ISSN 1679-5954 Revista da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - volume 12 - número 2 - julho/dezembro - 2012 REVISTA DA ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO volume 12 número 2 julho/dezembro 2012 Associação Brasileira de Ensino Odontológico ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO. Catalogação-na-publicação (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo) Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico. – Vol. 1, n. 1, (jan.-dez. 2001). – São Paulo : ABENO, 2001Semestral ISSN# 1679-5954 A partir de 2005, vol. 5, n. 1 a publicação passa a ser semestral. 1. Odontologia (Periódicos) I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo) II. ABENO CDD 617.6 BLACK D05 ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente Maria Celeste Morita Rua Pernambuco, 540 - 1º andar Clínica Odontológica da UEL CEP: 86020-120 Centro - Londrina - PR E-mail: [email protected] Site: www.abeno.org.br Apoio para esta edição: SUMÁRIO v. 12, n. 2, julho/dezembro - 2012 Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico DIRETORIA (2010 a 2014) Presidente Maria Celeste Morita Vice-Presidente Adair Luiz Stefanello Busato Secretário Geral Luiz Sérgio Carreiro 1a Secretária Vânia Regina Camargo Fontanella Tesoureira Geral Elisa Emi Tanaka Carloto 1a Tesoureira Maura Sassahara Higasi COMISSÃO DE ENSINO Ana Isabel Fonseca Scavuzzi Cresus Vinícius Depes de Gouveia Elaine Bauer Veeck José Ranali (Presidente) José Tadeu Pinheiro Maria Ercília de Araújo Mário Uriarte Neto CONSELHO FISCAL Celso Zilbovicius João Humberto Antoniazzi (Presidente) José Galba de Menezes Gomes Léo Kriger Lino João da Costa Revista da Abeno Editor Científico José Luiz Lage-Marques Conselho Editorial Adair Luis Stefanello Busato (ULBRA-RS) Ana Cristina Barreto Bezerra (UCB) Ana Isabel Fonseca Scavuzzi (UNIME/UEFS) Antonio César Perri de Carvalho Arnaldo de França Caldas Júnior (UPE) Carlos de Paula Eduardo (FO-USP) Carlos Estrela (UFG) Célio Jesus do Prado (UFU) Célio Percinoto (FOA-UNESP) Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF) Eduardo Batista Franco (FOB-USP) Eduardo Dias de Andrade (UNICAMP) Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Efigenia Ferreira e Ferreira (UFMG) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Elen Marise de Oliveira Oleto (UFMG) Gersinei Carlos de Freitas (UFG) Hilda Maria Montes Ribeiro de Souza (UERJ) Horácio Faig Leite (FOSJC-UNESP) Isabela Almeida Pordeus (UFMG) Jesus Djalma Pécora (FORP-USP) João Humberto Antoniazzi (FO-USP) José Carlos Pereira (FOB-USP) José Luiz Lage-Marques (FO-USP) José Ranali (UNICAMP) José Thadeu Pinheiro (UFPE) Léo Kriger (PUC-PR) Liliane Soares Yurgel (PUC-RS) Lino João da Costa (UFPB) Luiz Alberto Plácido Penna (UNIMES) Marco Antonio Campagnoni (FOAR-UNESP) Maria Celeste Morita (UEL) Maria da Gloria Chiarello Matos (FORP-USP) Maria Ercília de Araújo (FO-USP) Nilce Emy Tomita (FOB-USP) Oscar Faciola Pessoa (UFPA) Ricardo Prates Macedo (ULBRA-RS) Rui Vicente Oppermann (UFRS) Samuel Jorge Moyses (PUC-PR) Simone Tetu Moysés (UFPar) Vanderlei Luís Gomes (UFU) EDITORIAL Caminhos do ensino Odontológico brasileiro Maria Celeste Morita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 ARTIGOS Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva Diagnostic evaluation: A tool to evaluate the progression of student performance in the Dentistry Course of The Newton Paiva University Center Geraldo Magela Pereira, Diele Carine Barreto Arantes, José Flávio Batista Gabrich Giovannini, Júnia Noronha Carvalhais Amorim, Santuza Maria de Souza Mendonça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública brasileira Profile of dentists trained with an integrated curriculum at a Brazilian public teaching institution Aline Claudia Ribeiro Medeiros Silva, Talissa Mayer Garrido, Mitsue Fujimaki Hayacibara, Carina Gisele Costa Bispo, Rafael Luis da Silva, Maria Celeste Morita, Raquel Sano Suga Terada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas da UNIVILLE Student evaluation and Brazil’s National Curriculum Guidelines – The reality of integrated clinics at UNIVILLE Lúcia Helena Ferretti, Tiago Goulart Appel, Luiz Carlos Machado Miguel, Luciano Madeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). Uso do questionário de auto-avaliação COLLES Assessing how endodontics students perceive the Virtual Learning Environment (Moodle) with the COLLES self-assessment questionnaire Ivana Maria Zaccara Cunha-Araújo, Juan Ramon Salazar-Silva, Fábio Luiz Cunha D’Assunção, Ângelo Brito Pereira de Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na formação em saúde no Brasil Curricular evaluation of higher education in dentistry: a discussion about the effects of curriculum changes on health care training in Brazil Ramona Fernanda Ceriotti Toassi, Juliana Maciel de Souza, Alexandre Baumgarten, Cassiano Kuchenbecker Rösing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Banco de dentes humanos no Brasil: revisão de literatura Human tooth bank in Brazil: a review of literature Dayliz Quinto Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 Indexação A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia; LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. Revista da ABENO r 12(2):139-40 139 Banco de dentes humanos e educação em saúde na Universidade Federal do Amazonas. Relato de Experiência Human tooth bank and health education at the Federal University of Amazonas: an experience report Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Emílio Carlos Sponchiado Júnior, Camila Coelho Guimarães, André Augusto Franco Marques, Maria Augusta Bessa Rebelo, Nikeila Chacon de Oliveira Conde, Maria Fulgência Costa Lima Bandeira, Juliana Vianna Pereira. . . . . . 185 Contribuições das atividades complementares na formação profissional em odontologia Contributions of complementary activities in professional dental training Alessandra M. Ferreira Warmling, Ana Lúcia S. Ferreira de Mello, Débora Schramm Naspolini, Graziela de Luca Canto, Elisa Remor de Souza . . . . . . . 190 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina Evaluation of the curriculum reform of the University of Santa Catarina dentistry course Gabriella Machado Vieira, Graziela de Luca Canto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 Atenção odontológica a pacientes especiais: atitudes e percepções de acadêmicos de odontologia Dental care for special-needs patients: attitudes and perceptions of dentistry students Marcela F. Sousa Santos, Ignez A. dos Anjos Hora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina sobre o que é promoção da saúde The perception of senior students from the Health Science Center at the Federal University of Santa Catarina regarding health promotion Laís Olsson, Ana Clara Loch Padilha, Dayane Machado Ribeiro . . . . . . . . . . . 213 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação em odontologia The impact of practice scenarios proposed by Pro-Health in dentistry training Carlos Rafael do Carmo Rodrigues, Marcos Alex Mendes da Silva . . . . . . . . . 219 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção discente Distance education and use of information technology for an education in dentistry: the student’s perception Lígia Noemia Parlandin de Sales, Liliane Silva do Nascimento, Gustavo Antônio Martins Brandão, Ana Carla Carvalho de Magalhães, Flávia Sirotheau Correa Pontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas diretrizes curriculares e perfil profissional Prospects of a dental education from the viewpoint of dental students from the School of Dentistry of the Fluminense Federal University: new curriculum guidelines and professional profile Camila de Siqueira Gomes, Mariana Rocha Nadaes, Marcos Antônio Albuquerque da Senna, Mônica Villela Gouvêa, Natasha Moreira Dias, Priscila Nogueira Sirimarco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 APÊNDICE Índice de artigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240 140 Revista da ABENO r 12(2):139-40 EDITORIAL Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Caminhos do ensino Odontológico brasileiro ensino de Odontologia vem se transformando a cada dia. Em uma área na qual a tecnologia é muito importante, uma constatação se revela ainda mais evidente: o pilar da saúde e da qualidade da atenção está nas pessoas que executam as ações. A tarefa de prepará-las para atuar com base na melhor evidência científica e responsabilidade social, implica em educar para assumir postura crítica, reflexiva, em permanente atualização, o que não é simples. Não obstante, a comunidade do ensino Odontológico brasileiro tem respondido ao desafio de propor soluções, inovar e buscar alternativas para formar o cirurgião-dentista com competências ampliadas. Estamos deixando para trás o foco na técnica para centrar na ciência, rompendo a barreira do ensino voltado para atender apenas uma pequena parcela da população para estender e ampliar nossa contribuição para o bem estar das pessoas. Como todo percurso de mudanças, o caminho não é linear, mas se constrói com idas e vindas. Como no aprendizado do estudante, a decisão de querer aprender é o primeiro passo. Nesse caso, o ensino-aprendizagem melhora quando é possível aumentar a perspectiva do olhar e aprender com as experiências de todos. No processo, que não encontra na unanimidade o conforto da estagnação, o mais importante é o registro dos passos e das lições aprendidas. Essa trajetória, a do ensino de Odontologia no Brasil, permeada da energia que emana daqueles que se dedicam à Educação, produz uma grande riqueza, a Revista da ABENO: patrimônio do ensino Odontológico brasileiro! O Maria Celeste Morita Presidente da ABENO Revista da ABENO r 12(2):141 141 Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva Geraldo Magela Pereira*, Diele Carine Barreto Arantes**, José Flávio Batista Gabrich Giovannini***, Júnia Noronha Carvalhais Amorim*, Santuza Maria de Souza Mendonça*** * Professor Titular do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva ** Coordenadora do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva *** Professor Adjunto do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva RESUMO Para a melhoria da qualidade da educação superior e a orientação da expansão do número de Instituições de Ensino Superior (IESs), criou-se, em 14 de abril de 2004, o SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, que representou um avanço significativo na avaliação dos cursos e das IESs, na medida em que permitiu estabelecer padrões de qualidade para a educação superior. O aprimoramento do processo avaliativo apresenta forte tendência para a busca de consonância entre o olhar do avaliador e os objetivos propostos pelo Projeto Pedagógico do curso a ser avaliado. Esse aprimoramento motiva a criação de ferramentas internas que contemplem as particularidades de cada curso e visem a excelência no processo formativo do discente. Baseado nessas necessidades, a Comissão de Avaliação do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva elaborou um instrumento para avaliação da evolução do desempenho dos discentes. Essa ferramenta, composta por questões de memorização, análise de dados e elaboração de raciocínios, procurou abranger os diferentes momentos do curso, contemplando conteúdos de conhecimentos básicos, técnicos e articulados. Nesse artigo são apresentadas análises detalhadas dos resultados da avaliação diagnóstica. Constatou-se que a avaliação proporciona contínuo aperfeiçoamento e produz conhecimento que alicerça as tomadas de decisões 142 pelo Núcleo Docente Estruturante. Dentro desse contexto, a Ferramenta Diagnóstica do curso de Odontologia se torna fundamental para o alcance da excelência no processo formativo do discente. DESCRITORES Educação em Odontologia. Ensino. Avaliação Educacional. partir da década de 1990 ocorreu um movimento de expansão da educação superior evidenciado pelo aumento significativo de Instituições de Ensino Superior (IESs), o que levou à necessidade de regulamentação e orientação dos cursos superiores no Brasil.1 Com o objetivo de fundamentar o planejamento dos projetos pedagógicos destes cursos e superar as concepções tradicionais, a rigidez e o conteudismo dos currículos mínimos, entraram em vigência, em 2002, as diretrizes curriculares nacionais.2 Para a melhoria da qualidade da educação superior e a orientação do aumento do número de IESs, criou-se, em 14 de abril de 2004, o SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – formado por três componentes principais: r a avaliação das instituições, r a avaliação dos cursos e, por fim, r a avaliação do desempenho dos estudantes. A O SINAES representou uma das ações mais rele- Revista da ABENO r 12(2):142-6 Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do $FOUSP6OJWFSTJUÃSJP/FXUPO1BJWBr1FSFJSB(."SBOUFT%$#(JPWBOOJOJ+'#("NPSJN+/$.FOEPOÉB4.4 vantes na avaliação dos cursos e das IESs, na medida em que permitiu estabelecer padrões de qualidade para a educação superior e demonstrar a qualidade do processo educativo desenvolvido pelas universidades, sendo denominado por diversos autores como sistema de regulação de educação superior.3 O aprimoramento do processo avaliativo, principalmente baseado nas novas orientações do Ministério da Educação4 no que compete à avaliação in loco, apresenta forte tendência para a busca de consonância entre o olhar do avaliador e os objetivos propostos pelo Projeto Pedagógico do curso a ser avaliado.O aprimoramento dos processos avaliativos motiva a criação de ferramentas internas que contemplem as particularidades de cada curso e que visem o alcance da excelência no processo formativo do discente.5 Nesse estudo, o enfoque da avaliação será especificamente na aprendizagem, pois é justamente nessa área que são produzidos os efeitos mais marcantes dentro e fora do contexto das instituições educacionais, com repercussões de caráter ético, político e pedagógico.6 Baseado nessas necessidades, esse trabalho se propõe a descrever o processo de construção e revelar resultados alcançados com a primeira aplicação de uma ferramenta de avaliação da evolução do desempenho dos discentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, de acordo com o seu Projeto Pedagógico. METODOLOGIA Em concordância com projeto pedagógico do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, a Comissão de Avaliação, constituinte do Núcleo Docente Estruturante desse curso, elaborou um instrumento para avaliação da evolução do desempenho de seus discentes. Essa ferramenta procurou abranger os diferentes momentos do curso, contemplando conteúdos de conhecimentos básicos, técnicos e articulados, através de questões que proporcionassem memorização, análise de dados e elaboração de raciocínios. Tomando-se com base as orientações de Moretto (2005),7 foram elaboradas 11 questões objetivas que abordavam os diferentes conteúdos do curso, e também 2 questões discursivas articuladas. Essas questões foram subdivididas em tópicos com conteúdos ministrados em diferentes períodos do curso. Durante o processo de elaboração da ferramenta, os docentes foram mobilizados de forma a garantir a validação das questões, a articulação dos diferentes conteúdos e dos níveis de complexidade de acordo com a dinâmica curricular. A ferramenta elaborada foi aplicada a 427 acadêmicos do curso, independente do período matriculado. As questões foram elaboradas de forma a avaliar a evolução do desempenho dos discentes ao longo do curso, possibilitando identificar as fragilidades e potencialidades dos conteúdos trabalhados. Cada questão foi classificada de acordo com o tema, a área e os períodos cujos conteúdos foram abordados. Após a aplicação e a correção desta avaliação diagnóstica, cada questão foi analisada quantitativamente, definindo-se o porcentual de acerto em cada período. Posteriormente, comparou-se o resultado de cada questão entre os diferentes períodos. Considerou-se, para as questões objetivas, o número de alunos que respondeu cada alternativa, sendo destacado o número de acertos. Para as questões discursivas, as respostas foram analisadas como: r correta, r parcialmente correta, r errada e/ou em branco. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a melhor compreensão dos resultados, faz-se necessária uma descrição objetiva da estrutura curricular do Curso de Odontologia do Centro Universitário Newton Paiva. Nessa estrutura, as disciplinas básicas são ofertadas nos três primeiros períodos, seguidas pelos conteúdos específicos abordados de forma articulada nas atividades teóricas e nas práticas clínicas dentro das disciplinas de Ciências Odontológicas Articuladas (COAs), que vão do quarto ao nono período. As COAs ofertam em sua prática clínica o atendimento integral do paciente, com a execução de procedimentos em uma sequência progressiva de complexidade. A Tabela 1 apresenta os resultados quantitativos de acertos em cada período por grupos de questões objetivas, sendo o Grupo 1 composto por questões de conteúdo básico e o Grupo 2 envolvendo questões técnico-articuladas. Pode-se observar nessa tabela, que os períodos mais avançados (6º ao 9º) obtiveram o maior percentil de acertos tanto nas questões de conteúdo básico, quanto nas questões de conteúdo técnico-articulado. Esses resultados demonstram que o ensino agregou conhecimentos aos alunos. Para verificar como o conhecimento foi adquirido no decorrer do curso construiu-se o Gráfico 1, onde percebe-se que os alunos se apropriaram de forma progressiva e crescente dos conteúdos básicos e técnico-articulados. Destaca-se que os primeiros períodos (1º ao 3º) apresentaram melhores resultados em relação à área básica, o que está coerente com o conteúdo trabalhado até esse Revista da ABENO r 12(2):142-6 143 Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do $FOUSP6OJWFSTJUÃSJP/FXUPO1BJWBr1FSFJSB(."SBOUFT%$#(JPWBOOJOJ+'#("NPSJN+/$.FOEPOÉB4.4 Tabela 1 - Porcentual de acertos das questões objetivas. Grupo Conteúdos abordados 1 Básicos 2 Período % Acerto Período % Acerto Período % Acerto 1º 34,64 4º 40,74 7º 44,83 2º 40,68 5º 45,91 8º 45,55 3º 39,98 6º 46,18 9º 52,97 1º 25,45 4º 50,53 7º 67,16 2º 28,21 5º 41,16 8º 60,59 3º 31,85 6º 61,14 9º 58,19 1º 30,04 4º 45,63 7º 55,99 2º 34,44 5º 43,53 8º 53,07 3º 35,91 6º 53,66 9º 55,58 Técnico-articulados Todos (básicos + técnico-articulados) 3 (%) 80 67,16 70 60,59 61,14 60 50,53 50 40 58,19 55,58 55,99 45,6 3 40,68 39,98 34,64 34,44 30,04 30 20 25,45 28,21 53,66 45,91 53,07 52,97 43, 46,18 44,83 45,55 53 40,74 41,16 35,9 1 Básicas 31,85 Técnico-articuladas Geral 10 do río do pe 9º río do río pe 8º do río pe 7º do río pe 6º do río pe 5º do río pe 4º do río pe 3º pe 2º 1º pe río do 0 Desempenho dos alunos nas questões fecha- das de conhecimento básico, técnico e articulado. momento do curso. Outra observação interessante é que o desempenho dos alunos em relação ao conteúdo básico seguiu uma progressão contínua e tênue demonstrando assimilação dos conteúdos, o que pode estar relacionado com a aplicação destes conhecimentos nas diferentes clínicas articuladas. Em relação ao conteúdo articulado, houve oscilação ao longo do curso. Pode-se observar uma progressão acentuada no número de acertos do 3º para o 4º período, coincidindo com o início das COAs. Em seguida nota-se uma queda acentuada no 5º período, posterior progressão até o 7º. No 8º e 9º períodos, o gráfico apresentou um declínio tênue. Tais oscilações podem ser explicadas pelo envolvimento das turmas na resolução das questões da ferramenta, pelas diferenças inerentes a cada turma, além das diversas experiências vivenciadas nas clínicas integradas por cada uma delas. Sugere-se também que o momento em que o aluno vivencia a aplicação clínica dos conhecimentos teóricos adquiridos possa in- 144 fluenciar esta avaliação. Isso ficou evidente pelo declínio tênue observado no 8º e 9º períodos, quando os conteúdos avaliados nas questões não são abordados de forma explícita em aulas teóricas e práticas. Este achado indica a necessidade de aplicação periódica da ferramenta diagnóstica com o intuito de obter um histórico de avaliação com dados mais específicos do desempenho das diferentes turmas, nos diferentes momentos do curso. Além disso, a continuidade na aplicação da ferramenta diagnóstica possibilitará o monitoramento do aprendizado dos alunos em um curso onde todas as atividades clínicas são integradas. A proposta de clínicas integradas está contemplada nas diretrizes curriculares nacionais (Perri de Carvalho, 2008) e flexibiliza a formação dos alunos, pois permite experiências diferentes em uma mesma atividade clínica. Porém, o resultado deve ser monitorado para garantir o aprendizado de habilidades básicas e fundamentais na formação de um cirurgião-dentista generalista. A Tabela 2 apresenta os resultados referentes à primeira questão discursiva, que contemplou o conteúdo de Saúde Coletiva. Pode-se observar que houve aumento significativo de acertos no 2º período, coincidindo com a disciplina de Estágio II, que aborda especificamente o conteúdo avaliado. A partir daí, observa-se estabilidade do número de acertos até o 7° período. Como no 8º e no 9º períodos, volta a ser abordado o conteúdo de saúde coletiva, pode-se notar um aumento no número de acertos. Quanto à segunda questão, que aborda conteúdos clínico-articulados, até o 3º período não houve acertos, o que está coerente com os conteúdos ministrados até o momento. A partir daí, houve um aumento progressivo no número de acertos. Entretanto, a questão que aborda o conteúdo de Semiologia/Farmacologia apre- Revista da ABENO r 12(2):142-6 Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do $FOUSP6OJWFSTJUÃSJP/FXUPO1BJWBr1FSFJSB(."SBOUFT%$#(JPWBOOJOJ+'#("NPSJN+/$.FOEPOÉB4.4 Tabela 2 - Resultado das respostas dos alunos às questões abertas que abordaram o conteúdo de Saúde Coletiva. Questão Conteúdo abordado 1A Saúde Coletiva 1B 1C Saúde Coletiva Saúde Coletiva Período % Acerto Período % Acerto Período % Acerto 1º 1,29 4º 30,95 7º 9,75 2º 38,46 5º 25,00 8º 37,93 3º 17,56 6º 28,57 9º 42,85 1º 0,00 4º 2,38 7º 17,07 2º 9,61 5º 10,41 8º 20,68 3º 11,26 6º 2,85 9º 14,28 1º 1,29 4º 26,19 7º 31,70 2º 26,92 5º 33,33 8º 34,48 3º 27,02 6º 40,00 9º 46,42 Tabela 3 - Resultado das respostas dos alunos às questões abertas, divididas de acordo com o conteúdo abordado. Questão Conteúdo abordado 2A Endodontia 2B 2C 2D 2E 2F Endodontia Prótese Periodontia Periodontia/ Prótese Semiologia/ Farmacologia Período % Acerto Período % Acerto Período % Acerto 1º 0,00 4º 16,66 7º 92,68 2º 0,00 5º 29,16 8º 75,86 3º 0,00 6º 88,57 9º 92,85 1º 0,00 4º 33,33 7º 53,65 2º 0,00 5º 31,25 8º 75,86 3º 4,05 6º 45,71 9º 96,42 1º 0,00 4º 0,00 7º 34,14 2º 0,00 5º 0,00 8º 20,68 3º 0,00 6º 5,71 9º 50,00 1º 0,00 4º 0,00 7º 43,90 2º 0,00 5º 10,41 8º 31,03 3º 0,00 6º 17,14 9º 75,00 1º 0,00 4º 4,76 7º 90,24 2º 1,92 5º 27,08 8º 86,20 3º 0,00 6º 91,42 9º 82,14 1º 0,00 4º 9,52 7º 2,43 2º 0,00 5º 10,41 8º 0,00 3º 0,00 6º 11,42 9º 3,57 sentou baixo índice de acerto em todos os períodos, merecendo destaque como um provável ponto de fragilidade na dinâmica curricular. Este dado novamente indica a necessidade de aplicação periódica da Ferramenta Diagnóstica com o intuito de obter um histórico de avaliações que possam validar tal questionamento. No Gráfico 2 estão apresentados em conjunto os resultados obtidos nas duas questões discursivas aplicadas. Após a análise de toda a Ferramenta Diagnóstica pela Comissão de Avaliação, os dados foram apresentados ao corpo docente para sua análise e discussão com a finalidade de identificar as potencialidades e fragilidades do processo ensino-aprendizagem, possibilitando as discussões necessárias a fim de garantir seu aprimoramento constante. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação ocupa, sem dúvida, espaço relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao processo de ensino e aprendizagem. Não há como fugir da necessidade de avaliação quantitativa de conhecimentos. Contudo, os mecanismos avaliativos devem também verificar a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, mostrando as potencialida- Revista da ABENO r 12(2):142-6 145 Avaliação diagnóstica: uma ferramenta para avaliar a evolução do desempenho dos alunos do Curso de Odontologia do $FOUSP6OJWFSTJUÃSJP/FXUPO1BJWBr1FSFJSB(."SBOUFT%$#(JPWBOOJOJ+'#("NPSJN+/$.FOEPOÉB4.4 (%) 80 70 Questão 1 60 Questão 2 66,66 52,84 50 43,32 40 31,03 30 22,91 24,99 23,8 19,5 18,05 10 do río do pe 9º río do río pe 8º do río pe 7º pe río río pe 5º pe 4º 6º do do río do río pe 3º do río pe 2º do 10,71 0 0,86 0,32 0,32 0,67 pe 34,51 18,61 19,84 20 1º 48,27 desempenho dos alunos nas questões abertas. des e fragilidades, e reorientando o trabalho de todo o processo de ensino baseado no projeto pedagógico de cada IES. Portanto, a avaliação orientada para a melhoria da qualidade proporciona contínuo aperfeiçoamento e produz conhecimento que alicerça as tomadas de decisões pelo Núcleo Docente Estruturante. Baseado nessas necessidades, a aplicação periódica da Ferramenta Diagnóstica do curso de Odontologia se torna fundamental para o alcance da excelência no processo formativo do discente. ter Dentistry Course designed a tool to evaluate the progression of student performance. This tool consists of questions related to memorization, data analysis and development of reasoning processes. It seeks to cover the different moments of the course, taking into account contents related to basic, technical and interrelated knowledge. This article presents in-depth analyses of the results of the diagnostic evaluation. It was found that an evaluation process promotes continuous improvement and produces knowledge that shores up decision-making processes by the Structuring Faculty Core. As such, the Diagnostic Tool of the dentistry course plays a fundamental role in steering the student to achieve educational excellence. DESCRIPTORS Education, Dental. Teaching. Educational Mesurement. REFERÊNCIAS 1. Morita MC; Haddad AE; Araújo ME. Perfil atual e tendências do cirurgião-dentista brasileiro. Maringá: Dental Press International; 2010. 2. Perri de Carvalho AC. Reforma curricular da Odontologia. In: Botazzo, C; Oliveira, MA. Atenção básica no sistema único de saúde: abordagem interdisciplinar para os serviços de saúde bucal. Cap. 16. São Paulo: Páginas & Letras Editora e Grá- ABSTRACT Diagnostic evaluation: A tool to evaluate the progression of student performance in the Dentistry Course of The Newton Paiva University Center SINAES (National Higher Education Evaluation System) was established on April 14, 2004, to improve the quality of higher education and serve as a guide for expanding the number of Higher Education Institutions (HEIs). SINAES represents a significant advance in HEI course evaluation, insofar as it has made it possible to establish quality standards for higher education. The improvement in the assessment process has shown a strong trend toward matching the views of the assessor with the objectives proposed by the educational project of the course to be assessed. This improvement drives the effort to create internal tools that address the peculiarities of each course and that aim at achieving excellence in the students’ educational process. Based on these needs, the Evaluation Committee of the Newton Paiva University Cen- 146 fica, 2008. 3. Alonso MS; Antoniazzi JH. Livro do projeto Latino-Americano de convergência em educação odontológica (PLACEO). São Paulo: Artes Médicas; 2010. 4. Documento orientador das Comissões de Avaliação IN LOCO: Ministério da Educação, INEP Março, 2012. 5. Albino JEN; Young SK; Neumann LM; Kramer GA; Andrieu SC; Henson L; Horn B; Hendricson WD. Assessing dental students’ competence: best practice recommendations in the performance assessment literature and investigation of current practices in predoctoral dental education. Journal of Dental Education 2008;72(12):1405-1435. 6. Masetto MT; Prado AS. Processo de avaliação da aprendizagem em curso de odontologia. Revista da ABENO 2004;4(1):48-56. 7. Moretto V. Prova - um momento privilegiado de estudo - não um acerto de contas. 6a ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. Revista da ABENO r 12(2):142-6 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Aline Claudia Ribeiro Medeiros Silva*, Talissa Mayer Garrido**, Mitsue Fujimaki Hayacibara***, Carina Gisele Costa Bispo***, Rafael Luis da Silva****, Maria Celeste Morita*****, Raquel Sano Suga Terada****** * Mestre em Odontologia Integrada pela Universidade Estadual de Maringá ** Acadêmica do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá *** Professora Adjunta do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá **** Bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade Paranaense ***** Professora Associada do Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Universidade Estadual de Londrina ****** Professora Associada do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá !"#$%& O objetivo deste trabalho foi caracterizar o perfil dos egressos do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá e a contribuição do projeto pedagógico para atuação profissional. Um questionário on-line composto por 20 questões foi enviado via e-mail para os egressos formados entre 2003 e 2010. Para armazenamento e extração das informações utilizou-se o software MYSQL e SQLYOG respectivamente, e foram exportadas para o formato XLS (Microsoft Excel) para a análise descritiva. Do total de 273 egressos deste período, foram contatados 208 (76%) e destes, 148 responderam ao questionário (71%). A maioria dos egressos foi do sexo feminino (63%), faixa etária de 26 a 30 anos, oriundos do Paraná (84%) e atuava neste estado (80%). Aproximadamente 50% apresentaram uma renda anual de 12-36 mil R$/ano, a maioria faz ou fez algum curso de pós-graduação (95%), atuava em consultório particular (61%) e apenas 9% sentiam-se realizados financeiramente. Quanto a proposta pedagógica, mais de 90% a consideraram boa ou ótima, 59% relataram que o currículo ocorre parcialmente de forma integrada e que as disciplinas atendiam parcial (48%) ou totalmente aos objetivos propostos (49%). Concluiu-se que o curso tem for- mado profissionais predominantemente do sexo feminino, jovem e com atuação concentrada no Paraná. O projeto pedagógico do curso tem contribuído para uma formação generalista, as disciplinas atendem aos objetivos do curso, porém na visão dos egressos, o desenvolvimento curricular ocorre de forma parcialmente integrada indicando a necessidade de novas reformulações visando a melhoria do curso. DESCRITORES Recursos Humanos em Saúde. Educação em Odontologia. Avaliação Institucional. as últimas décadas, o exercício da profissão de cirurgião-dentista (CD) tem passado por profundas modificações resultantes da influência de diversos fatores, como as mudanças nas características epidemiológicas da cárie, a crescente demanda por assistência odontológica, a reformulação do sistema de saúde pública e as mudanças socioeconômicas e culturais.1-3 O Brasil tem um efetivo de dentistas entre os maiores do mundo.4 Ao mesmo tempo, apesar do rápido crescimento do número de egressos da profissão5 é um país que ainda apresenta agravos bu- N Revista da ABENO r 12(2):147-54 147 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 cais e suas sequelas são de grande prevalência, constituindo-se em problemas de saúde pública com importantes consequências sociais e econômicas.6 Esta situação paradoxal indica a necessidade de repensar a lógica do trabalho e, consequentemente, a formação dos profissionais que estão exercendo a profissão. A educação profissional não manteve o ritmo desses desafios, em grande parte devido à fragmentação, desatualização e currículos estáticos que produzem profissionais mal preparados. O redesenho da educação profissional de saúde é emergente e necessário, tendo em vista as oportunidades de mútua aprendizagem e de soluções conjuntas oferecidas pela interdependência global, devido à aceleração dos fluxos de conhecimento, tecnologias, financiamentos e da migração de profissionais e pacientes.7 A identificação dos perfis profissionais e estudos de acompanhamento de egressos consiste em uma forma eficiente de organizar o processo de formação profissional e avaliação curricular de uma Instituição de Ensino Superior (IES).5 Mesmo com o conhecimento da importância da criação de um sistema de acompanhamento e formação permanente dos alunos, há ainda, um déficit de trabalhos que delineiam o perfil de egressos de um curso voltado à formação de profissionais generalistas, com forte inserção social e um currículo integrado, como ocorre no ensino de graduação em odontologia, incluindo o curso da Universidade Estadual de Maringá. Na literatura, estudos demonstram mudanças no perfil dos cirurgiões-dentistas e tendências para a profissão. Percebe-se uma progressiva incorporação de tecnologia, de especialização, mudanças visíveis no sistema de saúde público e privado, com redução do exercício liberal estrito e aumento de profissionais com vínculo público, assim como o aumento da escolarização feminina.4,5,8,9 Alguns autores apontam para a necessidade de mudanças no ensino odontológico, visto que se faz necessária uma adequação dos recursos humanos formados para a construção de um novo modelo de atenção à saúde, profissionais mais bem preparados para o mercado de trabalho, com uma formação sólida e que corresponda às necessidades da população.8,10-13 Desta maneira, a universidade deveria manter um sistema de acompanhamento e formação permanente de seus alunos, que deverá durar até o fim de sua vida profissional, pois uma pesquisa desenvolvida para delinear o perfil dos egressos, na medida em que levanta diagnósticos, apura indicadores de qua- 148 lidade e desenvolve análises sobre a trajetória de seus ex-alunos, subsidia, dessa forma, o planejamento, a adoção e a condução das políticas institucionais relacionadas ao ensino, pesquisa, extensão e gestão da qualidade. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o perfil dos egressos do Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) formados entre os anos de 2003 e 2010 e a contribuição do projeto pedagógico do curso para a atuação profissional. %'*"!+',"%/*&;&# Todos os procedimentos deste estudo seguiram os princípios éticos estabelecidos pela legislação em vigor e foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CAAE nº 0475.0.093.000-10). Foram incluídos como sujeitos da pesquisa, acadêmicos que concluíram o curso de graduação entre os anos de 2003 e 2010, formados segundo uma proposta pedagógica baseada em um currículo integrado. Do total de 273 egressos, foram localizados os endereços eletrônicos de 208 egressos (76% da população do estudo) por meio de consulta aos registros de ex-alunos na Secretaria do Departamento de Odontologia da UEM, contato telefônico ou internet. Portanto, fizeram parte deste estudo um total de 208 egressos. Aplicou-se um questionário on-line composto por 18 questões fechadas, de múltipla escolha, e 2 questões abertas, divididas em 5 blocos: +<dados pessoais, II) perfil socioeconômico e demográfico, III) campo de atuação, IV) avaliação pessoal do Projeto Pedagógico e V)contribuição do Projeto Pedagógico. O questionário foi enviado via e-mail por meio de um link que ao ser acessado gerava uma página da web contendo o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Somente após leitura e concordância com o mesmo, os egressos tiveram acesso ao questionário. O questionário foi reenviado aos egressos que ainda não haviam respondido, semanas após o primeiro contato. A estrutura adotada para captação dos dados via website se deu a partir da criação de um formulário baseado no questionário escrito. Para armazenamento dos dados foi utilizado o software de banco de dados MYSQL. Os dados foram armazenados neste software em formato de tabela, onde cada pergunta Revista da ABENO r 12(2):147-54 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 correspondia a uma coluna. As informações foram extraídas utilizando-se o software SQLYOG, que por sua vez apresentou as porcentagens segundo a frequência das respostas. Os resultados foram exportados para o formato XLS (Microsoft Excel) e então procedeu-se a análise descritiva dos dados. 6,08% 8,78% 14,86% 4,8 % 8,78% 30,41% 12,16% 18,92% RESULTADOS Do total de 208 egressos contatados, 148 responderam ao questionário, o que representa 54% do total de egressos do curso no período avaliado e 71% da amostra deste estudo. Entre os respondentes, 63% eram mulheres e 37% homens. Quanto à faixa-etária, 39% tinham até 25 anos, 51% de 26 a 30 anos, e 10% de 31 a 35 anos. A grande maioria dos egressos (84%) tinham como estado de origem o Paraná, sendo que 80% do total atuavam neste estado após a conclusão do curso. Observou-se que 7% vieram de São Paulo, e os demais (9%) eram oriundos de diferentes estados como Amazonas, Distrito Federal, Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Aproximadamente um quinto dos egressos (28 egressos, 19%) estavam trabalhando em estados diferentes do estado de origem, sendo que 10 (7%) são oriundos de outros estados e permaneceram no Paraná, 12 (8%) eram do Paraná e foram para outros estados brasileiros, e 6 (4%) eram de estados como São Paulo, Amazonas e Minas Gerais e foram para outros estados. A renda anual declarada pode ser observada no Gráfico 1. Verificou-se que aproximadamente metade dos alunos apresentou uma renda na faixa entre 12-36 mil R$/ano. A maioria dos egressos (95%) faz ou fez algum curso de pós-graduação, 47% cursa ou cursou especialização, 22% faz ou fez aperfeiçoamento, 20% estão envolvidos com mestrado, 3% com doutorado e 3% com residência. A distribuição dos egressos do curso de odontologia segundo o vínculo profissional pode ser observada na Tabela 1. Mesmo tornando-se uma prática em crescimento atualmente, 26% dos egressos que trabalham atendem para algum convênio ou cooperativa. Do total de respostas, verificou-se que 96 profissionais apresentam apenas 1 vínculo empregatício, 40 profissionais têm dois vínculos empregatícios e 9 deles, 3 vínculos empregatícios. As áreas de atuação profissional mais citadas foram dentística, cirurgia, prótese, periodontia e endodontia, atingindo índices de 28%, 0-12 mil R$/ano 48-60 mil R$/ano 12-24 mil R$/ano 60-72 mil R$/ano 24-36 mil R$/ano >72 mil R$/ano 36-48 mil R$/ano Renda anual dos egressos de 2003 a 2010 da Universidade Estadual de Maringá (%). * Distribuição dos egressos segundo o vínculo profissional. Consultório particular de outro dentista, pagando porcentagem 76 36,5 Consultório particular próprio 46 22,1 Serviço público* 40 19,2 Pós-graduação** 17 8,2 Empresa privada, plano de saúde, sindicatos e associações 16 7,7 5 2,4 Consultório particular de outro dentista, pagando aluguel fixo Não trabalho 3 1,4 Docente 2 1,0 * Rede municipal, ministério da saúde, aeronáutica e hospitais. ** Mestrado, doutorado, residência e estágios. 19%, 11%, 11% e 10% respectivamente. Quanto à realização financeira, 9% sentem-se completamente realizados, um pouco mais que a metade, 52%, sentem-se parcialmente realizados, e uma grande parte, 39% sentem-se pouco realizados. Ainda relacionada a questão financeira, os egressos foram divididos em 2 grupos: os graduados entre 2003 a 2006 (grupo 1) e de 2007 a 2010 (grupo 2). A maior quantidade de profissionais (66%) que participaram da pesquisa são do grupo 2. Porém, as porcentagens quanto a realização financeira foram bastante semelhantes, com exceção da realização financeira completa, que no grupo 1 era de 14% e no grupo 2 de 6% dos egressos. Revista da ABENO r 12(2):147-54 => Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 As principais competências e características que os egressos julgaram ser necessárias ao cirurgião-dentistas foram: r bom relacionamento profissional/paciente, r visão do paciente como um todo, r ética, r capacidade de formular diagnósticos corretos, r educação permanente, e r comunicação (Tabela 2). Tanto em relação ao curso de graduação quanto à proposta pedagógica, mais de 90% dos alunos os consideraram como bom ou ótimo. Além disso, a maioria (64%) também considerou que a proposta curricular contribuiu para uma visão generalista, as* Características/competências necessárias ao cirurgião-dentista. ! " # Bom relacionamento profissional/paciente 106 51,0 Visão do paciente como um todo 100 48,1 Ética 93 44,7 Capacidade de formular diagnósticos corretos 77 37,0 Educação permanente 73 35,1 Comunicação 69 33,2 Capacidade de trabalhar em equipe 65 31,3 Capacidade de estabelecer opções de plano de tratamento 64 30,8 Especialização 56 26,9 Gerenciamento e marketing 53 25,5 Tomada de decisão 43 20,7 Atuação generalista 24 11,5 Desenvolvimento de raciocínio lógico na formulação de problemas 19 9,1 Liderança 12 5,8 *? Contribuição do projeto pedagógico para o exercício profissional (valores em porcentagem do total de respostas). 