone O ato de negar a identidade auto-proclamada de alguém não é um ato de violência? Não, é um ato de discordância. Isso é o que implica viver em uma democracia pluralista. Nós vamos discordar, às vezes vigorosamente, às vezes dolorosamente. Ao longo da vida das pessoas, nossas identidades mudam muitas vezes. De fato, como radicais, nós ativamente questionamos e abandonamos muitas das identidades nas quais fomos socializados. Este é um trabalho saudável e necessário. Nosso ponto é que a identidade não é sacrossanta. Identidades podem ser opressivas para nós mesmos e para outras pessoas. Um exemplo é a identidade racial dos brancos como pessoas brancas. Quebrar a identificação com a categoria "branco" não exime as pessoas brancas de seu privilégio – eles ainda são brancos em um mundo racista – mas é um passo importante para a luta contra o racismo. Então, não acho que haja nada de errado com o questionar a identidade como tal. Junte-se ao Deep Green Resistance - 34 / 85 http://deepgreenresistance.org Afirmar que questionamos a legitimidade do gênero pode ser equiparado a negar a existência de uma pessoa, isso implicaria que os seres humanos não podem existir sem o gênero. Nós não aceitamos isso. Nós não aceitamos que o sexo, ou qualquer opressão, seja inevitável ou natural. Nós podemos fazer melhor do que o sistema de castas chamado gênero. E quanto ao bem-estar emocional de homens que não querem/conseguem ser masculinos o suficiente para que a sociedade deixe-os em paz? Em primeiro lugar, não é a "sociedade" que não os deixa em paz. São os homens. Os homens são os que cometem crimes violentos para impor normas masculinas a outros homens. Em segundo lugar, você não vai ser deixado em paz enquanto desafiar o poder masculino ou qualquer outro poder. Os poderosos vão tentar subjugar qualquer sinal de resistência à sua ordem. Nós todos temos que chegar a um acordo sobre isso da melhor maneira que pudermos. Alguns de nós tentamos tornar nossa vida pessoal o mais segura possível e então esperamos o melhor. Outros de nós fazem de suas vidas um grito de guerra e pretendem lutar contra o poder até o fim. Mas isso é decisão de cada pessoa. Em terceiro lugar, nós encorajamos todos os homens a falhar em sua masculinidade! Essa é a única esperança que este planeta tem. Assim, para que os homens alcancem o bem-estar emocional, é muito melhor que se recusem a jogar o jogo de Homem de Verdade. Mas, se isso implica em dizer que é trabalho das mulheres cuidar dos homens, nós rejeitamos. Os homens precisam cuidar de si mesmos e uns aos outros. Queremos salientar que esta questão do bem-estar emocional dos homens é central para muitas pessoas. Ninguém nunca – nem uma vez – nos perguntou sobre o bem-estar emocional das mulheres, ou afirmou, mesmo que de forma implícita, que cuidar das mulheres é o trabalho dos homens, embora sejam os homens que cometem a violência. Os homens cometem 95% dos crimes violentos e 98% dos crimes sexuais nos EUA. Os homens precisam confrontar outros homens. Eles precisam impedir uns aos outros de cometer violência, tanto contra os homens – em suas intermináveis ■■guerras, por exemplo – e contra as mulheres. Que mentiras os anti-feministas estão espalhando sobre Lierre Keith e sobre o DGR? Segue uma lista parcial das mentiras contadas nesta carta recente difamando Lierre Keith, o Deep Green Resistance e feministas radicais de forma mais ampla. Mentira #1: “acusações públicas de transfobia direcionadas a Lierre Keith” Verdade: Lierre fez exatamente duas declarações sobre a teoria e a prática do transgênerismo. Uma delas não era nem mesmo pública – foi um e-mail privado que "vazou" por alguém escrevendo sob falsos pretextos. Sua outra declaração pública sobre este assunto foi publicada no site Counterpunch após um ataque aos membros do DGR em Portland, OR. Lierre é bem franca com seus pontos de vista sobre esta questão, e seus pontos de vista não são nada transfóbicos. Discordância não é ódio, nem violência. Mentira #2: “O DGR bane pessoas trans de sua organização. Verdade: Isso é falso. O DGR acolhe qualquer um que concorde com a nossa Declaração de Princípios e Código de Conduta. Tivemos pessoas que se identificaram como trans na organização, que foram membros em boa Junte-se ao Deep Green Resistance - 35 / 85 http://deepgreenresistance.org posição. O DGR não discrimina ninguém com base em seus trejeitos, escolha de roupas, aparência física, escolha de nome, etc. Muitos dos membros do DGR, possivelmente até mesmo a maioria, falham em se conformar com estereótipos de gênero seja em aparência ou comportamento. No entanto, dada a nossa compreensão do gênero como uma hierarquia, reconhecemos que ser colocado na classe do que chamamos de mulher não é algo que você escolhe, você nasce nela. Portanto, temos uma política rigorosa em defesa de espaços exclusivamente femininos, o que significa que à qualquer pessoa nascida com o sexo masculino não é permitido o ingresso. Este é um limite importante que os nossos membros do sexo feminino definiram, muitos dos quais são sobreviventes de violência masculina, incluindo estupro, espancamento e tráfico de seres humanos (listen to those women), e no DGR, os limites das mulheres são respeitados absolutamente. Como articulamos em nossa Declaração de Princípios, essa é nossa posição quanto ao gênero: O Deep Green Resistance é uma organização feminista radical. Os homens enquanto classe estão travando uma guerra contra as mulheres. O estupro, espancamento, incesto, prostituição, pornografia, pobreza e ginocídio são as principais armas nessa guerra e as condições que criam o sexo-classe mulher. O gênero não é natural, não é uma escolha, e não é um sentimento: é a estrutura da opressão das mulheres. As tentativas de criar mais "escolhas" dentro do sistema de sexo-casta apenas servem para reforçar as realidades brutais do poder masculino. Como radicais, temos a intenção de desmantelar o gênero e todo o sistema de patriarcado que ele encarna. A liberdade das mulheres enquanto classe não pode ser separada da resistência à cultura dominante como um todo." Mentira #3: “O DGR não faz nada além de atacar as pessoas do movimento ambientalista que não se encaixam em suas políticas de identidade". "É difícil de citar, no último ano, uma única ação que o DGR tenha realizado em defesa da Terra.” Verdade: O DGR tem membros em vários países mundo a fora que estão engajados em várias formas de trabalho. Ironicamente, um membro do DGR Great Basin foi retratado na capa do novo Earth First! Direct Action Manual participando de um bloqueio para parar o projeto de extração de petróleo de areias betuminosas em Utah. Enquanto outras organizações como o Earth First! Journal, gastaram sua energia escrevendo e publicando nada menos que quatro artigos condenando o DGR, o DGR não publicou nem um único artigo condenando qualquer outra organização. Toda declaração que o DGR lançou sobre esta questão, incluindo a lista que você está lendo, tem sido defensiva. Mentira #4: “Lierre Keith tem um histórico de romper alianças no movimento ambientalista. Verdade: Lierre Keith não tem desfeito alianças. É uma distorção extrema da realidade dizer que ter um desacordo é o mesmo que deliberadamente rachar movimentos. Esta afirmação é mais uma vez improcedente, já que o autor não faz nenhuma tentativa de fundamentar sua alegação com provas, porque simplesmente isso não pode ser feito. . Mentira #5: “Estas citações são da ativista do RadFem/DGR Lisa Compton, e visa tipificar a posição destes grupos como se pode conferir em fóruns públicos e conversas pessoais.” Verdade: Lisa Compton não é membro do DGR e não é afiliada ao DGR. Ninguém fala pelo DGR exceto os membros do DGR. A caracterização de Lisa Compton como ativista do DGR é mais uma vez indício do completo desinteresse do autor ou autores do artigo original para com a verdade, e por extensão para com os leitores do Junte-se ao Deep Green Resistance - 36 / 85 http://deepgreenresistance.org artigo. Mentira #6: “A maior comunidade de Keith é conhecida por... insistir que todos os travécos [do original trannies – N.T.] serão erradicados pelo feminismo radical”. Verdade: Isso é uma mentira absoluta e absurda. Nem Keith nem qualquer outra pessoa do DGR nunca usou o termo "travéco" e nós condenamos a violência contra qualquer pessoa, incluindo pessoas que se descrevem como trans. Os direitos humanos universais são universais. O DGR tem um forte Código de Conduta contra violência e abuso. A única coisa que o DGR quer erradicar é a civilização. Como feministas, nós também queremos desmantelar o patriarcado e seu sistema de castas de gênero. Por consequência, as classes de pessoas chamadas homens e mulheres não existiriam mais, e estaríamos todos livres. A idéia de que as feministas radicais querem "exterminar" as pessoas trans é como a idéia de que os marxistas querem "exterminar" trabalhadores assalariados; um desejo de desmantelar um arranjo de poder construído não implica um desejo de eliminar as pessoas dentro desse sistema. Para mais informações: “O DGR não tolera desumanização ou violência contra qualquer pessoa, incluindo pessoas que se descrevem como trans. Os direitos humanos universais são universais. O DGR tem um forte código de conduta contra a violência e o abuso. Qualquer um que violar este código não é mais um membro do DGR.” (FAQ Feminista Radical) Mentira #7: “McBay saiu do DGR depois que Keith, Saba Malik e Derrick Jensen desprezaram o apoio que ele e outros deram às políticas de inclusão de trans. Verdade: McBay concordou inicialmente com a política de implementação de espaços exclusivamente para mulheres. Ele depois partiu (levando com ele uma grande quantidade de dinheiro que não pertencia à ele) sem comentar com ninguém do DGR suas razões. Somente em retrospecto é que ele tentou reivindicar uma saída gloriosa e moralista. Mentira #8: “Saba Malik, Lierre Keith e Derrick [Jensen] enviaram e-mails para o meu grupo e para outro grupo que apoiou pessoas trans contra os habituais ataques radfem. A organizadora principal Premadasi Amada foi convidada a deixar a organização, como parte deste processo.” Verdade: Lierre e Derrick já haviam deixado o DGR quando Premadasi Amada foi convidada a sair. Foram os membros do DGR que perceberam seu comportamento abusivo e manipulador e pediram-lhe que saísse. Com Premadasi fora, a equipe, então, pediu para Lierre e Derrick voltarem. A equipe do DGR foi unânime em sua experiência com ela e em sua ação para removê-la. Estes detalhes são sórdidos, mesquinhos e, finalmente, inúteis. Por que alguém se preocuparia com pessoas que eles nunca encontrarão em uma organização a qual eles nunca vão aderir? O DGR não tinha interesse em tornar isso público, mas as constantes difamações de pessoas de fora nos deixou sem nenhum outro recurso, a não ser dizer a verdade. Mentira #9: “Keith… acusou o povo Lakota de ser patriarcal.” Verdade: Escute a mulher. Junte-se ao Deep Green Resistance - 37 / 85 http://deepgreenresistance.org Mentira #10: “É fácil encontrar episódios de antagonismo divisionista espalhados por Keith e seu grupo "feminista radical" ao longo tanto do movimento feminista quanto do ambientalista.” Verdade: Cada episódio de escândalo público em torno da questão de gênero envolvendo o DGR foi instigado por outros. O DGR não é e nunca foi o agressor aqui. Aqui está outro exemplo, e aqui está mais um. Mentira #11: “O PIELC não deve se tornar um espaço para o ódio excludente aos trans*, que gere um ambiente de hostilidade e violência. Verdade: Quantas mentiras podem caber em uma única sentença? Confira a mentira #2 para uma resposta às acusações de "exclusão de trans". A afirmação de que Lierre odeia pessoas trans é uma mentira completa e não tem base em fatos. Desacordo político não é ódio. Afirmar que Lierre incita a violência é um absurdo. Ela recebe regularmente ameaças de violência, já foi atacada, e só pode se expressar com segurança na presença de aliados e de seguranças particulares; sua resposta à violência contra as pessoas trans? "Os direitos humanos universais são universais." Isso é uma citação direta. Notas de roda-pé [1] Dworkin. “Against the Male Flood: Censorship, Pornography, and Equality,” p. 270. [2]http://neurophilosophy.wordpress.com/2007/03/14/on-the-peculiarities-of-the-negro-brain/ [3] Dworkin, Right-Wing Women, p. 122. [4] Clothing has also been legislated by class. Such laws are called “sumptuary laws.” A brief history is here. https://en.wikipedia.org/wiki/Sumptuary_law [5] Mackinnon, p. 124. [6] Zucker. Bibliography Dworkin, Andrea. “Against the Male Flood: Censorship, Pornography, and Equality,” in Letters from a War Zone, (New York, E.P. Dutton), 1988. Dworkin, Andrea. Right-Wing Women. New York: Perigee Books, 1978. MacKinnon, Catharine A. Towards a Feminist Theory of the State. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1989. Zucker, KJ. Gender identity development and issues. Child Adolescent Psychiatric Clinics North America 2004, 13: 551-568. Further Reading Junte-se ao Deep Green Resistance - 38 / 85 http://deepgreenresistance.org http://www.troubleandstrife.org/new-articles/brain-wars/ Fine, Cordelia. Delusions of Gender: How Our Minds, Society, and Neurosexism Create Difference. New York: W. W. Norton & Co., 2010. Jeffreys, Sheila. Beauty and Misogyny: Harmful Cultural Practices in the West. London: Routledge, 2003. Jeffreys, Sheila. Unpacking Queer Politics. Camrbridge, UK: Polity Press, 2003. Jordan-Young, Rebecca M. Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2010 Smedley, Audrey. Race in North America. Boulder, CO: Westview Press, 2007. TECNOLOGIA VERDE E ENERGIA RENOVÁVEL FAQs Irá a tecnologia verde salvar o planeta? Ímanes de turbinas eólicas Mina de Bingham Canyon Não. Turbinas eólicas, painéis solares e a própria infraestrutura da rede elétrica são todos fabricados usando energia barata proveniente dos combustíveis fósseis. Quando os custos destes combustíveis subirem até determinado ponto, este produtos fabricados não serão viáveis. Os painéis solares e as turbinas eólicas não são feitos do nada. São feitos de metais, plásticos e químicos. Estes produtos têm que ser extraídos do solo, transportados, processados e fabricados. Cada uma destas etapas deixa atrás de si um rasto de devastação: destruição de habitats, contaminação da água, colonização, resíduos tóxicos, trabalho escravo, emissões de gás com efeito de estufa, guerras e lucros empresariais. Os ingredientes básicos para as renováveis são os mesmos materiais que são omnipresentes nos produtos industriais, como o cimento e o alumínio. Ninguém faz cimento em qualquer quantidade sem o uso de energia dos combustíveis fósseis. E o alumínio? A própria extração mineira é um pesadelo destrutivo e tóxico do qual as comunidades ribeirinhas não vão acordar a não ser numa escala de tempo geológica. Do ínicio ao fim, as tão chamadas "energias renováveis" e outras "tecnologias verdes" levam à destruição do planeta. Estas tecnologias estão enraizadas na mesma extração industrial e nos processos de produção que têm grassado pelo mundo nos últimos 150 anos. Nós não estamos interessados em reduzir ligeiramente os danos causados pela civilização industrial; estamos interessados em parar completamente esses danos. Consegui-lo irá requerer desmantelar a economia industrial global, o que tornará impossível a criação de tais tecnologias. Não são as energias renováveis, tais como a solar, eólica e geotérmica, boas para o ambiente? Não. A maior parte da eletricidade que é gerada pelas renováveis é usada durante o fabrico, extração mineira e outras indústrias que estão a destruir o planeta. Mesmo se a produção de eletricidade fosse inofensiva, o consumo Junte-se ao Deep Green Resistance - 39 / 85 http://deepgreenresistance.org certamente não o é. Todos os dispositivos elétricos, no seu processo de produção, deixa atrás de si o mesmo rasto de devastação. Comunidades vivas - florestas, rios, oceanos - tonam-se comunidades mortas. A redução de emissões que a renováveis pretende alcançar poderiam facilmente ser conseguidas através do aumento da eficiência das centrais a carvão, nos negócios, nas casas, a um custo muito inferior. No contexto da civilização industrial, esta abordagem faz mais sentido tanto económica como ambientalmente. O facto de esta abordagem não estar a ser tomada mostra que toda a indústria das renováveis não passa de especulação. Não beneficia ninguém para além dos investidores. "Renováveis" significa que vão durar para sempre? Não. Os painéis solares e as turbinas eólicas duram cerca de 20-30 anos, precisando depois de substituição. Os processo de produção na extração, poluição e exploração não acontecem só uma vez, são contínuos - e estão a expandir-se muito rapidamente. As renováveis nunca poderão substituir a infraestrutura dos combustíveis fósseis, pois são extremamente dependentes daqueles. Irão as renováveis salvar a economia? As tecnologias de energias renováveis dependem profundamente de subsídios governamentais, pagos pelos contribuintes e dados diretamente a grandes empresas como a General Eletric, BP, Samsung e Mistsubishi. Se por um lado este esquema lhes enche os bolsos, não nos ajuda a todos nós. Para além disso, esta é a questão errada para se colocar. A economia industrial capitalista está a expropriar e a empobrecer milhares de milhões de seres humanos enquanto mata o mundo vivo. As energias renováveis dependem de capital centralizado e do desequilíbrio de poder. Nós todos não beneficiamos ao salvar esse sistema. Em vez de defender mais tecnologia industrial, precisamos de mudar para economias locais baseadas na tomada de decisão em comunidade e naquilo que os nossos ecossistemas locais possam providenciar de forma sustentável. E precisamos de parar a economia global, na qual dependem as energias renováveis. Ok, a extração de metal é prejudicial. Mas e se reciclarmos os materiais? Reciclagem de chumbo A reciclagem poderá ser "mais eficiente" que a extração da matéria virgem, mas não é a solução para problemas ambientais. Na verdade, contribui para aqueles. Reciclar o alumínio, o aço, o silicone, o cobre, o metais raros e outras substâncias usadas nas "tecnologias verdes" pode apenas ser feito com um grande custo para o planeta. Reciclar estas substâncias é extremamente intensivo do ponto de vista energético, liberta grandes quantidades de gases com efeito de estufa e contribui para a poluição das águas subterrâneas e para a toxificação do planeta. A reciclagem de materiais necessita do comércio global, pois a maioria das operações de reciclagem acontece em países empobrecidos com legislação ambiental e de saúde negligentes. São extremamente perigosas para os trabalhadores. Muitas partes da tecnologias renováveis não podem sequer ser recicladas. Ok, as tecnologias renováveis têm alguns impactos, mas mesmo assim são melhores que os combustíveis fósseis, certo? Sinais da Insanidade Junte-se ao Deep Green Resistance - 40 / 85 http://deepgreenresistance.org Extrair metais não-renováveis Transportá-los pelo mundo Transformá-los Chamar a isto Verde e Sustentável As tecnologias de energias renováveis são melhores que os combustíveis fósseis no mesmo sentido que uma ferida de bala é "melhor" que duas. Ambas são lesões graves. Queres disparar contra o planeta uma ou duas vezes? A única forma de sair deste dilema é quebrá-lo: recusar ambas as escolhas e construir um caminho completamente diferente. Não apoiamos nem os combustíveis fósseis nem as tecnologias renováveis. Esta analogia das balas nem sequer é completamente precisa, pois as tecnologias renováveis, em alguns casos, têm um impacto ambiental pior que os combustíveis fósseis. Mais renováveis não significa menos energia dos combustíveis fósseis, ou menos emissões de carbono. A quantidade de energia gerada pelas renováveis tem aumentado, mas também tem aumentado a quantidade gerada pelos combustíveis fósseis. Nenhuma central a carvão ou a gás foi desligada como consequência das renováveis. Apenas cerca de 25% do consumo global de energia é feito na forma de eletricidade que flui por fios ou nas baterias. O resto é petróleo, gás e outros derivados fósseis. Mesmo se toda a eletricidade mundial pudesse ser produzida sem emissões de carbono, isso apenas iria reduzir as emissões totais por 25%. E mesmo isso teria pouco significado, pois a quantidade de energia consumida está a aumentar rapidamente. É motivo de debate se algumas "renováveis" chegam sequer a produzir um saldo de energia. A quantidade de energia usada na extração, fabrico, desenvolvimento, transporte, instalação, manutenção, conexão à rede e eliminação das turbinas eólicas e dos painéis solares pode ser mais do que estes alguma vez produzem; pretensões em sentido contrário muitas vezes não têm em conta todos os "inputs" energéticos. As renováveis têm sido descritas como um esquema de lavagem de dinheiro: entra energia suja, sai energia limpa. Os biocombustíveis, outro exemplo de "tecnologia verde", têm mostrado saldos negativos de energia em quase todos os casos. Os biocombustíveis que produzem um saldo positivo, fazem-no minimamente. Estes combustíveis são habitualmente criados através da destruição de ecossistemas naturais, tais como as florestas tropicais ou pradarias, para a a produção agrícola, um processo que em si mesmo liberta ainda mais gases com efeito de estufa, reduz a biodiversidade e reduz a disponibilidade de comida local. A produção de biocombustíveis é considerada um dos maiores fatores na subida dos preços dos alimentos por todo o mundo nos últimos anos. Estes preços de comida em subida têm contribuído para a fome difundida, agitação social e violência. Algumas pessoas gostam de promover a energia hidroelétrica como uma fonte de "energia verde". Isto é falso. As barragens têm enormes impactos ambientais nos rios, praias e estuários. Para além deste impactos, muitas barragens são uma grande fonte de gás metano devido à decomposição de matéria orgânica no fundo dos seus reservatórios. O metano das barragens hidroelétricas pode ser responsável por 4% ou mais do aquecimento global. Junte-se ao Deep Green Resistance - 41 / 85 http://deepgreenresistance.org Quais são as diferenças fundamentais entre os combustíveis fósseis e as tecnologias verdes? Extração Produção Poluição Direitos Humanos Democracia Combustíveis Fósseis Tecnologias Verdes Necessitam de extração insustentável Necessitam de extração insustentável de metais e outros recursos em larga de metais e outros recursos em larga escala. escala. Processos de produção industriais Processos de produção industriais globalizados que necessitam de globalizados que necessitam de tecnologias com enormes tecnologias com enormes necessidades energéticas. necessidades energéticas. Poluição extrema libertada da Poluição extrema libertada da exploração inicial através da extração exploração inicial através da extração e consumo. A poluição é e eliminação. A poluição é frequentemente visível no local do frequentemente invisível no local do consumo. consumo. Contribuem para os conflito sobre Contribuem para os conflito sobre recursos, exploração laboral e recursos, exploração laboral e violações de direitos humanos por violações de direitos humanos por todo o mundo. todo o mundo. Tecnologias principalmente controladas por corporações multinacionais. Massivas quantidade de capital necessárias. Implementação pelas comunidades em grande parte impossível. Tecnologias principalmente controladas por corporações multinacionais. Massivas quantidade