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Preparando Ikebanas musicais »
Mawaca apresenta Ikebanas Musicais
Ikebana significa fazer viver as flores (ike de ikey = fazer viver; e bana de hana = flor), ou “dar mais vida à flor“. Trata-se da arte de fazer arranjos florais como
oferenda a Buda, ato de origem indiana adotado pelos japoneses. No século XVI, os arranjos das ikebanas passaram a enfeitar os ambientes onde se realizavam
a cerimônia do chá – o chado. Criar ikebanas é uma arte que está diretamente relacionada à filosofia e o equilíbrio entre os três elementos que retratam o
universo: o céu (shin), o homem (soe) e a terra (tae).
A ikebana encanta principalmente pela sua suavidade linear,ritmo e harmonia e não somente pela estética do arranjo. A filosofia que envolve a ikebana
merece atenção especial,pois este é o ponto que a diferencia dos arranjos florais ocidentais, onde se procura valorizar o volume e a quantidade de flores, além
descartar as flores como “tortas” ou “imperfeitas”, como se a natureza tivesse errado na sua criação. De acordo com a sensibilidade do praticante da ikebana, a
forma tortuosa da planta é vista como movimento, até mesmo porque na natureza nada é estático. Assim, o praticante da ikebana transforma essa harmonia do
movimento do universo em obra de arte.
O espetáculo musical Ikebanas Musicais apresentado prlo Mawaca busca relacionar essa arte milenar com o processo da criação sobre canções tradicionais
japonesas. Os arranjos musicais resultam em constantes diálogos entre as culturas japonesa e brasileira. São combinações e variações de canções e escalas
japonesas com os modos e ritmos brasileiros.
Magda Pucci procura, na composição dos arranjos, criar tramas onde se revelam detalhes sutis como citações de trechos de músicas brasileiras sugeridos pelas
harmonias modais das canções japonesas além da fusão entre instrumentos ocidentais e orientais como o koto, o shamisen, o sakuhachi e o taiko com a flauta
transversal, o acordeom, o saxofone, o vibrafone e outros instrumentos ocidentais.
O roteiro desse concerto-ikebana tem como inspiração os hai-cais sobre as estações do ano.
VERÃO – NATSU
Quão glorioso,
Nas folhas verdes folhas tenras,
O brilho do sol
Ikebana Vagalume – composição de Magda Pucci sobre um hai-kai de Alice Ruiz Primeiro vagalume/Assim começa/o fim do ano.
Akhoyte-Hotaru Koi música do povo indígena Ikolen-Gavião de Rondônia referente ao mito da criação dahumanidade surgida de dentro de uma pedra. Ao final
do arranjo,uma citação da canção japonesa infantil Hotarukoi.
Hotaru Koi – Hotaru significa vagalume e hotaru koi venha vagalume! Assim começa o verão no Japão. Essa foi a primeira canção japonesa a ser incorporada ao
repertório do Mawaca e que se tornou muito querida entre crianças e adultos, devido ao inspirado arranjo de Ro Ogura, compositor japonês que conseguiu criar a
imagem sonora do piscar dos vagalumes. Hotaru koi tem sua história ligada ao antigo Japão, quando no período do verão, as pessoas caçavam vagalumes para
colocá-los em gaiolas e usá-las como lanternas, os conhecidos chochin.
OUTONO – AKI
Apesar do sol
Ardendo sem compaixão,
O vento de outono
Imayo – Curumiassu– poema muito antigo que descreve as paisagens do outono mesclado ao acalanto brasileiro da região do Pará.
Imayo é uma forma musical baseada na estrutura do waka, um poema de sete e cinco sílabas cuja origem está no canto shomyo Wasan. Foi usada no período
Heian para os amantes trocarem juras de amor. A forma se tornou extremamente popular durante o período Heian e era cantada por artistas famosos do teatro
Shirabyoshi. Em 905, o imperador Daigo ordenou a criação de uma antologia de waka.
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O mais famoso poeta desse estilo, Ki no Tsurayuki, reuniu wakas de poetas antigos e modernos numa antologia chamada Kokin Wakashū.
Depois de um período de ostracismo, a forma imayo foi retomada no período Kamakura quando foi usada na famosapeça de gagaku Etenraku influenciando a
canção folclórica japonesa até hoje.
A tradição desses poemas foi continuada pelos hai-ku também conhecidos como hai-cais, poemas curtos.
Curumiassú é um canto dos caboclos do Pará que remete ao bicho papão que assombrava as crianças indígenas. Villa-Lobos escreveu um arranjo sobre essa
melodia em 1919.
INVERNO – FUYU
Viajante
Poderia ser o meu nome
Primeira chuva de inverno
Oshogatsu – canção infantil de Ano Novo que anuncia a chegada do Inverno. A principal função das cerimônias de Ano Novo é honrar e receber
as divindades toshigami (ou kami) que trarão colheita abundante para os agricultores e abençoará todos os antepassados. Para purificar as
energias, as casas são limpas e devidamente decoradas com o arranjo de bambu kadomatsu, colocado na entrada das casas para trazer sorte aos
moradores. Depois de 15 de janeiro, o kadomatsu é queimado para apaziguar os toshigamie liberá-los.