150 sim como 65% julgou que os professores estimularam a busca por especialização. Por outro lado, 59% dos alunos relataram que o desenvolvimento do currículo do curso aconteceu de forma parcialmente integrada, sendo que as disciplinas atendiam parcial (48%) ou totalmente aos objetivos propostos (49%). A Tabela 3 apresenta a contribuição do projeto pedagógico para a construção de 5 aspectos fundamentais para o exercício profissional, segundo a visão dos egressos do curso. Verificou-se que mais da metade dos alunos apontou que as disciplinas contribuíram totalmente para a aquisição de competências relacionadas a todos os itens. DISCUSSÃO Do total de cirurgiões-dentistas graduados entre 2003 e 2010, a taxa de retorno dos questionários enviados foi de 71%, superior a outros trabalhos realizados anteriormente.5,8,9 O aumento da taxa de resposta pode ser relacionado à metodologia utilizada, já que o link para o questionário foi fornecido por e-mail. Neste estudo houve predominância de profissionais do sexo feminino e faixa etária jovem de 26 a 30 anos. Em trabalhos mais antigos, observa-se uma grande quantidade de cirurgiões-dentistas do sexo masculino.8,10,11,14 Porém, devido ao ingresso progressivo das mulheres brasileiras no ensino superior a partir da década de 80, a predominância de cirurgiões-dentistas do sexo feminino pode ser observada desde o final da década de 90 até os dias atuais.4,5,15,16 A maioria dos egressos (84%) são originários do Paraná e após a conclusão do curso, 80% do total de ex-alunos atuam neste estado, mostrando que houve uma pequena migração para outros estados. A centralização de recursos humanos em Odontologia ocorre também em nível nacional, a distribuição dos CDs brasileiros mostra um quadro de concentração de profissionais em algumas regiões e escassez em outras, observa-se a concentração nas regiões sudeste e sul, onde são menores a proporção de população por CD.4 Mostram também que o local de gradu- Aspectos sociais, políticos e culturais 58 30 11 1 Atuação ética 66 26 7 1 Organização, expressão e comunicação 55 36 7 2 Raciocínio lógico e análise crítica 59 30 10 1 Atuação em equipes 65 28 6 1 Revista da ABENO r 12(2):147-54 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 ação tem estreita relação com o local de fixação profissional. Estes dados indicam a necessidade de políticas de incentivo à melhor distribuição da força de trabalho entre as regiões brasileiras, visando a diminuição das desigualdades de acesso aos serviços e ações de saúde.17 Atualmente, as carreiras, dentre elas a Odontologia, tornam-se obsoletas em poucos anos se os profissionais não se dedicarem a um permanente processo de aprimoramento de seus conhecimentos. 18 Em concordância com alguns autores 5,9 a grande maioria dos egressos (95%) fazem ou fizeram algum tipo de pós-graduação, entre elas aperfeiçoamento, pós-graduação, mestrado, doutorado, especialização e residência. Esta procura por diversos cursos após a graduação pode estar associada ao acirramento da concorrência, as transformações no mercado de trabalho e ao estímulo que os alunos recebem na graduação. Corroborando com alguns estudos,5,9,10 foi encontrada uma predominância de profissionais trabalhando em consultório particular (61%) e aproximadamente 20% de profissionais atuando no serviço público. Mesmo que a prática privada ainda predomine, há uma tendência à diminuição, visto que ocorre um aumento de profissionais no serviço público como resultado de políticas públicas de saúde e formação de profissionais voltados para o fortalecimento do SUS. As principais transformações com consequências para a prática, perfil profissional e políticas públicas de saúde bucal foi a inserção da Odontologia no Programa de Saúde da Família (2000), homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Odontologia (2002) e o Programa Brasil Sorridente (2004), que promoveram mudanças no modelo assistencial e na formação da força de trabalho, visando sua inserção no sistema de saúde vigente no país.19-21 Quanto à realização financeira, 9% sentem-se completamente realizados, também foram encontradas altas taxas de insatisfação financeira por outros autores.8,9 A comparação entre os alunos formados há mais tempo e os graduados mais recentemente mostrou um índice maior de realização completa nos mais antigos, o que se relaciona com a dificuldade do recém-formado em se estabelecer no mercado de trabalho, devido a alta competitividade, além do fato de que a estabilização na profissão ocorre gradualmente com o passar do tempo. As áreas mais citadas de atuação em consultório foram Cirurgia, Dentística, Prótese, Periodontia e En- dodontia, o que corrobora com os resultados do trabalho de Arantes et al.22 (2009) e é muito semelhante aos resultados de Bastos et al.9(2003). A análise das respostas mostrara que mesmo especializando-se em uma determinada área, os cirurgiões-dentistas continuam atendendo em outras, o que ressalta a importância da formação generalista na Odontologia. Os dados também podem indicar o porquê do interesse pela pós-graduação em disciplinas técnico-científicas ainda ser bem maior que pelas sociais e humanas. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) devem nortear a elaboração dos currículos dos cursos e de seus Projetos Pedagógicos de forma que, ao se graduar, o profissional detenha os conhecimentos e as habilidades e atitudes necessárias ao pleno exercício das suas competências. Segundo as DCN o cirurgião dentista deve ser capaz de realizar as atividades relacionadas à “Atenção à Saúde”, “Tomada de Decisões”, “Comunicação”, “Administração e Gerenciamento”, “Educação Permanente” e “Liderança”.20 Continua indispensável a competência do profissional no domínio de aspectos biológicos e clínicos, entretanto é cada vez mais necessário o desenvolvimento de competências quanto às dimensões ética, política, econômica, cultural e social do seu trabalho, com foco na promoção da saúde em seu sentido integral.23-25 Em relação às DCN, as principais competências e características que os egressos julgaram ser necessárias ao cirurgião-dentista foram: r bom relacionamento entre profissional/paciente, r visão do paciente como um todo, r ética, r capacidade de formular diagnósticos corretos, r educação permanente e r comunicação. A educação permanente pode ser entendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Ela é feita a partir dos problemas enfrentados na realidade e leva em consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas já têm. Conceito que deve nortear o processo de ensino-aprendizagem e vem sendo incorporado ao Sistema Único em Saúde, por meio da Portaria nº 198/GM/MS de 13 de fevereiro de 2004, explicitando a importância da reflexão coletiva da equipe de trabalho, a partir dos problemas reais encontrados na prática cotidiana. 26 Existe a possibilidade de os ex-alunos confundirem este con- Revista da ABENO r 12(2):147-54 151 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 ceito com o fato de estarem realizando pós-graduação ou a considerarem muito importante. Um fato preocupante é o percentual de respondentes que assinalaram a necessidade de capacidade de gerenciamento e marketing (6%) demonstrada pelos alunos. Dean27 (1979) constatou que os estudantes não se sentiam capacitados a gerenciar um consultório, principalmente, devido à abordagem deficiente desta disciplina durante o curso de graduação. Costa et al.8 (1992) deixou claro que a faculdade tem sido ineficiente, senão negligente, em atender ao seu caráter profissionalizante no seu ponto mais crítico. Quase 20 anos depois, em tempos de aumento de competitividade, de número de profissionais e de surgimento de novas tecnologias, é possível concluir com base nos resultados que ainda existe esta grande falha na formação. Em relação ao curso de graduação da UEM, à proposta pedagógica, e a contribuição do currículo integrado para uma visão generalista da profissão, de maneira que as disciplinas atendam aos objetivos do curso. Em novembro de 1991, um novo modelo pedagógico, o currículo multidisciplinar integrado, foi aprovado pelas instâncias superiores da UEM, visando uma formação generalista por meio da integração com as demais áreas do setor de saúde; uma proposta pedagógica inovadora que vai ao encontro do objetivo proposto pelas DCN. Dessa maneira, fica evidente nos resultados deste estudo que o curso se propõe a articular o conhecimento da área odontológica com aspectos sociais, políticos, e culturais da realidade brasileira, desenvolver uma atuação ética com responsabilidade social para construção de uma sociedade includente e solidária em que o profissional tenha organização, expressão, e comunicação do pensamento, realizando raciocínio lógico, análise crítica, compreensão de processos, e desenvolvendo a competência para tomada de decisões, e resolução de problemas no âmbito da área de atuação. Devido a importância de tais aspectos na formação profissional, são incluídos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) questões relacionadas com a percepção que o estudante faz referente à contribuição do curso na sua formação profissional e como a instituição formadora influenciou para o desenvolvimento das competências necessárias a sua formação. Assim, a avaliação do ENADE busca elementos de consonância com a DCN, pois além da avaliação do conhecimento técnico-científico necessário para uma boa formação em Odontologia, avaliam-se os cursos com relação às @ competências preconizadas pelas DCN. No entanto, observa-se que um pouco mais de 50% dos egressos consideraram que o desenvolvimento curricular ocorre de forma parcialmente integrada e que os professores estimularam a busca por especialização. Esses dados mostram que apesar do curso objetivar a formação de um profissional generalista ainda persistem resquícios do modelo biomédico sobre o ensino odontológico, características do próprio curso de graduação. A existência de projetos de extensão específicos em determinadas áreas e a própria formação acadêmica dos docentes voltada para um ensino especializado são fatores que também podem contribuir para este estímulo à especialização. Apesar dos avanços na prática da profissão em consequência da proposta de um novo perfil profissional pela Universidade, ainda existem dificuldades e grandes desafios. Deve-se compreender que a reforma educacional é um processo longo que exige liderança, pactuações coletivas e capacidade de lidar com conflitos para um bom relacionamento entre todos os interessados e, sobretudo, de uma avaliação permanente que retroalimente o processo. CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que o curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá tem formado profissionais com o perfil predominante do sexo feminino, faixa etária de 26 a 30 anos, com renda anual de 12-36 mil R$/ano, oriundos do Paraná e parcialmente realizados com a profissão. Observa-se a tendência da centralização de profissionais no Paraná, em consultório particular e da especialização da Odontologia, embora a maioria dos profissionais esteja atuando em diversas áreas da odontologia. O projeto pedagógico do curso tem contribuído para uma formação com visão generalista, as disciplinas atendem aos objetivos do curso, porém, apesar do currículo ser multidisciplinar integrado a maioria dos egressos considerara o desenvolvimento curricular de forma parcialmente integrada. Portanto, observa-se a necessidade de novas reformulações no projeto pedagógico visando cada vez mais a melhoria do curso e consequentemente a concretização do que é preconizado pelas DCN. ABSTRACT Profile of dentists trained with an integrated curriculum at a Brazilian public teaching institution The aim of this study was to characterize the Revista da ABENO r 12(2):147-54 Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 profile of the State University of Maringa Dentistry Course alumni and relate the contribution of the institution’s pedagogic project to their professional life. An on-line questionnaire composed of 20 questions was sent via email to alumni who graduated between 2003 and 2010. MYSQL and SQLYOG software were used for storage and retrieval of the information, respectively, and data were exported to XLS (Microsoft Excel) format for a descriptive analysis. Of a total of 273 alumni from this period, 208 (76%) were contacted, 148 of which responded to the questionnaire (71%). The majority of the alumni were women (63%), with an age range from 26 to 30 years, who came from Paraná (84%) and worked in that state (80%). Approximately 50% reported an annual income of 12 thousand to 36 thousand real (R$/annum). The majority were currently taking or had taken some graduate courses (95%) and were working in private practice (61%). Only 9% felt that they had achieved financial satisfaction. As regards the pedagogic proposal, over 90% considered it good or excellent, 59% reported that the curriculum is partially integrated and that the subjects of the curriculum met their proposed objectives either partially (48%) or completely (49%). It was concluded that the course has predominantly trained young, women professionals with activities concentrated in the state of Paraná; the pedagogic project of the course has contributed to fostering a generalist education and that the disciplines have met the objectives of the course; however, from the point of view of the alumni, curricular development is only partially integrated, indicating the need for new formulations with a view to improving the course. 5. Nunes MF, Silva ET, Santos LB, Queiroz MG, Leles CR. Profiling alumni of a Brazilian public dental school. Human Resources for Health. 2010; 8: 20. 6. Fernandes LS, Peres MA. Associação entre atenção básica em saúde bucal e indicadores socioeconômicos municipais. Cad Saúde Pública. 2005; 39(6): 930-936. 7. Frenk J, Chen L, Bhutta ZA, Cohen J, et al. Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. The Lancet. 2010; 376: 1923-1958. 8. 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Resolução CNE- CES 3, Revista da ABENO r 12(2):147-54 @? Perfil de cirurgiões-dentistas formados por um currículo integrado em uma instituição de ensino pública CSBTJMFJSBr4JMWB"$3.(BSSJEP5.)BZBDJCBSB.'#JTQP$($4JMWB3-.PSJUB.$5FSBEB344 de 19/02/2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais GP, Gonçalves MPR. Contribuição do Estágio Super-visionado do curso de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da da UFPI para formação humanística, social e integrada. Revis- República Federativa do Brasil, Brasília, 04 de março de 2002, Seção 1, p. 10. ta da ABENO. 2006; 6:61-65. 25. Garbin CAS, Saliba NA, Moimaz SAS, Santos TS. O papel das 21. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual do Brasil Sorridente. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. Acesso em 31/05/2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/ area.cfm?id_area= 406 universidades na formação de profissionais na área de saúde. Revista da ABENO. 2006; 6:6-10. 26. BRASIL. Ministério da Saúde . 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Mendes RF, Moura MS, Prado Júnior RR, Moura LFAD, Lages 154 Revista da ABENO r 12(2):147-54 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas da UNIVILLE Lúcia Helena Ferretti*, Tiago Goulart Appel*, Luiz Carlos Machado Miguel**, Luciano Madeira*** * Cirurgiões-dentistas, egressos do Curso de Graduação em Odontologia da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE ** Doutor, Professor da Disciplina de Dentística I e Coordenador do Departamento de Odontologia da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE *** Mestre, Coordenador e Professor da Clínica Integrada Adulta da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE RESUMO Após a publicação das DCN os cursos de Odontologia necessitaram se adaptar em suas matrizes curriculares. Esta adaptação envolve não somente uma alteração curricular, mas também incorpora uma nova filosofia pedagógica que procura aproximar os preceitos contidos nas DCN com a prática do dia a dia do ensino nas clínicas integradas dos cursos de Odontologia. A proposta deste trabalho foi analisar a produtividade do aluno de graduação de Odontologia da UNIVILLE nas disciplinas de atividades clínicas, ao longo dos três anos de graduação em cinco (5) diferentes especialidades odontológicas (periodontia, dentística, endodontia, prótese e cirurgia). Foi avaliada a produtividade de oito (8) alunos egressos, quantificando-se sua produção durante os três (3) anos da disciplina de atividades clínicas, 3º, 4º e 5º anos, especificamente clínicas de baixa, média e alta complexidade. A análise dos dados demonstrou: em endodontia, uma produção média de 4,1 tratamentos endodônticos por aluno; em prótese, uma média de 1,6 próteses fixas unitárias e 1,5 próteses totais por aluno; e, em dentística, uma média de 28 procedimentos restauradores diretos. Com base nos resultados deste modelo de avaliação foi possível concluir que o desenvolvimento de atividades clínicas integradas e por níveis de complexidade permite que o egresso de odontologia realize um aprendizado pedagógico efetivo, com o acompanhamento do paciente em todas as suas fases de diagnóstico, planejamento e conclusão do tratamento. No entanto a pesquisa demonstra que este egresso conclui sua for- mação sem a realização de determinados procedimentos técnicos específicos às especialidades odontológicas pesquisadas. DESCRITORES Clínica Integrada. Produtividade. Diretrizes Curriculares Nacionais. tualmente, os Cursos de Graduação em Odontologia têm se preocupado em adequar seus currículos às Diretrizes Curriculares Nacionais, que preconizam que o perfil do egresso deva ser generalista, humanista, crítico e reflexivo, competente técnico e cientificamente, respeitando os princípios legais, éticos e compreendendo a realidade em que se encontra.16 Essa proposta contrasta com o modelo de ensino Odontológico que tradicionalmente norteava a formação dos profissionais no Brasil. Este modelo atualmente encontra-se em transição, com uma nova proposta de visão integral do paciente, onde o tratamento exige que o aluno assuma uma postura não somente intervencionista, mas filosófica em relação à saúde integral do paciente. O antigo modelo, denominado “Odontologia Científica ou Flexneriana”, onde o foco é a universalidade biológica, estava orientado para cura ou alívio das doenças ou restauração das lesões. Nos currículos tradicionais dos cursos de graduação em odontologia o atendimento aos pacientes é fragmentado desde o início por clínicas de especialidades, dentre as quais: dentística, prótese, cirurgia, periodontia, endodontia, bem como a A Revista da ABENO r 12(2):155-62 155 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- própria clínica integrada. Assim, nesse modelo de desenvolvimento da atividade clínica, o planejamento e tratamento dos pacientes são voltados para a própria disciplina, não observando o paciente como um todo em sua integralidade. As atividades clínicas do curso de odontologia da UNIVILLE foram idealizadas sob as Diretrizes do Conselho Nacional de Educação, propondo o ensino de uma visão generalizada do diagnóstico, planejamento e tratamento do paciente, contrapondo à visão fragmentada da odontologia, conforme o modelo tradicional de ensino odontológico. Desta forma, os alunos desenvolvem as clínicas de atendimento, desde o início da prática com pacientes, na forma de “clínica integrada” e não por clínicas de especialidades. De forma a promover um ensino sequencial, respeitando a evolução técnica e científica (teórica) dos alunos, as clínicas foram desenvolvidas por níveis de complexidade (baixa, média e alta), dentro de uma filosofia de promoção de saúde que prioriza o diagnóstico, prevenção e planejamento. Uma preocupação nesse sistema de desenvolvimento das atividades clínicas é com a produção dos alunos ao longo da formação acadêmica. Nesse modelo de projeto político-pedagógico, que respeita o paciente como um ser integral e prioriza a abordagem generalizada de diagnóstico, planejamento e tratamento dos pacientes, a produtividade não é o foco da disciplina. Enquanto que no currículo tradicional, as clínicas por especialidades preconizavam e exigiam produção mínima para a formação do aluno, no sistema de desenvolvimento da disciplina de atividades clínicas do curso de graduação em odontologia UNIVILLE isso não ocorre, pois no modelo de atendimento integral do paciente não há o estabelecimento de uma produção mínima a ser alcançada. Nesta nova visão pedagógica, a produtividade do acadêmico poderia ficar comprometida no âmbito especializado, significando que o acadêmico poderia concluir sua formação, sem a realização de procedimentos específicos dentro das especialidades odontológicas, importantes no aprendizado prático do graduando de odontologia. Inúmeros autores têm se preocupado em estudar o desenvolvimento da disciplina de clínica integrada em diferentes âmbitos como a importância da disciplina na formação do acadêmico,9,2,6,3,13 a questão da promoção de saúde nas clínicas de atendimento;1 questões discentes e docentes,14 bem como a questão da produtividade na clínica integrada8,18 e fatores 156 que interferem nessa produtividade.4 Na falta de informações sobre o desenvolvimento da clínica integrada nesse novo modelo pedagógico adequado às novas Diretrizes Curriculares, o objetivo desse estudo foi avaliar a produtividade específica do aluno de graduação, nas especialidades de periodontia, endodontia, dentística, prótese e cirurgia ao longo de sua formação na disciplina de atividades clínicas do Curso de Graduação em Odontologia da UNIVILLE. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia desta pesquisa, aprovada conforme parecer nº 163/09 do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVILLE, consistiu em avaliar a produtividade de oito (8) alunos egressos do curso de graduação em odontologia da UNIVILLE, através de consentimento livre e esclarecido. Foi avaliada a produção durante os 3 anos das disciplinas de atividades clínicas (3º, 4º e 5º anos, especificamente clínicas de baixa, média e alta complexidade), conforme classificação determinada pelo projeto político pedagógico do curso. Junto ao setor de triagem foi realizado um levantamento dos pacientes atendidos pelos alunos participantes do estudo durante os três anos da disciplina de Atividades Clínicas. Após a determinação dos procedimentos a serem quantificados nas especialidades de endodontia, dentística, periodontia, cirurgia e prótese, foi elaborada uma planilha para registro dos dados e a produção dos alunos participantes foi levantada com base nos registros realizados nos prontuários de cada paciente atendido pelos alunos nesse período. Após a coleta dos dados, os mesmos foram apresentados em gráficos, por número de produção individualmente e por ano de clínica. Optou-se, neste estudo, pela análise simples dos resultados produzidos uma vez que não era objetivo do trabalho uma comparação entre os egressos participantes do estudo ou comparação com outros modelos de clínica. RESULTADOS Na planilha de coleta de dados houve uma preocupação em registrar a maior quantidade de informações relacionadas aos atendimentos realizados pelos alunos que aceitaram participar da pesquisa. Para cada aluno foi registrado uma série de dados gerais como a quantidade de pacientes atendidos, falta de pacientes às consultas, quantidade de consultas de urgência, a quantidade de consultas para Revista da ABENO r 12(2):155-62 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- realização de plano de tratamento, bem como os procedimentos das diferentes especialidades odontológicas. Nesse trabalho limitamos os dados aos procedimentos relacionados às especialidades de periodontia, endodontia, dentística, cirurgia e prótese, conforme segue: Na área de periodontia, devido à variedade de formas de registro nos prontuários dos pacientes, não foi possível a coleta dos dados por procedimentos específicos. Desta maneira todos os procedimentos como raspagem supra e subgengival, profilaxia e remoção de fatores de retenção de placa foram registrados como procedimentos periodontais (Gráfico 1). Nos Gráficos 2 e 3 pode-se observar a produção desenvolvida pelos alunos na área de endodontia nos três anos de atividades clínicas. A análise dos dados (Gráfico 2) demonstrou uma produção média dos alunos de 1,4 endodontias de dentes uniradiculares e 1,0 dente biradicular. Destaca-se que 37,5% dos participantes não realizaram nenhuma endodontia de dentes uniradiculares e outros 37,5% não Quantidade de procedimentos realizados 30 3º ano 4º ano 5º ano 25 20 Quantidade de procedimentos periodontais executados na clínica. 25 20 19 17 16 13,9 15 10 10 8 8 8 11 9 5 5 1 2 2 3 4 4,1 2 5 6 Alunos participantes 7 2 5,4 6 5 4 2 2 00 0 5 1 8 média 6 5 Quantidade de procedimentos realizados 5 Endodontia em uniradiculares Endodontia em biradiculares Endodontia em molares 4 Quantidade de procedimentos endodônticos executados na clínica. 3 3 2 2 2 2 2 1,4 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 0 0 1 1 0 0 0 1 0,9 0 0 1 2 3 4 5 6 Alunos participantes 7 8 média 3,5 Quantidade de procedimentos realizados 3,0 Retratamento em uniradiculares Retratamento em molares 3 ? Quantidade de retratamentos endodônticos executados na clínica. 2,5 2 2,0 1,5 1 1,0 1 0,6 0,5 0 0 1 0 2 0 0 0 0 3 4 0 5 6 Alunos participantes 0 0 0 0 0 7 8 Revista da ABENO r 12(2):155-62 0,3 média 157 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- realizaram nenhuma endodontia de biradiculares. Em relação à produção de endodontia de molares, cuja realização em clínica é escolha opcional dos acadêmicos, a média foi de 0,9 por aluno. Em relação à retratamentos endodônticos (Gráfico 3), a média foi de 0,87 por aluno. Destaca-se que 50% dos alunos participantes não realizaram nenhum retratamento endodôntico. Constatou-se que a produção média foi de 4,1 tratamentos endodônticos por aluno (independente do procedimento realizado). Ressalta-se que a média de consultas necessárias à realização e conclusão dos procedimentos endodônticos foi de 4,8 sessões. Nos Gráficos 4 e 5 pode-se observar a produção desenvolvida pelos alunos na área de prótese. Ressalta-se que a média de consultas necessárias à realização e conclusão de próteses parciais removíveis e próteses totais foi de 7,9 sessões. Nos procedimentos de prótese fixa, a média de consultas foi entre 4,8 consultas. A produção média de execução de núcleos metálicos fundidos foi de 1 por aluno enquanto de próteses fixas unitárias foi de 1,6 por aluno (Gráfico 4). 4,5 procedimentos de prótese fi xa executados na clínica. 4,0 Quantidade de procedimentos realizados = Quantidade de Destaca-se que 37,5% dos alunos participantes não realizaram pelo menos um desses procedimentos. Ainda na área de prótese fixa destaca-se também que 37,5% dos participantes não realizaram nenhuma prótese parcial fixa. Na área de próteses removíveis (Gráfico 5), todos os alunos realizaram pelo menos uma prótese parcial removível, sendo a produção média de 3,1 por aluno. Já a produção média de execução de próteses totais foi de 1,5 por aluno, sendo que 25% alunos participantes não realizaram nenhuma prótese total. Nos Gráficos 6 e 7 pode-se observar a produção desenvolvida pelos alunos na área de dentística. Em relação aos procedimentos diretos em dentística obtiveram-se os seguintes dados: r restaurações de amálgama, 2,75 por aluno; r restaurações de dentes anteriores em resina composta, 13,3 por aluno; r restaurações de dentes posteriores com resina composta, 12,5 por aluno. A produção média de restaurações indiretas tipo 4 Núcleo metálico fundido Prótese fixa unitária Prótese parcial fixa 4 3,5 3 3 3,0 2,5 2 2,0 1,6 1,5 1,0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0,6 0,5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 7 de próteses removíveis executadas na clínica. 6 Quantidade de procedimentos realizados @ Quantidade 2 3 4 5 6 Alunos participantes 8 média 6 Prótese parcial removível Prótese total 5 4 4 3 7 4 3 3 3 3,1 3 3 2 2 2 1,5 1 1 1 1 0 1 0 0 1 158 2 3 4 5 6 Alunos participantes Revista da ABENO r 12(2):155-62 7 8 média Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- Amálgama Resina composta em dentes anteriores Resina composta em dentes posteriores Quantidade de procedimentos realizados 30 25 24 23 20 18 12 11 10 18 16 15 15 10 9 10 9 7 5 J Quantidade de restaurações diretas executadas na clínica. 1 12,5 8 6 5 4 2 13,3 13 4 1 1 2,8 1 0 1 2 3 4 5 6 Alunos participantes 7 8 média Quantidade de procedimentos realizados 2,5 2 2,0 K Quantidade de restaurações indiretas e facetas diretas executadas nas clínicas. Restaurações indiretas (Onlay/Inlay) Facetas diretas em resina composta 2 1,5 1 1,0 1 1 0,6 0,5 0,3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 8 0 1 2 3 4 5 6 Alunos participantes 10 Quantidade de procedimentos realizados 8 8 Outras cirurgias (apicetomia / pré-protéticas) 7 7 Exodontia de terceiros molares 6 6 5 5 4,1 4 4 3 3 3 2 Q Quantidade de procedimentos cirúrgicos executados nas clínicas. Exodontia por elemento / raiz residual 9 9 média 2 2 2,6 2 2 1 1 3 1 0 0 1 1 0 0 2 1 1,1 0 0 1 2 3 4 5 6 Alunos participantes Inlay/Onlay foi de 0,6 por aluno, e de facetas diretas em resina composta, 0,25 por aluno, destacando-se que somente 37,5% e 25% dos alunos, respectivamente, conseguiram executar esses procedimentos. No Gráfico 8 pode-se observar a produção desenvolvida pelos alunos na área de cirurgia nas disciplinas de Atividades Clínicas. São procedimentos executados no centro cirúrgico do curso e integrantes 7 8 média do diagnóstico e planejamento de cada tratamento estabelecidos entre o aluno e seu orientador. DISCUSSÃO Diversos foram os autores que destacaram a importância da clínica integrada na formação do acadêmico em Odontologia.1,5,7,10,12,15 Especialmente, seu papel na integração do conhecimento entre as Revista da ABENO r 12(2):155-62 159 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- diversas especialidades com as disciplinas “básicas”, visando à adequada elaboração de um plano de tratamento integral do paciente. Outros autores destacaram que a clínica integrada objetiva colaborar na formação do profissional generalista.5,9 As atividades clínicas do curso de graduação em odontologia da UNIVILLE foram idealizadas sob as Diretrizes do Conselho Nacional de Educação, na qual os alunos desenvolvem as clínicas de atendimento, desde o início da prática com pacientes, na forma de “clínica integrada” e não por clínicas de especialidades. Este modelo pedagógico permite ao aluno desenvolver uma visão integral do ser humano, propiciando um melhor diagnóstico, planejamento e tratamento dos pacientes. Procura-se respeitar, através do ensino seqüencial por níveis de complexidade, a evolução técnica e científica (teórica) dos alunos, dentro de uma filosofia de promoção de saúde que prioriza uma abordagem multidisciplinar do paciente. Uma dificuldade, nesse modelo de desenvolvimento da disciplina de atividades clínicas, é o estabelecimento de algum tipo de produtividade mínima, que seria contrário ao Projeto Pedagógico estabelecido pelo curso, que preconiza o atendimento do paciente como um todo, de forma integral, e não por produção técnica. Assim, os acadêmicos executam procedimentos que estão diretamente relacionados ao planejamento dos seus pacientes, que muitas vezes não abrangem todas as especialidades odontológicas. Com base nos resultados foi possível observar que nesse modelo de desenvolvimento da prática pedagógica em clínica, a produtividade deixa de ser o foco principal e a ênfase incide sobre o desenvolvimento do diagnóstico e planejamento, com uma abordagem integral do paciente. Os resultados também demonstraram que os acadêmicos podem concluir sua formação sem a execução de procedimentos específicos dentro das especialidades como a realização de uma prótese total, uma prótese fixa ou mesmo uma endodontia. Ao mesmo tempo, constatou-se que alguns alunos apresentaram o desenvolvimento de uma boa produtividade nas diversas disciplinas, sem fugir do foco central do projeto pedagógico do curso – o tratamento integral do paciente. Um dos aspectos, também observados durante o levantamento de dados da pesquisa, foi a qualidade de informações disponibilizadas nos prontuários. Estas informações devem, dentro de um planejamento 160 de linguagem comum entre todos os discentes e docentes, seguir um padrão de informações que torne possível uma comparação entre os trabalhos executados e quantifica-los. Informações incompletas e deficiência no preenchimento de prontuários dificultam qualquer tipo de levantamento ou pior, ficam sujeitos a interpretações que às vezes não condizem com a realidade executada. Existe um número de docentes componentes da disciplina de clínica integrada de diferentes especialidades e com variados pontos de vista decorrentes de sua formação. Esta formação especialista pode ocasionar uma deficiência de professores generalistas capazes de instruir os acadêmicos para uma visão global e “generalista”, bem como aptos a atuar em todas as áreas da odontologia.5,17 No entanto alguns autores consideraram essa diversidade de professores um fator positivo, pois há um aproveitamento das divergências de opiniões entre os docentes a respeito de um mesmo caso clínico e neste momento o aluno fica diante de uma situação real e com isso aprende a respeitar outras opiniões e limites de cada profissional.11 Nas clínicas de ensino odontológico das universidades brasileiras foi constatada uma prioridade do processo pedagógico tradicional,2 esquecendo-se do paciente e avaliando apenas o aluno de acordo com a competência e produção técnica desenvolvida. Argumentam que, procura-se estimular o aluno no desenvolvimento de atividades curativas que, em muitos casos, são insuficientes na atenção para com a saúde integral de seu paciente. A formação generalista, humanista, crítica e reflexiva comprometida com o ser humano, respeitando-o e valorizando-o, preconizada pelas DCN, e exercida no modelo pedagógico de clínicas integradas por ora analisadas, nos remete a um novo pensamento em termos de avaliação de desempenho do aluno de odontologia. Estes dados analisados sob a ótica pedagógica que sempre norteou o desenvolvimento dos cursos de odontologia no Brasil no final do século passado podem gerar uma visão distorcida da realidade acadêmica. As DCN16 também geram conflitos que, quando analisados friamente, desvinculados da realidade do dia a dia do ensino, podem ser mal interpretados. “... atuar multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema produtividade na promoção de saúde...” exige uma visão integral do ser humano, articulado com o contexto social onde existem diferenças entre as pessoas e suas necessidades. Estes contextos de diferenças necessitam de Revista da ABENO r 12(2):155-62 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- uma nova visão de avaliação e ensino. Esta avaliação encontra-se enormemente amparada no binômio diagnóstico e planejamento da realidade encontrada. Não somente da realidade de saúde bucal, mas um diagnóstico e planejamento integral, uma visão do ser humano que se apresenta em dado momento. O conhecimento acumulado para aquele determinado momento deve ser posto a prova de forma que a integração dos conteúdos essenciais do curso de odontologia seja contemplada. Os dados deste estudo podem gerar uma grande discussão sobre a questão da produtividade dos acadêmicos nas diferentes especialidades odontológicas. No entanto, acreditamos que essa questão contrasta com o modelo de desenvolvimento da disciplina de atividades clínicas previsto nas DCN e o projeto pedagógico do curso que objetiva respeitar o paciente como um ser humano integral, dando ao aluno uma visão generalizada do diagnóstico, planejamento e tratamento do paciente ao invés de uma visão fragmentada da odontologia. Assim sendo, dentro dessa filosofia de promoção de saúde que prioriza o diagnóstico, prevenção e planejamento através de uma abordagem multidisciplinar do paciente, a produtividade individual do aluno deixa de ser o foco principal. CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos, pôde-se concluir que: 1. Na atual proposta de desenvolvimento da clínica integrada pelas DCN a produtividade individual do acadêmico deixa de ser o foco principal do processo ensino-aprendizagem. WO ensino tecnicista abre espaço para uma nova visão na avaliação pedagógica dos acadêmicos. ?WEsta nova visão pedagógica representa a introdução cada vez mais da avaliação qualitativa do desempenho discente. =WEm relação à produtividade, a realização de outro estudo, com uma amostragem maior, envolvendo um maior número de participantes, e, principalmente, envolvendo escolas com a mesma filosofia de ensino, seria de suma importância para comparação com os resultados obtidos nesse estudo. Curriculum Guidelines (NCG), dentistry schools had to adapt their core curricula. This adaptation not only involves changing the curriculum, but also incorporates a new pedagogic philosophy that seeks to bring NCG precepts closer to the daily teaching practice in the integrated clinics of dental schools. The aim of this study was to analyze the productivity of UNIVILLE’s Dentistry School undergraduates in clinical disciplines, for three (3) years of undergraduate study in five (5) different dental specialties (periodontics, operative dentistry, endodontics, prosthodontics, and surgery). The productivity of 8 graduating students was assessed by quantifying their production in three (3) years (third, fourth, and fifth year) of the clinical discipline activities, namely those of low, medium, and high complexity. Data analysis demonstrated the following results: in endodontics, a mean production of 4.1 endodontic treatments per student; in prothodontics, a mean of 1.6 single-unit prosthesis and 1.5 complete denture per student; and, in operative dentistry, a mean of 28 direct restorative procedures per student. Based on the results of this assessment model, it was concluded that the development of clinical activities, both integrated and by level of complexity, allows graduating dental students to acquire effective learning skills, with the follow-up of patients in all the phases of patient diagnosis, as well as treatment planning and conclusion. However, this study demonstrated that students graduated without performing certain technical procedures specific to the researched dental specialties. DESCRIPTORS Integrated Clinics. Productivity. National Curriculum Guidelines. REFERÊNCIAS 1. Almeida RVD, Padilha WWN. Clínica Integrada: é possível promover saúde bucal numa clínica de ensino odontológico? Pesq. Brás. Odont. Clin. Int. 2001a set/dez; 1(3):23-30. 2. Almeida RVD, Gaião L, Padilha WWN. Avaliação do ensino odontológico em clínica integrada. Pesq. Brás. Odont. Clin. Int. 2001 maio/ago; 1(2):29-35. 3. Araújo IC, Araújo MVA, Melo CB, Barroso RFF. Trajetória nacional e internacional do ensino odontológico e a disciplina ABSTRACT Student evaluation and Brazil’s National Curriculum Guidelines – The reality of integrated clinics at UNIVILLE After the publication of the Brazilian National de clínica integrada nos cursos de odontologia. Rev. Inst. Ciênc. Saúde. 2002 jan/jun; 20(1): 69-73. 4. Arruda WB. Variáveis intercorrentes que influenciam a produtividade clínica no curso de graduação na disciplina de Clínica Integrada(Terapêutica Clínica) da Faculdade de Odon- Revista da ABENO r 12(2):155-62 161 Avaliação discente e as Diretrizes Curriculares Nacionais – realidade das clínicas integradas EB6/*7*--&r'FSSFUUJ-)"QQFM5(.JHVFM-$..BEFJSB- tologia da Universidade de São Paulo. Contribuição ao SR, Pedrini D. Onze anos de avaliação dos planos de trata- Estudo. [dissertação]. 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Produtividade dos acadêmicos nas clínicas do curso de odontologia da UNIVALI [tcc]. Itajaí (SC):Universidade do Vale do Itajaí/UNIVALI; 2007. 16. Resolução CNE/CES3/2002, de 19 de fevereiro de 2002. Ins- 8. Milani PAP. Avaliação e produtividade da disciplina de clínica titui as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de gradua- integrada no curso de Odontologia da Universidade Tuiuti do ção em Odontologia. Diário Oficial da União. Séc. 1, p.10, Paraná. [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Odonto- Brasília, 04 mar 2002. (Conselho Nacional de Educação. Câ- logia, Universidade de São Paulo/USP;2003. mara de Educação superior). 9. Padilha WWN, Medeiros EPG, Tortamano N, Rocha RG. O 17. Rodrigues MM, Reis SMAS. A Interdisciplinaridade e a Inte- desenvolvimento da disciplina de clínica integrada nas insti- gração no Ensino Odontológico: Reflexos sobre o Perfil Profis- tuições de ensino odontológico no Brasil.RPG.1995 out/dez; sional em Relação às Reais Demandas na Maioria da Popula- 2(4):193-199. ção por Atenção Odontológica. Extensão.2004 set; 4(1): 21-27. 10. Petroucic F, Rubens FAJ. O ensino na Disciplina de Clínica Integrada. Revista da ABENO.2005; 5(1):60-64. 18. Romero SS, Vasquez AMM, Puertas KV, Simone JL. Produtividade clínica dos alunos do curso de graduação da disciplina 11. Poi WR. Clínica Integrada: Do ensino à aprendizagem [tese]. de clínica odontológica integrada da Faculdade de Odontolo- São Paulo (SP): Faculdade de Odontologia de São Paulo, Uni- gia da Universidade de Santo Amaro. Rev. Odontol. Univ. versidade Estadual Paulista;2002 Santo Amaro. 2003 jan/jul; 8(1): 4-10. 12. Poi WR, Trevisan CL, Lucas LVM, Panzarini SR, Santos CLV. A opinião do cirurgião-dentista sobre a clínica Integrada. Pesq. Brás. Odont. Clin. Int. 2003 jul/dez; 3(2):47-52. 