de capital necessárias. Implementação pelas comunidades em grande parte impossível. Então e a energia solar? Fábrica de painéis solares A produção de painéis solares está neste momento entre as principais fontes de hexafluoretano, trifluoreto de nitrogénio e hexafluoreto de enxofre, três gases com efeito de estufa extremamente potentes que são usados para limpar os equipamentos de produção de plasma. Enquanto gás com efeito de estufa, o hexafluoretano é 12.000 vezes mais potente que o dióxido de carbono, é 100% produzido por humanos e sobrevive até cerca de 10.000 anos depois de ser libertado na atmosfera. O trifluoreto de nitrogénio é17.000 vezes mais virulento que o dióxido de carbono e o hexafluoreto de enxofre 25.000 vezes. A concentração de trifluoreto de nitrogénio na atmosfera está a crescer 11% por ano. De um relatório da coligação Tóxicos de Silicon Valley (Sillicon Valley Toxics): Enquanto a indústria solar se expande, pouca atenção está a ser dada ao efeitos ambientais e de saúde potenciais desta rápida expansão. Os painéis solares fotovoltaicos mais comuns têm o potencial de criar uma nova fonte enorme de lixo eletrónico no fim da sua vida útil, que está estimada em cerca de 20 a 25 anos. Novas tecnologias solares fotovoltaicas estão a aumentar a eficiência e a reduzir os custos, mas muitas destas usam materiais extremamente tóxicos ou materiais com riscos de saúde e ambientais desconhecidos (incluindo nano-materiais e processos novos). Então e a energia eólica? Montagem de turbinas eólicas Junte-se ao Deep Green Resistance - 42 / 85 http://deepgreenresistance.org Uma das turbinas eólicas mais comuns do mundo é um design com 1.5 megawatts produzido pela General Eletric. A nacele pesa 56 toneladas, a torre 71 toneladas e as pás 36 toneladas. Uma única turbina requer mais de 100 toneladas de aço. Este modelo é um design pequeno, segundo os padrões modernos. A última turbina industrial tem mais de 180 metros de altura e requer cerca de 8 vezes mais aço, cobre e alumínio. Estes materiais têm de vir de algum lado, e esse lugar é sempre a casa, o lugar sagrado, a fonte de comida, água ou ar de alguém. Nós simplesmente não ouvimos a sua desgraça porque, se forem humanos, normalmente são pobres e a sua pele é castanha. É aqui que o racismo, o colonialismo, o ambientalismo e a economia extrativa se juntam. A maior produtora de turbinas eólicas no mundo é a Vestas, uma corporação de 15 mil milhões de dólares. A maior produtora de turbinas eólicas dos Estados Unidos é a General Electric, que tem bens em valor superior a 700 mil milhões de dólares e é o quarto maior produtor de poluição atmosférica. Alguém pensa que - depois de Fukushima, Hanford, Bhopal - que estas corporações massivas estão preocupadas com a justiça ou a sustentabilidade? O lucro é seu objetivo principal e face a isto a vida será sempre secundária. Então e os veículos híbridos e elétricos? A produção de carros elétricos necessita de energia de combustíveis fósseis para a maioria dos aspetos da suja produção e distribuição. Este requerimento é talvez ainda mais extremo com os carros elétricos, pois têm de ser fabricados o mais leve possíveis, devido ao peso dos pacotes de baterias. Muitos materiais leves utilizados precisam de extremas quantidades de energia para serem produzidos, tais como o alumínio e os compostos de carbono. É por esta razão que provavelmente nunca verás um camião elétrico - são simplesmente muito pesados. E claro, os camiões são necessários para a extração e os combustíveis fósseis alimentam todos os camiões. Os carros híbridos ou elétricos são também carregados com energia que, na sua maioria, vem de centrais que usam gás natural, carvão ou combustíveis nucleares. Um estudo recente da National Academies, que analisou os efeitos da construção de veículos, extração de combustíveis, refinação, emissões e outros fatores, demonstrou que os impactos de saúde e ambientais durante a vida dos veículos elétricos na verdade são maiores do que dos carros movidos a gasolina. Deveríamos focar-nos em urbanização densa e transportes públicos? Em alguns casos, o desenvolvimento urbanístico de grande densidade é preferível à dispersão suburbana. Pode reduzir o impacto nas comunidades selvagens locais significativamente. No entanto, o foco em comunidades urbanas densas e nos transportes públicos que é prevalente no movimento ambientalista moderno é problemático em vários aspetos. O principal problema com esta abordagem é que tem por garantida a existência de cidades. As cidades são insustentáveis, porque requerem a rotineira importação de recursos - comida, madeira, minerais e combustíveis da terra envolvente, sem darem nada em troca. A terra sobre a qual cidade está não pode prover suficientemente os cidadãos de comida, abrigo, combustível e outros bens materiais. Isto ao contrário da aldeias, acampamentos ou outras formas pequenas de povoação, que durante a história têm servido de modelo sustentável para comunidades humanas. Junte-se ao Deep Green Resistance - 43 / 85 http://deepgreenresistance.org As cidades estão constantemente a sugar recursos da sua região envolvente e, no mundo moderno, do globo inteiro. Cidades densamente povoadas podem reduzir o impacto do chamado "desenvolvimento" na sua área imediata, mas não respondem aos impactos fundamentais das cidades ou da moderna cidade globalizada. Por exemplo, enquanto que alguns bairros em Nova Iorque são extremamente densos e consomem quantidades relativamente baixas de energia, este é um ponto de vista limitado. Florestas tropicais estão a cair e montanhas estão a ser minadas até à exaustão para fornecer recursos a estas cidades. Qualquer tentativa séria de ambientalismo tem de ter em conta estes impactos de se produzir e transportar materiais até à cidade e tem de responder aos problemas fundamentais da extração de recursos e da expansão da civilização industrial global. Na melhor das hipóteses, o crescimento urbano e o transporte público são estratégias de "redução de danos" apenas ligeiramente eficazes. Na pior, estas abordagens ao ambientalismo proporcionam um "verniz verde" às cidades corporalizadas, guiadas pelo lucro e dependentes da extração. Obscurecem o problema e, portanto, contribuem para ele. Para aprender mais sobre as cidades, como funcionam e porque são formas de organização social insustentáveis, lê a nossa definição de civilização e as referências no fim desta página. Mas nós precisamos de eletricidade, não? Central solar de Ivanpah Os humanos, tal como outros animais, obtêm a sua energia principalmente ao comer plantas e outros animais. As plantas recolhem a sua energia do sol. Nenhuma espécie precisa de eletricidade para sobreviver. Apenas o sistema industrial precisa de eletricidade para sobreviver. Neste momento, comida e habitats de criaturas vivas estão a ser sacrificados para alimentar a eletricidade. A infraestrutura, as minas, o processamento e a descarga de resíduos necessários para a produção elétrica estão a destruir florestas e outros sítios naturais por todo o mundo. Garantir a segurança energética da indústrias necessita de abalar a segurança de vida dos seres vivos (nós). Qual é a vossa alternativa? O uso de eletricidade só se tornou comum desde os anos 20 (ou até mais parte em muitas partes do mundo). Na maior parte do mundo, muita gente não tem eletricidade em casa, mesmo agora. Há muitas maneiras de suprir as nossas necessidades que não passam pela dependência na eletricidade. A produção de eletricidade é insustentável, se por "sustentável" queremos dizer algo que podemos continuar a fazer para sempre sem causar males graves ou duradouros ao planeta. Sistemas de produção elétrica localizados, em pequena-escala, usando os restos da civilização, podem continuar durante algum tempo após o colapso das redes centralizadas de energia, mas a produção industrial e global de produtos "verdes" irá matar o planeta tão certamente como o status quo. Nós somos céticos em relação ao uso da tecnologia industrial "verde" para facilitar a transição para um estilo de vida completamente não-industrial. A dependência na tecnologia industrial pode facilmente tornar-se um culto do progresso e pode afastar as pessoas da formas tradicionais e sustentáveis de vida. Comidas Locais As únicas fontes de energia realmente "verdes" vêm da terra e não necessitam de destruição. Com isto queremos dizer a fotossíntese e a energia muscular. A permacultura, tal como outros métodos tradicionais de subsistência Junte-se ao Deep Green Resistance - 44 / 85 http://deepgreenresistance.org tais como a caça, a pecuária, a pesca e a colheita têm de ser a fundação de qualquer cultura sustentável futura; de outra forma qualquer reivindicação "verde" é falsa. Policulturas perenes, tanto cultivadas como selvagens, podem também fornecer as outras necessidades básicas vitais: água limpa, ar limpo, materiais para vestuário e abrigo e inspiração espiritual. A Deep Green Resistance opõe-se às tecnologias industriais que são etiquetadas de "verdes" ou "renováveis". Ao invés disso, estamos solidários com o mundo natural e as comunidades que sofrem os impactos da extração industrial por todo o mundo. Leitura / Consulta Adicional • As Falsas Soluções da Energia Verde (vídeo de uma hora) • Ozzie Zehner – Ilusões Verdes (vídeo de uma hora) • Mitos dos Biocombustíveis (vídeo de uma hora e meia) • Entrevista com Annette Smith na Rádio Resistência (Resistance Radio) (podcast de quarenta minutos) Referências • "A Problem with Wind Power" by Eric Rosenbloom. • "Energy Balance of the Global Photovoltaic (PC) Industry – Is the Industry a Net Electricity Producer?" by Michael Date and Sally M. Benson. • Green Illusions: The Dirty Secrets of Clean Energy and the Future of Environmentalism by Ozzie Zehner. University of Nebraska Press, 2012. • Deep Green Resistance: Strategy to Save the Planet by Lierre Keith, Derrick Jensen, and Aric McBay. Seven Stories Press, 2011. • Imperial San Francisco: Urban Power and Earthly Ruin by Gray Brechin. University of California Press, 2006. • "Reservoir Emissions" by International Rivers. Accessed October 31st, 2014. • "Solar industry grapples with hazardous wastes" by Jason Dearen, Associated Press. February 10th, 2013. • "Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and Solar PV) are a Problem" by Gail Tverbeg. January 2014. CULTURA DE SEGURANÇA A verdade nua é que vivemos em um estado de vigilância sem precedentes. Muitas pessoas estão legitimamente preocupadas ou com medo da repressão do Estado. Mas esse medo pode tornar-se paranóia e paralisia. Como resultado, alguns não vão se envolver no ativismo radical. Outros vão continuar envolvidos, mas sua paranóia irá criar uma atmosfera sufocante e afastar as pessoas. O resultado? A morte de nossos movimentos. Cultura de Segurança - um conjunto de regras simples que qualquer um pode seguir – reduz a paranóia e o medo, nos torna mais seguros para que possamos fazer o nosso trabalho de forma eficaz. Esta página é uma introdução básica à cultura de segurança e não deve ser considerada completa. Seja inteligente e adapte-se à sua situação específica. O que é Cultura de Segurança? Junte-se ao Deep Green Resistance - 45 / 85 http://deepgreenresistance.org Cultura de segurança é um conjunto de práticas e atitudes destinadas a aumentar a segurança das comunidades políticas. Essas diretrizes são criadas com base na recente e histórica repressão do Estado e ajuda a reduzir a paranóia e aumentar a eficácia. Regras da Cultura de Segurança Não Fale a Respeito de... • Seu envolvimento ou o envolvimento de outra pessoa com um grupo underground. • Seu desejo, ou de outra pessoa, de se envolver com este tipo de grupo. • Sua participação, ou de outra pessoa, em atividades ilegais. • Defesa de alguém contra esse tipo de ações. • Seus planos futuros, ou de outra pessoa, para ações ilegais. • Não pergunte aos outros se eles são membros de um grupo underground. • Não fale sobre ações ilegais em termos de pessoas, lugares ou momentos específicos. Desobediência civil não-violenta é ilegal, mas às vezes pode ser discutida abertamente. Em geral, as especificidades da desobediência civil não-violenta devem ser discutidas apenas com as pessoas que estarão envolvidas na ação ou aqueles que fazem o trabalho de apoio para elas. Ainda é aceitável (até mesmo incentivado) falar publicamente em apoio à sabotagem e todas as formas de resistência, desde que você não mencione lugares específicos, pessoas, momentos, etc., mas só se isso é legal em sua própria jurisdição. Mesmo que manifestar apoio à sabotagem seja legal em sua área, esteja ciente das possíveis consequências de repressão, assim você pode tomar uma decisão consciente sobre o nível de risco que você se sentiria confortável de correr. Nunca fale com oficiais de polícia, agentes do FBI, etc. • Não importa se você é culpado ou inocente. Não importa quão esperto você seja. Nunca fale com oficiais de polícia, agentes do FBI, Seguranças, etc. Não importa que você acredite que está dizendo aos oficiais de polícia o que eles já sabem. Não importa se você estava apenas tendo um bate-papo com os oficiais de polícia. Qualquer conversa com oficiais de polícia, agentes do FBI, etc. irá quase certamente prejudicar você e outras pessoas. • Se você conversar com um oficial de polícia, você dá a ele ou ela a oportunidade de testemunhar contra você baseado no que você disse ou no que eles disserem que você disse. • Simplesmente, e educadamente, diga que você gostaria de permanecer calado. Pergunte se você está sendo detido ou preso. Se não, saia caminhando. Se você estiver sendo preso ou detido, repita para todos que lhe fizerem perguntas que deseja permanecer em silêncio e que gostaria de falar com um advogado. Não diga nada mais do que seu nome, seu endereço e data de nascimento. • A maioria das condenações, sejam as pessoas culpadas ou não, vêm de conversas, e não a partir de um trabalho de investigação. • Não entregue os outros. Um informante é alguém que fornece informações para a polícia ou federais, a fim de obter tratamento brando para si mesmo. Muitas vezes, informantes proporcionam informação para a polícia ao longo de um período prolongado de tempo. Às vezes, isso ocorre depois de serem presos e pressionados para se tornarem informantes. Em troca, eles podem receber dinheiro ou ter o seu próprio comportamento ilegal ignorado pela polícia. Saiba mais sobre um informante proeminente. • Saiba mais sobre truques e ameaças de interrogatório. Junte-se ao Deep Green Resistance - 46 / 85 http://deepgreenresistance.org • Assista Não Converse com Policiais – Parte I e Não Converse com Policiais – Parte II no YouTube. Nunca deixe um oficial de polícia, agente do FBI, etc. entrar em sua casa se ele não tiver um mandado de busca • Se você deixar um policial entrar em sua casa, ele tem o consentimento para vasculhá-la. • Se eles vierem à sua casa para fazer perguntas, não os deixe entrar. De dentro de sua porta, ou do lado de fora com a sua porta fechada atrás de você, educadamente diga: "Eu gostaria de permanecer em silêncio". Pergunte-lhes se você está sendo preso ou se eles têm um mandado de busca. Se eles disserem não, volte para dentro de sua casa e feche a porta educadamente. Se eles vierem de qualquer maneira, não resista à prisão. Diga "eu não dou o consentimento de vasculhar minha casa". Tome nota de quem eles são e o que fazem. Seja Esperto • Aprenda as leis em seu país/estado/jurisdição: saiba o que você pode ou não dizer; saiba quais atos são legais e ilegais; saiba pelo que outros ativistas foram julgados e o que é legalmente permitido. • Descubra os detalhes por meio de ativistas e advogados de ativistas em sua região: se você for realizar uma ação, certifique-se de escrever o seu número de telefone em seu corpo com um marcador permanente. • Vincule-se a ativistas experientes: eles têm uma riqueza de experiência e conhecimento sobre o campo do ativismo em que você está e podem ensinar qual é a logística e estratégias locais para ficar seguro. Mitos da Cultura de Resistência Mito # 1 “Esconder minha identidade em organizações aboveground me mantêm seguro.” “Se eu ler o site do DGR eu entrarei para uma lista do governo.” “Eu não quero meu nome em uma lista de inscrição para um workshop do DGR para que assim eles não saibam quem eu sou.” • Toda ação envolve risco. Nada pode garantir segurança. Qualquer ação efetiva em um movimento aboveground pode levar à repressão. Uma cultura de segurança nos torna mais efetivos. • Movimentos aboveground protegem-se quase exclusivamente através de grandes números e solidariedade pública. • Não há nenhuma maneira de efetivamente fazer o trabalho aboveground e manter sua identidade oculta. Também não é benéfico ou necessário esconder a sua identidade para fazer o trabalho aboveground. • Movimentos aboveground só podem construir números e solidariedade pública sendo publicamente abertos e expressando apoio ao movimento a fim de atrair outros. • Operar a partir do pressuposto de que todas as comunicações de internet e telefone são monitoradas. Tendo em vista que os movimentos aboveground não têm nada a esconder, a não ser a desobediência civil não-violenta ocasional, temos de usar a internet e os telefones para se comunicar, a fim de sermos capazes de nos organizar de forma eficaz. • Um dos principais papéis do movimento aboveground é ser o rosto público do movimento. Defendemos publicamente e dizemos "Eu apoio esta estratégia e eu defendo o DGR", por exemplo. Este importante trabalho não pode ser feito se estivermos constantemente tentando esconder nossas identidades. Junte-se ao Deep Green Resistance - 47 / 85 http://deepgreenresistance.org • Existem razões perfeitamente legítimas para querer manter um anonimato, mas esconder sua identidade completamente e ao mesmo tempo se envolver com qualquer movimento é praticamente impossível. Se você tiver razões para não querer a atenção do governo (por exemplo, se você não é um cidadão), então a melhor maneira de manter a maior segurança possível é a de não se envolver com qualquer movimento. Mito # 2 “Nós temos que identificar o agente federal, oficial de polícia ou agente infiltrado, etc. no grupo” • Não é seguro, e geralmente não é uma boa ideia, especular ou acusar pessoas de serem agentes infiltrados. Esta é uma tática típica que agentes infiltrados usam para derrubar movimentos. • A paranóia pode causar um comportamento destrutivo. • Fazer acusações falsas/incertas é perigoso. Mito # 3 “Oficiais de polícia têm que se identificar. Oficiais de polícia não podem mentir para você.” • Agentes infiltrados disfarçados não podem fazer seu serviço se tiverem que se identificar. • Os oficiais de polícia estão legalmente autorizados a mentir para as pessoas - e fazem isso rotineiramente para incentivar a cooperação, tanto na rua quanto - e especialmente - no interrogatório. Policiais e outros agentes também apresentam evidências falsas, incluindo fotos, vídeo e áudio para induzir as pessoas a falar de outras pessoas. • Agentes do governo de todos os tipos podem ameaçar você, sua família e seus amigos. A melhor defesa é a de não falar, não acreditar neles, não cooperar e pedir ajuda aos outros. Mito # 4 “A Cultura de Segurança garante minha segurança”. • A Cultura de Segurança te mantêm mais seguro, mas qualquer ação efetiva pode levar à repressão. • Nada pode garantir segurança, mas a Cultura de Segurança nos torna mais efetivos. • Separação estrita entre os movimentos aboveground e underground que existam ou que possam vir a existir ajuda a proteger as pessoas. Violações da Cultura de Segurança O comportamento, não as pessoas, é o problema. • Há muitos comportamentos que podem prejudicar grupos ou torná-los inseguros. Se alguém é um policial ou não, não importa. Concentre-se em abordar os comportamentos. • Alguns dos comportamentos a observar são o sexismo, o comportamento abusivo, fofocas e criação de conflito entre indivíduos ou grupos. O que fazer em casos de violação da Cultura de Segurança. • Repreender (diplomaticamente e privadamente) e apontar quem violou a Cultura de Segurança para melhores averiguações. • Não deixe as violações passarem ou se tornarem hábito. Junte-se ao Deep Green Resistance - 48 / 85 http://deepgreenresistance.org • Violadores crônicos têm o mesmo efeito prejudicial de agentes infiltrados. É importante e necessário estabelecer limites. Se um membro consistentemente viola a Cultura de Segurança, mesmo após ter sido corrigido, eles devem ser removidos do grupo para a segurança de todos. Recursos • Deep Green Resistance videos sobre a cultura de segurança apresentados por Aric McBay • Centro de Defesa às Liberdades Civis website • The Mysterious Rabbit Puppet Army apresenta: "Donny, Não!", uma esquete de formação para a Cultura de Segurança (text transcript or 3.7 MB MP3) Os documentos à seguir são de leitura obrigatória para qualquer ativista. • • • Agent At The Door: one-page guide to handling visits from government officials in the US. You may want to print this out and post it by your door. • Você Tem o Direito de Permanecer Em Silêncio • Operação Blackfire • Cultura de Segurança: Um Livro de Mão Para Ativistas Segurança para computador • Read our guide to encrypting email with PGP • Criptografia Funciona: Como proteger sua privacidade na Era da Vigilância da NSA pelo the Freedom of the Press Foundation • PRISM BREAK – lista detalhada de opções de software. The Grand Jury Resistance Project provides useful information, including PDFs on A Few Facts About Grand Juries (1 page), Grand Juries Are An Abuse Of Power! (2 page brochure), and What You Should Know About Grand Juries (2 pages, plus example subpoena.) Perguntas Frequentes P: Você tem advogados dispostos a nos ajudar/aconselhar em como devemos agir? R: Atualmente, estamos construindo um suporte legal com este objetivo precisamos de voluntários para essa e outras tarefas. P: Como devo agir se alguém disser: "Eu quero formar um grupo underground, fazer parte de um grupo underground, criar um espaço seguro, etc." R: Diga: "Nós somos uma organização aboveground. Nós não queremos nos envolver. Não respondemos as perguntas de ninguém sobre o desejo pessoal de criar ou fazer parte um movimento underground." Imediatamente mude de assunto se isso incorre em violação da Cultura de Segurança. Às vezes, você terá que dar fim ao diálogo. Não diga, “o movimento underground” - Isso poderia implicar que estamos em contato com uma organização underground já existente. Em vez disso, utilize o termo "um movimento underground (que pode ou não existir).” Junte-se ao Deep Green Resistance - 49 / 85 http://deepgreenresistance.org Mais perguntas ou preocupações sobre segurança? Mande um e-mail: [email protected] RESISTÊNCIA ESTRATÉGICA Extraído do capítulo 6 do livro Deep Green Resistance: Estratégia para Salvar o Planeta Agora, quando eu falo sobre uma resistência, eu estou falando de uma resistência política organizada. Eu não estou falando apenas de algo que vem e algo que vai. Eu não estou falando de um sentimento. Eu não estou falando sobre ter em seu coração a maneira como as coisas deveriam ser e passando por um dia normal, ter boas ideias maravilhosas, dignas em seu coração. Estou falando de quando você coloca seu corpo e sua mente na linha e compromete-se a anos de luta, a fim de mudar a sociedade em que você vive. Isso não significa apenas mudar os homens que você sabe que os costumes deles vão ficar melhor – apesar de que isso não seria ruim... Mas não é isso que a resistência política é. A resistência política se passa dia e noite, abertamente e secretamente, onde as pessoas podem vê-lo e onde as pessoas não podem. Ela é passada de geração em geração. É ensinada. Ela é encorajada. É afamada. Ela é inteligente. É mais experiente. Ela está empenhada. E um dia ela vai ganhar. Ela vai ganhar. —Andrea Dworkin As estratégias e táticas que escolhemos deve ser parte de uma estratégia maior. Isto não é o mesmo que a construção do movimento; derrubar a civilização não requer uma maioria ou um único movimento coerente. Uma grande estratégia é necessariamente diversificada e descentralizada, e irá incluir vários tipos de ações. Se aqueles no poder buscam um Espectro-Integral de Dominação, então precisamos de um Espectro-Integral de Resistência.