REVISTA do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA | Ano 2 | Edição 3 | Julho de 2007 | www.metodistadosul.edu.br/sites/universoipa Um porto turismo | Projeto de revitalização do Cais ................. 23 mais alegre 5 ...................................................................................................... Adoção | cidadania moda | O rei das botas . ................................................. 12 comportamento | Nas cores do arco-íris ................. 33 Carta ao Sumário ed i tor ed i tor i a l i al leitor Entrevista | A voz de um contador de histórias ........................................... 3 OBRA ABERTA EM CONSTRUÇÃO Tempos pós-modernos. Tempos tumultuados. O primeiro semestre do ano de 2007 marcou um período de turbulências em diversas áreas, novos escândalos políticos, o fim da era ACM, caos aéreo e a maior tragédia da história da aviação brasileira. O tempo acelerou e a incerteza é uma constante. O relógio não mais acompanha o ritmo da história. Cada vez mais, somos desafiados a conviver com mudanças no percurso por vezes planejado. A produção desta revista insere-se no complexo contexto pós-moderno. Cronograma seguido, teve de submeter-se a ajustes de orçamento, em função de um tumultuado semestre do ponto de vista financeiro institucional. Mas, como parte importante do projeto pedagógico do nosso curso, fundamental na formação de futuros jornalistas, aqui está - impressa em cores e nuances de preto no papel e totalmente em cores na versão on line - pronta para a crítica dos leitores. Após justas reivindicações dos estudantes, aqui está o fruto do trabalho produzido em sala de aula. Certamente há muito a melhorar. Afinal, jornalismo é “obra aberta”, no sentido semiótico da expressão, cunhado por Umberto Eco. Também é suor, trabalho em equipe, busca de unidade. Nosso projeto de curso evidencia tais características, ao integrar teoria e prática desde o início. Um projeto difícil de ser colocado em ação, mas que estamos conseguindo dar corpo, semestre a semestre, no esforço de um grupo de docentes e com a participação fundamental de nossos estudantes. Compartilho com alguns colegas o orgulho de ver esta publicação de estudantes do segundo semestre circulando de mão em mão. Agradecimentos sinceros à professora Ana Megiolaro, que enfrentou com dignidade e competência os desafios do semestre, e ao professor José Peixe, que nestes meses de convivência conosco tem trazido sua experiência de jornalismo além-mar. Não poderíamos deixar de reconhecer, igualmente, o esforço de todos os demais professores e professoras do semestre e dos alunos-funcionários Ismael e Carlos, que muito colaboraram na finalização desta revista. Para a turma que produziu a revista, que venha o rádio, nova/velha mídia a ser desvendada. À turma que virá no próximo semestre, o desafio da superação constante. A todos os demais alunos e à nossa comunidade, uma boa leitura e um semestre de paz, mesmo em tempos complexos. PS: Este editorial é uma singela homenagem à professora Valdemarina Bidone, falecida no desastre aéreo do vôo 3054 da TAM, que me auxiliou na compreensão da complexidade do mundo pós-moderno. Universo IPA | Julho 2007 Profa. MSc. Laura Glüer | Jornalista – registro prof. 5351 Coordenadora do curso de Comunicação Social – Jornalismo cidadania | Adoção .................................................................................................................................... 5 literatura | Ler é a maior viagem ...................................................................................... 8 literatura | Poesia, narrativa, popular, impressa... ............................... 10 moda | O rei das botas .................................................................................................................................... 12 esporte | O segundo esporte mais praticado no Estado ................... 14 esporte | Surf feminino .......................................................................................................................... 15 esporte | A nova casa tricolor ....................................................................................................... 18 geral | Um abraço vale a pena?........................................................................................................ 20 Japão invade Porto Alegre ............................................................................................... 21 costumes | Os sete pecados capitais .......................................................................... 22 turismo | Um porto mais alegre ............................................................................................. 23 turismo | Porto Alegre é que tem... .................................................................................... 26 turismo | Nova Zelândia ...................................................................................................................... 27 turismo | Turismo nos Pampas ................................................................................................. 30 comportamento | Nas cores do arco-íris ........................................ 33 comportamento | A magia da peruca ................................................ 36 hobby | Radares ambulantes ............................................................................................................... 38 profissão | A difícil vida das mulheres de “vida fácil” ........................ 40 cultura | As novas drogas sintéticas ............................................................................... 42 cultura | O brasileiro que grita Japão ........................................................................... 44 cultura | Lost da rede ............................................................................................................................ 46 IPA - INSTITUTO PORTO ALEGRE DA IGREJA METODISTA conselho diretor: Presidente, Laan Mendes de Barros; Vice-presidente, Ricardo Hidetoshi Watanabe • secretária: Márcia Flori Maciel de Oliveira Canan conselheiros: Vilmar Pontes da Fonseca e Maria Flávia Kovalski centro universitário metodista ipa • reitora: Adriana Menelli de Oliveira • pró-reitor acadêmico: Francisco Cetrulo Neto revista elaborada pelos estudantes do 2º semestre do curso de jornalismo IPA coordenação de curso: Laura Glüer • professsores(as): A na Paula Megiolaro, José Peixe, Lisete Ghiggi, Maria Cristina Vinas, Michele Boff e Rogério Soares editores chefes: Ana Paula Megiolaro e José Peixe • diagramação: Turmas do 2º semestre noturno do curso de Jornalismo IPA revisão: Ana Paula Megiolaro, José Peixe e Laura Glüer • foto de capa: José Peixe • arte de capa: Carlos Tiburski ajor - agência experimental de jornalismo IPA • finalização e montagem (arte-final): Carlos Tiburski • distribuição: Leonardo Ferreira e Thays Leães | [email protected] • impressão: Editora Pallotti (1.000 exemplares) contato: Rua Dr. Lauro de Oliveira, 71 - Rio Branco - POA/RS - 51 3316.1269 ANA PAULA RODRIGUES Escritor, apresentador, membro da ABI (Associação uma breve passagem pelo sbt, retornou a Rede Globo Brasileira de Imprensa ) e jornalista há 42 anos, Domin- onde apresenta, desde agosto de 2000, o programa Li- gos Meirelles é um profissional de um currículo invejá- nha Direta líder de audiência no horário. vel. Ao longo da carreira iniciada em 1965, no jornal Para conversar com os admiradores do seu traba- Última Hora, Meirelles esteve nas redações de grandes lho e autografar uma de suas obras “1930 - Os Órfãos jornais e revistas do país. Iniciou seu trabalho na TV, em da Revolução“, o jornalista Domingos Meirelles esteve 1985, como repórter especial de programas como Fan- em Porto Alegre no mês de maio e conversou com o tástico, Globo Repórter e Jornal Nacional. Depois de Universo IPA. Universo IPA - Depois de tantos anos dedicados ao jornalismo, você está desiludido com a profissão? Domingos Meirelles - Não estou desencantado com o jornalismo, mas depois de 42 anos de profissão, reconheço que me tornei mais severo no julgamento dos companheiros que exercem este ofício. Sou extremamente impiedoso diante da fraude, da mentira e da mistificação. Não tolero mais a incompetência, o descaso, a preguiça e a falta de compromisso que permeia atualmente a profissão. entrev ista contador de histórias E ntr evi sta A voz de um Fotos: Ana Paula Rodrigues Universo IPA - O que o levou a fazer jornalismo no Última Hora? DM - O golpe de 1964 foi decisivo para que escolhesse essa profissão. Fiquei chocado, como cidadão comum, diante das violências cometidas pelos militares: prisões em massa de pessoas inocentes, acusadas de subversão, aposentadorias compulsórias de médicos, cientistas, juízes e professores. Nem de longe se imaginava a tormenta que viria, anos depois, com o AI-5. Mas o caráter odiento das perseguições ocorridas, nos primeiros meses, foi suficiente para que me sentisse no dever de rea- Universo IPA | Julho 2007 Universo IPA - O que faz falta no jornalismo? DM - Paixão, além de um sincero desejo de servir ao próximo, de se colocar no lugar do outro. Como diz mestre Hélio Fernandes, exercer o jornalismo sem paixão é o mesmo que trabalhar em um armazém de secos e molhados. Um ambiente sem vida, onde o único compromisso é com a caixa registradora. entrev E ntr evi staista “(...)não vejo com apreensão o surgimento de uma nova rede pública de televisão”. Universo IPA - O que o Sr. acha do governo Lula ter um canal de televisão? DM - Sou favorável à democratização do conhecimento e da informação e não vejo com apreensão o surgimento de uma nova rede pública de televisão, desde que atenda aos legítimos interesses da sociedade brasileira. Universo IPA - O que se deve fazer para terminar com o consumo do tele-lixo? DM - Esse tipo de consumo reflete o grau de indigência intelectual de boa parte da sociedade brasileira. A televisão é apenas um espelho dessa triste realidade. Universo IPA - Qual as medidas devem ser adotadas para com a violência e o crime no Brasil? DM - O Brasil é um país extremamente injusto com seus filhos. Temos uma democracia formal e ostentamos uma das maiores concentrações de renda do mundo. O desempenho do PIB brasileiro, em 2006, só conseguiu superar o do Haiti, entre as nações latino-americanas. Nosso alardeado desenvolvimento econômico conseguiu ficar atrás até do Paraguai, apesar do presidente Lula garantir que o país nunca cresceu tanto desde a Proclamação da República. Universo IPA | Julho 2007 Universo IPA - O que deve ser feito para salvar a Amazônia? DM - Obrigar o país a honrar os compromissos assumidos em defesa do meio-ambiente, abandonando de vez a política do fazde-conta. gir contra aquele quadro de violência e opressão. Eu era apenas um jovem vendedor de máquinas de escrever. Na época, o único jornal que combatia a ditadura era a velha Última Hora, da Praça da Bandeira. Numa tarde acalorada de março de 1965, subi os degraus de madeira daquele prédio pintado de azul e branco e pedi emprego como repórter. A partir desse dia, minha vida nunca mais seria a mesma. Universo IPA - O Sr. conhece bem a situação do continente Sul Americano, acredita no Mercosul? DM - Acho que o Mercosul enfrenta dificuldades episódicas que se dissolverão com o tempo diante das extraordinárias possibilidades que oferece de integração e desenvolvimento Universo IPA - No seu entender qual deverá ser o papel do Brasil no futuro Mercosul? DM - A posição do Brasil pela sua expressão política e econômica será a de assumir naturalmente a liderança desse bloco de nações. Universo IPA - Esta satisfeito com o governo Lula? DM - A história será extremamente impiedosa na avaliação do seu governo. Universo IPA - Esta na hora de terminar com a guerra no Iraque? Por quê? DM - A guerra do Iraque está apenas começando... Universo IPA - O Sr. mencionou em entrevista que o desemprego é a maior violência no Brasil, o que necessita ser feito para mudar isso? DM - O direito ao trabalho é um direito inalienável do ser humano. O desemprego desestrutura a família, humilha o homem dian te dos seus dependentes, esgarça o tecido so cial e desencadeia uma sucessão de violências. O mundo vive hoje um novo tipo de darwinismo, onde os interesses do capital se sobrepõem aos da própria sociedade. c i da da ni a c i dadani a Tássia Jaeger Adoção “fazer o bem sem olhar a quem” Logo que se casaram, Maria Rosi Marques Prigol e seu marido Gilberto decidiram adotar uma criança. Sempre fizeram planos de ter dois filhos biológicos e um adotivo. Os planos se concretizaram. Assim como eles, diversos homens, mulheres e casais sonham em adotar. O problema é que, muitas vezes, os pais idealizam uma criança que nem sempre corresponde ao perfil das que estão disponíveis para adoção. Prigol procurava uma criança com até três anos de idade, não importando o sexo e a cor. Se tivesse irmãos, adotaria até dois. Em março de 2006, entrou na fila de adoção, mas não esperou somente pela justiça. Espalhou a intenção de adotar “aos quatro ventos” e assim ficou sabendo da breve chegada de Gabriel, hoje com 1 ano. Ela conheceu a mãe biológica do menino um mês antes do nascimento dele. A jovem tinha 21 anos, se drogava e se prostituía. Gabriel foi o quinto filho que ela deu. Prigol acompanhou o último dia da gestação do bebê, que saiu do hospital já nos braços da nova mãe. “Nem tocar nele ela tocou. Ele não foi amamentado por ela nenhuma vez”, relembra. No caso de Prigol, não havia muitas preferências em relação à criança que adotaria, porém a maioria dos candidatos a pais as tem. Grande parte deseja adotar bebês, preferencialmente brancos e meninas. Essa busca pelo perfil ideal acaba gerando a demora, muitas vezes, vista como burocracia, pois não há muitos bebês disponíveis. “Tem muito mais gente querendo adotar do que criança apta a ser adotada”, explica o juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude, José Antônio Daltoé Cezar. De acordo com a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), há aproximadamente 3,9 mil candidatos a pais no Estado para 616 crianças e adolescentes, sendo 326 meninos e 290 meninas. Mesmo tendo maior número de candidatos a pais do que crianças, muitas não são adotadas porque não correspondem ao perfil procurado. A psicóloga Paula Melissa Cunha Tosta acredita que para mudar esse quadro é necessário que os candidatos a pais se informem mais sobre a realidade das crianças disponíveis, para tentarem reformular a opinião que tem sobre adoção. Para ela, não é sempre o preconceito que faz com que a maioria dos pais opte pelo mesmo perfil de crianças, mas sim a desinformação. “Se fosse preconceito elas (as pessoas) seriam mais resistentes”, acredita ela. Universo IPA | Julho 2007 Tássia Jaeger i dadani c icda da ni a a Apoio mais dificuldade de se relacionar com outras pessoas, podendo inclusive gerar situÉ justamente para informar que existe ações de violência. “Não digo que todos o Instituto Amigos de Lucas (IAL), um gruterão esse destino, mas a falta de vínculos, po de apoio à adoção que existe desde de referências, o facilita”, esclarece. Algorta 1998. Seu objetivo é orientar as pessoas paacredita que todos têm seqüelas de abanra uma possível adoção, tirando dúvidas e dono, pois no abrigo são muitos para semostrando a realidade das crianças disporem cuidados, ficando um pouco ausente níveis para adotar. aquele apoio que toNo encontro do “Tem muito mais gente dos precisam de seus grupo, que acontece pais. “Quando tem alquerendo adotar no primeiro sábado de guém olhando por do que criança cada mês, às 9h, no Saeles há uma mudança lão da Igreja São Pedro, radical nas crianças”, apta a ser adotada”. em Porto Alegre, é fala Algorta referindopossível conhecer a diversidade de pessoas se à crianças com pais. que desejam adotar. Tem mãe solteira, pai O juiz Daltoé discorda de Tosta: “O fasolteiro, casal que já adotou e quer mais, to de eles serem abandonados os torna casais sem filhos, entre outros. Durante o vítimas, isso não siginifica que vão ser inencontro, é possível ver que a preferência fratores”. dos candidatos a pais pelas crianças é quase sempre por crianças até 3 anos, brancas e meninas. No entanto, os palestrantes não cansam de explicar que a busca pela crianFoi justamente para sensibilizar a socieça ideal nem sempre é tão facil assim. Indade sobre esse problema, que a Ajuris junclusive, questionam as pessoas sobre essa to à Associação de Magistrados Brasileiros escolha. Afinal, se a criança saísse de seu (AMB) lançou, em junho, a campanha “Muventre, seria possível você escolher como de um Destino”. A finalidade é incentivar a ela seria, se nasceria sem problemas neuroadoção de crianças em abrigos estaduais e lógicos ou físicos e do sexo desejado? mostrar que crianças soropositivas e com Esse é um dos motivos que leva o juiz deficiências podem levar uma vida praticaDaltoé a acreditar que deva ser mais trabamente normal se receberem a atenção de lhada a questão das crianças portadoras de que precisam. HIV, com deficiência física ou mental e perExistem também outras formas de intencentes a grupos de irmãos. Para ele, escentivo à adoção, através de programas. tas crianças necessitam de uma atenção Um deles é o apadrinhamento afetivo, onde especial, que nem sempre existe em abrios padrinhos visitam seu afilhado no abrigos. Além disso, raramente, essas crianças go, comemoram seu aniversário, fazem são aceitas pelos candidatos a pais na hora passeios nos finais de semana e em datas de escolher o futuro filho. festivas, orientam seus estudos, etc. O apadrinhamento financeiro, por sua vez, é promovido por diversas organizações visando levar alimentos, bolsa de estudo e assistênApesar das tentativas de expandir o lecia médica às crianças e seus familiares. E o que de opções dos pais na hora da escolha Família Guardiã tem como objetivo fornepor um filho, ainda há muitas crianças à escer uma família substituta para crianças pera de uma família. Ana Cristina Algorta, cujos pais estejam impedidos de conviver presidente do IAL lacom seus filhos, evimenta: “Mesmo tentando ou interrom“O perfil de criança tando mudar o perfil a sua instituciodesejado nem sempre pendo das pessoas que quenalização em abrigos corresponde ao rem adotar, nos abricoletivos. gos continuam muitas Também visando disponível para adoção”. crianças que passam o incentivo à adoção, toda a sua vida, até os 18 anos”. uma lei vigente (3.069/2002) de autoria do Essa permanência por um período de vereador Armando Azambuja, de Viamão, tempo excessivo das crianças dentro de isenta do pagamento de IPTU e TSU os conabrigos pode gerar alguns problemas. De tribuintes viamonenses que adotam legalacordo com Tosta, o adolescente que passa mente crianças carentes, ou que já tenha todo esse período de sua vida dentro de adotado. A isenção é limitada a um imóvel, um abrigo, sem vínculos familiares, se torna da qual deverá ser, necessariamente, o um adulto sem referências de família com mesmo onde resida a criança adotada. Incentivo Universo IPA | Julho 2007 Abrigados Saiba mais Quem pode ser adotado - C rianças e adolescentes com até 18 anos à data do pedido de adoção, cujos pais forem falecidos, desconhecidos, destituídos do poder familiar ou de acordo com a adoção do seu filho. -M aiores de 18 anos se já estiverem sob a guarda ou tutela dos adotantes por escritura pública nos termos da lei civil. - Nem todas as crianças que vivem em abrigos podem ser adotadas, pois muitas têm vínculos jurídicos com a sua família de origem. Muitos pais deixam seus filhos em instituições até conseguirem se reorganizar. - U m bebê encontrado em situação de abandono não está automaticamente disponível para adoção, somente se os pais estiverem desaparecidos ou forem destituídos do poder familiar. A pessoa que o encontrou não terá garantia de poder adotálo, pois é a Vara da Infância e da Juventude quem irá avaliar o que será melhor para o tal bebê. Quem pode adotar - Maiores de 21 anos, independente do estado civil, com pelo menos 16 anos a mais do que o adotado. - D ivorciados ou separados judicialmente podem adotar em conjunto desde que o estágio de convivência com a criança ou adolescente tenha se iniciado durante o casamento e desde que estejam de acordo quanto à guarda e às visitas. - Uma pessoa homossexual pode adotar, entretanto um casal homossexual não pode adotar conjuntamente, já que a legislação brasileira não reconhece o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Como proceder Quem quiser adotar,deve dirigir-se primeiramente ao Fórum de sua cidade ou região, com seu RG e com um comprovante de residência. Lá receberá orientação sobre quais os documentos necessários para dar continuidade ao processo. Após a análise e aprovação dos documentos, entrevistas serão realizadas com a equipe técnica das varas da Infância e da Juventude. As inscrições para adoção e o encaminhamento dos processos de habilitação são totalmente gratuitos e não dependem da intermediação de advogado. Se houver algum problema, é possível recorrer à defensoria pública. Caso os interessados optem por recorrer a serviços externos (psicóloga, médicos, etc) terão que pagar os honorários cobrados. Tem muita gente querendo adotar. Dentre esse grande número de pessoas, incluemse casais heterosexuais, mães ou pais solteiros, e, também, os homossexuais. A lei já está mudando a favor dessa parcela que vem compor a nova família brasileira. Já é possível, para um homossexual, adotar uma criança. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), qualquer pessoa que apresente reais vantagens para a criança e fundamente-se em motivos legítimos, pode adotar. Ou seja, não há restrição nem mesmo quanto à opção sexual dos adotantes . Todavia, um casal homossexual ainda não pode adotar conjuntamente. Isso porque a legislação brasileira não reconhece o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, no Brasil e no mundo, é cada vez mais crescente o número de pessoas do mesmo sexo que convivem informalmente onde apenas um deles tem direitos de pai sobre a criança. Alguns casos mostram que até mesmo esse entrave está mudando. A revista Veja (453) contou a história do casal Vasco Pedro da Gama Filho e Dorival Pereira de Carvalho de Catanduva, São Paulo. Em março de 2006, Vasco adotou Theodora. A menina nasceu em uma família pobre, sua mãe era viciada em drogas e seu pai alcoólatra. Com 1 ano e 6 meses foi para um orfanato onde ficou por três anos. Vasco era o 46º candidato da fila de espera, porém o único que quis adotar Theodora, apesar de negra e “velha” demais conforme os outros candidatos. O casal de cabeleireiros é o primeiro casal de homens para o qual a Justiça brasilera dá o direito de adotar. Antes porém, no Rio Grande do Sul, dois casais de lésbicas já haviam ganho o direito. Um deles é de Bagé. Elas adotaram dois meninos-irmãos biológicos-, porém a sentença favorável foi contestada pelo Ministério Público e hoje aguarda julgamento no Supremo Tribunal de Justiça, em Brasília. O outro já tem sentença final. O juiz Daltoé concedeu, em julho do ano passado, a adoção de uma menina ao casal de lésbicas. A favor Para Daltoé, a sociedade esta em mudança: “As famílias se constituem de forma diferente”. Ele lembra que antes a grande restrição por parte dos casais homossexuais é que eles não podiam procriar, mas que hoje essa não é única função de uma família. Daltoé diz que não dá o direito de adoção de uma criança a um casal homossexual apenas para tirá-lo do abrigo, mas sim porque considera que aquele casal tem condições de criar e educar e porque eles também têm direito de ser pais e mães. A personagem desta reportagem, MariaPrigol acrescenta: “Têm tantas crianças por aí com pais que não são homossexuais que não dão à mínima pra eles”, mostrando que amor não depende da escolha sexual dos pais. Algorta complementa: “Eu acho que pra dar amor não existe uma questão de sexo, o importante é que as pessoas tenham uma moral íntegra”. Contra Entretanto, há pessoas que ainda vêem a questão com olhos preconceituosos. A psicóloga Tosta acredita que essas pessoas se opõem a isso, pois acham mais comum buscar referências de pai e mãe no masculino e no feminino, respectivamente, e que isso pode ficar um pouco confuso na cabeça das crianças. A Igreja Católica, por sua vez, considera a homossexualidade imoral e não reconhece a união entre pessoas do mesmo sexo. E ainda firma que a adoção por homossexuais “cria obstáculos ao desenvolvimento normal das crianças eventualmente inseridas no interior dessas uniões “. Ou seja, mesmo que não haja heterossexuais interessados na criança, a Igreja ainda é contra a adoção por homossexuais. Além do preconceito quanto à opção sexual dos pais, muitos ainda temem o abuso sexual e a possibilidade do filho ser gay como os pais. Daltoé conta que os números de abusos são bem maiores e praticamente totais entre heterossexuais: “Vi muitos casos de abusos por parte de pai, padrasto, irmãos avô, tio, vizinho, conhecido, amigo da família, todos heterossexuais”. Isso não significa que os homossexuais não possam abusar, mas esse receio não passa de um mito preconceituoso. Quanto a opção sexual do filho, existem pesquisas que mostram que 90% dos filhos de gays são heterossexuais. c i da da ni a Apesar de algumas posições contrárias, gays e lésbicas que desejam ser pais já vêem uma nova porta a seu favor c i dadani a Adoção por homossexuais Nos últimos anos, têm sido noticiados diversos casos de adoção de crianças por artistas. As opiniões quanto a esse assunto são diversas. Alguns acreditam ser jogo de marketing para que os artistas continuem em evidência, independente do motivo. Outros acreditam que não. A psicólogaTosta acha que pode ser um incentivo, mas que esse assunto deve ser tratado com mais cuidado. “Por serem figuras públicas, eles podem desvirtuar um pouco a idéia e as pessoas podem começar a fazer isso por caridade. Ser pai e mãe não é um ato de caridade. É muito mais que isso”, frisa ela. - Madonna adotou o menino negro nascido no Malawi, David Banda, de 1 ano. Além dele, têm os filhos biológicos Lourdes Maria, 10, e Rocco, 6. - Angelina Jolie (ao centro com Maddox) tem três filhos adotivos: Maddox, nascido no Camboja, preste a fazer 6 anos; Zahara, nascida na Etiópia, de 2 anos (a adoção de Zahara aconteceu quando a atriz já estava grávida sua primeira filha biológica, batizada de Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, agora com 1 ano) e Pax Thien, nascido no Vietnã, de 3 anos. Além disso, a atriz iniciou o processo de adoção de uma menina de quatro anos chamada Hsiao Kai-wan, de Hualien, no leste de Taiwan. - Mia Farrow é mãe de 14 filhos, dez são adotados. A atriz foi casada com o diretor Woody Allen, mas em 1992 o casal se separou, pois ele mantinha um caso com uma das filhas adotivas de Mia, Soon Yi Previn. Em 1997, Wood Aleen e Soon Yi se casaram. O casal adotou duas meninas, Sidney Bechet e Manzie Tio Allen. - Nicole Kidman adotou duas crianças quando ainda estava casada com Tom Cruise (Isabella e Connor) que ficaram sob a guarda da mãe depois da separação em 2001. - Sharon Stone adotou três filhos Roan Joseph, Laird Vonne e Quinn. - O jogador de futebol Roberto Carlos adotou Roberto Carlos Junior, 7. É pai biológico de Giovanna, 11 anos, Roberta, 13, Carlos Eduardo, 3 e mais um menino que acabou de nascer (20/03/2007). Na época em que o adotou, Júnior estava doente e precisou passar por uma cirurgia no coração. - Elba Ramalho adotou a menina Maria Clara, de 4 anos. Esse ano adotou Maria Esperança, de 5 meses. É também mãe biológica de Luã, 19 anos. - Marcello Antony e Mônica Torres adotaram Francisco, de 5 anos e Stephanie, 7. - Zeca Pagodinho, depois de já ter filhos crescidos (Eduardo, Louis e Elisa) decidiu adotar Maria Eduarda, inspirado no casal Elba Ramalho e Gaetano Lops - Caio Blat, junto à cantora lírica Ana Ariel, adotou Antônio, que foi deixado em sua porta com o pedido de que fosse criado pelo casal. O ator ainda pretende adotar mais um filho. Universo IPA | Julho 2007 Famosos que adotaram teratur a lili teratur a Fotos: Daniela Rubim Ramos investe no sonho de construir uma biblioteca comunitária Ler é a maior viagem Primeiros passos começam em casa Mais da METADE dos brasileiros NÃO tem contato com LIVROS Universo IPA | Julho 2007 Maria Carolina Borne Ainda criança, a jornalista Tatiana Gappmayer, 30, ficava encantada com as prateleiras abarrotadas de livros da biblioteca do pai. “Foi lá que li meu primeiro Érico Veríssimo”, relembra. Desde pequena, por influência dos pais, ela se considera uma apaixonada por literatura, da biografia à ficção. “Ler é uma viagem sem sair do lugar para um novo mundo de sensações e informações que abrem o teu horizonte, te fazem pensar sobre a vida e as coisas que te cercam”, ilustra Gappmayer, que tem entre seus autores favoritos Charles Bukowski e Machado de Assis. Apesar de não ter uma idéia exata da quantidade de livros que ‘devora’ por mês, nunca fica sem leitura. Incluindo as HQ, outra paixão, a jornalista calcula uma média de três a quatro livros, o que não é pouco, comparado à estimativa no resto do país. Já dizia Mário Quintana, que os livros não mudam o mundo. “Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Escritor e poeta gaúcho, nascido no Alegrete, Quintana traduziu Charles Morgan, Rosamond Lehman, Lin Yutang, Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini e Maupassant, grandes nomes da literatura mundial, porém, desconhecidos para a maioria dos brasileiros, cujo índice de leitura é bastante baixo, cerca de 1,8 livro por pessoa/ano. “A idéia é formar um público leitor, fazer com que as pessoas se interessem pela leitura”. Um dos mais abrangentes estudos sobre o tema, feito no país, em 2001, o “Retrato da Leitura no Brasil”, encomendado pela Câmara Brasileira da Indústria do Livro - CBL, Sindicato Nacional dos Editores de Livros – Snel, e Associação Brasileira dos Editores de Livros – Abrelivros, revelou que os índices de leitura por faixa de idade aumentam enquanto os jovens estão na escola. Os leitores efetivos, isto é, os que leram pelo menos um livro nos três meses antecedentes à análise, chegam a 45% da população, na média nacional, mas esse índice cai para 23% na faixa etária dos 20 aos 29 anos, quando a maioria dessas pessoas já deixou o universo escolar. A pesquisa envolveu 5.503 entrevistas com pessoas com idade superior a 14 anos, e com três anos de escolaridade, residentes em 46 cidades - o que corresponde a um universo estimado em mais de 85 milhões de pessoas. Existem 26 milhões de leitores ativos no país, somando 30% da população adulta alfabetizada. Apesar disso, a leitura de livros só é verdadeiramente apreciada por um terço desta amostra, sendo que 61% dos brasileiros têm um mínimo ou nenhum contato com livros. As classes B e C agrupam 70% dos apreciadores de livro, porém, somente 16% da população reúne em casa 73% dos livros. A porção mais significativa, quase 60% dos compradores de livros, de acordo com a CBL, se concentra nas regiões sudeste e sul do país. Bons exemplos em casa Outro caso típico de leitora inveterada é o da farmacêutica Larissa Bohnenberger, 25. Assídua freqüentadora de feiras, livrarias e sebos, ela desenvolveu o hábito de ler incentivada pela mãe, segundo ela, sempre gostou de ler e, mais ainda, de comprar livros. “Eu e meus irmãos, desde o início da nossa alfabe- Livros para todos O garçom Paulo Euclides Martins Ramos, 56 anos é daquelas pessoas que vão atrás dos sonhos, sem se deixar abater pelos obstáculos do caminho. Com um filho graduado em Direito e outros dois concluindo Economia e Educação Física, respectivamente, Ramos vem, há alguns anos, apostando no plano de montar uma biblioteca comunitária, com o único objetivo de formar um público leitor. Ávido por informação e cultura, ele conta que o interesse pela leitura foi herança do pai, ‘seu’ Euclides, apaixonado por política e questões sociais. Naquela época, até 1974, ainda circulava o Correio da Manhã, jornal de oposição ao governo e contrário ao regime militar, instaurado no país, em 1964. “Meu pai lia muito e adorava falar de assuntos ligados à política”, relembra Ramos. Aluno do colégio Júlio de Castilhos, no final dos anos 1960, fez parte do movimento estudantil. “Como sempre me interessei por arte, cultura, filosofia, história e política, vivia pedindo livros aos colegas: ‘me empresta este, me empresta aquele! Os caras me achavam um chato, mas acabavam emprestando”, ri. empresas parceiras do projeto – a Lancheria 24 Horas e a Plural Assistência Odontológica – amigos e colaboradores, foi criado o site da Biblioteca Comunitária, www.bibliotecacomunitaria.org e o Amigos da Biblioteca, que contribuem com R$ 10,00 para aquisição de material. “O próximo passo é conseguir alguém da área que aceite organizar e catalogar os livros como voluntário, pois ainda não temos verba”, enfatiza. Todo o trabalho investido na Biblioteca não pára por aí. O projeto ainda precisa de patrocinadores, doadores, e divulgadores, pois os planos de Ramos incluem uma ONG cultural. Como já não tem espaço em casa para guadar livros, é preciso arrecadar fundos para investir em um espaço cultural para leituras, palestras, programação audiovisual, e informativa. Para tanto, Ramos tem visitado livrarias e editoras buscando mais parcerias. “Além disso, gostaria de convidar para padrinhos da ONG, os escritores, Lya Luft e Juremir Machado”, finaliza. Se depender da força de vontade e do empenho de Ramos, a ONG Biblioteca Comunitária será um sucesso. Alguém duvida? li teratur a O tempo foi passando e vieram os filhos. Como bons descendentes do ‘seu’ Euclides, os meninos não podiam ficar sem leitura. Quando sobrava algum dinheiro do orçamento apertado, Ramos investia – e ainda investe na compra de livros. Brochuras, encadernações, edições raras, novas ou esgotadas, não importa. “E foi daí que eu tive a idéia de emprestar livros informalmente”, explica. Há mais ou menos quatro ou cinco anos, Ramos listou todos os títulos que possuía, passando a oferecer aos amigos, conhecidos e freqüentadores do restaurante em que trabalha, próximo a um grande hospital de Porto Alegre. “A idéia é formar um público leitor, fazer com que as pessoas se interessem pela leitura”, afiança Ramos. As pessoas escolhem o livro pela lista e, no dia seguinte, Ramos entrega a encomenda que é cedida por um prazo de 30 dias. Os autores variam de Maquiavel a Paulo Coelho, fazendo parte de um rol que começou com cerca de 80 livros e, hoje, conta com mais de 350 títulos disponíveis para 50 leitores cadastrados. Desde fevereiro Ramos não está mais sozinho na empreitada. Com a ajuda de duas li teratur a tização, tivemos uma bela coleção para nos aventurar”, conta. Bohnenberger, que lê de dois a três obras por mês, diz que um bom livro é aquele que mexe com as emoções, “mas só empresto para quem eu tenho certeza que vai cuidar e – principalmente - devolver. Doação? De jeito nenhum. Sou muito possessiva”, adverte. Eclética, a farmacêutica não tem um gênero preferido. “Os autores que estão na minha lista de cabeceira são Érico Veríssimo, Gabriel Garcia Marques, Lygia Fagundes Telles, Fernando Pessoa, Mário Quintana... com certeza estou esquecendo de alguém”, brinca. Tanto para Gappmayer quanto para Bohnenberger, vasculhar sebos é um programa indispensável, em que é possível encontrar publicações antigas que pertenceram a outras pessoas, ou não existem mais nos estoques das livrarias. Sem falar nos preços bem mais acessíveis, na opinião de ambas. Bohnenberger com a mãe, Lilibeth, a maior incentivadora da leitura na famíla, apreciam bons livros Um dos acontecimentos mais populares do Rio Grande do Sul é a Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre anualmente e tem público cativo. Desde sua primeira edição, em 1955, a Feira foi ampliada e modernizada, passando a receber grandes nomes do mercado editorial brasileiro e internacional. Com o intuito de popularizar livros e criar públicos leitores, oferecendo descontos nas vendas, pequenos eventos semelhantes também ocorrem em várias cidades do interior gaúcho. Um estudo feito pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura - OEI, “o comportamento leitor no Rio Grande do Sul”, estado com tradição de diversas feiras de livros, mostra que onde elas acontecem os índices de leitura são bem maiores, o que consolida a informação sobre a média de 5,5 livros lidos pelos gaúchos por ano. Nestes eventos, os livros são colocados em um lugar estratégico , envolvendo famílias, escolas, e oferecendo descontos. Ainda de acordo com a OEI, no Brasil existem apenas 2.200 livrarias concentradas em cerca de 600 municípios. Por isso, é necessário que a Lei Federal de Incentivo à Cultura (nº 8.313/91) – Lei Rouanet, seja cada vez mais utilizada para os projetos de feiras e bienais em municípios do interior que não contam com pontos de venda de livros. Universo IPA | Julho 2007 Vai um livro aí? teratur a lili teratur a Poesia, narrativa, popular, impressa... Esta é a maneira perfeita de definir a literatura de cordel brasileira Leonardo Silva “Esta peleja que fiz não foi por mim inventada, um velho daquela época a tem ainda gravada minhas aqui são as rimas exceto elas mais nada”. Universo IPA | Julho 2007 Fotos de folhetos de J. Borges 10 Peleja de Riachão com o Diabo, escrito e editado em mil oitocentos e oitenta e nove, por Leandro Gomes de Barros (1865 – 1916) na Paraíba foi o primeiro de muitos folhetos de cordel publicados no Brasil. Porém muito antes na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses e saxões a literatura de cordel já existia e assim através de expedições e intercâmbio de culturas chegou a Península Ibérica por volta do século XVI e foi naquela região que a literatura de cordel recebeu os nomes de “Pilegos Sueltos” (Espanha), “Folhas Soltas” ou “Volantes” (Portugal), chega ao Brasil na segunda metade do século XIX, através dos Portugueses insta-se na Bahia mais precisamente em Salvador, dali se irradia para os demais estados do nordeste e recebe o nome de cordel pela maneira que eram expostos à venda: pendurados em fios de barbante. Apesar dos altos índices de analfabetismo na época, os cordéis se popularizaram rapidamente, pois os poetas cordelistas contavam histórias de apelo popular como a de Padre Cicero,Lampião e Frei Damião em feiras e praças muitas vezes ao lado de músicos. Sob uma outra visão podemos dizer que o cordel é também um Jornal, temas como, os desastres, as inundações, as secas, os cangaceiros, as reviravoltas políticas, alimentam o caráter jornalístico dessa produção que chega a centenas de títulos por ano. Para se ter idéia da função jornalística dos cordéis, em mil novecentos e cinquenta e quatro um desconhecido poeta de cordel quando ficou sabendo da morte de Getúlio Vargas pelo rádio, começou a escrever “ A lamentável morte de Getúlio Vargas”, entregou os originais ao meio dia e à tarde recebeu os primeiros exemplares. Vendeu setenta mil em quarenta e oito horas. A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se e outros eram abreviados. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro Os folhetos Os folhetos eram confeccionados em sua maioria no tamanho 11x15cm ou 11x17cm e tinham suas capas ilustradas por xilogravuras de várias dimensões e temas que variam entre cenas tradicionais, do cangaço, da seca, aos lúdicos e eróticos, como o Kamasutra. Segundo o autor cordelista, Beto Brito , 43 anos, que faz parte de uma nova geração de autores com os pés fincados na cultura do povo “as xilogravuras estão umbilicalmente ligadas ao cordel”, o cordelista explica “ nas xilogravuras se encontra a genuína expressão da criatividade do nosso artista primitivo: as soluções plásticas sintéticas, o traço forte, incisivo, a rude e bela expressividade dos desenhos, o mundo fantástico dos seres míticos e mágicos das concepções ingênuas ao lado de sua literatura essa xilogravuras do cordel refletiam ideais anseios e sonhos do homem nordestino”. “Na década de setenta, apareceram no Nordeste vários álbuns de xilogravuras de cordel, podemos destacar os publicados pela Divisão de Cultura da Prefeitura da Cidade de Salvador, Bahia, intitulado “Xilogravura Popular – Cordel”, o da coleção Théo Brandão, “Xilogravuras Populares Alagoanas” (Alagoas, 1973) e “Transportes na Zona Canavieira” ( Instituto do Açúcar e do Álcool, Serviço de Do- li teratur a li teratur a Sandro Fortunato Capas de folhetos de cordel penduradas, simulando a forma com que são vendidos em feiras populares do nordeste Contemporaneidade César Obeid, cordelista contemporâneo e arte educador, 30 anos, desenvolve um trabalho onde recria o universo da literatura de cordel e do improviso da viola difundindo o cordel em escolas, empresas, universidades, casas de cultura e bibliotecas, “eu crio e recrio as histórias em forma de cordel, em rimas, versos, estrofes. Com esta técnica falo dos ditados, das adivinhas, crendices e superstições da arte do nordeste”. Obeid sabe a influência que a literatura de cordel exerce sobre a cultura geral brasileira, “cordel é muito mais que barbantinho, é a história de um povo, do povo nordestino”, afirma o cordelista, que não se arrepende de ter optado pela narração de histórias a cinco anos. “Hoje eu vivo bem. Tenho minha casa, meu carro, pago as contas e garanto o prazer de fazer o que gosto. O mais bacana desta área é que abra várias frentes de trabalho. Eu dou aulas, faço apresentações, lancei meu livro e ainda encontro tempo para estudar”. Apesar de fazer uma releitura dos cordéis escrevendo sobre temas atuais, César, trata de confirmar as origens desta arte. O ar- te educador demonstra confiança no cordel como um “complemento pedagógico, porém a qualidade da informação deve ser estudada e aprofundada”, perguntado se é fácil encontrar cordéis para vender o autor responde “hoje cordel só é vendido em feiras para turistas no Nordeste do país, mas é possível achar folhetos em aeroportos e feiras culturais, podese achar também muitos cordéis postados na internet, antigos e contemporâneos”. Cordel nos palcos Em 1997 um grupo teatral voltou a atenção para a cidade de Arcoverde. Nascia o espetáculo Cordel do Fogo Encantado. Na formação, Lira Paes, Clayton Barros e Emerson Calado. Por dois anos, o espetáculo, sucesso de público, percorreu o interior do estado. Em Recife, o grupo ganhou mais duas adesões que iria modificar sua trajetória: os percussionistas Nego Henrique e Rafa Almeida. No carnaval de 99 o Cordel se apresenta no Festival Rec-Beat e o que era apenas uma peça teatral, ganha contornos de um espetáculo musical. Ao lirismo das composições somou-se a força rítmica e melódica dos tambores de culto-africano e a música passou a ficar em primeiro plano. A estréia no carnaval pernambucano mais uma vez chamou a atenção de público e crítica e o que era, até então, sucesso regional, ultrapassou as fronteiras, ganhando visibilidade em outros estados e o status de revelação da música brasileira. As apresentações da banda surpreenderam a todos não somente pela força da mistura sonora ousada de instrumentos percussivos com a harmonia do violão raiz. À magia do grupo que narra a trajetória do fogo encantado, soma-se a presença cênica de seus integrante e os requintes de um projeto de iluminação e cenário. Em outubro de 2005 o Cordel do Fogo Encantado lançou o DVD “MTV Apresenta”, o primeiro registro audiovisual da banda. Transfiguração”, terceiro disco lançado em setembro de 2006, vem borrar ainda mais a linha de fronteira entre as artes cênicas e a música. E assim Cordel do Fogo Encantado se firma como um dos grupos mais representativos da cena independente nacional. Universo IPA | Julho 2007 cumentação, Recife, 1972), comenta Brito, “Na atualidade vários são os xilógrafos que se destacam. O pesquisador Joseph M. Luyten, no ensaio “A Xilogravura Popular Brasileira e suas Evoluções”, enumera os seguintes xilógrafos: Abraão Batista (Juazeiro), Ciro Fernandes (Rio de Janeiro), José Costa Leite (Condado), Marcelo Alves Soares (São Paulo), Minelvino Francisco Silva (Itabuna) e Severino Gonçalves de Oliveira (Recife), ilustra o autor. 11 mmoda oda O rei das botas Quem nunca passou pela Avenida Farrapos, na capital gaúcha, e se deparou com lojas que vendem lingeries provocativas, acessórios, botas e sapatos personalizados, e não teve vontade de entrar para dar uma olhadinha? É na loja Antônio Rosa Calçados, que sambistas, mulheres e drag queens que trabalham à noite encontram as botas e sandálias exclusivas mais extravagantes, sensuais e luxuosas de Porto Alegre. Universo IPA | Julho 2007 Hosana Dias Aprato 12 O sonho se tornou realidade. Depois de 15 anos consertando sapatos, o estilista em couro Antônio Amansio da Rosa, 63 anos “Seu Antônio”, como é chamado por todos os clientes e amigos, começou a confeccionar calçados. Teve que aprender sobre modelagem e como tirar medidas. “Sou um cidadão do meio comum e não tenho canudo. Por este motivo o esforço foi maior, se eu não aprendesse, ia me lascar”, explica. Quando começou a trabalhar, nunca imaginou em atingir este público específico. Fazia botas e sapatos sociais masculinos. “Eu achava bonito quem fazia uma bota de mulher. Quem sabe um dia eu faço uma bota para a minha esposa ou para a minha mãe. Considerava aquilo uma arte”, conta, emocionado, por fazer disto hoje o seu ganha-pão. Quando chegou a Porto Alegre, há oito anos, “Seu Antônio” não tinha onde morar. Hoje em dia, tem uma casa e muito prestígio de seus clientes e amigos. “Comprei com o meu dinheiro, honestamente”. Não é à toa que a famosa avenida Farrapos o conhece tão bem, das oito da noite até as três da manhã, durante o ano todo. “Minha esposa é testemunha disto”, revela. Seu envolvimento com os sapatos, por trás da máquina de costura, já soma mais de 12 anos, mas como empresa registrada, completa seu primeiro aniversário ainda este ano. O trabalho, que durante este tempo todo, foi divulgado no boca-a-boca, com a ajuda dos fiéis clientes, faz história. A casa noturna Gruta Azul, ainda localizada no antigo prédio, na Farrapos., foi responsável pela divulgação do trabalho de “Seu Antônio”. Foi dali que as dançarinas levaram seu design para todo o Brasil. “Tem clientes que há oito anos fazem botas comigo e eu não conheço. Eu ensino a tirar as medidas por telefone e elas fazem bem direitinho. Até hoje não errei nenhuma bota” orgulha-se. A inspiração vem da necessidade de inovar cada vez mais. “Seu Antônio” não elegeu uma musa inspiradora. São poucas as vezes que olha alguma revista de moda, mas tem o cuidado de ir pessoalmente a Novo Hamburgo, escolher o tipo de couro, cores e aviamentos. “Me abasteço somente lá”, esclarece. Para ele, o trabalho sai automaticamente. Pode estar conversando com alguém ao mesmo tempo em que põe mãos à obra. Segundo ele, isso se deve ao fato de estar há muito tempo em um único ramo. “Eu não tive estudo, só a prática. Acho que nem vai precisar agora, com essa idade. Do jeito que tá, tá bom pra mim” ressalta. Quando a imaginação aflora, aproveita e confecciona algumas peças que expõe na vitrine da loja, que não ficam ali por muito tempo. Às vezes, são vendidas no mesmo dia. “São uma coisa diferente. E é isso que elas querem”, aposta. Quanto ao seu produto, é exigente. Só trabalha com couro, mas se a cliente pede o sintético, logo de cara, indica o verniz, “por ser mais chamativo, brilhoso e com uma qualidade muito boa”. As botas mais procuradas são as tradicionais, com fechamento até o joelho, no estilo social. Porém, as campeãs de vendas são mesmo aquelas que ficam justas na perna, estilo mulher-gato, mais sexies. “A gente usa a bota para dançar, para dar altura e chamar a atenção. Existem homens que acham lindo uma mulher usando botas. E não deixam tu tirar por nada. Eles pedem pra tirar tudo, menos a bota”, narra a dançarina do Gruta Azul Thaty, 23 anos. A