13. Poi WR, Lawall MA, Simonato LE, Gionvanini EG, Panzarini J Revista da ABENO r 12(2):155-62 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). Uso do questionário de auto-avaliação COLLES Ivana Maria Zaccara Cunha-Araújo*, Juan Ramon Salazar-Silva**, Fábio Luiz Cunha D’Assunção**, Ângelo Brito Pereira de Melo** * Cirurgiã-dentista, mestranda em Saúde Coletiva - Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte ** Professor Adjunto de Endodontia da Universidade Federal | da Paraíba RESUMO A Disciplina de Endodontia I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) implantou a partir da turma 2008.1, o sistema de gerenciamento de cursos, mediante Plataforma Moodle. Ao final do período é empregado um questionário de avaliação disponível no ambiente Moodle. O objetivo deste trabalho foi analisar os resultados do questionário COLLES do tipo “experiência efetiva”, aplicados aos 57 alunos das turmas 2008.2 e 2009.1 da disciplina de Endodontia I. O questionário COLLES permite avaliar os quesitos: Relevância, Reflexão Crítica, Interação, Apoio dos Tutores, Apoio dos Colegas e Compreensão. A partir das respostas obtidas foram gerados gráficos com resultados numéricos que posteriormente foram analisados quantitativamente. Os resultados revelaram excelente relevância em que 73,6% dos alunos relatam a importância do aprendizado para prática da profissão e 68,4% demonstraram a melhora no seu desempenho. Já em relação à reflexão crítica, 41% refletem criticamente com frequência sobre os conteúdos do curso e 43,8% refletem sobre como está sendo o seu aprendizado. A interatividade entre os alunos apresenta-se deficiente, pois uma pequena parcela (21%) se dispõe a explicar suas ideias aos outros participantes. No apoio dos tutores, apresentou frequente estímulo a reflexão e encorajamento à participação; já no apoio entre os colegas, houve baixa frequência de elogio e estima as contribuições. Os alunos também apresentaram frequente compreensão das mensagens dos participantes (50,8%) e dos tutores (57,8%). Conclui-se que existe necessidade de estimular o apoio entre os alunos e interação de suas ideias para que haja um melhor aproveitamento dentro do meio de ensino à distância. DESCRITORES Educação à Distância. Materiais de Ensino. Ensino. Educação em Odontologia. Endodontia. processo ensino-aprendizagem constitui o fundamento da prática docente universitária a qual tem como eixo principal o aluno. No entanto, paralelamente ou como parte inseparável desse processo, a avaliação é a ferramenta que fornece informações oportunas que buscam investigar se a aprendizagem está sendo conseguida ou não, bem como nos indica a retomada do caminho que busca o objetivo final.1 Avaliação é um processo contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos educacionais, a fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento do trabalho do professor e da escola como um todo.14 A tarefa de avaliar, realizada de forma contínua busca a retroalimentação do processo de aprendizagem, na tentativa de concretizar o aprendizado do aluno. Para Masetto 10 (1992) este processo constitui uma das atividades pedagógicas mais difíceis de realizar. O processo de avaliação deverá estar voltado para o desempenho do aluno, verificando se realiza O Revista da ABENO r 12(2):163-9 163 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 adequada ou inadequadamente o que foi planejado. Em outras palavras este processo busca o acompanhamento do aluno no seu processo de desenvolvimento.1 A avaliação do processo ensino-aprendizagem é um assunto polêmico em todas as áreas da educação. Nas disciplinas das ciências da saúde observa-se, uma carência de instrumentos de avaliação por parte do professor, tornando esse processo subjetivo e sujeito as reclamações por parte dos discentes, ainda o devido acompanhamento diário do discente fica prejudicado.5 Por outro lado, o Ensino a Distância (EaD) vem sendo aplicado gradativamente nos cursos de conteúdos que permitam o desenvolvimento do aspecto cognitivo sem a presença física de um tutor. Especificamente, na área da saúde, alguns cursos vêm utilizando-se do suporte a distância.16 Ambientes de aprendizagem online são uma proposta de ensino à distância que se apresentam cada vez mais viáveis, graças à inclusão tecnológica de grande número das instituições educacionais das grandes cidades. Segundo dados do Censo da Educação Superior de 2010, no período de 2006 a 2010 houve um aumento em número de cursos e no número de matrículas, de forma considerável para os cursos na modalidade EaD. Em 2005, os alunos de EaD representavam 2,6% do universo dos estudantes. Em 2010 essa participação passou a ser de 14,1%.9 Esses percentuais propõem desafios tanto para docentes quanto para discentes e, dentre eles, pode-se citar a necessidade de: r superar a passividade dos estudantes, reflexo de anos de uma pedagogia transmissiva; r aprender a lidar com uma nova demanda comunicacional, provocada pela evolução da tecnologia e pela convergência das mídias; r promover o desenvolvimento de comunidades; r quebrar vários paradigmas; r procurar novas formas de avaliação.15 A utilização da tecnologia da informação, para aplicação dos princípios pedagógicos, tem sido centrada na criação de ferramentas computacionais em que os estudantes possam manipular para completar a sua memória e inteligência na construção de modelos mentais mais exatos.2,7 Dentro desse contexto, a Disciplina de Endodontia I da UFPB, implantou a partir da turma 2008.1, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) também 164 conhecido como sistema de gerenciamento de cursos (SGC), mediante o uso da Plataforma Moodle que procura buscar um melhor resultado do processo ensino e do aprendizado usando as vantagens da internet sem dispensar a necessidade do professor. Dessa forma, a disciplina de Endodontia I tornou-se uma disciplina presencial com apoio à distância.6 Essa ferramenta, objetiva integrar as atividades presenciais com atividades vinculadas ao Ensino à Distância, permitindo, que o material utilizado em sala de aula esteja disponível ao aluno para que este o acompanhe, podendo também consultar páginas web indicadas pelos professores, verificar planos de aula, consultar manuais práticos de procedimentos para acompanhamento em trabalhos laboratoriais, participar na elaboração do glossário de termos endodônticos, participar de fórum de discussão, de chats, plantão tira-dúvidas e de resolução de questões. Para melhor monitoramento do ensino, são disponibilizados aos tutores: r número de acessos por aluno, r páginas mais visitadas e r tempo de permanência nas mesmas.11,16 O Moodle cumpre com os objetivos de sua criação: viabilizar o acesso à aprendizagem à distância por comunidades de usuários que privilegiam o discurso colaborativo em suas interações. O sistema contém alguns tipos de questionários de avaliação de cursos, específicos para ambientes de aprendizagem virtuais, conhecidos como ATTLS (Attitudes to Thinking and Learning Survey), COLLES (Constructivist On-Line Learning Environment Survey) e Incidentes críticos. O COLLES se propõe a avaliar as percepções dos alunos a respeito: r da relevância do curso de que estão participando (se está atendendo às suas expectativas); r a qualidade da interação no ambiente; r a qualidade das discussões no que se refere ao pensamento crítico e reflexivo; r a qualidade do suporte oferecido pelo tutor e r se significados são construídos por meio de saber conectado entre os alunos e entre os alunos e tutores.17 Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar os resultados do questionário COLLES do tipo “experiência efetiva”, aplicados aos 57 alunos das turmas 2008.2 e 2009.1 da disciplina de Endodontia I do curso de Odontologia da Universidade Revista da ABENO r 12(2):163-9 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 Federal da Paraíba, que obtiveram ensino presencial suportado pela ferramenta Moodle. MATERIAL E MÉTODOS No primeiro dia de aula presencial de cada período letivo são apresentados os objetivos da disciplina, seu conteúdo programático, bem como os alunos são instruídos sobre o uso e as facilidades da Plataforma Moddle para o aprendizado (Figura 1). Ao final do período é aplicado um questionário de avaliação disponível no ambiente Moodle, que permite a reflexão sobre os processos de aprendizagem. O questionário de auto-avaliação COLLES é formado por 24 declarações distribuídas em 6 grupos: r Relevância, r Reflexão crítica, r Interação, r Apoio dos Tutores, r Apoio dos Colegas e r Compreensão. Cada um deles relativo a um ponto crucial de avaliação da qualidade do processo de aprendizagem no ambiente virtual. O sub-tipo de questionário “experiência efetiva” que foi aplicado no final do curso, é uma boa ferramenta de avaliação do professor e dos monitores, pois mostra a relação entre as expectativas dos participantes e sua experiência efetiva. A partir das respostas obtidas foram geradas tabe- las com resultados numéricos de cada uma das 24 declarações dos 57 alunos que posteriormente foram analisados quantitativamente. RESULTADOS Os resultados desta avaliação estão dispostos nas tabelas 1 a 6. DISCUSSÃO O uso do ambiente virtual de aprendizagem, nos cursos de odontologia, traz a oportunidade do uso de ferramentas tecnológicas, de modo a se estabelecer uma adequada interação entre o professor e o aluno participando ativamente das atividades do grupo, em discussões de tópicos relevantes, discussões que têm como objetivo comum a transformação de suas ações através de reflexões sobre a prática pedagógica.2 Além do mais, a modalidade semi-presencial, está sedimentada nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, que estabelece na competência Comunicação, que os profissionais de saúde devem ser acessíveis as tecnologias de comunicação e informação.3 Já, a Portaria no. 4.059 de 10 de dezembro de 2004 regulamenta as disciplinas denominadas semi-presenciais e sugere que essas não ultrapassem 20% da carga total do curso.4 O emprego da tecnologia da informação aplicado ao ensino odontológico continua sendo um grande desafio mundial. O aumento da distribuição dos softwares livres para gerenciamento de cursos junta- Figura 1 - Páginas da Disciplina de Endodontia na Plataforma Moodle. Página principal (esquerda); página das ativida- des programadas (direita). 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):163-9 165 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 Tabela 1 - Valores numéricos referentes a relevância do processo de aprendizagem no ambiente virtual. $). $ ( )* +, A aprendizagem é focalizada em assuntos que me interessam? 0 2 14 24 17 O que eu estou aprendendo é importante para prática da minha profissão? 0 1 0 14 42 Eu aprendo como fazer para melhorar o meu desempenho profissional? 0 0 6 12 39 O que eu aprendo tem boas conexões com a minha atividade profissional? 0 1 1 19 36 Tabela 2 - Valores numéricos referentes a reflexão crítica dos alunos durante o processo de aprendizagem no ambiente virtual. $&' $ ( )* +, Eu reflito sobre como eu aprendo? 1 2 14 25 15 Faço reflexões críticas sobre minhas próprias ideias? 0 5 20 23 9 Faço reflexões críticas sobre as ideias dos outros participantes? 3 7 23 16 8 Faço reflexões críticas sobres os conteúdos do curso? 1 1 17 24 14 Tabela 3 - Valores numéricos referentes a interatividade durante o processo de aprendizagem no ambiente virtual. -) $ ( )* +, Eu explico minhas ideias para os outros participantes? 4 10 23 12 8 Peço aos outros alunos explicações sobre as ideias deles? 3 3 18 23 10 Os outros participantes me pedem explicações sobre as minha ideias? 4 4 27 19 3 Os outros participantes reagem as minhas ideias? 3 14 23 14 3 Tabela 4 - Valores numéricos referentes ao apoio dos tutores no processo de aprendizagem no ambiente virtual. (# $ ( )* +, O tutor me estimula a refletir? 2 0 11 27 17 O tutor me encoraja a participar? 1 1 13 23 19 O tutor ajuda a melhorar a qualidade dos discursos? 2 5 18 16 16 O tutor ajuda a melhorar o processo de reflexão crítica? 4 5 8 26 14 166 Revista da ABENO r 12(2):163-9 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 Tabela 5 - Valores numéricos referentes ao apoio dos colegas no processo de aprendizagem no ambiente virtual. ( $ ( )* +, Os outros participantes me encorajam a participar? 7 7 14 21 8 Os outros participantes elogiam as minhas contribuições? 8 7 18 15 9 Os outros participantes estimam as minhas contribuições? 8 6 21 11 11 Os outros participantes demonstram empatia quando me esforço para aprender? 6 11 11 17 12 Tabela 6 - Valores numéricos referentes a compreensão das mensagens no ambiente virtual. $ ( )* +, Eu compreendo bem as mensagens dos outros participantes? 2 1 11 29 14 Os outros participantes compreendem bem as minhas mensagens? 2 1 13 31 10 Eu compreendo bem as mensagens do tutor? 2 0 5 33 17 O tutor compreende bem as minhas mensagens? 3 2 12 26 14 mente com o desenvolvimento de ferramentas para acesso à Internet de baixo custo terá efeitos importantes na educação odontológica no mundo todo.8 Tendo em sua fundamentação teórica, a aprendizagem como uma atividade de elaboração conceitual em um ambiente caracterizado pela interação social, o questionário COLLES foi escolhido, pois foi projetado para monitorar as práticas de aprendizagem online e verificar na medida em que estas práticas se configuram como processos dinâmicos favorecidos pela interação. Através do COLLES os tutores podem monitorar as perspectivas dos alunos sobre o ambiente de aprendizagem online contrastadas com sua prática nas interações e desta forma podem investigar como suprir as falhas de um determinado programa de educação à distância.17 Os resultados do presente estudo revelaram excelente relevância em que 42 alunos (73%) relatam quase sempre a importância do aprendizado para prática da profissão e 39 alunos (68%) demonstraram a melhorar no seu desempenho. Já em relação à reflexão crítica, 41% refletem criticamente com frequência sobre os conteúdos do curso e 43% refletem sobre como está sendo o seu aprendizado. A interatividade entre os alunos apresenta-se deficiente, pois uma pequena parcela (21%) se dispõe a explicar frequentemente suas ideias aos outros participantes e 48% dos alunos às vezes pedem explicações sobre as ideias. Em outro estudo, a implementação do ambiente de aprendizagem Moodle aumentou a aceitação entre os alunos, sem se encontrar diferenças entre sexos. No entanto a postagem do material educativo no ambiente virtual não influenciou a colaboração entre os mesmos.13 De acordo com a Muirhead & Juwah (2003), pesquisas apontam que o acesso a atividades que levem alunos a refletir sobre conceitos tanto teóricos como baseados em sua própria experiência estabelecendo representações, questionamentos, diálogos, análises são fundamentais para a qualidade da interação, atuando como suporte para o processo de aprendizagem em nível epistemológico, já que levam alunos a refletir sobre conceitos tanto teóricos como baseados em sua própria experiência. Um aspecto relacionado ao enriquecimento do processo de aprendizagem é o uso de recursos tecnológicos e de multimídia.12 Com relação ao apoio dos tutores, os resultados 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):163-9 167 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 demonstram que frequentemente o tutor estimula a refletir (47,3%), encoraja a participar (40,3%) e melhora a reflexão autocrítica do participante (45,6%). Já no apoio entre os colegas, houve variações entre as repostas apresentando baixa frequência de elogio (26,3%) e estima as contribuições (19,2%). Os alunos também apresentaram frequente compreensão das mensagens dos participantes (50,8%) e dos tutores (57,8%). O EaD puro sofre muitas críticas quanto à motivação do aluno inserido em seu contexto, principalmente dirigidas à ausência do professor. Na realidade, quando se desenvolvem cursos em EaD, observa-se que o aprendizado pode ocorrer à distância, desde que o professor esteja completamente presente, ainda que virtualmente, ou seja, o contato do professor com seus alunos deve ser constante dentro das ferramentas que assim o permitam.16 Óbvio está que a complementação do ensino presencial com suporte a distância soma vantagens de ambos os aspectos educacionais, porém ainda necessita de um material desenvolvido com o intuito de motivar o aluno ao estudo individual para que ocorra o desempenho almejado. Os estudos de interatividade e “design” instrucional, além da usabilidade das ferramentas propostas, devem ser levados em consideração no momento da adequação do material a ser disponibilizado pelo corpo docente.16 CONCLUSÕES Considerando a qualidade da interação um dos principais parâmetros para avaliação de ambientes de aprendizagem online, conclui-se que apesar dos bons índices de compreensão das mensagens, reflexão sobre os conteúdos e apoio dos tutores, existe necessidade de estimular o apoio entre os alunos e interação de suas ideias para que haja um melhor aproveitamento dentro do meio de ensino à distância. (Constructivist On-Line Learning Environment Survey) questionnaire—an “effective experience” type questionnaire—applied to the 57 students from the classes of 2008 (2nd sem.) and 2009 (1st sem.) of the discipline of Endodontics I. COLLES evaluates the quality of the learning process in the virtual environment, according to the following perceptions: Professional Relevance, Reflective Thinking, Interactivity, Cognitive Demand, Affective Support and Interpretation of Meaning. Based on the answers, tables were constructed with results in numbers that were later analyzed quantitatively. The results indicated a high relevance rate, in that 73.6% of the students reported that what they learned was important to professional practice, and 68.4% reported having improved their own performance. In relation to Reflective Thinking, 41% of the subjects frequently reflect critically on the subject content, and 43.8% reflect on how their learning process is developing. The interactivity among the students was considered poor, because only a small proportion (21%) was willing to explain their ideas to other participants. As for Cognitive Demand, students were often encouraged to reflect and engage in participation. In relation to Affective Support, there was a low frequency of acknowledgment and valuation of the contributions offered. The students were frequently found to understand the messages of participants (50.8%) and tutors (57.8%). Based on the results of the present research, it was concluded that, for the Virtual Learning Environment to be best taken advantage of, it is necessary to encourage support among students and interaction of their ideas. DESCRIPTORS Education, Distance. Teaching Materials. Teaching. Dental Education. Endodontics. REFERÊNCIAS ABSTRACT Assessing how endodontics students perceive the Virtual Learning Environment (Moodle) with the COLLES self-assessment questionnaire The discipline of Endodontics I taught at the Federal University of Paraíba (UFPB) introduced the Learning Management System by Virtual Learning Environment (Moodle) as of the class of 2008 (1st sem.). When students finish the course, they are required to answer to a self-assessment questionnaire available in the Moodle environment. The aim of this study was to analyze the results of the COLLES 168 1. Abreu MC, Masetto MT. O professor Universitário em Aula: prática e princípios teóricos. 8 ed. São Paulo: MG Editores Associados, 1990. 2. Al-Jewair TS, Qutub, AF, Malkhassian G. et al. (2010). A Systematic Review of Computer-Assisted Learning in Endodontics Education. J Dent Educ: (74) 6: 601-611 3. Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/ CES 1300/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia [acesso 25 nov 2010] Disponível em: http://www.abeno.org.br 4. Brasil. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Porta- Revista da ABENO r 12(2):163-9 Avaliação da percepção dos alunos da disciplina de endodontia sobre o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle). 6TPEPRVFTUJPOÃSJPEFBVUPBWBMJBÉÈP$0--&4r$VOIB"SBÙKP*.;4BMB[BS4JMWB+3%"TTVOÉÈP'-$.FMP"#1 ria 4.059/2004. Diário Oficial da União nq 238, 13.12.2004, Seção 1, página 34 gies applicable to continuing professional development in periodontology. Eur J Dent Educ 14 (Suppl. 1) 43 –52. 5. Cunha ALL, Quirino, ACC, Melo ABP, Salazar-Silva JR. A Ava- 12. Muirhead B, Juwah C. (2004). Interactivity in computer-medi- liação do processo ensino-aprendizagem nas atividades práti- ated college and university education: a recent review of the cas da disciplina Endodontia I da UFPB. In: XI Encontro de literature. Educational Technology & Society, 7 (1), 12-20. Iniciação à Docência, 2008, João Pessoa. Anais/Catálogo de 13. Pahinis K, Stokes CW, Walsh TF, et al. (2008). A Blended Resumos - X ENEX / XI ENID, 2008. 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Innovative educacional methods and technolo- 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):163-9 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 169 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na formação em saúde no Brasil Ramona Fernanda Ceriotti Toassi*, Juliana Maciel de Souza**, Alexandre Baumgarten***, Cassiano Kuchenbecker Rösing**** * Professora Adjunta. Departamento de Odontologia Preventiva e Social. Núcleo de avaliação da unidade. Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ** Pedagoga. Técnica em assuntos educacionais. Núcleo de avaliação da unidade. Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) *** Estudante bolsista de iniciação científica (PROBIC FAPERGS). Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) **** Professor Associado. Departamento de Odontologia Conservadora. Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) RESUMO O objetivo do estudo foi analisar o desenvolvimento do processo de mudanças curriculares na formação superior em Odontologia em uma Universidade Federal no Sul do Brasil. O método de investigação foi predominantemente qualitativo (estudo de caso). Foram convidados a participar do estudo todos os estudantes do 1º ao 10º semestre do curso. A coleta de dados envolveu a análise de documentos e aplicação de questionário semiestruturado. Os dados objetivos foram analisados pelo software estatístico SPSS versão 18.0 e os relatos foram interpretados por meio da análise de conteúdo. Participaram do estudo 360 estudantes (taxa de resposta 88,5%), sendo a maioria mulheres (69,2%), jovens (58,1% com idade entre 17 a 22 anos), solteiros (96,4%) e sem filhos (98,3%). Grande parte dos estudantes acredita estar recebendo uma sólida formação para atuar no mercado de trabalho e mostrou-se satisfeito com o curso. Como potencialidades, os estudantes destacaram o atual currículo que enfatiza a humanização da saúde e os ganhos na formação com o período dos estágios curriculares supervisionados no Sistema Único de Saúde. Fragilidades foram apontadas em alguns aspectos da integração curricular e em relação ao processo de 170 avaliação das aprendizagens. Recomenda-se a avaliação do currículo, de modo contínuo e formador, permitindo sua transformação/reconstrução no curso de seu desenvolvimento. DESCRITORES Avaliação Curricular. Currículo. Ensino Odontológico. Ensino Superior. m dos aspectos importantes das políticas de educação para o Ensino Superior da última década foi a proposta de flexibilização curricular nos cursos de graduação.24 Práticas curriculares foram produzindo e moldando a subjetividade do cirurgião-dentista do mundo contemporâneo e, também, a clínica por ele desempenhada.28 No Brasil, com raras exceções, o ensino da Odontologia formava profissionais para atuarem exclusivamente em clínicas particulares e para o exercício privado da profissão, com um perfil de atenção individualizada e com altos custos. Tal formação evidenciava a fragmentação de conteúdos e o processo de ensino-aprendizagem centrado no professor especialista, o que gerava uma excessiva especialização e um distanciamento da preparação U Revista da ABENO r 12(2):170-7 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, para o cuidado efetivo e resolutivo em saúde.1 Por outro lado, um número cada vez maior de novas faculdades de Odontologia contrastava-se com um panorama nacional de altos índices de prevalência de cárie dentária, doenças periodontais, oclusopatias e de indivíduos edêntulos.19 Com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) nos cursos da saúde, incluindo a Odontologia,7 houve a flexibilização curricular e a oportunidade das instituições de elaborarem seus projetos pedagógicos voltados a cada realidade local e regional, ao contrário do currículo mínimo adotado nos cursos superiores até então, que inibia a inovação e a criatividade das instituições formadoras com o excesso de detalhamento de conteúdos obrigatórios. Essa nova proposta de formação prevê o equilíbrio entre a excelência técnica e a relevância social.18 As DCN valorizaram a relevância social das ações de saúde e do próprio ensino, o que implicou, necessariamente, na construção de currículos que preparassem o profissional para trabalhar a partir das necessidades da população, num contexto de mudanças no perfil epidemiológico das doenças bucais, adotando um conceito mais ampliado de saúde e de novas práticas baseadas em evidências científicas.20,30 Essa mudança na educação superior assumindo a formação de habilidades e competências tem possibilitado avanços importantes em várias instituições de ensino brasileiras, com a implantação de projetos pedagógicos inovadores em direção a uma educação integral e mais humanizada. Por outro lado, esse mecanismo tão aberto e flexível na organização dos currículos, gera preocupações em um país de dimensões continentais como o Brasil.8 As orientações das Diretrizes estimulam as escolas a superar as concepções conservadoras, a rigidez, o conteudismo e as prescrições estritas nos currículos mínimos, mas não definem um caminho único.11 Assim, é preciso examinar permanentemente a experiência concreta e os rumos de cada instituição. Nesse sentido, o contínuo processo de avaliação da experiência curricular e da trajetória dos estudantes é fundamental. Após três anos de discussão com a comunidade acadêmica, para atender a essas novas Diretrizes, em 2005, deu-se início a implementação do processo de reestruturação curricular na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FOUFRGS), prevendo um ensino mais integrado às demandas sociais. De 2005 a 2011, quatro turmas já foram formadas a partir dessa proposta. Abarcado por procedimentos de avaliação, o currículo é mais valorizado, sendo a expressão da concretização de seu significado tanto para os professores quanto para os alunos.22 Entendendo a avaliação sobre os componentes curriculares como um dos aspectos da transformação desse currículo, o presente estudo teve por objetivo analisar o desenvolvimento de um processo de reestruturação curricular, na perspectiva de seus estudantes. METODOLOGIA A metodologia utilizada foi o estudo de caso, numa perspectiva de análise predominantemente qualitativa, cujo campo de investigação foi a FOUFRGS. Baseado e orientado pelas DCN, o curso de Odontologia da UFRGS reestruturou seu currículo por meio de uma construção coletiva entre estudantes, professores e funcionários técnico-administrativos e implementou o novo modelo curricular em 2005, processo este que constituiu uma transformação na história da faculdade. A Faculdade de Odontologia foi criada em 1898, vinculada à Faculdade de Medicina, sendo reconhecida pelo governo Federal em 1900. De 1922 a 1932, o curso foi fechado por razões logísticas, conceituais e estruturais, sendo reaberto durante o Governo de Getúlio Vargas. Em 1952 a faculdade conquistou sua autonomia e desde o ano de 1968, se localiza em sua sede própria. Desde a reabertura do curso houve diversas reformas curriculares, sendo que a última foi feita em 2005. O novo currículo propôs a alteração do perfil do profissional egresso, enfatizando atividades de promoção, preservação e recuperação da saúde da população, norteadas pelos princípios da ética e da bioética.27 Assim, foram convidados a participar do estudo todos os estudantes da graduação em Odontologia, do 1º ao 10º semestres que tivessem interesse e disponibilidade. A coleta de dados aconteceu pela análise de documento (Projeto Pedagógico do curso de Odontologia) e pela aplicação de questionários semiestruturados, previamente testados. O questionário utilizado não identificou o estudante e estava dividido em quatro blocos: r perfil sociodemográfico dos estudantes; r sobre a opção pela Odontologia e sobre o curso; r perspectiva de atuação profissional/educação permanente e r sobre o desenvolvimento curricular. 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):170-7 171 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, Para a análise dos dados de perfil e das respostas referentes às questões objetivas do questionário foi criado um banco de dados digitado no software estatístico SPSS versão 18.0. Já as informações referentes às questões abertas (narrativas, percepções dos estudantes) foram interpretadas seguindo o método da análise de conteúdo.6 O estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS (nº 20297) e todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. RESULTADOS E DISCUSSÃO O currículo está relacionado a tudo o que é planejado, implementado, ensinado, aprendido, avaliado e pesquisado, independentemente do nível ou etapa do sistema educacional. Mais do que uma lista de conteúdos intermináveis, classificados por disciplina, o currículo deve ser entendido como um documento de orientação, uma proposta que estabelece um plano educacional, oferecendo aos alunos conhecimento, atitudes, valores, habilidades e competências valorizadas socialmente.14,17 O curso de odontologia da UFRGS, em consonância com os demais cursos de graduação na área da saúde, passou por transformações em suas estruturas curriculares e pedagógicas, buscando atender à demanda de articulação ao Sistema Único de Saúde (SUS), tendo a integralidade da atenção à saúde como eixo norteador dessas mudanças.9 As características dos estudantes de Odontologia, suas narrativas e percepções em relação ao processo de reestruturação curricular foram apresentadas em cinco momentos: r perfil sociodemográfico dos estudantes; r sobre a opção pela odontologia e sobre o curso; r perspectiva de atuação profissional/educação permanente; r sobre o desenvolvimento curricular e r potencialidades emergentes a partir da mudança curricular. Participaram da avaliação curricular 360 estudantes de Odontologia, do 1º ao 10º semestre (taxa de resposta de 88,5%). Destes estudantes, a maioria eram mulheres (69,2%), jovens (58,1% com idade entre 17 a 22 anos), solteiros (96,4%), sem filhos (98,3%), do estado do Rio Grande do Sul (88,9%) e nunca trabalharam (71,4%). Observar Tabela 1. A maior parte dos estudantes realizou o ensino 172 Tabela 1 - Distribuição dos estudantes segundo perfil demográfico. Variáveis Sexo n % Feminino 249 69,2 Masculino 107 29,7 4 1,1 17 a 19 anos 56 15,6 20 a 22 anos 153 42,5 23 a 25 anos 116 32,2 26 a 28 anos 29 8,1 29 a 33 anos 3 0,8 Não informou 3 0,8 Solteiro 347 96,4 Casado 11 3,0 Não informou Idade Estado civil Não informou 2 0,6 Sim 6 1,7 Não 354 98,3 Rio Grande do Sul 320 88,9 Presença de filhos Mato Grosso do Sul 2 0,6 Minas gerais 1 0,3 São paulo 5 1,3 Paraná 2 0,5 Santa catarina 6 1,7 Rio de Janeiro 2 0,6 Outro país 2 0,6 Estado de origem Já trabalhou Não informou 20 5,5 Sim, trabalha no momento 22 6,1 Sim, trabalhou antes do curso começar 67 18,6 Sim, durante o curso, mas agora não trabalha mais 14 3,9 Não, nunca trabalhou Total 257 360 71,4 100 fundamental e médio em escolas da rede privada de ensino (56,9% e 67,2%, respectivamente) e curso pré-vestibular antes do ingresso na universidade (94,4%). Para 80,3%, a Odontologia foi o primeiro curso de graduação iniciado. Em relação à família dos estudantes, 56,4% dos pais e 51,4% das mães possuíam o ensino superior completo. A maior parte dos pais estava trabalhando (61,4% das mães e 72,8% dos pais). Mais da metade dos estudantes (50,3%) relatou ter renda familiar entre 6 a 15 salários mínimos. O pai foi o responsável pelo maior ganho familiar (58,9%). A presença de dentista na família foi relatada por 32,2% dos estudantes. Revista da ABENO r 12(2):170-7 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, Cerca de metade dos estudantes relataram vínculo com projetos de pesquisa, extensão ou monitoria acadêmica (remunerados ou voluntários). Sobre a opção pela odontologia e sobre o curso Quando optaram pelo curso, 45,8% dos estudantes estavam absolutamente decididos pela Odontologia, escolhendo-a por interesse pessoal, por ser da área da saúde e pela influência de amigos e da família. “Porque reconheci no curso várias áreas de atuação de meu interesse. Encontrei na odontologia a união de trabalhar o lado humano junto com a oportunidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes”. (Estudante 46) Sobre as expectativas em relação ao curso de Odontologia, as seguintes categorias emergiram das respostas dos estudantes: r formação de qualidade; r realização pessoal e profissional; r formação para o mercado de trabalho; r retorno financeiro; r formação voltada à demanda da população e r aprendizagem. “Minha expectativa é que o curso amplie minha visão sobre a Odontologia, bem como me forneça conhecimento necessário para a realização das técnicas odontológicas (para que eu entenda as técnicas e saiba o porquê de estar aplicando-as a determinado paciente)”. (Estudante 106) Grande parte dos estudantes (72,2%) se mostrou satisfeita com o curso e 85,3% acreditam que estão recebendo uma sólida formação para atuar no mercado de trabalho. As maiores ênfases do curso de Odontologia, segundo a percepção dos estudantes, foram Saúde Pública/Saúde Coletiva/SUS, seguidos por disciplinas específicas e formação com ênfase no humano/saúde como um todo. XY educação permanente Após a graduação, 50,3% dos estudantes pretendem trabalhar no setor público e privado, mas demonstraram pouco interesse em atuar exclusivamente no serviço público (1,1%). Essa informação corrobora achados do estudo de Rösing et al. (2009),21 avaliando quatro currículos odontológicos, sendo dois no Brasil e dois na Noruega. Além disso, os estudantes pretendem se especializar (97,5%), sendo que 52% planejam iniciar a especialização de 6 meses até 1 ano após o término do curso. As áreas de especialidade mais citadas foram a prótese/implantodontia, a cirurgia e a ortodontia. Sobre o desenvolvimento curricular Quando optaram pelo curso de Odontologia, a maior parte dos estudantes não sabia sobre sua proposta curricular (78,6%) e relataram que esta foi apresentada ao chegarem à Faculdade (81,4%). Atualmente, 53,6% dos estudantes afirmaram conhecer bem a estrutura curricular do curso, mas em relação ao projeto pedagógico 36,9% relata apenas ter ouvido falar e 16,7% relatou não conhecer e não saber seu conteúdo. Em relação aos planos de ensino, 48,9% dos estudantes afirmaram que estes foram apresentados por todas as disciplinas (Tabela 2). O uso de metodologias que permitem a participação do estudante no processo de ensino-aprendizagem foi percebido especialmente por meio de seminários, atividades práticas, discussão de casos clínicos e nos estágios (25,3%), em disciplinas específicas (12,5%) e na participação das aulas e leituras prévias sobre o conteúdo teórico (8,9%). Atividades de pesquisa, estágio e monitorias também foram citadas pelos estudantes (Tabela 2). Segundo o artigo 13 das DCN,7 a estrutura do curso de graduação em Odontologia deve explicitar a definição do perfil a ser formado, aproximar o conhecimento básico da sua utilização clínica e utilizar metodologias de ensino-aprendizagem que permitam a participação ativa dos alunos neste processo. A adoção de novos métodos de ensino-aprendizagem constitui um caminho inovador para a formação profissional em saúde onde o estudante tem a possibilidade de ressignificar suas aprendizagens, assumindo um papel cada vez mais ativo, desenvolvendo a capacidade de construir conhecimento com autonomia, refletir sobre problemas reais e formulação de ações originais e criativas, potencialmente capazes de transformar a realidade social.13,16 Ainda que as metodologias ativas tenham sido identificadas pelos estudantes, a adoção de novas estratégias metodológicas foram sugeridas. “[...] a presença de seminários busca isso. Porém, na nossa formação houve exagero desse recurso, sendo importante buscar outros métodos”. (Estudante 240) Mais do que mudanças aritméticas de créditos na 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):170-7 173 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, Tabela 2 - Desenvolvimento curricular na perspectiva dos estudantes. Variáveis Conhecia a proposta Conhecimento da proposta curricular Não conhecia a proposta Não informou Sim, a proposta foi apresentada Apresentação da proposta curricular Conhecimento da organização curricular Conhecimento do projeto pedagógico Não, a proposta não foi apresentada 283 78,6 1 0,3 293 81,4 62 17,2 5 1,4 193 53,6 Conhece um pouco 164 45,6 2 0,5 Não conhece Não informou 1 0,3 Conhece bem 43 11,9 Já leu algumas coisas 123 34,2 Apenas ouviu falar 133 36,9 60 16,7 1 0,3 Foram apresentados por todas as disciplinas 176 48,9 Foram apresentados apenas por algumas disciplinas 162 45,0 7 1,9 Não lembrava 12 3,4 Não informou 3 0,8 Não foram apresentados Percebe em seminários, atividades práticas, discussão de casos e nos estágios 91 25,3 Percebe, em disciplinas específicas 45 12,5 Percebe pela participação do aluno nas aulas e leituras prévias 32 8,9 7 1,9 Percebe pela participação em atividades de monitoria, iniciação científica, PET Percebe nas pesquisas de satisfação do aluno e avaliação da universidade Percebe, mas não informou como Não percebe ou percebe pouco espaço para a participação do estudante Não informou Total grade horária e de seus valores, as mudanças necessárias nas reformulações curriculares passam por questões que dizem respeito ao conteúdo pretendido e às estratégias de ensino e de aprendizagem.3 Sobre a integração entre as disciplinas, as DCN7 estabelecem-na como condição essencial em todo o processo de ensino-aprendizagem. Na FOUFRGS, 99,4% dos estudantes percebem a integração entre as disciplinas, principalmente durante o período dos estágios curriculares supervisionados que acontecem no último ano do curso e 43,3% a perceberam entre os conhecimentos das ciências básicas e sociais. “[...] nos é enfatizado durante o curso a visão humanística e integral do paciente, sempre levando em conta sua rela- 174 21,1 Não lembrava Não informou Uso de metodologias ativas % 76 Conhece bem Não conhece e não sabe qual seu conteúdo Planos de ensino n 7 1,9 12 3,3 105 29,2 61 17,0 360 100 ção fisiológica com o ambiente.” (Estudante 234) “[...] a integração foi bastante visível, inclusive nos debates em sala de aula, e o conhecimento foi sendo construído a cada etapa, o que facilitou a visão integral da saúde pública”. (Estudante 248) As ações integrativas auxiliam o estudante a construir um quadro teórico-prático global mais significativo e mais próximo dos desafios presentes na realidade profissional dinâmica e única, na qual atuará depois de concluída a graduação.2 O ensino baseado na integração proporciona uma aprendizagem mais estruturada e rica, pois os conhecimentos estão organizados em torno de estruturas conceituais e meto- Revista da ABENO r 12(2):170-7 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, dológicas compartilhadas por várias disciplinas.5 Essa integração curricular, no entanto, está em processo de construção e desafios foram verificados em relação à efetivação da proposta. “[...] Está ocorrendo um processo de integração entre várias disciplinas, mas ainda há fragmentação”. (Estudante 353) “Só houve integração parcialmente. Em todo o curso per- vidos no processo educacional.23 Potencialidades emergentes a partir da mudança curricular Os estudantes referiram-se ao atual currículo voltado à humanização da saúde como uma de suas potencialidades, mostrando preocupação no sentido de terem uma formação voltada para o atual mercado de trabalho do país. cebe-se uma tentativa, mas tem áreas que supervalorizam seus conteúdos [...]”. (Estudante 235) “Continuar dando ênfase à humanização da saúde [...]” (Estudante 263) Essas mesmas dificuldades quanto à integração foram verificadas por estudantes e professores em estudo sobre a análise do processo de mudança curricular no curso de Odontologia em uma Universidade Comunitária no Sul do Brasil.26 Sobre o processo de avaliação das aprendizagens, de modo geral, os estudantes entendem as avaliações como positivas, efetivas, coerentes, válidas, preparando-os para o próximo semestre, exigentes e rigorosas. Fragilidades foram apontadas no que se referiu à falta de clareza nos critérios das avaliações e ao excesso de conteúdo cobrado. “[...] Aproximar cada vez mais o curso da realidade da saúde da população e do mercado de trabalho disponível”. (Estudante 279) Além disso, o período dos estágios curriculares supervisionados no SUS do último ano do curso foi um dos destaques positivos da reestruturação curricular. Os estudantes do último semestre assim se manifestaram em relação aos estágios curriculares: “Importantes para conhecer a realidade prática e teórica do sistema público de saúde. Oferecem mais oportunidade para o desenvolvimento da autonomia no atendimento ao “[...] As questões das provas são elaboradas de modo a paciente”. (Estudante 236) exigir que o aluno decore os slides, sendo que mesmo entendendo a matéria o aluno, muitas vezes, não consegue atingir um bom desempenho. Além disso, as respostas das questões dissertativas devem ser escritas com as palavras do professor ou de acordo com o slide, não permitindo que o aluno construa sua própria resposta baseado no seu raciocínio [...]”