[1] Uma ação eficaz muitas vezes requer um alto grau de risco ou sacrifício pessoal, de modo que a ausência de uma grande estratégia plausível desencoraja muitas pessoas genuinamente radicais de agir. Por que eu deveria correr riscos com a minha própria segurança para atos simbólicos ou inúteis? Um dos propósitos deste livro é o de identificar estratégias plausíveis para ganhar. Se quisermos ganhar, temos de aprender as lições da história. Vamos dar uma olhada no que tem feito movimentos eficazes de resistência do passado. Existem critérios gerais para julgar eficácia? Podemos dizer se táticas ou estratégias de exemplos históricos vão funcionar para nós? Existe um modelo geral - uma espécie de catálogo ou taxonomia de ação - que grupos de resistência podem escolher? A resposta a cada uma destas perguntas é sim. Para aprender a partir de grupos históricos precisamos de quatro tipos específicos de informações: seus objetivos, estratégias, táticas e organização. As metas podem nos dizer o que certo movimento teve como objetivo realizar e se foi em última análise bem sucedido em seus próprios termos. Será que eles fizeram o que eles disseram que queriam? Estratégias e táticas são duas coisas diferentes. Estratégias são de longo prazo e em larga escala planeja alcançar objetivos. O historiador Liddell Hart chamou estratégia militar "a arte de distribuir e aplicar meios militares para cumprir os fins da política."[2] O bombardeio aliado de infra-estrutura alemã durante a Primeira Guerra Mundial I é um exemplo de uma estratégia bem sucedida. Outros incluem os boicotes pelos direitos civis de Junte-se ao Deep Green Resistance - 50 / 85 http://deepgreenresistance.org empresas pró-segregação e estratégias sufragistas de petições e pressão sobre os candidatos políticos, direta e indiretamente, através de atos que incluem a destruição de propriedade e incêndio culposo. Táticas, por outro lado, são ações de curto prazo, de menor escala; são atos particulares que colocam as estratégias em prática. Se a estratégia é bombardeio sistemático, a tática pode ser um vôo com bombardeio dos Aliados (N.T.: da Primeira Guerra Mundial) para atingir uma fábrica particular. A estratégia de boicote dos direitos civis empregou táticas como piquetes e protestos em lojas específicas. As sufragistas atingiram sua meta estratégica, planejando ataques incendiários de pequena escala em edifícios particulares. Táticas de sucesso são adaptadas para atender situações particulares, e eles combinam o povo e os recursos disponíveis. Organização é a maneira pela qual um grupo compõe-se para realizar atos de resistência. Movimentos de resistência podem variar em tamanho, de indivíduos atomizados a grandes e centralizadas burocracias, e como um grupo se organiza determina quais as estratégias e táticas ele é capaz de empreender. O grupo é centralizado ou descentralizado? Ele tem postos e hierarquia ou é explicitamente anarquista em sua natureza? O grupo é fortemente organizado com códigos de conduta e políticas ou é um improviso "autocrático?" Quem é um membro, e como são recrutados os membros? E assim por diante. UMA TAXONOMIA DA AÇÃO Nós todos vimos as taxonomias biológicas, que categorizam os organismos vivos por reino e filo até gênero e espécie. Embora existam dezenas de milhões de espécies vivas de muitas diferentes formas, tamanhos e habitats, podemos usar uma taxonomia que simplifique e facilite a visualização. Quando buscamos estratégias e táticas eficazes, temos que classificar através de milhões de ações passadas e ações potenciais, a maioria dos quais são ou fracassos históricos ou becos sem saída. Nós podemos nos salvar um monte de tempo e um monte de angústia com uma taxonomia de resistência rápida e suja. Ao olhar sobre ramos inteiros de ação de uma só vez podemos rapidamente julgar quais táticas são realmente adequadas e eficazes para salvar o planeta (e para muitos tipos específicos de ativismo de justiça social e ecológica). A taxonomia de ação também pode sugerir táticas que nós poderíamos ignorar. De um modo geral, podemos dividir todas as nossas táticas e projetos em atos de omissão ou atos de comissão. Claro que, às vezes, essas categorias se sobrepõem. Um protesto pode ser um meio para pressionar um governo, uma forma de sensibilizar a opinião pública, uma tática direcionada de perturbações econômicas, ou todos os três, dependendo da intenção e organização. E às vezes uma tática pode apoiar a outra; um ato de omissão como uma greve de trabalho tem muito mais probabilidade de ser eficaz quando combinada com propaganda e protesto. Em um momento nós iremos fazer um rápido passeio de nossas opções taxonômicos para a resistência. Mas, primeiro, um aviso. Aprender as lições da história vai oferecer-nos muitos presentes, mas estes presentes não são livres. Eles vêm com um fardo. Sim, as histórias de quem revida estão cheias de coragem, brilho e drama. E sim, podemos encontrar discernimento e inspiração em ambos os seus triunfos e suas tragédias. Mas o peso da história é a seguinte: não existe uma maneira mais fácil. Em Star Trek, todos os problemas podem ser resolvidos na cena final, invertendo a polaridade da matriz defletora. Mas isso não é a realidade, e isso não é o nosso futuro. Cada vitória da resistência foi vencida por sangue e lágrimas, com angústia e sacrifício. Nossa fardo é o conhecimento de que existem contudo tantas maneiras de resistir, que essas formas já foram inventadas, e todas elas envolvem profunda e perigosa luta. Quando os resistentes ganham, é porque eles lutam mais do que pensavam ser possível. E esta é a segunda parte do nosso fardo. Uma vez que aprendemos as histórias de quem revida - uma vez que nós realmente as aprendemos, uma vez que choramos por eles, uma vez que as inscrevemos em nossos Junte-se ao Deep Green Resistance - 51 / 85 http://deepgreenresistance.org corações, uma vez que as carregamos em nossos corpos como um veterano de guerra carrega doendo estilhaços - não temos escolha, mas revidar nós mesmos. Só fazendo isso podemos esperar viver de acordo com o seu exemplo. As pessoas têm lutado sob as condições mais adversas e terríveis que se possa imaginar; essas pessoas são nossos parentes na luta pela justiça e por um futuro habitável. E nós encontramos essas pessoas nossa coragem - não apenas na história, mas agora. As encontramos não apenas entre os seres humanos, mas em todos aqueles que revidam. Devemos revidar, porque se não o fizermos, vamos morrer. Isto é certamente verdade no sentido físico, mas também é verdade em outro nível. Uma vez que você sabe realmente o auto-sacrifício e infatigabilidade e bravura que nossos parentes têm mostrado nos tempos mais sombrios, você deve agir ou morrer como uma pessoa. Temos que revidar não só para ganhar, mas para mostrar que estamos ambos vivos e dignos dessa vida. Outros recursos • Leia a estratégia da Deep Green Resistance em Guerra Ecológica Decisiva • Saiba mais sobre e compre o livro Deep Green Resistance book • Read of militant attacks on infrastructure at the DGR News Service Underground Action Calendar • Read the DGR News Service "Time Is Short" article series on strategic resistance • Recursos para aprender estratégias e táticas (17MB zip) Notas de Rodapé [1] E não há necessidade de dizer "se". O Espectro-Integral de Dominação é terrivelmente, mas sem surpresa, um objetivo declarado do governo dos EUA, através de militares e outros meios. [2] Hart, Strategy, 2ª edição, p. 335. GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA Guerra Ecológica Decisiva (GED) é a estratégia de um movimento que tem ficado tempo demais na defensiva. É o grito de guerra de um povo que se recusa a perder mais batalhas, o último recurso de um movimento isolado, cooptado, e cansado de intermináveis batalhas judiciais e bloqueios. As informações contidas na estratégia GED derivam de estratégia militar e manuais de táticas, análise histórica de resistências, insurreições e movimentos de libertação nacional. Os princípios estabelecidos nestas páginas são aceitos em todo o mundo como princípios de guerra assimétrica, em que uma parte é mais poderosa que a outra. Se alguma luta é realmente assimétrica, é esta. As estratégias e táticas explicadas na GED são ensinadas a policiais militares em locais como a Academia Militar de West Point por um motivo simples: elas são extremamente eficazes. Quando foi a julgamento na África do Sul, em 1964, por seus crimes contra o regime do apartheid, Nelson Mandela disse: “Eu não nego que eu planejei sabotagem. Eu não fiz isso em um espírito de imprudência. Eu planejei como resultado de uma avaliação longa e sóbria da situação política depois de muitos anos de opressão do meu povo pelos brancos”. Nós convidamos você a ler esta estratégia, e a realizar essa mesma longa e sóbria avaliação da situação que enfrentamos. O tempo é curto. Junte-se ao Deep Green Resistance - 52 / 85 http://deepgreenresistance.org COLLAPSE SCENARIOS Listen to an audio version of Collapse Scenarios Há um momento em operar a máquina se torna uma coisa tão odiosa, adoecendo seu coração, que você não pode mais fazer parte disso, você não pode nem mesmo fazer parte disso passivamente, e você sente que precisa jogar seu corpo contra as engrenagens e contra as rodas, contra as alavancas, contra todo o aparato, e você tem que fazê-la parar! —Mario Savio, Berkeley Free Speech Movement Para alcançar o que vale a pena, pode ser necessário perder todo o restante. —Bernadette Devlin, ativista política irlandesa Nesse ponto da história, não há uma boa opção em curto prazo para a sociedade global humana. Algumas são melhores e outras piores e, em longo prazo, algumas são muito boas, mas em curto prazo estamos de mãos atadas. Eu não vou mentir para você – não temos tempo para cerimônias. A única forma de encontrar a melhor alternativa é enfrentando nossa terrível situação e não sermos desviados por falsas esperanças. As sociedades humanas – por causa especificamente da civilização – tem se colocado em um dilema. Enquanto espécie, somos dependentes da extração de suprimentos finitos de petróleo, solo e água. A agricultura industrial (e antes dela a agricultura anual de grãos) tem nos colocado em um padrão vicioso de crescimento populacional e acúmulo. Nós, a muito, excedemos nossa capacidade de suporte e o funcionamento da civilização está destruindo essa capacidade de suporte a cada segundo. Isto é, em grande parte, culpa daqueles que estão no poder, dos mais ricos, dos Estados e corporações. Mas as consequências – e a responsabilidade por compactuar com isso – recai sobre o resto de nós, incluindo não-humanos. Concretamente, ainda não é tarde demais para fazer uso de programas emergenciais focados em limitar os nascimentos e reduzir a população, cortar o consumo de combustível fóssil à zero, substituir as monoculturas agrícolas por policulturas perenes, eliminar a pesca excessiva e cessar a usurpação (ou destruição) industrial do que resta das áreas selvagens. Não há razão concreta que nos impeça de dar início a tudo isso amanhã, parar o aquecimento global em seu nível atual, reverter o crescimento, reverter a erosão, reverter a diminuição dos níveis dos aquíferos e trazer de volta todas as espécies e biomas atualmente em risco. Não há razão concreta para não nos juntarmos e agirmos como adultos para resolver nossos problemas, isso não é, de forma alguma, contra as leis da física. Mas socialmente e politicamente, nós sabemos que esse é um sonho otimista. Existem sistemas materiais de poder que tornam isso impossível enquanto esses sistemas permanecerem intactos. Os que estão no poder ganham muito dinheiro e privilégios destruindo o planeta. Nós não vamos salvar o planeta – ou nosso próprio futuro enquanto espécie – sem uma luta. Como ser realista? Quais opções estão atualmente disponíveis para nós e quais são as consequências? O que segue são três cenários amplos e ilustrativos: um onde não há uma resistência substancial e decisiva, um em que há uma resistência limitada e um colapso relativamente prolongado, e um em que uma resistência total conduz ao colapso imediato da civilização e da infraestrutura industrial global. Ausência De Resistência Se não houver resistência significativa, provavelmente as coisas só irão seguir como estão por mais alguns anos, embora com crescentes perturbações e depressões econômicas. De acordo com as melhores informações Junte-se ao Deep Green Resistance - 53 / 85 http://deepgreenresistance.org disponíveis, os impactos do pico do petróleo começarão em algo entre 2011 e 2015, resultando em rápido declínio na disponibilidade global de energia.[1] É possível que isso possa acontecer um pouco mais tarde se todas as medidas forem tomadas para extrair o combustível fóssil restante, mas isso pode apenas adiar o inevitável, agravar o aquecimento global e fazer com que o eventual declínio seja mais acentuado e severo. Quando o pico do petróleo acontecer, o preço crescente e o suprimento decrescente do suprimento de energia desfalcarão a manufatura e o transporte, especialmente em escala global. A queda energética causará turbulência econômica, e um ciclo de contração econômica auto perpetuado terá início. Empresas serão incapazes de pagar seus empregados, trabalhadores serão incapazes de comprar e cada vez mais empresas vão realizar cortes ou simplesmente falir (e sem a capacidade de pagar seus empregados). Incapazes de pagar suas dívidas e hipotecas, proprietários de imóveis, empresas e até mesmo Estados irão à falência (é provável que esse processo já tenha começado). O comércio internacional irá despencar com a depressão econômica global aumentando os custos de transporte e produção. Embora seja provável que o preço do petróleo aumente com o passar do tempo, haverá tempos em que a contração da economia causará quedas na demanda por petróleo suprimindo assim o seu preço. O preço baixo do petróleo pode, ironicamente, mas beneficamente, limitar investimentos em nova infraestrutura petrolífera. Num primeiro momento o colapso vai parecer uma recessão ou uma depressão econômica tradicional, com os pobres em especial sendo duramente atingidos pelo aumento dos preços de bens básicos, particularmente de eletricidade e, em áreas frias, aquecimento. Após alguns anos, os limites financeiros se tornarão limites físicos; a produção com uso intensivo de energia em grande escala se tornará não apenas antieconômica, mas também impossível. Um dos resultados diretos disso será o colapso da agricultura industrial. Dependentes de grandes quantidades de energia para abastecer tratores, sintetizar pesticidas e fertilizantes, irrigação, empacotamento e transporte, a agricultura industrial global irá operar com severos limites de produção (impulsionados principalmente por uma intensa competição por energia com outros setores). Isto será agravado pelo esgotamento da água subterrânea e dos aquíferos, uma longa história de erosão do solo e o estágio avançado das mudanças climáticas. Primeiramente, isso causará uma crise alimentar e econômica sentida principalmente pelos pobres. Ao longo do tempo, essa situação se agravará e a produção industrial de alimentos irá cair abaixo do necessário para manter a população. Haverá três principais respostas a essa escassez global de alimentos. Em algumas áreas as pessoas irão voltar a plantar sua própria comida e criar iniciativas alimentares locais sustentáveis. Este será um ponto positivo, mas o envolvimento público será tardio e inadequado, já que muitas pessoas ainda não terão tomado ciência da permanência do colapso e não vão querer plantar sua própria comida. Isso também se tornará muito mais difícil por causa da urbanização massiva que ocorreu no último século, pela destruição da terra, e pelas mudanças climáticas. Além disso, muitas culturas de subsistência serão destruídas ou retiradas de suas terras – a desigualdade da distribuição de terras irá dificultar para que as pessoas plantem seu próprio alimento (justamente como acontece agora na maioria do mundo). Sem uma resistência bem organizada, uma reforma agrária não irá ocorrer e as pessoas deslocadas não terão acesso à terra. Como resultado, a fome se espalhará (e isso será ainda pior em anos de colheitas ruins) e se tornará endêmica em muitas partes do mundo. A falta de energia para a agricultura industrial pode causar um ressurgimento de instituições como a escravidão e a servidão. A escravidão não ocorre em um vazio político. Ameaçados por um colapso econômico e energético, alguns governos irão cair completamente, se tornando Estados falidos. Sem ninguém para pará-los, chefes de milícias irão se instalar nos escombros. Outros, desesperados para manter seu poder frente às agora encorajadas agitações civis e seccionistas, irão adotar formas autoritárias de governo. Em um mundo de recursos em diminuição crítica, os governos ficarão mais cruéis. Nós veremos um ressurgimento do autoritarismo com formas modernas: como tecnofascismo e feudalismo corporativo. Os ricos irão cada vez mais se deslocar para enclaves Junte-se ao Deep Green Resistance - 54 / 85 http://deepgreenresistance.org privados e bem defendidos. O Estado de seus países não vai parecer apocalíptico – eles vão se parecer com paraísos ecológicos, com jardins orgânicos bem cuidados, lagos privados limpos e refúgios para a vida selvagem. Em alguns casos esses enclaves serão pequenos e em outros poderão preencher países inteiros. Enquanto isso, os pobres terão suas condições agravadas. Os milhões de refugiados vítimas do colapso econômico e energético tentarão se deslocar, mas ninguém os aceitará. Em algumas áreas frágeis, o influxo de refugiados irá sobrecarregar os serviços básicos e causar um colapso local, resultando em ondas de refugiados se espalhando dos epicentros do colapso. Em algumas áreas, refugiados serão retraídos por forças armadas. Em outras áreas, o racismo e a discriminação virão à tona apelando para o autoritarismo para marginalizar pessoas e dissidentes em “assentamentos especiais”, deixando mais recursos para os privilegiados.[2] Pessoas desesperadas serão os únicos candidatos para o perigoso e sujo trabalho manual requerido para manter a produção industrial funcionando enquanto o fornecimento de energia encolhe. Assim, aqueles no poder irão considerar comunidades autônomas e auto-sustentáveis como uma ameaça ao seu fornecimento de trabalhadores e irão suprimi-las ou destruí-las. Apesar de tudo isso, o “progresso” tecnológico ainda não irá parar. Por algum tempo ele irá continuar com dificuldades, embora a humanidade se dividirá em grupos cada vez mais desiguais. Aqueles que estão embaixo serão incapazes de suprir suas necessidades básicas, enquanto aqueles no topo tentarão viver vidas de privilégio como viviam no passado, vendo até mesmo alguns avanços tecnológicos, muitos dos quais serão destinados a consolidar a superioridade daqueles no poder em um mundo cada vez mais superlotado e hostil. Tecnofascistas irão desenvolver e aperfeiçoar tecnologias de controle social (já existentes em seus estágios iniciais): drones autônomos para vigilância e assassinatos; dispositivos de micro-ondas para controle de multidões; scanners cerebrais que podem tornar os detectores de mentira infalíveis; até mesmo leitura mental e tortura. Não há resistência organizada significativa neste cenário, mas a cada ano que passar os tecnofascistas se tornarão cada vez mais capazes de destruir resistências mesmo em suas menores expressões. Com o passar do tempo, a janela de oportunidades para a resistência irá rapidamente se fechar. Tecnofascistas da primeira metade do século XXI já terão tecnologia para vigilância e coerção que farão com que soldados da SS pareçam apenas amadores. Sua habilidade para degradar a humanidade fará com que fascistas predecessores pareçam santos em comparação. Nem todos os governos adotarão essa medida, é claro. Mas os governos autoritários – aqueles que continuarão explorando impiedosamente as pessoas e recursos independentemente das consequências – terão mais influência e mais força, e irão tomar recursos de seus vizinhos e Estados falidos quando precisarem. Não haverá ninguém para detê-los. Não importa que você viva na mais sustentável eco-vila do mundo se seu vizinho é um Estado fascista devorador de recursos. Enquanto isso, com o poder industrial cada vez mais desesperado por energia, as tênues legislações sociais e ambientais serão colocadas de lado. O pior do pior, práticas como as perfurações oceânicas e em refúgios de vida selvagem e remoção de topos de montanhas para extração de carvão se tornarão comuns. Estes serão os últimos vestígios de reservas pré-históricas de energia. A perfuração irá apenas prolongar a permanência da civilização industrial por alguns meses ou anos, mas os danos ecológicos serão de longa duração ou permanentes (como tem acontecido no Refúgio Nacional da Vida Selvagem no Ártico). Já que neste cenário não há uma resistência significativa, isso irá proceder sem obstáculos. Investimentos em energia industrial renovável também serão feitos, porém, isso será atrasado e dificultado por desafios econômicos, falências governamentais e cortes de gastos.[3] Além disso, linhas de longa distância para transmissão de energia se tornarão insuficientes e se deteriorarão com os anos. Substituí-las e melhorá-las se mostrará difícil e dispendioso. Como resultado, a energia renovável irá produzir apenas uma pequena fração da energia produzida pelo petróleo. Esse tipo de energia elétrica não será adequado para a grande maioria dos Junte-se ao Deep Green Resistance - 55 / 85 http://deepgreenresistance.org tratores, caminhões, outros veículos ou infraestrutura similar. Como consequência, a energia renovável terá apenas um efeito minimamente moderado na escalada energética. Na verdade, a energia investida na nova infraestrutura levaria anos para repor a si mesma em energia gerada. O melhoramento massivo da infraestrutura só faria subir os níveis de energia fazendo cair os níveis de energia disponíveis para atividades diárias. Haverá um esforço constante para distribuir pequenos abastecimentos de energia com crises sucessivas. Haverá algum tipo de racionamento para prevenir tumultos, mas a maioria da energia (independente da fonte) irá para os governos, para os militares, para as corporações e para os ricos. Restrições energéticas tornarão impossível até mesmo tentar qualquer reformulação da infraestrutura em grande escala, como economias de hidrogênio (o que de qualquer forma não poderia resolver o problema). Biocombustíveis serão usados em muitas áreas, apesar do fato deles terem uma baixa proporção de energia retornada por energia investida (EROEI). O EROEI será melhor em países tropicais, logo, o que resta das florestas tropicais será massivamente derrubado para abrir espaço para a produção de biocombustíveis (frequentemente, florestas serão derrubadas em massa apenas para serem queimadas como combustível). Maquinaria pesada será muito cara para a maioria das plantações, então a força de trabalho virá da escravidão e da servidão por parte de governos autoritários e do feudalismo corporativo (escravidão é usada atualmente no Brasil para derrubar florestas e produzir carvão à mão para a indústria metalúrgica).