bota cano longo, personalizada, trabalhada com design diferenciado, custa em torno de R$ 350,00. O sucesso é tanto, que uma de suas botas foi parar nos pés de Joelma, vocalista da banda Calypso. Seu Antônio conta que m oda moda Daniela Rubin O sucesso de suas botas foi tanto, que acabaram nos pés de Joelma, vocalista da banda Caplypso “Deus me dá” O trabalho não é exportado, mas devido aos contatos espalhados pelo mundo, através das mulheres que vão fazer shows fora do Brasil, “Seu Antônio” já vendeu para o Chile, Argentina, Portugal, Espanha e Japão. Ele explica que já enviou o pedido por Sedex para Portugal, levando 30 dias para chegar. “Até onde o meu conhecimento chega, eu faço. Até hoje, graças a deus, eu dei conta de todas as botas que me pediram” comemora. Enriquecer não está em seus planos. O que ele quer mesmo é ter o trabalho reconhecido, pois é fiel ao seu público. Ele confessa que se fosse trabalhar com outro tipo de público, sua venda diminuiria consideravelmente. “Descobri o trabalho dele através das gurias do Gruta Azul, e também porque ele nos visita com freqüência, para levar encomendas, mostruários e fotos de suas botas. É bom porque ele faz o estilo que a gente quer, com o diferencial de ser sob medida”, expõe a dançarina conhecida pelo nome artístico Bárbara, 23 anos. As cidades vizinhas chamam pelo “Seu Antônio” e suas botas, que até pensa em produzir em grande escala, mas lamenta o pouco poder aquisitivo para um investimento maior. Em Porto Alegre, as lojas têm muitas botas bonitas, mas não têm a exclusividade que eu ofereço”, salienta. “Até onde o meu conhecimento chega, eu faço. Até hoje, graças a deus, eu dei conta de tudo que pediram”. Tanto o cliente que entra somente para olhar, quanto aquele que vem para comprar é muito bem recebido e tão conceituado quanto o que adquire. “Ao menos ele vem me fazer uma visita, está prestigiando a minha loja”, declara “Seu Antônio”, que deixa bem claro que não vende fiado. Entretanto, tem algumas táticas quando as meninas não têm condições de pagar na hora. “A gente chora um pouquinho e ele abaixa o preço, faz parcelado também. E se acontece algo na bota, a gente vem aqui e ele arruma”, descreve a dançarina que atende pelo nome artístico Katy, 23 anos, quatro deles na noite. “Seu Antônio” confessa que se sente muito bem por contribuir com algo para compor a beleza e o sustento delas, para depois chegarem em casa e dar o leite, o frango e a fralda que o filho precisa. Seu Antônio também não fica incomodado se alguém não pagou. “Fica pra lá. Deus me dá. É assim que funciona na minha cabeça”, completa. Universo IPA | Julho 2007 o contato foi através de uma parceria com uma loja de São Paulo. A cantora tem uma bota, com a bandeira do Brasil estampada no meio do cano. “É uma bota muito bonita, não porque fui eu que fiz, mas também tem várias outras por aí afora, em todo o Brasil”, enfatiza. E isso sem contar que suas botas já estiveram em diversas capas de revistas, usadas por modelos famosas, como a cover da Feiticeira. A preferência está no salto de 12cm, tanto para a noite quanto para o dia-a-dia. Mas se for para as meninas que trabalham a noite a faixa fica entre 14cm e 15cm de altura, com plataforma. Por serem feitas sob medida, não machucam e são boas para trabalhar. “Com botas normais a gente não consegue, pois tem o salto muito fino” conta Thaty. Isso concentra 70% de toda a sua venda. “Elas pisam muito bem na plataforma, como se não tivessem nada no pé. Elas têm a prática”, comenta Antônio. Têm botas bordadas com strass, de segunda linha, com fivelas, plumas, recortes e aplicações. “Eu tenho uma bota dele há cinco anos”, conta o coreógrafo e apresentador do Gruta Azul, que atende pelo nome artístico Vanessa Thundercat, 41 anos. A confecção é totalmente de acordo com o que a clientela pede e, a partir daí, o material é adaptado. “Em Porto Alegre, 80% das escolas de samba do carnaval fazem botas e sandálias comigo”, relata “Seu Antônio”. 13 esp orte espor te O segundo esporte mais praticado no Estado Simone Martins SIMONE MARTINS cidade de São Paulo, com a participação do RS, SP, e Minas, sendo vencedora a equipe gaúcha. Atualmente, o jogo de bocha vem sendo jogado em seis categorias diferentes - categoria A, categoria B, veteranos, juvenis, feminino e duplas ou trios mistos. O jogo de bocha é um esporte jogado entre duas pessoas ou duas equipes, que consiste em largar bochas (bolas) situá-las, o mais perto possível de um bolim (bola pequena) previamente lançada. A história da bocha no Egito iniciou em 5.200 A.C. Os jogadores utilizavam bolas de madeiras e pedras redondas. A faculdade de Fundado há 73 anos, situado na Av. Protámedicina de Montpellier afirmava que a prásio Alves, nº 809, em Porto Alegre, o clube Intica de bocha era o remédio ideal para o redependente acumula 13 campeonatos estamautismo. Na França, no fim do século XVIII, duais e um título nacional, conquistado em o jogo se tornou popular entre a 1976, além de 27 títulos municipais, classe trabalhadora enquanto sendo dez deles consecutivos.. na Inglaterra era praticado Atualmente presidido por pela nobreza. Ricardo Luiz Zucatti, é Não há certeza um clube de médio exata sobre a origem porte. “É o clube que COMO JOGAR BOCHA desse esporte, que foi tem mais títulos em Praticado de forma difundido pelos eurotodo o Brasil”, afirma simples, em dupla e peus, especialmente Diego Faleiro Silveira, trio, com dois reservas, os italianos. O jogo de capitão do time femitotalizando bocha foi trazido para nino de bocha do Clube oito atletas. América do sul pelos imiIndependente e atual grantes e, posteriormente, campeão do estado. em outros países do continente. Silveira informa que a boO Brasil se fez representar em diversos cha é o segundo esporte mais praticacampeonatos a partir 1951. O primeiro camdo no Estado, perdendo apenas para o futepeonato brasileiro foi realizado em 1964 na bol. Segundo o capitão, para fazer parte da Universo IPA | Julho 2007 Clube Independente 14 equipe do clube , o atleta tem que ter experiência, ser muito bom profissional, ter atitude de ganhar sempre, vestir a camiseta e conter união de grupo. “ Vários atletas sobrevivem apenas praticando o jogo”, comente Silveira. A prática do esporte exige do atleta três vezes por semana de treino no mínimo. A duração de cada partida é de aproximadamente 2 horas. O capitão explica que sempre ocorrem três jogos com a sequência do simples, dupla e trio, partidas femininas e masculinas. de atletas inscritos nas federações é o segundo mais praticado. Isso sem contar as pessoas que jogam bocha nas praças e areia. “É um esporte que não tem idade”. Curiosidades - A lém de campeonatos regionais e estaduais existe o campeonato Brasileiro, Sul Americano e Mundial de seleções. - O campeonato de Porto Alegre este ano começou em abril e seu término será em dezembro. - E m setembro de 2007 haverá o estadual de clubes em Cachoeira do Sul, onde o vencedor representa o Estado no brasileiro. - Na regra mundial,o jogo é disputado em SAIBRO. espor te Um esporte que também pertence à elas esp orte Surf feminino Nascido em 1890, com sangue real nas veias, o havaiano Duke Kahanamoku participou de quatro olimpíadas e entrou para a história dos jogos olímpicos, ganhando um total de três medalhas de ouro e duas de prata. Duke aproveitou o sucesso alcançado nas piscinas para divulgar o surf por várias partes do mundo. Sempre que ia competir, levava sua “pranchinha” com quase 4 m de comprimento, pesando cerca de 80 kg e se exibia como o homem que deslizava em pé sobre o mar. Em sua passagem pelos Estados Unidos, introduziu o surf como esporte, na Califórnia. Em 1915, foi competir na Austrália e, em vez de levar sua prancha, resolveu fabricar uma no país para ensinar aos moradores locais a arte de shapear uma prancha. Assim, a Austrália e a Califórnia, dois lugares de muita importância para a divulgação do esporte para o resto do mundo, conheceram o surf. O que era encarado como uma brincadeira ou forma de diversão, pela maioria das pessoas que passaram a conhecer um novo esporte, era, na verdade, uma atividade de importância vital para a vi- da dos ilhéus que habitavam o arquipélago havaiano. Os nativos não podiam ficar esperando o mar permanecer calmo para sair atrás do precioso alimento e, a única solução, era criar técnicas para enfrentar o mar sob quaisquer condições em que ele se encontrasse. Os mais habilidosos com as pranchas eram os mais respeitados na tribo por conseguirem mais alimentos. Essa relação se tornou tão forte que era comum os nativos escolherem seus líderes em “campeonatos” de surf. O rei do Hawaii era o que melhor enfrentava as piores condições em que o mar pudesse se encontrar. Daí o surf ficar conhecido como o “esporte dos reis havaianos”. Nessa época, as pranchas eram esculpidas em troncos de árvore e chegavam a ter 4 m de comprimento. . O primeiro registro de uma prancha em terras brasileiras foi através do santista Osmar Gonçalves, que fez a primeira prancha de surf no Brasil em 1938 e surfou por sete anos na Praia do Gonzaga, em Santos., era de madeira oca, media 3,6 m e pesava 80 quilos. O surf experimentou a sua segunda grande explosão logo após a II Guerra Mundial, com o surgimento dos blocos de poliuretano e da resina de fibra de vidro que foram desenvolvidos para ser usados com fins bélicos. Com o aproveitamento desses materiais, na fabricação das pranchas, o esporte ficou muito mais acessível para uma camada maior da população. As pranchas ainda eram muito grandes, com cerca de 3 a 4 metros porém bem mais leves devido ao novo material de confecção. Na realidade, o surf ganhou seu maior impulso no Brasil no final da década de 60 e, posteriormente, com a construção de um píer na Paria de Ipanema para instalação de um emissário submarino de esgoto, foi a maior divulgadora do esporte para o resto do Brasil. A partir daí, o surf carregou a sina de ter sua prática associada aos vagabundos e maconheiros de praia, sofrendo até hoje para desvincular a imagem de um esporte que exige muito preparo físico e concentração de uma galera determinada e adepta a muita adrenalina. Universo IPA | Julho 2007 Marnie Dutra Coronel 15 esp orte espor te Surf feminino no RS O surf feminino atualmente no Rio Grande do Sul passa por uma renovação. Aliás, poderia se dizer que ele sempre esteve em constante renovação, e isso até é um ponto positivo, pela possibilidade do surgimento de novos talentos no esporte, porém, o que vemos é uma falta de incentivo. E tão logo as surfistas percebem essa falta, param de competir e passam a ser surfistas de “free surf”, ou simplesmente surfistas que não competem mais. Isso faz com que muitas surfistas gaúchas viagem o mundo em busca de melhores condições de ondas e de visibilidade no esporte. Muitas das principais surfistas gaúchas largaram os campeonatos no RS e hoje as que competem são surfistas da nova geração, meninas de 8 a 20 anos, que concorrem com outras de 5 ou 6 meninas por etapa. Alguns nomes de surfistas que ajudaram na construção da história do surf feminino gaúcho: Roberta Borges – Uma das primeiras surfistas Gaúchas, aliás, a única gaúcha a conquistar um título brasileiro de surf. Larisse Maffazioli – Foi campeã gaúcha de surf, nos anos que a categoria feminina voltou aos campeonatos de surf no estado. Foi no final dos anos 90. Largou o circuito e foi para a Austrália, nunca mais competiu Sabrina Munhoz – Multi-campeã gaúcha, nos anos seguintes em que Larisse foi campeã. Também largou as competições no estado para viajar o mundo em busca das ondas. Gabriela Valduga – Campeã gaúcha de surf em um período posterior ao de Sabrina Munhoz, foi morar em Florianópolis mesmo com grandes chances de conquistar outros títulos gaúchos. “...após uma sessão de surf, você percebe que és somente um pontinho perto da imensidão da natureza...” Natália Navarro – Atual campeã gaúcha de surf feminino, e ainda competindo nas etapas do circuito gaúcho de surf. Tem certa superioridade sobre as demais concorrentes da nova geração. Brenda Rodrigues – Única gaúcha no SUPER SURF (a primeira divisão do surf nacional). Talvez a melhor surfista gaúcha da atualidade. Mora atualmente em Florianópolis. Bárbara Coelho – Nova geração do surf gaúcho, atualmente mora no Rio de Janeiro, mas vem competir em todas as etapas que acontecem no RS. Marcela Variani – Nova geração do surf gaúcho. Um dos destaques do surf feminino aqui no Rio Grande do Sul é Fernanda Toscani.In- centivada por irmaõs e prima que já praticavam o esporte a bastante tempo,Nanda começou a brincar com prancha de bodyboard. Depois de roubado seu equipamento resolveu começar a dar seus primeiros passos com prancha, no verão de 2001 na praia de Ibiraquera – SC , quando usava emprestada uma “pranchinha”na escola de Kite e Surf, onde sua prima trabalhava. Desde então, começou a levar o esporte á sério.Começou a praticar aulas de natação, musculação, além de toda a assistência á nutrição, massagem e fisioterapia. Em um ano intercalando o surf nos fins de semana, entre formatura no curso de Ciências Biológicas na PUCRS e trabalho em um Laboratório, a garota conseguiu o 1º lugar no campeonato gaúcho universitário, foi campeã imbitubense – SC e por pouco não consegue uma vaga para o Super Surf. Depois de formada e com cada vez mais paixão ao espote, a surfista resolveu ir morar na praia de Ibiraquera em Santa Catarina, onde morou, se aperfeiçou no esporte e lecionou em uma escola de 2º grau no ano de 2006. No início desse ano surgindo uma grande oportunidade de viajar para o exterior, onde sua irmã mora, a atleta não pensou duas vezes. Nanda viajou no final do mês de maio para Nova Zelândia, onde dedica uma parte de seus dias em cursos de inglês e com certeza a maior parte deles ao surf. Universo IPA | Julho 2007 Arquivo pessoal 16 Fernanda Toscani pegando onda na praia do Rosa em Santa Catarina Associação Gaúcha de Surf Feminino Num dia de mar gelado, de bobeira em casa, elas tiveram a idéia de criar uma associação para unir as gurias que curtem o surf e incentivar o esporte no Estado que, segundo elas, ainda é muito fraco. Assim, um grupo de dez gurias, presidida por Milca Severo, 20 anos, fundaram a Associação Gaúcha de Surf Feminino. Essa é a primeira Associação Feminina do Rio Grande do Sul e a terceira do Brasil - só existem associações semelhantes em Florianópolis e no Paraná. Hoje existem, no Campeonato Gaúcho, cerca de 16 mulheres participando, mas há muitas querendo começar. Hoje não existem muitas mulheres surfistas, mas a cada ano este número vem crescendo o e a expectativa da AGSF é igualar o número de surfistas mulheres com o número de surfistas homens. Segundo Milca, pesquisas realizadas pelos shaper apontam que 20% dos seus clientes são mulheres. “Antigamente não existia mulheres mandando fazer prancha”, comentou. Na primeira reunião da associação, elas já colocaram no papel todos os seus objetivos. Elas querem incentivar ao máximo o surf feminino, promover uma escolinha de surf e fazer “surf trips” para levar as gurias de Porto Alegre que não têm como ir para a praia para terem a oportunidade de surfar. Por enquanto a Associação tem sede apenas em Porto Alegre, mas a idéia é criar uma sede na Praia. “Provavelmente em Tramandaí, pois temos um projeto de criar lá a nossa escolinha se surf”, diz Gabriela Rangel, 18 anos, diretora executiva da AGSF. Por enquanto elas ainda não têm patrocíonio, mas recebem apoio de várias empresas e marcas que colaboram com material, equipamentos, pranchas, roupas, som e outros aparelhos. “A gente não teve praticamente nenhum gasto, mas estamos atrás de um patrocício para poder fazer tudo o que a gente quiser”, diz Gabriela Arquivo esp orte Associações de surf do RS espor te Ela relata que em duas semanas que se encontra , já surfou as ondas mais perfeitas de sua vida.Pretende depois que acabar seu curso, passar o inverno na ilha sul, um dos lugares mais frios do planeta e onde rola as melhores ondas também. “Quero evoluir meu surf cada vez mais, em um lugar desses tudo flui”, afirma. “Com o surf você aprende a dar valor as coisas mais simples e belas da vida, como em um fim de tarde com um pôr-do-sol maravilhoso após uma sessão de surf, você percebe que és somente um pontinho perto da imensidão da natureza, onde a idéai de se sentir imponente diante de um mar com ondas três vezes maior que o seu tamanho se torna casual diante de tamanha sintonia e vibraçaõ de alta energia com as ondas”, afirma Fernanda Toscani. Federação gaúcha de surf Rua Joaquim Nabuco, 46, sala 103 Porto Alegre - RS Fone: (51) 3224 5094 [email protected] Associação de Surf de Porto Alegre (ASPOA) www.surfpoint.com.br www.gosurf.com.br Associação Guaibense de Surf (AGS) Guaíba - Centro - RS Fone: (51) 9175 1890 [email protected] Associação de Surf Brothers de Gravataí (ASBG) Fone: (51) 8143 4080 Associação de Surf de Tramandaí (ASTRI) www.ondasdosul.com.br ASPAAS (Osório – RS) Fone:(51) 603 7729 www.aspaas.hpg.com.br [email protected] Associação de Surf de Imbé e Balneários (ASIB) Rua Capão da Canoa, 649 Imbé - RS Fone: (51) 9958 1302 [email protected] Associação de Surf da Praia de Quintão (ASQUI) Associação de Surf de Cidreira (ASC) Associação dos surfistas de Torres (AST) www.riograndevirtual.com.br As meninas fazem aulas de surf Universo IPA | Julho 2007 Associação de Surf de Mariluz (ASM) www.surfmariluz.org.com.br 17 esp orte espor te A nova casa tricolor GRÊMIO apresenta projeto de novo estádio. A ARENA será nos moldes dos estádios europeus e poderá ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, caso a FIFA aprove a candidatura brasileira a sori sses s/A rêmio o G am ca R sa do Bian mpren I de Universo IPA | Julho 2007 Cassius Maciel e Eduardo Barbosa 18 O Olímpico, atual estádio do Grêmio, completou 52 anos de existência no último ano. Porém, mesmo com a tradição do estádio, dirigentes e conselheiros do clube já admitem que ele já está ultrapassado, principalmente nas exigências que a Fifa impõe para a realização de grandes eventos, como uma possível Copa do Mundo em 2014 sendo realizada no Brasil. Além disso, o Grêmio tem uma despesa muito grande com a manutenção, porque que o Olímpico é usado apenas em dias de jogos, aproximadamente 40 vezes ao ano. Foi pensando nisso que o clube decidiu que era hora de construir uma nova casa para o tricolor gaúcho. Segundo Eduardo Antonini, vice-presidente de planejamento do Grêmio e responsável pela construção do novo estádio, o clube necessita de uma Arena Multiuso planejada para gerar receitas todos os dias. Essa seria uma das maneiras de o tricolor buscar maior auto-sustentabilidade na parte financeira, já que faz parte do projeto, que o novo estádio possua uma grande área comercial, com setor de gastronomia, centro de convenções e hotel. Todos os recursos para a construção virão de investidores, que serão parceiros do Grêmio nesse projeto, retirando dele o retorno de seu investimento. O clube contratou a Amsterdan Arena Advisory, uma empresa holandesa especializada em projetar e administrar novos estádios para conceber um conceito de Arena, e estudar o melhor caminho para o Grêmio na construção do novo estádio. Mas, o projeto arquitetônico será desenvolvido pelos investidores escolhidos pelo time gaúcho. Antonini visitou mais de 20 estádios na Europa, pesquisando os seus pontos positivos e negativos, estudando como os grandes clubes do mundo se comportam na construção de um novo estádio. Essa experiência da viagem foi o ponto de partida para a elaboração de um novo projeto que atenda às especificidades do Grêmio. A Geral do Grêmio, torcida famosa do tricolor que comemora os gols do time fazendo uma espécie de avalanche, será olhada com carinho na construção da nova casa gremista. “ Estamos estudando todas as possibilidades para que possamos viabilizar a avalanche, desde que garantidas as questões de segurança que um estádio moderno e os padrões Fifia,exigem”, garante Antonini. O novo estádio terá capacidade para no mínimo, 51 mil pessoas. Provavelmente, como nos novos estádios do mundo, o nome será vendido a um patrocinador. No Brasil, temos um exemplo disso que é o caso do Atlé- tico Paranaense, com seu estádio se chamando Kyocera Arena, em alusão ao nome de um dos patrocinadores do projeto. Apesar de fortes tendências de ser construído na Zona Norte de Porto Alegre, o local do estádio ainda não foi escolhido de forma definitiva. O Olímpico será demolido e a área será destinada aos investidores, como parte do Grêmio no empreendimento. A previsão para a inauguração do novo estádio do tricolor gaúcho é no final de 2010. Em maio, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius recebeu o presidente do Grêmio, Paulo Odone. Na ocasião, Odone entregou à Yeda o projeto da construção da Arena e a governadora afirmou que vai empenhar todos os esforços para que o Estado venha a sediar parte da Copa de 2014. O projeto foi encaminhado ao grupo de trabalho criado pela governadora para tratar, junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dos encargos exigidos para que Rio Grande do Sul se credencie a ser uma das sedes. do próximo mundial. Site da Geral do Grêmio 1954, o Olímpico era na época o maior estádio privado do Brasil. O primeiro jogo do Grêmio em sua nova casa foi contra o tradicional Nacional, de Montevidéu. Naquela oportunidade, o Tricolor venceu os uruguaios por 2 a 0, tendo os gols sido marcados pelo atacante Vítor, que entrou para a história do clube como sendo o primeiro jogador a balançar as redes do Olímpico. A mudança para o novo estádio abriu uma época de vitórias para os gremistas, que, a partir de 1956, conquistaram nada menos do que 12 títulos estaduais em 13 anos. O clube começava a eternizar o estádio como um lugar de grandes conquistas. Em 1980, com o fechamento do anel superior, o estádio passou a chamar-se Olímpico Monumental. No dia 21 de junho do mesmo ano, uma partida em que o Grêmio ven- Com o fim do Olímpico, nova Arena ira sediar os jogos do tricolor gaúcho a partir de 2010 esp orte espor te Bianca Ramops/Assessoria de Imprensa do Grêmio O primeiro estádio gremista foi a Baixada, que localizava-se no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A inauguração aconteceu no dia 4 de agosto de 1904, um ano após o nascimento do clube. Naquele tempo, não havia muitos times fundados no Rio Grande do Sul, e por conseqüência, o Grêmio jogou apenas 16 partidas nos primeiros seis anos de existência. No dia 18 de julho de 1909, o estádio da Baixada recebeu um jogo que acabaria se tornando uma das maiores rivalidades do Brasil e do mundo. O Grêmio jogou contra o Internacional e aplicou uma goleada de 10 a 0. Uma das conquistas mais importantes do tricolor em seu primeiro estádio foi o Campeonato de Porto Alegre, conhecido como Campeonato Farroupilha. O Grêmio venceu na final o Internacional por 2 a 0, em um jogo que teve a participação de Eurico Lara, lendário goleiro gremista que tem seu nome no hino do clube. Em 1955, já com o Grêmio em outro estádio, a Baixada foi envolvida em uma negociação no mínimo curiosa. O tricolor estava interessado na compra do jovem zagueiro Aírton, de outro time da capital, o Força e Luz. Para contar com o jogador de 20 anos, o Grêmio pagou 50 cruzeiros e cedeu um pavilhão do antigo estádio ao Força e Luz. Daquele momento em diante, o zagueiro passou a ser conhecido como Aírton Pavilhão e teve uma carreira de sucesso no tricolor gaúcho. Inaugurado no dia 19 de setembro de Universo IPA | Julho 2007 Da Baixada ao Olímpico ceu o Vasco da Gama por 1 a 0, marcou a inauguração do Monumental com as obras totalmente concluídas. O Olímpico Monumental foi palco de grandes títulos tricolores. A conquista do primeiro título da Libertadores da América, com uma vitória sobre o Peñarol em 1983, e o bicampeonato brasileiro em 1996, contra a Portuguesa, são alguns exemplos de façanhas que o Grêmio alcançou em sua casa. Muitos craques já desfilaram o seu futebol no Monumental. Renato Portaluppi, Ronaldinho Gaúcho, Hugo de Leon e, mais recentemente Anderson, são alguns desses jogadores. Hoje, com capacidade para receber cerca de 47 mil torcedores, o estádio possui dois anéis. A parte superior é composta totalmente por cadeiras, exceção feita a parte destinada à torcida visitante, que teve as cadeiras removidas no ano passado, por problemas de depredação. Ainda complementam o complexo do estádio Olímpico Monumental, 45 camarotes de luxo, 26 cabines de imprensa, estacionamento interno, piscinas, gramados suplementares, centro administrativo, quadro social, memorial e a loja oficial do clube, a Grêmio Mania. Mesmo não sendo um dos mais modernos do país, o estádio se caracteriza por impor respeito aos adversários que desafiam o Grêmio. Por conta de sua apaixonada torcida, que empurra o time nos 90 minutos, é muito difícil bater o tricolor em seu território. O maior público já registrado no Olímpico foi em 26 de abril de 1981, numa partida contra a Ponte Preta. O jogo foi assistido por 98.421 torcedores. O Olímpíco é a segunda casa de muitos gremistas. Na opinião do estudande Vítor Vasata, o estádio vai deixar um vazio no coração dos tricolorres. “Dede que nasci, meu pai me leva a todos os jogos”, comenta Vasata. 