. (Estudante 106) A avaliação das aprendizagens continua a marcar uma presença relevante e muitas vezes polêmica no centro dos grandes debates da educação atual, pois é um processo que tem profundas implicações na organização e no funcionamento dos sistemas educacionais e das instituições de ensino, na forma pela qual os professores organizam seu ensino ou no desenvolvimento das aprendizagens por parte dos estudantes.10 As avaliações dos alunos devem ter como referência as diretrizes curriculares7 e basearem-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos. Tanto as competências a serem adquiridas quanto os indicadores de desempenho e resultados esperados devem estar claramente definidos, descritos e disponibilizados para todos os envol- A aprendizagem nos serviços públicos de saúde é fundamental para a formação em saúde, possibilitando a aproximação com a comunidade pela realização de atividades que vão além dos limites físicos da instituição formadora.4,29 Os espaços de interseção entre serviços e ensino são de grande importância para a formação em saúde e para a consolidação do SUS. A integração ensino-serviço é um dos eixos que busca solidificar a proposta curricular, por meio da diversidade de ações na interface entre o serviço e o serviço.25 Outra questão entendida como importante pelos estudantes referiu-se a sua participação na melhoria da Faculdade (ouvir opinião, melhorar o diálogo) e na sugestão de continuidade do processo de avaliação. “Criar diálogo com os alunos. Romper barreiras de comunicação. Incentivar os alunos a melhorar a faculdade”. (Estudante 140) Por fim, os estudantes sugeriram que o currículo seja avaliado continuamente, permitindo a trans- 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):170-7 175 Avaliação curricular na educação superior em odontologia: discutindo as mudanças curriculares na GPSNBÉÈPFNTBÙEFOP#SBTJMr5PBTTJ3'$4PV[B+.#BVNHBSUFO"3ÕTJOH$, formação/reconstrução no curso de seu desenvolvimento. Uma proposta curricular inovadora está associada com mudanças relacionadas à perspectiva de seus estudantes15 e a transformações na cultura pedagógica da instituição, tão necessárias para um efetivo currículo integrado. Tudo isso só será possível se as avaliações curriculares continuarem acontecendo.12 CONCLUSÃO Dos 360 estudantes que participaram desse estudo, a maioria eram mulheres, jovens, do estado do Rio grande do Sul, solteiros, sem filhos e que nunca trabalharam. Quando optaram pelo curso, 45,8% dos estudantes estavam absolutamente decididos e 85,3% acreditam estar recebendo uma sólida formação para atuar no mercado de trabalho. Após a graduação, 50,3% das estudantes pretendem trabalhar no setor público e privado e 97,5% querem se especializar, de 6 meses a 1 ano após o término do curso (52%), especialmente nas áreas de prótese/implantandontia, cirurgia e ortodontia. Os estudantes apontaram como potencialidades, o atual currículo que enfatiza a humanização da saúde e o período dos estágios curriculares no SUS. Desafios foram verificados na efetivação da integração entre as disciplinas e também em relação ao processo de avaliação das aprendizagens. Entende-se que mudanças curriculares são processuais e precisam de tempo para que os avanços pretendidos possam se concretizar. Recomenda-se, assim, a avaliação do currículo, de modo contínuo e formador. A temática pesquisada não se esgota com os resultados deste estudo, mas abre oportunidade para a realização de pesquisas futuras com diferentes atores do processo e Instituições de Ensino Superior no país, trazendo contribuições pertinentes para a discussão sobre currículos integrados e inovadores na área da saúde. mester were invited to participate. Data collection involved analysis of documents and application of a semi-structured questionnaire. Data were analyzed using SPSS 18.0 statistical software, and the reports were interpreted by content analysis. A total of 360 students participated in the study (88.5% response rate), most of whom were females (69.2%), young adults (58.1% aged 17 to 22 years), single (96.4%) and without children (98.3%). A significant part of the students think that they are receiving a sound education that will allow them to enter the job market and are satisfied with their course. Among the potential benefits, students highlighted the current curriculum that emphasizes the humanization of healthcare and improvements in their training as a result of supervised internships in the Public Health System. Some weaknesses were identified in respect to parts of the curricular integration and also to the process of student performance assessment. Continuous and integrated evaluation of the institution’s curriculum is recommended to allow it to be transformed and reconstructed as it is developed. DESCRIPTORS Curricular Evaluation. Curriculum. Dental Education. Education, Higher. REFERÊNCIAS 1. Albuquerque VS, Batista RS, Tanji S, Moço ETM. Currículos disciplinares na área de saúde: ensaio sobre saber e poder. Interface comun. saúde educ. 2009 out/dez; 13(31):261-72. 2. Anastasiou LGC. Da visão de ciência à organização curricular. In:Anastasiou LGL, Alves LP. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 5.ed. 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Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 3FWJTUBEB"#&/0r 12(2):170-7 177 Banco de dentes humanos no Brasil: revisão de literatura Dayliz Quinto Pereira* * Departamento de Saúde. Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia. Doutorando em Medicina e Saúde. Faculdade de Medicina da Bahia. Universidade Federal da Bahia RESUMO O presente artigo descreve resultados de uma revisão de literatura sobre “Banco de Dentes Humanos no Brasil - BDH”, com o objetivo de conhecer a produção científica sobre BDH no país, a sua relação com o ensino, a pesquisa, a extensão, a sua estrutura administrativa e as suas implicações legais, tendo como base a Bioética. A busca teve como base de dados a Biblioteca Virtual em Saúde de Odontologia e livros especializados. Foram encontrados oitenta e um artigos e dois livros, selecionando-se vinte e três artigos e dois livros, um sobre Banco de Dentes Humanos e outro Serviços Odontológicos da ANVISA. Os textos analisados foram classificados em três categorias: Ensino/Pesquisa, Organização/Estrutura dos BDH e Bioética/Biossegurança. Conclui-se que poucos são os trabalhos relacionados aos BDH nos cursos de Odontologia no Brasil, o que demonstra a necessidade de novas reflexões na Odontologia sob o olhar da Bioética na criação dos BDH. DESCRITORES Banco de Dentes. Biossegurança. Bioética. Cursos de Odontologia. criação dos Bancos de Dentes Humanos (BDH) nas instituições de ensino superior no Brasil teve inicio por volta do ano de 2000 com o objetivo de minimizar o comércio ilegal de estruturas dentárias, assim como desenvolver uma percepção dos discentes e profissionais da área de Odontologia acerca da Biossegurança, das questões legais e das discussões em Bioética. O BDH é responsável pelas atividades de recepção, preparação, desinfecção, manipulação, seleção, preservação, catalogação, estocagem, cessão, empréstimo, administração dos dentes doados e educação para a ética. Os dentes humanos extraídos são frequentemente utilizados no ensino odontológico de Anatomia e A 178 de Histologia, assim como, na prática em laboratório pré-clínica e em pesquisas científicas da graduação e pós-graduação. Assim, o ensino odontológico necessita de grande número de unidades dentárias. Todavia, “muitos acadêmicos e profissionais obtêm, junto a outros profissionais tais como os coveiros de cemitérios, dentes cujas doações não estão sendo registradas conforme as determinações legais”.1 O objetivo deste estudo é conhecer a produção cientifica sobre BDH no Brasil, a sua relação com o ensino, a pesquisa, a sua estrutura administrativa e as suas implicações legais, tendo como base a Bioética. METODOLOGIA A revisão da produção científica existente teve como base livros especializados, teses, dissertações e periódicos indexados no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) através do formulário de pesquisa avançada do Portal de Revistas Científicas em Ciências da Saúde: r Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO), r U.S. National Library of Medicine (PubMed/ MEDLINE), r Scientific Library online (SciELO), r Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). O período da coleta compreendeu os anos de 2008 a 2012. A metodologia aplicada foi “resultante da reunião e análise dos trabalhos referentes ao tema objeto da pesquisa”, com a intenção de “identificar na literatura o referencial teórico do estudo” e cujos autores já se ocupavam do tema até o momento da pesquisa.2 Como estratégia de busca usaram-se critérios de inclusão através das palavras: Banco de dentes humanos, dentes, ética, bioética, doação de órgãos, transplante dental, educação em Odontologia, biossegu- Revista da ABENO r 12(2):178-84 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 rança. Durante a busca utilizou-se os operadores boleanos and e or, e textos na língua inglesa, francesa, italiano e em espanhol. Os critérios de exclusão estão relacionados ao conteúdo dos artigos, no momento da leitura dos respectivos resumos ou abstracts. Após leitura, foram retirados os textos que não se relacionavam com o tema e trabalhos não indexados na base de dados. Procurou-se selecionar os artigos, respeitando os conteúdos próprios do tema sobre “Banco de Dentes Humanos”. Após seleção do material, iniciou-se a leitura mais apurada, através de uma análise de conteúdo, direcionando os tópicos do texto para o objeto de estudo. RESULTADOS No período de 2008 a 2012, foram identificados 81 artigos, sendo excluídos 64 artigos que não se relacionavam diretamente com o objeto do estudo, restando 23 artigos. Destes, treze no Lilacs e BVS igualmente, e dez no BBO. Na busca por outras fontes foram selecionados dois livros, nos quais um o tema é abordado como principal, e o outro um capítulo do livro. Nos Quadros 1 e 2 os artigos em número de dezessete e seis respectivamente encontram-se organizados por ordem cronológica conforme título, autoria, ano e periódico. Nos dois livros em separado, além dos itens de referência incluiu-se editora. Com base neste levantamento bibliográfico e analisando os textos, os temas foram classificados em três categorias: 1. Ensino/Pesquisa 2. Organização/Estrutura dos BDH 3. Bioética/Biossegurança DISCUSSÃO Ensino / Pesquisa Os textos mencionam a importância dos BDH para os cursos de graduação e pós-graduação em Odontologia, ao mesmo tempo em que, não dissociam a responsabilidade do envolvimento com a Ética. Para a aprendizagem dos discentes de graduação em Odontologia tanto na teoria como na prática, as unidades dentárias são elementos fundamentais para o ensino e a pesquisa, o que é reforçada pela opinião dos Prof. Vanzelli e Imparato3 e em 2003 no Livro de “Banco de Dentes Humanos”4 e em outros textos: “A utilização de dentes humanos para fins de pesquisa ou realização de procedimentos laboratoriais e clínicos deve respeitar aspectos éticos e legais, e precisa ser uma preocupação de pesquisadores, educadores, alunos e da população em geral.”4 Em outro artigo,5 “em relação à solicitação de elementos dentais para a utilização na graduação, o resultado da pesquisa foi unânime, visto que 100% dos alunos, do primeiro ao quinto ano, necessitam de dentes extraídos para o curso. Em relação à obtenção dos elementos dentais, 84,2% dos alunos relataram dificuldade para a aquisição dos dentes solicitados nas disciplinas do curso”. No ensino odontológico é fundamental a “utilização de dentes humanos (...) para o aprendizado do aluno de Odontologia, que é obrigado, em quase todas as faculdades, a ‘arrumar’ o material. Alguns professores nem questionam como o aluno adquiriu os dentes, que são geralmente comprados em clínicas particulares, cemitérios ou com colegas já formados”.6 Calculando matematicamente, um curso de graduação em Odontologia com 30 alunos por semestre/ano precisaria de 840 unidades dentárias para o ensino a partir das aulas de Anatomia, seguidas de Dentística, Endodontia e outras disciplinas. Portanto, um curso de Odontologia com 60 alunos/ano matriculados necessitará de 1.680 unidades dentárias por ano e um estoque permanente de 3.360 dentes, o que torna muitas vezes difícil a captação, a distribuição e controle no BDH para os discentes e professores. Portanto a utilização das unidades dentárias nos cursos de graduação é uma necessidade e uma realidade tanto no ensino odontológico como na pesquisa odontológica. Um levantamento sobre o uso de dentes na pesquisa apresentado na 17ª e 18ª Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) “demonstrou que, de 2.569 trabalhos apresentados, 834 (32,5%) utilizaram dentes naturais, resultando em média de 34 dentes por pesquisa”.7 Ainda no mesmo artigo encontramos o cálculo do Prof. Imparato da Universidade de São Paulo, “para o número de dentes utilizados nos cursos de Odontologia: uma faculdade gasta de três a quatro mil dentes por semestre”.7 Portanto, após o mapeamento dos BDH no Brasil em 2011 identificou-se 196 cursos de graduação em Odontologia, sendo necessário aproximadamente 600 mil a 800 mil dentes para as atividades acadêmicas. Outro estudo8 de 2010 apresentou a utilização de dentes extraídos, humanos ou não, “nas pesquisas publicadas a partir de 1996, em periódicos brasileiros de acesso online gratuito e com informações da origem dos dentes. Dos quatorzes periódicos publicados, foram utilizados 8.921 dentes humanos e 2.920 não humanos”. Revista da ABENO r 12(2):178-84 179 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 Quadro 1 - Artigos e livros nacionais selecionados para a revisão de literatura, segundo título, autor, ano, tipo de publica- ção no período de 2001-2011. Nº Título Autor Ano Periódico Estágio atual da organização dos bancos de dentes humanos nas faculdades de odontologia do território brasileiro Begosso M, Imparato J, Duarte D Revista de Pós-Graduação da USP 2001 ISSN 0104-5695 2 Comercialização de dentes nas universidades Paula S, Bittencourt LP, Pimentel E, Gabrielli Filho PA, Imparato JCP Revista Pesquisa Brasileira de Odontopediatria e 2001 Clinica Integrada ISSN 1519-0501 3 Estruturação de um banco de dentes humanos Nassif A, Tieri F, Ana P, Botta S, Imparato JCP 2003 Pesquisa Odontológica Brasileira ISSN 1517-7491 4 Banco de dentes: uma idéia promissora Vanzelli M, Imparato JCP 2003 Stomatos ISSN 1519-4442 5 Banco de dentes: ética e legalidade no ensino, pesquisa e tratamento odontológico Ferreira EL, Fariniuk LF, Cavali AÉC, Baratto Filho F, Ambrósio AR 2003 Revista Brasileira de Odontologia ISSN 1984-3747 6 A bioética na odontologia Pires LAG, Cerveira J 2003 Stomatos ISSN 1519-4442 7 Conhecimento dos alunos do curso de odontologia da USS sobre banco de dentes humanos Rabello TB, Souza MCA, Silva FSP, Madruga FF 2005 Revista Brasileira de Odontologia ISSN 1984-3747 8 Estruturação do banco de dentes humanos decíduos da Universidade Federal de Santa Maria/ RS/ Brasil Marin E, Zorzin D, Mainardi AP, Oliveira MDM 2005 Revista de Odontologia de Passo Fundo ISSN 1413-4012 9 Banco de dentes humanos numa instituição de ensino: importância, implementação e funcionamento (revisão de literatura) Melo CRO 2005 Monografia apresentada na ABO /MG Costa SM, Mameluque S, Brandão EL, Melo AEMA, Pires CPAB, Rezende EJC, Alves KM 2005 Revista da ABENO ISSN 1679-5954 2006 Revista Sul Brasileira de Odontologia ISSN 1806-7727 1 Dentes humanos no ensino odontológico: procedência, 10 utilização, descontaminação e armazenamento pelos acadêmicos da UNIMONTES Avaliação do nível de conhecimento dos acadêmicos Zucco D, Kobe R, Fabre C, 11 do curso de odontologia da UNIVILLE sobre a utilização Madeira L, Baratto Filho F de dentes extraídos na graduação e banco de dentes 12 Percepção de acadêmicos de odontologia sobre clonagem, doação de órgãos e banco de dentes. Garbin CAS, Garbin AJI, Santos KTS, Pacheco AC 2008 Revista de Pós-Graduação da USP ISSN 0104-5695 13 Banco de dentes humanos para o ensino e pesquisa odontológica Moreira L, Genari B, Stello R, Collares FM, Samuel SMW 2009 Rev. Faculdade Odontologia Porto Alegre ISSN 0566-1854 14 Conhecimento popular, acadêmico e profissional sobre o banco de dentes humanos Pinto SL, Silva SP, Barros LM, Tavares EP, Silva JBOR, Freitas ABDA 2009 Revista Brasileira de Odontopediatria e Clinica Integrada ISSN 1519-0501 Uso de dentes extraídos nas pesquisas odontológicas 15 publicadas em periódicos brasileiros de acesso online gratuito: um estudo sob o prisma da bioética Freitas ABDA, Castro CDL, Sett Arquivos em Odontologia GS, Barros LM, Moreira AN, 2010 ISSN 1516-0939 Magalhães CS Banco de dentes humanos na percepção dos 16 acadêmicos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense Maggioni AR, Scelza MFZ, Silva LE, Salgado VE, Borges DO, Maciel ACC 2010 Revista Fluminense de Odontologia ISSN 1413-2966 17 Banco de dentes humanos no curso de odontologia da ULBRA - Campos Torres Vinholes JIA, Fernandes DC, Ritzel IF 2011 Conversas Interdisciplinares ISSN 2176-1051 1 Banco de dentes humanos Imparato JCP e cols. 2003 Editora Maio ISSN 85-877543-2-7 2 Manual de prevenção e controle de riscos em serviços odontológicos - O órgão dental e a importância dos bancos de dentes Silva TR, Ferreira EL 2006 Capítulo do Livro da ANVISA ISSN 84-334-1050-6 Fonte: presente pesquisa. 180 Revista da ABENO r 12(2):178-84 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 Quadro 2 - Artigos Internacionais selecionados para a revisão de literatura, segundo título, autor, ano, tipo de publicação no período de 1968 - 2011. Nº Título Autor Ano Periódico 1 Editorial prospect on tooth bank Coburn RJ 1968 Abstract Dental 2 La banca del dente Muratori G 1969 Dental Cadmos 3 Les implants biologiques et “la banque des dents” chercheve M, Hubert JP, Bordon R 1969 Promot Dent 4 Les transplantations dentaires: constitution d’une banque de dents et problèmes de stérilisation mathieu L, Fleurette J, Transy MJ 1970 Ann Odontostomatol (Lyon) 5 Come organizzare una banca del dente muratori G 1976 Dental Cadmos 6 Banche dei denti Muratori G 1986 Dental Cadmos Fonte: presente pesquisa. O BDH é importante não só no armazenamento das unidades dentárias, mas sim, promover a sensibilização dos indivíduos sobre o elemento dentário, como órgão e suscitar discussões sobre o tema relativas a questões da Bioética e da Biossegurança. Organização / Estrutura dos BDH Em 1969 o cirurgião-dentista italiano Muratori no artigo9 “La Banca Del Dente” cita o então cirurgião-dentista francês Joseph Jean François Lemaire pela sua técnica de transplante dentário, como são adquiridas as unidades dentárias e a sua forma de conservação. “Ele desenvolveu com sucesso em NY onde transplanta 123 dentes e com este sucesso passa a oferecer dois guinéus por dente anterior das pessoas que estavam dispostas a vender seus elementos dentários”. Talvez sua intenção, era criar uma espécie de Banco de dentes (BD) antes do seu tempo, para ter sempre os dentes disponíveis para transplante. (texto traduzido na integra) (...) Só que o BD do Lemaire resultou em um fiasco solene por várias razões, especialmente para os muito (...) que se alegram em tratar dentes extraídos (falta de higiene, a ausência, naqueles dias, dos antibióticos).9 Assim, a atual iniciativa do banco de dente não pode ser comparada à antiga, mencioná-la apenas por curiosidade. O “banco permite ao dentista ter a sua disposição, material biológico para transplante”. Pesquisadores franceses no artigo10 “Les Implants Biologiques et La Banque des dents” descrevem que os resultados em longo prazo foram tão satisfatórios que criam um BD como uma associação de praticantes (sem fins lucrativos). Conferidos os interessados podem enviar-nos os dentes extraídos há menos de 15 dias e que foram armazenados imediatamente após avulsão em solução salina, sem qualquer trata- mento prévio. (...) No mesmo texto solicitam aos cirurgiões-dentistas e aos estomatologistas que enviem dentes para um endereço e assim adquirem pleno direito tornar-se membro associado do BD (...) Em seu retorno do laboratório, eles estão prontos para transplante. Isto lhes permite manter quase indefinidamente. “Acreditamos que essa conquista, sem duvida, abre novos horizontes para a profissão”.10 Os textos apresentam as primeiras noções de BDH onde a prioridade são os implantes dentários, a confecção de próteses, ao mesmo tempo em que oferecem “guinéus por dente anterior das pessoas que estavam dispostas a vender seus elementos dentários”9 para a manutenção do “banco permitindo ao dentista ter a sua disposição, material biológico para transplante”9, pode-se pressupor o inicio do BDH e do comércio das unidades dentárias. No Brasil a primeira idéia de Banco de Dentes surge por volta de 1981, quando Garbrielli et al.11 “criaram o método de colagem em dentes anteriores, no qual a seleção de um dente para restabelecer a fratura coronária (...) foi através de um Banco de Dentes”.3 Os autores12-14 são unânimes em afirmar a importância do BDH nos cursos de Odontologia, em relação ao funcionamento, organização e estrutura física, discorrem sobre a responsabilidade na rotina de arrecadação, preparação, descontaminação, armazenamento e distribuição. Assim como, “estimular as doações, ao mesmo tempo em que, conscientiza a população e a comunidade científica sobre a valorização do dente como órgão”.4 Segundo o Manual de prevenção e controle de riscos em serviços odontológicos,1 “para o funcionamento de um banco de dentes são necessários alguns requisitos como, infraestrutura adequada, equipamentos próprios e a contratação de pessoal técnico especializado e auxiliar, bem como o estabelecimen- Revista da ABENO r 12(2):178-84 181 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 to de fluxos e rotinas próprias que norteiem todas as etapas referentes à captação e distribuição dos órgãos dentários”. Nos artigos selecionados5,12,14-17 a estrutura física descrita apresenta-se superficialmente, quando no livro sobre Banco de Dentes na p.55 cita que “a infraestrutura oferecida a cada um dos BDH poderá variar de uma faculdade para outra, mas a sua organização é fundamental para o bom funcionamento e sua característica como um Banco de Dentes Humanos”.4 Ainda sobre a organização e infraestrutura outro artigo sugere que “para realização das funções do BDH, é necessário um laboratório e uma sala de suporte. O laboratório deverá ser construído de acordo com as normas da vigilância sanitária correntes.”18 Portanto os artigos3,4,7,12,15,19,20 relatam que se deve respeitar as normas de biossegurança e da vigilância sanitária preconizada pela ANVISA para os ambientes similares, mas não especificam detalhadamente como deve ser a infraestrutura do BDH nas Instituições de Ensino Superior, o que gera algumas dúvidas, com relação à sala de suporte das clínicas e laboratórios de práticas odontológicas. Em relação à captação das unidades dentárias existem várias formas, uma delas acontece na própria clínica ou ambulatório do curso de Odontologia, onde graduandos, professores e pesquisadores, prestam assistência à população em geral. “O BDH deverá responsabilizar-se pela obtenção de uma quantidade de dentes que seja necessária para a demanda das instituições as quais o Banco de dentes auxilia. As fontes de arrecadação podem ser as mais variadas: clínicas particulares, postos de saúde, clínicas da própria faculdade ou instituição de ensino, hospitais”18 e além destas a “doação espontânea das coleções de dentes particulares tanto dos profissionais quanto dos acadêmicos para o pleno funcionamento dos bancos”.21 Outro ponto importante e que os autores 5,12,13,15,20,22 consideram “preocupante” é o risco de infecção cruzada com a manipulação de material biológico advindo dos dentes, ao mesmo tempo em que “enfatizam o aspecto de ainda não se ter encontrado um método de esterilização ou uma solução desinfetante que não interfira (...) nas propriedades físico-químicas dos dentes (...)”18 Bioética / Biossegurança Os pesquisadores3,4,23 afirmam que a “valorização do dente é um fato pouco considerado pela maioria dos odontólogos e por alguns profissionais 182 vinculados à pesquisa científica”, quando “utilizam grandes quantidades de dentes humanos, em seus trabalhos, desconsiderando os aspectos éticos e legais” que dizem respeito à origem destes órgãos. “Em 1997, com a formulação da Lei de Transplante no Brasil, os dentes passaram a ser reconhecidos como órgãos. Sendo assim, torna-se necessária a autorização do doador para a utilização de dentes”.7 Alguns aspectos depois desta lei sobre a valorização atribuída aos dentes, “dizem respeito à polpa dentária que passa a ser também estudada para possíveis doadores de células-tronco, junto como células do cérebro, dos olhos, na pele, nos músculo. Entretanto, ainda não se sabe se essas células residem nestes tecidos ou se originam de células tronco hematopoiéticas circulantes. Daí a necessidade de intensificar as discussões sobre a clonagem, como a doação de órgãos, principalmente a doação do órgão dental e a criação dos Bancos de Dentes”.17 Outro aspecto importante que deve ser considerado pelos profissionais de Odontologia, diz respeito às mutilações dentárias “adquiridas pelo homem, por meio de falhas continuadas na conduta clínica profissional ou por problemas que há tempos acompanham às questões de saúde pública no Brasil, os quais, muitas vezes, inviabilizam o acesso da população aos serviços de saúde odontológicos”.17 Por outro lado, “a Odontologia como ciência, ensina que a avulsão de um elemento dentário pode acarretar danos funcionais, estéticos e fonéticos. O dente é um órgão complexo e importante para a saúde do indivíduo, de tal maneira que não pode ser substituído de forma totalmente satisfatória por qualquer tipo de reparação protética”.24 Sabe-se que outra forma de aquisição das unidades dentárias baseia-se no comércio ilegal de dentes que é frequente, e principalmente no meio universitário, “em estudo realizado nas universidades, 70,6% dos alunos no Rio de Janeiro e 46,9% dos alunos em São Paulo haviam adquirido dentes para as suas atividades acadêmicas em 2001. Ainda no mesmo estudo os resultados indicam que a maior parte das encomendas de dentes foi feita em cemitérios por intermédio de coveiros, indicando que este ‘crime’ vem constantemente sendo cometido”.20 Em outro estudo5, constatou-se “uma grande resistência por parte dos alunos em doarem suas coleções particulares de dentes, muitas vezes provenientes de pais dentistas que armazenaram o material ao longo dos anos, bem como de outros profissionais, colegas do curso em estágios mais avançados e/ou Revista da ABENO r 12(2):178-84 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 egressos”, o que dificulta a criação dos BDH nos cursos de Odontologia. Nos casos de pesquisa, os pesquisadores devem solicitar ao BDH da sua instituição e encaminhar com documento anexo para o CEP. “Atualmente os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) não aprovam pesquisas que utilizam dentes humanos cuja origem não seja comprovada ou legalizada”.13 Os autores7,8,14,15,18,20 reconhecem que os pesquisadores e acadêmicos dos curso de Odontologia, têm a obrigação do conhecimento da Lei nº 9.434 de 04/02/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e de outras procedências. “Os estudantes, ao comprarem dentes, podem ser enquadrados nas leis penais e/ou civis, mesmo alegando não saberem que o ato é crime, pois o artigo 3º do Código Civil diz que ‘ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece’”.16 “A inexistência de bancos de dentes vinculados às instituições de ensino ferem princípios éticos e legais, pois muitas vezes os alunos utilizam dentes de origem duvidosa, como cemitérios; e por outro lado incentiva a comercialização ilegal de dentes, pois os acadêmicos que não conseguem obter dentes para utilizarem em suas aulas práticas são obrigados a compra-los para não serem prejudicados em suas atividades. Este cenário tem também implicações de biossegurança, pois muitas vezes os dentes não são acondicionados de forma adequada e podem ser veículo para transmissão de doenças”.16 O que incentiva a comercialização e troca das unidades dentárias, uma vez que a sua utilização é exigência nos cursos e faz com que os discentes busquem adotar meios ilícitos e não éticos para a sua aquisição. Os Bancos de Dentes Humanos ainda não participam da rotina de muitos cursos de graduação em Odontologia no Brasil, o que se constata na pesquisa sobre “Levantamento dos Bancos de Dentes Humanos dos Cursos de Odontologia do Brasil e Experiência na criação do Banco de Dentes Humanos da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia”25 em 2011, que dos 196 cursos de Odontologia, apenas 64 cursos apresentam BDH, conforme mapeamento realizado nesta pesquisa de doutorado com ênfase em Bioética. Portanto, a criação dos BDH nos cursos de Odontologia é exigida a fim de legalizar a utilização das unidades dentárias na prática acadêmica e na pesquisa científica, assim com direcionar e facilitar a captação do elemento dental, com a normatização e a organização com base nas leis vigentes no País, além dos cuidados com a Biossegurança. Por outro lado, não se pode esquecer que o dente é um material biológico humano e como tal está inserido na Resolução CNS nº 441 de 12/05/2011 que regulamenta os Biobancos e os Biorepositórios com normas específicas onde os “Biobancos são fundamentais para a pesquisa, contribuindo também para as atividades de assistência clínica, pois permitem o armazenamento de amostras biológicas – como sangue, cordão umbilical, tecidos tumorais e normais, entre outras – associadas aos dados clínicos dos pacientes. Um exemplo na pesquisa é o estudo de biomarcadores, características que podem ser mensuradas e que podem indicar processos biológicos e patológicos, possuindo valores de previsão e de prognóstico. Já nas atividades assistenciais, registra-se a importância dos bancos de tumores, que contribuem para o diagnóstico e acompanhamento do estadiamento tumoral”.26 Diante desta definição dos Biobancos se concluem que, houve uma mudança na condição do elemento dental de instrumento básico para o ensino acadêmico nos cursos de graduação e pós-graduação de Odontologia para material orgânico humano monitorado nas atividades de pesquisa, contribuindo assim nas atividades de assistência clínica. Sugere-se a criação de uma lei específica para os Bancos de Dentes Humanos no Brasil, o qual contemple principalmente o Ensino e a Extensão, uma vez que a Pesquisa esta inserida na Resolução CNS nº 441 de 12/05/2011 e desta forma inibir a aquisição ilegal de dentes humanos. Espera-se que esta revisão de literatura ainda que incipiente, desperte nos leitores o interesse pelo assunto, estimule novas pesquisas e reforce a importância da criação dos BDH nos cursos de Odontologia como órgão institucional que auxilia o ensino da Odontologia, e contribui para o avanço da pesquisa na área da saúde em geral. ABSTRACT Human tooth bank in Brazil: a review of literature This article describes the results of a literature review on Brazil’s “Human Tooth Banks (HTB),” conducted to gain more knowledge into the scientific literature available on the country’s HTBs, their relationship with teaching, research and extension, as well as their administrative structure and legal implications, based on bioethics. The study was based on data from the Virtual Dental Health Library and specialized books. Eighty-one articles and two books Revista da ABENO r 12(2):178-84 183 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTOP#SBTJMSFWJTÈPEFMJUFSBUVSBr1FSFJSB%2 were retrieved, from which twenty-three articles and two books were selected, one on Human Tooth Banks and the other on ANVISA (Brazilian Health Surveillance Agency) Dental Services. The analyzed texts were classified into three categories: Education/Research, Organization/Structure of HTBs and Bioethics/Biosafety. We concluded that few HTB-related studies were conducted in Brazilian dentistry courses, thus revealing a need for new reflections in dentistry as concerns bioethics in creating an HTB. 13. Moreira L, Genari B, Stello R, Collares FM, Samuel SMW. Banco de Dentes Humanos para o Ensino e Pesquisa Odontológica. Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre. 2009; 50 (1):34-37. 14. Ferreira EL, Fariniuk LF, Cavali AÉC, Baratto Filho F, Ambrósio AR. Banco de dentes: ética e legalidade no ensino, pesquisa e tratamento odontológico. 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Manual de estilo acadêmico- Monografias, Dissertações e Teses- Salvador: EDUFBA, 2003;17(Supl 1): 70-4. 19. Begosso M, Imparato JCP, Duarte D. Estagio atual da organização dos bancos de dentes humanos nas faculdades de 2008. 145p. 3. Vanzelli M, Imparato JCP. Banco de Dentes: uma idéia pro- Odontologia do território brasileiro. RPG. 2001;8 (1):23-28. missora. Stomatos, RGS: Canoas, 2003; 9 (16): 59-60 jan/jun. 20. Paula S, Bittencourt LP, Pimentel E, Gabrielli Filho PA, Impa- 4. Imparato JCP. et col. Banco de Dentes Humanos.1ª ed. Para- rato JCP. Comercialização de dentes nas Universidades. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2001; 1(3) set/dez. 38-41. ná: Editora Maio, 2003. 5. Zucco D, Kobe R, Fabre C, Madeira L, Baratto Filho, F. Avaliação do nível de conhecimento dos acadêmicos do curso de Odontologia da UNIVILLE sobre a utilização de dentes extraídos na graduação e banco de dentes. RSBO, 2006; 3 (1):54- 21. Maggioni A R, Maggioni AR, Scelza MFZ, Silva LE, Salgado VE, Borges DO, Maciel ACC Banco de dentes Humanos na percepção dos acadêmicos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense. Rev.Fluminense de Odontol. Rio de Janeiro. 2010; 33 (1):27-30. 58 ISSN 1806-7727 6. Pires LAG, Cerveira J. A Bioética na Odontologia. Stomatos. 22. Poletto MM, Moreira M, Dias MM, Lopes MGK, Lavoranti OJ, Pizzatto E. Banco de dentes humanos: perfil sociocultural de 2003; 9 (17):7-12. 7. Costa SM, Mameluque S, Brandão EL, Melo AEMA, Pires CPAB, Rezende EJC, Alves KM. Dentes humanos no ensino odontológico: procedência, utilização, descontaminação e armazenamento pelos acadêmicos da UNIMONTES. Revista da um grupo de doadores. RGO, Porto Alegre, 2010; 58(1): 9194 jan/mar. 23. Vanzelli M, Ramos DLP, Imparato JCP. Valorização do Dente como um órgão. In: Banco de dentes Humanos. Paraná: Editora Maio; 2003.p35-37. ABENO. 2005; 7 (1):6-12. 8. Freitas ABDA, Castro CDL, Sett GS, Barros LM, Moreira A N, Magalhães CS. Uso de dentes extraídos nas pesquisas odontológicas publicadas em periódicos Brasileiros de acesso online gratuito: um estudo sob o prisma da bioética. Arquivos em Odontologia. 2010; 46 (3):136-143. 9. Muratori G. La Banca del Dente. Dental Cadmos.1969. 10. Mathieu L, Fleurette J, Transy MJ .Les Transplantions Dentaires: constitution d’une Banque de dents et problèmes de stérilisation. Ann Odontostomatol (Lyon)1970. 11. Gabrielli F, Dinelli W, Fontana UF, Porto, CLA RGO, Porto Alegre.1981;29(2):83-87. 24. Silva M. Compêndio de Odontologia Legal. Rio de Janeiro: Medsi,1997 p.89-90. 25. Pereira DQ. Levantamento dos Bancos de Dentes Humanos dos Cursos de Odontologia do Brasil e a Experiência na criação do Banco de Dentes Humanos da Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia. [tese]. Salvador (BA): Programa de Pós-graduação de Medicina e Saúde, Universidade Federal da Bahia; 2012. 26. Informes Técnicos Institucionais. Diretrizes nacionais para biorrepositórios e Biobancos de materiais humanos em pesquisa. Ministério da Saúde. Rev.Saúde Pública, 2009; 43(5): 898-9. 12. Vinholes J I A, Fernandes D C, Ritzel IF. Banco de Dentes Humanos no curso de Odontologia da ULBRA- Campus Torres. Conversas Interdisciplinares 1(1) ISSN 2176-1051. 