[4] Os efeitos globais da produção de biocombustíveis vão elevar o preço dos alimentos, da água e irrigação para a agricultura, agravando a erosão do solo. Independentemente de tudo isso, sua produção iria apenas suprir uma pequena fração dos hidrocarbonetos líquidos ao pico da civilização. Tudo isso terá consequências ecológicas imediatas. Os oceanos, arruinados pelo aumento da pesca (para compensar nossa escassez de alimentos) e pela acidez causada pelo aquecimento global e pela morte de corais, estarão quase mortos. A expansão de biocombustíveis irá destruir muitas das áreas selvagens restantes e a biodiversidade irá despencar. Florestas tropicais como a Amazônia produzem o clima úmido de que necessitam com a sua vasta transpiração própria, mas a expansão das derrubadas e da agricultura irá cortar a transpiração e gerar secas permanentes. Mesmo onde a floresta não está sendo derrubada, o clima seco será o suficiente para destruí-la. A Amazônia se tornará um deserto e outras florestas tropicais irão seguir o mesmo caminho. As projeções variam, mas é quase certo que se a maior parte do combustível fóssil que ainda há na terra for extraído e queimado, o aquecimento global se tornará auto-reforçado e catastrófico. No entanto, os piores efeitos não serão sentidos até décadas no futuro, quando quase todo combustível fóssil já tiver sido extraído. Até então, haverá pouquíssima energia ou capacidade industrial restante aos humanos para tentar compensar os efeitos do aquecimento global. Além disso, quanto mais intenso o aquecimento global se tornar, remediações ecológicas por meio de policulturas perenes e reflorestamento se tornarão impossíveis. O calor e a seca transformarão as florestas em emissoras de carbono, enquanto florestas do norte morrerão de calor, pestes e doenças e depois queimarão em incêndios continentais que vão fazer com que os incêndios do início do século XXI pareçam pequenos.[5] Mesmo pastos intactos não sobreviverão às altas temperaturas enquanto o carbono literalmente cozinha os solos agriculturáveis que ainda restam. Guerras nucleares em disputa por recursos irão estourar entre os Estados que dominam essa tecnologia. Guerras entre os EUA e a Rússia são menos prováveis do que eram na época da Guerra Fria, mas superpotências ascendentes, como a China, vão querer seu pedaço da torta de recursos globais. Potências nucleares como a Índia e o Paquistão estarão densamente povoadas e ecologicamente precárias; o aquecimento global vai secar os principais rios anteriormente alimentados pelo derretimento das calotas polares e centenas de milhares de pessoas no sul da Ásia precisarão viver a poucos metros acima do nível do mar. Com poucos recursos para equipar e encampar um exército ou força aérea mecanizados, ataques nucleares vão parecer uma ação Junte-se ao Deep Green Resistance - 56 / 85 http://deepgreenresistance.org crescentemente efetiva para estados desesperados. Se a guerra por recursos se agravar a ponto de se tornar uma guerra nuclear, os efeitos serão severos, mesmo no caso de uma guerra nuclear “menor” entre países como a Índia e o Paquistão. Mesmo que cada país use apenas cinquenta bombas do porte das usadas em Hiroshima em bombardeios aéreos sobre centros urbanos, isso resultaria em um inverno nuclear.[6] Embora os níveis letais de partículas radioativas durem apenas algumas semanas, os efeitos ecológicos seriam muito mais severos. Os cinco megatons de fumaça produzidas escureceriam o céu ao redor do mundo. O aquecimento estratosférico destruiria quase tudo o que há abaixo da camada de ozônio.[7] Em contraste com a tendência de aquecimento global, a “pequena era do gelo” começaria logo em seguida e duraria muitos anos. Durante esse período, a temperatura na maioria das regiões agrícolas rotineiramente cairia até o congelamento no verão. Fome generalizada e imediata ocorreria por todo o mundo. Isso em caso de uma pequena guerra. O poder explosivo de cem bombas como as de Hiroshima somam apenas 0,03% do arsenal global. Se um número maior de bombas mais poderosas fosse usado – se bombas de cobalto forem usadas, a irradiação por longos períodos destruiria a vida na superfície da Terra – os efeitos podem ser ainda piores.[8] Apenas alguns humanos sobreviveriam. O efeito do inverno nuclear seria temporário, mas os bombardeios e ataques subsequentes poderiam inserir grandes quantidades de carbono na atmosfera, matar plantas e prejudicar a fotossíntese. Como resultado, depois que as cinzas caíssem, o aquecimento global seria muito mais rápido e severo do que antes. Com ou sem guerra nuclear, as perspectivas em longo prazo seriam obscuras. O aquecimento global continuaria aumentando até que os combustíveis fósseis fossem exauridos. Para o planeta, o tempo para recuperação ecológica é medido em dezenas de milhões de anos, se é que essa recuperação seria possível.[9] Assim como James Lovelock tem apontado, um aquecimento muito elevado pode forçar a Terra a estabelecer um novo equilíbrio, um muito mais quente que o atual.[10] É possível que plantas e animais de grande porte possam ser capazes de sobreviver apenas perto dos pólos.[11] Também é possível que o planeta inteiro se torne praticamente inabitável para plantas e animais de grande porte, com um clima mais parecido com o de Vênus do que com o da Terra. Tudo o que é preciso para que isso aconteça, tendo em vista as tendências atuais, é que não haja resistência significativa e efetiva. Tudo que é necessário para que o mal tenha sucesso é que as pessoas boas não façam nada. Mas esse futuro não é inevitável. Resistência Limitada E se algumas formas de resistência limitada fossem colocadas em prática? E se houvesse um movimento sério de resistência aboveground combinado com pequenos grupos de redes underground trabalhando em paralelo? (Esse ainda não seria um movimento de massas – isso é uma extrapolação, não uma fantasia.) E se esses movimentos partilhassem uma estratégia comum? O movimento aboveground poderia trabalhar para construir comunidades sustentáveis e justas onde atuam e poderiam usar tanto ações diretas quanto indiretas para tentar frear os maiores excessos daqueles no poder, reduzir a queima de combustíveis fosseis e lutar por justiça social e ecológica. Enquanto isso, os undergrounders se engajariam em ataques limitados à infraestrutura (constantemente em paralelo às lutas aboveground), especialmente à infraestrutura energética para tentar reduzir o consumo de combustíveis fósseis e grande parte da atividade industrial. A esperança geral desse plano seria em usar ataques seletivos para acelerar o colapso em uma direção deliberada, algo como por abaixo um edifício já deteriorado. Se esse cenário ocorrer, nos primeiros anos tudo pode continuar indo como está. Levaria tempo até que se conseguisse construir uma resistência e aliar grupos de resistência já existentes em uma estratégia maior. Além disso, a civilização em seu pico de poder pode se tornar muito forte para ser derrubada apenas com uma Junte-se ao Deep Green Resistance - 57 / 85 http://deepgreenresistance.org resistência parcial. Os anos entre 2012 e 2015 ainda irão sentir o impacto do pico do petróleo e o início de uma reviravolta econômica, mas nesse caso seriam necessários ataques cirúrgicos à infraestrutura energética que limitassem novas extrações de combustíveis fósseis (com foco nas práticas mais sujas como a remoção de topos de montanhas e a extração de petróleo de areias betuminosas). Alguns desses ataques seriam conduzidos por grupos de resistência já existentes (como o MEND) e outros por novos grupos, incluindo grupos na minoria rica e poderosa do mundo. A crescente escassez de petróleo faria com que os ataques a gasodutos e infraestruturas energéticas se tornassem mais populares entre grupos militantes de todos os tipos. Durante esse período, grupos militantes iriam se organizar, treinar e aprender. Esses ataques não seriam ataques simbólicos. Eles seriam ataques sérios planejados para serem efetivos, mas também sincronizados e direcionados a minimizar os “efeitos colaterais” aos humanos. Eles iriam constituir-se basicamente em formas de sabotagem. Eles seriam destinados a cortar o consumo de combustíveis fosseis em cerca de 30% entre os primeiros anos, e depois mais. Haveria ataques similares à infraestrutura energética, como linhas de transmissão de energia. Esses ataques causariam uma significante, mas incompleta, redução na disponibilidade de energia em muitos lugares, um investimento massivo em energia renovável (e outras medidas como aquecedores solares passivos ou melhor isolamento em algumas áreas) seria provocado. Isso colocaria em movimento um processo de descentralização política e infraestrutural. Isso também poderia resultar em repressão política e violência real direcionada a esses resistentes. Enquanto isso, os grupos aboveground se responsabilizariam pela maior parte dos distúrbios econômico. Haveria um crescimento da consciência de classe e organização. Atividades de operários e de pobres iriam levar cada vez mais à suficiência comunitária. Produção local de alimentos e atividades de auto-suficiência alcançariam pessoas que estariam sendo empurradas para fora do capitalismo. O desemprego e o subemprego – crescendo rapidamente em números – contribuiriam para começar uma economia de troca e subsistência por fora do capitalismo. Ajuda mútua e troca de conhecimentos seriam promovidos. No cenário anterior, o desenvolvimento dessas habilidades seria obstaculizado em parte pela dificuldade de acesso à terra. Neste cenário, porém, organizadores da resistência aboveground aprenderiam com grupos como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra na América Latina. Organizações e ocupações de terra em massa forçariam os governos a ceder terras fora de uso para os “jardins da vitória” – loteamentos com grandes jardins comunitários e fazendas de subsistência cooperativa. A situação em muitos países de terceiro mundo pode até mesmo melhorar por causa do colapso econômico global. As potências mundiais podem não mais forçá-los a pagar suas dívidas externas, ou mesmo os capangas da CIA podem não mais apoiar ditaduras “amigáveis”. O declínio de economias baseadas na exportação realmente traria várias consequências, mas isso também permitiria que terras atualmente usadas para plantar dinheiro voltassem a ser fazendas de subsistência. A agricultura industrial vai continuar vacilante até o colapso. Fertilizantes sintéticos ficarão cada vez mais caros e serão cuidadosamente conservados onde forem usados limitando o despejo de nutrientes em corpos d’água e permitindo que zonas mortas oceânicas se recuperem. A fome será reduzida pelo plantio de subsistência e pela mudança das pequenas fazendas para um trabalho mais tradicional, à mão e com tração a cavalo, mas a comida será mais valiosa e com fornecimentos menores. Mesmo um corte de 50% do consumo de combustíveis fósseis não poderia evitar a fome generalizada e as mortes. Como temos discutido, a grande maioria da energia usada será para coisas não essenciais. Nos EUA, o setor agrícola contribui com menos de 2% de toda a energia usada, incluindo tanto o consumo direto (como combustível para tratores e eletricidade para galpões e bombas) quanto o consumo indireto (como fertilizantes sintéticos e pesticidas).[12] Isso é certo, mesmo a agricultura industrial sendo incrivelmente ineficiente, gastando algo entre dez calorias de energia obtida com combustíveis fósseis para cada caloria alimentar que produz. O consumo de energia residencial contribui com apenas 20% do total usado nos EUA, com o consumo industrial, comercial e de Junte-se ao Deep Green Resistance - 58 / 85 http://deepgreenresistance.org transporte encarregados pela maior parte de todo o consumo.[13] E a maior parte dessa energia residencial é usada por eletrodomésticos como secadores, ar condicionado e aquecedores de água ineficientes. A energia usada para iluminação e aquecimento poderia ser drasticamente reduzida através de medidas triviais como diminuir o termostato e aquecer apenas as salas que estiverem em uso. (Muitos não se preocupam com isso agora, mas em uma situação de colapso eles farão isso e muito mais). Apenas uma pequena fração da energia produzida por combustíveis fósseis realmente é designada para a subsistência básica, e ainda assim é usada de forma ineficiente. Um declínio de 50% da energia de combustíveis fósseis pode ser rapidamente adaptado para gerar uma perspectiva de subsistência (se não uma perspectiva financeira). Lembre-se disso na América do Norte, 40% de toda a comida é simplesmente desperdiçada. É claro, pobreza e fome têm muito mais a ver com poder sobre as pessoas do que com o tipo de poder medido em watts. Mesmo agora em pleno pico do consumo de energia, um bilhão de pessoas passam fome. Então se pessoas passarem fome ou frio por causa de ataques militantes seletivos à infraestrutura, esse será um resultado direto das ações daqueles no poder, não dos resistentes. De fato, mesmo que você queira que os humanos sejam capazes de usar fábricas para construir moinhos e usar tratores para ajudar a plantar alimento pelos próximos cinquenta anos, forçar um corte imediato no consumo de energia de combustíveis fósseis deve estar no topo da sua lista de prioridades. Nesse momento, a maioria da energia está sendo desperdiçada em lixo plástico, casas exageradamente grandes para pessoas ricas, abrigos anti-bombas, e equipamentos militares. A única forma de garantir que restará algum petróleo para uma transição de sobrevivência em vinte anos é garantindo que o petróleo não seja todo desperdiçado agora. O exército dos EUA é o maior consumidor de petróleo do mundo. Você gostaria de ter que contar aos seus filhos daqui a vinte anos que eles não têm comida o suficiente para se alimentar porque toda a energia foi gasta em guerras neocoloniais sem sentido? Voltando ao cenário. Em algumas áreas, subúrbios sendo cada vez mais abandonados (inabitáveis sem gás barato) serão tomados, assim como casas vazias se tornarão fazendas, centros comunitários ou clínicas ou mesmo serão totalmente desmantelados e pilhados. Garagens serão transformadas em celeiros – já que a maioria das pessoas não terá acesso à gasolina mesmo – e as praças se tornarão pasto para as cabras. Muitas estradas podem ser destruídas e voltar a serem parte do pasto ou de florestas. Esses assentamentos recuperados não serão de alta-tecnologia. Os enclaves de sobrevivência podem ter seus painéis solares e moinhos elétricos, mas a maioria das pessoas desempregadas não poderá pagar por isso. Em alguns casos essas comunidades podem se tornar relativamente autônomas. Suas práticas sociais de igualdade podem variar de acordo com a presença de pessoas dispostas a reivindicar direitos humanos e justiça social. As pessoas terão que resistir vigorosamente quando qualquer sinal de racismo ou xenofobia for usado como desculpa para injustiças ou autoritarismos. Ataques à infraestrutura energética se tornarão mais comuns assim que a disponibilidade mundial de petróleo diminuir. Em alguns casos, esses ataques podem ser politicamente motivados, em outros casos eles podem ter o objetivo de conseguir eletricidade ou gás para pessoas pobres. Isso pode ter um impacto econômico significante, mas também pode gerar uma nova onda de crescimento populacional. A população mundial alcançaria o seu pico em pouco tempo, e esse pico populacional seria menor (talvez um bilhão de pessoas) do que no cenário de “ausência de resistência”. Porque um colapso acentuado aconteceria mais cedo do que neste cenário com alguma resistência, logo, haveria mais terras intactas por pessoa no mundo, bem como pessoas que ainda sabem como produzir para a subsistência. A presença de um movimento de resistência militante organizado poderá provocar uma reação por parte daqueles que estão no poder. Alguns deles poderão usar a resistência como desculpa para concentrar mais poder para criar leis ou instituir o fascismo. Alguns deles poderiam fazer uso da crise econômica e social estourando pelo globo. Outros não precisarão de um pretexto. Junte-se ao Deep Green Resistance - 59 / 85 http://deepgreenresistance.org Autoritários irão aumentar seu poder da forma que puderem, e vão tentar em quase todos os lugares. Porém, eles serão detidos pela resistência aboveground e underground e pela descentralização e emergência de comunidades autônomas. Em alguns países, mobilizações de massa irão deter potenciais ditadores. Em outros, a explosão de movimentos de resistência irá dissolver as leis do Estado centralizado, resultando na emergência de confederações regionais em alguns lugares e em milícias em outros. Em países de menos sorte, o autoritarismo ganhará o poder. A boa notícia é que o povo terá uma infraestrutura de resistência preparada para lutar e diminuir a disseminação do autoritarismo e os autoritários ainda não terão desenvolvido toda a tecnologia de controle que teriam no cenário de “ausência de resistência”. Ainda haverá refugiados saindo de muitas áreas (incluindo áreas urbanas). A redução da emissão de gases de efeito estufa causada pelos ataques à infraestrutura industrial irá reduzir ou atrasar uma catástrofe climática. As redes de comunidades autônomas de subsistência seriam capazes de aceitar e integrar parte dessas pessoas. Da mesma forma que plantas enraizadas podem prevenir um deslizamento de terra em uma encosta íngreme, as ondas de refugiados podem ser reduzidas por comunidades voluntárias. Em outras áreas, o número de refugiados será muito grande para lidar de forma eficaz.[14] O desenvolvimento de biocombustíveis (e o destino das florestas tropicais) será incerto. Os Estados centralizados restantes – embora devam estar menores e menos poderosos – continuarão tentando arrumar energia da forma que puderem. Uma militância de resistência séria – em muitos casos insurgente e guerrilheira – será necessária para impedir que industrialistas transformem florestas tropicais em plantações ou que extraiam carvão a todo custo. Neste cenário, a resistência ainda será limitada e é questionável quanto desse nível de militância será efetivamente alcançado. Isso significa que os impactos do efeito estufa em longo prazo serão incertos. A queima de combustível fóssil terá de ser mantida ao mínimo absoluto para evitar um efeito estufa descontrolado. O que pode ser muito difícil. Mas se um efeito estufa descontrolado puder ser evitado, muitas áreas podem ser capazes de se recuperar rapidamente. Um retorno a policulturas perenes implementadas por comunidades autônomas podem ajudar a reverter o efeito estufa. Os oceanos vão mostrar melhoras rapidamente, auxiliados pela redução da pesca industrial e o fim dos despejos de fertilizantes sintéticos que têm criado muitas zonas mortas até o momento. A probabilidade de guerra nuclear pode ser muito menor do que no cenário com “ausência de resistência”. Levas de refugiados do Sul Asiático podem ser menores. O consumo global de recursos pode ser menor, logo, guerras por recursos podem ser menos prováveis. Estados militaristas podem ser mais fracos e menores em número. A guerra nuclear não é impossível, mas se ela acontecesse, poderia ser menos severa. Esse cenário pode ser atraente de várias formas. Mas também tem seus problemas, tanto em implementação quanto em plausibilidade. Um dos problemas é a integração das ações aboveground e underground. Muitas organizações ambientais aboveground são atualmente opostas a qualquer tipo de militância. Isso pode dificultar a possibilidade de cooperação estratégica entre militantes underground e grupos aboveground que podem mobilizar grandes números. (o que pode até mesmo condenar nossos grupos aboveground ao fracasso como a história tem demonstrado). Também é questionável se o corte do consumo de combustíveis fósseis como tem sido descrito aqui pode ser suficiente para evitar o agravamento do aquecimento global. Se um aquecimento global irreversível acontecer, todo o trabalho benéfico dos abovegrounders será em vão. O problema inverso é que um declínio acentuado no consumo de combustíveis fósseis muito provavelmente resultaria em significantes baixas humanas e privações. Também é possível que a mobilização de grandes números de pessoas para trabalhar em fazendas de subsistência em pouco tempo seja irrealista. No momento em que a maioria das pessoas estiverem dispostas a dar esse passo pode já ser tarde demais. Junte-se ao Deep Green Resistance - 60 / 85 http://deepgreenresistance.org Assim, enquanto de algumas formas esse cenário representa o compromisso ideal – uma situação onde os humanos e o planeta ganham de qualquer forma – ele pode facilmente se tornar uma situação onde todos perdem se não houver ações sérias e no momento certo. Isso nos leva ao nosso último cenário, o cenário em que há resistência total e ataques à infraestrutura focados em garantir a sobrevivência de um planeta habitável. Ataque Total À Infraestrutura In this final scenario, militant resistance would have one primary goal: to reduce fossil fuel consumption (and hence, all ecological damage) as immediately and rapidly as possible. A 90 percent reduction would be the ballpark target. For militants in this scenario, impacts on civilized humans would be secondary. Esta seria sua mentalidade em poucas palavras neste cenário: humanos não vão fazer coisa alguma a tempo de evitar que o planeta seja destruído por inteiro. Pessoas pobres estão muito preocupadas com emergências primárias, pessoas ricas se beneficiam com o status quo e a classe média (pessoas ricas para os padrões globais) está muito obcecada com seus próprios benefícios e com o espetáculo tecnológico para fazer qualquer coisa. O risco de um aquecimento global descontrolado é imediato. Uma queda na população humana é inevitável, mas um número menor de pessoas irá morrer se o colapso acontecer cedo. Pense dessa forma. Sabemos que estamos sofrendo enquanto espécie com a superpopulação. Isso quer dizer que uma significante porção de pessoas vivas no momento precisa morrer para que possamos alcançar novamente níveis sustentáveis. E essa disparidade cresce a cada dia. Todo dia a capacidade de dar suporte à população humana cai em centenas de milhares e todo dia a população humana aumenta em mais de 200 mil.