A PRESENÇA DO LIRISMO EM TEXTOS POÉTICOS CONTEMPORÂNEOS Leia e ouça, com atenção, a letra da música que se segue e o texto bíblico que vem logo depois, e procure desenvolver as questões propostas. Já esclarecemos, de antemão, que a letra da música foi escrita pelo músico e poeta Renato Russo, e dialoga diretamente com uma poesia lírica de Luís Vaz de Camões (que consta do material do aluno, p.275) e com um texto bíblico de São Paulo aos Coríntios, capítulo 13, reproduzido logo em seguida. A isso chamamos de “intertextualidade”: a criação de um texto a partir de um outro texto já existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela é inserida, mas de todo modo, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento do mundo" que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. Após o conhecimento desses fatos e do reconhecimento das obras citadas como referências para o poeta, você estará pronto para encarar as questões que estão apresentadas ao fim desta atividade. TEXTO 1 Monte Castelo (Renato Russo) Ainda que eu falasse a língua dos homens, E falasse a língua dos anjos, sem amor, eu nada seria. É só o amor, é só o amor Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal Não sente inveja ou se envaidece. O amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer (...) É um querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder. (Disponível em: http://www.letras.mus.br/renato-russo/176305) TEXTO 2 Coríntios 13 1- Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o símbalo que retine. (...) 4- O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5- não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; 6- não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; 7- tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (A Bíblia Sagrada. Sociedade Bíblica do Brasil, 1993, 1152 p.) QUESTÃO 1: O que você encontrou de semelhante e diferente, em termos de formato textual, entre a obra de Camões (material do aluno, p.275), a obra do músico Renato Russo (Monte Castelo) e o texto bíblico citado? QUESTÃO 2: Ainda sobre o formato dos textos, observamos que o lirismo de Camões revela uma visão platônica do mundo e do amor, ou seja, uma visão distanciada, que trava uma luta constante entre o amor espiritual e o amor carnal. O que poderíamos destacar a respeito da visão do músico Renato Russo sobre o mundo e o amor? É parecida com a do poeta português? QUESTÃO 3: Os versos camonianos formam um tipo específico de poema chamado soneto, que tem um esquema de estrofes de rimas previamente estabelecido. Os versos de Monte Castelo obedecem ao mesmo formato geral? Há rimas? Localize-as. QUESTÃO 4: Ao lermos o poema de Camões (material do aluno, pp. 275- 276), observamos a presença de duas figuras de linguagem, a saber: a assonância (repetição de vogais nas palavras) e a aliteração (repetição de consoantes no início de cada verso). Relendo os versos seguintes, de Renato Russo, procure identificá-las. É um querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É um não contentar-se de contente É cuidar que se ganha em se perder.