184 Revista da ABENO r 12(2):178-84 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Banco de dentes humanos e educação em saúde na Universidade Federal do Amazonas. Relato de experiência Emílio Carlos Sponchiado Júnior*, Camila Coelho Guimarães*, André Augusto Franco Marques**, Maria Augusta Bessa Rebelo*, Nikeila Chacon de Oliveira Conde*, Maria Fulgência Costa Lima Bandeira*, Juliana Vianna Pereira* * Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas ** Faculdade de Odontologia da Universidade do Estado do Amazonas RESUMO A população brasileira ainda esta a mercê de profissionais ilegais ou despreparados que realizam extrações dentais desnecessárias visando apenas o lucro dos procedimentos clínicos e até a venda do órgão dental. Muitas vezes são extraídos dentes hígidos ou parcialmente afetados, que poderiam ser tratados e salvos; deste modo os pacientes perdem muitos elementos dentais prejudicando assim sua qualidade de vida. Uma forma de combater este tipo de atitude seria por meio da educação da população sobre a importância de uma boa saúde bucal e da valorização do dente como órgão do sistema estomatognático, enfatizando para o paciente que antes de aceitar um tratamento radical baseado na extração dental, ele teria o direito de escolher outros tratamentos conservadores que manteriam o elmento dental em função na cavidade bucal. Além disso, mesmo quando a extração é necessária, tanto os profissionais quanto os órgãos públicos, não descartam o dente extraído de forma correta, muitas vezes esse material é descartado no lixo comum. O ideal seria que estes dentes extraídos fossem acondicionados em um banco de dentes para minimizar a poluição biológica e desta forma até serem reaproveitados nas universidades por meio da utilização em pesquisas ou treinamentos laboratoriais. As instituições que mantém cursos de Odontologia poderiam institucionalizar seus bancos de dentes que atuariam na educação em saúde e no gerenciamento correto dos elementos dentais extraídos, diminuindo assim esta problemática. DESCRITORES Banco de Dentes. Órgão Humano. m grande dilema nos cursos de Odontologia do Brasil é sobre o que fazer com os dentes extraídos, por motivos terapêuticos, nas diversas disciplinas de seus cursos. Muitas vezes os próprios professores destas disciplinas descartavam os dentes em lixo biológico ou os armazenavam por longos anos sem nenhum cuidado com sua descontaminação ou registros de sua origem. Ainda hoje esta prática é muito comum no Brasil, visto a falta de informação dos atores do processo ou a própria ausência de um serviço que organize ou normatize esta prática.6 Além disto, a populacão escolarizada é pouco instruída a visualizar o dente como órgão do corpo humano, pelo contrario, muitos ainda procuram os cirurgiões-dentistas para extraí-los por qualquer situação que lhes incomode.8 Alguns cursos de Odontologia no Brasil acabaram institucionalizando os Bancos de Dentes Humanos (BDH) em suas unidades, para suprirem suas necessidades de gerenciamento biológico no armazenamento ou descarte dos dentes extraídos por suas disciplinas, além disto os dentes extraídos após o processo de limpeza e descontaminação podem ser emprestados para os pesquisadores ou utilizados para o treinamento pré-clínico dos alunos da Graduação.5 Outra vertente que o banco de dentes pode trabalhar seria na educação em Saúde, tentando influenciar a comunidade sobre a importancia do elemento dental como órgão funcional e participante do sistema estomatognático do ser humano. A concepção de um banco de dentes humanos foi citado na literatura em 1981 onde os autores utilizavam fragmentos coronários selecionados de um banco de dentes para realizar reconstruções estéticas.3 Geralmente os bancos de dentes devem manter um acervo U Revista da ABENO r 12(2):185-9 185 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTFFEVDBÉÈPFNTBÙEFOB6OJWFSTJEBEF'FEFSBMEP"NB[POBT3FMBUPEFFYQFSJËODJBr Sponchiado Júnior EC, Guimarães CC, Marques AAF, Rebelo MAB, Conde NCO, Bandeira MFCL, Pereira JV de dentes preservados, em condições que possibilitem sua utilização, evitando assim práticas ilegais de obtenção de dentes com penas prescritas na lei e, além disso, conferir biossegurança no manejo destes dentes.1,2 O curso de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) também procurou organizar em sua unidade um banco de dentes acrescentando um objetivo social de educação em saúde para a comunidade, além das outras funções ligadadas a biossegurança já mencionadas anteriormente. Com o relato desta experiência espera-se contribuir para que outras instituições também organizem e operacionalizem seus bancos de dentes humanos. JUSTIFICATIVAS PARA A ORGANIZAÇÃO DE UM BANCO DE DENTES HUMANOS Didática, pesquisa e biossegurança Os cursos de graduação em Odontologia no Brasil, desde sua fundação em 1884, sempre utilizaram dentes humanos no treinamento laboratorial dos graduandos ou nas pesquisas odontológicas. Algumas alternativas surgiram para diminuir a utilização destes dentes, como simuladores e dentes confeccionados em resina, porém esses artefatos são caros e muitas vezes não fornecem a similaridade necessária para o treinamento nas atividades laboratoriais odontológicas. Os discentes, muitas vezes, pela dificuldade para a obtenção desses dentes, recorrem a meios ilícitos, comprando-os em cemitérios, em clínicas populares, de alunos veteranos, postos de saúde ou de funcionários técnico-laboratoriais.3-5 Essa forma de obtenção dos dentes humanos expõe os alunos às consequências jurídicas e éticas decorrentes dessa aquisição illegal além da exposição biológica aos microrganismos nocivos à saúde advindos da infecção cruzada.1 Extensão universitária Somente por meio das doações é possível a complementação e manutenção de um estoque de dentes suficiente para suprir as necessidades de ensino e de pesquisas da instituição a que o BDH está vinculado.5 Para incentivar as doações é necessário um trabalho de educação em saúde na comunidade interna e externa em que o banco esta instalado. Os meios de comunicação devem ser explorados ao máximo para a divulgação das ações do banco de dentes. +_;` da UFAM Geralmente um banco de dentes nasce de um grupo de docentes e discentes ligados a alguma disci- 186 plina do curso ou os próprios gestores da unidade nomeiam uma comissão para iniciar o planejamento de instalação do BDH. Na Faculdade de Odontologia da UFAM houve um interesse da Direção da unidade em conjunto com a determinação de professores e alunos envolvidos em um grupo de extensão da área de Endodontia. Deste modo a Direção nomeou este grupo por meio de uma portaria para que o setor fosse instalado. O grupo contava com 6 professores e 2 discentes, o primeiro passo foi a criação de um projeto para a instalação do novo setor na faculdade. No projeto os principais pontos trabalhados foram a exposição da problemática do manejo dos dentes extraídos, as justificativas para ciração do setor, os organogramas de operacionalização do banco, além do planejamento para alocação do espaço físico, aquisição de equipamentos e recursos humanos. Após aprovação do projeto no conselho diretor da unidade e da aquiescência do CEP institucional, o banco de dentes foi criado em 11 de dezembro de 2009; foram exatamente 12 meses de planejamento deste o projeto até a inauguração do setor. A primeira etapa de instalação foi o preparo do espaço físico; para isto houve apoio da direção da faculdade, além dos chefes do laboratório de microbiologia da faculdade que cederam espaço e equipamentos de seus laboratórios. O setor do banco de dentes foi planejado com divisórias, em anexo ao laboratório de microbiologia em um espaço de 30 metros quadrados divididos em recepção/secretaria e setor de preparo e estoque de dentes. Os equipamentos permanentes compreenderam em um freezer vertical, duas autoclaves, bancadas com pias, um ultrassom, armários de metal, mobiliário de escritório e computador tipo PC. O projeto do banco de dentes foi submetido e contemplado em um edital de extensão da UFAM/ MEC e recebeu financiamento de material para divulgação e de uma bolsa para manutenção de um estudante de Odontologia no setor durante 12 horas por semana, o projeto é renovado a cada semestre e já está em sua terceira edição. Com isso o banco de dentes recebe incentivos da Pró-reitoria de Extensão, mantém seu funcionamento e realiza ações de extensão na comunidade em que a faculdade está instalada, melhorando a educação em saúde desta população. OPERACIONALIZAÇÃO DO BANCO DE DENTES Educação em saúde por meio da extensão universitária Após a inauguração do setor, foi realizada a sensi- Revista da ABENO r 12(2):185-9 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTFFEVDBÉÈPFNTBÙEFOB6OJWFSTJEBEF'FEFSBMEP"NB[POBT3FMBUPEFFYQFSJËODJBr Sponchiado Júnior EC, Guimarães CC, Marques AAF, Rebelo MAB, Conde NCO, Bandeira MFCL, Pereira JV bilização dos docentes, discentes e técnicos da faculdade de Odontologia sobre a importância do banco de dentes para a unidade acadêmica por meio de palestras e em um segundo momento foram iniciados os trabalhos de educação para os usuários dos serviços odontológicos da UFAM. Para isto o BDH mantém um sítio de informações sobre seu funcionamento e atividades no site da faculdade e nas redes sociais. Além disto são expostos cartazes permanentes nas dependências físicas do campus universitário, postos de saúde, edifícios comerciais, conselhos profissionais, hospitais públicos e especificamente na faculdade de Odontologia são fixados painéis na sala de espera e nos corredores de acesso chamando a atenção sobre o novo setor. Além disto, os discentes envolvidos com o BDH realizam a distribuição periódica de folders informativos para os usuários das clínicas, distribuição de história em quadrinhos para as crianças da comunidade (Figura 1) e palestras anuais para os alunos e Figura 1 - História em quadrinhos utilizada na campanha de divulgação. Revista da ABENO r 12(2):185-9 187 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTFFEVDBÉÈPFNTBÙEFOB6OJWFSTJEBEF'FEFSBMEP"NB[POBT3FMBUPEFFYQFSJËODJBr Sponchiado Júnior EC, Guimarães CC, Marques AAF, Rebelo MAB, Conde NCO, Bandeira MFCL, Pereira JV professores do curso visando sensibilizar a comunidade sobre a importância da doação de dentes e da valorização do mesmo como órgão. Doação dos dentes O banco de dentes recebe doação de duas formas, a primeira é interna, das próprias disciplinas do curso. Em cada ambulatório da faculdade existem pontos de coleta permanente em que os dentes extraídos nas disciplinas que ali estão, depositam os dentes no ponto de coleta e os mesmos são recolhidos a cada 3 dias para processamento e conferência dos termos de doação que estão nos prontuários dos pacientes. A outra forma é a doação externa, em que cirurgiões-dentistas ou qualquer indivíduo doa os elementos dentais extraídos em estabelecimentos públicos ou privados. O doador assina um termo de doação se responsabilizando pela procedência dos elementos dentais. Preparo dos dentes A preparação dos dentes doados se insere nas etapas de desinfecção, seleção, estocagem, esterilização e estudo anatômico. Os dentes doados recebem uma limpeza mecânica com auxílio de água, escova e sabão. Em seguida são removidos os cálculos e restos ósseos por meio da raspagem da superfície com aparelho de ultrassom. Os dentes são separados por grupos segundo a anatomia e depositados em um recipiente contendo água destilada. Após esterilização, estes recipientes são armazenados no freezer, contendo água esterilizada em seu interior, em uma temperatura de –20ºC. É importante enfatizar o aspecto de ainda não se ter encontrado um método de esterilização ou uma solução desinfetante que não interfira, de algum modo, nas propriedades físico-químicas dos dentes, o que pode vir a comprometer os resultados dos testes in vitro realizados com os dentes que recebem algum tipo de tratamento. Entretanto, deve-se ressaltar a importância de se manter o dente esterilizado, visto que, como todo órgão do corpo humano, o elemento dental é fonte de patógenos severos para o homem.6 Empréstimo dos dentes O BDH por suas características ligadas ao armazenamento de material biológico e sua disponibilização para pesquisas científicas, está sujeito a regras e normas institucionais que visam proteger a todos aqueles que de forma direta ou indireta faz-se doa- 188 dores de seus dentes. Sendo assim o BDH e o CEP da UFAM fazem a intermediação quando da liberação dos dentes para o pesquisador que submeteu sua pesquisa para avaliação e a entrega dos dentes se dá somente após a apresentação da aprovação do projeto de pesquisa pelo CEP local. Deste modo, o pesquisador apresenta junto com seu projeto para o CEP um termo do BDH indicando que os dentes estão separados para o pesquisador e que a entrega se dará após aprovação do projeto. Para as atividades de ensino na Faculdade de Odontologia, a cada início de semestre os professores responsáveis por disciplinas que vão utilizar dentes extraídos, podem fazer a solicitação ao banco de dentes do número de elementos necessários e caso haja estoque o pedido é atendido mediante a garantia de devolução ao final da disciplina. A avaliação da operacionalização e aceitação pela comunidade local deverá ser sondada no ano de 2013 para que seja apontado correções no projeto original do banco de dentes e também para nortear o plano de ação das atividades de educação para a comunidade nos próximos 3 anos. O futuro de um banco de dentes pode ser previsto conforme pesquisadores coreanos relataram, que os bancos de dentes deveriam conservar seus espécimes por meio da criogenia para possibilitar futuros transplantes, pois é observado a capacidade de viabilidade e diferenciação das células do ligamento periodontal, porém o método de criopreservação ainda causa fratura e danos ao tecido dental e novas pesquias estão sendo feitas para viabilizar a aplicação clínica em um futuro próximo.7 ABSTRACT Human tooth bank and health education at the Federal University of Amazonas: an experience report The Brazilian population is still at the mercy of illegal and unprepared professionals who perform unnecessary tooth extractions, seeking only to profit from clinical procedures and even to selling the dental organ. Patients often lose many teeth because healthy or partially affected teeth, which could have been treated and restored, are frequently extracted, ultimately affecting the patient’s quality of life. One way of preventing this from occurring is by educating the population about the importance of good oral health and by helping people understand that the tooth is an organ of the stomatognathic system. It must also be pointed out that, before accepting a Revista da ABENO r 12(2):185-9 #BODPEFEFOUFTIVNBOPTFFEVDBÉÈPFNTBÙEFOB6OJWFSTJEBEF'FEFSBMEP"NB[POBT3FMBUPEFFYQFSJËODJBr Sponchiado Júnior EC, Guimarães CC, Marques AAF, Rebelo MAB, Conde NCO, Bandeira MFCL, Pereira JV radical treatment entailing tooth extraction, patients have the right to choose other more conservative treatments that could maintain the function of the tooth in the oral cavity. Moreover, even when an extraction is required, neither dental professionals nor public agencies discard the extracted tooth correctly; oftentimes, it is discarded as common trash. Ideally, these extracted teeth could be placed in a tooth bank to minimize biological pollution and would be reused by universities for research or laboratory training. Universities that have dentistry courses could institutionalize their tooth banks, these could be involved in health education activities, and the extracted teeth could be correctly managed, thus reducing the problem. 2. Duarte, DA. Organização e Funções de Banco de Dentes Decíduos. J Bras Odontopediat e Odontol Bebes. 1998;1(1):3-6. 3. Gabrielli-Filho, PA, Dinelli,W, Fontana, UF, Porto, CLA. Apresentação e avaliação clínica de uma técnica de restauração de dentes anteriores, com fragmentos adaptados de dentes extraídos. RGO, 1981; 29(2):83-7. 4. Gabrielli-Filho, PA, Imparato, JCP, Guedes-Pinto, AC. 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Revista da ABENO r 12(2):185-9 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 189 Contribuições das atividades complementares na formação Alessandra M. Ferreira Warmling*, Ana Lúcia S. Ferreira de Mello**, Débora Schramm Naspolini***, Graziela de Luca Canto****, Elisa Remor de Souza***** * Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva; Doutoranda do PPGOUFSC; Professora Substituta do Depto. de Odontologia da UFSC ** Doutora em Odontologia em Saúde Coletiva pelo PPGO-UFSC; Professora do Depto. de Odontologia da UFSC *** Mestranda em Odontologia em Saúde Coletiva do PPGO-UFSC **** Doutora em Odontopediatria pelo PPGO-UFSC; Professora do Depto. de Odontologia da UFSC ***** Cirurgiã-dentista graduada pela UFSC RESUMO Objetivo: Caracterizar a inserção de atividades complementares em um curso de graduação em Odontologia, bem como sua contribuição para a formação profissional. Métodos: Trata-se de uma pesquisa transversal, exploratória, com abordagem quanti-qualitativa. O levantamento de dados deu-se a partir da aplicação de um questionário a todos os discentes do último ano do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, durante três semestres (2011.2, 2012.1, 2012.2). Os dados quantitativos foram tabulados e analisados por meio de análise estatística descritiva com o auxílio do aplicativo Googledocs para formulários de pesquisa. Realizaram-se, também, entrevistas em profundidade com 10 discentes que responderam ao questionário, cujos dados qualitativos foram analisados segundo os pressupostos da Análise de Conteúdo. Resultados: Participaram da pesquisa 70 discentes; destes, 93% haviam participado de alguma atividade complementar durante a graduação. As atividades foram realizadas principalmente na área de Odontologia em Saúde Coletiva (67%) e se relacionavam com mais frequência a estágios e atividades de extensão. Destas atividades, 33% estavam relacionadas ao trabalho de conclusão de curso do discente, enquanto apenas 9% estavam vinculadas à pós-graduação; 65% dos discentes consideraram que a participação nestas atividades contribuiu muito para a sua formação. Os resultados obtidos através dos dados qualita- 190 tivos foram agrupados em 03 categorias relativas aos Fatores que influenciam na participação dos alunos nas atividades complementares, a Importância da participação em atividades complementares e às Limitações na realização de atividades complementares. Conclusão: Grande parte dos discentes participou de alguma atividade complementar durante a sua formação e considerou essa participação positiva, indicando que o curso em questão tem disponibilizado esse tipo de oportunidade. Uma boa adequação didático-pedagógica das atividades complementares parece influenciar no modo como o aluno percebe a importância e valoriza a participação nessas atividades, como auxiliar no seu processo de ensino-aprendizagem na formação profissional em Odontologia. DESCRITORES Educação em Odontologia. Educação Superior. Currículo. formação dos profissionais da saúde no Brasil esteve baseada em um modelo pedagógico orientado ao ensino para uma assistência tecnicista, fragmentada e especializada às doenças e agravos à saúde. A insuficiência de tal modelo para atender as necessidades em saúde das populações passou a ser reconhecida, de tal forma que as instituições de ensino superior iniciaram um movimento de revisão dos seus currículos.1 As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para A Revista da ABENO r 12(2):190-7 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER os Cursos de Odontologia definiram princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de cirurgiões-dentistas. Constitui, atualmente, a referência, em âmbito nacional, na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Odontologia das Instituições do Sistema de Ensino Superior.2 Auxiliando a implantação das DCN, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), criado em 2005, fomenta e incentiva a aproximação da formação profissional com os serviços de saúde e com a comunidade, desenvolvendo-se sob três eixos: r orientação pedagógica, r orientação teórica e r cenários de prática. O Programa tem estimulado a inserção dos estudantes nos cenários de prática e ocorre desde os primeiros semestres do curso. Tais cenários são localizados, em sua maioria, nos serviços de saúde, fortalecendo a integração ensino-serviço-comunidade e o contato com o Sistema Único de Saúde.3 A inserção nos currículos de graduação de Odontologia de oportunidades de ensino-aprendizagem em ambientes fora da universidade tem se demonstrado valiosa e com grande poder de transformação. Tanto o volume quanto a diversidade de experiências vivenciadas parece contribuir substancialmente para a maturidade clínica dos estudantes.4 Cada vez mais, evidencia-se a necessidade de se oportunizar o contato dos alunos de Odontologia com a realidade social, no sentido de aproximá-los das histórias sociais dos pacientes. Segundo estudo de Holmes (2011), após os estudantes participarem de uma experiência de extensão na comunidade com foco nos cuidados primários de saúde bucal, estes relataram maior consciência do significado e importância de se obter um histórico detalhado dos pacientes.5 Nesse sentido, a experiência promoveu uma maior conscientização dos alunos sobre a relação entre o modo de vida dos pacientes com seus aspectos bucais, as doenças e agravos bucais diagnosticados. Tradicionalmente, os estudos sobre o processo ensino-aprendizagem em Odontologia focam o espaço do consultório como uma oportunidade para ensinar e aprender. A abordagem ainda tem sido aquela em que o preceptor da clínica ajuda o estudante a coletar dados sobre a condição do paciente, analisá-los, considerar as evidências científicas e perfil do paciente e formular diagnósticos e planos de tratamento. Entretanto, mesmo nesse âmbito, já se reconhece a necessidade do papel ativo dos estudantes na construção seu próprio conhecimento e a promoção do pensamento crítico.6,7 A complexidade crescente que vem acompanhando as necessidades de cuidados de saúde bucal da população tem demandado novos modelos de educação. Para enfrentar esses desafios, é responsabilidade das instituições de ensino superior, proporcionar um ambiente que promove a descoberta e a atividade acadêmica, abraça filosofias baseadas em evidências, incentiva parcerias com outras unidades do campus e da comunidade, incluindo a internacional, e reconhece a riqueza da diversidade de pessoas e pensamentos. Além de novas iniciativas e oportunidades curriculares, reconhece-se a necessidade de construir parcerias fora das “quatro paredes” das instituições.8 Frente a este contexto, no qual as oportunidades de ensino aprendizagem em cenários de prática diferenciados, extracurriculares, têm demonstrado agregar valor na reorientação da formação profissional, esta pesquisa foi conduzida com o objetivo de caracterizar a inserção de atividades complementares no curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), bem como sua contribuição para a formação profissional. MÉTODOS Esta pesquisa foi realizada em duas etapas. Primeiramente, foi realizada uma pesquisa transversal e exploratória. O levantamento de dados foi feito a partir da aplicação de um questionário a todos os discentes do último ano do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, durante três semestres (2011.2, 2012.1, 2012.2). Os dados foram tabulados e analisados utilizando a ferramenta disponível no aplicativo Googledocs para formulários de pesquisa. Esta ferramenta auxiliou na tabulação dos dados e na análise estatística descritiva dos mesmos. O segundo momento se caracteriza como um estudo qualitativo, quando foi feito um levantamento de dados a partir de entrevistas abertas com 10 discentes do último ano do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, que responderam ao questionário, escolhidos aleatoriamente e convidados para participar de uma entrevista individual, com a finalidade de descrever as percepções dos discentes a respeito da inserção das atividades complementares no curso de graduação. As entrevistas foram gravadas com auxílio de gravador digital e o conteúdo foi transcrito como documento do Word, constituindo dados qualitativos brutos. Revista da ABENO r 12(2):190-7 191 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER A análise dos dados transcritos foi realizada seguindo os pressupostos da Análise de Conteúdo de Bardin.9 Seguindo o método, a análise textual foi feita em três etapas: a) Pré-análise: fase de organização dos dados designada como “leitura flutuante” dos dados brutos. Nesse momento são apreciadas as respostas textuais pertinentes ao objetivo da pesquisa. b) Exploração do material: fase que consiste nas operações de codificação (transformação de dados brutos em temas) e categorização do conteúdo textual (operação de classificação dos temas por semelhança ou diferenciação, resultando na composição de categorias). c) Tratamento dos resultados, com inferência e interpretação: fase final na qual foram realizadas inferências e interpretações sobre os dados já tratados, analisando qualitativamente os temas e categorias, bem como suas inter-relações. Os dados foram analisados e agrupados conforme a natureza das informações. Após esse agrupamento cada informação foi confrontada com a literatura científica. Nesta segunda etapa, os dados foram organizados e analisados com o auxílio do software Nvivo9.0. O projeto referente a esta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo sido aprovado (Parecer no 2100/12). Todos os participantes foram convidados a participar voluntariamente do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS Participaram da primeira etapa deste estudo 70 discentes do último ano do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, destes 24 eram do sexo masculino (34%), e 46 do sexo feminino (66%). Os resultados apontam que 65 destes (93%) já haviam participado de alguma atividade complementar durante a graduação, principalmente nas áreas de Odontologia em Saúde Coletiva e estavam relacionadas com maior freqüência a atividades de estágio e de extensão (Tabela 1). Estas atividades eram divulgadas aos alunos, principalmente, por meio dos professores e outros alunos participantes, desenvolvidas em diferentes cenários de prática, tanto dentro quanto fora da Universidade e contavam com a participação de professores do curso, alunos de pós-graduação, além de profissionais do serviço e alunos e professores de ou- 192 Tabela 1 - Perfil dos discentes e principais atividades com- plementares (N = 70), UFSC, Florianópolis, 2011-2012. Sexo Participação na atividade Área de conhecimento relacionada* Número Percentual total Masculino 24 34% Feminino 46 66% Já participou 65 93% 5 7% Área básica 23 31% Área clínica 41 59% Área odontologia em saúde coletiva 47 67% Nunca participou Outras Atividade relacionada* 4 6% Pesquisa iniciação científica 21 30% Extensão 39 56% Monitoria 27 39% Estágio 52 74% Programa PET 29 41% 8 11% Outra *Os discentes podiam marcar mais de uma opção, então a soma das percentagens pode ultrapassar 100%. tros cursos de graduação (Tabela 2). Com relação ao tempo de desenvolvimento da atividade complementar, a maioria dos discentes participou por um tempo médio que variou entre 2 e 6 semestres do curso de graduação. As fases do curso de graduação (semestres) nas quais os discentes mais desenvolveram estas atividades estavam concentradas entre a 6ª e 9ª (Tabela 3). Os incentivos financeiros estão relacionados principalmente à bolsa PET, embora muitos alunos participem destas atividades complementares voluntariamente sem receber nenhum tipo de bolsa (Tabela 4). Quanto à produção científica vinculada às atividades complementares, 33% estavam relacionadas ao trabalho de conclusão de curso do discente, enquanto apenas 9% estavam relacionadas a dissertações de mestrado ou teses de doutorado. Ainda, 64% dos discentes apresentaram trabalhos, em eventos científicos (congressos, seminários, simpósios) que estavam relacionados às atividades das quais participavam, sendo que 7% publicaram artigo científico. Algumas atividades complementares estavam relacionadas a grupos de pesquisa (Tabela 5). Com relação à percepção dos discentes a respeito da contribuição da atividade complementar na sua formação profissional, 65% consideraram que a par- Revista da ABENO r 12(2):190-7 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER Tabela 2 - Caracterização das atividades complementares (N = 70), UFSC, Florianópolis, 2011-2012. Número Percentual total Professores 45 64% Alunos participantes 46 66% 15 21% Formas de divulgação* Cartazes, sites ou redes sociais Outras 06 09% Universidade no curso de Odontologia 24 34% Universidade fora do curso de Odontologia 14 20% Cenários de Somente fora da prática* universidade 10 14% Tabela 3 - Duração das atividades complementares (N = 70), UFSC, Florianópolis, 2011-2012. Tempo de desenvolvimento (semestres) Fase(s) do curso desenvolvida(s)* Número Percentual total 01 – 03 29 42% 04 – 06 29 41% 07 – 10 12 17% 1ª- fase 05 07% 2ª- fase 14 20% 3ª- fase 33 47% 4ª- fase 19 27% 5ª- fase 30 43% 6ª- fase 42 60% 7ª- fase 53 76% Dentro e fora da universidade 39 56% 8ª- fase 54 77% Outros 04 06% 9ª- fase 40 57% Professores do curso de Odontologia 63 90% 10ª- fase 16 23% Alunos de pós-graduação 27 39% Atores Profissionais do envolvidos* serviço 38 54% Alunos/professores de outros cursos 27 39% Outros 04 06% *Os discentes podiam marcar mais de uma opção, então a soma das percentagens pode ultrapassar 100%. ticipação nestas atividades contribuiu muito para a sua formação profissional (Gráfico 1). No segundo momento, caracterizado como um estudo qualitativo, foram entrevistados 10 discentes. Na análise dos dados obtidos, desvelou-se o conteúdo a respeito da inserção das atividades complementares no curso de graduação e as implicações da participação nestas atividades na formação acadêmica. Os resultados foram agrupados em 03 categorias relativas aos Fatores que influenciam na participação dos alunos nas atividades complementares, a Importância da participação em atividades complementares e às Limitações na realização de atividades complementares. Segundo os alunos, os fatores que influenciam na participação em atividades complementares estão relacionados ao excesso de carga horária na grade curricular e de tarefas demandadas pela graduação, que inviabilizam a inclusão desse tipo de atividades e limitam o tempo também para outras, não relacionadas à formação acadêmica, como as de lazer. Outros fatores que influenciam incluem o desconhecimento por parte dos alunos dos projetos nos quais pode- *Os discentes podiam marcar mais de uma opção, então a soma das percentagens pode ultrapassar 100%. Tabela 4 - Incentivos financeiros associados às atividades complementares (N = 70), UFSC, Florianópolis, 20112012. Número Percentual total PET Tipo de bolsa* 28 40% Permanência 08 11% PIBIC 08 11% Extensão 17 24% Monitoria 19 27% Não recebeu bolsa (voluntário) 34 49% Outra 05 7% *Os discentes podiam marcar mais de uma opção, então a soma das percentagens pode ultrapassar 100%. riam estar envolvidos, o número reduzido de vagas ofertadas e a não remuneração das atividades. Os alunos também relatam o fato de procurarem buscar as atividades complementares que mais lhes interessam (Quadro 1). Os alunos destacaram a importância da participação em atividades complementares. Relataram que estas atividades proporcionam mais oportunidades de contato com pacientes e também com outras áreas de conhecimento. Estas proporcionam uma visão diferente da Odontologia ao sair da rotina da sala de aula, expandindo os horizontes do aluno, retirando-o do círculo exclusivo do curso de graduação, percebendo as mudanças na comunidade em que atuam e Revista da ABENO r 12(2):190-7 193 Contribuições das atividades complementares na formação profissional em odontologia • Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER 7DEHOD Produção científica relacionada à atividade 4XDGUR Fatores que influenciam na participação dos complementar (N = 70), UFSC, Florianópolis, 2011-2012. alunos nas atividades complementares. 3URGXomR FLHQWtILFD UHODFLRQDGD 5HODomRFRP JUXSRVGH SHVTXLVD 3HUFHQWXDO WRWDO 7UDEDOKRGH FRQFOXVmRGHFXUVR 'LVVHUWDomRGH PHVWUDGRGHDOXQR GHSyVJUDGXDomR 7HVHGHGRXWRUDGR GHDOXQRGHSyV JUDGXDomR 1mRHVWDYD UHODFLRQDGR 2XWUDV 5HGX]LGRQ~PHURGHYDJDVRIHUWDGDVQDVDWLYLGDGHV FRPSOHPHQWDUHVHPUHODomRDRQ~PHURGHDOXQRV 3XEOLFRXDUWLJR FLHQWtILFR $WLYLGDGHVFRPSOHPHQWDUHVVHPUHPXQHUDomR $SUHVHQWRX WUDEDOKRVHP HYHQWRVFLHQWtILFRV 1mRWHYHQHQKXPD SURGXomRFLHQWtILFD 2XWUDV 6LP 1mR 1mRVRXEHLQIRUPDU ([FHVVRGHFDUJDKRUiULDFXUULFXODU ([FHVVRGHWDUHIDVDGYLQGDVGDVDWLYLGDGHVFXUULFXODUHV *UDGHGHKRUiULRVLQYLDELOL]DLQFOXVmRGHDWLYLGDGHV FRPSOHPHQWDUHV $WLYLGDGHVH[WUDFXUULFXODUHVOLPLWDPRWHPSRGHOD]HURXSDUD TXDOTXHURXWUDDWLYLGDGHQmRUHODFLRQDGDjIRUPDomR 'HVFRQKHFLPHQWRGRVSURMHWRVQRVTXDLVSRGHULDPHVWDU HQYROYLGRV 3RVVLELOLGDGHGHHVFROKDFDGDDOXQREXVFDRTXHSUHWHQGH ID]HURTXHWHPPDLVLQWHUHVVH ! @UbSU`|z_ $WLYLGDGHV FLHQWtILFDV UHODFLRQDGDV 1~PHUR !! " '! !&"# # !'"$ $ ")$! % 2VGLVFHQWHVSRGLDPPDUFDUPDLVGHXPDRSomRHQWmRDVRPDGDVSHUFHQWD JHQVSRGHXOWUDSDVVDU & !" !( "$ # >]Ub_c *UiÀFR Percepção dos discentes à respeito da contri- também os aspectos teóricos na prática clínica profissional. Ainda, segundo os alunos, a participação em atividades complementares é vista como uma maneira de aprenderem um pouco mais sobre áreas específicas da Odontologia que mais gostam, contribuindo para o aperfeiçoamento profissional e direcionando também para uma futura carreira, por exemplo, via pós-graduação (Quadro 2). Com relação às limitações na realização de atividades complementares os alunos relataram que, dependendo da atividade, esta pode ou não vir a acrescentar no currículo, e, em alguns casos, não ter importância em seu aprendizado, não cumprindo assim papel relevante na formação do aluno. Ainda citaram ter dificuldades no cumprimento do excesso de tarefas curriculares e não-curriculares e na administração do tempo de dedicação às atividades acadêmicas. Segundo os entrevistados, algumas atividades complementares não se relacionavam com a prática profissional em Odontologia, demonstrando pouco reconhecimento do valor da participação nas ativida buição da(s) atividade(s) complementar(es) na sua formação profissional (01 = pouco a 05 = muito) (N = 70), UFSC, Florianópolis, 2011-2012. des complementares em relação à futura atuação profissional (Quadro 3). ',6&866®2 A instituição de ensino superior em estudo viveu a revisão do seu currículo para a formação profissional em Odontologia e continua em movimento de qualificação do ensino para atender às reais necessidades em saúde da população, sustentado entre outros pilares, na aproximação da formação profissional com os serviços de saúde e comunidade. Este ponto está presente em alguns estudos.4,8,10-12 que discorrem sobre o reconhecimento de um modelo pedagógico insuficiente, orientado a um ensino focado numa prática odontológica assistencialista, tecnicista, fragmentada e especializada para enfrentamento das doenças e agravos à saúde, bem como, sobre a necessidade de revisão dos currículos para a Revista da ABENO • 12(2):190-7 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER Quadro 2 - Importância da participação em atividades Quadro 3 - Limitações na realização de atividades com- complementares. plementares. Proporciona mais oportunidades de contato com pacientes Atividades complementares ainda não cumprem papel relevante na formação do aluno Proporciona contato com outras áreas de conhecimento Dependendo da atividade, pode acrescentar muito no currículo ou não Aluno adquire mais experiência e agilidade Expande os horizontes do aluno, retirando-o do círculo exclusivo do curso Percepção de mudança ao atingir a comunidade na prática Dependendo da atividade, não tem muita importância no aprendizado para o aluno Dificuldades para cumprir o excesso de tarefas curriculares e não-curriculares. Proporciona breve saída da rotina da sala de aula Os alunos não possuem a mesma oportunidade de participar dessas atividades Possibilita o conhecimento de espaços fora da Universidade As atividades complementares não estavam relacionadas com práticas do profissional de odontologia Verificação de aspectos teóricos na prática Atividades entendidas como de pouco valor agregado quando relacionadas à orientação de pacientes e ao preenchimento de questionários Proporciona uma visão diferente da Odontologia Proporciona trabalhar com públicos diferentes, ajudando no reconhecimento de que são necessárias diferentes abordagens Promove mudança no modo como aluno enxerga o paciente Dificuldades para o aluno administrar o tempo de dedicação às atividades acadêmicas Falta de padronização das experiências Pouco reconhecimento do valor da participação nas atividades com relação à futura atuação na Odontologia Promove melhor compreensão dos alunos sobre os assuntos Recebe o auxílio dos monitores Ajuda na evolução e desempenho das disciplinas curriculares Ajuda a revisar os conhecimentos relacionados às disciplinas e aplicá-los melhor na clínica diária É uma maneira de o aluno aprender um pouco mais daquilo que gosta Proporciona experiências acadêmicas um pouco mais cedo Aperfeiçoamento para o mercado de trabalho. Direciona o aluno para carreira profissional, após a graduação Desperta interesse para pós-graduação É reconhecido como um diferencial para o aluno formação profissional em Odontologia, incluindo atividades que aproximavam os estudantes da realidade do serviço de saúde e contribuindo substancialmente para a maturidade dos estudantes. Reforçam, também, a necessidade de reestruturação curricular focada na integração disciplinar. Outros estudos apontam que as mudanças no currículo, fundamentadas nas novas DCN, formariam profissionais compatíveis com as exigências do mercado de trabalho: r críticos, r aptos a desenvolver ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação da saúde, r capazes de trabalhar em equipe e r de levar em conta a realidade epidemiológica e social para, embasados nesses princípios, prestar uma atenção à saúde mais humana e de qualidade.13,14 Um resultado importante a ser destacado é o fato de que a maior parte das atividades desenvolvidas pelos alunos estava relacionada à área de Odontologia em Saúde Coletiva, demonstrando uma maior oportunidade de contato dos discentes com a realidade social da população e com ações realizadas no âmbito do sistema público de saúde brasileiro. Os resultados demonstrados por Holmes (2011) reportaram maior consciência da importância de se obter um histórico detalhado dos pacientes, quando os alunos tiveram oportunidade de experimentar ações de cuidados primários em saúde bucal, realizadas diretamente na comunidade, refletindo até mesmo na elaboração de planos de tratamento individuais considerados pelos alunos mais adequados e realistas.5 O reconhecimento da necessidade do papel ativo e crítico dos estudantes no processo de construção do próprio conhecimento, bem como sobre a sua formação profissional, já é uma realidade.6,7 Quanto mais rápido os cursos de odontologia aderirem às mudanças, incluindo atividades que aproximem os estudantes da realidade da população e dos serviços de saúde, mais provavelmente os novos profissionais formados estarão capacitados e serão com- Revista da ABENO r 12(2):190-7 195 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER petentes e hábeis para lidar com dificuldades vivenciadas e, assim, contribuir para um sistema de saúde pleno e resolutivo. Nesse sentido, o cenário do SUS serve também como laboratório de aprendizagem e pesquisa, fazendo-se ciência a partir da vivência in loco da sua realidade e contribuindo para uma formação profissional mais humanitária baseada em cenários reais.14,15 A participação em atividades complementares que proporcionem este tipo de experiência pode contribuir para que o aluno compreenda melhor a organização dos serviços de saúde, além do estímulo ao fortalecimento do vínculo entre profissional da saúde e os usuários. Por outro lado, a integração dos cursos de Odontologia com a rede pública de saúde ainda se dá de forma incipiente e está em processo de construção. Os cursos ainda precisam avançar nas alianças e ações estratégicas, a fim de que as novas mudanças curriculares sejam efetivamente capazes de colaborar com o aperfeiçoamento do SUS.16 O fato das atividades complementares ao currículo serem desenvolvidas em diferentes cenários de prática, tanto dentro quanto fora da Universidade e, ainda, contar com a participação de professores do curso, alunos de pós-graduação, além de profissionais do serviço e alunos e professores de outros cursos de graduação, reforça a idéia de que diferentes espaços de aprendizagem devam ser efetivamente utilizados para o desenvolvimento de competências específicas. Essa questão é discutida num estudo que analisou experiências educativas de dentistas recém graduados sobre o desenvolvimento de competências em diferentes contextos de aprendizagem e de preparação para um desempenho profissional independente. Os autores concluíram que a importância atribuída a cada espaço poderia afetar o desenvolvimento de habilidades competências profissionais dos discentes.17 Com relação aos professores envolvidos nestas atividades, cabe ressaltar, que existe a necessidade de rever tanto a formação quanto a sua atualização didático-pedagógica para que se possa buscar uma formação profissional em Odontologia que responda às DCN (2002).18 Os resultados mostraram que as atividades complementares também estavam vinculadas à produção científica, como trabalho de conclusão de curso do discente, pesquisas de pós-graduação, apresentação de trabalhos em eventos científicos e publicação de artigos científicos. Identifica-se, assim, uma preocupação com a pesquisa e a instrução científica desde a graduação, espaço redimensionado pelas DCN 196 (2002) que considera a pesquisa científica como princípio educativo.19, 20 Embora limitado a apenas um curso de graduação em Odontologia, este estudo buscou promover uma reflexão sobre a inserção das atividades complementares durante o período de graduação, na visão dos discentes, analisando sua contribuição para a formação profissional. A melhor compreensão sobre a relação das atividades curriculares com aquelas complementares disponibilizadas, como estágios, atividades de pesquisa e extensão, as quais possibilitam ao aluno vivenciar a prática odontológica, em diferentes cenários de práticas, como por exemplo os serviços de saúde e a comunidade, pode vir a qualificar a formação de recursos humanos em Odontologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que grande parte dos alunos, durante o período de graduação, participou de alguma atividade complementar, o que indica que a Universidade e o curso de graduação de Odontologia em estudo, e seus professores, têm disponibilizado essas oportunidades aos discentes. De modo geral, os alunos consideraram que a participação nessas atividades contribuiu positivamente na sua formação acadêmica. Por outro lado, também consideraram que algumas atividades não acrescentam algo em seu currículo, não cumprindo assim papel relevante na formação acadêmica. Este fato pode ser reflexo de uma inadequação no planejamento e organização didático-pedagógica das atividades complementares ou o pouco reconhecimento, pelo aluno, do valor da participação nas mesmas. Sugere-se a realização de estudos mais detalhados no sentido de captar as percepções de outros atores como professores e gestores acadêmicos sobre a inserção das atividades complementares como instrumento auxiliar no processo de ensino-aprendizagem e para o desenvolvimento do profissional da Odontologia crítico-reflexivo. ABSTRACT Contributions of complementary activities in professional dental training Objective: Characterize the inclusion of complementary activities in an undergraduate dental course, and their contribution to professional training. Methods: This was an exploratory cross-sectional study with a quantitative and qualitative approach. During 2011 (2nd sem.) and 2012 (1st and 2nd sem.), all undergraduate students in their final year at the Federal Univer- Revista da ABENO r 12(2):190-7 $POUSJCVJÉ×FTEBTBUJWJEBEFTDPNQMFNFOUBSFTOBGPSNBÉÈPQSPàTTJPOBMFNPEPOUPMPHJBr Warmling AMF, Mello ALSF, Naspolini DS, Canto GL, Souza ER sity of Santa Catarina Dental School were asked to answer a questionnaire. The quantitative data were tabulated and analyzed using descriptive statistics, with the help of Google Docs® software for research forms. There were also in-depth interviews with 10 students who completed the questionnaire. The qualitative data were analyzed according to the content analysis framework. Results: There were 70 participants; 93% had been involved in complementary activities during their undergraduate studies. The activities were carried out mainly in the area of public health dentistry (67%) and were most often related to internships and outreach activities; 33% were related to the student’s final term paper for the course, whereas only 9% were related to graduate research; 65% of the students felt that participating in these activities contributed greatly to their education. The results obtained from the qualitative data were grouped into three categories related to the factors that influence student participation in complementary activities, to the importance of participating in complementary activities and to limitations while performing complementary activities. Conclusion: Most of the students participated in complementary activities during their university training and considered them a positive experience, indicating that the course in question provided this type of opportunity. The didactic and pedagogic organization of the complementary activities appears to influence how students perceive the importance and value of their participation in these activities, as an aid in the teaching-learning process of professional dentistry training. programme. Eur J Dent Educ 2011;15 (1) 3–7. 