[15] As pessoas adicionadas à superpopulação todo dia são mortes desnecessárias, sem sentido. Atrasar o colapso, você argumentaria, é em si mesmo uma forma de assassinato em massa. Além disso, você argumentaria, humanos são apenas uma espécie em milhões. Matar milhões de espécie em benefício de uma é loucura. E já que um colapso ecológico sem impedimentos mataria os humanos, essas espécies teriam morrido por nada, e o planeta levaria milhões de anos para se recuperar. Portanto, aqueles entre nós que se preocupam com o futuro do planeta precisam desmantelar a infraestrutura energética industrial o mais rápido possível. Nós todos teremos que lidar com as consequências sociais da melhor forma que pudermos. Além de que um colapso adiantado é, em última instância, bom para os humanos – mesmo que haja perdas parciais – porque pelo menos algumas pessoas sobreviverão. E, lembre-se, as pessoas que mais precisam que o sistema caia são as pessoas pobres de áreas rurais pelo mundo: quanto mais rápido os ativistas puderem derrubar a civilização industrial, melhores serão as perspectivas para essas pessoas e suas terras. Independentemente, sem ação imediata todos irão morrer. Neste cenário, os militantes underground bem organizados realizariam ataques coordenados a infraestrutura de energia em todo o mundo. Eles poderiam usar qualquer tática militante que pudessem realizar – ações contra oleodutos, linhas de energia, petroleiros e refinarias, talvez usando pulsos eletromagnéticos (PEMs) para fazer estragos. Ao contrário do cenário anterior, não seria feita nenhuma tentativa de acompanhar o ritmo dos ativistas aboveground. Os ataques seriam tão persistentes quanto os militantes conseguirem. A disponibilidade de energia proveniente de combustíveis fósseis cairia em 90%. As emissões de gases de efeito estufa iriam despencar. A economia industrial viria à parte. A fabricação e transporte iriam parar por causa de apagões frequentes e preços extremamente elevados para os combustíveis fósseis. Alguns governos, talvez a maioria deles, instituiriam a lei marcial e o racionamento. Os governos que tomassem um caminho autoritário seriam especialmente visados por resistentes militantes. Outros estados iriam simplesmente falir e cair. Junte-se ao Deep Green Resistance - 61 / 85 http://deepgreenresistance.org Em teoria, com uma redução de 90% na disponibilidade de combustível fóssil, ainda haveria o suficiente para manter as atividades básicas de sobrevivência, como o cultivo e preparo de alimentos e aquecimento doméstico. Os governos e as instituições civis ainda podem tentar uma rápida mudança para atividades de subsistência para as suas populações, mas em vez disso, o exército e os muito ricos tentariam sugar praticamente todos os suprimentos restantes de energia. Em alguns lugares, eles conseguiriam fazê-lo e isso resultaria em fome generalizada. Em outros, as pessoas recusariam a autoridade de quem está no poder. A maioria das instituições de grande porte existentes simplesmente entraria em colapso, e ficaria sob a responsabilidade das populações locais tomarem uma posição com relação aos direitos humanos e melhorar a qualidade de vida, ou ceder ao poder autoritário. A taxa de mortalidade aumentaria, mas como vimos nos exemplos de Cuba e Rússia, a ordem cívica ainda pode se manter apesar das dificuldades. O que acontece em seguida vai depender de inúmeros fatores. Se os ataques puderem persistir e a extração de petróleo for mantida em nível mínimo por um período prolongado, a civilização industrial não será capaz de se reorganizar. Enclaves industriais bem vigiados permaneceriam, protegendo combustível e recursos sob os seus braços. Se a lei marcial conseguir parar os ataques após as primeiras ondas (algo que tem sido incapaz de fazer, por exemplo, na Nigéria), os efeitos seriam incertos. No século XX, as sociedades industriais se recuperaram de desastres, como a Europa fez após a Segunda Guerra Mundial. Mas essa seria uma situação diferente. Para a maioria das áreas, não haveria nenhuma ajuda externa. Populações já não seriam capazes de superar a super-explosão populacional atualmente ocultada pelos combustíveis fósseis. Isso não significa que os efeitos seriam os mesmos em todos os lugares; populações rurais e tradicionais estariam em melhor posição para lidar com a situação. Na maioria das áreas, reorganizar uma civilização industrial dependente de intenso consumo de energia seria impossível. Mesmo onde as organizações políticas existentes persistissem, o consumo cairia. Quem estiver no poder não seria capaz de projetar força em longas distâncias, e teria que limitar suas atividades principalmente às áreas próximas. Isto significa que, por exemplo, as plantações de biocombustíveis tropicais não seriam viáveis. O mesmo vale para as areias betuminosas e a remoção de topos de montanhas para a mineração de carvão. A construção de novas infraestruturas em larga escala simplesmente não seria possível. Apesar de que a população humana diminuiria, as coisas pareceriam boas para praticamente todas as outras espécies. Os oceanos começariam a se recuperar rapidamente. O mesmo vale para áreas selvagens danificadas. Porque as emissões de gases de efeito estufa teriam sido reduzidas a uma pequena fração de seus níveis anteriores, um nível descontrolado do aquecimento global provavelmente seria evitado. Na verdade, a recuperação das florestas e pastagens realizaria um maior sequestro do carbono, ajudando a manter um clima habitável. A guerra nuclear seria improvável. A diminuição da população e das atividades industriais reduziria a concorrência entre os estados restantes. As limitações de recursos seriam em grande parte logísticas na natureza, assim, guerras por suprimentos e áreas ricas em recursos seriam inúteis. Esse cenário também tem a seus riscos de implementação e plausibilidade. Ele garante um futuro para o planeta e para a espécie humana. Este cenário poderia salvar trilhões e trilhões e trilhões de seres vivos. Sim, ele criaria dificuldades para os ricos e pobres urbanos, porém, para a maioria dos outros seria imediatamente melhor. Seria um eufemismo chamar esse conceito de impopular (embora os militantes neste cenário dissessem que menos pessoas vão morrer do que no caso do aquecimento global descontrolado ou seguindo no ritmo atual). Há também a questão da plausibilidade. Haveriam militantes ecologicamente motivados e mobilizados o suficiente para botar em prática esse cenário? Sem dúvida, para muitas pessoas, o segundo cenário, o mais moderado, parece ser mais atraente e mais provável. Junte-se ao Deep Green Resistance - 62 / 85 http://deepgreenresistance.org Existe, é claro, uma infinidade de possíveis futuros que poderíamos descrever. Vamos descrever mais um futuro possível, uma combinação dos dois anteriores, em que um movimento de resistência embarca em uma estratégia de Guerra Ecológica Decisiva. Estratégia De Guerra Ecológica Decisiva Objetivos O objetivo final do movimento de resistência primário neste cenário é simplesmente garantir um planeta vivo – um planeta não só vivo, mas em recuperação, tornando-se mais vivo e mais diversificado ano após ano. Um planeta em que os seres humanos vivem em comunidades justas e sustentáveis sem explorar o planeta ou uns aos outros. Dado o nosso atual estado de emergência, isso se traduz em um objetivo mais imediato, o qual está no coração da grande estratégia deste movimento: Goal 1 Interromper e derrubar a civilização industrial; para assim destituir os poderosos de sua capacidade de explorar os marginalizados e destruir o planeta. O segundo objetivo deste movimento tanto depende quanto auxilia o primeiro: Goal 2 Defender e reconstruir comunidades humanas justas, sustentáveis e autônomas e, como parte disso, ajudar na recuperação da terra. Strategies Atingir esses objetivos requer várias estratégias amplas que envolvem grande número de pessoas em muitas organizações diferentes, tanto no aboveground quanto no underground. As principais estratégias necessárias neste cenário teórico incluem o seguinte: Strategy A Envolver-se em ações diretas militantes contra a infraestrutura industrial, especialmente a infraestrutura energética. Strategy B Ajudar e participar de lutas por justiça social e ecológica em curso, promover a igualdade e atacar a exploração realizada por aqueles que estão no poder. Strategy C Defender a terra e evitar a expansão da atividade industrial madeireira, de mineração, de construção, e assim por diante, de modo que mais terra intacta e espécies permaneçam quando a civilização entrar em colapso. Strategy D Junte-se ao Deep Green Resistance - 63 / 85 http://deepgreenresistance.org Construir e mobilizar as organizações de resistência que vão apoiar as atividades aboveground, incluindo treinamento descentralizado, recrutamento, apoio logístico, e assim por diante. Strategy E Reconstruir a base de subsistência sustentável para as sociedades humanas (incluindo policulturas perenes para alimentação) e comunidades democráticas localizadas que defendem os direitos humanos. Ao descrever este cenário alternativo futuro, devemos ser claros sobre algumas frases abreviadas como "ações contra a infraestrutura industrial". Nem toda infraestrutura é igual, e nem todas as ações contra a infraestrutura são de igual prioridade, eficácia ou aceitabilidade moral para os movimentos de resistência neste cenário. Como Derrick escreveu em Endgame, você não pode criar um argumento moral para explodir um hospital infantil. Mas, por outro lado, você pode criar um argumento moral para derrubar torres de telefonia celular. Algumas infraestruturas são fáceis de atacar, algumas são difíceis e outras são ainda mais difíceis. Sobre o mesmo tema, há muitos mecanismos diferentes que podem conduzir a civilização a um colapso, e eles não são todos iguais ou igualmente desejáveis. No cenário de Guerra Ecológica Decisiva, a escolha por alguns mecanismos é intencionalmente priorizada e aconselhada, enquanto outros são retardados ou reduzidos. Por exemplo, o declínio de energia a partir da diminuição do consumo de combustíveis fósseis é um mecanismo de colapso altamente benéfico para o planeta e (especialmente em médio e longo prazo) para os seres humanos, e esse mecanismo é priorizado. Por outro lado, o colapso ecológico por meio da destruição de habitats e da biodiversidade é também um mecanismo de colapso (embora leve mais tempo para afetar os seres humanos), e esse tipo de colapso deve ser retardado ou impedido quando e onde for possível. Colapso, em termos gerais, é uma perda rápida de complexidade.[16] É uma mudança em direção a estruturas-sociais – políticas, sociais, econômicas – menores e mais descentralizadas, com menor estratificação social, regulação, controle comportamental e arregimentação, e assim por diante.[17] Os principais mecanismos de colapso incluem (não necessariamente nessa ordem): • Queda energética resultante dos picos de extração de combustíveis fósseis e uma crescente população industrializada diminuindo a disponibilidade per capita. • Colapso industrial com as grandes economias globais arruinadas pelo aumento dos custos de transporte e de produção e pelo declínio econômico. • Colapso econômico resultante da incapacidade do capitalismo corporativo global de manter o crescimento e as operações básicas. • As mudanças climáticas causando colapso ecológico, insuficiência agrícola, fome, refugiados, doenças e assim por diante. • Colapso ecológico de muitos tipos diferentes conduzidos pela extração de recursos, destruição de habitats, destruição da biodiversidade e pelas mudanças climáticas. • Doenças, incluindo epidemias e pandemias, causadas pelas condições de vida de superpopulação e pobreza, juntamente com doenças bacteriológicas cada vez mais resistentes aos antibióticos. • Crises alimentares provocadas pelo deslocamento de agricultores de subsistência e destruição de sistemas alimentares locais, concorrência por grãos por parte das fazendas industriais e produtores de biocombustíveis, pobreza e limites físicos para a produção de alimentos por causa das secas e rebaixamento dos níveis de água. • Rebaixamento dos níveis de água resultante do consumo acelerado de fontes finitas de água, solo e petróleo, o que leva as fontes acessíveis à rápida exaustão. • Colapso político com grandes entidades políticas dividindo-se em grupos menores, secessionistas rompendo com estados maiores, enquanto alguns estados vão ir à falência ou simplesmente cair. Junte-se ao Deep Green Resistance - 64 / 85 http://deepgreenresistance.org • Colapso social, com escassez de recursos e estouros de agitação política, identificação com grupos artificiais menores (por vezes baseados em classe, etnias ou afinidades regionais), muitas vezes com concorrência entre estes grupos. • Guerras e conflitos armados, especialmente guerras por recursos em disputa pelo fornecimento de recursos finitos restantes e conflitos internos entre milícias e facções rivais. • Crime e exploração causados pela pobreza e desigualdade, especialmente em áreas urbanas congestionadas. • Deslocamento de refugiados resultante de catástrofes espontâneas, como terremotos e furacões, mas agravadas pela mudança climática, escassez de alimentos, e assim por diante. Neste cenário, cada aspecto negativo do colapso da civilização tem uma tendência de reciprocidade que o movimento de resistência incentiva. O colapso de grandes estruturas políticas autoritárias viabiliza em contrapartida a emergência de estruturas políticas participativas de pequena escala. O colapso do capitalismo industrial global abre espaço para o surgimento de sistemas locais de troca, cooperação e ajuda mútua. E assim por diante. De um modo geral, neste futuro alternativo, um pequeno número de indivíduos underground derruba grandes estruturas ruins, e um grande número de indivíduos aboveground fazem florescer pequenas e boas novas estruturas. Em seu livro O Colapso das Sociedades Complexas, Joseph Tainter argumenta que um dos principais mecanismos de colapso tem a ver com a complexidade social. Complexidade é um termo geral que inclui o número de trabalhos diferentes ou papéis na sociedade (por exemplo, não apenas curandeiros, mas epidemiologistas, cirurgiões de trauma, gerontologistas, etc), o tamanho e a complexidade das estruturas políticas (por exemplo, não apenas assembléias populares, mas burocracias se espalhando por vastidões), o número e a complexidade dos itens manufaturados e tecnologia (por exemplo, não apenas lanças, mas muitos calibres diferentes e tipos de balas), e assim por diante. Civilizações tendem a tentar usar complexidade para resolver os problemas, e como resultado, sua complexidade aumenta com o tempo. Mas a complexidade tem um custo. O declínio de uma civilização começa quando os custos da complexidade começam a exceder os benefícios, em outras palavras, quando o aumento da complexidade começa a oferecer retornos decrescentes. Nesse ponto, as pessoas individuais, famílias, comunidades, subunidades políticas e sociais têm um desincentivo para participar dessa civilização. A complexidade continua aumentando, sim, mas ela passa a ser cada vez mais cara. Eventualmente, os custos crescentes forçam a civilização a colapsar, e as pessoas a retornarem a organizações políticas e grupos sociais menores e mais locais. Parte do trabalho do movimento de resistência é aumentar o custo e diminuir os retornos da complexidade. Isso não exige colapso instantâneo ou ações dramáticas globais. Mesmo pequenas ações podem aumentar o custo da complexidade e acelerar as partes boas do colapso enquanto ameniza as ruins. Parte do argumento de Tainter é que a sociedade moderna não entrará em colapso da mesma forma como as sociedades antigas, porque a complexidade (através de, por exemplo, agricultura em grande escala e extração de combustíveis fósseis) tornou-se a base física da vida humana, em vez de um benefício colateral. Muitas sociedades históricas colapsaram quando as pessoas retornaram para as aldeias e para modos de vida tradicionais menos complexos. Eles escolheram fazer isso. As pessoas modernas não vão fazer isso, pelo menos não em grande escala, em parte porque as aldeias se foram, e os modos de vida tradicionais já não são diretamente acessíveis a eles. Isso significa que as pessoas na civilização moderna estão em um dilema, e muitos continuarão a lutar pela civilização industrial, mesmo quando sua continuação é, obviamente, contraproducente. Sob um cenário de Guerra Ecológica Decisiva, ativistas aboveground facilitam esse aspecto do colapso desenvolvendo alternativas que aliviam a pressão e incentivam as pessoas a deixar o capitalismo industrial por opção. Junte-se ao Deep Green Resistance - 65 / 85 http://deepgreenresistance.org *** Há algo admirável sobre o conceito de guerra popular prolongada que foi usado na China e no Vietnã. É uma ideia elegante, se é que a guerra pode ser descrita nesses termos; a idéia central é adaptável e aplicável mesmo em face de grandes retrocessos e reviravoltas do destino. Mas a guerra popular prolongada, como tal, não se aplica para o futuro específico que estamos discutindo. As pessoas neste cenário nunca vão alcançar os números que prolongadas guerras populares requerem. Mas elas também terão que enfrentar um outro tipo de contradição, contra a qual táticas diferentes são aplicáveis. Eles vão adotar a idéia essencial da guerra popular prolongada e aplicá-la à sua própria situação, a da necessidade de salvar seu planeta, para derrubar a civilização industrial e mantê-la no chão. E eles vão elaborar uma nova grande estratégia baseada em uma simples continuidade dos passos que fluem logicamente um após o outro. Neste cenário alternativo futuro, a Guerra Ecológica Decisiva tem quatro fases que progridem de um futuro próximo até a queda da civilização industrial. A primeira fase é de estabelecimento de Redes e Mobilização. A segunda fase é de Sabotagem e Ações Assimétricas. A terceira fase é de Interrupção de Sistemas. E a fase final é a de Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura. eCada fase tem seus próprios objetivos, abordagens operacionais e requisitos organizacionais. Não há uma linha divisória clara entre as fases e diferentes regiões progridem através das fases em momentos diferentes. Estas fases enfatizam o papel das redes militantes de resistência. A construção de alternativas aboveground e a revitalização das comunidades humanas acontecem ao mesmo tempo. Mas isso não exige o mesmo rigor estratégico; a reconstrução das comunidades humanas saudáveis com uma base de subsistência deve simplesmente acontecer o mais rápido possível, em todos os lugares, com cronogramas e métodos adequados para cada região. Já os resistentes militantes deste cenário, por outro lado, necessitam compartilhar alguma estratégia maior para ter sucesso. QUATRO FASES DA GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA Listen to an audio version of The Four Phases of DEW: Phase I — II — III — IV Fase I – Redes e Mobilização Preâmbulo Na fase um, os resistentes concentram-se em se organizar em redes e na construção de culturas de resistência para sustentar essas redes. Muitos simpatizantes ou potenciais recrutas não estão familiarizados com ações e estratégias de resistência sérias, então esforços são dirigidos para difundir essa informação. Mas o fundamental nesta fase é formar realmente as organizações “aboveground e underground” (ou pelo menos seus núcleos), que irão realizar o recrutamento organizacional e a ação decisiva. Neste ponto, a cultura de segurança e a cultura de resistência ainda não estarão muito bem desenvolvidas, de modo que sejam feitos esforços adicionais para evitar erros desleixados que levariam à prisão e para dissuadir os delatores de recolher ou transmitir informações. A formação de ativistas é fundamental nesta fase, especialmente através de ações de baixo risco (porém eficazes). Os novos recrutas serão os combatentes, membros do quadro organizativo e líderes das fases posteriores. Enquanto novos ativistas são enculturados no ethos de resistência, os ativistas antigos existentes tendem a cair em maus hábitos contraproducentes. Este é o momento em que o movimento de resistência se organiza e se torna mais sério. As pessoas colocam suas necessidades e conflitos individuais de lado, a fim de Junte-se ao Deep Green Resistance - 66 / 85 http://deepgreenresistance.org formar um movimento que pode lutar para vencer. Nesta fase, as pessoas isoladas se juntam para formar uma visão e estratégia para o futuro, e para estabelecer os núcleos de organizações futuras. Claro, a formação de redes ocorre também nas organizações voltadas à resistência que já existem, mas a maioria das organizações tradicionais não estão dispostas a adotar posições de militância ou intransigência em relação a quem está no poder ou às crises que essas pessoas enfrentam. Se possível, eles devem ser encorajados a tomar posições mais de acordo com a escala dos problemas que enfrentam. Esta fase já está em andamento, mas uma grande quantidade de trabalho ainda precisa ser feito. Objetivos • Construir uma cultura de resistência, com tudo que isso implica. • Construir redes de resistência “aboveground” e “underground” e assegurar a sobrevivência dessas redes. Operações • As operações são ações geralmente de menor risco, de modo que as pessoas possam ser treinadas e selecionadas, e as redes de apoio, postas em prática. Estes irão cair, principalmente, nas categorias de sustentação e modelagem. • Recrutamento e treinamento máximo são muito importantes neste momento. É provável que, o quanto antes as pessoas forem recrutadas, mais confiáveis elas se tornem e mais tempo temos disponível para avaliar suas competências para ações mais sérias. • Operações de comunicação e propaganda também são necessárias para expandir e espalhar informação sobre táticas e estratégias úteis, bem como a necessidade de ação organizada Organização • A maioria das organizações de resistência neste cenário ainda são redes difusas, mas elas começam a se estender e se aglutinar. Esta fase tem como objetivo construir organização. Fase II – Sabotagem e Ação Assimétrica Preâmbulo Nesta fase, os resistentes podem tentar interromper ou desativar alvos específicos com uma base oportunista. Para a maior parte, as redes e as habilidades underground necessárias ainda não existem para que se possa assumir múltiplos alvos maiores. Os resistentes podem se concentrar em alvos particularmente mais óbvios – usinas de energia com queima de carvão ou bancos exploradores. Nesta fase, o foco de resistência está na prática, sondagem de redes inimigas, segurança e aumento de apoio enquanto constrói redes organizacionais. Neste futuro possível, células underground tentam não provocar uma repressão esmagadora além da capacidade de suas redes nascentes lidarem com ela. Além disso, quando a repressão e contratempos sérios ocorrem, elas recuam para a fase anterior com sua ênfase na organização e sobrevivência. De fato, grandes reveses provavelmente acontecem nesta fase, o que indica uma falta de regras básicas e estrutura e sinaliza a necessidade de voltar a algumas das prioridades da primeira fase. O movimento de resistência neste cenário compreende a importância de uma ação decisiva. Sua ênfase nas duas primeiras fases não foi em ação direta, mas não porque eles estivessem evitando o conflito. É porque eles estão Junte-se ao Deep Green Resistance - 67 / 85 http://deepgreenresistance.org trabalhando o mais duro que podem, mas fazem isso dando um passo de cada vez. Eles sabem que o planeta (e o futuro) precisa de suas ações, mas entendem que ninguém ira se beneficiar de ações tolas e apressadas, ou de criar problemas para os quais ainda não estão preparados. Isso só leva a uma chicotada moral e decepção. Então esse movimento atua o mais sério, rápido e decisivamente que pode, mas garantindo que ele estabeleça as bases que precisa para ser verdadeiramente eficaz. Quanto mais pessoas se juntarem ao movimento, quanto mais arduamente trabalharem e quanto mais direcionados forem, mais rápido irão progredir de uma fase à outra. Neste futuro alternativo, os ativistas aboveground, em particular, assumem várias tarefas importantes. Eles trabalham para a aceitação e normalização