19 Universo IPA | Julho 2007 G eral G er al Um abraço vale a pena? 20 Algumas vezes um abraço é tudo que precisamos! Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria na vida das pessoas através de um abraço Caroline Moura Qual a importância de um abraço? Estudos mostram que o simples ato de abraçar alguém diminui a pressão sanguínea, o batimento cardíaco e o nível de hormônios ligados ao stress. O toque sensibiliza todas as células e dá um arrepio, após, quando os braços da outra pessoa nos envolvem com um pequeno aperto, nos passa emoção e aconchego para todo o corpo, nos levando á um alívio para a cabeça e ao coração. Um estudo do departamento de psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, revela que o contato físico, como um abraço, pode aumentar a longevidade. Uma das pesquisadoras, a psiquiatra Karen Grewen, comprovou que os níveis de cortisol e de norepinefrina, hormônios do stress, foram reduzidos após um abraço e substâncias químicas como a serotonina e a dopamina aumentam, contagiando o cérebro e cada célula do organismo com uma sensação de conforto e felicidade. A psiquiatra Kathleen Keating, que escreveu o livro A Terapia do Abraço, diz que a sociedade atual está sofrendo de solidão, o contato físico não é apenas agradável, mas também necessário, ainda mais em tempos em que a gente se comunica virtualmente. Para algumas pessoas, admitir que precisam de carinho é sinal de fraqueza e dependência, especialmente para os homens, aponta Keating. Segundo ela, 5 milhões de transmissões nervosas são responsáveis pelas diferentes sensações do toque e que existem muitos estudos sobre os benefícios do contato físico, mas que provar que ele é essencial, poderoso e capaz de curar é como argumentar que respirar faz bem. praticado em Ongs, hospitais e escolas nos U.S.A., Canadá, Inglaterra, Austrália, Alemanha e Rússia. Em 2001, Jason Hunter, após perder sua mãe que adorava abraçar as pessoas, independente de raça ou sexo, e deixá-las saber o quanto eram importantes, quis dar continuidade a missão de sua mãe e saiu pelas ruas da praia ao sul de Miami com o cartaz escrito Free Hugs (Abraços Grátis). Mas nenhum dos dois conseguiu transformar isso em um movimento de massa não institucionalizado. Até que em 2004 um jovem australiano chamado Juan Mann, que estava vivendo em Londres retornou a sua cidade natal Sidney, chegando ao aeroporto não havia ninguém para recebê-lo, porque sua família estava passando por problemas, seus pais estavam se divorciando, sua avó estava doente e sua namorada tinha acabado de terminar o relacionamento deles, vendo outras pessoas no aeroporto sendo recebidas pelos familiares e amigos, Juan ficou triste e pra se animar foi a uma festa onde uma desconhecida o presenteou com um abraço. Seis meses depois dessa festa ele fez um cartaz com as palavras Free Hugs e levou ao shopping Pitt Mall Street no centro de Sidney oferecendo seu abraço a todos que passavam, ele transformou isso em um ritual e toda semana ele levava o cartaz até o shopping. Até que certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, líder da banda Sick Puppies, e desde então se tornaram bons amigos. Moore pediu a câmera do pai emprestada, e decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por “Free Hugs”. Em setembro de 2006, a avó de Juan Mann morreu e Moore, pensando em animá-lo, editou as imagens do vídeo, mesclou-as com sua música e fez upload de seu registro para o Youtube. Devido à veiculação desse vídeo o movimento Free Hugs ficou conhecido no mundo todo, em um mês, muitos jovens estavam imitando o gesto em outros países e a ação se tornou um movimento social com sites de apoio em várias línguas. À medida que o Free Hugs atingiu proporções maiores, a polícia australiana começou a proibir o movimento a não ser que Juan Mann pagasse um tipo de seguro de $25 milhões em que ele assumiria a responsabilidade pelo que acontecesse com outras pessoas enquanto participavam do movimento. Então Mann e seus amigos Fotos: Caroline Moura Free Hugs: o começo É difícil definir quando começou uma campanha para compartilhar abraços entre pessoas comuns sem nenhum interesse pessoal, segundo o site Free Hugs Movement o registro mais antigo foi quando em 1986 o Reverendo Kevin Zaborney criou em sua igreja o National Hugging Day (Dia Nacional do Abraço), que posteriormente passou a ser Integrantes do movimento Abraços Grátis no Gasômetro em Porto Alegre no Dia do trabalho fizeram uma petição com mais de 10.000 assinaturas apoiando a campanha do abraço de graça, e assim ele conseguiu permissão para continuar oferecendo abraços grátis. G er a l O estudante Eduardo Moreira participando do movimento Abraços Grátis no Gasômetro A estudante Bianca Lima Inda, 17 anos, que também integra o grupo diz que o mais interessante é ver a reação das pessoas, e que alguns meninos quando vêem as meninas com o cartaz de abraço grátis, fazem piadinhas, mas que ela já está acostumada e tenta explicar que é só abraço mesmo e qual é o verdadeiro objetivo do movimento. Inda conta que os amigos e a família acham muito legal a idéia, que até se identificam, mas não tem a coragem de sair na rua com um cartaz e que ela tenta explicar que só traz um bem interior e que não deve ter vergonha disso. O grupo pretende se concretizar e começar a fazer o movimento em asilos, orfanatos, hospitais e clinica de recuperação. O movimento não está sendo realizado apenas em Porto Alegre, aqui no Estado, mas também Japão invade POA César augusto machado No último dia 16 e 17 de junho em Porto Alegre aconteceu o AnimeSul na Fundação Pão dos Pobres de Santos Antônio e reuniu, cosplays j-rockers e pessoas que gostam de cultura japonesa. Que contou com a participação de Leonardo Camillo que participou nas produções nipônicas em tokusatsu dublou Dan Shimaru/ Lion Man; Detetive Hayato em Kamen Rider Black; Kanin Dragon em Jiraiya; em Animes foi o dublador de Piccolo em DBZ; Jinpuu e Takimi Shigure em Samurai X; Kim Kaphwan em Fatal Fury; Frank Archer em Fullmetal Alchemist; Ryoma em Shurato; Miro de Escorpião e Ikki de Fênix em Cavaleiros do Zodíaco e tambem Ulisses Bezerra dublou os personagens de Animes como Keitaro Urashima em Love Hina e Shun de Andrômeda em Cavaleiros do em cidades como Santa Maria, Uruguaiana, Rio Grande, Taquara e outras cidades no interior do Rio Grande do Sul. Existem bons motivos para o ato de abraçar, pois o abraço acaba com a solidão, ajuda a superar o medo, constrói a auto-estima, estimula a vontade de ajudar o próximo, prolonga a juventude, ajuda a controlar o apetite, alivia a tensão, combate a insônia, um endireitamento na espinha dorsal e a expansão da respiração no ventre e no tórax O abraço é uma forma universal de obtenção de contato profundo, físico e afetivo. O gesto de alargar os braços é sinal universal de paz e fraternidade; é um gesto ligado à idéia do abrir-se, à sensação de ficar em contato mais íntimo com o próximo e de estar em disponibilidade para acolhê-lo. AnimeSul reúne 3 mil pessoas de todo o Estado na capital Zodíaco. Tania Gaidarji No universo dos Animes dublou entre outras inúmeras personagens Chun Li em Street Fighter; Vishnu em Shurato e Bulma em Dragon Ball Z. O evento teve competições de cosplay em grupo e individual e animeke. O animeke teve 25 inscritos em 4 categoria, e competição de cosplay contou com 45 inscritos em duas categorias. Universo IPA | Julho 2007 O principal organizador do movimento em Porto Alegre é o estudante Cristian Marques dos Passos, 19 anos, que ao ver o vídeo de Juan Mann no Youtube, criou uma comunidade no site de relacionamento Orkut, e convidou seus amigos para participarem, os primeiros encontros do grupo se realizaram em março em lugares que são referências turísticas e de intenso movimento nos finais de semana em Porto Alegre como Redenção, Parque da Harmonia e Gasômetro e desde então o número de integrantes vem crescendo. A comunidade que inicialmente tinha 200 membros, agora já conta com mais de 450 membros, Marques conta que na opinião dele o principal objetivo do movimento é unir as pessoas, aproximar mais as pessoas que estão cada vez mais afastadas. Quando perguntado se já havia passado por alguma situação inusitada durante o movimento, ele revela “Nós estávamos na Redenção e iríamos para o Parque da Harmonia, onde havia o show do Nenhum de Nós, chegando lá, estávamos na frente do palco, fazendo o Free Hugs, quando vem um cara do nada e me abraça por trás, fiquei sem jeito na hora, peguei e virei na boa e dei um abraço nele e continuei o movimento sem problema nenhum”. G eral O movimento em Porto Alegre 21 c ostume c ostum es s Daniel Chaves Os sete pecados capitais A gula, pecado capital mais confessado pelas pessoas, é o maior causador de transtornos alimentares como obesidade, anorexia e a bulimia Daniel Chaves e Gabriele Afonso Universo IPA | Julho 2007 A realidade é mais uma vez exibida na ficção, é assim que a Rede Globo de Televisão busca mostrar de uma forma fantasiosa os sete pecados capitais. Classificado como vícios e usados pela Igreja Católica primordialmente como ensinamentos para proteger e educar seguidores. Na busca exagerada pelo externo as pessoas demonstram a ausência ou a restrita visão de seus valores internos, não valorizando sua intuição, inspiração e percepção. Segundo o doutor em Teologia, Padre Pedro Alberto Kunrath, 49 anos, “ a família hoje não tem mais capacidade ou força integradora”, e complementa, “ a família não tem mais tempo juntos, a vida que se leva hoje dificulta o contato”. Pecado capital (capita = cabeça, portanto, pecado que vem da cabeça). Por isso se fundamenta em algum desejo natural e instintivo. Podemos encontrar cada um dos sete pecados nas nossas relações diárias, em nós mesmos e na sociedade em geral. São eles: 22 1) Orgulho - “o principio de todo pecado é o orgulho, ele desencadeia os demais” diz Kunrath. Segundo a bíblia o orgulho seria responsável pela desobediência de adão, que teria experimentado o fruto proibido para se tornar Deus. 2) Avareza - Desejo desordenado dos bens deste mundo. Nossos políticos conhecem bem esse pecado, que se resume na sín- drome de acumular, juntar. O lema de quem comete tal pecado é “quanto mais tenho, mais quero”. 3) Inveja - Sentimento de desgosto pela prosperidade alheia, misto de pena e raiva. A má distribuição de renda do nosso país, faz com que as pessoas menos favorecidas, busquem suprir na criminalidade suas frustrações por não possuir bens materiais de Por que sete? Segundo Kunrath, sete é o número da plenitude, um número completo. “Sete é o número do cosmos. É a soma de quatro mais três”, explica Kunrath. Muitos devem estar se perguntando, como assim quatro mais três, o padre explica, “quatro é o número do movimento. Terra, fogo, água e ar. Três é o número da transcendência, o número do descanso”. A Igreja Católica ensina que os sete pecados capitais tem seus antônimos, que é conhecido como as “sete virtudes”. Veja a seguir: - Castidade se opõe a luxúria. - Generosidade se opõe a avareza. - Temperança se opõe a gula. - Diligência se opõe a preguiça. - Paciência se opõe a ira. - Caridade se opõe a inveja. - Humildade se opõe a orgulho. igual ou maior valor que a sociedade em geral possui. 4) Ira - Estado emocional desordenado, é a raiva excessiva. Sentimento normalmente passageiro que causa danos irreparáveis. No filme “Um dia de fúria”, o ator Michael Douglas interpreta um homem que após ficar preso no trânsito, decide abandonar o veículo e ir a pé, durante o trajeto ele se depara com a criminalidade e extravasa toda a sua ira. 5) Luxúria - Na cultura cristã o sexo sempre foi visto como algo sujo, aceito somente como forma de reprodução. Na mídia o uso do corpo é exagerado. “A luxúria é o prazer pelo excesso” afirma Kunrath. 6) Gula - “A língua é o menor membro do corpo, porém o mais perigoso” diz o teólogo. A sociedade impõe um padrão de beleza que acaba comprometendo a saúde de muitas pessoas que buscam a felicidade no estereótipo montado. A obesidade, a anorexia e a bulimia são alguns dos transtornos alimentares causados por essa busca pelo corpo perfeito. 7) Preguiça - Lentidão e falta de vontade em fazer algo. O mundo fornece imensas facilidades que acaba deixando a sociedade acomodada, a mercê das máquinas. Projeto prevê novo ESPAÇO de gastronomia, negócios e lazer para os porto-alegrenses turi smo mais alegre tur i sm o Um porto José Peixe Joice proença Restaurantes, hotel, lojas, centro empresarial e cultural. Conforme as previsões do coordenador do Projeto de Revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre, Edemar Tutikian em breve a cidade poderá finalmente usufruir de um espaço privilegiado, e, até agora, pouco aproveitado no centro. Após quase duas décadas de discussões, projetos arquitetônicos e muita especulação, a utilização do cais Mauá, como área de lazer, nos moldes dos Universo IPA | Julho 2007 portos de Lisboa e Buenos Aires, começa a adquirir forma. 23 tões a respeito de titularidade e legalidade do local, pensamos a área, visitamos outros portos como Buenos Aires, Belém do Pará e Lisboa, onde foi possível conhecer a ação propriamente dita e os princípios de gesO grupo, encarregado de levar adiante tão”, complementa. o projeto, decidiu que, ao invés de apresenApós ter todas as informações sobre o tar maquetes de projetos faraônicos à poporto completas, catalogadas e organizapulação, o trabalho, desta vez, deveria partir das, foi iniciada a formulação das diretrizes. do princípio, com atuação de forma discreO coordenador do projeto relata que, com ta, o que vem dando resultado. O projeto, já estes dados em mãos, diversos grupos fotem sua primeira e grande etapa concluída: ram procurados, para que a discussão, e a o levantamento de todas as informações soelaboração do projeto e das regras fossem bre a infra-estrutura da área. O local é confeitas de forma democrática. Durante o prosiderado pelo Plano Diretor de Porto Alegre, cesso, a comissão manteve reuniões e discomo uma área especial, cujas diretrizes decussões com vem ser regraas secretarias das a partir da “Nunca, durante esse anos todos, e órgãos de existência de meio ambienum projeto estinha sido feito um projeto de te, patrimônio pecífico para o base, estrutura, infra-estrutura, histórico, grulocal. É o que a definição de regras e normas, pos ligados à comissão de cultura, superevitalização de plano diretor. A gente não rintendência do cais Mauá pegou o trabalho de outro de portos e hitem feito. A e disse que isso não vale”. drovias (que captação de tem a jurisditodos os dação da área), procuradoria-geral do Estado, dos - desde a medição da área, até a infraentre outros, e, a partir disso, o Plano Diretor estrutura, como rede de esgoto, água, enerpara a área começou a ser definido. gia - já foi feita, uma vez que o Estado não Para Tutikian, é importante ouvir as dipossuía estes registros. ferentes instâncias, pois com certeza outras “Durante anos os porto-alegrenses pessoas já pensaram, já discutiram isso. “Foacostumaram-se a ver noticiados muitos mos ao Plano Diretor, conversamos com asprojetos para o Cais, mas nunca, durante essociações que cuidam do centro da cidade, ses anos todos, tinha sido feito um projeto com o pessoal ligado ao cinema, teatro, mude base, estrutura, infra-estrutura, definição seus, ouvimos o pessoal do turismo, da feira de regras e normas, e de Plano Diretor”, exdo livro. Ouvimos muito, e aprendemos plica Tutikian. “A gente não pegou o trabamuito”. Segundo ele, após esses debates, e lho de outro e disse que isso não vale. Nós a análise de outros empreendimentos parecomeçamos pelo princípio, vimos às ques- turi tur i smsmo o Universo IPA | Julho 2007 Planejamento essencial 24 Fotos: José Peixe Desde que foi lançada a idéia de revitalização do Cais do Porto, em 1988, e após diversas intenções malogradas e esquecidas, o projeto torna-se pela primeira vez viável e proporciona esperanças a uma população quase cética. Nomeado pelo então governador Germano Rigotto, como coordenador do projeto, Tutikian, diretor de desenvolvimento e marketing da Caixa/RS, se viu com uma missão bastante delicada e trabalhosa: dar formato e tornar possível, algo que os gaúchos já pensavam não ser mais realizável. A comissão formada por integrantes técnicos das secretárias de Estado e da Prefeitura, percorreu um longo caminho. Após cerca de dois anos de estudos, debates com a sociedade civil organizada, empresários e setores interessados na proposta, o coordenador do projeto demonstra tranqüilidade com o andamento e afirma que, em um futuro próximo, os gaúchos poderão usufruir de um espaço agradável, útil e projetado. cidos, foi possível concluir que Porto Alegre estava pronta para receber a sua proposta de um novo porto. Em 1997, foi realizado pelo governo do Estado o concurso Porto dos Casais, na época, os projetos apresentados, inclusive o vencedor, possuíam grandes planejamentos arquitetônicos, mas pouco estudo estrutural. Tutikian afirma que, após 10 anos, o projeto encontra-se muito desatualizado, pois ao longo do tempo ocorreram diversas mudanças de conceito estrutural, tecnológico e de utilização da área. “Naquele período não existia uma preocupação tão grande com o impacto ambiental”, e acrescenta, “o projeto vencedor propunha um aterramento de 30 mil m3 do Guaíba, mas por que agredir o lago se tem tanto espaço disponível? É fundamental que tenhamos essa preocupação de não agredir o meio ambiente”. Definição do projeto O próximo passo na construção de um novo porto para a Capital gaúcha, passa pelo lançamento do edital de “solicitação de manifestação de interesse”, que deve ser publicado até agosto, onde o Estado solicita que alguma empresa interessada no projeto faça a modelagem, o plano de negócios e a viabilidade sócio-econômica. Tutikian explica que através destes estudos serão definidos os tipos de empreendimentos que serão feitos no local, e como efetivamente será a revitalização do Cais. “É importante termos estudos sobre qual é a melhor forma de executar o projeto, se é através de concessões, arrendamento ou de parcerias público-privadas. Um novo Cais Acessibilidade e muro Uma das maiores preocupações do comitê é o acesso da população ao cais, pois os trilhos do metrô, paralelos ao Guaíba em um trecho, prejudicariam a acessibilidade. Inspiração portuguesa Entre os diversos ações realizadas para criar o projeto de reviralização do Cais Mauá, uma delas foi conhecer outros modelos de aproveitamento turístico e comercial para o espaço portuário. A comissão viajou para diversos locais, para observar efetivamente como ocorria esaaa reformulações. Buenos Aires, Belém do Pará e Lisboa (foto), em todos estes portos, as administrações conseguiram dar uma nova utilização para os espaços, e ainda alavancar o turismo de suas cidades. Em Lisboa, a população utiliza o local para lazer, através de diversas opções de gastronomia, cultura, esportes e comércio. A atividade portuária do local, uma das portas de entrada da Europa, foi mantida. Entre as opções cogitadas para resolver o problema, está à criação de diversas passagens subterrâneas, por baixo do trem, ligando ruas e avenidas ao cais do porto. Tutikian afirma, ainda, que estão sendo estudadas outras possibilidades para tornar mais acessível o cais, como a abertura de outros portões e um rebaixamento da avenida Mauá, nas proximidades do portão central, que facilitariam o ingresso de quem vem da praça da Alfândega. Todas estas possibilidades estão sendo analisadas junto à prefeitura de Porto Alegre. Falar em revitalização, sempre passa pela polêmica de manter ou retirar o muro da Mauá, que faz parte do sistema de defesa da cidade contra enchentes. A última cheia, de grandes proporções, foi em 1941, quando o turi smo De acordo com as pretensões da Comissão, a área central do Cais Mauá, onde estão os 12 armazéns tombados, seria um espaço dedicado integralmente a atrair a população, com áreas de lazer, gastronomia, cultura e entretenimento. A proposta, segundo Edemar Tutikian, é preservar a estrutura e o estilo do local, mas para proporcionar ao ambiente melhores condições, estuda-se substituir algumas paredes dos armazéns por vidros. Falta a autorização do patrimônio histórico e cultural. Para as outras duas pontas do Porto, Usina do Gasômetro e docas, nas imediações da rodoviária, a idéia é transformar em zonas empresariais, onde funcionariam empreendimentos como hotéis, shopping center, centro de convenções e escritórios. Tutikian defende que foram criadas todas as condições para que o projeto realmente de certo, e reforça “temos total segurança para defender o projeto, e queremos em dois anos presentear os porto-alegrenses com essa obra”. Divulgação Porto de Lisboa Universo IPA | Julho 2007 O grande desafio é garantir que o empreendimento tenha sustentabilidade financeira, para que o investidor e o Estado possam lucrar com o negócio. Os rendimentos da revitalização do Cais Mauá poderão, além de criar milhares de empregos diretos e indiretos, gerar divisas, alavancar o turismo de Porto Alegre, e ainda, ajudar na revitalização do centro da Capital. A modelagem deve estar pronta cerca de seis meses, após o lançamento do edital. tur i sm o lago atingiu 1,50m acima do nível. Mesmo relatando que a comissão não deseja polemizar a questão do muro, pois a revitalização do cais é a partir do mesmo, Tutikian afirma que metade do paredão poderia ser retirada e substituída por um gradil , o que já mudaria completamente a vista. Em audiência pública para debater o Plano Diretor, no dia 17 de junho, foi aprovada uma moção de apoio solicitando a retirada do muro. A prefeitura irá solicitar uma análise técnica, para ver possíveis danos que sua retirada causaria a segurança da Capital. 