5. Holmes RD, Waterhouse PJ, Maguire A, Hind V, Loyd J, Tabari D, Lowry RJ. Developing an assessment in dental public health for clinical undergraduates attending a primary dental care outreach programme. Eur J Dent Educ 2011;15 (1): 19-25. 6. Mcmillan W. Making the most of teaching at the chairside. Eur J Dent Educ 2011;15(1): 63-8. 7. Sakaguchi, RL. Facilitating Preceptor and Student Communication in a Dental School Teaching Clinic. J Dent Educ 2010;74 (1): 36–42. 8. Ballweg R, Berg J, Derouen T, Fiset L, Mouradian W, Somerman MJ. Expanding Dental Education Partnerships Beyond the Four Walls. J Dent Educ 2011;75(3): 300–309. 9. Bardin L. L’Analyse de contenu. 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Evaluation of a dental outreach teaching Aceito em 10/12/2012 Revista da ABENO r 12(2):190-7 197 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina Gabriella Machado Vieira*, Graziela de Luca Canto** * Aluna do curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina ** Professora Doutora do curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO O curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina passou recentemente por alterações curriculares embasadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Odontologia. A alteração do projeto pedagógico foi realizada em 2006, em concordância com a Resolução nR 3/02 CNE/CES, de 19 de fevereiro de 2002, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. O novo currículo entrou em vigor no primeiro semestre de 2007. Objetivando avaliar a reforma curricular a partir da comparação entre os conhecimentos de diagnóstico dos alunos do antigo e dos alunos do novo currículo, suas opiniões sobre o curso e suas aptidões profissionais foi aplicado um questionário contendo 20 questões sobre diagnóstico em Odontologia e 4 questões relacionadas ao curso de graduação e sua aptidão profissional. O estudo contou com a participação de 90 estudantes que formaram dois grupos, o grupo I formado pelos alunos do currículo antigo e o grupo II, formado pelos alunos do currículo novo. Após a aplicação dos questionários os dados foram calculados estatisticamente no programa epiData e digitados no Excel. Os resultados mostraram que as diferenças entre os conhecimentos de diagnóstico não foram estatisticamente significativas entre os grupos I e II, em relação ao ponto forte do curso houve diferença estatística entre os dois grupos, no grupo I predominou o aprendizado em modalidades de tratamento enquanto no grupo II o aprendizado em diagnóstico integral. Em relação ao local onde preferem atuar ambos os grupos responderam em sua maioria nos serviços públicos de saúde associado a clínica privada, em relação às áreas de atuação tanto o grupo I como o grupo II optou em sua maioria 198 pelas disciplinas clínicas tendo uma prevalência relevante no grupo II a Saúde Coletiva. DESCRITORES Diagnóstico. Interdisciplinaridade. Odontologia. Currículo. Diretrizes Curriculares. regulamentação do exercício profissional da Odontologia data de 14 de maio de 1856, com o Decreto nº 1.764. O ensino formal só teve início com o Decreto nº 7.247 de 19 de março de 1879, que estabeleceu o curso de “Cirurgia-dentária”, anexo a faculdades de medicina (Abeno, 2010). No Brasil, o ensino da Odontologia inspirou-se no modelo de ensino adotado nos Estados Unidos, que utiliza uma abordagem diferente do tradicionalismo europeu, no qual a Odontologia estava incorporada ao ensino da Medicina, destacando-se como especialidade médica. O modelo adotado pelos americanos originou um novo formato de ensino pelo direcionamento das disciplinas básicas às exigências e necessidades diretas da Odontologia (Rosa; Madeira, 1982). No estado de Santa Catarina a primeira tentativa da fundação de uma faculdade de Odontologia data de 1909 quando foi projetada a Faculdade Livre de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia; este projeto jamais saiu do papel. Somente no ano de 1917 foi fundado o Instituto Polytéchnico, e o curso de Odontologia fazia parte dos cursos desta instituição juntamente com Farmácia e Agrimensura; o Instituto passou por diversas crises e encerrou suas atividades no ano de 1932. De 1932 a 1946 o estado não contou com nenhum curso de Odontologia, neste ultimo ano foi inaugurada a Faculdade de Farmácia e Odontologia, uma instituição particular que conta- A Revista da ABENO r 12(2):198-206 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP(- va basicamente com a mensalidade dos alunos, passou por diversas crises e culminou na sua inclusão na recém criada Universidade Federal de Santa Catarina em 1960 (Rosa; Madeira, 1982). A federalização permitiu um avanço no ensino, trazendo modernidade e desenvolvimento situando-se na linha da frente no ensino odontológico brasileiro. Além de avanço, modernidade e desenvolvimento diversas reformas na organização curricular fizeram parte da historia do curso de Odontologia da UFSC (Rosa; Madeira, 1982). Em 2006 o projeto pedagógico da organização curricular do curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina foi novamente reorientado, desta vez em concordância com a Resolução no 3/02 CNE/CES, de 19 de fevereiro de 2002, que instituiu as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de Graduação em Odontologia, objetivando formar um cirurgião-dentista generalista, voltado para a promoção de saúde, que tenha autonomia e liderança, saiba trabalhar em equipe, atuando em todos os níveis de atenção a saúde, empregando as práticas da integralidade e interdisciplinaridade com educação e aprendizado constante (Amante, 2006). A alteração curricular foi embasada nas premissas de diversos autores. De acordo com Costa (2007), as novas exigências do mercado de trabalho almejam um profissional generalista e de formação mais ampla, preparado para extrapolar o espaço da clínica e propor um diagnóstico sobre o coletivo e suas intervenções. Para que isso aconteça Badan et al. (2010) dizem que o profissional de saúde moderno deverá pensar e atuar em seu meio enxergando-o de forma mais crítica e reflexiva considerando o contexto onde estão inseridos profissional e paciente. Todas essas transformações exigem alterações no protocolo de atendimento ao paciente. Vivencia-se uma época de valorização do ser humano, que preconiza uma melhor relação profissional-paciente (Amante, 2006). Diante disto as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Odontologia objetivam que o aprendizado dos futuros profissionais seja com autonomia e discernimento para garantir a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades (Brasil, 2002). Em um curso da área da saúde, observa-se a relação de integração entre os cursos afins, no qual o paciente é visto como um todo e, não simplesmente, como uma parte (Gondim, 2002). Portanto quanto mais praticada a interdisciplinaridade maior a possibilidade de estabelecimento da integralidade nas práticas em saúde (Feuerwerker, 2003). Dessa forma espera-se formar profissionais críticos, aptos a desenvolver ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação da saúde, capazes de trabalhar em equipe e de levar em conta a realidade epidemiológica e social para, embasados nesses princípios, prestar uma atenção à saúde mais humana e de qualidade (Costa; Araújo, 2011). Com base nos dados citados anteriormente o presente estudo trás como principal objetivo avaliar a reforma curricular do curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, com ênfase nos conhecimentos de diagnóstico de alunos do antigo e de alunos do novo currículo, a opinião dos alunos sobre o ponto forte do ensino no curso de Odontologia UFSC e as aptidões dos estudantes como futuros profissionais. METODOLOGIA O projeto desta pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, o qual foi julgado e aprovado de acordo com o parecer de nR 0584/GR/99. De acordo com o projeto aprovado, os estudantes foram convidados a participar da pesquisa, receberam uma explicação breve, informados sobre a sua natureza e fidelidade. Em seguida receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e somente aqueles que o assinaram participaram da pesquisa. Para avaliar e comparar os conhecimentos de diagnóstico dos alunos do antigo e dos alunos do novo currículo de Odontologia da UFSC foi aplicado um questionário, contendo 20 questões objetivas sobre diagnóstico em Odontologia. As questões foram selecionadas do Provão do Sistema Nacional de Avaliação de Ensino Superior dos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003. Após o questionário os alunos responderam também quatro questões objetivas a respeito das suas opiniões em relação ao ponto forte no ensino do curso de Odontologia da UFSC e sobre suas aptidões profissionais. Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo estes chamados de grupo I e grupo II. O grupo I foi formado por 45 alunos, os quais ingressaram na universidade no segundo semestre de 2006 e colaram grau no final do ano de 2010. Es- Revista da ABENO r 12(2):198-206 199 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP(- tes alunos estavam cursando a nona fase e compõem a última turma do currículo antigo de Odontologia da universidade. O grupo II foi formado por 45 estudantes, os quais ingressaram na universidade no primeiro e segundo semestre de 2007. Estes compõem as duas primeiras turmas do novo currículo, fazendo parte da décima e nona fase respectivamente. Após a realização do questionário as pontuações foram analisadas estatisticamente através do programa epiData e transportadas para o Excel. RESULTADOS A pesquisa contou com a participação de 90 estudantes, dos quais 24 eram do sexo masculino e 66 do sexo feminino, como pode ser observado na Tabela 1. Os participantes da pesquisa representaram dois grupos, o grupo I, composto pelos alunos do currículo antigo de odontologia da UFSC e o grupo II, formado pelos alunos do novo currículo de odontologia da UFSC, representados na Tabela 2. A faixa etária dos alunos variou entre 21 e 43 anos, a média de idade foi de 23,96 com um desvio padrão de 3,092, para melhor compreensão as ida- des foram divididas em categorias como pode ser observado na Tabela 3. Em relação aos conhecimentos de diagnostico em Odontologia os estudantes do grupo I totalizaram uma média de acertos de 13,57 pontos, número este que corresponde a 67,85% do total de questões, já os alunos do grupo II obtiveram uma média de 14,11 pontos, que corresponde a 70,55% do questionário como pode ser observado na Tabela 4. Quando questionados sobre o que consideram como ponto forte no ensino do curso de graduação da UFSC 4,4% dos componentes do grupo I disseram ser o aprendizado em diagnóstico integral, 53,3% em modalidades de tratamento e 42,2% em ambos, já no grupo II 28,9% em diagnóstico integral, 28,9% em modalidades de tratamento e 42,2% em ambos conforme o Gráfico 1. Ao concluir o curso 11,1% dos estudantes do grupo I disseram que pretendem trabalhar na clínica privada, 28,8% nos serviços públicos de saúde e 60% em ambos, no grupo II 6,7% sentem-se mais capacitados para trabalhar na clínica privada, 35,6% nos serviços públicos de saúde e 57,8% em ambos, podemos observar essa relação no Gráfico 2. Tabela 1 - Participante em relação ao sexo. Tabela 2 - Total de representantes por grupo. Sexo Frequência Porcentagem Grupo N° de Participantes Porcentagem Masculino 24 Feminino 66 26,6 Grupo I 45 50 73,4 Grupo II 45 50 Total 90 Total 90 100 100 Tabela 3 - Média de idade dos participantes. Tabela 4 - Média de acertos dos grupos I e II. Idade em categorias Frequência Porcentagem Média de idade 21-23 58 64,4 24-43 32 35,6 Total 90 (%) 60 53,3 50 42,2 100 Grupos Média de acertos por grupo Porcentagem total no questionário - Grupo I 13,57 67,85 - Grupo II 14,11 70,55 23,96 Diagnóstico integral Modalidade de tratamento Ambos (%) 60 42,2 40 50 40 28,9 28,9 30 57,8 28,8 20 4,4 10 0 11,1 6,7 0 Grupo I Grupo II Ponto forte do curso de graduação da UFSC. Grupo I Grupo II Ao concluir o curso de graduação pretendem trabalhar. 200 Clínica privada Serviços públicos de saúde Ambos 35,6 30 20 10 60 Revista da ABENO r 12(2):198-206 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP((%) 60 60 53,3 40 30 20 10 0 17,7 15,5 15,5 4,4 0 a b c d 0 0 0 e f g ? Áreas do conhecimento que o grupo I se sente mais preparado para atuar em ordem crescente. (a) Dentística (b) Endodontia (c) Cirurgia (d) Prótese total (e) Odontopediatria (f) Periodontia (g) Prótese parcial 50 20 15,5 11,1 15,5 0 a b c Área 1 8,9 d 11,1 11,1 0 0 0 e f g 0 a b Área 2 c d e f g Área 3 (%) 60 (a) Dentística (b) Endodontia (c) Cirurgia (d) Prótese parcial (e) Odontopediatria (f) Saúde coletiva 46,7 50 40 30 20 24,4 24,4 15,6 11,1 10 0 = Áreas do conhecimento que o grupo II se sente mais preparado para atuar em ordem crescente. 60 a 11,1 0 4,4 0 0 b e c d Área 1 11,1 0 f a b c 0 0 d e f Área 2 Em relação às áreas do conhecimento, os estudantes indicaram as três em ordem crescente que se sentem mais capacitados para atuar. A maioria dos estudantes do grupo I e do grupo II optou pela dentística, seguida pela endodontia e como terceira opção a maioria escolheu a odontopediatria, como pode ser observado nos Gráficos 3 e 4. DISCUSSÃO As necessidades de renovação acompanhadas das intensas mudanças do mundo moderno fizeram com que o currículo do curso de Odontologia da UFSC passasse por transformações (Amante, 2006). Os problemas relacionados ao modelo dominante de formação na área de Odontologia motivaram discussões no meio acadêmico e profissional visando à necessidade de mudanças no sentido de proporcionar a melhoria da saúde bucal da população brasileira (Abeno, 2002). No mesmo sentido Morita e Kriger (2006) enfatizam que o próprio conceito do processo saúde-doença precisa ser adequado, com um melhor entendimento da promoção de saúde, da prevenção e do controle das doenças, dos meios de diagnóstico e de tratamento e, principalmente, da manutenção da saúde. Neste estudo foram avaliados os conhecimentos de diagnóstico dos alunos do currículo antigo (grupo I) e dos alunos do currículo novo (grupo II) de 8,9 a 0 b c 11,1 8,9 d e f Área 3 Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina, por meio de um questionário contendo vinte questões objetivas. O presente estudo demonstra que o grupo I obteve uma média de acertos de 13,57 pontos que corresponde a 67,85% do questionário, já o grupo II obteve uma média de 14,11 pontos valor este que corresponde a 70,55%, o que nos remete a pensar que mesmo o grupo II obtendo uma maior porcentagem de acertos (Tabela 4), esta não foi estatisticamente significativa em relação ao grupo I, ainda que os grupos não tenham apresentado diferença estatisticamente significativa em seus resultados ambos obtiveram uma media relevante de acertos que vai de encontro com a afirmação de Rodrigues e Serpa (2001) que dizem que a Odontologia vem intensificando investigações e estudos que permitem ao profissional a mais adequada compreensão do paciente e das suas circunstâncias. A humanidade ingressou numa era onde a interação entre as ciências projetou o aprimoramento da vida. Este processo exige um conhecimento mais amplo e seguro, de relações psicossociais e intra/interpessoais de forma a relacioná-las com o quadro clínico apresentado pelo paciente. No entanto Morita e Kriger (2004) lembram que no campo da Odontologia os movimentos de mudança dos modelos tradicionais de formação profissional são mais recentes em relação às outras áreas da saúde. Reforçando os dados Revista da ABENO r 12(2):198-206 201 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP(- desta pesquisa a compreensão do paciente e das suas circunstâncias segundo Matos (2006) é imprescindível para favorecer a execução de procedimentos odontológicos, auxiliando diagnósticos de doenças bucais e favorecendo o processo educativo no sentido de manter-se em saúde, talvez refletindo sobre estas questões não seja possível conceber as técnicas odontológicas apenas com uma função instrumental e como meio de subsistência, mas também como meio de trazer qualidade de vida para as pessoas; se incorporarmos a ela valores humanos. Neste sentido Feuerwerker e Sena (1999) afirmam que as mudanças no campo da Odontologia são resultado de elementos como as novas modalidades de organização do mundo do trabalho em saúde. Segundo as Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal as ações de saúde bucal devem se inserir na estratégia planejada pela equipe de saúde numa inter-relação permanente com as demais ações da Unidade de Saúde (Brasil, 2004). Neste estudo também se verificou a opinião dos estudantes em relação ao ponto forte de ensino do curso de Odontologia da UFSC (Gráfico 1), o qual apresentou diferença estatisticamente significativa. Os alunos do grupo I apontaram em sua maioria o aprendizado em modalidades de tratamento 53,3%, já no grupo II essa alternativa foi assinalada por apenas 28,9%. Dos 45 estudantes do grupo I somente 4,4% disseram ser o aprendizado em diagnóstico integral, em contrapartida esta alternativa foi assinalada por 28,9% dos estudantes do grupo II e 42,2% tanto do grupo I como do grupo II responderam que o ponto forte do curso é tanto o aprendizado em diagnóstico integral como em modalidades de tratamento. Desta forma podemos observar uma maior prevalência no aprendizado em diagnóstico integral no grupo II, resultado este de grande relevância para esta pesquisa, sobretudo por esta ter como objetivo avaliar o novo currículo de odontologia da UFSC, neste sentido Buss (2000) salienta que na atenção integral evidencia-se como uma ponte que liga as demais áreas do conhecimento. Para Pinheiro e Luz (2003) aceitar a integralidade como objetivo norteador de novas formas de agir em saúde e, por que não, de uma nova forma de gestão de cuidados nas instituições de saúde, proporcionando o surgimento de novas experiências e desenvolvimento de novas tecnologias assistenciais. Gondim (2002) relembra que em um curso da área da saúde, observa-se a relação de integração, onde o paciente é visto como um todo e, não simples- 202 mente como uma parte. Feuerwerker (2002) aponta que a possibilidade de atenção integral implica num aumento dos referenciais com que cada profissional de saúde trabalha na estruturação de seu repertório de compreensão e ação. Em paralelo, o reconhecimento da limitação da ação uniprofissional para dar conta das necessidades de saúde de indivíduos e populações. Ressalta que a atenção integral exige mudanças nas relações de poder entre profissionais de saúde (para que efetivamente constituam uma equipe multiprofissional) e entre profissionais de saúde e usuários (para que se amplie efetivamente sua autonomia). Quando questionados sobre onde gostariam de trabalhar ao concluir o curso (Gráfico 2), os resultados são semelhantes em ambos os grupos, 11,1% dos estudantes do grupo I e 6,7% do grupo II disseram ser na clínica privada, 28,9% do grupo I e 35,5% do grupo II responderam ser em serviços públicos de saúde, já aproximadamente 60% dos alunos de ambos os grupos responderam tanto na clínica privada como em serviços públicos de saúde. De acordo com os resultados do trabalho de Matos (2006) quando os alunos são questionados acerca dos seus planos profissionais ao se expressarem mais especificamente, os planos que mais se destacam são: o desejo de fazer especialização/ mestrado/doutorado (26,8%) e ir para o serviço público (25,5%) e, em menor proporção, trabalhar como autônomo (11,2%) e em clínicas privadas, terceirizando a sua mão de obra (8,5%). Do mesmo modo no trabalho realizado por Unfer (2004) apenas uma minoria pretende exercer exclusivamente a clínica particular. Neste sentido Koide et al. (2004) afirmam que os recém-formados têm receio em abrir a sua própria clínica e estão incertos se conseguirão arcar com todos os encargos e despesas; em sua pesquisa 50% dos profissionais que tinham até dois anos de formados exerciam suas atividades clínicas como empregados de outros profissionais ou instituição. Para Chaves (2005), as dificuldades de ingresso no mercado privado têm evidenciado o trabalho no setor público como uma boa alternativa. Procurou-se neste estudo identificar quais áreas do conhecimento os estudantes apontam como as que se sentem mais capacitados para atuar ao se formar (Gráficos 3 e 4). Os resultados tanto do grupo I como do grupo II foram muito semelhantes, no grupo I as áreas mais indicadas pelos estudantes foram dentística, endodontia, cirurgia, pró- Revista da ABENO r 12(2):198-206 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP(- tese total, odontopediatria e periodontia, sendo a dentística, seguida pela endodontia e odontopediatria (60%, 53,3% e 20% respectivamente) aquelas com maior prevalência. No grupo II as áreas mais indicadas foram as mesmas do grupo I exceto a periodontia, já que no grupo II predominou a saúde coletiva (60%, 46,7% e 24,4% para dentística, endodontia e odontopediatria respectivamente). Observou-se que a saúde coletiva não foi citada pelo grupo I, no entanto no grupo II ela manteve a mesma popularidade: 11,1% quando citada como opção 1, 2 ou 3. Concordando com estes resultados, Matos (2006) observou em sua pesquisa elevado interesse dos alunos por disciplinas e temas da área Clínica (74,8% e 74,4%, respectivamente) e o baixo nível de interesse pelas disciplinas e temas das áreas de ciências humanas (0,8%) e saúde coletiva (8,4%). O autor ressalta que esses resultados, refletem a própria organização curricular dos cursos, uma vez que estes apresentam uma maior proporção de disciplinas clínicas. Esta condição parece necessária para uma boa formação técnica dos alunos e também refletem que o currículo oculto vai guiando os alunos durante quase todo o processo de formação. O valor que se atribui à formação competente está fundamentado no componente técnico-científico e todo conhecimento ou prática que esteja inserida fora desse contexto é considerado aprendizado marginal. Embora não apareça de forma amplamente significativa os interesses por saúde coletiva estão crescendo entre os estudantes de Odontologia. Interessante é que este critério somente se manifestou no grupo II, ou seja, nos estudantes do novo currículo. Diante desde fato Silva (2010) lembra que é importante tratar assuntos dentro do contexto social, formando profissionais com capacidade para atuar em todos os níveis de atenção à saúde e não exclusivamente para atuar numa prática clínica, sem considerar os aspectos demográficos e suas consequências epidemiológicas. Esse fazer e refazer revela o caráter processual e dinâmico da elaboração de uma reorganização curricular e a existência, por trás dele, de um processo de avaliação permanente do que já se consagrou como prática e fazer docente, a fim de legitimar o que permanece e o que muda no futuro. A avaliação de um currículo em vigor inaugura o processo de reorganização curricular, mas não se esgota nesse momento inicial. Em outras palavras, todas as decisões subsequentes à avaliação inicial, a avalia- ção diagnóstica, dependem dela, mas ao mesmo tempo a retomam e a reconstroem (Ribeiro; Silva, 2007). Como discute Cappelletti (2002), currículo é um processo abrangente, complexo e dinâmico que ultrapassa as grades curriculares e envolve pessoas e suas relações durante a participação no processo educativo. A análise neste estudo sugere que o preparo do aluno do curso de Odontologia da UFSC, nos aspectos relacionados à Reforma Curricular está passando por transformações de forma gradual, ou seja, está em transição. Sabe-se que um processo de mudança envolvendo pessoas não é efetuado de forma rápida e completa. Necessita de avaliações frequentes e permanentes. Portanto, este trabalho contribui para a reflexão deste processo. Quanto à limitação deste estudo podemos destacar o fato da Reforma Curricular ser uma questão ainda recente e em construção no curso, por ter sido observado somente por três aspectos da mesma, seria interessante que novos estudos fossem realizados de forma mais abrangente envolvendo, alunos, docentes e demais contribuintes do processo. Por outro lado, a maior contribuição deste estudo é que mesmo não obtendo valores de extrema significância observou-se que alguns aspectos da reforma curricular como o aprendizado em diagnóstico integral vem fazendo parte do dia a dia dos futuros profissionais que participaram desta pesquisa. CONCLUSÃO Com base nos métodos empregados e nos resultados obtidos, conclui-se que: r Em relação aos conhecimentos de diagnóstico em Odontologia ambos os grupos apresentaram resultados semelhantes com uma média de aproximadamente setenta por cento de acertos. r O curso de Odontologia da UFSC tem seu foco de ensino direcionado para o aprendizado diagnóstico integral. r A maior parte dos estudantes pretende trabalhar nos serviços públicos de saúde concomitantemente com a clínica privada. r Tanto os estudantes do grupo I como do grupo II apontam as disciplinas clínicas em especial a dentística, endodontia e odontopediatria, como aquelas que se sentem mais preparados para atuar. Não obstante a este fato a saúde coletiva vem se destacando no grupo II como uma tendência para esta nova geração de profissionais. Revista da ABENO r 12(2):198-206 203 Avaliação da reforma curricular do curso de odontologia da Universidade 'FEFSBMEF4BOUB$BUBSJOBr7JFJSB(.$BOUP(- ABSTRACT Evaluation of the curriculum reform of the University of Santa Catarina dentistry course The dentistry course of the Federal University of Santa Catarina has recently undergone curricular changes based on the National Curriculum Guidelines for undergraduate courses in dentistry. The change in the university’s educational project was implemented in 2006, in accordance with Resolution #3/02 CNE/CES, dated February 19, 2002, which established the National Curriculum Guidelines for Undergraduate Dentistry Courses. The new curriculum came into force in the first half of 2007. With this in mind, the main goal of this study was to evaluate, on one hand, the curriculum reform, by comparing the diagnostic knowledge of students of the old and of the new curriculum, and, on the other hand, the views of these students on the course and their professional aptitudes. The survey was conducted by applying a questionnaire containing 20 questions about diagnoses made in dentistry and 4 undergraduate course-related questions about the student’s professional aptitudes. The study included 90 students who were separated into two groups: Group I was formed by students of the old curriculum, and Group II was formed by students of the new curriculum. After the questionnaires were administered, the data were analyzed statistically in the epiData program and entered in Excel. The results showed that the differences in diagnostic knowledge between groups I and II were not statistically significant. In relation to the strong point of the course, there was a statistical difference between the two groups. What prevailed in Group I was the learning of treatment modalities, whereas, in Group II, it was the learning of complete diagnoses. In relation to where the students would prefer to work, the majority of both groups responded that they preferred public health services together with private clinic practice. In respect to the areas in which they preferred to work, both groups opted mostly for clinical disciplines, in that group II had a significant preference for Collective Health. 2. Amante, J.C. Projeto político pedagógico do curso de graduação em odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006. 3. Associação Brasileira do Ensino Odontológico. Evolução dos Cursos. Disponível em: < http://www.abeno.org.br/ > . Acesso em 10 de setembro de 2010. 4. Associação Brasileira do Ensino Odontológico. 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Sousa Santos*, Ignez A. dos Anjos Hora** * Cirurgiã-dentista da Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e Idoso da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Sergipe, Brasil ** Mestre em Estomatologia e Especialista em Odontologia para Pacientes Especiais da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Sergipe, Brasil RESUMO Estudo exploratório realizado em 2011 com o objetivo de conhecer sob a perspectiva dos acadêmicos do último ano de odontologia de Sergipe as abordagens realizadas durante a graduação, atitudes, percepções, e expectativas frente ao atendimento do paciente especial. Os resultados obtidos no questionário aplicado a 96 alunos mostram que as abordagens sobre odontologia para o paciente especial ocorreram para 76,7% em aulas expositivas e seminários nos períodos iniciais, e para 65,6% em congressos e projetos de extensão. Pacientes com alteração sistêmica foram atendidos por 48,9% dos alunos. Destacaram-se como percepções marcantes a vontade de ajudar e, de estudar mais o paciente especial, relatadas por 51,6% e 49,4% respectivamente. Para 93,7% há necessidade da implantação da disciplina odontologia para pacientes especiais nas faculdades, e 56,7% referem insegurança frente ao atendimento futuro destes. Conclui-se que há necessidade de intensificação e diversificação de abordagens dentro das instituições estudadas, promovendo maior conhecimento e capacitação acadêmica, e favorecendo a atenção odontológica e maior inclusão dos pacientes especiais. DESCRITORES Pacientes Especiais. Atitudes. Estudantes de Odontologia. odontologia para pacientes especiais, atualmente pautada em bases científicas, busca uma abordagem ampla e integrada. Assim, reconhece-se a importância de práticas clínicas motivadoras du- A rante a graduação, que preparem o acadêmico para o futuro profissional visando um atendimento satisfatório destes pacientes.1 Denomina-se especial o paciente que possui desvios nos padrões de normalidade, identificáveis ou não, que tornem necessário o atendimento diferenciado durante um período, ou por toda a sua vida.2 Em razão de suas limitações físicas, mentais e sociais, indivíduos com necessidades especiais tendem a apresentar maior comprometimento da saúde bucal. Assim, necessitam de uma atenção odontológica especial, com cuidados específicos de acordo com cada caso.3,4 De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência mundial de pessoas com deficiência é de 1:10 indivíduos.4 No Brasil, 15% da população possui necessidades especiais, com o maior porcentual concentrado na Região Nordeste (16,8%).5 Em contraste com a alta demanda, é restrito no país, o número de pacientes especiais que têm acesso ao atendimento. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que de 10% das pessoas com necessidades especiais, apenas 3% recebem atendimento odontológico, o correspondente a 480 mil pacientes.4,6,7 As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Odontologia no Brasil, vigentes desde 2002, determinam que a formação do cirurgião-dentista deve capacitá-lo a atuar em todos os níveis de atenção à saúde e, para isso, deve haver uma formação generalista. É importante que esta inclua a atenção odontológica ao paciente especial.8 É limitado o número de cursos de odontologia Revista da ABENO r 12(2):207-12 207 Atenção odontológica a pacientes especiais: atitudes e percepções de BDBEËNJDPTEFPEPOUPMPHJBr4BOUPT.'4)PSB*"" no Brasil que proporcionam aos graduandos espaço físico e treinamento específico para tratar pacientes especiais. Assim, os alunos muitas vezes não têm a oportunidade de ter maior contato com estes pacientes.4 Os cursos de odontologia de Sergipe se enquadram nesta realidade. O estudo objetivou analisar as perspectivas acadêmicas sobre a ocorrência de abordagens acerca do atendimento odontológico ao paciente especial, e conhecer atitudes e percepções do alunado frente ao atendimento do mesmo. MATERIAL E MÉTODOS Estudo quantitativo, prospectivo e exploratório, realizado por meio de questionário fechado aplicado aos alunos do último ano dos cursos de odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), instituição pública, e da Universidade Tiradentes (UNIT), instituição particular, no período de maio a agosto de 2011. Ressalta-se que as instituições selecionadas são as únicas que possuem o curso de odontologia em Sergipe, mas não possuem a disciplina de Odontologia para pacientes especiais. Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (sob o número CAAE - 0042.0.107.11911), e pelas coordenações de curso das instituições selecionadas, iniciou-se a identificação e seleção dos participantes. Conforme critério de inclusão, os acadêmicos selecionados estavam no último ano do curso de odontologia das faculdades selecionadas. Pertenciam aos critérios de exclusão, aqueles acadêmicos que não estavam no último ano dos cursos, e também, aqueles que não concordaram em participar do estudo. A amostra total da pesquisa foi de 96 acadêmicos, que após a explicação do objetivo e metodologia se encontraram em conformidade com os critérios de inclusão, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e receberam o questionário fechado. Após a coleta dos questionários, foi feita a organização dos dados com o auxílio do programa Microsoft Excel 2007, e quando necessário, foi aplicado o teste estatístico qui quadrado aplicado no programa Spss Statistica. de Sergipe (UFS - Instituição A) e 53 (55,2%) estudantes pertenciam à Universidade Tiradentes (UNIT - Instituição B). A maioria dos participantes era do gênero feminino totalizando 61 (63,5%) estudantes. No quesito idade, a maior parte pertencia à faixa etária de 21 a 23 anos correspondendo a 60 (62,5%) alunos. Os acadêmicos contemplados de alguma forma com a abordagem do tema odontologia para pacientes especiais totalizaram 60 alunos (60%). A Tabela 1 apresenta o tipo de abordagem realizada nas duas instituições. Os principais tipos de pacientes especiais mais atendidos pelos acadêmicos estão representados no Gráfico 1. A maioria dos participantes atendeu pacientes com alteração sistêmica (48,9%) e gestantes (35,4%). Tabela 1 - Formas de abordagens realizadas. Formas de abordagens 208 % Aula expositiva 31 51,7% Seminário 15 25,0% Pesquisa 5 8,3% Estudo dirigido 3 5,0% Outro tipo 6 10,0% *Total 60 100% **Do total de 96 alunos participantes somente 60 receberam a abordagem. Nunca atendi 3,12% Síndrome de Down 4,16% Autismo 4,16% Paralisia cerebral Outro tipo Deficiência auditiva Distúrbio psiquiatrico Epilepsia Deficiência mental Deficiência física HIV positivo Gravidez RESULTADOS Da amostra composta por 96 acadêmicos (91,4%) do total de matriculados no último ano de odontologia, 43 (44,8%) pertenciam à Universidade Federal Nº de Alunos Alteração sistêmica 11,45% 15,62% 13,54% 18,75% 25% 28,12% 31,25% 33,33% 35,41% 48,95% Percentuais de acadêmicos quanto aos principais tipos de pacientes especiais atendidos. Revista da ABENO r 12(2):207-12 Atenção odontológica a pacientes especiais: atitudes e percepções de BDBEËNJDPTEFPEPOUPMPHJBr4BOUPT.'4)PSB*"" mento (Gráfico 3). Apesar de 60 estudantes (62,5%), receberem a abordagem do tema Odontologia para pacientes especiais, na graduação, vê-se na Tabela 2, que apenas as abordagens, não apresentaram significância estatística (p > 0,05) para gerar segurança no atendimento do paciente especial. Mas, pode-se afirmar que houve influência positiva dessas abordagens para atendimento odontológico relatada pelos alunos contemplados (20%). O Gráfico 2, reflete as percepções e sentimentos relatados pelos acadêmicos ao atender nas disciplinas ambulatoriais o paciente especial; têm destaque a vontade de ajudar (51,6%) e de estudar mais o paciente especial (49,4%). Outro dado importante é que 90 alunos (94%), afirmaram que a implantação da disciplina de Odontologia para pacientes especiais seria necessária para melhorar o seu aprendizado, enquanto apenas 6 participantes (6%) relataram não sentir essa necessidade. Sobre a acessibilidade do paciente especial ao atendimento odontológico, 90 participantes (94%) referem que haja dificuldade no acesso. Para eles, isso se deve principalmente ao desconhecimento da população sobre os serviços e à escassez de profissionais disponíveis para a realização do atendi- Impaciência Outro tipo Ansiedade DISCUSSÃO Ressalta-se que na literatura consultada, não foram encontrados todos os dados que pudessem ser comparados com os resultados deste trabalho, uma vez que ainda é reduzido o número de pesquisas que abordem exatamente os mesmos aspectos estudados. Tabela 2 - Abordagem do tema relacionada à segurança no atendimento futuro. 3,22% Segurança 5,37% 9,67% Medo de mordeduras 11,82% Medo de contaminação 13,97% 23,65% Insegurança Medo de acidentes com instrumental 49,46% 51,61% Vontade de ajudar % Não % Total Sim 12 20,0% 5 13,9% 17 Não 34 56,7% 25 69,4% 59 Não sei 14 Total 60 23,3% 100% 6 36 16,7% 100% 20 96 *a = 5%; **p = 0,46. De acordo com o resultado do teste (p > 0,05) não há associação entre as abordagens realizadas e segurança no atendimento futuro, visto que entre os treinados a maioria (56,7%) afirmou não ter segurança no atendimento destes pacientes. Também concluímos com os resultados da pesquisa que a abordagem teve alguma utilidade, comprovada por uma maior (20,0%) segurança de atendimento entre os que receberam a abordagem nos cursos. 25,80% Vontade de estudar mais Abordagem do tema Sim Percepções e sentimentos do acadêmico fren- te ao paciente especial. ? O que Não sei 40% Demora para o atendimento 57,77% Dificuldade de acesso ao transporte Falta de colaboração da família Falta de recursos dificulta o acesso ao atendimento odontológico do paciente especial? 