das táticas mais militantes e radicais que forem apropriadas. Apoiam publicamente a sabotagem quando ela ocorre. Grupos de defesa mais moderados usam a ocorrência de sabotagem para criticar quem está no poder por não tomar medidas sobre questões críticas como as alterações climáticas (em vez de criticar os sabotadores). Eles argumentam que a sabotagem não seria necessária se a sociedade civil tivesse uma resposta razoável aos problemas sociais e ecológicos, e aproveitam a oportunidade e publicidade para fazer pressão por soluções para os problemas. Eles não se aliam a quem está no poder contra os sabotadores, mas sim, argumentam que a situação é grave o suficiente para fazer de tal uma ação legítima, embora, pessoalmente, escolham uma direção diferente. Neste ponto do cenário, os grupos mais radicais e de base continuam a estabelecer uma comunidade de resistência, mas também a estabelecer organizações discretas e instituições paralelas. Essas instituições estabelecem a elas mesmas e sua legitimidade, fazem conexões comunitárias e, particularmente, tomam medidas para estabelecer relações fora da tradicional "bolha ativista”. Essas instituições também se focam em emergências, preparação para desastres e ajudam as pessoas a lidar com o colapso iminente. Simultaneamente, ativistas aboveground organizam as pessoas para a desobediência civil, para o enfrentamento em massa e outras formas de ação direta quando apropriadas. Outra coisa começa a acontecer: as organizações aboveground começam a estabelecer coligações, confederações e redes regionais, sabendo que não haverá obstáculos maiores para estas mais tarde. Estas confederações maximizam o potencial da organização aboveground compartilhando materiais, conhecimentos, habilidades, currículos de aprendizagem, e assim por diante. Elas também planejam estrategicamente a si mesmas, participando de campanhas planejadas persistentes em vez de campanhas reativas ou organização a cada nova crise. Objetivos • Identificar e se engajar em metas individuais de alta prioridade. Essas metas são escolhidas por estes resistentes, porque elas são especialmente tangíveis ou por outras razões de seleção de alvos. • Dar treinamento e experiência prática para os membros, necessários para visar alvos e sistemas maiores. Mesmo as ações decisivas são limitadas em alcance e impacto nesta fase, embora boa seleção de alvos e boa sincronização permitam ganhos significativos. • Essas operações também expõem pontos fracos no sistema, demonstram a viabilidade da resistência material e inspira outros a resistirem. • Estabelecer publicamente os motivos racionais para a resistência material e para o confronto com o poder. • Estabelecer organizações aboveground e instituições paralelas concretas. Operações Junte-se ao Deep Green Resistance - 68 / 85 http://deepgreenresistance.org • Limitadas, porém aumentando as operações decisivas, combinando com o crescimento de operações de sustentação (para suportar organizações maiores e com maior demanda logística) e operações de moldagem continuadas. • Nas operações decisivas e de apoio, estes resistentes hipotéticos serão cautelosos e inteligentes. Membros novos e inexperientes têm uma tendência a serem excessivamente confiantes, por isso, para compensar, eles devem ficar apenas com as operações com determinados resultados; eles sabem que nesta fase eles ainda estão em construção para as ações maiores que ainda estão por vir. Organização • Exige pequenas células underground, mas beneficia-se de redes underground de maior dimensão. Ainda há uma ênfase no recrutamento neste momento. • Redes e movimentos aboveground estão proliferando tanto quanto podem, especialmente porque o trabalho que está por vir requer um tempo de execução significativo para o desenvolvimento de habilidades, comunidades, e assim por diante. Fase III – Interrupção de Sistemas Preâmbulo Nesta fase os resistentes avançam a partir da abordagem de metas individuais ligadas ao sistema industrial, político e econômico por inteiro. Sistemas de interrupção industrial exigem redes underground organizadas de forma hierárquica ou paramilitar. Estas redes maiores emergem das fases anteriores com a capacidade de realizar várias ações simultâneas. O rompimento de sistemas visa identificar pontos-chave e gargalos nos sistemas do adversário (elétrico, de transporte, financeiro, e assim por diante) para fazer com que esses sistemas entrem em colapso ou reduzam sua funcionalidade. Este não é um trabalho de um tiro só. Os sistemas industriais são grandes e podem ser frágeis, mas são mais difusos do que monolíticos. Eles podem realizar reparos. Os membros da resistência entendem isso. Sistemas de interrupção eficazes requerem planejamento para ações contínuas e coordenadas ao longo do tempo. Neste cenário, o campo aboveground não ganhará realmente força enquanto funcionarem como de costume. Por outro lado, com os sistemas industriais e econômicos globais cada vez mais em crise (por causa do colapso induzido pela economia capitalista, pelos desastres climáticos globais, pelo pico do petróleo, pelo pico do solo, pelo pico da água, ou por outros motivos) o apoio de comunidades locais resilientes aumenta. Falhas na distribuição de energia elétrica e bens manufaturados aumentam o interesse em comida e energia locais, e assim por diante. Estas crises também tornam mais fácil para as pessoas lidar com o colapso completo da perda em longo prazo – perda em curto prazo, mas ganho em longo prazo, mesmo que os humanos estejam preocupados. Dimitry Orlov, um importante analista do colapso da União Soviética, explica que a natureza disfuncional do sistema soviético preparou as pessoas para a sua eventual desintegração. Em contraste, uma economia industrial funcionando sem problemas provoca uma falsa sensação de segurança fazendo com que essas pessoas não estejam preparadas, agravando o impacto. "Após o colapso, você se arrepende de não ter um segmento de varejo não confiável, com escassez de pão, porque assim as pessoas teriam sido forçadas a aprender a mudar por si mesmas em vez de ficar à espera de alguém para vir e alimentá-las."[18] Organizações e instituições aboveground estão bem estabelecidas nesta fase deste cenário alternativo. Elas continuam a pressionar por reformas, com foco na necessidade urgente de justiça, de relocalização e de comunidades resilientes, uma vez que o sistema dominante é injusto, não-confiável, e instável. Junte-se ao Deep Green Resistance - 69 / 85 http://deepgreenresistance.org É claro que, neste cenário, as ações militantes que afetam a vida diária provocam uma reação, às vezes da parte do público, mas especialmente por autoritários de todos os níveis. Os ativistas aboveground são os combatentes da linha de frente contra o autoritarismo. Eles são os únicos que podem mobilizar a onda popular necessária para evitar o fascismo. Além disso, os ativistas aboveground utilizam os sistemas em crise como uma oportunidade para fortalecer as comunidades locais e instituições paralelas. Pessoas do mainstream são encorajadas a pender o seu apoio a alternativas participativas locais nas esferas econômicas, políticas e sociais. Quando a turbulência econômica provoca desemprego e hiperinflação, as pessoas são empregadas localmente para o benefício de sua comunidade e da terra. Neste cenário, como os governos nacionais ao redor do mundo lutam cada vez mais contra as crises (como o pico do petróleo, a escassez de alimentos, o caos climático e assim por diante) e cada vez mais deixam de atender as pessoas, conselhos diretamente democráticos locais começam a assumir administração dos serviços básico de emergência e as pessoas redirecionam seus impostos para as entidades locais (talvez como parte de uma campanha de não-cooperação geral contra quem está no poder). Isso acontece em conjunto com a resposta de emergência da comunidade e as medidas de prevenção de catástrofes já realizadas. Neste cenário, sempre que aqueles que estão no poder tentam aumentar a exploração ou o autoritarismo, os resistentes aboveground mobilizam as pessoas a abandonar o apoio a quem está no poder, e desviá-lo para os órgãos políticos locais, democráticos. Essas instituições paralelas podem fazer um trabalho melhor do que aqueles que estão no poder. As relações inter-demográficas estabelecidas nas fases anteriores ajudam a manter as estruturas políticas locais confiáveis e a conseguir apoio de muitas comunidades. Durante esta fase, são feitos esforços estratégicos para aumentar as tensões existentes nos sistemas econômicos e industriais causadas pelo pico do petróleo, a instabilidade financeira, e fatores relacionados. Os resistentes percebem-se empurrando um edifício frágil que já está começando a se inclinar. Com efeito, neste cenário muitas interrupções aos sistemas vêm de dentro do próprio sistema e não dos resistentes. Esta fase alcança ganhos significativos e decisivos. Mesmo que os principais sistemas industriais e econômicos não sejam completamente destruídos, a interrupção prolongada significa uma redução no impacto ecológico; grande notícia para o planeta e para a sobrevivência futura da humanidade. Mesmo uma diminuição de 50 por cento no consumo industrial ou emissões de gases de efeito estufa é uma vitória enorme (especialmente considerando que as emissões continuarão a aumentar se depender de todo o ativismo ambiental tradicional que temos visto até agora), e isso atrai os resistentes - e todos os outros – mais cedo ou mais tarde. Nas partes mais otimistas deste cenário hipotético, a resistência efetiva induz aqueles no poder a negociar ou oferecer concessões. Uma vez que o movimento de resistência tiver demonstrado a capacidade de usar estratégia real e força, não poderá ser ignorado. Quem está no poder começará a bater nas portas de militantes tradicionais, implorando para negociar mudanças que possam cooptar a causa dos movimentos de resistência e reduzir novas ações. Nesta versão do futuro, no entanto, grupos de resistência realmente começam a tomar a iniciativa. Eles entendem que durante a maior parte da história da civilização, quem esteve no poder dominou a iniciativa, forçando os grupos de resistência ou povos colonizados a ficar na defensiva, para responder aos ataques, para serem constantemente mantidos fora de equilíbrio. No entanto, o pico do petróleo e a interrupção dos sistemas têm causado uma série de emergências para aqueles que estão no poder, alguns causados por grupos de resistência organizados, alguns causados por distúrbios civis e escassez, e alguns causados pelas consequências sociais e ecológicas de séculos - ou milênios - de exploração. Talvez pela primeira vez na história, aqueles que estão no poder estarão globalmente fora de equilíbrio e ocupados com o agravamento de crises após crises. Isso proporciona uma oportunidade chave para os grupos de resistência e culturas e comunidades autônomas de aproveitar e manter a iniciativa. Junte-se ao Deep Green Resistance - 70 / 85 http://deepgreenresistance.org Objetivos • Visar pontos chave de sistemas industriais e econômicos específicos para interrompê-los e desativá-los. • Causar uma redução mensurável da atividade e consumo industrial. • Tornar possível concessões, negociações e mudanças sociais quando aplicáveis. • Induzir o colapso de empresas, indústrias e sistemas econômicos específicos. Operações • Principalmente, interrupções de sistemas decisivas e sustentáveis – mas também modeladoras quando necessário. Membros e combatentes devem ser cada vez mais moderados neste ponto, mas o início de uma ação decisiva e séria vai gerar uma alta taxa de atrito para os resistentes. Não há razão para ser vago; os membros da resistência neste futuro alternativo que estão comprometidos com a resistência militante já esperam a possibilidade de acabarem sendo presos ou mortos. Organização • Será necessário o uso pesado de redes underground; coordenação operacional é um pré-requisito para uma interrupção efetiva do sistema. • O recrutamento é contínuo neste ponto; especialmente para recrutar auxiliares e para lidar com as perdas por atrito. No entanto, durante esta fase, haverá várias tentativas graves de infiltração. As infiltrações não serão tão bem sucedidas como elas poderiam ser, porque as redes underground terão feito recrutamentos massivos em etapas anteriores (antes da ação em larga escala) para assegurar a presença de um grupo de confiança de líderes e membros que formem a espinha dorsal dessas redes. • Organizações aboveground serão capazes de realizar extensas mobilizações por causa das várias crises sociais, políticas e de recursos. • Neste ponto, resistentes militantes preocupam-se com a reação de pessoas que deveriam estar do seu lado, assim como muitos liberais, especialmente aqueles com o poder de exercer pressão sobre os ativistas aboveground. Fase IV: Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura Preâmbulo O desmantelamento decisivo da infraestrutura está um passo além da interrupção de sistemas. A intenção é desmantelar de forma permanente, o quanto for possível, a infraestrutura industrial baseada em combustíveis fósseis. Esta fase é o último recurso; na projeção mais otimista, não seria necessário. Na projeção otimista desse cenário, crises convergentes e interrupção de infraestrutura combinadas com movimentos vigorosos aboveground forçariam os detentores do poder a aceitar a mudança social, política e econômica; reduções no consumo combinadas com uma tentativa genuína e sincera de realizar uma transição culminariam em uma cultura sustentável. Mas essa projeção otimista não é provável. É mais provável que os detentores do poder (e muitas pessoas comuns) se apeguem mais a civilização ao mesmo tempo em que ela entra em colapso. E provavelmente, eles vão apoiar o autoritarismo se eles acharem que ele vai manter seus privilégios e seus direitos. A questão chave - a qual temos que voltar repetidamente - é o tempo. Em breve, atingiremos (se ainda não tivermos atingido) o ponto crítico do aquecimento global incontrolável e irreversível. A fase de interrupção de Junte-se ao Deep Green Resistance - 71 / 85 http://deepgreenresistance.org sistemas deste cenário hipotético oferece seletividade. As interrupções nesse cenário são projetadas de forma que mudem o impacto da indústria e que tentem minimizar os impactos sobre os civis. Mas os sistemas industriais são fortemente integrados a infraestrutura civil. Se a interrupção seletiva não funcionar cedo o bastante, alguns resistentes podem chegar à conclusão de que uma interrupção total é necessária para impedir que o planeta seja reduzido a cinzas. A diferença entre as fases III e IV deste cenário pode parecer sutil, já que ambos envolvem, em nível operacional, ações coordenadas para interromper sistemas industriais em grande escala. Mas a fase III requer algum tempo para trabalhar - para enfraquecer o sistema, para mobilizar pessoas e organizações, para a construção de uma série de ações de interrupção. A fase III também dá uma "justa advertência" para as pessoas comuns se prepararem. Além disso, a fase III dá tempo para a resistência se desenvolver logística e organizacionalmente, o que é necessário para prosseguir para a fase IV. A diferença entre as duas fases é a capacidade e contenção. Para os resistentes neste cenário avançarem da fase III para a fase IV, eles precisam de duas coisas: a capacidade organizacional para assumir o escopo da ação necessária na fase IV, e a certeza de que não há mais qualquer sentido em esperar por reformas sociais para ter sucesso em seu próprio cronograma. Neste cenário, ambas as fases salvam vidas, humanas e também não-humanas. Mas, se a mobilização aboveground em larga escala não acontecer uma vez que o colapso já esteja em andamento, a fase IV torna-se a forma mais eficaz para salvar vidas. Imagine que você está andando em um ônibus pelo meio de uma cidade cheia de pedestres. Dentro do ônibus estão os seres humanos civilizados, e lá fora está toda a vida não humana do planeta e os seres humanos que não são civilizados, ou os que não se beneficiam da civilização, ou os que ainda têm de nascer. É desnecessário dizer que os que estão do lado de fora superam massivamente os poucos de vocês dentro do ônibus. Mas o motorista do ônibus está com pressa, e está acelerando o mais rápido que pode, abrindo caminho através da multidão, mutilando e matando pedestres em massa. A maioria de seus companheiros de viagem parecem não se importar particularmente, pois eles têm um lugar para ir e estão contentes de estar fazendo progresso, independentemente do custo. Alguns dos passageiros parecem estar chateados com a situação. Se o motorista continuar acelerando, observam, é possível que o bonde bata e que os passageiros sejam feridos. Não se preocupe, um homem lhes diz. Seus cálculos mostram que os corpos se acumulando na frente do ônibus acabarão por desacelerar o veículo e forçá-lo a, em algum ponto, parar com segurança. Qualquer intervenção dos passageiros seria imprudente, e, certamente, provocaria uma repreensão do motorista. Pior, um passageiro problemático pode ser expulso do ônibus e depois ser atropelado por ele. Você, ao contrário da maioria dos passageiros, está mais preocupado com a carnificina constante do lado de fora do que com a futura segurança dos passageiros do ônibus. Você sabe que tem que fazer alguma coisa. Você poderia tentar saltar para fora da janela e fugir, mas, em seguida, o ônibus passaria por cima de você bem no meio da multidão, e você perderia qualquer chance de intervir. Então você decide tentar sabotar o ônibus do interior, cortar os fios elétricos, ou puxar para cima o piso e ativar os freios manualmente, ou tirá-lo da estrada, ou fazer o que puder. Assim que os outros passageiros perceberem o que você está fazendo, eles vão tentar impedi-lo e, talvez, matá-lo. Você tem que decidir se você vai parar o ônibus lentamente ou rapidamente. O ônibus está correndo tão rapidamente agora que se você parar de repente, ele pode arremessar os passageiros contra os assentos na frente deles ou até pelo ar. Isso pode matar alguns deles. Mas se você interrompê-lo lentamente, quem sabe quantas pessoas inocentes serão atingidas durante a desaceleração do ônibus? E se você apenas danificá-lo, o motorista pode reparar o dano e fazer o ônibus voltar à ativa. Junte-se ao Deep Green Resistance - 72 / 85 http://deepgreenresistance.org Então, o que você faz? Se você optar por parar o ônibus o mais rápido possível, então você terá feito a mesma escolha que aqueles que iriam implementar a fase IV. Você tomou a decisão em que parar a destruição o mais rapidamente possível é mais importante do que qualquer programa específico de reforma. Claro que, mesmo ao parar a destruição o mais rápido possível, você ainda pode tomar medidas para reduzir as baixas a bordo do ônibus. Você pode dizer às pessoas para se sentar ou usar cinto de segurança ou se prepararem para o impacto. Se eles vão ouvi-lo é outra história, essa responsabilidade é deles, não sua. É importante não interpretar mal o sentido da fase IV deste cenário futuro alternativo. A questão não é causar vítimas humanas. O objetivo é impedir a destruição do planeta. O inimigo não é a população civil – nem nenhuma população em específico – mas sim um sistema sócio-político-econômico sociopatológico. A destruição ecológica do planeta é causada principalmente pela indústria e pelo capitalismo; o problema da população é no máximo terciário. O motivo de colapsar a infra-estrutura industrial neste cenário é o de não prejudicar os seres humanos mais do que serão no ponto de frenagem do ônibus. O sentido é o de reduzir os danos o mais rápido possível, e fazer isso para cobrar a conta dos prejuízos que a cultura dominante está cometendo contra todos os seres vivos, do passado e do futuro. Esta não é uma fase fácil para os ativistas aboveground. Parte do seu trabalho neste cenário é também ajudar a demolir a infraestrutura, mas eles estão demolindo principalmente a infraestrutura política e econômica de exploração, não a infraestrutura física. Em geral, eles continuam fazendo o que fizeram na fase anterior, mas em uma escala maior e em longo prazo. O apoio público é direcionado para os sistemas políticos e econômicos justos, locais e democráticos. Os esforços são empreendidos para lidar com emergências e lidar com as partes mais desagradáveis ■■do colapso. Objetivos • Desmontar a infra-estrutura física mínima necessária para a civilização industrial funcionar. • Induzir o colapso industrial generalizado, além de quaisquer de seus sistemas econômicos ou políticos. • Uso contínuo e coordenado de ações para dificultar os reparos e substituições. Operações • Foco quase exclusivo em operações decisivas e continuas. Organização • Requer redes militantes underground bem desenvolvidas. IMPLEMENTANDO A GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA Escute uma versão em audio de Executando a Guerra Ecológica Decisiva É importante notar que, no caso de uma prolongada guerra popular, a Guerra Ecológica Decisiva não seguirá necessariamente uma progressão linear. Neste cenário, resistentes voltam às fases anteriores se necessário. Depois de grandes reveses, organizações de resistência focam-se na sobrevivência e na construção de redes, enquanto se reagrupam e preparam-se para ações mais críticas. Além disso, os movimentos de resistência progridem através de cada uma das fases e, em seguida, recuam na ordem inversa. Ou seja, se a infra-estrutura industrial global for interrompida ou fragmentada com sucesso (fase IV) os resistentes retornam à interrupção do sistema em uma escala local ou regional (fase III). E se também obtiverem sucesso nisso, os resistentes Junte-se ao Deep Green Resistance - 73 / 85 http://deepgreenresistance.org movem-se de volta para a fase II, focando seus esforços nos piores alvos restantes. E desde que os seres humanos não se extingam, mesmo este cenário vai exigir que algumas pessoas permaneçam na fase I indefinidamente, mantendo uma cultura de resistência e passando os conhecimentos básicos e habilidades necessárias para lutar por séculos e milênios. A progressão da Guerra Ecológica Decisiva poderia ser comparada a sucessão ecológica. A alguns meses atrás eu visitei uma pedreira abandonada, onde a camada superior do solo e várias camadas de rocha tinham sido retiradas e explodidas, deixando uma cavidade cúbica muito profunda no calcário. Mas um pouco de cascalho e poeira estavam empilhados em um canto, e alguns musgos tinham tomado conta. Os musgos eram pequenos, mas eles necessitavam de muito pouco em matéria de água ou de nutrientes (como muitos dos pequenos grupos de afinidade com quem eu trabalhei). Uma vez que os musgos tinham crescido por algumas temporadas, eles deram ao solo firmeza o suficiente para que gramíneas pudessem crescer. Com crescimento rápido, as resistentes gramíneas estão muitas vezes entre as primeiras espécies a reabitar qualquer solo castigado. Da mesma forma, as organizações de resistência iniciais são generalistas, não especialistas. Elas são robustas e rapidamente se espalham e se reproduzem, seja espalhando suas sementes acima do solo (aboveground) ou criando redes subterrâneas de rizomas (underground). As gramíneas na pedreira reconstruíram o solo rapidamente, e logo havia solo para flores silvestres e organismos mais complexos. De forma muito parecida, um grande número de simples organizações de resistência ajudam a estabelecer comunidades de resistência, culturas de resistência, que