Kazoe uta – Se esta rua fosse minha – canção de brincar do Ano Novo. Com ela, as crianças aprendem a contar de 1 a 10… ichi,ni, san, yon
(shi), go, roku, shichi, hachi, kyu, ju…Fundimos à esse tema japonês a cantiga de roda brasileira Se essa rua fosse minha. Se essa rua, se essa
rua fosse minha/eu mandava, eu mandava ladrilhar/com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes/ para o meu, para o meu amor passar.
PRIMAVERA - HARU
Acorda, acorda!
Vem ser minha amiga,
Borboleta que dorme
Haru no umi – música de MichioMiyagui (1895-1956) originalmente composta para koto e sakuhachique no Mawaca,dialoga com a flauta transversal. Haru no umi
anuncia a primavera no Japão, momento em que as cerejeiras florescem e transformam a paisagem japonesa. Os movimentos ondulantes da cítara e da flauta
japonesa traduzem a última impressão que Miyagui teve do mar da costa de Tomonoura, antes de ficar cego. Haru no umi talvez represente uma das iniciativas
mais felizes em relação às diversas tentativas de ocidentalizar a música japonesa, movimento introduzido na Era Meiji. Miyaguipassou a usar a escala diatônica e
o compasso ternário, além de um estilo orquestral que lhe rendeu muitos seguidores. Haru no umi apresenta um caráter impressionista, talvez pelo uso da escala
kinkojioshi que funde a hirajioshie a kumoijioshi, as principais escalas da música japonesa. Não duvido nada que Debussy tenha se inspirado nela para compor
suas peças.
Sakura, Sakura – melodia popular urbana do período Edo que representa a estação da cerejeira durante a primavera. Debaixo das
flores da cerejeira faz-se o tradicional Hanami – ritual de observação do nascimento das pétalas rosadas que, ao caírem, renovam o
corpo e a alma, pois sakurasimboliza a felicidade na terra do Sol Nascente. Nas cerimônias de casamento, os noivos bebem o chá
sakaruayu com pétalas de sakura que dará felicidade ao casal. A Sakura no ki (桜の木) era associada ao samurai cuja vida era tão
efêmera quanto a da flor que se desprendia da árvore. Já o fruto está ligado à sensualidade, por ser uma
fruta suculenta e de um vermelho intenso. Como tatuagem, a cereja representa a castidade feminina.
Para se cultivar bem a cerejeira são necessárias de 800 a 1.000 horas de frio. Um dos estudos do
Budismo de Nitiren Daishonin diz: “O Inverno nunca falha em se tornar primavera”.
Hina Matsuri – canção do festival das bonecas também conhecido como
Dia das Meninas ou como Festival do Pêssego, celebração muito antiga
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oficializadacomo feriado durante o shogunato no Período Edo. É comemorada sempre no terceiro dia do terceiro mês. Neste dia, é
montada uma plataforma com vários degraus, dispondo bonecas de forma hierárquica a fim de representar a corte do Período Heian(794-1185).No primeiro
degrau, encontram-se o Imperador e a Imperatriz; no segundo, três serviçais; no terceiro, cinco músicos e nos mais baixos, ministros, servos e anciãos. Essa festa
tem origem na China antiga quando as pessoas saiam às ruas, em direção aos rios, para beber, limpar as impurezas e chamar de volta as almas dos familiares
que já partiram. No Japão, esse costume se repetiu e no dia do HinaMatsuri, as pessoas reúnem nas margens dos rios para beber sake, escrever poemas e deixar
sobre as águas dos rios origamis feitos por elas.
Durante o Período Heian, essa tradição se manteve com algumas transformações. A nobreza convocava um onmyouji, o praticante
do onmyoudou, para realizar rituais de purificação. Neste ritual – hinanagashi – todas as impurezas das pessoas eram transferidas
para uma boneca que era posta sobre as águas do rio para levá-las embora sobre uma balsa. Esse costume se transformou na
tradição do Hina Matsuri que conhecemos hoje.
AsadoyaYunta – canção da ilha de Taketomi em Okinawa muito popular que conta a história de
uma mulher muito bonita Asadoya Kuyama que teve a coragem de rejeitar a proposta de
casamento de um oficial do governo. Yunta é um estilo de canção japonesa característica da
música e dança de Yaeyama e está relacionada aos cantos de trabalhos feitos com muita
alegria, quase como uma oração em forma de narrativa para pedir uma colheita abundante.