25 turi tur i smsmo o Porto Alegre Fotos: Monica Brum é que tem... Monica Brum “Porto Alegre é que tem um jeito legal....” assim diz a música de Isabela Fogaça, que emociona diversos gaúchos quando toca. Que tal então redescobrir a cidade onde mora com um belo e acessível passeio turístico? Em funcionamento desde Janeiro de 2003, a Linha Turismo já encantou milhares de pessoas. O ônibus de dois andares, equipado com sistema de áudio em três idiomas (português, inglês e espanhol), câmeras de segurança, acesso a portadores de deficiência física, janelas panorâmica no andar inferior e parte superior descoberta permite visualizar a cidade e os principais pontos turísticos por onde passa. Universo IPA | Julho 2007 Redescobrindo a cidade 26 O passeio vem permitindo que as pessoas conheçam as belezas e atrativos da Capital, e redescubram detalhes por onde os porto-alegrenses transitam diariamente. Aspectos históricos, paisagens, recantos. “A maior procura é feita pelos próprios moradores da cidade, durante o final de semana e feriados principalmente”, explica Daiane Fernandes, que cuida da parte comercial do Linha Turismo. São 17 pontos turísticos. Saindo do Escritório Municipal de Turismo, localizado no Largo Zumbi dos Palmares, o veicula passa pelo Complexo Arquitetônico da UFRGS. De lá parte para o Parque Farroupilha(Redenção), Planetário, Parque Moinhos de Vento (Parcão), Shopping Total, Santa Casa de Misericórdia, Praça Mal. Deodoro da Fonseca (Praça da Matriz), Mercado Publico Central, Casa de Cultura Mario Quintana, Centro Cultural Usina do Gasômetro, Anfiteatro Pôr-do-Sol, Estádio Gigante da Beira - Rio, Igreja Menino Deus, Estádio Olímpico Monumental, Centro Municipal de Cultura Arte e Lazer Lupicinio Rodrigues e por ultimo Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo. No verão o horário mais procurado é o do ultimo passeio do dia, as 18 horas. “Todos querem ver o pôr-do-sol”, afirma Daiane. A estudante de Administração Luisa Silva Dias, ficou emocionada quando resolveu acompanhar uma amiga do Rio de Janeiro na Linha Turismo. “Legal é a sensação lá em cima, podemos até tocar nas folhas das arvores”, relata. A estudante redescobriu lugares no centro da Capital, e relembrou momentos de infância. “Vimos lugares histótricos muito interessantes, alguns que só havia visto quando pequena, lembrei de vários momentos da minha infância”, conta Luisa, que pretende voltar ao passeio outra vez, agora para acompanhar a tia. Muitas pessoas voltam mais de uma vez ao passeio, geralmente para trazer familiares e amigos. cos também participam dos passeios. Existe também o projeto Cota Social, que dá isenção a alunos de escolas publicas.São em torno de 500 vagas doadas por mês para o passeio. “As escolas interessadas tem que enviar um oficio. São tantas querendo passear, que hoje tenho escolas agendadas até o mês de Outubro”, conta Daiane. Esses passeios geralmente acontecem durante a semana. As reservas devem ser feitas através dos números (51)3212.3464 ou 32121628, e o valor do passeio é de R$7,00 no andar superior e R$5,00 no andar inferior. Idosos que apresentarem identidade ganham 50% de desconto.. Bom passeio. Parcerias O ônibus também faz diversas parcerias. Na campanha do agasalho, todos os grupos que ligavam para fazer reservas eram convidados a trazer agasalhos. Esse ano a Linha Turismo resolveu não dar descontos nos agasalhos, com a intenção de tornar as coisas mais espontâneas. Idosos, crianças, deficientes físi- Dias e horários De Terça-feira a Domingo 9h / 10h30min / 13h30min / 15h /16h30min Horário de verão: 9h / 10h30min / 15h / 16h30min /18h tur i sm o turi smo Christiano Borges Nova Zelândia Um país de inúmeras oportunidades Conhecida pela natureza exuberante, clima tropical e a diversidade de esportes radicais, a Nova Zelândia, um dos países com a melhor qualidade de vida do mundo, vem chamando atenção dos jovens brasileiros que procuram oportunidade de emprego e adrenalina!Um país de grandes aventuras, com uma paisagem surpreendente, montanhas, praias, florestas, lagos. Esteja preparado para nadar com golfinhos em águas cristalinas, escalar montanhas ou ver vulcões. Além das belezas naturais e contraste de paisagens em um pequeno espaço, neve e praias maravilhosas, por exemplo, os brasileiros estão liberados para mochilar por lá sem visto. Viajar para a terra do “No stress”, é ter o prazer de ser bem recebido e conhecer de perto uma cultura típica do pacífico. O viajante não precisa de muito dinheiro para viver neste país, um dos mais bonitos do mundo. Por estes atributos, que juntamente com a Austrália, o país é favorito entre os brasileiros entre os 16 e os 25 anos. Na busca de aventura, os jovens brasileiros tem optado cada vez mais por embarcar para a Nova Zelândia, para eles, o sonho da viagem é o passaporte da alegria, percorrer trilhas, escalar glaciares, pedalar em paisagens incríveis; enfim, sentir-se vivos! Este pequeno país que tem área equivalente ao Estado do Rio Grande do Sul, é vizinho da Austrália a 1,6 mil km a leste, reúne um quarto da minúscula população em sua maior cidade, Auckland, na Ilha do Norte. Seus inúmeros cenários, paisagens compostas por montanhas nevadas, rios, lagos, vales e flo- restas, são somados a uma pequena população. O país tem uma diversidade de dar inveja. O custo de vida é baixo, se comparado com países como Inglaterra, Estados Unidos e Canadá que possuem moedas fortes. Por esta razão, estudar lá não é caro. As escolas são públicas, mas possuem toda uma infra-estrutura e organização para um excelente aprendizado. Com salas de aula equipadas com computadores, e turmas de no máximo 25 alunos que estudam em horário integral, das oito da manhã até as três da tarde. O ano letivo Neozelandês é bem parecido com o do Brasil, porém os alunos de lá estudam dez semanas de aula e duas de férias. A Nova Zelândia é dividida em duas principais ilhas e numerosas pequenas, algumas delas bem longinquas. Norte ou Sul, você encontrará excelentes opções para estudar passear e curtir aventuras ao mesmo tempo. Com uma área de 270 500 km² e um clima ameno - raramente os termômetros marcam menos de zero ºC ou acima de 30ºC, é grande produtor de uva e kiwi, e possui um dos melhores vinhos do mundo. Suas principais indústrias de exportação são a horticultura, agricultura, silvicultura e a pesca. Além do potencial turístico, o país possui um ambiente político estável, força de trabalho, e ausência de corrupção, o que faz da Nova Zelândia um lugar fácil para fazer negócios. Sua moeda é o dólar neozelandês. Nos últimos três anos o valor da moeda flutuou entre 45 e 60 centavos do dólar americano. Universo IPA | Julho 2007 MANUELA PEREIRA 27 turi tur i smsmo o Mochilar e trabalhar Um sonho que vence barreiras Composto por duas ilhas isoladas no verno através do imposto de renda”. Segunsudoeste do Pacífico, a Nova Zelândia faz do Ramos, o que mais chama a atenção é parte da Oceania e tem representado para o fato da Nova Zelândia abrir as portas pamuitos brasileiros a possibilidade de conra trabalhadores estrangeiros. “Tenho a esquista da liberdade financeira. Para Wagner perança de crescer na vida, lá tenho certePereira, 28 anos e Priscila Ramos 18, viajar za que terei esta oportunidade”. A qualidapara lá é muito mais que isso: é ter a oporde de vida é um fator que interfere bastantunidade de conhecer uma outra cultura, te quando o assunto é mudança, mas os viver em um país com menos violência e estrangeiros devem se preocupar também ter a chance de expericom a segurança. “À mementar uma infinidade “Cheguei a uma fase dida que comecei a me de esportes radicais. informar sobre o país, na minha vida que “Cheguei a uma fase na pude observar que, difeminha vida que precisarente do Brasil, os poliprecisava de uma va de uma mudança, afimudança, afinal, só ciais não andam armanal, só se vive uma vez”, dos, e o índice de crimise vive uma vez!”. inicia Wagner. “Neste panalidade é baixíssimo”. ís a gente se esforça pra Famoso pela excelente crescer na vida e se da conta que continua qualidade de vida, o país é um dos mais estagnado, tenho vontade de viver sob um seguros do mundo. A polícia usa apenas governo mais honesto que de mais chance cães nas batidas policiais. Um outro fator para as pessoas”. que chama a atenção dos turistas é a faciPereira ainda frisa o fato da situação delidade de locomoção. Além da proximidacadente que se encontra a política brasileide dos lugares, o país oferece várias opções ra. “Aqui vivemos sob escândalos políticos de transporte, como avião, trens, ônibus e impostos e juros altíssimos. E o dinheiro vans, sem contar que é sempre agradável que ganhamos a mais, é sugado pelo gopedalar por lá. Universo IPA | Julho 2007 Arquivo 28 Legal no país Assim como Wagner e Priscila, muitos casais almejam a experiência de morar em outro país. É o caso de Christiano e Cláudia Borges, que estão na Nova Zelândia há 10 meses. “A experiência de morar em um país de primeiro mundo é fascinante. No começo você se sente meio deprimido por estar longe do Brasil. Mas depois você conhece um mundo de coisas diferentes”. Para o casal, o maior impacto que os brasileiros sentem é em relação à segurança e a aparência dos grandes centros, que também não são muitos pois é um país que tem apenas 4 milhões de habitantes. “As pessoas não se preocupam com segurança, os carros ficam abertos e até mesmo as casas podem ficar que não se ouve falar em roubo ou violência”, comenta Cláudia. Um aspecto que chama a atenção é o fato de não existirem mendigos ou meninos de rua, “isto causa impacto”, completa Cláudia. Nós vimos em Auckland alguns “medingos”. Mas não falta trabalho para ninguém. Pelo contrário eles precisam de gente para trabalhar, comenta Cristiano. Só vivem como mendigos pessoas que tem problemas psicológicos, que não se adaptam com trabalho e convívio familiar. “Abri conta em banco, comprei várias coisas, quebrando a cara e com uma série de can you repeat please”. Mas o que realmente atraiu a dupla à Nova Zelândia é a possibilidade de viajar a lugares lindos e aprender a falar inglês. “Cada um vem para a Nova Zelândia com um diferente objetivo. Eu ficaria feliz se recuperasse o que eu investi na passagem ou até se perdesse um pouco. Porque afinal de contas estava aprendendo inglês e viajando por um país maravilhoso”, relata Cristiano. Mesmo o casal tendo estudado a língua inglesa por dois anos no Brasil, sentiram bastante dificuldade nos primeiros meses. ”É muito difícil aprender inglês se você não tem uma base no Brasil. Quando chegamos era muito difícil entender eles, devido ao sotaque, que é diferente ao que estamos acostumados. “É uma eterna aprendizagem”, conclui Cláudia, dizendo que ambos procuO casal Christiano e Cláudia Borges em uma de suas viagens dentro do país ram não ficar muito com brasileiros para treinar a conversação. Existem brasileiros que estão há dois anos e ainda não falam praticamente nada. Quem sabe um pouco mais acaba se tornado intérprete. “Hoje nos sentimos bem preparados, não passamos mais trabalho”. Mas nem sempre foi assim. No inicio, tudo foi muito difícil. “Abri conta em banco, comprei várias coisas, mas quebrando muito a cara, e com uma série de can you repeat please”, conta Cristiano. Como um típico casal turista, Christiano e sua esposa receberam o visto de três meses, mas em seguida deram a entrada no work permit, visto que permite estrangeiros trabalharem lá, e assim renovaram sua permanência. Em seguida começaram a trabalhar em uma packhouse de kiwifruit, ou seja, embalando kiwis. “Aqui nós vivemos bem, é muito comum viajar pelo país, faz parte da rotina das pessoas, conhecer ilhas como Fiji e Samoa, ou visitar países como Indonésia, Japão e Austrália é muito acessível”. Conforme Christiano, o que mais esta influenciando os “brasucas” a virem para cá e a facilidade de entrada. Por outro lado, ele alerta os futuros mochileiros, o risco de serem deportados. “Quando há muitos brasileiros eles começam a cortar um pouco a entrada, estão selecionando mais, eles sabem que a maioria dos brasileiros vem para trabalhar e isso pode prejudicar a entrada dos próximos turistas”. Infelizmente, muitos turistas investem na sua passagem e são deportados no aeroporto, o que não foi o caso de Cláudia e Christiano. “Conosco foi muito tranqüilo. O mais importante e estar sempre legal no país.” . Para entendermos melhor a diversidade de atrações da Nova Zelândia, seguem algumas informações sobre as cidades e seus atrativos: Wellington Grande centro cultural e capital do país, Wellington, conhecida como a cidade dos ventos é o ponto de ligação com a ilha Sul pois os ferrys saem de Wellington e chegam a Picton na ilha Sul. Não perca de visitar o museu “Te Papa” e conhecer a agitada vida noturna. Auckland Conhecida como “City of Sails”, é a cidade de maior população e capital econômica do país.Uma das atrações turísticas é a Sky Tower. Conhecida como a maior torre do Hemisfério Sul, é muito utilizada para saltar de bungee jumping. E de cima dela, se pode avistar a baía e toda a cidade. Podemos encontrar também o museu de Auckland, o Mont Éden, um vulcão inativo que possui uma bela vista de todo o vale e o parque Domain e seus belos shows gratuitos.Paraa quem gosta de curtir a noite, a melhor opção é a Ponsonby Road, uma rua famosa por seus restaurantes e bares abertos até tarde. Você ainda pode encontrar bares que tocam música brasileira, como o Margaritas.A cidade é cercada por várias ilhas e possui praias belíssimas como Mission Bay Beach, Takapuna e Waiheke Island, a cerca de 40 min de lá você encontra lojas e restaurantes e reúne pessoas do mundo todo. Taupo O maior lago do Hemisférios Sul, assim é conhecido Lake Taupo, lá você pode descontrair praticando atividades aquáticas e esportes ao ar livre. É a porta de entrada para as montanhas de ski e “snowboarding” no inverno, além de possuir uma noite bem badalada. Região de Bay of Islands Conheça a história do berço da civilização da Nova zelândia, nade com os golfinhos selvagens e não esqueça de visitar os vilarejos locais.É um excelente lugar para praticar esportes aquáticos, velejar.Uma das mais inusitadas atrações é o navio do Greenpeace afundado. Nelson A cidade mais ensolarada da Nova Zelândia e também porta de entrada do de um dos parques mais famosos do país, o Abel Tasman Nacional Park, conhecido por sua beleza única. Um local para a pratica da caminhada e de sea-kayak. Queenstown Com uma localização previlegiada rodeada de montanhas e pelo lago Wakatipu, é conhecida como o melhor ponto de esqui do país e possui uma paisagem lindíssima a qualquer época do ano.Quem tiver coragem para pular, é o centro do bungee jumping. Há opções que vão do ponto mais baixo, os 43 metros da ponte do rio Kawarau, até o mais alto, o Nevis, com 134 metros no meio dos canyons. Além de aguçar a adrenalina, ainda pode comprar um DVD onde virá registrada a sua façanha. Rotorua Localizada na região Norte, Rotorua é o centro da cultura Maori e possui piscinas de lamas e geysers, freqüentes do cenário Norte da Ilha. E justamente por isso, a cidade inteira possui um cheiro de enxofre. Green Lake e Blue Lake são lagos de cores incríveis que você encontra lá. Christchurch Uma das cidades mais procuradas pelos jovens, Christchurch tem grande população e é famosa por seus jardins, bem como, por sua semelhança com a Inglaterra. Christchurch possui uma das principais universidades da Nova Zelândia. A cerca de uma hora, fica a cidade de Kaikoura popular entre os turistas, porque la é possível avistar baleias e também surfar. Fontes de pesquisa: Wikipédia e Revista 180º turi smo tur i sm o “Eu tinha acabado o segundo grau e concluído alguns cursos, havia iniciado um intensivo de inglês, nada impedia de buscar minha independência em um outro lugar, eu tava disposto a dar um peitaço”, comenta Magayver. Em algumas regiões, o Ministério da Agricultura regulariza a situação dos estrangeiros, mas este órgão não emite essa permissão de trabalho fora do país. Para não correr o risco de ser barrado, o jovem deve entrar no país para turismo ou estudo, e só depois pegar a permissão de trabalho agrícola. Em alguns casos, os fazendeiros ajudam o trabalhador a conseguir um CIC local, bem como a abrir uma conta no banco. Devido a tantas vantagens, aumenta cada vez mais o número de brasileiros viajando para a Nova Zelândia, e por este motivo a imigração esta mais rigorosa. Algumas pessoas viajam sem nenhuma preparação e acabam não conseguindo entrar no país. O viajante não deve levar muitos pertences pessoais, o excesso de bagagem pode dar a impressão que o turista pretende ficar no país.É muito importante possuir um vínculo com o seu país, como um emprego eu curso, no qual tenha que retomar, bem como conhecer os pontos turísticos que pretende visitar. E para estes casos é sempre bom portar filmadora ou câmera fotográfica para registrar os melhores momentos. Viajar com grupo de amigos pode ser perigoso, pois todos devem saber na ponta da língua os lugares que irão visitar. Se algum contar um detalhe diferente, pode acabar com o passeio de todos. E foi justamente por este motivo que Magayver foi impedido de entrar no país. “Eu sabia que se ficássemos juntos, poderiam dificultar nossa entrada no país. Já havia lido que viajar com um grupo de amigos era um ponto negativo no aeroporto, mas pela falta de experiência, insistimos de ficar juntos”. Como turista, o viajante não tem que se preocupar com seguro de vida ou vacina de febre amarela, pois o país se responsabiliza. Permanecendo até três meses, os brasileiros não precisam de visto, apenas do passaporte brasileiro. “È importante apresentar para a imigração a passagem de volta com retorno para no máximo três meses”, continua Magayver. “Chegando ao aeroporto passamos em um guichê para obter o visto, questionaram o motivo da nossa viagem, se havíamos levado dinheiro suficiente, se conhecíamos alguém e para onde iríamos”, completa Magayver. Saindo do guichê, foram encaminhados a uma entrevista, e, após onze horas no aeroporto, receberam a pior notícia. “A imigração acredita que você não é um turista genuíno”. Tentaram apelar com o Consulado, mas foi em vão. “A volta foi frustrante, fiquei arrasado, tudo o que havia planejado tinha ido por água abaixo, passamos 16 horas no avião sem trocar uma palavra, passou tudo pela minha cabeça.” Muitos jovens falham por inexperiência, “apesar de não termos conseguido, a experiência foi válida, com certeza estaremos mais preparados para enfrentar uma próxima viagem”. Universo IPA | Julho 2007 Christiano Borges Em matéria de beleza são muitas as opções, de lagos e montanhas à praias paradisíacas A vida na Nova Zelândia é o objetivo de muitos jovens sul americanos, além de ser muito legal para brasileiros trabalharem e estudarem por lá, ainda podem estar em contato com exuberantes paisagens. Foi com este intuito que Magayver Noal, 18 anos, juntamente com dois amigos embarcaram para a Nova Zelândia. 29 turi tur i smsmo o Turismo nos Pampas É o meu Rio Grande do Sul, Céu, sol, sul, terra e cor, onde tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor... E o turismo (Autor: Jader Moreci Teixeira) Letícia Rebordinho Considerado um dos Estados mais hospitaleiros do Brasil, o Rio Grande do Sul é conhecido por ter um povo valente que não foge à guerra. Possui papel marcante na história com a Revolução Farroupilha, maior guerra civil do país. Reconhecido também por suas belas mulheres, que trazem características de miscigenação diversificada e de pessoas cultas que sabem receber seus visitantes com bom papo regado a churrasco e chimarrão. Quando se fala em turismo, a primeira idéia que se tem é da Serra Gaúcha. “O Rio Grande de Sul é conhecido pelas suas cidades da Serra, sendo os locais mais solicitados e visitados por clientes de todas as regiões do Brasil,” informou a responsável pelo departamento de eventos da agência de turismo Fellini e gra duada em hotelaria pela FARGS, Suelen Glapinski. O Estado também é visitado, anualmente, por cerca de 1,5 milhões de pessoas de fora do Brasil, a maioria sul-americanos. “As agências de Turismo e Viagens desenvolvem atividades ligadas ao turismo e, pelo conhecimento técnico e experiência de seus profissionais, focaliza sua atuação na recepção dos viajantes que chegam ao Rio Grande do Sul, em grupos ou individualmente, na busca de alternativas de lazer, de negócios ou para participar de eventos,” comenta Glapinski. Visitantes da Europa e América do Norte estão chegando em número cada vez maior, fascinados por uma cultura única, belezas naturais e excelente rede hoteleira. O Rio Grande do Sul é um Estado para ser visitado em qual- quer estação do ano, por sua gama de roteiros turísticos. Turismo familiar, nas férias e finais de semana; turismo religioso, com um organizado calendário de festividades e visitas; turismo gastronômico, proporcionado pelas diversas regiões de imigração e colonização; turismo rural, ambientado em estâncias e fazendas, com cavalgadas e vivência no ambiente cotidiano do gaúcho do campo são algumas das opções. Há também turismo ecológico, pela riqueza das reservas naturais; turismo de negócios, pelas cidades de excelente infra-estrutura para seminários e workshops e turismo esportivo, que vem ganhando força, com diferentes modalidades como o rafting, as corredeiras, balonismo e o montanhismo, atraindo visitantes de todo o mundo. Capital tem 1.360.590 habitantes Universo IPA | Julho 2007 Arquivo / Sehadur 30 A capital do Rio Grande do Sul é uma sofisticada metrópole que conta com centros de convenções, infra-estrutura hoteleira de alto nível, shoppings centers, aeroporto de categoria internacional e espaços para shows musicais, teatrais e de dança. Localizada junto ao lago Guaíba, reconhecido popularmente como Rio Guaíba de lindo por do sol, com uma orla com diversos pontos de referenciais, como o Cais do Porto, a Usina do Gasômetro, a avenida Beira Rio, o Anfiteatro Pôr-do-sol, o Estaleiro Só, o Iate Clube Guaíba, o clube Veleiros do Sul e Jangadeiros entre outros. O gaúcho da capital é apaixonado por sua cidade e, quem não é, fica sendo. “Sou natural de São Sepé, vim para Porto Alegre estudar em 1979. Hoje tenho minha família toda aqui. Vou a minha cidade natal apenas a passeio de no máximo três dias. Sinto falta de Porto Alegre, quero morrer aqui,” comenta a professora aposentada Leci Andrada. Considerada uma das cidades mais arborizadas do Brasil, com uma população de consciência ecológica e consequentemente lindos parques como Parque Farroupilha, Parque Saint Hilaire, Parque Marinha do Brasil, Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Parque Harmonia), Parque Moinhos de Ventos (Parcão), Parque Mascarenhas de Moraes e Parque Chico Mendes entre outros. Outros pontos turísticos de Porto Alegre: Mercado Público Central, Chalé da Praça XV, Largo Glênio Peres, Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Palácio Farroupilha, Teatro São Pedro, Casa de Cultura Mario Quintana e Estádio Olímpico e Beira Rio. Além destes locais, que gosta de contato direto com a natureza pode visitar a Ilha da Pintada, o Jardim Botânico, a Reserva Biológica do Lami, os morros: Santana, do osso, São Pedro. E aos domingos, o Brique da Redenção, entre outros locais já citados. Divulgação Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha e Garibaldi são as principais cidades da Rota do Vinho e da Uva. As distâncias entre elas são pequenas, em rodovias urbanizadas e bem sinalizadas. É um roteiro turístico consagrado no Rio Grande do Sul, cuja porta de entrada é a cidade de Caxias do Sul, abrangendo mais de duas dezenas de outras cidades de forte influência da colonização italiana. turi smo Considerada um paraíso dos românticos, a Serra Gaúcha oferece opções para todos os tipos de turistas. Gramado e Canela são clássicas e internacionalmente reconhecidas. Mas a lista se estende com Nova Petrópolis, Garibaldi, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa, São Francisco de Paula, Cambará do Sul, São José dos Ausentes, entre outros. Rota do Vinho e da Uva tur i sm o Serra Gaúcha Caxias do Sul 360.420 habitantes Gramado 28.593 habitantes Emoldurada por um cenário natural belíssimo e uma das melhores vistas da Serra Gaúcha, Canela caracteriza-se pela modernidade e preservação da natureza. Historicamente, ficou reconhecida por redescobrir seu rumo, já que sua história turística teve inicio nos anos 40 com casas de jogos e Cassinos. Em 1945, sofreu um grande golpe, pois foi proibido o jogo no Brasil e a cidade tinha sua estrutura turística direcionada. A gastronomia canelense é famosa por Cafés Coloniais de deliciosos chocolates quentes e licores caseiros. A população com desenvolvimento cultural de herança européia, valoriza a música, teatro e gastronomia característicos da colonização alemã e italiana. A Cascata do Caracol tem