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Sábado, 22 de Novembro de 2003
Questão cultural
Alberto Gaspar
Manter a Grande São Paulo abastecida está mais ou menos planejado até
2010.
Depois, “precisamos acessar novos mananciais, porque estamos praticamente
chegando no limite de exploração dos mananciais próximos da região
metropolitana”, alerta Antônio Marsiglia Netto, diretor de produção da Sabesp.
As possibilidades mais citadas são buscar água no próprio Tietê, 240
quilômetros adiante – altura em que o rio já se encontra livre do pior da
poluição.
Ou no Rio São Lourenço, no Vale do Ribeira. A distância é menor – 70
quilômetros, mas há um desnível de 700 metros a vencer. Nos dois casos, o
maior problema é o custo.
Aldo Rebouças, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA),
acredita que operações como essa são inviáveis. E prevê: “Água vai custar
muito caro”.
A água pode acabar consumindo 20% do orçamento das famílias, calcula o
estudioso.
”Teremos que mudar o nosso comportamento. Na Califórnia, é proibido lavar
carro. Você paga mil dólares de multa”, exemplifica.
O pesquisador defende que essas multas sejam aplicadas no Brasil e dá mais
um exemplo de economia de água: “você não pode fazer um xixizinho na
Alemanha e apertar a descarga. Só no terceiro xixi é que ele funciona”.
”Até o banho coletivo é economia de água”, diz.
Há quem possa torcer o nariz para o banho coletivo e repudie a idéia de ignorar
a descarga duas vezes antes dela funcionar. Rebouças defende que as idéias
são ótimas, “desde que haja uma mudança de cultura”.
Falando em comportamento, que tal usar água de beber, tratada, valiosa, pra
regar gramados, jardins? Ou pior: pra lavar a rua depois da feira livre?
É claro que não faz sentido. E é aí – ainda bem – que aparece uma palavra
que vamos ouvir cada vez mais nos próximos anos: reúso.
Esgoto tratado - 67% dos esgotos de São Paulo são tratados. O preço, menos
de um décimo do cobrado pela água potável.
O resultado é uma água imprópria para beber, mas suficientemente limpa para
ser útil de novo. Ela já é aproveitada pelas prefeituras da capital e de outras
quatro cidades da região metropolitana. Mas a maior parte desse recurso
continua sendo jogada nos rios.
Ivanildo Hespanhol, professor da USP, resume o problema da água em dois
tópicos: “em termos de gestão de recursos hídricos hoje as duas palavraschave são conservação e reuso”.
Autoridade mundial no assunto e criador de um laboratório especializado, na
USP, o professor costuma citar o caso dos produtores de vinho do Chile.
Num ano de pouca água no degelo dos Andes, eles precisaram usar esgoto
Al Araguaia, 4001 – Tamboré – Barueri – SP – CEP 06455-000
Tel 11 2198 2200 – Email: [email protected] – Site: www.tecitec.com.br
para irrigar as vinhas e descobriram que era bem melhor. Economizaram em
fertilizantes artificiais.
”Eles levam matéria orgânica, que melhora a capacidade de retenção do solo,
levam húmus, nutrientes”, justifica.
Reúso na indústria. Esta metalúrgica usa muita água e muita química na
preparação das peças. Mas tem uma estação de tratamento. E reaproveita
parte da água na própria produção. E até nos banheiros dos operários.
O metalúrgico João Manoel tem certeza de que “é bom pra gente que trabalha
aqui. E pra toda comunidade”.
Tecnologia não falta, até para transformar água barrenta em potável. A miniestação custa quinze mil reais e tem muitas aplicações possíveis.
Nilson Queirós, empresário, cita algumas: “pequenas comunidades, escolas,
hospitais, condomínios...”
Aqui se usam raios ultravioleta e a chamada osmose reversa. Um espécie de
superfiltragem, com membranas tão finas que retêm até bactérias, e podem
fazer doce a água salgada, como já acontece em desérticos países do Oriente
Médio.
O custo dessa tecnologia ainda é impensável, dentro dos padrões brasileiros.
Mas não será sempre assim, e essa é a grande aposta para o futuro.
O professor Hespanhol acredita que essa técnica “vai livrar a humanidade da
falta de água porque vamos ter um potencial muito grande da água do mar”.
Por enquanto, o lógico é aproveitar bem, reusar, respeitar, cuidar da água
naturalmente doce. Esforço individual e coletivo.
Até para empurrar para frente, o máximo possível, soluções muito mais
complicadas do que esta. A grande metrópole, com tantas outras necessidades
urgentes, agradece.
Al Araguaia, 4001 – Tamboré – Barueri – SP – CEP 06455-000
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Questão cultural - TV Globo