Soranbushi – canção dos pescadores da região de Hokkaido que acompanha a dança
Bon cujos movimentos retratam pescadores arrastando redes, puxando cordas e
transferindo os baldes de peixesnos ombros para os barcos. É uma canção que ajudaa
manter os trabalhadores acordados durante vários dias sem dormir.A melhor época
para a pesca é no outono quando os peixes ficam mais gordinhos, mas a canção era
originalmente cantada na primavera, quando os arenques apareciam em peso, após
período de hibernação.
o som mauacae o nome do grupo
Ilust: Erica Mizutani
Ilust: Erica Mizutani
Originalmente conhecido como palavra africana, a palavra mawaka que deu nome ao
grupo, possui um sentido semelhante na língua japonesa, pois pelos ideogramas japoneses, mawaka significa canto
sagrado, ou a porta para o poema cantado (waka), o que norteia o trabalho do Mawaca desde sua criação, em 1995.
O ideograma para a palavra mawaka significa ‘canto sagrado’ ou‘canto em harmonia’, ou a ‘palavra cantada como fundamento da verdade’, da poesia, enfim as
portas para a poesia e música.
Waka significa poema cantado muito antigo no idioma japonês, muito usado no período Heian. A antologia KokinWakashū (Kokinshu) reuniu centenas de waka –
poemas de sete e cinco sílabas usados como juras de amor entre os amantes da corte.
Ma, o espaço onde a arte da poesia acontece, a respiração do músico, do ator durante sua performance.
Numa tradução livre, Mawaca seria a porta para o poema musicado!
O MAWACA tem sido requisitado com regularidade pela Fundação Japão para desenvolver projetos junto à
comunidade nipo-brasileira.
Há mais de 15 anos, o grupo Mawaca tem recebido o incentivo da Fundação Japão, representada por seu
diretor cultural Jo Takahashi, cuja gentileza, responsabilidade e competência nos animam, “nos dão alma”.
A relação do Mawaca com a Fundação Japão começou em 1998, quando o grupo gravou Hotaru koi no seu
primeiro CD. Um ano depois, o grupo foi convidado para abrir o show da Rinken Band de Okinawa no SESC
Vila Mariana. Fomos surpreendidos pelo entusiasmo da plateia – essencialmente formada por pessoas da
comunidade nipônica – que aplaudia emocionada AsadoyaYunta, um tema emblemático das ilhas!
Alguns meses depois, novo convite para uma apresentação na Fundação com um repertório exclusivo de
músicas japonesas, um grande incentivo para um aprofundamento no repertório nipônico. Essa
apresentação foi o embrião desse espetáculo de hoje. Kazoe Uta e Soran Bushi foram gravadas segundo
CD do Mawaca astrolabiotucupira.com.brasil lançado em 2000.
Em 2004, a Fundação Japão convidou Magda Pucci juntamente com outros dois músicos do Mawaca –
Gabriel Levy e Valéria Zeidan – para participar do projeto Bonsai Romã gravado pela TV Cultura. No ano
seguinte, o grupo recebeu o patrocínio da instituição para produzir o DVD “Mawaca pra todo canto”, gravado
no SESC Pompéia.
Pelas palavras do crítico japonês Shinji Onodera, percebe-se uma nítida empatia do Mawaca com
o “universo japonês”:
“Neste álbum (astrolabio), músicas de Portugal, Índia, Oriente Médio, Brasil, Japão, e Okinawa se entrelaçam, mas todas elas viram uma música única do
Mawaca. Todas as músicas se fundem como que se narrassem uma história entrelaçada. “Hotaru Koi” e “Soran Bushi” fazem parte dessa história, convida-nos a
cantarmos juntos. Um caleidoscópio assim, ninguém provavelmente viu por aqui. E nós, ficamos esperando ansiosamente para ver o Mawaca em nossos palcos
japoneses”.
Ikebanas Musicais
Direção Musical: Magda Pucci
Cantoras: Angélica Leutwiller, Cris Miguel, Magda Pucci, Sandra Oak, Rita Braga, Christina Guiçá e Zuzu Abu.
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Instrumentistas: Ramiro Marques (sax soprano e tenor), Gabriel Levy (acordeom), Ana Eliza Colomar (cello e flautas), Paulo Bira (baixo), Armando Tibério (tablas
e congas)e Valéria Zeidan (vibrafone, marimba e tambores).
Participações especiais: TamieKitahara (voz, shamisen e koto), Shen Ribeiro (sakuhachi), Daniella e Deborah Shimada (taiko)
Figurinos: Jessica Vidal
Ilustrações: Erica Mizutani
Projeções: Ricardo Botini
Fotos: Eduardo Vessoni
Apoio: Do Cultural / Jo Takahashi
Produção: Ethos Produtora – Giovana Almeida e Márcia Caldeira
Técnicos de som: Gustavo Breier e Can
Roadie: Alexei
Dias 18 e 19 de junho, sábado, às 21h, domingo, às 18h
Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros
Tel.: (11) 3095-9400
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junho 15th, 2011 | Category: MÚSICA
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