um arroio no formato do animal em uma altura de 131metros e é considerado um dos pontos turísticos mais visitados do Brasil. Localizado em um parque com diversas trilhas ecológicas, estrutura para lazer, lojas de artesanato e uma escadaria de 927 degraus que leva ao topo da cascata a uma visão inesquecível. A Igreja Nossa Senhora de Lourdes, conhecida como Catedral de Pedra é o segundo ponto mais visitado de Canela. No estilo gótico inglês, revestida em basalto, apresenta uma torre de 65 metros de altura, com um carrilhão de 12 sinos. Outros pontos turísticos de Canela: Parque do Caracol, Parque da Ferradura, Parque da Fazenda, Parque do Pinheiro Grosso, Alpen Parque, Parque de Pedra, Parque das Sequóias, Museu do Automóvel Anos Dourados, Rafting Rio Paranhana, Mundo a vapor, Castelinho, Aldeia Mamãe Noel, Casa dos Bonecos, Morro Pelado entre outros. Identificada internacionalmente como coração da Serra Gaúcha e palco de grandes eventos como o Festival de Inverno e Festival de Cinema, onde o prêmio é o famoso KIKITO, Gramado tem uma arquitetura colonial típica alemã e italiana predominantes. Com a economia voltada para o turismo, a cidade recebe anualmente 2,5 milhões de visitantes em diversas épocas do ano. Suas ruas são enfeitadas no inverno pela tão esperada neve e no verão pelos jardins com numerosas hortênsias. A mistura das colonizações faz da cidade um destino pitoresco e romântico, que sem dúvida a caracteriza como a principal cidade serrana turística do estado. Outro evento reconhecido no país é o “Natal Luz”, onde a cidade entra literalmente no clima do Natal. As festividades do evento iniciam em outubro e se estendem até janeiro, com grande pico de visitantes nas datas natalinas. O Natal Luz, um dos maiores eventos natalinos no mundo, encanta com shows de fogos, som e luzes, além dos emocionantes desfiles. É inesquecível por que oferece verdadeiros espetáculos, que fazem brilhar os olhos. “O Rio Grande de Sul é conhecido pelas suas cidades da Serra”. Outros Pontos Turísticos de Gramado: Parapente (Paraglider), Mini Mundo, Museu Serrano, Museu de Perfume, Aldeia do Papai Noel, Lojas de Móveis de Gramado, Loja de cristais, Fábricas de Chocolate entre outros. Garibaldi 350.000 habitantes Denominada em homenagem ao “herói de dois mundos”, o italiano Giuseppe Garibaldi, a cidade foi colonizada inicialmente por imigrantes italianos, mas teve forte influência da cultura francesa, transmitida pelas congregações religiosas, responsáveis pela educação de seus habitantes por décadas. Localizada a 105 quilômetros de Porto Alegre a 640 Universo IPA | Julho 2007 Canela 33.612 habitantes A cidade historicamente foi colonizada por índios e denominada “Campo dos Bugres”. Em 1975, deu-se a ocupação por camponeses imigrantes italianos, recebendo o nome de Colônia de Caxias. Em sua evolução econômica e industrial predominou o cultivo da Videira e a Produção de Vinho, para consumo e para comercialização. Atualmente, a cidade é um pólo centralizador e considerada a “Capital da Montanha”. Segundo Glapinski o turismo de negócio tem crescido muito nos últimos tempos, ampliando a procura por Caxias do Sul, que antes era menos procurada para esta linha de turismo. A primeira Festa do Vinho aconteceu em 1931, dando inicio ao reconhecimento como berço do turismo relacionado ao vinho. Também localizada na região dos vinhedos, tem como atração principal o Parque da Fenavinho, onde acontecem feiras, eventos esportivos e culturais. Com infra-estrutura voltada ao turismo, o povo bentogonçalvense é hospitaleiro e propicia turismo gastronômico, de lazer, rural e econômico. Outros locais relacionados ao turismo são o Caminho das Pedras, Passeio de Maria Fumaça, Parque Temático Epopéia Italiana, Museu Histórico Casa do Imigrante, Jeep Aventura, Rafting, Parque Dall Pizzol entre outros. 31 turi tur i smsmo o metros de altitude, é reconhecida turisticamente de “Terra da Champanha”. Em função da bebida, é realizada anualmente a famosa Fenachamp. O evento acontece neste ano de 19 de setembro a 7 de outubro e completa sua 10° edição. Segundo o Presidente da Fenachamp, Gilberto Petrucci, a expectiva de público para 2007 é de 40 mil visitantes. “O diferencial da Fenachamp é a diversidade de opções de diversão. A festa é uma “grande champanharia”, com espaços para a gastronomia, comércio local, espetáculos de danças, teatros, circos, feiras, cursos, oficinas, desfiles de carros alegóricos entre outros. Teremos espaços infantis com recreação, brinquedos infláveis e internet, todos gratuitos, a fim de possibilitar o aproveitamento da festa por parte dos adultos. O espaço disponibilizado é de trinta vinícolas, trinta expositores e quinze agrícolas, entre elas marcas conhecidas como Chandon e Peterlongo,” comentou Petrucci. Cambará do Sul 7.000 habitantes Com nome de origem tupi guarani e significado de “folha de casca rugosa”, Cambará é uma típica árvore da região, com poderes medicinais no combate a gripes e tosses fortes. Além de ser conhecida como a “Terra dos Cânions”, é campeã no ranking de baixas temperaturas. Localizada em uma região dominada pelos campos ondulados do planalto da Serra Geral, sua principal atividade econômica é a pecuária e exploração de madeira. Com altitude de 980 metros, nos meses de junho a agosto a temperatura se aproxima a 8ºC negativos, com freqüentes ocorrências de nevascas. Situada sobre rochas vulcânicas ácidas da Fácies Palmas e a 186 km de Porto Alegre, integra a rota turística dos “Campos de Cima”. Os Cânions Itaimbezinho, Malacara e Fortaleza são os mais conhecidos, pois foram cenários de campanhas publicitárias e novelas como “Chocolate com Pimenta” e a mini série “A casa das Sete Mulheres” da Rede Globo. Com deslumbrantes aspectos da paisagem do planalto, Cambará vem adquirindo crescente desenvolvimento no turismo de aventura como o passeio em quadriciclos, tirolesas, rapel e trekking. Outros pontos turísticos: Cânions Rio Leão, Churriado, Lajeado da Margarida, Vale e Cachoeiras Xokleng e Tio França, Furnas Indígenas, entre outros. Universo IPA | Julho 2007 32 3.104 habitantes Localizada ao extremo nordeste do Estado e reconhecida pelo turismo rural, a cidade apresenta famosos paredões que servem de marco divisor do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em principio, pertencia à cidade vizinha de Bom Jesus e era o maior latifúndio do Estado, com mais de 1.000 km² de área. A história conta que seus primeiros donos, ainda no século 18, não assumiram as terras, que acabaram sendo leiloadas duas vezes pela ausência dos proprietários. Esta é a origem do nome São José dos Ausentes. Vive da pecuária extensiva, do cultivo da batata e maçã, do reflorestamento e do turismo, principalmente o de aventura. As trilhas das cachoeiras, Cachoeirão dos Rodrigues, Cascata do Perau Branco, Monte Negro e Desnível são as mais procuradas, propiciando caminhadas, banhos de rios e cachoeiras e trekking. Outras atividades são a Pesca Esportiva e o Mula Trekking, que percorre as antigas trilhas usadas pelos tropeiros para intercâmbio de produtos coloniais. A maioria dos visitantes se encantam com as pousadas rurais, localizadas fora da cidade. Divulgação Turismo no litoral O Litoral Norte do Rio Grande do Sul é formado por 24 municípios, sendo 13 litorâneos e 11 na encosta da Serra Geral. A mistura da Serra com o mar cria uma paisagem desenhada por dunas, guaritas, encostas, cachoeiras, cascatas, rios e trilhas em meio a Mata Atlântica que favorecem o ecoturismo o ano todo. Com temperaturas que atingem 40 C durante o verão, a região forma um pólo de aventura, com atividades que vão desde escaladas, rapel, vôo livre, balonismo, ciclo turismo, rafting, sand board e passeios náuticos. O turismo rural também é desfrutado no litoral gaúcho, com calvalgadas nos diversos engenhos e alambiques onde é possível degustar cachaças artesanais, licores e os típicos cafés coloniais. As praias mais conhecidas e procuradas são Tramandaí, Capão da Canoa e Torres. Considerado o município praiano mais procurado por veranistas, Torres está localizada a 197 km de Porto Alegre e a poucos quilômetros da divisa de Santa Catarina. A cidade recebeu este nome devido à existência de três rochedos de origem vulcânica que afloram à beira mar. Sua infra-estrutura de metrópole oferece muitas opções de lazer e entretenimento. Com mar propicio a prática de Surf, é um paraíso em meio São José dos Ausentes à natureza, preservados pelos nativos e turistas. Segundo o diretor de Planejamento Turístico de Torres, Fernando Mattioni, a população fixa da cidade é de aproximadamenta 35.000 habitantes e no verão aumenta para até 300.000, nos finais de semana de pico. A cidade tem na sua bandeira as duas principais vocações que são o turismo e a agricultura. ”O turismo é muito importante para Torres, mas é preciso acabar com a concepção de apenas ser local de turismo com sol e mar e é nesse sentido que trabalhamos. Buscamos outros tipos de mercados dentro deste segmento, tais como o turismo de aventura, turismo de eventos e formação de roteiros. As principais rotas são Torres e Morro Azul, Torres e Cânions da Serra Geral e Torres e Serra do Rio do Rastro, todos com a finalidade de atrair visitantes fora da temporada de verão,” comenta Mattioni. O Festival de Balonismo realizado em Tor- res é o maior evento do município e da América Latina, reunindo cerca de 40 equipes vindos de quatro cantos do mundo. “Montamos uma mega estrutura para receber balonistas e visitantes, que lotam as dependências do Parque Municipal de Exposições Odilo Weber Rodrigues,” explicou Mattioni. Várias atrações paralelas complementam a programação como Motocross, Shows de Acrobacias Aéreas, Feira de Artesanato além dos shows nacionais e festas que acontecem principalmente à noite no parque. O turismo ecológico também está em ascensão, com roteiros e trilhas de Ecoturismo. Outros pontos turísticos: Rio Mambituba e meandros, Ilhas dos Lobos, Parque da Guarita, Roteiro de Pesca Ecológica, Furnas, Torre Sul, Arqueológicos, Morro da Itapeva, Praia Grande, Praia do Cal, Prainha, Morro do Farol, Lagoa do Violão e Igreja Matriz São Domingos, entre outros. c omp or tame nto um novo mundo é possível c om por ta m e nto Nas cores do arco-íris Manoela Rysdyk Socos, chutes e pontapés vinham de todos os lados. O adestrador de cães Edson Neves, estava passeando de mãos dadas com o seu namorado, perto da estação república do metrô de São Paulo, quando começou a ser agredido por um grupo de jovens. O namorado correu para fugir do ataque. Neves foi espancado até a morte. Ao serem interrogados pela polícia sobre o motivo da agressão os jovens responderam que a unica razão por Neves ter apanhado foi por ser gay. Agressões como essa são muito comuns em todo o Brasil e são chamadas de homofóbicas. A orientação sexual é uma construção cultural. Muitos ativistas do movimento Gay dizem que nós somos adeptos da teoria construtivista, onde a sexualidade é uma construção cultural. Naturalmente, seríamos muito mais livres, sexualmente, se não fosse nossa cultura. No SiriLanka, por exemplo, é possível encontrar uma realidade muito distante da brasileira. No país, os homens gozam de uma liberdade muito maior do que a das mulheres. Eles andam de mãos dadas, abraçados, se beijam na face e até na boca, mas é proíbido ser homossexual. Você pode até fazer sexo oral com o seu parceiro, mas não pode haver sexo anal. A sexualidade para eles se reduz à penetração anal. Não havendo isso, todo resto pode. Para o srilanquês, os amigos são para toda a vida. Muitas vezes o marido convida um amigo intimo para jantar na casa do casal, enquanto a mulher prepara o jantar os dois trocam carícias, e depois ela os serve. Isso não é agressivo, faz parte da cultura. Mesmo que a mulher os terossexuais. Essa é uma construção cultural da sexualidade. Universo IPA | Julho 2007 encontre fazendo sexo oral, isso é normal, faz parte das práticas he- 33 c omp ormtame c om por ta e nto nto O arco-íris tornou-se o mais conhecido símbolo da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) no mundo. Elaborado pelo artista plástico Gibert Baker, para a parada do orgulho gay em São Franscisco, no ano de 1978. O Vermelho representa vida. Laranja a saúdecura. Amarelo o sol. Verde a natureza. Azul harmonia. Violeta a Universo IPA | Julho 2007 espiritualidade. 34 Tanto Porto Alegre como a região Sul são locais de vanguarda na conquista de direitos de minorias no Brasil. A capital gaúcha foi uma das primeiras a incluir na lei orgânica o direito a livre orientação sexual. O que acontece muitas vezes, e que por essas leis não serem aprovadas em nível federal alguns Estados acabam questionando sua legitimidade. Dois grupos que atuam em Porto Alegre prestando serviços diversos aos homossexuais, têm posições divergentes a respeito da homofobia. O NUANCES diz que a educação e conscientização são fundamentais para a diminuiçao dos casos. O SOMOS afirma a necessidade de um dispositivo legal para começar a resolver o problema. Para o Grupo Nuances, a solução esta na discussão aberta do assunto. “O movimento Gay brasileiro é basicamente conservador. Pois, por exemplo, em relação a homofobia ele acredita que prendendo as pessoas e a forma de resolver o problema, mas não vai”, ressalta Laurenci. O grupo diz que uma reeducação e fundamental. “Estamos no meio de um processo de negociação”, afirma o coordenador de projetos do SOMOS Cleber Vicente Gonçalves, pois a lei que criminaliza a homofobia ja passou pelo Congresso Nacional e agora esta tramitando no Senado. O grupo diz que encontra muito resistência no Senado, mas espera ter a lei promulgada pelo presidente da república e, assim, ter o preceito legal que garanta direitos de gays lésbicas e simpatizantes. A realidade brasileira O Brasil é campeão mundial de assassinatos de homossexuais. A cada três dias um é barbaramente assassinado, vítima do machismo e da homofobia. No Brasil, se mata mais do que no Irã e Iraque onde a homossexualidade é pena capital e as pessoas são mortas por apedrejamento e enforcamento em praça pública. Não existe uma precisão nos dados, pois 95% dos homossexuais do Brasil ainda vivem na clandestinidade, não são assumidos e temem registrar queixa quando sofrem alguma discriminação. Isso muitas vezes acontece pois o preconceito parte também do poder público. Como relatado pelo Coordenador de projetos do SOMOS, dois jovens estavam em Salvador na beira da praia observando o mar, quando policias se aproximaram e ordenaram que os dois tirassem a roupa e começassem a nadar. Um dos jovens disse que não poderia entrar, pois não sabia nadar. Mesmo assim os policiais, os forçaram a entrar na agua. Um dos jovens morreu afogado. Entre 1980 a 2004, foram 280 casos de assassinatos motivados por preconceito por orientaçao sexual, só na Bahia, informa o presidente do Grupo Gay da Bahia (CGB) Marcelo Cerqueira. Os dados fazem parte de um dossiê elaborado anualmente pelo grupo, que indica os diversos tipos de violência praticado contra homossexuais, desde agressão e insulto verbal, até violência relacionada ao extermínio. “Constatamos que a onda de homofobia aumenta a cada dia”, diz Cerqueira informando que um dos objetivos do dossiê é pressionar as autoridades a criar leis que garantam os direitos dos gays e implementar projetos. O professor de antropologia e diretor da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais (ABGLT) Luiz Mott, afirma que a justiça no Brasil é muito lenta e pouco solidária as minorias sociais, pobres e discriminados. As condenações por racismo são raras. Mesmo assim, o movimento homossexual já conseguiu algumas vitórias, como a retirada do ar de uma propaganda de sapataria em Salvador cujo Fotos: Manoela Rysdyk No mundo Um dos projetos que o SOMOS está desenvolvendo é de levar as Organização das Nações Unidas (ONU), a inclusão na carta das nações o direito a livre orientação sexual. Segundo Gonçalves, quando o grupo começou a fazer a articulação no âmbito da ONU, perceberam que alguns paises estavam totalmente contra. Entre eles o Afeganistão, Iran, Índia, Siri lanka, Iraque, Egito e Jamaica. Até bem pouco tempo, o Chile fazia parte dessa lista, pois a constituição daquele país proíbia a homossexualidade. Mas a questão dos países do Oriente Médio era mais delicada para o Brasil, pois eles ameaçaram o rompimento de relações comerciais caso essa resolução fosse apresentada pelo Brasil. A resolução tem de ser apresentada por um país membro, então o que estava acontecendo era apenas a articulação para que isso fosse efetivado. O Brasil continuou tentando, mas com a pressão dos países seria muito difícil de passar na ONU. Começaram as articulações na Organização dos estados Americanos (OEA) que ficou mais fácil com a retirada o artigo da constituição do Chile, pois agora apenas a Jamaica, nas Américas, tem posicionamento contra. Já a posição da Jamaica é ambígua, porque ela proíbe a homossexualidade masculina e a feminina não. Ou seja, é possível ser lésbica mas não gay. Para o SOMOS, aí esta uma brecha para entrar com uma resolução por aqui. As resoluções tem peso de lei em todos os Estados membros. Esse ano, na Rússia, alguns ativistas tentaram organizar a primeira parada gay do país, e foram agredidos por várias pessoas que se mostraram contra. Entre os contrariados estava o prefeito de Moscou, que chegou às vias de fato com os manifestantes. Se a lei tivesse sido aprovada na ONU, mesmo sem nenhuma legislação que ampare os Gays na Rússia, os homossexuais que foram agredidos poderiam entrar na justiça. Tendo como base a resolução das Nações Unidas e buscar algum tipo de reparação por parte do governo Russo. Homofobia é o ódio, a aversão à homossexualidade. É o sentimento que um idividuo manifesta diante de um homossexual. Glademir Laurence, do Grupo Nuances, agrega ainda ao conceito as palavras repulsa e desprezo . A manifestação de homofobia pode acontecer de várias maneiras, a verbal é muito comum. Uma piada envolvendo palavras mal colocadas, como bixinha, mariquinha também são classificadas como homofóbicas. Quando criança, o jornalista Rafael Menezes, chegou a ser agredido fisicamente por seus colegas de aula e excluído do grupo. Por isso, muitas vezes teve medo de ir a aula, mas nunca falou nada porque tinha vergonha de conversar sobre o assunto com seus pais. “Na adolescência as agressões eram verbais e depois de adultos insinuaçoes preconceituosas”, relata Menezes. É muito comum essa discriminação começar dentro de casa. Partindo da família os primeiros contatos com a homofobia. Muitas vezes a falta de diálogo, por vergonha ou medo é o fator crucial. Educação e consciência são peças chave para combater qualquer tipo de racismo e discriminação racial. Homofobia, racismo, discriminação por etnia ou orientaçao sexual são sentimentos que, aliados a ações, resultam em práticas violentas . Onde o agressor se sente invadido ou lesado moralmente, comete atos bárbaros. O agredido por sua vez, alem de ser machucado fisicamente, psicologicamente falando pode ter sequelas irreversiveis. lembranças que dificilmente sao sicatrizadas. “Eu estava em uma parada da minha cidade, esperando o ônibus. Um carro se aproximou, estava cheio de homens, uns quatro. Eles perguntaram: -Tem fogo, seu veado? Eu respondi: - Não, não fumo! Meus amigos sempre me disseram que eu era um pouco afetado, sabe. Assim, afemidado. Então, acho que eles perceberam e por isso me espancaram. Eu acoredei no hospital. Fraturei uma costela, fiquei cheio de ematomas. Mas o pior foi o medo. As lembranças demorarm pra sair da cabeca, na verdade acho que nunca sairam. Elas vivem me assombrando”. c omp or tame nto Em 2006, o SOMOS apoiou a escola de Samba Filhos da Candinha, do bairro Partenon, de Porto Alegre. A escola contou a historia da homossexualidade desde os gregos até os dias de hoje, com o enredo “Nas cores do arco-íris um outro mundo e possível”. A ONG deu suporte e ajuda na construção da história. Por terem escolhidos esse tema, a escola perdeu toda a rede de apoio que tinha. As lojas de ferragem, marcenaria que ajudavam na construção dos carros retiraram o apoio para que os Filhos da Candinha, mudassem de tema. Porém, eles não mudaram. Insistiram em Homofobia? c om por ta m e nto Em Porto Alegre falar no assunto e o SOMOS juntamente com as diversas ONGs que integram o fórum GLBT de Porto alegre apoiaram no que foi possível. “Ficamos muito orgulhosos com a coragem deles”, diz Gonçalves. O grupo ajudou a construir carros alegóricos, montar alegorias e na elaboração do samba enredo. No dia do desfile de Carnaval, no Complexo Cultural Porto Seco, foi organizado uma parada Gay onde muitas pessoas compareceram e desfilaram na última ala. Assim, a escola da Zona Leste de Porto Alegre, chegou em primeiro lugar no grupo de acesso B do carnaval 2006 e subiu para o grupo das escolas especiais. (Relato de um homossexual que não quis se identificar). Veja algumas organizações, grupos, ONGs que prestam serviços e ajuda a sociedade: NUANCES - Grupo pela livre expressão sexual Rua Rui Barbosa,220 sala 51 - Centro Porto Alegre - Fone: 32863325 www.nuances.com.br SOMOS - Comunicação, saúde e sexualidade Rua Jacinto Gomes, 378 - Santana Porto Alegre - Fone: 32338423 www.somos.org.br Universo IPA | Julho 2007 vendedor ameaçava um gay com um revolver, ou o motel em Porto Alegre que não aceitou casal gay e por isso foi multado. No Brasil, 76 municipios têm leis orgânicas que proíbem a discriminação por “orientação sexual”. 35 c omp ormtame c om por ta e nto nto Dan iela Pro tt i Ela passa por inúmeras tribos e sempre faz sucesso. Não importa a ocasião, sempre cai bem A magia da peruca em diversas faces Universo IPA | Julho 2007 Daniela Protti 36 É uma idéia que literalmente já passou pela cabeça de muitas pesNa maioria dos casos, a peruca é procurada por pessoas que persoas, seja por vaidade, necessidade, trabalho, questão de saúde ou por deram o cabelo em função de doenças, como o câncer. Mas também curiosidade mesmo. A peruca surgiu na França, no séc. XVII quando o é utilizada para trabalho, como é o caso da drag queen Letícia Dumont, rei francês Luís XIV ficou calvo e, para completar, um surto de piolho 38 anos. Dumont trabalha nesse ramo a sete anos e considera a peruocorreu na região obrigando toda a população a raspar a cabeça, inca um acessório essencial em suas performances. Em suas apresentaclusive os nobres, que não gostaram da idéia e pasções usa uma vermelha curta e uma loira comprida saram a usar as famosas perucas brancas, que pos“Muitos profissionais e acredita que o acessório serve para encantar as teriormente tornaram-se um símbolo de riqueza. pessoas. “Eu coloco a peruca para ganhar dinheiro, que viajam, Hoje ela existe em várias formas, para diferensomente para trabalho” comenta Dumont. tes estilos e finalidades. Não é uma peça muito Algumas mulheres usam esse artifício na busca mudam a peruca”. barata, pois, separar mecha por mecha e depois da praticidade, é o que conta atendente de uma locosturar fio a fio em uma tela não é uma tarefa muito fácil. Ainda mais ja de perucas, Marisa Costa. Ela disse que algumas mulheres, que têm a quando feita de cabelo natural, é o que conta Valesca Grasiela Novida corrida entre congressos e viagens, usam para não perder tempo witski , 22 anos, que trabalha em uma loja especializada na confecção em cabeleireiro. “Muitas profissionais que viajam mudam a peruca – sode perucas, que é tradição da família. be no hotel, larga a mala, bota a peruca, desce e vai para o congresso”. c omp or tame nto c om por ta m e nto volve apenas a vergonha ou a vaidade feminina, mas sim o respeito Mas não são só as mulheres que usufruem da praticidade e conpara com as outras pessoas “é uma agressão e inspira pena. O sentiforto que o cabelo artificial proporciona. Os homens também buscam mento de piedade é muito ruim para quem está doente, não ajuda sentir-se bem e elevar a auto estima. em nada.”, desabafa. Alex Fontoura de 33 anos, começou a ficar calvo aos 23 e sempre A peruca loura, semelhante ao seu cabelo natural, usou boné para disfarçar. Mas o inconveniente do uso trazia a Jussara de antes da doença, já a escura, usava do boné é deixar a aparência muito casual. Então Alex “A peruca para se divertir. Conta que punha o cabelo escuro e um raspou o cabelo e, ainda assim se incomodava, pois acha sozinha não é óculos de sol, quando não queria ser reconhecida na feio o formato da sua cabeça. Ele conta que chegou a rua. Muito extrovertida as brincadeiras faziam parte de sofrer preconceito de mulheres quando descobriam que nada, a gente seu cotidiano, quando as pessoas a olhavam demais, era calvo “as meninas não saiam comigo”, desabafa. que veste ela”. ameaçava tirar a peruca “vou dar um susto e acabar Uma opção para os calvos é a prótese capilar, tratacom essa alegria”, risos. se de uma peruca que tapa exatamente a falha de caAssim foi lidando com a doença, de uma forma bem humorada, belo e vai entrelaçada ao restante. Fontoura acredita que sua vida não se deixou abalar “levei essa faze não na brincadeira, mas procurei mudou depois de colocar a prótese a auto estima melhorou “eu gosto explorar o lado cômico e o trágico deixei para trás”. de levantar de manhã e arrumar o cabelo” argumenta. Mas Fontoura Nunca escondeu que usava peruca, para quem perguntava tinha a conta que já passou por situações constrangedoras e engraçadas por resposta verdadeira, apesar de que nem todos desconfiavam e ainda conta da peruca, com pessoas que o conheceram careca e quando o tinha gente querendo saber qual a tintura que ela usava. A tranqüilidade viram com cabelo estranharam, perguntaram se ele havia posto cabeque tinha em contar que o cabelo não era seu, vinha da lo, ele não conta que usa e completa “pessoas que usam dentadura certeza que ela tinha de que a situação era pronão saem dizendo que usam, é uma questão pessoal” a visória “nunca pensei em usar para sempre, curiosidade é grande e as perguntas mais freqüentes nem em encerrar a mina vida ali.”