podem dar origem a organizações de resistência mais complexas e mais eficazes . Underground Organization Um ativista hipotético que colocar essa estratégia em prática será capaz de mover-se de forma inteligente a partir da fase I para a próxima: identificando quando os elementos estão no lugar correto, quando as redes de resistência estão suficientemente mobilizadas e treinadas e quando as pressões externas ditarem a mudança. No manual de operações de campo do Exército dos EUA, o General Eric Shinseki argumenta que as regras da estratégia "exigem comandantes para dominar as transições, para ser adaptável. Transições-implementações, o intervalo entre a operação inicial e as sequelas, a consolidação do objetivo, o avanço das linhas – o momentum operacional. Dominar as transições é a chave para a manutenção desse momentum e para vencer decisivamente." Isso é particularmente difícil de fazer quando a resistência não tem um comando central. Neste cenário, não há meios centrais de dispersar ordens operacionais ou táticas ou formas eficazes de coletar informações precisas sobre as forças de resistência e aliados. Shinseki continua: "Isso demonstra o valor elevado de soldados treinados com boa habilidade de fazer leituras da situação; líderes adaptativos que entendem a nossa doutrina; e formações versáteis, ágeis e letais”. As pessoas que estão empreendendo uma resistência à civilização neste cenário não estão tão preocupadas com "letalidade" quanto estão com eficácia, mas o argumento é válido. A resistência à civilização é inerentemente descentralizada. Isso vale em dobro para grupos underground que têm o mínimo de contato com outras pessoas. Para compensar a falta de estrutura de comando, uma grande estratégia geral neste cenário torna-se amplamente conhecida e aceita. Além disso, grupos minimamente aliados estão prontos para tomar medidas sempre que a situação se mostrar estratégica para isso. Estes grupos estão preparados para tirar proveito de crises como colapsos econômicos. Sob este cenário alternativo, a organização underground em pequenas células tem grandes implicações para a aplicação dos princípios da guerra. A entidade ideal para atacar a civilização industrial seria uma grande rede Junte-se ao Deep Green Resistance - 74 / 85 http://deepgreenresistance.org paramilitar, hierárquica. Essa rede poderia se empenhar na formação, disciplina e coordenação de ações necessárias para programar uma ação militante decisiva em uma escala continental. No entanto, por razões práticas, uma única rede desse tipo nunca surge. Organizações semelhantes na história da luta de resistência, como o IRA ou vários grupos insurgentes em território ocupados por forças estrangeiras, surgiram na ausência do estado de vigilância moderno e na presença de uma cultura de resistência bem desenvolvida e extensa oposição ao ocupante. Embora células underground ainda possam formar pares de confiança com base em linhas de interesses, redes paramilitares maiores são mais difíceis de se formar em um contexto anticivilização contemporâneo. Em primeiro lugar, a proporção de potenciais recrutas na população em geral é menor do que em quaisquer movimentos de resistência anticoloniais ou antiocupação na história. Por isso, leva mais tempo e é mais difícil expandir redes underground existentes. A opção utilizada por alguns grupos de resistência na França ocupada foi se aliar e conectar as células existentes. Mas isso é inerentemente difícil e perigoso. Qualquer grupo underground com cobertura adequada seria invisível para outro grupo em busca de aliados (há muitas histórias a partir do fim da guerra de resistentes que viviam no mesmo prédio sem terem nunca percebido a filiação um do outro). E em um panóptico, expor-se a supostos aliados não comprovados é um empreendimento arriscado. A função mais plausível para o underground neste cenário é se tornar um composto de organizações de diferentes tamanhos, algumas poucas redes maiores e um grande número de células autônomas menores, que ainda não estão diretamente conectadas por meio de linhas de comando. Há conexões indiretas ou comunicações via cut-outs, mas esses métodos raramente são consistentes ou confiáveis o suficiente para permitir ações simultâneas coordenadas em curto prazo. Células individuais raramente têm o contingente ou a logística necessária para se engajar em ações múltiplas simultâneas em locais diferentes. Esse trabalho cabe aos grupos paramilitares, com células em vários locais, que têm a estrutura de comando e disciplina necessária para realizar adequadamente uma disrupção em rede. No entanto, as células autônomas mantêm a prontidão para se engajar em ações oportunistas identificando com antecedência uma seleção de alvos locais e táticas apropriadas. Então, depois de uma ação simultânea maior (causando, por exemplo, um corte de energia), as células autônomas aproveitam a oportunidade para realizar suas próprias ações, dentro de algumas horas. Desta forma, as células não relacionadas envolvem-se em algo semelhante a ataques simultâneos, maximizando a sua eficácia. É claro que, se os grupos descentralizados frequentemente realizarem ataques do tipo "ações de gatilho", a mídia corporativa pode parar de transmitir notícias de ataques para evitar o desencadeamento de outras mais. Assim, essa abordagem tem seus limites, embora os efeitos de grande escala, como apagões nacionais não podem ser suprimidos nos jornais (e em rupturas de sistemas, na verdade, não importa o que realmente causou o apagão, porque ainda assim é uma oportunidade para novas ações ). Analysis of Strategy World War II vs Decisive Ecological Warfare Quando olhamos para algumas lutas ou guerras na história, temos o benefício da retrospectiva para identificar falhas e sucessos. É assim que julgamos as decisões estratégicas tomadas na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, ou qualquer pessoa que tenha tentado (ou não) intervir em holocaustos históricos. Talvez fosse benéfico imaginar alguns historiadores num futuro distante – supondo que a humanidade sobreviva – olhando para trás, para o futuro alternativo que acabamos de descrever. Supondo que tenha sido na maior parte bem sucedido, como eles devem analisar seus pontos fortes e fracos? Junte-se ao Deep Green Resistance - 75 / 85 http://deepgreenresistance.org Para esses historiadores, a fase IV é controversa, e eles sabem que ela seria controversa até mesmo entre os membros da resistência desse tempo. Mesmo os resistentes que concordam com ações militantes contra a infraestrutura industrial hesitam quando contemplam ações com possíveis consequências civis. Isso não é nenhuma surpresa, já que os membros dessa resistência são guiados por um profundo respeito e cuidado com a vida. O problema é, claro, os membros desse grupo sabem que se eles falharem em parar essa cultura que está matando o planeta, haverá consequências civis muito mais horríveis. As forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial precisaram enfrentar um conflito moral parecido, como discutido por Eric Markusen e David Kopf em seu livro The Holocaust and Strategic Bombing: Genocide and Total War in the Twentieth Century (Holocausto e Bombardeio Estratégico: Genocídio e Guerra Total no Século Vinte). Markusen e Kopf escrevem isso: “No começo da Segunda Guerra Mundial, a política britânica de bombardeio foi rigorosamente discriminada – ao ponto de colocar as tropas aéreas britânicas em grande risco. Apenas alvos militares óbvios longe das concentrações de população eram atacados, e as equipes de bombas eram instruídas a lançar suas bombas na água quando as condições climáticas tornavam questionável a identificação dos alvos. Muitos fatores foram citados para explicar essa política, incluindo um desejo de evitar provocar a Alemanha temendo uma retaliação contra alvos não-militares na Inglaterra já que tinham uma força aérea numericamente superior.”[19] Outros fatores incluídos demonstram preocupação com o apoio público, considerações morais em evitar baixas civis, a prática da “Guerra Telefônica” (uma guerra declarada contra a Alemanha com pouco combate real) e uma pequena força aérea que precisava de tempo para se fortalecer. Os paralelos entre as ações dos bombardeiros britânicos, as ações dos militantes de esquerda do Weather Underground e do ELF são óbvios. O problema com essa política britânica é que ela simplesmente não funciona. A Alemanha não mostrou tal integridade moral e as equipes de bombardeio britânicas estavam correndo grandes riscos ao atacar alvos menos valiosos. Em fevereiro de 1942, a política de bombardeio mudou substancialmente. De fato, o Comando de Bombardeio começou a visar deliberadamente civis inimigos e a moral civil em especial – particularmente a dos trabalhadores industriais – destruindo as casas em volta das fábricas que atacavam com o objetivo de “desabrigar” os trabalhadores. Os estrategistas britânicos acreditavam que fazendo aquilo iriam solapar a vontade de lutar da Alemanha. Na verdade, alguns dos ataques a civis tinham a intenção de “punir” a população da Alemanha por apoiar Hitler, e alguns estrategistas acreditavam que, após suficiente punição, a população iria se levantar e depor Hitler para salvarem a si mesmos. É claro, isso não funcionou; isso quase nunca funciona. Enfim, esse foi um dos dilemas encarados pelos membros da resistência neste cenário futuro alternativo: apesar da resistência se aborrecer com a noção de ações afetando civis – até mais do que a Inglaterra no início da Segunda Guerra Mundial – está claro para eles que em uma nação industrial os “civis” e o Estado estão tão profundamente entrelaçados que qualquer impacto em um causará algum impacto no outro. Os historiadores agora acreditam que a relutância dos Aliados em atacar antes na guerra pode ter custado muitos milhões de vidas de civis. Ao falhar em parar a Alemanha antes, eles fizeram desse conflito prolongado e sangrento algo inevitável. O general Alfred Jodl, o Chefe Alemão da Equipe de Operações do Alto Comando das Forças Armadas, disse enquanto durou seu julgamento por crimes de guerra em Nuremberg: “Se nós ainda não tínhamos colapsado no ano de 1939 isso foi apenas pelo fato de que durante a campanha na Polônia, aproximadamente 110 divisões britânicas e francesas no Oeste ficaram completamente inativas contra 23 divisões Alemãs.”[20] Muitos estrategistas militares têm alertado contra meias-medidas ou metas parciais quando apenas a guerra total pode resolver o problema. Em seu livro Grand Strategy: Principles and Practices (Grande Estratégia: Princípios e Práticas), John M. Collins argumenta que ataques tímidos podem fortalecer o inimigo, porque eles constituem uma provocação, mas não causam danos significativos à capacidade física ou moral do ocupante. “Destruir o ímpeto do inimigo para resistir é muito mais importante do que causar danos parciais às capacidades materiais... estudos de Junte-se ao Deep Green Resistance - 76 / 85 http://deepgreenresistance.org causa e efeito tendem a confirmar que violência menor do que a devastação total pode amplificar, ao invés de desgastar, a determinação do povo."[21] Considere, no entanto, que nesse livro de 1973 Collins pode ter subestimado a importância da infraestrutura tecnológica e de ataques decisivos à ela. (Ele aconselha no livro que computadores “têm uma utilidade limitada”[22]) Outros estrategistas têm priorizado a destruição material ao invés do “ímpeto de lutar” do adversário. Robert Anthony Pape discute essa questão em Bombing to Win (Bombardeando Para Ganhar), onde ele analisa a eficácia do bombardeio estratégico em várias guerras. Nós podemos pensar nesse cenário futuro alternativo se os resistentes colocarem em prática a análise de Pape pesando os benefícios da fase III (ações seletivas contra redes e sistemas específicos) contra a fase IV (tentando destruir a infraestrutura industrial o quanto for possível). Especificamente, Pape argumenta que elencar uma economia inteira como alvo pode ser mais efetivo do que simplesmente ir atrás de fábricas e outras edificações: Interdição estratégica pode minar estratégias de atrito, tanto no ataque a depósitos de armas ou na destruição da base industrial como um todo, o que resulta em uma redução da produção militar. Das duas, atacar depósitos de armas é a menos efetiva. Dadas as capacidades de substituição das economias industriais modernas, a produção de “guerra” tem uma grande capacidade de reposição em um período de meses. A produção pode ser mantida em curto prazo gastando os estoques e em médio prazo com a conservação e substituição por materiais ou processos alternativos. Além desses ajustes econômicos, os estados podem frequentemente fazer ajustes de doutrina.[23] Este planeta é pungente, mas ele também demonstra uma forma na qual os objetivos da estratégia desse cenário alternativo diferem dos objetivos do bombardeio estratégico nos conflitos históricos. Na campanha de bombardeio dos Aliados (e em outras guerras onde o bombardeio estratégico foi usado), o bombardeio estratégico coincide com as convencionais batalhas de campo, aéreas e navais. Estrategistas de bombardeio estavam mais preocupados em acabar com os suprimentos inimigos no campo de batalha. O bombardeio estratégico não tinha a intenção de, sozinho, vencer a guerra; seu objetivo era dar apoio à forças convencionais em batalha. Em contraste, neste futuro alternativo, uma diminuição significativa na produção industrial seria por si só um grande sucesso. Nesse futuro hipotético os historiadores talvez perguntem, “Porque não ir simplesmente atrás das piores fábricas, as piores indústrias, e deixar o resto da economia em paz?” Os primeiros estágios da Guerra Ecológica Decisiva envolvem ataques a fábricas e indústrias específicas. Porém, os resistentes sabem que a economia industrial moderna é tão fortemente integrada que qualquer coisa menor do que uma disrupção econômica geral provavelmente não teria um efeito duradouro. Isso também é evidenciado pelas tentativas históricas de derrubar economias. Pape prossegue, “Mesmo quando o sistema de produção de uma arma importante é seriamente abalado, ajustes táticos e operacionais podem fazer com que outros sistemas de armas substituam-no... Como resultado, esforços para remover o componente crítico na produção de guerra geralmente falham”. Por exemplo, Pape explica, os Aliados empreenderam uma campanha de bombardeio às fábricas de motores de avião Alemãs. Mas esse não foi um fator decisivo na luta pela superioridade aérea. Principalmente, os Aliados derrotaram a Luftwaffe porque eles mataram muitos dos melhores pilotos alemães nos bombardeios. Outro exemplo de compensação é o bombardeio aliado às fábricas de esferas de rolamento alemãs. Os Aliados conseguiram diminuir a produção alemã de esferas de rolamento em 70 por cento. Mas isso não forçou uma diminuição correspondente nas tropas de tanques alemãs. Os alemães foram capazes de compensar isso em parte pelo desenvolvimento de equipamentos que exigiam menos rolamentos. Eles também aumentaram sua produção de armas de infantaria anti-tanques. No começo da guerra, a Alemanha foi capaz de compensar a Junte-se ao Deep Green Resistance - 77 / 85 http://deepgreenresistance.org destruição de suas fábricas em parte porque muitas fábricas estavam funcionando por apenas um turno. Eles não estavam usando toda sua capacidade industrial existente. Ao mudar para turnos duplos ou triplos, eles foram capazes de (temporariamente) manter a produção. Portanto, Pape argumenta que economias de guerra não têm um ponto de colapso específico quando encaram ataques crescentes, mas sim podem fazer ajustes de incrementação diminuindo seus suprimentos. “As economias de guerra modernas não são frágeis. Enquanto fábricas individuais podem ser destruídas, o oponente pode reduzir os efeitos dispersando a produção de itens importantes e estocando matéria-prima importante e maquinaria. Os atacantes nunca antecipam todos os ajustes que os defensores podem efetuar, em parte por que a inteligência da estrutura detalhada da economia alvo é sempre incompleta.”[24] Esse é um cuidado válido contra a superconfiança, mas os resistentes nesse cenário reconhecem que esse argumento não é totalmente aplicável à sua situação, em parte pelos motivos que discutimos antes e em parte por causa das razões que vêm à seguir. Estrategistas militares estudando formas de derrubar economias e indústrias geralmente preocupam-se especificamente com a produção e distribuição de material bélico das forças armadas inimigas. Economias de guerra modernas são economias de guerra total na qual todos os setores da sociedade estão mobilizados e empenhados em dar suporte à guerra. Então, é claro, os líderes militares podem compensar perdas significativas; pois podem desviar material e rações para uso civil ou recorrer aos civis ou infraestrutura civil para objetivos militares como bem entenderem. Isso não significa que a produção total não é afetada (longe disso), mas sim que a produção militar não diminui tanto quanto poderia com esse tipo de investida. Resistentes nesse cenário têm uma perspectiva diferente da dos estrategistas militares sobre medidas compensatórias. Para entender o contraste, digamos que um estrategista militar e um estrategista ecologista militante querem ambos destruir um oleoduto de combustível que atende a uma importante área industrial. Digamos que o oleoduto tenha sido destruído e o fornecimento de combustível para a indústria tenha sido drasticamente cortado. Vamos dizer que a área industrial empreende uma série de medidas típicas para compensar - conservação, reciclagem, medidas de eficiência, e assim por diante. Vamos dizer que eles são capazes de manter a produção de isoladores ou de geladeiras ou de roupas ou o que seja que eles produzem, em menor número e usando menos combustível. Eles também prolongam a vida útil de seus refrigeradores ou roupas existentes, consertando-as. Do ponto de vista do estrategista militar, este ataque foi um fracasso, ele tem um efeito insignificante sobre a disponibilidade de material para os militares. Mas a partir da perspectiva do ecologista militante, esta é uma vitória. O dano ecológico é reduzido, e com muito poucos efeitos negativos sobre a população civil. (De fato, alguns efeitos seriam diretamente benéficos.) As economias modernas, em geral, são frágeis. Economias militares mobilizam recursos e produção por qualquer meio necessário, mesmo que isso implique em imprimir dinheiro ou tomar o comando sobre fábricas. Elas são economias de necessidade bruta. Economias industriais, ao contrário, são economias de luxo. A maioria delas produz coisas que as pessoas não precisam. O capitalismo industrial prospera na fabricação de desejos tanto quanto na fabricação de produtos, vendendo para as pessoas lixo plástico descartável, carros novos e junk food. Quando economias capitalistas enfrentam tempos difíceis, como aconteceu durante a Grande Depressão, ou como aconteceu na Argentina há uma década, ou como acontece em muitos lugares, muitas vezes, as pessoas priorizam suas necessidades básicas e muitas vezes desenvolvem sistemas de troca e teias de ajuda mútua. Elas retornam às economias comunitárias e domésticas, economias de necessidade que são muito mais resistentes do que o capitalismo industrial, e ainda mais robustas do que as economias de guerra. No entanto, Pape argumenta sobre um ponto importante, “A disrupção estratégica é mais eficaz quando os ataques são contra a economia como um todo. O plano mais eficaz é destruir a rede de transporte que traz matérias-primas e bens primários para centros de produção que frequentemente redistribui subcomponentes para várias indústrias. Atacar redes de energia elétrica nacionais não é eficaz porque as instalações industriais geralmente têm a sua própria geração de energia de backup. O ataque às refinarias petrolíferas nacionais para Junte-se ao Deep Green Resistance - 78 / 85 http://deepgreenresistance.org reduzir geradores de energia de backup normalmente ignora a capacidade dos Estados de reduzir o consumo através da conservação e racionamento”. A análise de Pape é perspicaz, mas, novamente, é importante entender as diferenças entre suas premissas e objetivos, e as premissas e objetivos da Guerra Ecológica Decisiva. Os resistentes no cenário da Guerra Ecológica Decisiva alcançaram os objetivos de redução do consumo e redução da atividade industrial, por isso não importa para eles que algumas instalações industriais tenham geradores de backup ou que os Estados tenham promovido a conservação e racionamento. Eles acreditam que é uma profunda vitória ecológica forçar fábricas a funcionar com energia reduzida ou que ocorra uma conservação de petróleo em escala nacional. Eles sabem que em toda a sua história o movimento ambientalista tradicional nunca foi capaz de parar o aumento do consumo de combustíveis fósseis. Causar uma redução seria algo sem precedentes.