O QUE SIGNIFICA A “CASA DO
TESOURO”?
Pr. Moisés Mattos
Quando eu era garoto, li a história de um grupo de cegos que tentou
descrever como era um elefante. Um deles após apalpar um lado
musculoso do elefante, chegou a conclusão que ele era como um muro. O
segundo cego após tocar nas pernas grossas e roliças, protestou dizendo:
“Não, o elefante tem uma forma diferente. Ele se parece com uma coluna.
”O terceiro abordou o elefante de uma outra forma. Após apalpar a tromba,
disse: ”vocês dois estão enganados, o elefante se parece com uma grande
cobra. ”E, assim cada um dos seis teve uma concepção diferente do
mesmo elefante.
Ás vezes, por desinformação ou por conhecerem apenas uma parte da
verdade, algumas pessoas agem como estes cegos, enfatizando um
aspecto das coisas em detrimento de outros.
Heresia não é apenas uma doutrina errada, mas pode ser também um
assunto ou doutrina em que é enfatizado somente um lado. Um dos
exemplos desta distorção é a interpretação de Malaquias 3:10 que diz:
”Trazei todos os dízimos á casa do tesouro, para que haja mantimento
minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos exércitos,
se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma
benção tal que não haja lugar suficiente para a recolherdes.”
A expressão “Casa do Tesouro” tem em nossos dias sido interpretada
como sendo a igreja local e onde os dízimos e ofertas devem ser
administrados e distribuídos.
Mas, o que realmente quer dizer a expressão” Casa do tesouro”, onde
Deus pediu para os israelitas trazerem os seus dízimos e ofertas? Estaria o
texto de Malaquias discutindo ou aprovando uma prática
congregacionalista de governo eclesiástico?
Vale lembrar que no congregacionalismo a igreja local é quem
administra o dinheiro doado pelos membros. Então seria o
congregacionalismo, segundo este texto, a melhor forma de governo?
Estaria o sistema democrático representativo da igreja Adventista contrário
ao texto de Malaquias 3:10?
Bem, em primeiro lugar temos que compreender o que significava a
expressão “Casa do Tesouro”.
Quando Salomão construiu o templo, várias salas ou câmaras foram
construídas para diversos fins(I Reis 6:5). Estas dependências, por
exemplo, eram usadas como abrigo para os cantores que apresentariam
suas músicas(Ezequiel 40:44). Os guardas ocupavam uma destas salas(I
Centro de Pesquisas Ellen G. White 1 Reis 14:18). Certa ocasião uma delas foi usada como esconderijo para
Joás(II Reis 11:2 e 3).
Uma destas salas era usada como o lugar onde o dízimo que não era
composto apenas de moedas, mas também de produtos agrícolas era
entregue e guardado. Neemias usa a expressão ”Casa do Tesouro” para
falar de uma destas câmaras ou salas onde eram depositados os dízimos
(ver Neemias 10:38). Uma espécie de tesouraria do templo. Portanto,
”Casa do Tesouro” é uma expressão para designar primariamente o
lugar(ou espaço) onde o dízimo deveria ser guardado.
Inclusive a famosa King James Version (KJV) traduziu a expressão de
Malaquias 3 como celeiro ou lugar onde cereais eram depositados, já que
grande parte dos dízimos vinha em grãos. É bom que se diga que o autor
não está discutindo quem deveria administrar o dízimo pois sobre isto Deus
já havia falado e instruído o povo.
Levar à “Casa do Tesouro” significa devolver o dízimo no lugar
designado. No caso da igreja adventista, á igreja a qual a pessoa é
membro ou freqüenta. Mas, a questão crucial de nossos dias não é esta.
Todos sabem onde levar o dízimo. A grande pergunta é: quem deve
administrar este dinheiro?
Precipitadamente alguns tem dito que a expressão ”Casa do Tesouro
”indica que a igreja local deve administrar os recursos do dízimo. Na
prática, porém, os que defendem esta aplicação do texto não estão
fazendo isto.
Quando dão o dízimo eles mesmos administram dentro do seu ponto de
vista, e sequer consultam a igreja local.
Temos que voltar á Bíblia para entender a questão da distribuição do
dízimo.
Em Gênesis 14:20 lemos que Abraão entregou o dízimo a
Melquisedeque que era não apenas o rei, mas também sacerdote do
Senhor. O ato de Abraão revela que o receptor do dízimo deve ser alguém
separado por Deus para uma tarefa santa. Abraão obedeceu (e note bem,
ele poderia usar o dízimo para o que quisesse, mas não o fez.
Ele cria no plano de Deus) e deu o dízimo a quem de direito.
No sistema israelita Deus estabeleceu regras ainda claras a respeito do
dízimo. O dízimo foi dado aos levitas como herança e deveria ser
administrado por eles(Números 18:21 a 32). Tanto é que o doador não
podia manipular a décima parte. A pessoa não devia separar o bom do
defeituoso ou fazer qualquer substituição (Levítico 27:33).Por exemplo um
rebanho o décimo animal que passasse sob o cajado do pastor pertencia
ao Senhor, não importando sua condição. O israelita também não dava
Centro de Pesquisas Ellen G. White 2 seus dízimos para simplesmente “pagar” o salário dos levitas. O dízimo era
na verdade não ofertas para os levitas, “mas para o senhor”(Números
18:26).