. são: é caro? ela cai? pode mergulhar? E haja paciênDe certa forma, essa fase difícil cia! Fontoura é um homem realizado com o seu teve seu lado bom e com a certeza cabelo, não se importa com o que as pessoas a peruca foi a protagonista de pensam a respeito da peruca que usa e commuitos momentos descontraípleta “por mais desconfortável que seja, eu dos no meio do sufoco. Com não vou tirar, porque me faz bem!” tanta energia para encarar essa Quando se trata de doença as coisas passagem de sua vida, Bichnão são tão simples. Mas não é o caso holz acha que a peruca em si da professora Jussara Palestina Buchnão diz muita coisa “a peruca holz, 53, que teve câncer há dois anos. sozinha não é nada, a gente Antes de começar a perder o cabelo, que veste ela”, quem faz o por causa da quimioterapia, procuespetáculo não são apenas rou o cabelo artificial. Buchholz acessórios. acredita que a questão não en- Universo IPA | Julho 2007 tti la Pro Danie 37 h obby hob by O céu não é o LIMITE. Visitas diárias, anotações, máquinas fotográficas, filmadoras e muito ENTUSIASMO marcam estes AFICCIONADOS pela aviação e suas máquinas voadoras Fotos: Daniela Rubin Radares ambulantes Universo IPA | Julho 2007 Daniela rubin 38 Uma rua e uma tela. Uma divisão. Separam os olhares curiosos e as máquinas. Homens, mulheres e crianças compartilham geralmente aos finais de semana, na Avenida dos Estados, da sua admiração pela arte de voar. São os “planespotters”, que podem ser chamados de observadores de avião. Pessoas que tem por hobby, ou profissão, o gosto pelo mundo da aviação. O termo surgiu nos anos 20 na Inglaterra. Durante a 2ª Guerra Mundial. O “Observer Corps”, uma organização de civis voluntários que apoiava a Força Aérea do Reino Unido (RAF), deu o impulso necessário para que este hobby. Nos anos 50 surgem algumas publicações específicas sobre o assunto, onde listas de frotas e respectivas matrículas das aeronaves eram divulgadas, com isso os planespotters começaram a reconhecer o que viam e o que iriam ver. Atualmente o hobby é muito conhecido e praticado na Europa. Nos EUA ainda é considerado pequeno. Na América do Sul também. No Brasil existem grupos unidos e reconhecidos, até na internet, em São Paulo. O planespotter, a princípio, observa chegadas e partidas dos aviões. É preciso ter paciência, pois a espera para visualizar e acompanhar os pousos e as decolagens pode ser longa. Existem mais de um tipo de observadores. Há o planespotter que apenas observa aviões e registra seus movimentos (data, companhia, tipo de avião e sua matrícula - tipo de registro que permite saber de que avião se trata, qual é seu número de série e quem foram seus proprietários sucessivos; localizado na cauda do avião), o que filma, embora este não seja muito freqüente; o planespotter que além de catalogar os dados, registra os mes- mos em fotografia, sem técnica, apenas documentalmente; o que não documenta as informações, mas fotografa, se importando mais com os diferentes tipos de aviões e por último o observador que não documenta, apenas fotografa os diferentes tipos de aviões, mas, ao mesmo tempo procura ângulos e perspectivas diferentes da foto, no sentido de dar um toque mais “artístico” as suas fotografias. Este tipo de planespotter é muito comum nas redondezas do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. A curiosidade de nunca ter andado de avião, fez com que o desenvolvedor de soft ware, Maurício Maciel, 23 anos, namorado da estudante Priscila Junqueira, 19 anos, a trouxesse no aeroporto para poder apreciá-los, mesmo que de longe, através das grades. Com chimarrão e música boa, o casal encos- A futura Comissária de Bordo, Simone da Fontoura Freitas, 27 anos, sonha alto. Sonha em conhecer pessoas com culturas diferentes e muitas outras cidades, voando pelo mundo a fora. “Tenho muitos objetivos, a minha escola é um degrau, um dos degraus que eu quero alcançar. Depois de passar por uma empresa aérea, eu pretendo fazer um curso de línguas e depois quero fazer um curso de piloto. Esse é meu grande sonho”, conta, muito entusiasmada. Mas, por enquanto, se realiza vendo aterrissagens, decolagens e as turbinas dos aviões no aeroporto. E não deixa passar nada, tira fotos, escreve e tem comentários em um blog na internet, de alunas do curso e comissárias que estão voando. “Se eu pudesse, vinha no aeroporto todo o dia, mas venho dois ou três vezes por semana e final de semana também. Eu sinto um prazer enorme de estar aqui vendo os aviões”, conta a estudante. Com a possibilidade de começar o curso de comissária, está aprendendo a reconhecer cada peça de um avião e o sonho que tinha desde a infância está cada vez mais próximo de se realizar. “Não é todo mundo que tem essa oportunidade de voar. Eu sempre dizia Caçador de aviões De pai para filho. Assim uma paixão foi passada adiante. Desde a infância o mecânico de manutenção industrial, Ivan da Cunha Rodrigues, 41 anos, aprecia a aviação. “Eu não podia ver passarinho voando”, diz emocionado. Esperou o nascimento do filho, para fazer um sonho seu, tornar-se realidade através dos olhos do pequeno. “Eu venho desde 1991. Colocava meu filho na cadeirinha e trazia mamadeira. Ele vem desde que nasceu. Só não veio antes porque minha mulher iria bater em mim”, relata Rodrigues. Até as fraldas do menino eram trocadas ao lado, na grama do estacionamento, enquanto os pais esperavam os pousos e as decolagens. Ele admite que talvez seja o jeito de vivenciar, e quem sabe concretizar, através do filho, uma aspiração pessoal, que foi abando- “Eu sonho em ser piloto de um avião.” nada devido ao fator financeiro. “É uma forma de realizar o meu próprio sonho”, lamenta. Passaram-se os anos, e a família continua saindo de casa, quando possível, até a cabeceira do Salgado Filho. “Só a esposa acha que não vale a pena sair de Cachoeirinha, e gastar gasolina”, explica. Rodrigues já fez manobras extras para ver aviões. Saía na hora do almoço do emprego, passava em casa, e com o filho, partiam rumo ao Salgado Filho apenas para ver um tipo específico de aeronave. “Eu sabia o horário da decolagem, saia do serviço, acordava ele, tomava café, e a gente vinha para cá, para ver o cargueiro decolar, assistia, filmava, ficava na parte dos táxis e ia embora”, relata. A família, hoje, pode ser vista todos os finais de semana pelo local. “Eu gosto, por isso vale a pena todo esforço”, complementa. O estudante Roger Rodrigues, 12 anos, filho único de Ivan, é um planespotter nato. A adoração pela aviação é identificável nas primeiras palavras. “Em primeiro lugar eu sou apaixonado pela aviação e eu venho diariamente para ver os aviões”, dispara o menino. Apesar da pouca idade, ele expressa entre uma pergunta e outra, a sua fixação e possíveis planos futuros. “É o que eu gosto de fazer na vida. Eu sonho em ser piloto de um avião da TAM. (empresa aérea). Quero muito! Estou me esforçando”, Como, desde muito pequeno, este ambiente faz parte da sua vida, ele se sente em casa. “Eu venho cedo e fico a tarde inteira aqui, fotografando, gravando e brincando”, conta satisfeito. Ele mesmo tem na ponta da língua a sua trajetória como observador. “Eu tinha quatro anos, meu pai me trazia aqui no aeroporto, e eu via os aviões e eu comecei a gostar. Meu pai me deu um aviãozinho pequeno, daqueles que tinha no aeroporto, (lojas internas). Depois disso, eu comecei a colecionar aviões. Foi uma paixão”, diz entusiasmado. Os olhos de Roger percorrem o trajeto das aeronaves com atenção. Com uma câmera amadora VHS em punho ele observa, filma e vibra com os movimentos captados. Tudo em cima do capô do carro da família, um Monza cinza. Ao longe ele consegue avistar a aproximação de mais uma aeronave e se prepara para dar vazão ao seu lado planespotter de ser. “Eu sinto um nervosismo”, desabafa. Salienta que tudo que é ligado a aviões o emociona e o deixa, simplesmente, feliz. O menino ainda não voou em um avião de grande porte. “Só conseguiu voar em aviões pequenos, no Aeroclube do Rio Grande do Sul e em Cachoeira do Sul”, explica o pai. h obby O futuro no ar que um dia estaria lá em cima como comissária”, desabafa Simone. hob by tado ao carro e no maior clima de romantismo, não desgruda os olhares do céu. Tudo fascina e chama a atenção. “Eu curto aviões e nunca andei. Até disse agora – eu quero andar – acho bem interessante”, comenta Priscila. O aumento do número de observadores aumenta aos finais de semana. A placa de trânsito adverte aos motoristas que o local é proibido parar e estacionar, mas eles não obedecem. Carros estão estacionados nas duas mãos da avenida. No dicionário Aurélio, “paixão” quer dizer: sentimento ou emoção levado a um alto grau de intensidade. É assim que o estudante de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Stephan Klos Pugatch, 22 anos, define a aviação na sua vida. “É um pouco difícil falar exatamente quando esta paixão iniciou, talvez por ela ter, praticamente, nascido comigo. Mas desde que me conheço por gente ela existe”, conta Pugatch. Em função da instrução prática do programa de vôo do Piloto Comercial (PC) e a grande paixão pela aviação, Pugatch costuma ir até o aeroporto três vezes por semana, divididas entre ir para voar e ir apenas para apreciar, fotografar e ouvir através do rádio os aviões. Mas ultimamente, essas visitas tem sido menos freqüentes, devido à conclusão do curso na faculdade. O gosto pela fotografia, que veio desde a infância, fez com que desenvolves- se técnicas e se aperfeiçoasse, cada vez mais, graças aos ensinamentos de seu pai. A partir daí, desenvolveu esse hobby juntamente com a aviação e, chegou a um determinado momento que a junção dessas duas atividades foi uma conseqüência. Isso foi mais ou menos em 2002, confesso que foi tarde, desabafa. Para o estudante, a fotografia de aviação é um meio de se divertir e fazer novas amizades. E confessa que nunca teve interesse financeiro nas fotos, que considera a sua segunda grande paixão. “Claro que, quando você gosta de uma coisa e se esforça para desempenhar bem, as pessoas gostam do seu trabalho, e manifestam interesse pelo que você faz. Ai que entra a parte financeira” revela. Além de já ter comercializado algumas fotos para revistas e publicações do mundo, e também para algumas escolas de aviação da região, aqui no Brasil, Pugatch publica regularmente na revista Avião Revue, em média de três a quatro fotos por mês. Diante de muito esforço e dedicação, notou que cada vez mais as pessoas se interessavam pelo que fazia. “Por isso, sempre quando vou fotografar tenho em mente, em primeiro lugar, fazer aquilo por diversão, para esquecer os problemas do diaa-dia, e não para criar outros. Se alguém quiser pagar por isso, é uma conseqüência”, explica. Só quem está na área da aviação é que sabe o quanto é apaixonante. É difícil encontrar uma atividade, em que as pessoas relacionadas a ela, falem vinte e quatro horas por dia sobre o assunto. “E isso é muito legal, pois na nossa área tenho a certeza que temos pessoas apaixonadas pelo que fazem, e que procuram desempenhar o seu trabalho o melhor possível, para tornar as viagens dos nossos clientes, os passageiros, a melhor possível”, desabafa emocionado Pugatch. Universo IPA | Julho 2007 Entre fotografias, pousos e decolagens 39 p rofi prof i ssãssão o A difícil vida das mulheres de “vida fácil” Ausência de dados sobre a VIOLÊNCIA, poucas pesquisas sobre a área, e um PROJETO que regulamenta a PROFISSÃO tornam o assunto polêmico quase inesgotável MARCIA FARIAS Mulher da vida, garota de programa, prostituta, profissional do sexo, meretriz, as terminologia não param por aí. Considerada pelo senso comum, como a profissão mais antiga da história, ao longo dos anos muitas características foram alteradas, e conquistas foram realizadas. Organizadas em associações, núcleos e Organizações Não Gorvernamentais (ONG’s), a categoria vem obtendo importantes conquistas. Como a inclusão da profissão na Classificação Brasileira de Ocupações (CPO), realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, e o projeto de lei, do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), que visa regulamentação como atividade profissional. Além da disseminação de informações sobre a importância da categoria se organizar, a divulgação da grife Daspu (da ONG Davida) ajudou as profissionais do sexo a garantir uma maior visibilidade e respeito por suas lutas. Por outro lado, nem só de conquistas e vitórias vivem as prostitutas. Ainda hoje, em pleno século XXI, são inúmeros os casos de violência física e psicológica que essas mulheres sofrem. Mesmo após cerca de três décadas do início do movimento em defesa dos direitos humanos e feministas, ainda está forte a sociedade patriarcal, onde o preconceito e a discriminação são presentes. Universo IPA | Julho 2007 Estudos e pesquisas 40 O tema tem sido amplamente discutido em diversas áreas como medicina, criminologia, doenças sexualmente transmissíveis e epidemiológicas, e os estudos apesar de gerarem divergências, costumam ter conclusões semelhantes: segregação, exploração e discriminação. Em 2004, a Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul divulgou um estudo sobre a “Prevalência de sintomas depressivos em uma amostra de prostitutas de Porto Alegre”, onde foi verificado que não havia Carlos Ismael Moreira A noite, as profissionais do sexo tomam conta de determinadas ruas de Porto Alegre relatos anteriores sobre a prevalência de sintomas ou transtornos depressivos entre as prostitutas, tratadas para o efeito do estudo, como população de risco para transtornos mentais. Com o apoio do Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP), uma associação portoalegrense formada por profissionais do sexo, os estudos foram realizados com mulheres entre 18 e 60 anos, cadastradas, na época, na ONG. Os resultados apresentados apontaram para uma taxa de 67% das mulheres com altos sintomas depressivos e 33% das avaliadas apresentaram níveis moderado e grave de sintomatologia. Outro importante estudo efetuado foi divulgado no jornal Beijo da Rua, da Rede Brasileira de Prostitutas, onde foi possível obter um retrato do perfil das prostitutas no Brasil, com dados como faixa etária média, renda, cuidados com a saúde. Mesmo após cinco anos de sua realização, a investigação apresenta informações atuais, como o uso de preservativos com clientes e ausência deste tipo de prevenção com parceiros fixos. O livro “O Doce Veneno do Escorpião”, da ex-prostituta Bruna Surfistinha, teve grande repercussão nacional e internacional. O livro dá destaque para algumas “atrocidades” que a ex-prostituta foi obrigada a vivenciar. Surfistinha relata a sua trajetória na prostituição e como resolveu sair dela e mudar sua vida. Há quem diga que essa reviravolta em sua vida é ilusória, mas há, também, quem acredite nessa possibilidade. Segundo depoimentos em seu blog particular, Bruna Surfistinha serviu de exemplo para muitas mulheres desse ramo que sonham com outra vida. Defensor de temas polêmicos como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) protocolou o projeto de lei nº 98/2003, que regulamenta o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual. Para as prostitutas este reconhecimento legal da profissão representa a conquista de direitos, e deixa de criminalizar o agenciador. O projeto, no entanto, é condenado pelo movimento feminista, que considera a prostituição não apenas uma simples troca de serviços sexuais com remuneração livremente estabelecida, ou ainda de compra e venda de serviços sexuais, mas sim como forma de exploração e opressão física e psíquica dessas mulheres. Segundo a militante da Marcha Mundial das Mulheres, Cláudia Prates, o projeto de lei que legaliza a profissão não é bom, pois permite o comércio do sexo e libera os grandes empresários do ramo, uma vez que retira do código penal os artigos que criminaliza-os. “Isso vai agravar e legalizar o tráfico de mulheres, sob a alegação que estão agenciando mulheres, por sua própria vontade, e ainda com carteira assinada. Quem irá recusar uma oferta de “trabalho fácil” e com as promessas de ganhos fartos?”, declara. “Lutamos para que as pessoas entendam os processos de emancipação da humanidade, e a busca das possibilidades de transformação das relações humanas em relações menos violentas” afirma Prates – “não podemos legalizar a prática dos cafetões e das redes de tráfico de mulheres, pois mesmo com a aprovação do projeto eles continuarão atuando. Somos mulheres, e não mercadoria”, finaliza. Bruna Lago Gente como a gente Menina rebelde “Eu sempre tive tudo que quis, morava com meus pais que eram de classe média alta. Aos 14 anos de idade descobri que era adotada. Na época, me revoltei muito. Me envolvi com drogas e álcool. Para conhecer a prostituição foi um passo. Comecei com 17 anos. Passei por muitas coisas. De constrangimentos à violência física. Com o passar dos anos aprendi que muitas dessas coisas que conheci na adolescência não me faziam bem e parei. Não sou casada, não tenho filhos e, graças a Deus, nunca peguei nenhuma doença. Para quem conhece o nosso mundo sabe que isso é muito raro e me sinto previlegiada por não ter passado por isso. Abortos sim, vários. Prefiro encarar essa atitude como ‘ossos do ofício’. Depois de tantos anos longe da minha família, nunca pensei em voltar pra casa e não teria como me sustentar se não fosse essa a minha profissão. Passei por muitas fases, do orgulho à vergonha de ser prostituta. Hoje encaro como uma profissão como outra qualquer”. Bárbara*, 32 anos, prostituta. p rofi ssão O tema originou diversos livros, relatos e personagens de novelas, filmes e minisséries. O que difere em todos eles é a abordagem dada à prostituição. Filmes como “Anjos do Sol”, do cineasta gaúcho Rudi Langemann, retratam o lado duro e difícil de meninas nordestinas vendidas pelos pais e obrigadas a se prostituir. O longa metragem apesar de abordar a prostituição infantil, apresenta uma realidade que é vivida não apenas por crianças e adolescentes, mas por milhares de mulheres em todo o Brasil, como a violência sexual. A violência de clientes, policiais e da sociedade em geral, ainda é presente no dia-adia dessas mulheres. Relatos de prostitutas revelam que mesmo com toda a visibilidade existente na nos dias de hoje sobre os seus direitos, existem muitos casos de policiais, que abusam de sua autoridade, obrigando-as a prestar serviços sexuais gratuitamente. Segundo o inspetor da 17ª Delegacia de Polícia, Eloy Carvalho, não há índices oficiais que determinem tal violência, uma vez que ao preencher uma denúncia de lesão corporal nãoé possível incluir, na ocorrência, se a mulher é ou não uma profissional do sexo. Caso isso ocorra a delegacia pode sofrer acusação de discriminação. “Elas até se identificam como prostitutas e algumas fazem questão de dar seu nome de guerra, como elas chamam, mas isso não pode constar na ocorrência”, revela Carvalho. Segundo ele, o Código Penal prevê punição apenas para o que se refere a prostituição infantil e por isso os diversos tipos de violência vividos por essas profissionais não podem ser contabilizados. Por outro lado, Carvalho afirma ter diminuído os números de casos como esses. “A lei Maria da Penha, que protege a violência doméstica a mulheres, ajudou muito”, lembra o Inspetor. prof i ssã o Prós e contras Prostituta e universitária “Aos 11 anos fui estuprada pelo meu padrasto, ao contar para minha mãe, ela não acreditou em mim e me mandou embora de casa. Fui morar na rua. Conheci outras meninas com histórias melhores, piores e semelhantes a minha. Em seguida comecei a me prostituir, no início ficava assustada, mas depois acabei me conformando. Tive situações de violência até com policiais, que, abusando da sua autoridade, me obrigavam a ‘prestar serviços’ gratuitos. Já fui assaltada por clientes. E já fiz programa olhando para uma arma em minha frente. Mulheres como eu sabem dos riscos que correm ao optar por essa vida. Faço programa há 15 anos. Claro que sonho com outra vida. Tenho uma filha linda, fruto de um programa. Quero dar uma vida diferente a ela. Há dois anos decidi que minha vida poderia ser diferente. Resolvi entrar numa faculdade e lutar por algo melhor. Estou no quarto semestre do curso de administração. Ainda faço programas para sustentar minha faculdade e, se Deus quiser, mudar de vida. Cíntia*, 27 anos, prostituta. * Os nomes usados nessa matéria são fictícios Uma cena nada incomum em Porto Alegre, a luz do dia garota de programa conversa com seu cliente * Colaboração de Joice Proença Universo IPA | Julho 2007 Violência 41 c ultur c ultur a a Andressa Estauber Festa Rave atrai multidões sendo o principal alvo de consumo das dogras modernizadas As novas drogas sintéticas As drogas psicodélicas modificam quimicamente a maneira como o cérebro das pessoas recebe informações e podem levar seu usuário a perder o controle de seus padrões de pensamentos habituais Universo IPA | Julho 2007 Andressa Estauber 42 Por ser um país com mais de 50 milhões de jovens, o Brasil torna-se um mercado atrativo para os traficantes. “Cada vez mais se encontra meios de produzir e adquirir ilegalmente essas substâncias, as drogas estão cada vez mais populares. O ecstasy é a droga campeã de consumo em festas raves”, conta o psiquiatra Oscar James Segal. O ecstasy (MDMA) é uma droga relativamente nova, feita em laboratórios. Sua forma de consumo, geralmente, é por via oral, através da ingestão de um comprimido. A curiosidade das pastilhas é o fato de serem coloridas e com desenho impresso, permitindo distingui-las entre si. Também há o GHB, versão liquida do ecstasy, não tento cheiro nem gosto torna-se perigosíssima, por não poder ser distinguida do liquido em que esteja sendo consumido. O MDMA foi produzido com a finalidade de ser usado como um redutor do apetite, mas nunca foi usado para isso e mais tarde foi descartada pelo laboratório químico