[25] Não importa que estejamos falando de uma situação futura completamente hipotética ou do mundo real atual, o progresso do pico do petróleo também terá um efeito sobre a importância relativa das diferentes redes de transporte. Em algumas áreas, a importância das navegações de transporte vai aumentar por causa de fatores como o esgotamento local do petróleo. Em outros, o declínio do comércio internacional e a redução da atividade econômica tornará o transporte menos importante. Sistemas de estradas podem ter seu uso reduzido por causa do aumento dos custos de combustível e da diminuição do comércio. Este tráfego reduzido engendrará uma maior capacidade de reposição e tornará as estradas menos vulneráveis à disrupções. O tráfego ferroviário – uma forma de transporte energeticamente muito eficiente – tende em aumentar sua importância. Além disso, em muitas áreas, as ferrovias foram removidas ao longo de um período de várias décadas, fazendo com que as linhas estejam hoje muito lotadas e perto de sua capacidade máxima. De volta ao cenário futuro alternativo: Na maioria dos casos, redes de transporte não são os melhores alvos. O transporte rodoviário (de longe o mais importante na maioria dos países) é altamente redundante. Mesmo partes rurais de áreas bem populosas são atravessadas por redes de estradas municipais, que são mais lentas do que rodovias, mas permitem que se faça desvios. Em contraste, estabelecer como alvo as redes de energia seria uma prioridade maior para eles, porque o efeito de obstruí-las seria maior. Muitas redes elétricas já estariam operando perto de sua capacidade máxima e seria caro expandi-las. Elas se tornarão mais importantes como formas altamente portáteis de energia, assim como os combustíveis fósseis foram parcialmente substituídos por formas menos portáteis de energia, especificamente pela eletricidade gerada a partir da queima do carvão e usinas nucleares, e em menor medida por energia eólica e solar. Isso significa que as redes elétricas carregarão tanta ou mais energia como o fazem agora e, certamente, uma porcentagem maior de toda a energia consumida. Além disso, eles reconhecerão que as redes de energia muitas vezes dependem de alguns grandes troncos atravessando o continente, que são muito vulneráveis a ataques. "Appropriate Technology" Tactics Existe um argumento final para os resistentes neste cenário feito para ações contra a economia como um todo, ao invés de se engajar em ações fragmentadas ou provisórias: o elemento surpresa. Eles reconhecerão que a sabotagem esporádica irá sacrificar o elemento surpresa e permitir que o inimigo se reagrupe e desenvolva maneiras de lidar com ações futuras. Eles reconhecerão que, por vezes, esses métodos de enfrentamento serão desejáveis para a resistência (por exemplo, uma mudança no sentido de diminuir o abastecimento local intensivo de energia) e às vezes serão indesejáveis (por exemplo, a implantação de equipes de reparos rápidos, o monitoramento aéreo por aviões pilotados remotamente, leis marciais, etc.). Resistentes reconhecerão que poderiam compensar isso expondo algumas de suas táticas através da realização de uma série de operações surpresa decisivas dentro de uma luta progressiva maior. Junte-se ao Deep Green Resistance - 79 / 85 http://deepgreenresistance.org Por outro lado, neste cenário os resistentes entendem que a GED depende de táticas com “tecnologia apropriada” relativamente simples (tanto no underground quanto no aboveground). Pequenos grupos dependem disso, e é relativamente mais simples do que complexo. Não há um monte de informações táticas secretas para passar adiante. Na verdade, a escalada de ações com táticas simples são benéficas para o movimento de resistência. O analista John Robb discutiu este ponto enquanto estudava as insurgências em países como o Iraque. A maioria das táticas insurgentes não são muito complexas, mas grupos de resistência podem aprender continuamente a partir dos exemplos, sucessos e fracassos de outros grupos do “pool” da insurgência. Células descentralizadas são capazes de ver os sucessos de células com quem não têm comunicação direta, e porque as táticas são relativamente simples, eles podem imitar rapidamente táticas bem-sucedidas e adaptá-las aos seus próprios recursos e circunstâncias. Desta forma, as táticas de sucesso proliferam rapidamente entre os novos grupos, mesmo com uma mínima comunicação underground. Historiadores hipotéticos olhando para trás poderiam notar uma outra lacuna potencial da GED: seria necessário, talvez, muitas pessoas envolvidas em táticas de risco e que as organizações de resistência não teriam os números e persistência logística necessárias para a luta prolongada. Essa seria uma preocupação válida, e seria tratada com proatividade, desenvolvendo redes de apoio eficazes desde o início. Claro, outros iriam sugerir estratégias – tais como um movimento de massas de qualquer tipo – que requerem muito mais pessoas e redes de apoio muito maiores engajando-se na resistência. Muitas redes underground operam com um orçamento pequeno e, apesar de precisarem de equipamento mais especializado, geralmente exigem muito menos recursos do que os movimentos de massa. Strategic Criteria Checklist Continuing this scenario a bit further, historians asked: how well did Decisive Ecological Warfare rate on the checklist of strategic criteria we provided at the end of the Introduction to Strategy (Chapter 12, page 385 of the Deep Green Resistance book). Objetivo Esta estratégia tem um objetivo claro, bem definido e atingível. Viabilidade Esta estratégia tem um caminho claro de um ponto A para um ponto B a partir do contexto atual até o objetivo pretendido, bem como contingências para lidar com contratempos e surpresas. Muitos acreditam ser uma estratégia mais coerente e viável do que qualquer outra que eles tenham visto ser proposta para lidar com esses problemas. Limitações de recursos Quantas pessoas são necessárias para um movimento de resistência sério e bem sucedido? Podemos obter um número semelhante ao de movimentos de resistência históricos e insurgências de todos os tipos? The French Resistance Êxito indeterminado. Como observamos em “The Psychology of Resistance” (A Psicologia da Resistência). capítulo: A Resistência Francesa foi composta por, no máximo, cerca de 1 por cento da população adulta, ou cerca de 200,000 pessoas.[26] O governo francês pós-guerra reconheceu oficialmente 220,000 pessoas[27] (embora alguns historiadores estime que o número de resistentes ativos poderia ter alcançado 400.000[28]). Junte-se ao Deep Green Resistance - 80 / 85 http://deepgreenresistance.org Além de resistentes ativos, houveram cerca de 300.000 outros com participação substancial.[29] Se você incluir todas as pessoas que estavam dispostas a assumir o risco de ler os jornais clandestinos da resistência, o total de simpatizantes cresce para cerca de 10 por cento da população adulta, ou dois milhões de pessoas.[30] A população total da França em 1940 era de cerca de quarenta e dois milhões de pessoas, logo, os resistentes reconhecidos constituíam uma em cada 200 pessoas. The Irish Republican Army Bem sucedido. No auge da resistência irlandesa ao domínio britânico, a guerra irlandesa por Independência (construída em 700 anos de cultura de resistência), o IRA tinha cerca de 100.000 membros (ou pouco mais de 2 por cento da população de 4,5 milhões), cerca de 15.000 dos quais participaram na guerra de guerrilha, e 3.000 dos quais eram combatentes em tempo integral. Alguns dos militantes mais críticos e decisivos formaram o "Twelve Disciples" (Doze Discípulos), um pequeno número de pessoas que balançavam o curso da guerra. A população da Inglaterra ocupada na época era de cerca de vinte e cinco milhões de pessoas, com outros 7,5 milhões na Escócia e País de Gales. Assim, a associação IRA era composta por uma em cada quarenta pessoas irlandesas e uma em cada 365 pessoas no Reino Unido. Os Doze Discípulos de Collins eram um em 300.000 na população irlandesa.[31] The antioccupation Iraqi insurgency Sucesso indeterminado. Quantos insurgentes estão operando no Iraque? As estimativas variam muito e são muitas vezes politicamente motivadas, seja para fazer a ocupação parecer bem sucedida ou para justificar mais repressão militar, e assim por diante. O Exército norte-americano estima em 2006 cerca de 8.000-20.000 pessoas.[32] As estimativas da inteligência iraquiana são mais elevadas. A população total é de trinta e um milhões, com uma área de cerca de 438 mil quilômetros quadrados. Se há 20.000 insurgentes, então isso é um insurgente para cada 1.550 pessoas. The African National Congress Bem sucedido. Quantos membros do CNA estavam lá? Por volta de 1979, o "underground político formal" consistia de 300 a cada 500 pessoas, a maioria em grandes centros urbanos.[33] A população sul-africana era de cerca de vinte e oito milhões, na época, mas os dados do censo para o período são notoriamente pouco confiáveis, devido à não-cooperação. Isso significa que o número de membros formais do underground da ANC em 1979 era de um em cada 56 mil. The Weather Underground Várias centenas inicialmente, diminuindo gradualmente ao longo do tempo. Em 1970, a população dos EUA era de 179 milhões, então eles tinham literalmente um em um milhão. The Black Panthers Sucesso indeterminado. O pico de adesão foi em 1960 com mais de 2.000 membros em diversas cidades.[34] Cerca de um a cada 100.000. North Vietnamese Communist alliance during Second Indochina War Bem sucedida. Força de cerca de meio milhão em 1968, contra 1,2 milhões de soldados anti-comunistas. Há números que colocam o tamanho do exército Vietcong em 1 milhão de pessoas em 1964.[35] É difícil obter um valor para o total de combatentes e não combatentes por causa do apoio logístico generalizado em muitas áreas. A população em 1960 era de cerca de quarenta milhões (Norte e Sul), assim, em 1968, cerca de uma Junte-se ao Deep Green Resistance - 81 / 85 http://deepgreenresistance.org em cada oitenta pessoas vietnamitas estavam lutando para os comunistas. Spanish Revolutionaries in the Spanish Civil War Tanto bem quanto mal sucedidos. A Confederação Nacional do Trabalho (CNT) na Espanha teve uma adesão de cerca de três milhões no auge. A principal força motriz dentro do CNT foi a FAI anarquista, uma aliança de grupos de afinidade militantes. A Federação Anarquista Ibérica (FAI) teve uma adesão de 5.000 a 30.000, talvez pouco antes de revolução, um número que aumentou significativamente com o início da guerra. A CNT e a FAI foram bem sucedidas em realizar uma revolução em parte da Espanha, mas, mais tarde, foram derrotados em escala nacional pelos fascistas. A população espanhola era de cerca de 26 milhões. Assim, cerca de um em cada nove espanhóis eram membros da CNT, e (adotando o valor mais elevado) cerca de um em 870 espanhóis foi membro da FAI. Poll tax resistance against Margaret Thatcher circa 1990 Bem sucedida. Cerca de quatorze milhões de pessoas mobilizadas. Em uma população de cerca de cinquenta e sete milhões, que é cerca de uma em cada quatro (embora a maioria dessas pessoas tenha participado, principalmente, por se recusarem a pagar um novo imposto). British suffragists Bem sucedida. É difícil encontrar números absolutos para todas as sufragistas. No entanto, houve cerca de 600 sociedades não-militantes lutando pelo sufrágio feminino. Também havia militantes, dos quais mais de mil foram para a cadeia. Os militantes fizeram todos os grupos - mesmo os sufragistas não-militantes - crescer em números. Com base na população britânica da época, os militantes foram, talvez, uma em cada 15.000 mulheres, e havia uma sufragista não-militante para cada 25.000 mulheres.[36] Sobibor uprising Bem sucedida. Menos de uma dúzia no núcleo organizador e conspiradores. A maioria das pessoas fugiu do campo de concentração e o acampamento foi fechado. Até esse ponto, talvez, um quarto de milhão de pessoas tinha sido morto no acampamento. O núcleo organizador era constituído por talvez um de cada sessenta dos ocupantes judeus do campo na época, e talvez um em 25.000 dos que tinham passado pelo acampamento no caminho para a morte. É claro que um pequeno grupo de pessoas inteligentes, dedicadas e ousadas pode ser extremamente eficaz, mesmo que elas somem apenas uma em cada 1000, ou uma em cada 10.000, ou até mesmo uma em 100.000. Elas são eficazes em grande parte por sua capacidade de mobilizar forças maiores, sejam os movimentos sociais (talvez através de campanhas de não-cooperação, como na rejeição do pagamento dos impostos de Thatcher) ou gargalos industriais. Além disso, é claro que, se esse grupo central puder ser mantido, é possível que ele, eventualmente, amplie-se e torne-se vitorioso. Com tudo isso dito, os futuros historiadores discutindo esse cenário vão comentar que a GED foi projetada para aproveitar ao máximo pequenos números, em vez de supor que um grande número de pessoas precise ser alcançado para realizar uma ação oportuna. Se mais pessoas estivessem disponíveis, a estratégia seria ainda mais eficaz. Além disso, eles podem comentar que esta estratégia tentou mobilizar as pessoas a partir de uma ampla variedade de origens das formas que eram mais viáveis para ela; ela não depende exclusivamente de Junte-se ao Deep Green Resistance - 82 / 85 http://deepgreenresistance.org militância (o que teria excluído um grande número de pessoas) ou em abordagens simbólicas (o que teria provocado o cinismo que levaria ao fracasso). Táticas As táticas necessárias para a GED são relativamente simples e acessíveis, e muitas delas são de baixo risco. Elas foram adequadas à escala e à seriedade do objetivo e do problema. Antes de colocarem a GED em prática, as táticas necessárias não estavam sendo implementadas por causa de uma falta de estratégia global e de desenvolvimento organizacional, tanto no aboveground quanto no underground. No entanto, essa estratégia e organização não são tecnicamente difíceis de desenvolver - os principais obstáculos são ideológicos. Risco Na avaliação do risco, os membros da resistência e futuros historiadores considerariam tanto os riscos de agir como os riscos de não agir: os riscos da implementação de uma determinada estratégia e os riscos de não implementá-la. No caso deles, a não realização de uma estratégia eficaz teria como resultado um planeta destruído e a perda de séculos de esforços de justiça social. A não realização de uma estratégia eficaz (ou uma incapacidade geral de agir) teria matado milhares de milhões de seres humanos e não-humanos incontáveis. Haveria riscos substanciais para tomar medidas decisivas, esses mesmos riscos é que levariam a maioria das pessoas a se ater a formas simbólicas mais seguras de ação. Mas os riscos da inação seriam muito maiores e mais permanentes. Tempo Se devidamente implementada, a Guerra Ecológica Decisiva seria capaz de realizar seu objetivo dentro de um prazo adequado e em uma sequência razoável. Na GED, uma ação decisiva é ampliada tão rapidamente quanto ela puder se basear na infra-estrutura de apoio subjacente. O ponto exato de impossibilidade de retorno para uma mudança climática catastrófica é incerto, mas se houver historiadores ou qualquer outra pessoa viva no futuro, saberão que a GED e outras medidas foram responsáveis por impedir esse nível de mudança climática. A maioria das outras medidas propostas no início não estão sequer tentando fazer isso. Simplicidade e Consistência Embora um considerável contexto e conhecimento sejam necessários para levar a cabo esta estratégia, em sua essência, ela é muito simples e consistente. É robusta o suficiente para lidar com eventos inesperados e poderia ser explicada de uma forma simples e clara, sem jargões. A estratégia é adaptável o suficiente para ser utilizada em muitos locais com diferentes contextos. Consequências Ação e inação ambos têm consequências graves. Um grave colapso - o que poderia envolver sofrimento humano em larga escala - é assustador para muitos. Resistentes neste futuro alternativo acreditam em primeiro lugar que um resultado terrível não é inevitável, e que eles podem fazer mudanças reais na forma como o futuro se desenrolará. 1. Até mesmo o Exército dos EUA reconhecem isso agora. Confira o "US Military Warns Oil Output May Dip Causing Massive Shortages by 2015" de Macalister Junte-se ao Deep Green Resistance - 83 / 85 http://deepgreenresistance.org 2. Aric e Derrick exploram a relação entre colapso, capacidade de suporte, racismo e Nazismo no capítulo de conclusão de What We Leave Behind. 3. Logo após isto ser escrito, o governo da Espanha cancelou 24.000 milhões de dólares no valor dos investimentos solares para evitar a espiral de uma crise da dívida nacional, que eles temiam que levasse a sua economia ao colapso. 4. Leia o importante livro de Kevin Bales Disposable People: New Slavery in the Global Economy. 5. Leia "Adaptation of Forests and People to Climate Change" da International Union of Forest Research Organizations. Além disso, a conversão de florestas em emissores de carbono por causa do aquecimento, doenças, derrubadas e incêndios já está acontecendo (Kurz et al., "Mountain Pine Beetle"). 6. Science Daily, "Regional Nuclear War Could Devastate Global Climate." 7. Science Daily, "Regional Nuclear Conflict Would Create Near-Global Ozone Hole, Says Study." 8. Bombas de cobalto são bombas nucleares com um invólucro de cobalto. Elas eram o "Engenho Apocalíptico" no filme Dr. Strangelove. A precipitação normal tem uma meia-vida de dias, mas a precipitação da bomba de cobalto tem uma meia-vida de mais de cinco anos. Alguns especialistas acreditam que as bombas de cobalto podem literalmente destruir toda a vida na Terra. 9. Novacek et al., "The Current Biodiversity Extinction Event." 10. Leia, The Ages of Gaia: A Biography of Our Living Earth, de Lovelock . 11. Amostras do fundo do Oceano Ártico mostram que cerca de 55 milhões de anos atrás, a região era tropical por causa de um pico de CO2 atmosférico. A biota do oceano era pantanosa com sequóias e ciprestes densos e "mosquitos do tamanho de sua cabeça". O ano todo a temperatura média foi de cerca de 23°C (74°F). Uma vez que o círculo polar tem vinte e quatro horas de luz solar durante a maior parte do verão e vinte e quatro horas de escuridão durante a maior parte do inverno, esta média deve ter estado associada com temperaturas extremas notáveis. A maior parte do planeta era praticamente inabitável para os nossos padrões. O crescimento das samambaias tolerantes ao calor eventualmente seqüestraram o carbono e fizeram com que o planeta voltasse para um estado mais frio, mas que levou quase um milhão de anos para ocorrer. Veja, "Arctic Circle—Ancient Vacation Hotspot?" da Associated Press. 12. Congressional Research Service, "Energy Use in Agriculture: Background and Issues." 13. Energy Information Administration, "EIA Annual Energy Review 2008," p. 3. 14. Lembre-se que, mesmo agora, com abundância de alimentos excedentes e habitação disponível, há dezenas de milhões de refugiados em várias partes do mundo (sem contar os que foram arrancados de suas terras tradicionais e reassentados em favelas urbanas). 15. Isso é crescimento populacional, o número de nascimentos diários menos o número de mortes diárias. 16. Por exemplo, Joseph Tainter escreve que "[a] sociedade entra em colapso quando ela exibe uma perda rápida e significativa de um nível estabelecido de complexidade sócio-política." 17. Novamente, o critério aqui é baseado em Tainter. 18. Citado em um discurso de Dimitry Orlov, "Social Collapse Best Practices," ministrado em San Francisco em February 13, 2009, online em http://cluborlov.blogspot.com/2009/02/social-collapse-best-practices.html 19. Markusen, The Holocaust and Strategic Bombing, p. 152. 20. Transcripts of the trial are a matter of public record. See "The Proceedings of the Trial of the Major War Criminals before the International Military Tribunal at Nuremburg," vol. 15, p. 350, at http://www.loc.gov/rr/frd/Military_Law/NT_major-war-criminals.html 21. Collins, Grand Strategy, p. 214. 22. Ibid., p. 230. 23. Pape, Bombing to Win, pp. 77-78. 24. Ibid., p. 317. Junte-se ao Deep Green Resistance - 84 / 85 http://deepgreenresistance.org 25. Pape discute como sua estratégia preferida de ataque à capacidade de transporte inimiga pode acontecer em diferentes configurações. "Contra uma economia excepcionalmente dependente da importação", ele escreve, "como o Japão na Segunda Guerra Mundial, a disrupção do transporte pode ser mais bem realizada bloqueando rotas marítimas, usando o poder aéreo menos para o bombardeio do que para atacar navios e minerações. Se as importações podem ser totalmente cortadas, a economia alvo entrará em colapso quando os estoques domésticos estiverem esgotados, a marinha mercante japonesa foi essencialmente destruída até o final de 1944, levando ao colapso da produção de guerra em meados de 1945". Mesmo o aumento do custo das importações teria um efeito benéfico. Os piratas da Somália estão fazendo um excelente trabalho de aumentar o custo do transporte internacional, por meio de atrasos e resgates, aumentaram os custos de seguros e despesas militares para defender os navios. Até agora, a pirataria ao largo da costa da Somália nem sequer exige angariação de fundos, é um empreendimento auto-suficiente. Por outro lado, Pape escreve: "Contra uma economia relativamente rica em recursos, como a Europa controlada pelos nazistas, uma interdição estratégica requer parar o fluxo de comércio ao longo das estradas de ferro internas, auto-estradas e sistemas de canais, destruindo nós fundamentais (pontes, eclusas e estações de triagem de ferrovias), movendo o tráfego, o material circulante e os cargueiros. Esta missão é difícil, porque os sistemas de transporte comercial são grandes e redundantes e raramente são utilizados a plena capacidade. Assim, os Estados Unidos não poderiam levar a economia alemã ao colapso rapidamente, mesmo sendo as forças aéreas dos EUA muito superiores." 26. Laffont, Dictionnaire historique, p. 399. This number is according to François Marcot, professor of history at the Sorbonne. 27. Collins Weitz, Sisters in the Resistance, p. 10. 28. Paxton, Vichy France, p. 294. 29. Again, according to François Marcot. 30. Paxton, Vichy France, p 294. 31. Jefferies, "The UK Population." 32. BBC News, "Guide: Armed Groups in Iraq." 33. Barrell, "Conscripts to Their Age," p. 495. Interview with Mac Maharaj, IV/Maharaj. 34. Britannica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/68134/Black-Panther-Party 35. Demma, "The U.S. Army," chapter 28. 36. These being very approximate numbers based on Mackenzie, Shoulder to Shoulder. Note: Though the resistance movement will have different phases and parts, the Deep Green Resistance organization is, will always be, and is committed to only being an aboveground group. DEEP GREEN RESISTANCE BYLAWS The bylaws lay out the Deep Green Resistance organizational structure. Download the full bylaws (docx), or read this summary: General DGR is formed with the goal of advancing the aboveground strategies laid out in the book Deep Green Resistance: Strategy to Save the Planet, including, but not limited to: 1. Building a culture of resistance against industrial civilization; 2. Normalizing the idea of underground resistance; and Junte-se ao Deep Green Resistance - 85 / 85 http://deepgreenresistance.org 3. Engaging in aboveground political struggles. DGR members follow our Statement of Principles and Code of Conduct. Steering Committee The DGR Steering Committee helps the organization set policy and organize strategically for long-term, sustained success. The committee consists of an advisory board with three permanent members, and four to eight members elected each year by the general DGR membership. View current members Administrative Committee The Administrative Committee members are appointed by the Steering Committee to perform the basic functions that keep DGR running. Membership Prospective members must agree to abide by the Statemont of Principles and Code of Conduct, be approved by the Personnel Committee, and commit to paying regular dues and/or submitting periodic Member Action Proposals for planned projects. Once accepted into DGR, members gain access to tools for internal communication, may vote for the elected positions of the Steering Committee, and may request funds for projects. Chapters The basic unit of local DGR organization is the chapter. Most of the day-to-day decisions about DGR’s local activities are made within chapters. Therefore, DGR places great importance on chapter organizing. DGR members benefit from forming or joining DGR chapters by gaining a community of like-minded individuals and a formal vehicle with which to do activism locally. Chapters should meet locally at least once a month, and consider creating administrative roles, such as coordinator, membership coordinator, contact coordinator, treasurer, and literature coordinator. Meetings DGR holds general conference calls, an annual member conference, and encourages regional and local gatherings and meetings. Caucuses DGR provides spaces for marginalized classes to wield collective power and organize privately through caucuses. Caucuses are accessible only to those who belong to the group for which it was created. Junte-se ao Deep Green Resistance - 86 / 85 http://deepgreenresistance.org Conflict Resolution The three-member Conflict Resolution Committee facilitates timely, supportive, and positive resolution of conflicts for members of DGR with the goal of maintaining organizational effectiveness despite differences in personality or opinion. This policy provides members an avenue to address and resolve interpersonal conflicts, grievances, and complaints. Finances The Fundraising Committee gathers donations, which are distributed quarterly by the Treasurer in response to Member Action Proposals. Funding decisions are based on DGR's strategic mission and action priorities. Junte-se ao Deep Green Resistance - 87 / 85 http://deepgreenresistance.org