Esta verdade é reforçada em Malaquias 3:8 quando Deus disse: “… vós
me roubais”. O roubo não é contra os levitas ou sacerdotes, mas contra
Deus.
Tendo isto como base, o dízimo era uma oferta para o Senhor a qual
Ele deu para o sustento e administração dos levitas e o sacerdócio. E um
aspecto que tem sido ignorado é que este ministério Levítico era global, ou
uma corporação. Não eram células isoladas (congregações independentes)
mas um corpo. O centro administrativo da região de Israel estava no
templo. Eles eram o que hoje chamamos de administração da igreja. Esta
centralização no templo permitia que dali saísse o sustento necessário
para os homens que faziam a obra de Deus naquela época.
Ninguém trabalhava independentemente do todo. Reiteradas vezes o
Velho Testamento fala de Israel como um povo. Então surge uma
dúvida…E, o Novo Testamento conceberia uma idéia da igreja local
administrar todos os recursos do Senhor?
Os advogados do congregacionalismo defendem que o sistema de
governo do Novo Testamento é congregacional. Uma leitura atenta do
texto bíblico nos permite ver que as coisas não são bem assim.
Considerando que a igreja ainda estava iniciando, e portanto alguns
passos na organização ainda deviam ser dados; vamos tomar 2 exemplos:
o concílio de Jerusalém é o primeiro deles (Atos15). Neste concílio as
decisões não foram tomadas por uma pessoa ou congregação local, mas
por representantes da igreja, que neste caso eram os apóstolos e os
anciãos (Atos 15:6). Temos aqui um caso semelhante ao sistema de
democracia representativa. O concílio de Jerusalém reflete que as tomadas
de decisão foram feitas por uma liderança internacional e interdistrital
(comparar Atos 15:6 com Atos 16:4 e 5).
O outro exemplo é o do apóstolo Paulo, um evangelista e plantador de
igrejas em várias cidades. Ele sempre que podia voltava àquelas
congregações ou deixava alguém para trabalhar ali sob a supervisão.
Havia entre estes líderes e igrejas um trabalho harmônico.
Paulo era uma espécie de presidente de campo. As igrejas não
decidiam tudo sozinhas. Mesmo empiricamente se percebe que havia uma
organização central que dirigia a obra naquela região do mundo (Tito 1:5; II
Timóteo 4:5; Tito 2:15).
Em I coríntios 16:1-3 temos o desafio de Paulo para os membros da
igreja separarem suas ofertas para os pobres da judéia. Ele pessoalmente
passaria para pegar este dinheiro e usá-lo para atender necessidades.
Centro de Pesquisas Ellen G. White 3 Os que questionam a distribuição e administração dos dízimos pela
associação( por exemplo) tem grande dificuldade com este texto. Porque
Paulo não deixou que cada igreja administrasse este dinheiro? Uma
pergunta para se pensar…
É claro que as igrejas locais devem ter dinheiro para fazer face ás suas
despesas.
Mas, deveriam eles usar todo o dinheiro e esquecer da missão mundial
que a igreja tem?
A raiz do problema
Na verdade, a raiz do problema de alguns não é teologia, mas pessoal
e ás vezes administrativa.
Os que defendem a idéia de que a igreja local ou eles mesmos devam
administrar e distribuir todo o dízimo estão amparados muito mais em
idéias pessoais e textos distorcidos do que no” Assim disse o Senhor”.
Alguns trazem uma certa revolta por causa do erro de um outro pastor
ou administrador, e então tentem fazer a Bíblia concordar com sua idéias
pessoais. Não misturar as coisas. Se alguém na organização erra na
aplicação do dízimo deve ser corrigido e deve arcar com as
conseqüências. Mas, jamais devemos usar este precedente para
desistimular a devolução da aparte pertencente a Deus e que deve ser
usada no ministério evangélico.
O sistema adventista é o mais justo e equilibrado, pois permite á igreja
pensar de forma global nas necessidades da pregação do evangelho. Ás
vezes temos a tendência egoísta de olharmos apenas para nossa
congregação e nos esquecemos que o novo Testamento concebe a igreja
como um corpo(I coríntios 12:13). E como um corpo ela deve ser dirigida.
Primeiramente por Cristo e depois pelos homens e mulheres que ele
escolheu.
Aqueles que tem dúvidas sobre a eficácia deste método deveriam
conhecer um pouco mais sobre os problemas de igrejas congregacionais, e
verão que a crítica feita ao movimento adventista na maioria das vezes é
infundada. Todavia se há algum desvio na igreja ele deve ser corrigido
confirme manda a palavra de Deus.
Com amor, mansidão e de acordo com o Espírito de Cristo é que as
coisas se resolvem( Gálatas 6:1 a 4). Acima de tudo é bom conhecer
profundamente o que diz a Bíblia e o Espírito de Profecia e como funciona
a igreja para então emitir opiniões.
Centro de Pesquisas Ellen G. White 4 
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