que a produziu porque era muito tóxica. “A droga causa transtornos psiquiátricos como sindrome do pânico, depressão e alucinações, ao mesmo tempo causa uma sensação de bem estar, como se todos ao seu redor fossem amigos”, relata a psicóloga Eliane Maciel.” Sente uma forte atração física por todos e uma enorme felicidade, a pessoa sob o efeito de ecstasy fica muito sociável, com uma vontade incontrolavel de conversar”, explica. “Também pode acarretar perda de memória parcial para usuários muito freqüentes. E, além disso, essas drogas afetam os rins, figado e coração”, explica o psiquiatra. O usuário tem movimentos descontrolados, espasmo do maxilar, o que faz os usúarios comerem balas e pirulitos, a boca seca pede a necessidade de diversas garrafinhas de água, a pupila dilatada é normal e muitos dos usuários usam óculos escuros, mesmo antes do dia clarear. O relato de um usuário sob os efeitos da droga é de uma sensação de tontura semelhante à de embriaguez, essa sensação é a primeira manifestação da droga, em seguida perde-se a sensação de peso do corpo, e sente-se como se estivesse flutuando. ”Os efeitos da droga ficam oscilando entre momentos com fortes efeitos, e momentos em que os efeitos passam que chegam a durar de 3 a 10 horas dependendo da quantidade ingerida”, diz a psicóloga. A principal causa de morte dos consumidores da droga é o aumento da temperatura corpórea que ele provoca no usuário. A droga causa um descontrole da pressão sanguínea, que pode provocar febres de até A associação das drogas com festas eletrônicas Em shows de musica eletrônica é que a garotada costuma usar mais as drogas sintéticas. “Há uma ligação das drogas com a música eletrônica, não tem rave que isso não seja distribuído. Não estou dizendo que todo mundo que vá pra rave, vá para usar a droga. Mas o próprio contexto desse tipo de festa é pra isso. Uma batida (tunt, tunt...) crônica que por si só já é uma batida que tende a deixar a pessoa em transe e a droga ajuda a isso, acelera a saída da realidade”, explica o psiquiatra Oscar. Sendo um alvo consumidor crescente de drogas sintéticas. Isso, somado ao estilo de balada proporcionado pela música eletrônica, às festas raves são ao ar livre, em locais isolados e na maioria das vezes em contato com a natureza. É uma festa privativa. Geralmente, dura mais de vinte e quatro horas, o que desperta o interesse dos jovens por esse tipo de droga, onde o usuário passa horas sob o efeito, que é estimulante e inibe o sono. “As drogas sintéticas são utilizadas pela classe média alta porque são drogas caras, custam entre 20 e 50 reais, cada comprimido. Os freqüentadores geralmente estão inseridos no mercado de trabalho, tem boa escolaridade e pertencem ás classes sociais mais privilegiadas”, explica a psicóloga Eliane. “Se tu entrar com uma câmera escondida no camarote da Brahma ou nos camarins das emissoras vai ver que a droga está presente em tudo. Acontece que se associa da forma que achar melhor. Essa história de rave está muito mistificada nesse aspecto, rave (que é delírio em inglês) já soa como um antro das drogas e da loucura. Nós que estamos começando isso aqui no Sul podíamos mudar essa percepção, mostrar para as pessoas que não precisam de drogas pra curtir uma rave, é só fechar os olhos e entrar no som que já é uma viagem incrível”, ensina o DJ Roma, que já tocou em países da Europa e atualmente reside em Porto Alegre. “O comportamento muda. Eu acho que a primeira coisa que os pais devem fazer é sentar e conversar com os filhos, questionar o que é uma rave, o que o filho está fazendo lá, o que se faz e o que se usa? É um tipo de festa que dura horas, a noite e o dia inteiro e ninguem consegue em sã consciência, sem estar estimulado, ficar tanto tempo pulando e dançando. Então o filho sai a noite, passa o dia todo fora de casa, volta numa euforia e dorme todo o outro dia. Apartir daí deve-se procurar ajuda com um especialista, alguém da área de psicologia ou da psiquiatria que trabalhe com drogas” explica o psiquiatra. “A busca da recuperação é um caminho que precisa ser trabalhado com convicção e seriedade”, conta a psicóloga. c ultur a Como você pode diagnosticar o uso da droga e obter ajuda c ultur a e pode durar até 30 horas. Existem relatos de pessoas que passaram até uma semana acordadas sob o efeito alucinógeno dessa substância.” Explica a psicóloga. “Todas essas drogas servem de estimulantes do sistema nervoso central, ou seja, elevam as funções superiores. O que faz com que as pessoas fiquem mais alerta, o coração bate acelerado, tem uma transpiração maior, o pensamento é mais rápido.Na hora a fadiga vai embora, as coisas ficam supostamente mais facéis, as aflições desaparecem”, conta o psiquiatra. DISQUE-AJUDA - 0800 54 10 116 O programa DENARC AJUDA visa o atendimento, acolhimento e posterior encaminhamento dos dependentes de substâncias ilícitas, pelo serviço de psicóloga da DIPE. Além disso, será dada orientação aos usuários e familiares, com o objetivo de prevenir o uso indevido de drogas ilícitas. Aos dependentes, familiares ou responsáveis, será apresentada uma relação de entidades devidamente cadastradas, que oferecem tratamento terapêutico. o encaminhamento será feito após adesão ao programa e escolha do local para tratamento feito pelo usuário. Será realizado pelo Serviço de Atendimento ao Dependente da Divisão de Prevenção e Educação (SAE/DIPE) o acompanhamento, pelo período de seis meses, junto ao dependente e familiar. O serviço é gratuito e a comunidade poderá acessar as informações do programa pelo telefone 0800 54 10 116. Vários tipos de comprimidos de ecstasy Universo IPA | Julho 2007 42 graus e convulções. A febre leva a uma intensa desidratação que pode causar a morte do usuário, por isso a necessidade de beber tanta água. Assim, tornou-se frequente ver os consumidores em raves dotados de garrafas de água. Além do ecstasy, existem outros tipos de droga que proporcionam efeitos similares. Uma delas é o LSD (uma abreviatura de dietilamina do ácido lisérgico), que é um alucinógeno e, portanto produz distorções no funcionamento do cérebro. Seu princípio ativo é o MDMA, o mesmo do ecstasy. Esta droga é encontrada em forma de cartelas, subdividida em pontos, que é onde está armazenada a substância. O consumo da droga é feito, geralmente, via oral, sendo ingerido ou simplesmente deixado embaixo da língua (onde a absorção é mais rápida). O usuário pode sentir euforia e excitação ou pânico e ilusões assustadoras, dependendo do ambiente em que está sendo consumido e do organismo que está ingerindo. Dentre as sensações que a droga proporciona estão, mania de grandeza ou perseguição e falta de noção da realidade, criando delírios. A pessoa sob o efeito se julga capaz de fazer coisas impossíveis, como andar sobre as águas, voar, enfim, sentese com poderes especiais. E mesmo não consumindo a droga durante meses, podem acontecer “flashbacks”, que seria o efeito da droga como se tivesse sido recém consumida. As sensações corpóreas são relativamente leves, aumento do suor, pupilas dilatadas, aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos. O maior perigo do consumo não é apenas quando a droga é ingerida, mas sim as consequências psíquicas adquiridas a longo prazo, podendo causar inclusive variações nos cromossomos, fazendo com que seus filhos nasçam com doenças congênitas. Afirma a psicóloga. Outra droga também famosa principalmente nas festas de música eletrônica é a ketamina, conhecida como “special K”. É um anestésico dissociativo, inicialmente criada para uso veterinário, causando efeitos psicotrópicos em humanos, que vão de um leve estado de embriaguez até a sensação de desprendimento da alma ao corpo. Sua apresentação é sob a forma de um pó branco inalado. A cápsula do vento é outro exemplo, sendo uma droga muito recente no Brasil e extremamente perigosa. É derivada da anfetamina, também causando efeitos alucinógenos que podem durar muitas horas. Encontra-se na forma de um pó branco, de aperência comum, mas pode ser fatal. “A cápsula começa a fazer efeito de 6 a 8 horas depois de ingerida, 43 c ultur c ultur a a O brasileiro que grita Japão Direto da terra do sol nascente, Ricardo Cruz e Carol Himura, agitam em um grande show em porto alegre Fotos: Luciana Salle Machado Ricardo Cruz e Carol Himura agitando com o povo gritando e cantandos as músicas mais populares do Japão. Universo IPA | Julho 2007 douglas fernandes da silva 44 Pela primeira vez no Rio Grande do Sul, um show totalmente exclusivo para o público otaku e fãs da música japonesa. Ricardo Cruz e Carol Himura, os maiores cantores de animesongs do Brasil, em um show imperdível na capital! Juntos eles cantaram diversos temas de animes e live actions, dos clássicos aos inovadores. Foi a oportunidade para mostrar que nosso estado tem potencial para receber grandes shows do gênero e dar o primeiro passo para futuros eventos em maiores proporções. Foram os mais populares e talentosos cantores de animesongs do Brasil em um único show. Carol Himura é vocalista da Banda Wasabi, uma das mais populares bandas de animesongs do nosso país. Carismática e unanimidade entre os otakus paulistas, Carol está vindo ao Rio Grande do Sul pela primeira vez. Já Ricardo Cruz dispensa comentários. Vocalista da banda JAM Project e com fama internacional, o “Aniki” do nosso país está voltando ao estado para se reencontrar com o público que o recebeu calorosamente no Anima Weekend, e vem com tudo para agitar a galera mais uma vez. O show teve início à meia noite,no evento conhecido como Café Harajuku. Mas antes do show começar ainda teremos uma apresentação da banda Metal Heroes, do nosso talentoso vocalista Cristiano Besoro. Além de agitar a galera, a banda irá acompanhar Ricardo e Carol durante este grande show, misturando o ritmo empolgante dos animesongs com a energia do rock’n’roll. De frente com Ricardo Cruz Universo IPA - Como você iniciou sua carreira musical? Ricardo Cruz - Bom, eu fui fazer o 3º colegial no Japão, isso eu tinha meus 17 anos. Lá, os adolescentes saiam da aula e corriam para os karaokes e eu ia junto. Cantava alguns temas que eu conhecia como por exemplo Jaspion, que já era conhecido aqui no Brasil. Meus amigos diziam que eu tinha uma voz bacana, mas nunca me importei. Quando voltei para o Brasil, continuei cantando nos animekes e karaokes da vida. Em 2000 passei a fazer muitos shows em eventos especializados no tema. Universo IPA - Conte um pouco como foi entrar para o JAM Project e sobre o concurso que você participou. Ricardo Cruz - Quando os cantores vieram para o Brasil, tocaram junto a banda Neptune. Era eu quem cantava nos ensaios. No período da Friends de 2004, a Masami Okui estava bem gripada e eu cantei no lugar dela. Depois do ensaio, fui elogiado por eles (Hironobu Kageyama, Masaki Endo e Eizo Sakamoto), que me pediram c ultur a c ultur a Agitando o pessoal com as mais conhecidas músicas japonesas Carol Himura mostra a bela voz e o belo visual fazendo o público pular Universo IPA | Julho 2007 uma música demo. Após isso pensei, qualquer hora eu mando, sem pressa. Quando mandei, eles aprovaram. Algum tempo depois, Hironobu entrou em contato comigo e disse que haveria um concurso para entrar no Jam Project, e eu já estava inscrito! De tempos em tempos, recebia mensagens do Kageyama dizendo “Olha, você se classificou”... assim foi até que ele mandou “Olha, você ganhou!”. Foi uma surpresa muito boa. Universo IPA - Esta é a segunda vez que você vem ao Rio Grande do Sul. O que mais lhe chama a atenção neste estado e o que mais você tem vontade de conhecer por aqui? Ricardo Cruz - Gosto muito de churrasco! A cidade tem uns restaurantes com variedades de carne impressionante. Dá água na boca só de pensar. Adoro o Sul, tem muitas coisas que quero conhecer. Universo IPA - Depois daquele show no Anima Weekend, você ainda foi ao Japão participar de uma turnê com o JAM Project. Como foi sua evolução de lá pra cá? Ricardo Cruz - Está sendo muito legal. A galera do Sul é demais. Recebi muitas mensagens por e-mail, orkut até MSN do pessoal que curtiu o show. Valeu mesmo! Eu me divirto muito cantando e com um público cheio de energia como esse, não tem como não se empolgar ainda mais. Passada a turnê com o Jam, que me fez aprender muito, quero voltar a trocar essa energia boa com a galera do Sul!! Universo IPA - O que você acha dos cantores japoneses começarem a se apresentar em demais estados do Brasil, além de São Paulo? Ricardo Cruz - Acho uma boa! Como trazer essa galera é algo meio caro, é preciso que haja grana disponível para armar um grande show internacional desses. A medida que os animes e mangás vão ganhando público Brasil a fora, mais estados vão ficando com condições de trazer cantores e convidados japoneses para conhecerem o público daqui. Isso é gradativo. Universo IPA - A vinda de sua colega Carol Himura para este para este próximo show mostra que estamos investindo cada vez mais na vinda de cantores de animesongs no RS. Como o público deve responder para que este mercado ganhe cada vez mais força no estado? Ricardo Cruz - Acho que exatamente da mesma maneira que vêem respondendo até hoje, com alegria, empolgação... Assim, os eventos e shows farão sempre muito barulho e atrairão cada vez mais público. Acho que todos estão no caminho certo! Universo IPA - Quando você foi ao Japão pela primeira vez, em 99, você era um fã apaixonado pela cultura japonesa, principalmente o Tokusatsu. Como anda seu espírito de fã atualmente? Ainda acompanha as séries do gênero? Quais você curtia mais naquela época e quais curte mais hoje? Ricardo Cruz - Ainda gosto sim. Sou bem menos dedicado do que eu era antes, mas continuo fã sim. Sempre que vou ao Japão fico com vontade de comprar tudo... Atualmente vejo os primeiros episódios das séries do ano (principalmente sentai e Kamen Rider) pra saber qualé, hehehe. Mas não acompanho mais nada. Ainda quero assistir alguns seriados mais antigos que ainda não conheço! Universo IPA - Para finalizar, conte para o pessoal algumas curiosidades sobre o pessoal do JAM, seus hábitos, coisas engraçadas, fatos marcantes, e o estilo de cada integrante. Ricardo Cruz - Eles são pessoas normais. O Endo é muito engraçado, dou muita risada com ele. O Kageyama é o pai de todos, né (dá risadas)! A Okui tem aquele jeitinho meigo, quase um mascote do grupo e a Rica já é mais molecona, vive gritando! Falo que o fato dela dublar o Ash no Japão durante tantos anos fez com que ela ficasse igual a ele!! O Kitadani é muito gente fina também, um cara simples pacas. Deixei ele no maior vácuo no show do Jam sem querer. Que vergonha! Até liguei pra pedir desculpas, mas ele nem lembrou. Sempre pulo aquela parte do vídeo. O Fukuyama também é o maior fã de tokusatsu, sabia? Fomos juntos visitar várias locações clássicas que eram e ainda são usadas nas filmagens. 45 c ultur c ultur a a Os “sobreviventes” de Lost: um grupo de personagens que é, ao mesmo tempo, cativante e misterioso, onde ninguém é o que parece. Muito do grande sucesso da série se deve a diversidade do elenco e da boa qualidade de suas atuações Lost na rede História sobre sobreviventes em ilha deserta, populariza downloads e muda a maneira de se assistir séries de TV Universo IPA | Julho 2007 GREGÓRIO REIS 46 Imagine a cena: em meados da década de 90, você, um fanático pela série Arquivo X descobre que não precisa esperar a exibição no Brasil pois pode assistir praticamente ao mesmo tempo que os americanos, bastando para isso, um simples download. O que você faria? Para quem não conhece, Arquivo X foi uma das séries de TV mais misteriosas já criadas. Foi exibida entre 1993 e 2002. A trama mostra dois agentes do FBI que investigam casos paranormais, sobrenaturais e extraterrenos. Os episódios eram classificados pelos fãs em dois tipos: os fechados, onde havia um mistério que era resolvido em no máximo 2 capítulos; e os da chamada “mitologia”, nos quais era desbaratada uma conspiração que planejava uma invasão alienígena com anuência do governo e de sociedades secretas, caso esse, investigado durante todas as tem- poradas do programa. Arquivo X foi talvez a primeira série onde cada fã tinha a sua teoria sobre o que estava acontecendo. A expectativa por novos episódios, sempre era imensa. Porém, os telespectadores brasileiros tinham que assistir os episódios com uma defasagem que variava entre seis meses, no canal por assinatura FOX, a mais de um ano, no caso da Rede Record, canal aberto. Na época, a Internet ainda era tímida no Brasil, por isso, não haviam muitas informações sobre o seriado. Hoje em dia, a Internet faz parte da vida de quase todo mundo. Praticamente tudo está na Internet. Muita coisa mudou desde o tempo em que Arquivo X era exibido. Mas algo continua igual: as pessoas ainda precisam esperar entre seis meses e um ano para ficarem atualizadas sobre suas séries favoritas. Para se ter uma idéia, a série Dexter, que estreará na FOX em julho, já concluiu sua primeira temporada nos EUA. É justamente nesse ce- nário de conexões à Internet em alta velocidade e globalização, que surge outra série, tão misteriosa quanto Arquivo X. Lost, conta a história dos sobreviventes de um acidente aéreo que cai em uma ilha tropical no meio do Oceano Pacífico. Falando assim, parece não ter nada de mais, mas a trama se mostra muito mais do que isso, pois a ilha onde esses sobreviventes caem, não é um lugar comum. Como explicar uma ilha tropical com ursos polares? Como explicar nativos que andam sem deixar rastro na selva? Como explicar um improvável monstro que habita a mata? Essas são apenas algumas das muitas perguntas que quem acompanha a série se faz. Graças a todo esse mistério, muitos fãs não conseguem esperar a exibição dos episódios no Brasil, recorrendo a downloads na Internet para acompanhar a exibição nos EUA. Em pesquisa realizada pelo site Lost Brasil (www.lostbrasil.com), o maior site sobre Lost Era de Ouro da América Latina, 72% das pessoas que assistem Lost o fazem por meio de download. Para esses fãs, quarta-feira (dia de exibição de Lost nos EUA) é dia de ficar acordado até mais tarde, “baixando” o mais recente capítulo da história. O sistema só funciona, porque há fãs americanos que possuem a tecnologia de HDTV (aparelhos de TV com disco rígido para gravação de programas), que gravam os episódios e os disponibilizam para download. Mas não basta apenas fazer o download para poder assistir o episódio. Por este estar em inglês, são necessárias as legendas. Foi assim que surgiram diversas equipes de “legendagem”, que produzem a legenda para os episódios na mesma noite em que estes são disponibilizados. A pioneira foi a equipe do Uma série de fatores fez com que esse fenômeno de downloads de seriados começasse com Lost. Além do componente da trama misteriosa, que faz com que o episódio seguinte seja tão aguardado, a série também é repleta de pequenos detalhes que só são vistos se determinada cena for repetida em slow-motion. São o que um dos criadores de Lost, J.J.Abrams, chama de “momentos HDTV”. Um desses “momentos”, aconteceu no episódio 17 da segunda temporada. Um mapa da ilha, apareceu por uma fração de segundo e somente vendo lentamente seria possível decifrar algo. Mas poucos dias depois, já existiam traduções completas de tudo que estava desenhado e escrito. Lost, também não é uma série comum, ela tem todo um universo extra-televisivo. Durante a pausa entre a segunda e a terceira temporada, foi lançado um “jogo”, o Lost Experience. Nesse “jogo”, surgiram sites de empresas fictícias, que só existem na série; tele- fones destas mesmas empresas, nos quais havia sempre uma secretária eletrônica com mensagens misteriosas; vídeos com detalhes desconhecidos da história e que provavelmente nunca serão veiculados no programa; um livro (Bad Twin), escrito por um dos passageiros do vôo onde os personagens estavam; e, o mais incrível, o diretor de uma das empresas fictícias dando uma entrevista ao vivo em um programa de TV norte-americano. Todos esses fatores tornam Lost um marco. “A Internet mudou o jeito como vemos TV. Instantaneamente milhares de pessoas reagem ao episódio que foi ao ar. Seria idiota não prestar atenção à isso”, afirma Abrams. Segundo o jornalista e escritor Cássio Starling Carlos, há um outro motivo para esse aumento nos downloads de séries; para ele, esses programas, estão em seu melhor momento, em sua “Era de Ouro”. Em seu livro “Em Tempo Real: Lost, 24 Horas, Sex and The City e o impacto das novas séries de TV” (Alameda Editorial, 71 págs), ele afirma que a complexidade das atuais séries é que faz com que sejam mais interessantes que suas predecessoras. Temas espinhosos infestam esses programas atualmente, sempre abordados de maneira realista e sem moralismos: a paranóia terrorista em 24 Horas; a liberdade sexual da mulher em Sex and The City; a mania por cirurgias plásticas em Nip/Tuck. A “pioneira” dessa revolução foi a série The Sopranos, que chegou a ser exibida na TV aberta pelo SBT, com o nome Família Soprano. A série contava a história de uma família mafiosa, mas, ao contrario do usual, o seriado era mais centrado nos relacionamentos familiares do que no mundo da máfia. Starling também acha que os downloads, ao invés de prejudicarem as séries, acabam funcionando como “marketing silencioso”. “Você imagina o sucesso de Lost na Globo, por exemplo, sem o ‘boca-a-boca’ que veio antes?” pergunta ele. c ultur a “Proibir a produção de legendas, é uma atitude, no mínimo, infantil”. c ultur a ABC / Divulgação site Lost Brasil, que deixou de fazer legendas por determinação da justiça, após ação da Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (ADEPI), que considera essa atividade como quebra de direitos autorais. Segundo um dos integrantes da equipe e do site, Luiz Eugenio Martins, o “kennewick”, a polícia federal avisou que, caso as legendas não parassem de ser produzidas, o site seria fechado. “Esse tipo de atitude é, no mínimo, infantil. É como se a policia mandasse fechar uma fábrica de facas, porque um bandido esfaqueou alguém. Se existe um problema de pirataria sério no Brasil, existe um problema mais sério de fiscalização. Em qualquer centro comercial você encontra milhares de CD’s e DVD’s piratas, e ninguém se mexe para resolver isso.” compara ele. Para Daniel Melo, administrador do site, essa medida não adianta nada. Ele diz que imediatamente após a sua equipe encerrar as atividades de “legendagem”, já existiam outros cinco grupos fazendo o mesmo. A questão dos downloads, que as séries de TV tem enfrentado de 2 anos pra cá, afeta há algum tempo as produções cinematográficas e a mais tempo ainda, a indústria fonográfica. Essas porém são bem mais afetadas pela pirataria. Séries são na maioria dos casos “baixadas” por fãs, que estão interessados em ver logo o próximo episódio de sua série preferida, o que não é o caso aqui. Alguns filmes são muito aguardados e devido a isso, muitas pessoas fazem o download para vê-los em casa mas, em grande parte, esses downloads são feitos para fabricação de DVD’s piratas, ou seja, para lucrar em cima da respectiva produção, pois muita gente prefere ver os filmes assim do que pagar uma entrada de cinema. Com a música, o problema é ainda mais antigo mas, justamente por isso, as primeiras modificações no status quo da indústria são notadas com facilidade. Na Internet, existem músicas para vender a preços módicos, como no iTunes, site da Apple, criadora do iPod. Em decisão recente, a gravadora EMI liberou suas músicas para serem tocadas em qualquer aparelho, e não apenas no iPod, abrindo um precedente para que outras gravadoras também o façam. No futuro, esse deve ser também o destino de filmes e séries. Universo IPA | Julho 2007 Para cinema e música, downloads são problema 47 Oficina de Aprimoramento Vocal: a voz do jornalista Parceria entre os cursos de Jornalismo e Fonoaudiologia. Informações a partir da segunda quinzena de agosto, no Laboratório de Áudio.