Simpósio: Síndrome do intestino curto Vânia Sonja Villela Especializanda de 2º ano Disciplina de Gastroenterologia Departamento de Pediatria Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo Introdução Síndrome do intestino curto (SIC) é um estado malabsortivo que ocorre após grandes ressecções do intestino delgado. A quantidade ressecada ou o intestino remanescente geralmente determinam o grau de má-absorção e, consequentemente, a necessidade de nutricão enteral específica ou nutrição parenteral (NP). Falência intestinal (FI) no contexto da SIC é definida como uma dependência de NP para manter a necessidade hídrica e energética para o crescimento da criança. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Introdução ¾ ¾ ¾ ¾ Causas comuns de SIC em crianças incluem: Enterocolite necrotizante Volvo de intestino médio Atresia intestinal Gastrosquise No adulto deve-se a obstruções vasculares, como em volvos e tromboses, e doenças inflamatórias intestinais. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Patricia Telló Durks, Jonas Lenzi de Araújo, Raphael dos Santos Silva Rev Bras Nutr Clin 2007; 22(1): 5-9 Introdução A diminuição da superfície de absorção e o aumento da velocidade do trânsito intestinal levam à desidratação, alterações do equilíbrio eletrolítico e ácido-básico. Os sinais e sintomas são evidenciados no pós-operatório imediato, por meio de uma profusa diarréia aguda, perda de peso, desidratação e desnutrição, que se intensificam com a oferta de nutrientes por via oral ou enteral. Estes dependerão do local e da extensão da ressecção, além da capacidade de adaptação do intestino remanescente. Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, Nº2: 175-178 Patricia Telló Durks, Jonas Lenzi de Araújo, Raphael dos Santos Silva Rev Bras Nutr Clin 2007; 22(1): 5-9 Introdução A absorção de carboidratos e proteínas ocorre no duodeno e jejuno, sendo o íleo responsável pela absorção de sais biliares, vitaminas lipossolúveis e vitamina B12. Adaptação bem-sucedida refere-se à capacidade de alterações estruturais e fisiológicas permitirem que o paciente com SIC e FI cresçam e permaneçam saudáveis enquanto recebem nutrição oral ou enteral. Patricia Telló Durks, Jonas Lenzi de Araújo, Raphael dos Santos Silva Rev Bras Nutr Clin 2007; 22(1): 5-9 Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Introdução ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ Os preditores para a adaptação bem-sucedida são: Idade do paciente Doença subjacente que levou à SIC Tamanho e parte do intestino delgado e/ou intestino grosso ressecada Presença ou ausência da válvula ileo-cecal e cólon Potencial adaptação intrínseca do intestino remanescente Presença de sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Introdução ¾ ¾ ¾ A classificação dos pacientes com SIC se baseia nas características anatômicas do intestino remanescente e na patogenia do processo: Ressecções curtas: 100 a 150 cm de intestino remanescente Ressecções grandes: 40 a 100 cm de intestino remanescente Ressecções maciças: menos de 40 cm (grande possibilidade de insuficiência intestinal permanente) Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, Nº2: 175-178 Introdução O intestino delgado cresce progressivamente desde a fase embrionária até a idade adulta quando alcança, em média, comprimento de 6 m, com uma variedade importante dependendo da raça e gênero. Sabe-se que no 3° trimestre da gestação o comprimento dobra: de cerca de 130 cm para 270 cm. Ao nascimento mede entre 210 e 290 cm. O aumento é notável no primeiro ano de vida. Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, Nº2: 175-178 Introdução Esse potencial de crescimento permite assumir que o prognóstico funcional e adaptativo de um prematuro com SIC será diferente e melhor que de um neonato de termo ou de uma criança maior. O mesmo pode-se dizer da SIC em criança versus adulto. Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, N°2: 175-178 Etiologia a) b) c) As causas de SIC são múltiplas e variam de acordo com a idade. Os mais afetados são neonatos e, entre eles, os prematuros. São classificados em: Pré-natais: atresias únicas ou múltiplas, síndrome da “casca da maçã”, márotação intestinal, defeitos da parede abdominal, gastrosquise e onfalocele, doença de Hirschsprung extensa com comprometimento de todo o intestino delgado. Neonatais: volvo de intestino médio, enterocolite necrotizante (EN), trombose intestinal venosa ou arterial. Pós-natais: volvo de intestino médio, invaginação intestinal complicada, trombose arterial, doença inflamatória intestinal, pós-traumática, angioma intestinal extenso. Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, N°2: 175-178 Etiologia A causa mais frequente é a EN que afeta principalmente prematuros e seria, provavelmente, consequência de lesão isquêmica associada a asfixia perinatal, colonização bacteriana do intestino, alimentação enteral precoce a base de fórmulas artificiais. “Casca da maçã” é consequência do desenvolvimento anômalo da artéria mesentérica superior. Gastrosquise leva à SIC por isquemia ou traumatismo do intestino exposto. Nos adultos são importantes os eventos isquêmicos, a doença inflamatória intestinal e a enterite actínica. Teresa Alarcón O. Gastr Latinoam 2007; Vol 18, N°2: 175-178 Incidência Apesar da incidência total da SIC ser de apenas 1200/100000 nascidos vivos, o índice de mortalidade é alto. Taxas de sobrevida relatadas na SIC em pediatria variam de 73 a 89%, fazendo com que esta seja uma das condições mais letais na infância. Evolução clínica As situações clínicas que cursam com distúrbios no processo de digestão e absorção acarretam graves prejuízos na homeostase orgânica. A retirada de uma ou mais porções do intestino delgado resulta em processos carenciais de maior ou menor gravidade, dependendo da extensão e do tempo de duração da doença, sendo a Síndrome do Intestino Curto responsável pelos quadros mais sérios e graves. Carla Barbosa Nonino, Ricardo Martins Borges, Luciana Pasquali, Julio Sergio Marquini Rev. Nutr., Campinas, 14 (3): 201-205, set/dez.,2001 Evolução clínica A desnutrição secundária decorrente destas situações clínicas é um dos fatores determinantes da má evolução clínica, incluindo aumento da morbidade e mortalidade. Não existe uma definição de qual o comprimento mínimo de intestino delgado seria suficiente para manter a absorção dentro dos padrões de normalidade. As consequências nutricionais após a ressecção dependem não só do comprimento, mas também das condições funcionais do intestino remanescente. Carla Barbosa Nonino, Ricardo Martins Borges, Luciana Pasquali, Julio Sergio Marquini Rev. Nutr., Campinas, 14 (3): 201-205, set/dez.,2001 Evolução clínica Após ressecções maciças do intestino delgado, a parte preservada sofre, com o tempo, mudanças adaptativas, tais como espessamento da parede, dilatação e diminuição da motilidade que resultam em progressiva diminuição da diarréia, esteatorréia e má absorção. Essas mudanças morfológicas e fisiológicas resultam em aumento no tempo do trânsito intestinal e consequente melhora na absorção dos nutrientes. Carla Barbosa Nonino, Ricardo Martins Borges, Luciana Pasquali, Julio Sergio Marquini Rev. Nutr., Campinas, 14 (3): 201-205, set/dez.,2001 Evolução clínica ¾ ¾ Tais adaptações transcorrem em três períodos distintos no pós-operatório: No primeiro, com até 3 meses de duração, há desequilíbrio hidroeletrolítico decorrente da diarréia intensa. Nesta fase, a nutrição deve ser feita exclusivamente por via parenteral, sendo que a reposição concomitante de líquidos e eletrólitos é de fundamental importância. O segundo, com duração de até 1 ano, corresponde ao período de adaptação no qual há estabilização da diarréia, permitindo o início da dieta por via oral. Evolução clínica No terceiro, a adaptação máxima é atingida e a dieta via oral é elaborada de maneira a oferecer todos os nutrientes necessários para manutenção de um bom estado nutricional. Carla Barbosa Nonino, Ricardo Martins Borges, Luciana Pasquali, Julio Sergio Marquini Rev. Nutr., Campinas, 14 (3): 201-205, set/dez.,2001 Evolução clínica Falência intestinal é definida como uma redução do funcionamento do intestino abaixo do mínimo necessário para uma adequada digestão e absorção dos nutrientes para atingir e manter normal o estado nutricional. Alguns pacientes com falência intestinal, com intestino remanescente muito pequeno ou aganglionose extensa, não podem alcançar autonomia intestinal satisfatória e tornam-se dependentes de NP. São considerados ter falência intestinal irreversível ou permanente, e são candidatos a transplante intestinal. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47:450-457 2008 Tratamento A principal meta no tratamento de pacientes pediátricos com SIC é obter um crescimento ótimo e isto requer que a NP seja rigorosamente monitorizada e ajustada. Vários estudos têm avaliado a taxa de crescimento de crianças com SIC e concluíram que é possível alcançar um crescimento normal sob suporte nutricional adequado. Matias Bruzoni, Debra L. Sudan, Robert A. Cusick e Jon S. Thompson Transplantation vol 86, N° 1, July 15, 2008 Tratamento Manejo médico deve focar a nutrição, que inclui monitorização do suprimento de calorias, micronutrientes, líquido e eletrólitos. Geralmente os pacientes requerem NP por um período de tempo que pode ser prolongado. A maioria pode alcançar com sucesso a transição para a nutrição enteral plena. O ‘gold-standard’ para o sucesso é o crescimento e a manutenção da função hepática normal quando a nutrição parenteral é completamente suspensa. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Tratamento Crianças com SIC geralmente requerem medicamentos para otimizar o tratamento. Hipersecreção ácido gástrica pode prejudicar a absorção de nutrientes e precipitar diarréia – um inibidor de bomba de prótons pode ser usado nesse caso. Loperamida, fibra, octreotide e colestiramina pode ser usado para o controle das fezes volumosas e líquidas. Em pacientes com exposição prolongada à NP, o ácido ursodeoxicólico pode acelerar a diminuição da colestase. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Tratamento Sobrecrescimento bacteriano do intestino delgado pode ser tratado com cursos de antibiótico enteral. Suplementação com vitaminas e minerais, especialmente vitaminas lipossolúveis A, D, E e K , é fundamental para a preservação do estado nutricional em crianças com SIC. A terapia mais importante para crianças com SIC e FI é a introdução precoce da nutrição enteral. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 47: S33-S36 2008 Tratamento Até o final da década de 60, praticamente todas as crianças com esta síndrome faleciam por impossibilidade de suporte nutricional adequado. A partir de 1968, com a descrição do primeiro caso de nutrição intravenosa por tempo prolongado em um recém-nascido com atresias intestinais múltiplas e consequente intestino curto congênito, passou-se a obter índices progressivamente maiores de sobrevida em crianças com esta afecção e outras disfunções intestinais graves. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento Em 1970, foi descrita pela primeira vez a possibilidade de utilização da nutrição parenteral prolongada no domicílio do paciente. Nos primeiros casos, as soluções nutrientes eram administradas através de shunts veno-arteriais, semelhantes aos utilizados para hemodiálise em pacientes com insuficiência renal crônica. Este programa terapêutico foi denominado “intestino artificial”. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento Durante a década de 70, alguns pacientes submetidos à ressecção total do intestino delgado, com anastomose do duodeno com o colon ascendente, puderam sobreviver por períodos prolongados de até cinco anos graças à utilização das fístulas veno-arteriais. Entretanto, verificou-se que a trombose dos shunts ocorria em todos os casos em virtude da alta osmolaridade das soluções infundidas, o que tornava inviável a continuidade do tratamento. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento A partir de 1976, começou-se a utilizar catéteres especiais de silicone introduzidos até o átrio direito, conhecidos como catéter de Broviac ou Hickman. Com o uso desses dispositivos foi possível a realização da terapêutica nutricional intravenosa por períodos de vários anos, com a possibilidade de tratamento no domicílio do paciente, o que constituiu um marco importante no tratamento de pacientes com síndrome do intestino curto. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento No Brasil, a nutrição parenteral domiciliar foi utilizada pela primeira vez em 1979, em criança submetida, com 24 horas de vida, à ressecção total de intestino delgado e ceco devido à necrose irreversível causada por volvo do intestino médio. Após período inicial de nutrição intravenosa em hospital durante 7 meses, a criança foi conduzida ao seu domicílio para continuidade do tratamento. Após este caso inicial, pode-se constatar os inquestionáveis benefícios da terapia nutricional domiciliar além do conforto propiciado aos familiares. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento ¾ ¾ Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP: Objetivo: apresentar a experiência no tratamento de pacientes com SIC, tratadas com nutrição parenteral domiciliar desde 1979 a 2004. Métodos: levantamento retrospectivo dos prontuários de 19 crianças com SIC tratadas inicialmente em hospital e a seguir no domicílio. Os períodos totais de nutrição parenteral variaram de quatro meses a quatro anos e meio. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento Todas as crianças foram selecionadas para suporte nutricional por via parenteral domiciliar, sempre que o comprimento do intestino ressecado correspondesse a mais de 75% do comprimento total da víscera. Das 19 crianças, 10 delas haviam sido submetidas à ressecção total do intestino delgado e ceco, com anastomose do duodeno com o colo ascendente, e três apresentavam menos de 20 cm de intestino delgado remanescentes. Nas seis crianças restantes os comprimentos de intestino delgado variaram entre 20 e 40 cm. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento No período inicial, ainda durante a internação hospitalar, as soluções foram administradas continuamente durante 24 horas do dia. A seguir, iniciou-se período de adaptação, com objetivo de se administrar o mesmo volume de solução em menor número de horas. As soluções passaram a ser administradas em períodos de 12 a 15 horas, sendo que meia hora antes do término da infusão o gotejamento foi paulatinamente diminuído até interrupção total, para se evitar risco de hipoglicemia. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento Os pais foram orientados quanto à manipulação de catéteres e soluções. No domicílio, as soluções foram administradas durante o período diurno ou noturno. As crianças com até 10 Kg receberam as soluções nutrientes em volume diário de 130 ml/kg peso, durante o período de tempo determinado. Crianças maiores recebiam volumes de solução que fossem suficientes para adequado ganho ponderal. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento As soluções preparadas em farmácias especializadas de manipulação, em condições técnicas de rigorosa assepsia, eram fornecidas aos pais uma ou duas vezes por semana. No domicílio, foram conservadas em geladeira comum, com temperatura em torno de 4°C. Mesmo as soluções completas, contendo inclusive lipídeos, puderam ser preparadas e estocadas em geladeira, por períodos de até 4 semanas. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50(3): 330-7 Tratamento As vitaminas lipossolúveis A e D, e B12, ausentes na solução padrão, foram fornecidas a cada mês - IM nas doses de 1400 e 400 unidades e 100 mcg respectivamente. A biotina foi fornecida a cada 2 ou 3 meses por via oral, sob forma de solução ou em misturas de multivitaminas formuladas especificamente para uso intravenoso. Controle clínico, no início deu-se a cada 2 dias e, a seguir, semanalmente ou de acordo com as necessidades de cada caso. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento ¾ o o o o Resultados: Tempo de nutrição parenteral: 1semana a 4 anos (mediana de 8 meses) Boa aceitação dos familiares e aderência a todos os procedimentos em 18 casos Uma criança permaneceu em NP por 18 meses, o tratamento em domicílio foi feito por apenas uma semana devido à falta de condições ambientais e familiares para execução do método Em todos os casos verificou-se ganho ponderal, crescimento e desenvolvimento satisfatórios Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento o o o As crianças submetidas à nutrição intravenosa no primeiro ano de vida, desde o período neonatal, apresentaram desenvolvimento neuro-psicomotor próximo ao normal. Complicações técnicas: obstruções do catéter por coágulos constituíram-se no problema mais frequente – pelo menos 2 a 6 vezes em cada caso. Infecções: segunda complicação mais encontrada – 2 a 4 episódios por criança. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento o Complicações metabólicas: todas as crianças apresentaram algum tipo de alteração hepato-celular durante o tratamento, representada por hepatomegalia, icterícia, aumento das transaminases e bilirrubinas; uma criança apresentou falência hepática aguda. Na maioria das vezes não foi possível determinar se estas alterações eram dependentes da nutrição parenteral ou de algum surto de infecção sistêmica ou no local do catéter. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento o o o A principal alteração nos níveis séricos dos eletrólitos foi desidratação hiponatrêmica, com ou sem hipocalemia, decorrente dos episódios de diarréia. Hipoglicemia devido à interrupção do fluxo da solução nutriente não foi observada. Em 3 crianças, após 4 meses de suporte nutricional exclusivo, verificou-se o aparecimento de lesões cutâneas e na comissura labial que regrediram após administração de biotina. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento o - - - Resultado final: 7 crianças (37%) sobreviveram e estão livres de tratamento, recebendo nutrição oral e sem necessidade de terapia intravenosa. Todas as crianças submetidas à ressecção total do intestino delgado faleceram. As complicações relacionadas com nutrição parenteral foram responsáveis por 12 óbitos: 9 por infecção sistêmica e 2 por embolia pulmonar maciça. Uma criança faleceu por complicação neurológica não esclarecida, dois meses após transplante duplo de intestino e fígado. Uenis Tannuri Rev Assoc Med Bras 2004; 50 (3):330-7 Tratamento Geralmente cirurgia é a terapia mais apropriada para realizar nutrição enteral total. Uma terapia cirúrgica comum são os dispositivos de alimentação: tubos de gastrostomia, jejunostomia. O principal objetivo desses tubos é a administração contínua de nutrição enteral. O alongamento intestinal longitudinal: divide simetricamente os segmentos dilatados do ID em partes longitudinais. O lúmen é recriado pela formação de 2 canais mais estreitos que são reaproximados um ao outro em séries, duplicando efetivamente o comprimento do lúmen intestinal. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Tratamento A técnica da enteroplastia transversa seriada (STEP) foi recentemente descrita. Vantagens: mais simples, não requer enterostomias, preserva a vascularização intestinal natural e pode ser aplicada para segmentos dilatados assimetricamente. O procedimento consiste em aplicação de grampos cirúrgicos perpendicularmente ao intestino sucessivamente, formando um zigue-zague. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Complicações ¾ - - “Irreversible Intestinal Failure: Prevalence and Prognostic Factors” Pacientes e métodos: Foram incluídos no estudo pacientes submetidos à NP, menores de 18 anos, diagnosticados entre janeiro de 1989 e dezembro de 2006. Todos foram admitidos na Unidade de Gastroenterologia e Nutrição do Bambino Gesù Children’s Hospital, onde estavam internados devido à doença primária associada com falência no crescimento e estado nutricional. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47:450-457 2008 Complicações - - Em todos, 218 pacientes, foram identificadas falência intestinal. Critérios de inclusão: doença intestinal primária necessitando de NP, fornecendo pelo menos 50% da energia total por não menos de 3 meses. Critério de exclusão: doenças oncológicas, deficiência imunológica primária ou secundária, causas extraintestinais estabelecidas e doença inflamatória intestinal. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47:450-457 2008 Complicações ¾ ¾ ¾ Os pacientes foram divididos em 3 grandes grupos: Síndrome do intestino curto (SIC) Anormalidades da motilidade (DM), incluindo aganglionose total e síndrome da pseudo-obstrução intestinal Diarréia protraída grave (DPG), definida como diarréia grave ocorrida dentro dos primeiros 2 anos de idade e requerendo NP Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47:450-457 2008 Complicações ¾ - Os dados coletados incluíam: Características demográficas (idade e sexo) Diagnóstico primário da falência intestinal Comprimento do intestino remanescente e persistência da válvula ileo-cecal nos pacientes com SIC Tipo de acesso vascular Dados do início da NP e do desmame Dados da causa do óbito Dados do transplante Complicações desenvolvidas durante a NP Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações - As seguintes complicações foram incluídas: Infecções relacionadas ao catéter Obstrução do catéter por coágulo diagnosticado por US doppler Complicações mecânicas do catéter Falência intestinal – associada com doença hepática (IFALD), definida como um valor de pelo menos 1,5 vezes o limite superior da normalidade em 2 de 3 medidas da função hepática: níveis de bilirrubina direta, FA e GGT persistentes por pelo menos 6 meses Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações ¾ - - Resultados: No final do estudo, 96 pacientes (61 meninos e 35 meninas), todos brancos, tinham o critério de inclusão e foram incluídos no estudo. 48 pacientes com SIC, 39 pacientes DPG e 9 pacientes com DM. Nos pacientes com SIC, o valor médio do comprimento de intestino delgado remanescente era 30 cm (1-100 cm). Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações - - Entre os pacientes com SIC, 59% (28) tinham intestino delgado residual menor que 40 cm e 61% (29) tinham válvula ileo-cecal preservada. Acesso vascular: 92% dos pacientes por catéter Broviac e 8% por porto.cath. No grupo SIC, 18 (38%) pacientes eram prematuros, com uma idade gestacional média de 34,6 semanas. A duração total da NP foi 71,0 dias. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações A taxa de sobrevida foi significativamente diferente nos pacientes com SIC (81%) em relação aos outros 2 grupos (70% na DPG, 71% no DM). Todos os óbitos na DPG ocorreram dentro do primeiro ano de vida. Diferenças significantes foram observadas também na porcentagem de pacientes dependentes definitivamente da NP: 10% (5) na SIC após 39 meses de tratamento, 9% (4) na DPG após 37 meses e 56% (5) no DM após 26 meses. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações A taxa de sobrevida foi de 100% nos pacientes cujo comprimento do intestino delgado remanescente era >40 cm e 74% em pacientes com intestino delgado remanescente <40 cm. O intestino delgado remanescente influencia significativamente a dependência da NP: nenhum paciente com ID remanescente > 40 cm foi dependente definitivo de NP, enquanto 18% dos pacientes com ID < 40 cm ficaram dependentes definitivos da NP após 39 meses de tratamento (p< 0,01). Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massino Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações Em relação à persistência da válvula ileocecal, nenhuma diferença significativa na taxa de sobrevida ou no desmame da NP foi encontrada entre pacientes com ou sem a válvula ileocecal. Em pacientes com SIC com válvula ileocecal, a taxa de sobrevida e a porcentagem de dependência da NP definitiva foi de 100% e 10%, respectivamente, após 33 meses de tratamento; nos pacientes com SIC sem válvula ileocecal, eles foram 92% e 17% após 40 meses de tratamento. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ Na atualização do estudo (Dezembro, 2006): 22 pacientes (23%) do grupo com falência intestinal ainda recebiam NP. 16 pacientes haviam falecido. 1 paciente (1%) foi submetido a transplante intestinal/hepático. 2 pacientes (2%) submetidos à transplante de Medula óssea. 55 pacientes ( 57%) tiveram a suspensão gradativa da NP dentro de 15 a 30 dias e tiveram a nutrição enteral aumentada de acordo com a tolerância digestiva e ganho de peso. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo Complicações Entre os 22 pacientes ainda recebendo NP, 10 tinham recebido NP domiciliar por mais de 4 anos e 4 por mais de 8 anos, e que podiam ser considerados com falência intestinal irreversível. Neste grupo, 1 paciente com enteropatia auto-imune, que tinha recebido NP por mais de 4 anos, estava na lista de espera para transplante de Medula óssea. Portanto, 9 desses pacientes podem ser considerados definitivamente dependentes de NP. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações Dois deles tinham SIC e ID residual < 20 cm sem válvula ileocecal. Os 6 restantes estavam no processo de desmame da NP. Portanto, no estudo, 15 dos 96 pacientes com falência intestinal foram afetados por falência intestinal irreversível; destes 7 tinham SIC, 3 tinham DPG e 5 tinham DM. NP forneceu pelo menos 75% da energia total em todos os pacientes com falência intestinal irreversível. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações Foi observado um total de 133 complicações (1,87/1000 CVC dias, média 0,08/paciente/ano). A prevalência de infecção relacionada ao catéter foi 0,84/1000 CVC dias, e colonização do catéter ocorreu em apenas 3 pacientes. Ocorreram 10 infecções fúngicas do catéter, sendo necessário a remoção do mesmo. A prevalência de trombose foi 0,25/1000 CVC dias. A prevalência de complicações mecânicas foi 0,42/1000 CVC dias. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações ¾ ¾ ¾ ¾ Falência intestinal associada à doença hepática (IFALD) foi vista em 25 de 96 pacientes (26%): 11 dos 25 pacientes (44%) se curaram da doença hepática enquanto continuavam recebendo a NP. 8 dos 25 pacientes (32%) faleceram. 1 dos 25 pacientes (4%) foi submetido à transplante combinado intestino delgado e fígado. 5 dos 25 pacientes (20%) ainda estão afetados pela doença hepática. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações Ao longo do tempo, todos os pacientes demonstraram esplenomegalia e 3 deles tiveram hipertensão portal diagnosticada por US e eco Doppler. Varizes de esôfago não ocorreu em nenhum paciente, mas 2 sofreram sangramento gástrico. Entre os pacientes com SIC, 19 apresentaram complicações hepáticas, com uma prevalência de IFALD significativamente maior do que nos 2 outros grupos. Antonella Diamanti, Maria Sole Basso, Massimo Castro, Vincenzo Di Ciommo JPGN 47: 450-457 2008 Complicações A Recommended Dietary Allowance (RDA) para magnésio varia entre 280 a 350 mg ou 23 a 30 mEq/dia. A absorção de magnésio ocorre através do trato gastrointestinal, mas principalmente no íleo e colon. Há evidência de que esse íon é secretado pelo duodeno. O transporte celular de magnésio ocorre através do mecanismo ativo e passivo e é inibido pelo cálcio, álcool, fosfato, fitatos e gorduras e estimulado pela vitamina D. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações - - Objetivo: avaliar a incidência de hipomagnesemia entre os pacientes com ressecção intestinal extensa e o seguimento durante a hospitalização e tratamento de sua deficiência. Métodos: 15 pacientes da Unidade Metabólica do Hospital Escola de Ribeirão Preto – USP foram avaliados retrospectivamente em relação aos níveis de magnésio. Todos foram submetidos à ressecção intestinal extensa (> 2 m) e o trânsito intestinal diminuído para menos que 10 minutos. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações - A causa da enterectomia em todos os pacientes foi isquemia intestinal, trombose ou embolia. - Os primeiros valores de níveis séricos de magnésio após a cirurgia, o seguimento dos níveis séricos durante a hospitalização e tratamento da deficiência foram analisados. - Para tratar a deficiência, pelo menos duas vezes os valores da RDA (23 a 30 mEq) foram administrados via intravenosa, isto é, 10 ml de sulfato de magnésio 20%. - O nível sérico de magnésio para indivíduos eutróficos é 1,5 a 2,5 mEq/l. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações - Resultados: Os valores de magnésio foram obtidos entre 21 a 180 dias após a cirurgia, média de 45 dias. Na primeira coleta, o magnésio variou de 0,85 a 2,17 mEq/l e foi baixo em 6 (40%) dos 15 pacientes. Dois pacientes (13,3%) tiveram os níveis plasmáticos de magnésio no limite inferior da normalidade. Não houve relação entre ressecção de colon e hipomagnesemia. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações Dos 8 pacientes que tinham magnesemia igual ou menor que o limite inferior, apenas 2 receberam suplemento quando o diagnóstico foi estabelecido. Durante a hospitalização com terapia de suporte nutricional, 10 dos 15 pacientes mostraram nível de magnésio abaixo do limite inferior em pelo menos 2 ocasiões. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações - - Discussão: O nível sérico de magnésio após grande ressecção intestinal pode afetar o tratamento dos pacientes e o seguimento. Hipomagnesemia pode ser encontrada apenas após cirurgia ou durante o seguimento dos pacientes. Uma sequência de baixos valores de magnésio sérico foi encontrada em 10 dos 15 pacientes. É importante reconhecer que a nutrição parenteral sozinha não explicaria a queda de magnésio sérico, já que o paciente recebeu a dose RDA. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações O controle nutricional do magnésio tem mostrado ser inadequado, levando os pacientes ao desbalanço de micronutrientes e suas consequências. Simone Chaves Miranda, Michelle L B Ribeiro, Eduardo Ferrioli Rev Paul Med 2000; 118(6): 169-72 Complicações Crianças com SIC apresentam um risco para deficiências de uma variedade de macro e micronutrientes e outras complicações como resultado da perda de área de superfície do intestino delgado. A quantidade e o local da perda intestinal na SIC geralmente definirá o grau de má absorção e a probabilidade de deficiência de nutrientes. A ressecção duodenal, por exemplo, pode resultar em deficiência de ferro e folato. Ressecções jejunais extensas podem levar a má absorção de carboidratos, proteínas e cálcio. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações O íleo terminal é o principal local de absorção da vitamina B12 e sais biliares. A má absorção de sais biliares pode apresentar-se com esteatorréia e deficiências de vitamina A, D, E e K. A ressecção ileocolônica pode predispor a problemas graves em virtude da perda da válvula ileocecal, resultando em aumento do risco de úlceras anastomóticas e sobrecrescimento bacteriano. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações O grau de má absorção de nutrientes na SIC é geralmente avaliada pela história e exame físico, incluindo avaliação dos parâmetros de crescimento. Crescimento somático normal geralmente implica em energia adequada e absorção de macronutrientes. Foi descrito um paciente com SIC que desenvolveu anemia ferropriva grave e deficiência de micronutrientes, apesar de crescimento normal, ingestão oral completa e ressecção ileal limitada. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações - - Case Report: Menina, 3 anos de idade com história de gastrosquise e dilatação intestinal diagnosticada por ultrassom perinatal. Nasceu de 37 semanas com peso de 3,450 gramas. Na cirurgia no período neonatal, foi encontrada atresia ileal concomitante. Ela foi submetida à reparo da gastrosquise, ressecção de 14 cm de íleo distal atrésico, incluindo a válvula ileocecal e realização de uma ileostomia. Débora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações - - O comprimento do intestino delgado residual medido no intraoperatório, do ligamento de Trietz até a ileostomia foi de 125 cm. Ela recebeu inicialmente NPT, desmamando da NP aos 3 meses de idade. Aos 4 meses foi submetida à abaixamento da ileostomia. Aos 4,2 meses recebeu alta hospitalar em nutrição oral total. Na primeira consulta aos 5 meses de idade, ela estava tolerando nutrição enteral (fórmula a base de aminoácidos), estava crescendo bem (peso p 25 e estatura p 50) e sem nenhuma evidência de deficiência de micronutrientes. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações - Entre os 5 e 36 meses de idade, ela cresceu bem, aproximadamente no percentil 50 de peso e 10 de estatura. - Não apresentava dor abdominal crônica, diarréia ou vômitos. - Não recebeu nenhum suplemento dietético nesse período. - Aos 3 anos de idade, apresentou-se com fatiga, palidez e redução da atividade. - O hábito intestinal ocorria 3 a 4 vezes ao dia. - Negava pica, hematúria ou hematêmese. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações Apetite preservado, alimentação adequada para idade. Exame físico: P = 13,2 Kg (p50) E =89,4 cm (p10). Foi observado palidez, sopro sistólico II/VI. Resultados dos exames laboratoriais. Complicações EED mostrou uma dilatação da porção distal do íleo próximo a anastomose com colon transverso sem evidência de obstrução intestinal. Complicações EDA e colonoscopia foram realizadas para tentar identificar a origem do sangramento. EDA sem alterações. Colonoscopia revelou várias ulcerações ao redor da anastomose ileocolônica com achados de biópsia normais acima e abaixo das úlceras. Foram prescritos vitamina B12 intramuscular e ferro elementar via oral (2 mg/ Kg/dia) e multivitamínico; antibióticos para o tratamento de sobrecrescimento bacteriano (metronidazol, amoxicilina-clavulanato) e sulfassalazina (300 mg 2x dia) para a úlcera anastomótica. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações Seis meses após, o paciente persistia com sangramento gastrointestinal. As deficiências múltiplas de micronutrientes (vitaminas A, E, e B12 e zinco) foram corrigidas, mas continuava com anemia ferropriva. Foi submetida à laparotomia exploradora. Foram identificadas úlceras, aproximadamente 10 cm proximais à anastomose ileocolônica. A anastomose ileocolônica foi dilatada e evidenciou estase crônica. A anastomose e as úlceras foram ressecadas. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações Exame histológico mostrou ulceração da mucosa do intestino delgado com alguma fibrose e metaplasia gástrica de criptas adjacentes à úlcera. A paciente foi submetida à reconstrução da anastomose ileocolônica. A paciente está bem recebendo suplementação oral diária de micronutrientes e vitamina B12 mensalmente. Este caso demonstra a importância da monitorização laboratorial e da necessidade de alto índice de suspeição na avaliação dos níveis de micronutrientes em pacientes com SIC. Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações ¾ ¾ ¾ Vários fatores podem causar deficiência de micronutrientes: Gastrosquise: predispõe a motilidade seriamente diminuida, levando a estase e sobrecrescimento bacteriano Ressecção ileocolônica com remoção da válvula ileocecal pode resultar em perda da barreira ileal, causando trânsito rápido através do intestino delgado Perda da válvula ileocecal pode também predispor a contaminação do ID, levando a contaminação com bactérias colônicas, sobrecrescimento bacteriano e úlcera de anastomose Debora Duro, Tom Jaksic, Christopher Duggan JPGN 46: 461-464 2008 Complicações As complicações mais importante da SIC relacionam-se à necessidade de NP. Doença hepática pode desenvolver-se, sendo caracterizada por esteatose, colestase e mesmo cirrose. NP tem sido aceita como principal terapia de suporte em crianças com falência intestinal por SIC, e a mortalidade devido à desidratação e desnutrição tem sido eliminada. Porém, essa terapia ‘salva-vidas’ tem trazido complicações agudas e crônicas, incluindo NPassociada à doença hepática (PNALD). Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Complicações PNALD ocorre em 40 a 60% das crianças recebendo curso prolongado de NP. Crianças com PNALD podem apresentar mudanças histológicas, incluindo fibrose e, eventualmente, cirrose. Dados recentes confirmaram que a doença hepática em pacientes recebendo NP está firmemente associada com a sobrevida; em um estudo com 78 crianças com SIC, o índice de sobrevida entre aqueles com colestase (BD>2 mg/dL), foi de 20% comparado com 80% entre aqueles sem colestase. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Complicações ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ Esses dados confirmam uma alta taxa de mortalidade entre crianças com SIC e doença hepática colestática impossibilitadas de desmamar da NP. Fatores de risco para o desenvolvimento de PNALD: Prematuridade Interrupção da circulação enterohepática de ácidos biliares Estase intestinal com consequente sobrecrescimento bacteriano Sepse relacionada ao catéter Ingestão excessiva de glicose levando a hiperinsulinismo Alta infusão parenteral de proteínas e gorduras Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Complicações - - Diagnóstico PNALD: função hepática, incluindo determinação das transaminases, bilirrubina, albumina e tempo de protrombina. O padrão-ouro: histopatológia do fígado. Manejos para a prevenção e tratamento de PNALD: Nutrição enteral precoce, redução da frequência e/ou duração da infusão da NP, técnicas assépticas no manejo do catéter para reduzir taxas de sepse Ácido ursodeoxycólico: melhorar o fluxo biliar e reduzir a estase biliar Transplante hepático e intestinal NP enriquecida com gordura omega-3 parece beneficiar crianças com PNALD Debora Duro, Daniel Kamin e Christopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Complicações 1) 2) 3) Há evidências de que os ácidos graxos omega-6 exercem um papel importante no desenvolvimento de PNALD e que o omega-3 pode melhorar esse efeito. Os efeitos benéficos da substituição de omega-6 por omega-3 são relacionados a 3 mecanismos maiores: A adição de omega-3 resulta em melhora do fluxo biliar Omega-3 resulta em redução da esteatose A adição de omega-3 muda o perfil eicosanóide para um menor estado inflamatório Como resultado final tem-se: redução da colestase, hepatite e fibrose. Ivan R. Diamond, Anca Sterescu, Paul B. Pencharz, Paul W. Wales Pediatr Surg Int (2008) 24: 773-778 Transplante intestinal É indicado quando a falência intestinal é considerada permanente e a administração da NPT resulta em complicações potencialmente fatais; definido como injúria hepática com hipertensão porta e disfunção sintética, múltiplas infecções sistêmicas, trombose de pelo menos duas veias centrais e/ou episódios frequentes de desidratação. Desde a implantação do transplante intestinal em 1980, os resultados posteriores estão sendo cada vez melhores. A média de sobrevida 1 ano após o transplante é 80%, em alguns centros esses valores chegam a 90%. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Transplante intestinal Como a NP é mais cara e a média de sobrevida em 5 anos pode ser menor que 60%, têm-se argumentado que o transplante deveria ser o tratamento preferencial para pacientes selecionados com FI permanente. Porém, como o transplante ainda acarreta morbidade e mortalidade significantes, os pacientes devem receber imunossupressão por toda a vida e a taxa de sobrevida em 5 anos ( média 50%) ainda é subótima. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Discussão SIC é uma complicação clínica e cirúrgica, com complicações potencialmente fatais. Exige uma equipe multidisciplinar que inclui nutricionistas, farmacêuticos, gastroenterologistas e cirurgiões. A identificação precoce dos pacientes com risco de se tornarem dependentes a longo-prazo de NP é o primeiro passo para evitar complicações graves. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008 Discussão Os resultados clínicos da SIC são influenciados por muitos fatores, incluindo comprimento do intestino remanescente, presença da válvula ileocecal, doença intestinal subjacente, idade do paciente, estado dos outros órgãos e sistemas e capacidade adaptativa do intestino remanescente. Alguns estudos concluíram que o comprimento mínimo do intestino remanescente necessário para adapatação intestinal completa é menor em pacientes pediátricos do que em adultos, sugerindo melhor adaptação intestinal em pacientes pediátricos. Matias Bruzoni, Debra L. Sudan, Robert A. Cusick e Jon S. Thompson Transplantation vol 86, N° 1, July 15, 2008 Discussão A monitorização cuidadosa do estado nutricional, introdução rápida e precoce da nutrição enteral e a prevenção agressiva, diagnóstico e tratamento das infecções como sepse por catéter venoso central e sobrecrescimento bacteriano podem melhorar significativamente o prognóstico. Transplante intestinal é um tratamento emergente que pode ser considerado quando a FI é irreversível e as crianças apresentam sérias complicações relacionadas à administração da NP. Debora Duro, Daniel Kamin, Chistopher Duggan JPGN 47: S33-S36 2008