1,11% 27,77% 55,55% Distâncias geográficas 51,11% Barreiras arquitetônicas 51,11% 65,55% Desconhecimento da população 81,11% Poucos profissionais Revista da ABENO r 12(2):207-12 209 Atenção odontológica a pacientes especiais: atitudes e percepções de BDBEËNJDPTEFPEPOUPMPHJBr4BOUPT.'4)PSB*"" No Brasil, ainda são poucas as faculdades de odontologia que proporcionam aos graduandos o preparo adequado e específico para o atendimento de pacientes com necessidades especiais.1,2 A maioria das escolas dedica pouco tempo para este atendimento.9 Nas faculdades selecionadas, não há nenhum programa de ensino específico para o atendimento do paciente especial. Os participantes, que foram contemplados pelas abordagens, receberam-nas no início da prática clínica. Estas se apresentaram em eventuais aulas expositivas ou seminários. Em acordo com os autores, que relatam que a maioria dos cursos dedica poucas horas para a discussão sobre deficiências, tempo insuficiente para que o estudante desenvolva as habilidades e segurança necessária para o cuidado de tais pacientes.1,8 Os autores consultados salientaram a necessidade que o aluno tem de conhecer sobre o paciente especial para que se sensibilize e adquira conhecimento específico para o tratamento odontológico.7,10,11,12 Isso é relatado pela maioria dos acadêmicos, que referem necessidade de estudar mais sobre este paciente. Grande parte dos alunos tem ciência de que a demanda do atendimento odontológico para o paciente é grande, entretanto, acredita que os serviços existentes são insuficientes para suprir a mesma, ou até mesmo desconhece se estes serviços têm a capacidade de suprir a demanda. Os resultados mostram a importância relatada pelos acadêmicos, de possuírem em seu curso, a disciplina de odontologia para pacientes especiais. Proporcionar ao acadêmico a possibilidade de conhecer sobre pacientes especiais, é aspecto relevante no tocante ao conhecimento do futuro profissional.8 Esta vontade de estudar mais sobre o tema também aparece em alto porcentual. É importante que os acadêmicos conheçam as dificuldades que impedem o paciente de ter o acesso odontológico, seja ele de qualquer natureza.4 Muitos acadêmicos consultados, reconhecem que há dificuldades neste acesso e os tipos de dificuldade existentes. O cirurgião-dentista pode ter importante contribuição para a qualidade de vida do paciente especial. Porém, o que se observa frequentemente, é a insegurança de muitos em promover o atendimento, principalmente devido à falta de experiência na academia.6 Isso é notado em muitos participantes. As abordagens recebidas foram importantes, mas, insu- 210 ficientes para gerar segurança significante para um futuro atendimento profissional. Outro dado importante é que a maioria do alunado afirma que a implantação da disciplina de Odontologia para pacientes especiais seria necessária para melhorar o seu aprendizado. Sobre a acessibilidade do paciente especial ao atendimento odontológico, 90 participantes (94%) acreditam que este tenha dificuldade no acesso ao atendimento odontológico. Para eles, isso se deve especialmente ao desconhecimento da população sobre os serviços e à escassez de profissionais disponíveis para a realização do atendimento. Vê-se, que apenas as abordagens realizadas, não revelaram significância estatística (p > 0,05) para gerar segurança no atendimento futuro do paciente especial. Entretanto, pode-se afirmar que houve influência positiva destas relatada pelos participantes que foram contemplados (20%). As abordagens ocorreram quando os alunos estavam no início da academia, principalmente em aulas expositivas e seminários. O que coincide com achados de autores que relatam que a maioria dos cursos de graduação dedica poucas horas para discussões sobre o assunto.1,8 A literatura salientou a necessidade que o aluno tem de conhecer sobre o paciente especial para que haja sensibilização e conhecimento específico para o tratamento odontológico.7,10,11,12 Tal necessidade é mencionada pela maioria dos alunos consultados. Muitos participantes referem que a demanda do atendimento odontológico para o paciente é grande, mas, acredita que os serviços existentes são insuficientes para suprir a mesma, ou até mesmo desconhece se estes serviços têm a capacidade de supri-la. É importante que os acadêmicos conheçam as dificuldades que impedem o paciente de ter o acesso odontológico, seja ele de qualquer natureza.4 Muitos dos acadêmicos consultados, reconhecem que há dificuldades neste acesso e referem os tipos de dificuldade existentes. Estudos mostram que os profissionais durante a graduação tiveram treinamento específico para o atendimento odontológico de pacientes especiais não tinham obstáculos para o mesmo.7 Nesta pesquisa, apesar de a maioria acadêmica relatar ter atendido pacientes especiais, nem todos tiveram contato com abordagens específicas. Nos cursos de odontologia no Brasil, há uma lacuna em relação à formação profissional para atender a pessoas com deficiências físicas e mentais, as- Revista da ABENO r 12(2):207-12 Atenção odontológica a pacientes especiais: atitudes e percepções de BDBEËNJDPTEFPEPOUPMPHJBr4BOUPT.'4)PSB*"" sim, os cirurgiões-dentistas não se sentem seguros e capacitados para o atendimento.8 Os resultados destacam a necessidade acadêmica, de possuir a disciplina de odontologia para pacientes especiais na graduação, mostrando uma maior necessidade de contato destes alunos com o tema. O aluno pode ter importante contribuição para o paciente especial. Porém, o que se observa, é a insegurança de muitos em promover o atendimento odontológico deste paciente, principalmente devido à falta de experiência na academia.5 Isso é notado em muitos participantes que tiveram ou não contato com o tema Odontologia para pacientes especiais nesta pesquisa. As abordagens foram relevantes, porém, ainda insuficientes para gerar segurança para o futuro atendimento profissional de boa parte do alunado. CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que há necessidade de intensificação e diversificação de abordagens sobre atendimento odontológico ao paciente especial dentro das faculdades de Odontologia de Sergipe, bem como, de proporcionar maior contato com pacientes especiais e inclusão destes, principalmente aqueles de maior complexidade para ampliar a experiência dos alunos, uma vez que o anseio de conhecimento e a insegurança dos acadêmicos frente ao paciente especial, bem como a necessidade relatada por uma disciplina específica são percepções marcantes no estudo. perspective of last-year undergraduates from the Federal University of Sergipe Dentistry Course. The results of a questionnaire applied to 96 students show that, to 76.7% of these students, the approaches to dental issues regarding special-needs patients were conveyed in lectures and seminars early in the learning process, and, to 65.6%, at conferences and in outreach projects. Patients with systemic illnesses received dental care by 48.9% of the students. The importance of wanting to help special-needs patients and of studying more about the correct approaches for these patients stood out as strong perceived by 51.6% and 49.4% of the students, respectively. According to 93.7%, there is a need to establish a college course addressing “dental care for special-needs patients,” and, according to 56.7% of the students, they were still not prepared to treat this kind of patient in the future. It was concluded that what is needed is to intensify and diversify the approaches in the institutions studied, promoting greater knowledge and academic training with the aim of providing improved dental care and a greater inclusion of special-needs patients. DESCRIPTORS Special-needs Patients. Attitudes. Students, Dental. REFERÊNCIAS 1. Fassina AP. Presença da disciplina e/ou conteúdo de pacientes portadores de necessidades especiais nas Faculdades de Odontologia no Brasil em 2005. [dissertação de mestrado em AGRADECIMENTOS Agradecemos às coordenadorias dos cursos de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Tiradentes bem como, a todo o público acadêmico que fez parte desta pesquisa. Também agradecemos ao professor Samuel Oliveira Ribeiro pelo apoio dado na organização estatística do estudo, e a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram para a concretização desta pesquisa. odontologia]. São Paulo: Odontologia e Sociedade; 2007. 2. 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Survey of Special Pa- 212 Revista da ABENO r 12(2):207-12 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina sobre o que é promoção da saúde Laís Olsson*, Ana Clara Loch Padilha*, Dayane Machado Ribeiro** * Acadêmica do curso de Odontologia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ** Doutora em Odontologia em Saúde Coletiva. Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva. Especialista em Endodontia. Cirurgiã-dentista. Profa. Adjunto III, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) RESUMO Como resposta aos desafios sanitários contemporâneos, a Promoção da Saúde delineia-se num campo teórico-prático-político envolvendo ações e projetos em saúde, apresentando-se em todos os níveis de complexidade da gestão e atenção do sistema de saúde. Para tanto, deve incluir capacitação da comunidade para que a mesma, visando melhoria de qualidade de vida e saúde, possa atuar juntamente no controle desse processo. Dada a importância desse conhecimento, o presente trabalho propô-se identificar a percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre o que é Promoção da Saúde. Metodologia: uma pesquisa de campo com caráter descritivo e qualitativo visando analisar a realidade a partir da observação de fenômenos e causas. Os sujeitos da pesquisa foram compostos por formandos dos cursos do CCS da UFSC, sendo 3 representantes de cada curso, em função da saturação de respostas, totalizando 15. As informações pessoais foram submetidas a uma análise descritiva, bem como qualitativa através do processo de Análise-Reflexão-Síntese. Resultados: O perfil da amostra foi predominantemente feminino (60%), com aproximadamente 21 anos de idade. Quanto ao conhecimento sobre a Promoção da Saúde, observou-se dificuldade em conceituar seu significado, sendo que para a maioria da amostra não foi possível diferenciar prevenção de promoção da saúde, além da inca- pacidade de exemplificar como aplicar em sua prática profissional. Apesar da importância da Promoção da Saúde ter sido reconhecida e exaltada, pôde-se observar falta de conhecimento e entendimento sobre o tema. DESCRITORES Promoção de Saúde. Saúde Bucal. Ensino. romoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo.1 Para Campos et al. (2004), a promoção da saúde é um campo teórico-prático-político que em sua composição com os conceitos e as Posições do Movimento de Reforma Sanitária delineia-se como uma política que deve percorrer o conjunto das ações e projetos em saúde, apresentando-se em todos os níveis de complexidade da gestão e da atenção do sistema de saúde.2 Assim, trata-se de uma resposta aos desafios sanitários contemporâneos, surgida nos anos 70, como proposta que assume o status de uma das principais linhas de atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS) influenciando nos anos seguintes, a elaboração de políticas de saúde de diversos países.3 Sendo assim, a Promoção da Saúde não se dirige a uma determinada doença ou desordem, mas serve para aumentar a saúde e o bem estar gerais.4 P Revista da ABENO r 12(2):213-8 213 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina TPCSFPRVFÊQSPNPÉÈPEBTBÙEFr0MTTPO-1BEJMIB"$-3JCFJSP%. Stotz & Araújo (2004) afirmam que profissionais e técnicos são educadores, apesar de não ter consciência desse papel. Desta forma, faz-se necessário pensar na educação desses educadores no contexto de novas práticas de saúde.5 Numa avaliação da reformulação curricular do curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), Koifman (2001) concluiu ser necessária a introdução de conteúdos da área das ciências sociais, como instrumento para a formação do médico capaz de atuar nos problemas de saúde mais recorrentes da população brasileira, bem como no domínio das tecnologias. O médico deve estar apto a questionar seu papel e a atuar no sentido de melhorar a qualidade de vida e de reduzir os níveis do adoecer. Botazzo (2003) faz uma crítica sobre o ensino da Odontologia, que tem se baseado em conteúdos técnicos fortemente arraigados ao ambulatório, e a pouca discussão das abordagens sociais dos problemas de saúde entre os estudantes e professores.7 Num debate sobre a formação universitária, Araújo (2006) afirma que é mais importante aprofundar os princípios sobre o tipo de saúde que está sendo oferecido à coletividade à abordagem das referências da saúde coletiva. Dessa forma, a formação universitária deve ultrapassar o campo da saúde bucal coletiva, estendendo-se para todas as áreas, acabando com as dicotomias entre básico e clínico, entre clínico e social e entre público e acadêmico. Assim, compete ao ensino superior a formação de profissionais capazes de atuar nesse novo contexto, conduzindo, de maneira contínua, em direção a uma formação integral.8 Diante do exposto, a escolha deste tema baseia-se na escassez de publicações que avaliam o entendimento dos formandos quanto a Promoção da Saúde. Conforme a Constituição Federal, em seu artigo 196, a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Por sua vez, a Promoção da Saúde atua sobre os determinantes da saúde para criar o maior benefício para a população, contribuindo de maneira significativa para a redução das iniquidades em questão de saúde, desta forma, assegurando os direitos humanos. Dada a importância do conhecimento sobre a Promoção da Saúde, evidencia-se também a necessidade de identificar o grau de conhecimento dos formandos da área da saúde desta Instituição, o que possibilitará uma discussão quanto ao enfoque dado pelos cursos de graduação. Acreditando ser este conhecimento uma lacuna no ensino da graduação dos estudantes da área da saúde, o presente trabalho propô-se a identificar a percepção dos formandos do Centro de 214 Ciências da Saúde da UFSC sobre o que é Promoção da Saúde. METODOLOGIA O presente estudo transversal caracteriza-se como uma pesquisa de campo, de caráter descritivo e qualitativo, que teve como objetivo analisar a realidade a partir da observação de fenômenos e causas, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (parecer consubstanciado do projeto 152/2007). A população do estudo foi composta por formandos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sendo 3 alunos de cada um dos cursos do CCS: Nutrição, Enfermagem, Odontologia, Medicina e Farmácia, totalizando 15 alunos, selecionados de forma aleatória, e em função da saturação de respostas. Os dados foram obtidos através de um formulário, elaborado e aplicado pelos próprios pesquisadores, composto de questões relacionadas à identificação do entrevistado e de uma pergunta sobre Promoção da Saúde, sendo a resposta gravada e transcrita para posterior análise. As informações pessoais foram submetidas a uma análise descritiva conforme característica dos dados. Com relação à questão aberta, os dados foram analisados, a partir da primeira entrevista, pelo processo de Análise-Reflexão-Síntese.9 Nesse processo a análise decompõe os dados, a síntese os integra às diversas dimensões e contexto da vida dos sujeitos. A análise e a síntese são realizadas de maneira sinérgica através da reflexão, que é uma consideração de dados, associando sensibilidade e razão. Partindo dessas considerações, o tema proposto é apresentado a partir de dados empíricos relativos a depoimentos selecionados do conjunto de dados dos participantes do estudo e analisados com apoio da literatura. RESULTADOS E DISCUSSÃO O perfil da amostra estudada pode ser observado na Tabela 1. Pôde-se observar que o gênero predominante foi o feminino (60%), demonstrando uma maior atuação deste gênero nas áreas relacionadas à saúde. Quanto à idade dos participantes, aproximadamente 25% dos mesmos estava se formando com apenas 21 anos, sendo a idade mais encontrada na amostra. O entendimento de promoção da saúde é observado em algumas declarações, como a que traz o Ministério da Saúde, como sendo: Revista da ABENO r 12(2):213-8 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina TPCSFPRVFÊQSPNPÉÈPEBTBÙEFr0MTTPO-1BEJMIB"$-3JCFJSP%. Tabela 1 - Perfil da amostra composta por formandos dos cursos de graduação do CCS da UFSC. Participante Sexo Idade Especialidade pretendida E.01 fem. 26 Pediatria E.02 fem. 24 Saúde pública E.03 fem. 21 Adm. em enfermagem F.01 fem. 21 Atenção Básica F.02 fem. 30 Análises Clínicas F.03 fem. 21 Análises Clínicas M.01 masc. 24 Radiologia M.02 masc. 26 Endocrinologia M.03 fem. 26 Psiquiatria N.01 fem. 24 Nutrição Clínica N.02 masc. 28 Não sabe N.03 fem. 23 Nutrição Clínica O.01 masc. 25 Cirurgia Bucomaxilofacial O.02 masc. 22 Prótese O.03 masc. 21 Ortodontia concordando com Alves et al. (1996), que destaca a dificuldade do consenso a respeito de uma definição operacional para esse termo.11 Embora, o modelo inicial de promoção da saúde proposto por Leavell & Clark, tivesse a Promoção da Saúde como um dos elementos do nível primário na medicina preventiva,4 seu significado foi reformulado e atualizado, trazendo um maior enfoque político e técnico sobre este tema. Entretanto, o aspecto da prevenção ainda foi bastante citado na definição do tema, como se observa em: “É o âmbito de tu tentar, através de ações preventivas, promover a saúde.” (O.02), ou: “É tu atender o paciente de uma forma que tu promova a prevenção.” (O.01), da mesma forma trazido como: Uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da popu- “Promoção de saúde pra mim é tudo aquilo que pode ser lação em risco e às diferenças entre necessidades, territó- feito para prevenir alguma enfermidade, [...]tudo que age rios e culturas presentes no nosso país, visando à criação na prevenção seria o mais ideal, né.” (N.02). de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas.10 Essa visão holística da Promoção da Saúde pôde ser observada em declarações de alguns participantes, que expressam como “independente de práticas e tratamentos ligados a definidas áreas de saúde... ajude a pessoa a ter um sentido amplo de bem estar” (M.03). Esse entendimento, contudo, é de difícil compreensão, como foi relatado em outras entrevistas: “É pergunta difícil.” (M.01) ou ainda Segundo Sícoli & Nascimento (2003), persistem controvérsias na definição da promoção da saúde e confusões relativas a seus limites conceituais com a prevenção.12 Já Acosta & Duarte (2007), afirmam haver diferenças claras entre as ações de Prevenção e Promoção, e concordam que existe sim, certa confusão sobre o tema.13 A prevenção visa à modificação de comportamento individual, reduzindo riscos para determinadas doenças, com maior enfoque clínico; já a Promoção da Saúde vem como uma estratégia de intervenção entre pessoas e o meio ambiente juntando escolhas individuais com responsabilidade social pela saúde, propondo a participação da população.13 A Saúde como sinônimo de ausência de doença também foi relatado durante as entrevistas enquanto a definição de Promoção da Saúde era exposta: “são estratégias que a gente tem pra fazer pra pessoa não ficar doente” (N.03). “o problema é a pratica, né, acho que aqui no nosso centro a gente consegue ter mais contato porque lidamos com isso... mas nos outros centros, eu acho que as pessoas não tem noção do que é promoção da saúde... as pessoas acham que isso é de pobre.” (F.01), Entretanto, a mudança paradigmática que traz a Promoção da Saúde sugere que em um estado saudável a ausência de doença não é suficiente, nem mesmo necessária.14 Revista da ABENO r 12(2):213-8 215 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina TPCSFPRVFÊQSPNPÉÈPEBTBÙEFr0MTTPO-1BEJMIB"$-3JCFJSP%. A Saúde Pública, principalmente no contexto da atenção básica foi citada como responsável principal pela Promoção da Saúde, observada, por exemplo, na definição: “São as estratégias aplicadas nas unidades da atenção básicas de saúde” (M.01). Contudo, a promoção da saúde delineia-se como uma política que deve percorrer o conjunto das ações e projetos em saúde, apresentando-se em todos os níveis de complexidade da gestão e da atenção do sistema de saúde.15 Como público alvo das estratégias de promoção da saúde, observa-se um direcionamento para uma população de mais baixa renda, como citado, por exemplo em “dar atenção pros pobres, principalmente que não tem acesso” (F.03), e ainda comentado por outro participante: “as pessoas acham que isso é de pobre” (F.01). As áreas abrangidas nesse processo ficaram restritas ao campo da saúde, conforme encontrado em um grande número de entrevistas, que expuseram como envolvidas apenas pois, “quando a pessoa não entende o porque das coisas, dificilmente ela faz” (N.01). A população alvo para a educação descrita por parte dos entrevistados demonstrou interesse pelas crianças: “O educado sempre parte da infância, sempre a primeira infância” (F.02), citado ainda em exemplos de aplicabilidade como “vídeos para crianças” (O.02). Enquanto a meta da educação em saúde visa tornar os indivíduos melhores equipados internamente para que possam fazer escolhas mais saudáveis, a promoção da saúde tenta fazer com que essas escolhas mais saudáveis tornem-se também mais fáceis. Para isso, tenta modificar as normas da sociedade e do meio ambiente afim de que se torne mais favoráveis a obtenção de saúde.14 Pode-se observar uma dificuldade por parte dos participantes de aplicabilidade da Promoção da Saúde na área de sua escolha para atuação, como observamos na negação de qualquer possibilidade em “não, a prótese dentária já é [...] digamos que a última área, [...] é a área que tu vai reabilitar o paciente” (O.02), “as áreas da saúde” (F.02, O.02, N.01). A ocorrência da Promoção da Saúde, entretanto, ultrapassa a assistência clínica e propõe ações intersetoriais, que incluem educação, saneamento básico, habitação, renda, trabalho, alimentação, meio ambiente, lazer, entre outros.12 A relevância da educação foi relatada em muitas das entrevistas, e definida como ainda visto em “no hospital não é nem um pouco aplicável, o paciente entra, a gente cuida dele ali rapidinho, ele sai e fica por isso mesmo” (N.01) e em “a radiologia odontológica é muito voltada para diagnós- “uma troca” (E.01) tico... então é... não entra muito promoção da saúde” ou ainda, (M.01). “um processo dinâmico... todo mundo ensina e aprende ao mesmo tempo, né?”(M.02) e a justificativa da mesma foi descrita por alguns participantes pela necessidade de Sobre a importância da Promoção da Saúde, na unanimidade das entrevistas, ela foi positiva, entretanto, um descaso da universidade foi observado, como exposto em “eu acho que não é dado, eu acho que nosso curso ele “se conhecer aquilo que se ta fazendo” (M.03) 216 ainda continua sendo muito técnico, a gente sai muito Revista da ABENO r 12(2):213-8 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina TPCSFPRVFÊQSPNPÉÈPEBTBÙEFr0MTTPO-1BEJMIB"$-3JCFJSP%. despreparado da faculdade” (O.01) e em “existe ainda, alguns contrastes... até porque é... a geração que se formou anterior, que teve uma educação diferente é quem ta nos ensinando, então quer dizer, eles primeiro tem que mudar o seu... o seu... seu estilo, a sua consciência pra transmitir pra esse pessoal que ta vindo novo aí” (M.02). Segundo Botazzo (2003), o ensino odontológico tem se baseado em conteúdos técnicos fortemente arraigados ao ambulatório, e a pouca discussão das abordagens sociais dos problemas de saúde entre os estudantes e professores.7 CONCLUSÕES Os dados analisados permitiram concluir: r O perfil da amostra composta por formandos do Centro de Ciências da Saúde da UFSC foi predominantemente feminino (60%), com aproximadamente 21 anos de idade. r Quanto ao conhecimento sobre a Promoção de Saúde, os formandos demonstraram enorme dificuldade em conceituar, definir ou explicar seu significado e quase que total falta de noção de como aplicar em sua prática profissional diária. Para a maioria dos entrevistados não foi possível diferenciar prevenção de promoção da saúde, tendo sido inclusive utilizado a prevenção como definição para promoção. r Apesar da importância da Promoção da Saúde ter sido reconhecida e exaltada, pôde-se observar falta de conhecimento e entendimento sobre o tema. Federal University of Santa Catarina (HSC-FUSC) perceive Health Promotion. Methodology: Field research in the form of a descriptive and qualitative survey, aiming at analyzing the real situation by observing different phenomena and their causes. The survey respondents consisted of senior undergraduate students from HSC-FUSC, specifically, 3 students from each course, resulting in 15 students. The personal information was submitted to a descriptive analysis, as well as to qualitative analysis using the process of Analysis-Reflection-Synthesis. Results: The profile of the surveyed respondents was predominantly female (60%), and the average age was 21 years old. In respect to the students’ knowledge of Health Promotion, they demonstrated difficulty in grasping its meaning; most of the respondents could not distinguish health prevention from health promotion, and were also unable to exemplify how they would apply it in their professional practice. Although the importance of Health Promotion is indeed recognized and valued, a lack of understanding and knowledge of this subject prevailed. DESCRIPTORS Health Promotion. Oral Health. Teaching. REFERÊNCIAS 1. Organização Pan-americana da Saúde. Carta de Ottawa: Ottawa, novembro de 1986. Primeira Conferência Internacional Sobre Promoção da Saúde [documento na internet]. [Acesso em 03 jun 2010]. Disponível em: http://www.opas.org.br/ promocao/uploadArq/Ottawa.pdf. Acesso em: 03 jun. 2010. 2. Campos GW, Barros RB de, Castro AM de. Avaliação de política Nacional de Saúde. Ciên Saúde Colet. 2004; 9(3):745-749. 3. Carvalho SR. Os múltiplos sentidos da categoria “empowerment” no projeto de promoção de saúde. Cad Saúde Pública, 2004; 20(4):1088-1095. ABSTRACT The perception of senior students from the Health Science Center at the Federal University of Santa Catarina regarding health promotion In response to the current health challenges, Health Promotion deals with a theoretical-practicalpolitical approach, involves actions and health projects, and underlies all levels of complexity of health system management and of healthcare service provision. It must prepare the community to be able to help in supervising the whole process to improve the quality of life and health. Given the importance of this knowledge, this paper intends to show how senior students from the Health Science Center at the 4. Leavell H, Clark G. Medicina preventiva. São Paulo: Mcgraw-hill do Brasil, 1976. 5. Stotz EM, Araujo JWG. Promoção da saúde e cultura política: a reconstrução do consenso. Saúde Soc, 2004; 13(2):5-19. 6. Koifman L. O modelo biomédico e a reformulação do currículo médico da Universidade Federal Fluminense. Hist Ciênc Saúde – Manguinhos, 2001; 8(1):48-70. 7. Botazzo C. Saúde bucal e cidadania: transitando entre a teoria e a pratica. In: Pereira AC, orgnizador. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Editora Artmed; 2003. p.17-27. 8. Araujo ME de. Palavras de silêncio na Educação superior em Odontologia. Ciên Saúde Colet, 2006; 11(1):79-182. 9. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimen- Revista da ABENO r 12(2):213-8 217 Percepção dos formandos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina TPCSFPRVFÊQSPNPÉÈPEBTBÙEFr0MTTPO-1BEJMIB"$-3JCFJSP%. to: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. Saúde, Educ, 2003; 7(12):91-112. 13. Acosta PHO de, Duarte LR. Promoção de Saúde: Promoção ou 10. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Prevenção? Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, 2007; 9(1):23-24. Saúde [documento na internet]. [acesso em 03 jun 2010]. 14. Nadanovsky P. Promoção da Saúde e a Prevenção das Doenças Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ Bucais. In: Pinto VG. Saúde Bucal Coletiva. 4. ed. São Paulo: portaria687_2006_anexo1.pdf Santos, 2000. Cap. 9, p. 293-339. 11. Alves ED, Arratia A, Silva DG da. Perspectivas Histórica e Conceitual da Promoção de Saúde. Cogitare Enferm, 15. Campos GW, Barros RB, Castro AM de. Avaliação de política Nacional de Saúde. Ciên Saúde Colet, 2004; 9(3):745-749. 1996;1(2);2-7. 12. Sícoli JL, Nascimento PR do. Promoção de saúde: concepções, princípios e operacionalização. Interface - Comunic, 218 Revista da ABENO r 12(2):213-8 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação em odontologia Carlos Rafael do Carmo Rodrigues*, Marcos Alex Mendes da Silva** * Graduando em Odontologia pela Universidade Severino Sombra, Vassouras, RJ, Brasil ** Docente do Curso de Odontologia da Universidade Severino Sombra, Vassouras, RJ, Brasil RESUMO O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão e Educação no trabalho, elaborou o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde como um incentivo aos cursos da área da saúde para promoverem uma mudança de cenários na prática do ensino, introduzindo assim os alunos no Sistema Único de Saúde, a fim de mostra-lhes as reais demandas da população e prepará-los para o mercado de trabalho. O objetivo deste estudo consistiu em realizar uma análise nos cursos de odontologia do Brasil, contemplados com o Pró-Saúde, entrevistando seus coordenadores, sobre o impacto das ações do programa no ensino e sobre o quanto eles estão informados em relação as ações do Pró-Saúde. Foi aplicado um questionário estruturado de forma virtual aos 45 coordenadores de graduação em odontologia no Brasil após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Severino Sombra, sob o parecer de número 008/2012-1. Os resultados preliminares apontaram que 25% perceberam que o programa influenciou tanto na estrutura física, quanto na matriz curricular, onde, em 67% das universidades foi acrescentado uma carga horária extra destinada a estágios nas Unidades Básicas de Saúde. Apesar dos coordenadores afirmarem que em 50% das universidades, o corpo discente e 50% do corpo docente não estarem informados sobre as ações do Pró-Saúde, pôde-se perceber que o Pró-Saúde influenciou de forma positiva o ensino odontológico. DESCRITORES Pró-Saúde. Cenários de Prática. Sistema Único de Saúde. Atenção Básica. s limites da interpretação biomédica do adoecimento das pessoas acompanhou durante anos a formação profissional em Odontologia, até que as Diretrizes Curriculares Nacionais propostas para os referidos cursos, sinalizaram uma mudança de perfil do profissional a ser formado, incorporando novos aspectos em sua formação generalista, humanista, crítico e reflexiva.1 Ao esperar por essas mudanças propostas pelo governo, os dentistas recém-formados acabavam ficando como mão de obra passageira até que tivessem condições de sair e se especializar, e migrassem para níveis mais complexos. Então o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, elaboraram o Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde, a fim de estruturar as medidas propostas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, mudando os cenários de prática da graduação, aproximando-os da realidade dos futuros cirurgiões-dentistas e tentando atraí-los a ficar e se estabilizar. A presente pesquisa centra seu olhar sobre a diversificação dos cenários de prática na formação em Odontologia e no impacto que as ações subsidiadas pelo Pró-saúde I e II promoveram nestes cenários de formação, enquanto política pública, e na sua contribuição para o processo de mudança pedagógica das instituições formadoras, sob o ponto de vista de gestores de unidades de ensino. O REVISÃO DE LITERATURA A formação profissional em saúde deve englobar a importância dos diferentes níveis de complexidade, então é preciso que os cursos destaquem as importâncias das especialidades como um todo, na pretensão de se obter um profissional generalista. Abraham et al.2 comparando as percepções dos Revista da ABENO r 12(2):219-26 219 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". alunos do curso de medicina em Melaka Manipal Medical College (MMMC) (Manipal Campus, Índia), percebeu que os alunos dos períodos mais avançados estavam desmotivados, e os alunos dos períodos iniciais, estavam mais empolgados, e incentivados, devido a variedade de cenários práticos presentes nesses. Ferreira et al.3 afirmam que além da motivação, a mudança de cenários práticos ajuda na percepção do processo saúde-doença, quando os alunos são levados até as Unidades Básicas de Saúde (UBS), a fim de entender o funcionamento, e a realidade da população, formando assim profissionais mais críticos e reflexivos, seguindo assim o pensamento de Cabral et al.,4 que afirmam que os estudantes e demais profissionais envolvidos nesse processo se tornam, não só profissionais de determinadas áreas, mas sim promotores de saúde, o que é o mais importante, que são profissionais generalistas, capazes de se adaptar ao ambiente, atender a demanda da população e ainda, controlar os níveis de saúde-doença, através da prevenção da doença e não só da cura da mesma, o que coincide com as afirmativas de Feuerwerker, Costa e Rangel.5 Durante a década de 90, iniciou-se a mudança nas instituições de ensino superior, na tentativa de aproximá-las aos serviços públicos, porém a efetivação dessas alterações nas matrizes curriculares só aconteceu com a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) em 2002, como resultado da Lei de Diretrizes e Bases da Educação no 9394/96 e pela Reforma Sanitária Brasileira, que incentivou a interação ensino-serviço-comunidade. Essas diretrizes têm como objetivo encorajar o reconhecimento de habilidades, conferências e conhecimento obtido fora do ambiente escolar, fortalecendo a interação da teoria com a prática dos serviços e valorizando os estágios e participações em atividades da extensão.6 A inserção dos alunos nos cenários de prática, guiados pelos estágios curriculares, permite ao acadêmico aprender a valorizar o coletivo com um olhar mais reflexivo sobre os usuários, além de obter experiência em trabalho de equipe e elaborar ações de promoção de saúde ao invés de apenas tratar ou curar a doença.7 Alguns elementos que contextualizavam a diversificação dos cenários de aprendizagem acadêmica no Brasil, como as Diretrizes Curriculares Nacionais, para os cursos em graduação na área da saúde, o AprenderSUS, que engloba a produção de habilidades técnicas e o entendimento dos objetivos do SUS, 220 o ProMed são objetos apontados por Carvalho 8 e posteriormente o Programa Nacional de Reorientação na Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), como instrumentos de incentivo à formação, que tem como princípio direcionar o preceito constitucional que declara “a saúde como um direito e um dever do estado” garantindo atenção a saúde de forma universal, integral e com qualidade a todos os brasileiros. E outro objetivo do programa é formar equipes interdisciplinares, capazes gerir e organizar o sistema, respondendo aos desafios desta dinâmica complexa e pouco organizada presente nos processos de trabalho em saúde. O Ministério da saúde, através da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES), elaborou, em conjunto com a Secretaria de Educação Superior (SESu) e com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério da Educação, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), a fim de permitir a intervenção do governo nos cenários de prática das Instituições de Ensino Superior, contempladas com o programa, na tentativa de incluí-las no serviço público, aproximando os futuros profissionais da realidade do mercado e das demandas da população, e incentivando-os a fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta levou em consideração a sustentação estrutural sugerida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação para as profissões de saúde, bem como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES).8 Através das Portarias Interministeriais MS/MEC nº 2.101, de 03 de novembro de 2005 e MS/MEC nº 3.019, de 27 de novembro de 2007, os cursos de graduação em odontologia, foram contemplados com o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), a fim de que os processos de reorientação acompanhassem simultaneamente distintos eixos, proporcionando uma escola formadora integrada ao serviço público de saúde, fortalecendo assim, a capacidade gestora e resolutiva do SUS.9 Preocupados em garantir um serviço público de qualidade, o governo federal, sintonizou as necessidades da população com a formação profissional, levando o Ministério da Educação em Parceria com o Ministério da Saúde, criarem formas de reorientar a formação profissional em saúde, reestruturando seus eixos de formação acadêmica, integrando o en- Revista da ABENO r 12(2):219-26 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". sino ao serviço público, assegurando assim uma abordagem geral do processo saúde-doença, enfatizando a atenção básica. Para isso, estipularam vários objetivos como:6 r reorientar o processo de formação dos profissionais da saúde, de modo a oferecer à sociedade profissionais habilitados para responder às necessidades da população brasileira e à operacionalização do SUS; r estabelecer mecanismos de cooperação entre os gestores do SUS e as escolas, visando à melhoria da qualidade e à resolubilidade da atenção prestada ao cidadão, à integração da rede pública de serviços de saúde e à formação dos profissionais de saúde na graduação e na educação permanente; r incorporar, no processo de formação da área da Saúde, a abordagem integral do processo saúde-doença, da promoção da saúde e dos sistemas de referência e contra-referência; r ampliar a duração da prática educacional na rede pública de serviços básicos de saúde, inclusive com a integração de serviços clínicos da academia no contexto do SUS. A fim de orientar as instituições durante as ações de reorientação profissional, foram elaborados três eixos para as ações desenvolvidas pelo Pró-Saúde, tendo cada um dos vetores específicos: r Eixo A - Orientação Teórica: A1 - Determinantes de saúde e doenças A2 - Pesquisa ajustada a realidade local A3 - Educação permanente r Eixo B - Cenários de Prática: B1 - Integração ensino-serviço B2 - Utilização dos diversos níveis de atenção B3 - Integração dos serviços próprios das IES com os serviços de saúde r Eixo C - Orientação Pedagógica: C1 - Integração básico-clínica C2 - Análise crítica dos serviços C3 - Aprendizagem ativa Ao citar orientação teórica, a proposta do programa é trabalhar os determinantes de saúde, estudos clínico-epidemiológico e determinação biológico-social da doença, tudo sustentado por evidências que permitem avaliar criticamente o processo saúde-doença, além de redirecionar intervenções e protocolos. Objetiva-se também o estudo de questões administrativas do SUS, a fim de melhorar a capacidade gestora, e de tomada de decisões dos futuros profissionais. Para isso, o documento ministerial destaca os seguintes objetivos deste eixo:10 r priorizar os determinantes de saúde e os biológicos e sociais da doença; r pesquisa clínica-epidemiológica baseada em evidências para uma avaliação crítica do processo de Atenção Básica; r orientação sobre melhores práticas gerenciais que facilitem o relacionamento; r atenção especial à educação permanente, não restrita à pós-graduação especializada. Ao citar cenários de prática, objetiva-se desinstitucionalizar as atividades práticas realizadas pelas instituições de ensino, ou seja, fazer com que ocorram fora das universidades, em ambulatórios, domicílios, comunidade, unidades básicas de saúde, escolas e outros lugares possíveis, contradizendo a tendência de fazer com que as atividades práticas, ocorram apenas em clínicas, laboratórios e locais de alto custo de utilização. Os cenários de formação profissional devem ser diversificados, somando além de equipamentos de saúde, equipamentos educacionais e comunitários. Essa mudança, deve acontecer desde os períodos iniciais, a fim de que os acadêmicos possam assumir situações problemáticas de acordo com seu grau de autonomia. Este eixo, apresenta alguns objetivos como:10 r utilização de processos de aprendizado ativo (nos moldes da educação de adultos); r aprender fazendo e com sentido crítico na análise da prática clínica; r o eixo do aprendizado deve ser a própria atividade dos serviços; r ênfase no aprendizado baseado na solução de problemas; r avaliação formativa e somativa. A orientação pedagógica refere-se a uma mudança na forma de ensino aprendizagem, propondo desafios que possam ser superados pelo estudante, possibilitando-os que sejam construtores de conhecimento, tendo assim o professor como orientador e facilitador deste processo. Um preceito pedagógico clássico é o “aprender-fazendo”, e a proposta é justamente o contrário, “fazer-aprendendo” a fim de estimular o aluno a produzir conhecimento, gerando a dinâmica ação-reflexão-ação. Então o documento ministerial destaca os objetivos deste eixo:10 Revista da ABENO r 12(2):219-26 221 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". r diversificação, incluindo vários ambientes e níveis de atenção; r maior ênfase no nível básico com possibilidade de referência e contra-referência; r importância da excelência técnica e relevância social; r ampla cobertura da patologia prevalente; r interação com a comunidade e alunos, assumindo responsabilidade crescente mediante a evolução do aprendizado; r importância do trabalho conjunto das equipes multiprofissionais. Para uma universidade ser selecionada pelo Pró-Saúde, tem que obedecer a uma série de critérios, como tratamento equilibrado dos três eixos (orientação teórica, cenários de prática e orientação pedagógica), ter clareza na abordagem dos determinantes sociais de saúde/doença e no esquema curricular do curso, possibilidade de articulação com o serviço de saúde do município, integração com o hospital de ensino nas redes de serviço e indicação dos parâmetros de avaliação. Então, a partir destes requisitos, foram selecionados 89 cursos para o Pró-Saúde I, sendo 24 de odontologia, 27 de enfermagem e 38 de medicina, e para o Pró-Saúde II foram selecionados 265 cursos das demais áreas da saúde, impactando sobre aproximadamente 97.000 alunos de 14 áreas envolvidas.11 Escolas contempladas com o Pró-Saúde, têm em sua carga horária, um período destinado ao SUS e as visitas às Unidades Básicas de Saúde, sendo esta maior ou menor, de acordo com o nível de importância dado por seus representantes. E percebe-se que esta diversificação de cenários vem acontecendo de forma efetiva, melhorando assim a formação humanística dos novos profissionais que serão lançados no mercado de trabalho, tornando-os aptos a responder às demandas da população.12 Palmier et al.13 relatam as experiências da disciplina de Ciências Sociais Aplicadas a Saúde, na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, respondendo às recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais e do Pró-Saúde, e durante esse período, percebeu-se que apenas uma pequena parte dos estudantes utiliza o Sistema Único de Saúde, e a maioria descartaria trabalhar no serviço público, devido as informações passadas pela mídia em relação a precariedade de materiais, baixos salários, e outros aspectos transmitidos pela mídia, que acabam gerando um preconceito, que se não for bem trabalhado, muitos profissionais vão 222 continuar seguindo outras áreas e sem interesse no SUS. O Pró-Saúde serviu para motivar os futuros profissionais a se capacitarem e prestar serviço a saúde pública. Silva14 afirma em pesquisa realizada em Valença, RJ, que parte da população, muitas vezes por não ter informação o suficiente, acaba condicionando a insatisfação com o serviço de prestação de saúde com a insuficiência do mesmo. Porém boa parte tem consciência de seus direitos, mas acreditam que a não prestação do serviço muitas vezes se deve ao fato de haver favorecimento de terceiros, ou por falta de recursos, o que leva a crer num possível despreparo dos profissionais em relação a formação ética e humanista, que é uma das principais linhas de defesa do Pró-Saúde e das DCNs. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, que utiliza a abordagem quantitativa para coleta, e a estatística descritiva para a análise e interpretação dos dados levantados. O estudo trabalhou com um universo amostral formado por coordenadores e/ou responsáveis pedagógicos pelo Curso de Graduação em Odontologia (Coordenadores de Colegiado de Curso, Diretores de Faculdades ou representantes legais, dependendo da organização administrativa da instituição) contemplados com o Pró-Saúde I ou II, componente estabelecido como critério de inclusão no estudo. Buscando minimizar perdas ao longo do processo, foi previamente feito contato virtual, telefônico e por correspondência oficial com as pessoas envolvidas como voluntárias na pesquisa, no sentido de incentivar sua participação. Foi aplicado um questionário fechado virtual aos coordenadores dos cursos de Odontologia, no formato de survey, cujas respostas foram reenviadas automaticamente e alimentaram um banco de dados no domínio do Google docs. O projeto de pesquisa foi encaminhado para análise ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Severino Sombra, como determina a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres humanos, e aprovado sob parecer nº 008/2012-1. As informações somente passaram a ser coletadas após prévia autorização dos participantes da pesquisa, por meio do Termo do Consentimento Livre e Esclarecido online, devidamente aprovado Revista da ABENO r 12(2):219-26 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". pelo referido Comitê de Ética em Pesquisa, garantindo assim, o sigilo e o anonimato do depoimento dos participantes, visando a proteger sua privacidade e de suas instituições. RESULTADOS Apesar de haver 45 cursos de odontologia contemplados com o Pró-Saúde, apenas 13 responderam ao instrumento, justificado por alguns estarem de licença, greve em universidades públicas, entre outros motivos. Desses, 11 cursos foram contemplados com o Pró-Saúde I e 2 com o Pró-Saúde II. Em 70% dos cursos (Gráfico 1), o Pró-Saúde trouxe uma readequação da estrutura física da rede de serviços e a valorização dos cenários de prática para a aprendizagem discente, com mudança da matriz curricular e dos métodos de ensino/aprendizagem adotados pelos docentes. O Pró-Saúde promoveu em 85% (Gráfico 2) dos cursos a integração ensino-serviço envolvendo a comunidade como o espaço social participativo. Em 85% (Gráfico 3) dos cursos o Pró-Saúde promoveu a integração entre a orientação teórica do curso e prática nos serviços públicos. Todos os coordenadores afirmaram que os alunos estão mais preparados para o enfrentamento dos desafios profissionais. Em 70% (Gráfico 6) dos cursos houve um incremento na carga horária total destinada aos estágios supervisionados na rede de serviço do SUS e em 0% 0% 19% 30% 15% 70% 85% sim sim não não não se aplica não se aplica O Pró-Saúde promoveu a integração ensino/ O Pró-Saúde promoveu a integração entre a serviço envolvendo a comunidade como espaço social participativo? orientação teórica do curso e a prática nos serviços públicos de saúde com a participação de demais núcleos disciplinares? B 8% C 54% A - 85% 38% sim não não se aplica ? O Pró-Saúde contribui com A: readequação = O corpo docente do curso de Odontologia da estrutura física da rede e valorização dos cenários de prática, mudança da matriz curricular e nos métodos de ensino/aprendizagem adotados pelos docentes, B: readequação da estrutura física da rede e valorização dos cenários de prática somente, C: mudança da matriz curricular somente. conhece as ações do Pró-Saúde na IES? Revista da ABENO r 12(2):219-26 223 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". 0% 8% 54% 30% ?%sim não 38% não se aplica sim não 70% não se aplica @ Todo o corpo discente do curso de Odontologia conhece as ações do Pró-Saúde na IES? J Houve um incremento na carga horária total 54% (Gráficos 4 e 5) dos cursos os corpos docente e discente conhece as ações do Pró-Saúde, em 38% não conhecem e 8% não souberam responder. Em todos os cursos o Pró-Saúde foi capaz de valorizar a atuação profissional na atenção primária à saúde no meio acadêmico. zados, e estes profissionais, que não conseguem lidar com os materiais que estão à disposição, ou seja, são treinados apenas para trabalhar com determinados materiais. Esse despreparo fica evidente ao chegar a uma UBS, pela insatisfação demonstrada pela população com o SUS, culpando o sistema por uma falha do profissional, o que motiva o governo a criar programas para a preparação dos profissionais em saúde, começando desde a sua formação, como é o caso do Pró-Saúde.14 Cabral et al.4 relatam a dificuldade da triangulação ensino-serviço-comunidade, necessária para o entendimento das reais necessidades da população, enquanto Silva et al.12, destacam que as escolas contempladas com o Pró-Saúde reservam um período para o entendimento do SUS, além de visitas domiciliares, e conhecimento das Unidades Básicas de Saúde, o que facilita a aplicação dessa triangulação proposta anteriormente. O documento ministerial8 afirma a preocupação do Estado em proporcionar um serviço público de qualidade, por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação para elaborar programas que incentivassem e reorientassem a formação profissional em prol da saúde pública, como o PROMED e o Pró-Saúde que foram direcionados a fim de proporcionar e incentivar o ensino e o entendimento do SUS e das necessidades da população, defendendo o direito a saúde através de mudanças durante a graduação, para que os futuros profissionais tenham capacidade de melhorar cada vez mais o serviço de prestação a saúde, além de colaborar na organização da gestão e torná-la apta e estruturada para responder as demandas da população. DISCUSSÃO Abraham et al.2 afirmam que estudantes estão mais empolgados nos períodos iniciais do que nos finais, devido a uma provável variedade de cenários práticos e teóricos existentes no início do curso, concordando com Ferreira et al.3 que acreditam na motivação dos estudantes, através da diversidade de cenários práticos. Cabral et al.4, afirmam que os estudantes e demais profissionais envolvidos nesse processo se tornam, não só profissionais de determinadas áreas, mas sim promotores de saúde, o que é o mais importante, que são profissionais generalistas, capazes de se adaptar ao ambiente, atender a demanda da população e ainda por cima, controlar os níveis de saúde-doença, através da prevenção da doença e não só da cura da mesma, o que coincide com as afirmativas de Feuerwerker, Costa e Rangel.5 Além desses autores, Torres1 afirma também que muitas vezes o profissional aborda o processo saúde-doença, baseado apenas nas consequências da doença, deixando passar seus determinantes sociais, fazendo com que a prevenção seja dificultada. Morita e Krigger7 afirmam que profissionais formados em locais sem diversificação de cenários saem despreparados para trabalhar em equipe e com o conceito de apenas curar a doença, sem entendê-la e pensar na melhor forma de previnir, o que os torna desatuali- = do curso destinada aos estágios supervisionados na rede de serviços do SUS com o incentivo do Pró-Saúde? Revista da ABENO r 12(2):219-26 O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". A formação ética é fundamental para a experiência profissional, pois quando relacionada a capacidade autônoma e a reflexão crítica, o profissional passa a tomar decisões coerentes e enxerga o paciente como um todo, conforme Palmier et al.13 ao relatar que o tradicionalismo na educação gera uma desorganização no processo de ensino-aprendizagem, levando a uma “produção de conhecimento” altamente desestimulante para o acadêmico, conflitando com um dos principais objetivos do Pró-Saúde que é o estímulo a busca pelo conhecimento e pelo preparo em todas as áreas, tornando-se um profissional generalista e apto a promover a saúde, seja através de palestras, diálogos e outras formas. O documento ministerial9 afirma que muitas vezes a rotatividade de profissionais nas Unidades Básicas de Saúde, se deve a falta de preparo profissional que muitas vezes não atinge às demandas da população de forma adequada, o que levou o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação a perceberem que seria necessário reorientar a formação profissional em saúde pública, e para auxiliar na organização dessas práticas nas Instituições de Ensino Superior foram criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais que conforme o Brasil6 propunham uma flexibilidade na organização dos currículos além de promover a interação ensino-serviço-comunidade. CONCLUSÃO Com a presente pesquisa, apesar de um estudo preliminar, pôde-se já perceber que o Pró-Saúde está sendo eficaz e eficiente para os cursos de Odontologia, pois segundo os coordenadores participantes, os cursos vêm modificando a matriz curricular, acrescentando uma carga horária extra, dedicada ao conhecimento das ações do SUS, e das Unidades Básicas de Saúde. Os cenários de prática sofreram e ainda sofrem alterações, sendo assim os alunos tem vivenciado melhor a realidade do SUS, e aos poucos apagando ou pelo menos melhorando a imagem negativa transmitida pela mídia, apesar de ainda existirem muitas mudanças a serem feitas. Um aspecto negativo da pesquisa é o fato de apesar das presentes melhoras trazidas pelo Pró-Saúde, grande parte dos professores e alunos dos cursos contemplados, não conhecem as ações do Pró-Saúde, apesar de vivenciá-las, não dando assim o devido reconhecimento que o programa merece. O Pró-Saúde vem melhorando a percepção destes novos profissionais, que estão sendo lançados no mercado de trabalho melhor preparados para atender às demandas da população, tendo um olhar mais crítico, reflexivo e humanístico, capazes de enxergar o paciente como um todo, realizar ações de promoção de saúde e prevenção de doenças, com um melhor entendimento do processo saúde-doença, além de serem mais generalistas, atendendo de fato as demandas da população. ABSTRACT The impact of practice scenarios proposed by ProHealth in dentistry training The Health Education and Work Management Department (SGTES) under the Ministry of Health drafted the National Program of Professional Health Training Realignment (Pro-Health) as an incentive for healthcare courses to promote a change in teaching practice scenarios, for the purpose of introducing students into the Health System, and, in turn, showing them the real demands of the population and preparing them for the job market. The aim of this study was to analyze the dentistry courses in Brazil where the Pro-Health program was implemented. Course coordinators were interviewed on the impact of the teaching program and on how well-informed they were about the actions of Pro-Health. A structured questionnaire was applied online to 45 coordinators of undergraduate dentistry courses in Brazil, following approval by the USS Ethics and Research Committee (protocol number 008/2012-1). Preliminary results showed that 25% perceived that the program influenced both the physical structure and the core curriculum, in that an extra course load was added in 67% of the universities, to cover internships in Basic Health Units. Although the coordinators claimed that the student body and 50% of the faculty in 50% of universities were not informed about the actions of Pro-Health, it could be seen that Pro-Health has indeed influenced dental education positively. DESCRIPTORS Pro-Health. Practice Scenarios. Unified Health System. Primary Care. REFERÊNCIAS 1. Torres, MCMB. Interdisciplinaridade Contemplada no Projeto Pedagógico no Ensino da Odontologia: uma necessidade. IN: Rangel, JNM (org.) Caminhos Interdisciplinares na Odontologia. Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2006, 72 p. 2. Abranam, R; Ramnarayan, K; Vinod, P; Torke, S. Students’ Revista da ABENO r 12(2):219-26 @ O impacto dos cenários de prática propostos pelo Pró-Saúde na formação FNPEPOUPMPHJBr3PESJHVFT$3$4JMWB.". perceptions of learning environment in an Indian medical ria Interministerial nº 2.101 DE 3 de novembro de 2005. Dis- school. BMC Med Educ; 2008. p. 8-20. ponível em: http://www.abem-educmed.org.br/publicacoes/ 3. Ferreira, RC; Silva, RF; Aguera, CB. Formação do Profissional Médico: a Aprendizagem na Atenção Básica de Saúde. Revista Brasileira de Educação Médica. 2007. n. 52 v.1, supl. 31, p. 52 boletim_virtual/volume_10/portaria_pro_saude.pdf Acesso em: 09/12/09. 9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Programa Nacional de Reorien- – 59. 4. Cabral, PE; Machado, JLM; Machado, VMP; Pompílio, MA; tação da Formação Profissional em Saúde (Pró – Saúde), Vinha, JM; Ayash, W; Mattos, MCI. Serviço e Comunidade, 2008. Disponível em: http://www.prosaude.org/publicaco- Vetores para a Formação em Saúde: o Curso de Medicina da Uniderp. Rev. bras. educ. méd; 2008. n. 375, v.3, supl. 32, p. es/index.php Acesso em: 09/12/09. 10. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Programa Nacional de Reorien- 374 – 382; 4. Feuerwerker L. Educação dos profissionais de saúde hoje: tação da Formação Profissional em Saúde (Pró – Saúde), problemas, desafios perspectivas e as propostas do Ministério 2009. Disponível em: http://www.prosaude.org/not/prosau- da Saúde. Rev ABENO. 2003;3:24-7. de_maio2009/prosaude.pdf Acesso em: 21/06/12. 5. _______. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Na- 11. Silva MAM, Amaral JHL, Senna MIB, Ferreira EF. O Pró-Saú- cionais dos Cursos de Graduação em Farmácia e Odontolo- de e o incentivo à inclusão de espaços diferenciados de apren- gia. CNE/CES nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Disponível dizagem nos Cursos de Odontologia no Brasil. Revista Interfa- em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES1300. ce, Comunicação, Saúde e Educação (UNIFESP) 2012. v.16, n.42. pdf Acesso em 10/02/10. 6. Morita, MC; Kriger, L. Mudanças nos cursos de odontologia e 12. Palmier AC, Amaral JHL, Werneck MAF, Senna MIB, Lucas a interação com o SUS. Revista da ABENO; 2004. n. 4, v.1, p. SD. Inserção do aluno de odontologia no SUS: contribuições 17-21. do Pró-Saúde. Rev. bras. educ. méd. 2012. n .36, supl.2, p. 152- 7. _______.Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional 157. 13. Silva MAM, Ferreira EF, Silva GA. O direito à saúde: represen- em Saúde – Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvol- tações de usuários de uma unidade básica de saúde. Physis vimento potencial/Ministério da Saúde, Ministério da Educa- [online]. 2010. n.4, vol.20, ISSN 0103-7331. ção. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 86 p.: il. – (Série C Projetos, Programas e Relatórios). 8. _______ Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Porta- J Revista da ABENO r 12(2):219-26 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção discente Lígia Noemia Parlandin de Sales*, Liliane Silva do Nascimento**, Gustavo Antônio Martins Brandão***, Ana Carla Carvalho de Magalhães****, Flávia Sirotheau Correa Pontes**** * Aluna de Graduação da Faculdade de Odontologia da UFPA ** Professora Adjunta em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da UFPA *** Professor Adjunto em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da UFPA **** Professora Adjunta da Faculdade de Odontologia da UFPA RESUMO Atualmente, discute-se muito sobre a importância e qualidade do ensino à distância nas universidades do Brasil. O avanço das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) no contexto dos sistemas educacionais de ensino superior determina uma crescente demanda por formação continuada, tanto na modalidade de ensino presencial quanto na Educação a Distância (EaD). A inclusão das TICs nos currículos constitui uma forma de estimular, potencializar e aprimorar seu uso. Este estudo objetivou identificar a percepção dos alunos de graduação e pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Pará acerca de EaD e o uso das TICs durante sua formação acadêmica. Aplicou-se um questionário autoexplicativo com oito questões objetivas a 166 discentes no ano de 2012. Os resultados foram organizados e analisados em planilhas do Microsoft Excell®. Conclui-se que as Tecnologias da Informação e Comunicação são tidas como uma importante ferramenta na aprendizagem dos discentes. Apesar disso, a grande maioria deles não as utiliza a favor da Educação a Distância, pois ainda não consegue compreender a finalidade desse tipo de ensino, mostrando pouco interesse pelo assunto. DESCRITORES Educação à distância. Tecnologia da informação. Educação em Odontologia. educação a distância apresenta-se como um grande passo para a democratização do conhecimento intelectual, oportunizando o acesso ao ensino de forma mais fácil, democratizando o conhecimento e facilitando a aprendizagem ao utilizar atividades teóricas e práticas que possam ser realizadas a partir de orientações remotas.5 No ensino superior, de um modo geral, a oferta da educação a distância (EaD) atrela-se à necessidade de atender a demandas da sociedade, mais especificamente àquelas que dizem respeito ao mundo do trabalho, no sentido de concretizar, de modo rápido e flexível, a preparação de profissionais, seja em termos de formação inicial ou continuada.4 No Brasil somente em 1923, por iniciativa da Rádio Roquete Pinto, a EaD é utilizada no ensino de cidadania aos ouvintes. A chegada do rádio e, posteriormente da televisão, provocou uma revolução nessa modalidade educacional e com a criação das TVs Educativas, em 1965, a televisão teria uma penetração maior na formação da sociedade brasileira.22 Com um crescimento extraordinário e acessado por milhares de usuários, a EaD é uma realidade presente em praticamente todas as instituições de ensino superior no Brasil.28 A Educação a Distância surgiu no século XIX, rompendo com os padrões da educação presencial e convivendo com ela. O avanço tecnológico das últimas décadas permitiu novo impulso, favorecendo o A Revista da ABENO r 12(2):227-32 227 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção EJTDFOUFr4BMFT-/1/BTDJNFOUP-4#SBOEÈP("..BHBMIÈFT"$$1POUFT'4$ crescente aumento e a democratização do acesso à educação.2 Em cursos à distância, o uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), consistem em uma opção de mídia utilizada para mediar o processo ensino-aprendizagem à distância, neles são incorporados uma série de serviços ou ferramentas disponíveis para otimizar o ensino.26 Indiscutível o fato de que a internet, nesse contexto, configura-se como importante difusor da EaD dada sua diversidade de ferramentas de interação, seu baixo custo e popularização, fatores que lhe confere vantagens na possibilidade do rompimento de barreiras geográficas de espaço e tempo além do compartilhamento de informações em tempo real.3 Apesar do contínuo debate a respeito da eficácia das aplicações da aprendizagem virtual, a utilização das TICs acrescenta valor aos métodos tradicionais de ensino, constituindo-se como um complemento às abordagens tradicionais.18 Desenvolver metodologias didáticas que utilizem as novas tecnologias de informação e de comunicação para o auxílio no processo de ensino requer conhecer o perfil de acesso a estes recursos por parte da população alvo. Há a necessidade de conhecer as variáveis implícitas ao uso da Internet, como meio de comunicação e de seleção de informações para alunos de graduação, pós-graduação e educação continuada.17 Os cursos devem ser vistos pelos estudantes como um recurso adicional e a infra-estrutura deve ser condição integrante e presente no processo.10 Nesse novo ambiente de trabalho, o estudante é convidado a refletir sobre o tema proposto, sem receber o conteúdo de maneira passiva, e assim ter subsídios para construir seu próprio saber e desenvolver técnicas individuais de apreensão do conhecimento.9 Como em toda a abrangência da Educação Superior, a Odontologia não poderia ficar fora da incorporação da tecnologia como ferramenta auxiliar no ensino e no aprendizado. O uso das tecnologias de informação e comunicação constitui ferramentas de crescente importância para a Odontologia, assim como em outras áreas da saúde, pois permitem o uso de novas mídias educacionais que proporcionam aos estudantes o exercício da capacidade de procurar e selecionar informações, aprender de forma independente e mais autonomamente, solucionar problemas. A inclusão das TICs nos currículos constitui uma forma de estimular, potencializar e aprimorar seu uso.11 228 Esta pesquisa objetivou identificar a percepção que os alunos de graduação e pós-graduação em odontologia da Universidade Federal do Pará possuem sobre EaD e o uso das TICs durante sua formação acadêmica. MATERIAL E MÉTODO A pesquisa seguiu a Resolução 196/96 do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Plataforma Brasil, tendo sido aprovada sob o Parecer de Nº 199.692. Trata-se de um estudo transversal exploratório, descritivo com discentes de graduação e pós-graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará. O estudo foi realizado no período de agosto a dezembro de 2012. Estavam regularmente matriculados nesse período 450 alunos da graduação e 28 alunos do mestrado. A pesquisa envolveu a aplicação de um questionário. Após a elaboração, o instrumento foi testado. O estudo piloto, preenchido voluntariamente pelo próprio sujeito de pesquisa após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), foi realizado com 15 alunos de graduação nos meses de agosto e setembro de 2012. O objetivo deste estudo piloto era fazer a validação do questionário quanto ao conteúdo e à clareza e objetividade das questões. O retorno do estudo piloto foi positivo, com todos participantes conseguindo interpretar de forma correta o questionário. O questionário era composto por oito perguntas objetivas: r se a utilização das TICs poderia auxiliar nos estudos dos alunos; r quais as mais utilizadas por eles; r se as TICs poderiam facilitar a aprendizagem durante a graduação; r se poderiam ajudá-los a ter um bom desempenho no curso; r se o ensino a distancia teria a mesma qualidade do ensino presencial; r se já tinham feito algum curso a distância; e r se ter 20% da carga horária em EAD seria bom para o curso de Odontologia. A coleta de dados foi realizada dentro das salas de aulas para os alunos dos primeiros, segundos, e sextos semestres da graduação. Para os alunos dos outros semestres (3º, 4º, 5º, 7º, 8º, 9º e 10º) a abordagem se deu dentro das clínicas antes ou após o atendimento odontológico. Com relação aos alunos de Revista da ABENO r 12(2):227-32 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção EJTDFOUFr4BMFT-/1/BTDJNFOUP-4#SBOEÈP("..BHBMIÈFT"$$1POUFT'4$ Mestrado a aplicação dos questionários ocorreu nos dias em que se encontravam na Faculdade, apenas dois dias da semana, durante o intervalo de suas aulas de pós-graduação. Muitos questionários foram entregues aos alunos para serem preenchidos e devolvidos a posteriori, devido à falta de tempo que muitos alegaram não possuir no momento. Isso provocou um déficit nos dados da pesquisa, já que muitos dos alunos não devolveram os questionários. A pesquisa resultou em 166 questionários preenchidos. Os dados foram tabulados e analisados em planilhas do Microsoft Excel® 2010 por um único pesquisador. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram aplicados questionários a 166 alunos, sendo 153 da graduação e 13 da pós-graduação. Do total de graduandos 73% (111) era do sexo feminino e 27% (42) era do sexo masculino. Dos mestrandos (13) apenas um era do sexo masculino. O uso de alguma ferramenta das TICs foi massificamente relatado por todos, dado que se justifica na literatura científica, em que se verifica o uso das TICs como um novo caminho às metodologias de ensino-aprendizagem, apontando para uma nova possibilidade à educação odontológica, sustentada na construção do conhecimento pelo aluno e no desenvolvimento de capacidades como inovação, criatividade, autonomia e comunicação.12,15,23 Sendo que de todas as TICs mencionadas no questionário (internet, vídeos-aulas, CD-ROM, chat, correio-eletrônico) a internet (50%) é a tecnologia mais utilizada (Gráfico 1). A internet é uma das mais promissoras tecnologias de suporte aos programas de educação à distância, uma vez que facilita a comunicação e disponibiliza diversas opções de interatividade.27 Com a dispersão da internet, a utilização de vídeo-aula pode ser considerada como uma importante ferramenta de interação entre o aluno e o professor.21 Com o presente estudo pode-se verificar a pequena procura dessa ferramenta por parte dos discentes entrevistados (Gráfico 2). A partir do gráfico pode-se inferir que os alunos que mais tem contato com esse tipo de tecnologia são os do 8º semestre, havendo uma significativa diminuição no uso por parte dos concluintes (10º semestre). As vídeo-aulas possuem grande importância para o aprendizado do aluno. Com o uso desta tecnologia o contato e a interação com o professor, mesmo à distância, tornam o processo mais motivador, fazendo com que esta tecnologia permita auxiliar tanto no aprendizado da disciplina quanto em uma maior aproximação entre estes agentes.21 As vantagens da utilização das TICs no ensino da odontologia ficaram evidentes, pois, quando questionados sobre se o uso das TICs pode facilitar o aprendizado tanto na graduação quanto na pós-graduação praticamente 100% responderam positivamente. Os resultados ainda revelam que as TICs são instrumentos fundamentais para o ensino, estando intimamente relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, atuando como agentes facilitadores deste processo e aumentando a velocidade de transmissão das informações.29 Para a grande maioria dos graduandos (92%) e dos mestrandos (85%) o uso de TICs pode aumentar as chances de obter um bom desempenho no curso. Está claro na literatura que o uso das TICs constitui ferramenta de crescente importância não só para a Odontologia, mas para outras áreas de conhecimen- 12 0% 50% 9% internet vídeos-aulas 7 6 6 5 5 4 3 4 vídeo-aulas 2 CD-ROM chat Distribuição de TICs mais utilizadas pelos dis- re 10 ºs em es t es tre es tre 9º s em es tre 8º s em es tre 7º s em es tre 6º s em es tre 5º s em es tre 4º s em es tre em 3º s 1º s em outros es tre 0 correio eletrônico centes de Odontologia da UFPA, 2012. 9 8 em 21% 9 8 2º s 1% Frequência de uso 19% 10 10 Frequência de discente da UFPA quanto ao uso de vídeo-aulas, 2012. Revista da ABENO r 12(2):227-32 229 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção EJTDFOUFr4BMFT-/1/BTDJNFOUP-4#SBOEÈP("..BHBMIÈFT"$$1POUFT'4$ to. Estes instrumentos permitem o uso de novas mídias educacionais, além de proporcionar aos estudantes o exercício da capacidade de procurar e selecionar informações, aprender de forma independente e solucionar problemas. Os cursos de Odontologia devem contemplar em seu currículo atividades que envolvam o uso de tecnologias, para que futuramente não se acentuem as iniquidades entre profissionais de diversos países, uma vez que atualmente, um fator crítico na utilização destas ferramentas é a grande variabilidade na competência de professores e alunos. Com a rápida evolução das mesmas, passou-se a ter acesso a informações instantâneas oriundas de todo o mundo, fato que se reflete de maneira marcante sobre o processo de ensino-aprendizagem.11 Assim, a utilização das TICs aponta para o caminho para alcançar uma meta importante para a educação odontológica, significando: incrementar a capacidade de acessar, avaliar e aplicar novos conhecimentos em benefício da sociedade, sendo necessário promover uma maior integração destas ferramentas no âmbito das atividades de ensino-aprendizagem e de avaliação.12 Tanto para os alunos da graduação (60%) quanto para os alunos do mestrado (69%) o ensino a distância não teria a mesma qualidade do ensino presencial (Gráfico 3). Alguns autores nos alertam que os aspectos entre o ensino presencial e a distância estão a cada dia menos opostos e mais complementares. Pois, a diferença entre presencial e a distância muitas vezes é determinado pela quantidade de tecnologias interativas utilizadas. O ensino convencional é presencial, enquanto a Educação a Distância utiliza comunicação didática mediada.1,19 Uma boa 5% escola necessita de professores presenciais e virtuais, no qual todos possam aprender com os que estão perto e longe conectados por áudio e imagem, em qualquer tempo e lugar e de forma colaborativa.19 Nesse sentido, não existe uma única forma de educação presencial, nem uma única forma de EAD e online. O que se pode comparar são as possibilidades e potencialidades de cada meio, as práticas mais comuns na sala de aula convencional e aquelas que vêm sendo utilizadas em cada tipo de curso online.25 A maioria dos discentes, graduandos (44%) e mestrandos (84%), ficaram em dúvida se ter 20% da carga horária em EAD seria bom para o curso (Gráfico 4), fato que demonstra baixo conhecimento da ferramenta e das políticas de educação superior. Segundo a Portaria 2.253 do MEC, o currículo pode ser flexibilizado em 20% da carga total, algumas disciplinas podem ser oferecidas total ou parcialmente a distância. Os vinte por cento é uma etapa inicial de criação de cultura “on-line”. Mais tarde, cada universidade irá definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual em cada área do conhecimento.20 A incorporação da educação a distância nos cursos de odontologia incita alunos e professores a buscar informações e troca de experiências, com objetivo de formar um profissional crítico, reflexivo, responsável por seu aprendizado e flexível a novas situações.7-8,16,24 Muitos alunos de Odontologia ainda não conseguem compreender a finalidade do ensino a distância na graduação, em sua formação tecnicista, onde avaliam o primor da técnica manual, demonstrando pouco interesse por esse tipo de ensino. Entre todos os discentes da graduação que participaram da pesquisa apenas sete já fizeram algum curso a distância. 9% 7% 11% 26% 44% sim 38% sim não 60% talvez não não sei talvez não sei ? Distribuição da avaliação da qualidade do ensino à distância em relação ao ensino presencial entre discentes de Odontologia da UFPA, 2012. 230 = Distribuição da avaliação de opinião sobre o uso da EAD no curso presencial entre discentes da Odontologia da UFPA, 2012. Revista da ABENO r 12(2):227-32 Educação à distância e o uso da tecnologia da informação para o ensino em odontologia: a percepção EJTDFOUFr4BMFT-/1/BTDJNFOUP-4#SBOEÈP("..BHBMIÈFT"$$1POUFT'4$ Entende-se que o ensino a distância se transforma em uma provocação para que alunos e professores busquem informação, troquem produção e desenvolvam seu poder de iniciativa, descrito nas DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais). Ao propiciar esse maior aprofundamento, tal modalidade de ensino evita que apenas os conteúdos superficiais sejam ministrados para posterior avaliação.6,8,13,14,16 CONCLUSÕES Entende-se que as TICs constituem-se em ferramentas fundamentais no ensino-aprendizagem na educação superior em saúde, possibilitando uma amplitude do universo dos atores deste processo, além de fortalecer a Política Nacional de Educação Superior. Os resultados apontam para uma necessidade gritante de inclusão de novas tecnologias no ensino da graduação em odontologia, além de quebrar paradigmas tecnicistas do ensino, resquícios da formação flexeneriana. Com esta pesquisa pode-se observar que as Tecnologias da Informação e Comunicação são tidas como uma aliada dos estudantes de Odontologia durante suas atividades acadêmicas. Porém, a grande maioria deles não as utiliza a favor da EaD, pois ainda não consegue compreender a finalidade desse tipo de modalidade de educação, mostrando pouco interesse pelo assunto. Por isso há a necessidade de conscientização dos discentes de odontologia, destacando a finalidade, a metodologia e a aplicação da EaD na formação de um cirurgião-dentista e, posteriormente, em sua educação continuada. room teaching and distance learning (DL) modalities. This study aimed at assessing how undergraduate and graduate dental students at the Federal University of Pará perceive distance education and ICTs in their academic training. A questionnaire was applied with eight self-explanatory objective questions to 166 students in 2012. The results were organized and analyzed in Microsoft Excel® spreadsheets. The study concluded that students consider ICTs an important learning tool in their academic activities, but fail to use them in distance learning; they fail to understand the purpose of this type of education in their academic life, and show little interest in the subject. DESCRIPTORS Distance Learning. Information Technology. Education in Dentistry. REFERÊNCIAS 1. 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Disponível em: https://ead.ufsc.br/seminario2012/files/2012/04/Anais-versãopreliminar-.pdf. 2008;12(s1):85-92. 19. Moran JM. A educação que desejamos: novos desafios e como Recebido em 08/10/2012 chegar lá. In: Como utilizar as tecnologias na escola. 4ª ed, Papi- Aceito em 10/12/2012 232 Revista da ABENO r 12(2):227-32 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas diretrizes Camila de Siqueira Gomes*, Mariana Rocha Nadaes*, Marcos Antônio Albuquerque da Senna**, Mônica Villela Gouvêa***, Natasha Moreira Dias*, Priscila Nogueira Sirimarco* * Acadêmica do 9º período da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF) ** Dentista. Prof. Dr. do Departamento de Saúde e Sociedade do Instituto de Saúde da Comunidade da FOUFF *** Dentista. Profa. Dra. do Departamento de Planejamento em Saúde do Instituto de Saúde da Comunidade da FOUFF RESUMO Após o movimento da reforma Sanitária no Brasil e a Implantação do Sistema Único de Saúde através da constituição de 1988, diversas mudanças foram observadas no cenário da saúde do país. Contudo, algumas escolas de Odontologia não acompanharam essas transformações, mantendo até então um currículo defasado. O presente estudo buscou analisar a percepção dos alunos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF) no ano de 2008 com relação à atual grade curricular. De um total de 102 estudantes, 43 (42,2%) acham ruim a atual grade curricular, enquanto 55 (53,9%) consideram boa, e apenas 4 (3,9%) consideram ótima. Já de um total de 111 alunos, 82 (73,9%) acreditam na necessidade de mudança do atual currículo oferecido pela Faculdade, enquanto apenas 2 (1,8%) não acham necessária a mudança e 27 (24,3%) não souberam opinar. DESCRITORES Mudança Curricular. Ensino. Faculdade de Odontologia. trabalho tem como objeto a análise da formação superior em odontologia e aposta na crítica e na transformação do ensino de graduação, revendo o papel da universidade na formação do profissional, no sentido de capacitá-lo não apenas para a prática cirúrgico-restauradora, mas para o adequado O diagnóstico de necessidades e competente intervenção nos problemas de saúde da população. Esse debate foi intensamente estimulado a partir do processo de reestruturação do sistema de saúde brasileiro que vem ocorrendo desde o movimento da reforma Sanitária e da implantação do Sistema Único de Saúde, tendo se tornado evidente a inadequação da formação em saúde para atender às necessidades da sociedade. Na tentativa de propor mudanças capazes de aproximar formação e necessidades do trabalho em saúde, começou-se a questionar o clássico modelo pedagógico fragmentado e compartimentalizado caracterizado pela dissociação entre as disciplinas de áreas básicas e aquelas do chamado ciclo profissional, centrado na atividade clínica e com forte direcionamento para a especialização, em detrimento de prevenção da doença ou promoção da saúde, dificultando a percepção holística do paciente/usuário que é percebido de forma dissociada dos núcleos que o integram, que são a família e a comunidade. Muitas críticas apontam a necessidade de transformação, pautadas em mudanças no mercado de trabalho e, portanto, na necessidade de contornar as dificuldades para a inserção profissional. Essa condição é histórica como aponta Zanetti (2006),12 que afirma que desde o século XIX, como forma de garantir o controle do mercado profissional, procurou-se a estandardização do co- Revista da ABENO r 12(2):233-9 233 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ nhecimento, para que as escolas de formação buscassem apoio no conhecimento científico e empreenderam a institucionalização da Odontologia como disciplina das ciências da saúde. Esses questionamentos foram acompanhados pela introdução de conceitos relacionados ao binômio ensino-aprendizagem, evidenciando-se a necessidade de aprender a aprender, aprender a ser e aprender a fazer, sabendo como, por que e para que utilizar a informação. A formação desse novo profissional exigiria também uma nova atitude docente, principalmente pela compreensão de seu papel como facilitador da aprendizagem e mediador no processo de construção do conhecimento. Críticas apontam a necessidade de transformação, pautada nas mudanças e exigências dos cenários de trabalho e, portanto, na necessidade de contornar as dificuldades para a inserção profissional. Rodrigues e Assis (2005)9 constataram que o trabalho deve ser no sentido da construção de uma sidades da população, tarefa com a qual a maioria dos egressos acaba se envolvendo nos espaços de trabalho. Em meio a esses questionamentos, a faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (FOUFF) vem investindo na reorientação de seu Projeto Político Pedagógico (PPPC) que data de 1986. Esse processo de análise e proposição tem cerca de doze anos, considerando que este começou a ser discutido em 2000, ficou pronto no ano de 2009 e a nova previsão de entrar em vigor é para o ano de 2014. Uma pesquisa realizada por Gabin et al. (2006)4 que debate a importância das universidades na formação do profissional conclui o trabalho da seguinte maneira: “Já está mais que na hora de os projetos pedagógicos e as reformulações das diretrizes curriculares saírem da teoria e do papel para mudarem a realidade do ensino e consequentemente do País”. “consciência sanitária, para o exercício da cidadania que permita aos usuários e profissionais, o conhecimento dos aspectos que condicionam e determinam um dado estado de saúde e dos recursos existentes para sua prevenção, promoção e recuperação, onde a integralidade seja percebida como um direito a ser conquistado”. Evidencia-se ainda a necessidade de se promover formação em cenários de ensino-aprendizagem diversificados, no que diz respeito não somente ao local onde se realizam as práticas, mas aos sujeitos envolvidos, à natureza e ao conteúdo das práticas desenvolvidas.6 No Brasil muitas universidades são ainda alheias as reais necessidades da população e apenas reproduzem em salas de aula, laboratórios e ambulatórios, uma realidade da qual o país se encontra distante. Nesse aspecto, há um comprometimento no processo de aprendizagem, o que culmina na persistência de elevadas taxas de incidência e prevalência das doenças bucais.4 Para Marcondes (2001),5 uma crise de paradigmas caracteriza-se como uma mudança conceitual ou uma mudança de visão de mundo, conseqüência de uma insatisfação com os modelos anteriormente predominantes de explicação. Não podemos afirmar que chegamos a viver tal “mudança paradigmática”, mas é certo que existe descontentamento por parte de grande parcela de alunos com relação ao preparo que recebem para o enfrentamento das reais neces- 234 O novo PPPC responde às orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996) e das Diretrizes Curriculares para Cursos de Graduação em Odontologia (2001)26 no sentido de formar cirurgiões-dentistas mais capacitados às principais necessidades da população brasileira, tornando-o apto a interagir em todos os aspectos no atual sistema de saúde do país. O perfil profissional proposto é o do generalista, humanista, crítico e reflexivo, preparado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Esse profissional deve ser capacitado para o exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio e dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade.1,2 As discussões para a conformação do novo PPPC envolveram a comunidade acadêmica e este trabalho é parte de um processo amplo de avaliação na FOUFF realizado em 2008, que envolveu docentes, discentes e funcionários. Pretendeu-se neste artigo, apresentar os resultados relativos à investigação feita com os alunos com o objetivo de conhecer suas opiniões, críticas e sugestões com relação à matriz curricular de 1986 ainda vigente. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de pesquisa exploratória e descritiva Revista da ABENO r 12(2):233-9 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ desenvolvida em 2008, com o universo de alunos do curso de Odontologia da Universidade Federal Fluminense. A participação foi anônima e voluntária. Utilizou-se a técnica da aplicação de questionários com questões semiestruturadas abordando as opiniões e críticas sobre o curso, bem como sugestões com relação à necessidade de mudanças. Os questionários foram distribuídos em sala de aula depois de pré-testados. Foram aplicados 220 questionários, tendo um retorno de 111. Os dados quantitativos foram analisados estatisticamente, interpretados e discutidos. RESULTADOS O índice de retorno dos questionários foi de 50,4% e a análise dos dados permitiu conhecer a visão dos alunos participantes sobre aspectos da matriz curricular de 1986, ainda vigente na FOUFF. A maioria dos participantes respondeu que estavam seguros com relação à sua escolha profissional (78,4%) e satisfeitos com a escolha pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (74,5%). Quando solicitados a analisar a matriz curricular em sua totalidade, 53,9% a julgaram boa e apenas 3,9% a consideraram ótima. 33,6% dos participantes analisaram positivamente a estruturação e organização das disciplinas na matriz curricular. Apenas 3,6% dos participantes consideraram que as disciplinas do ciclo básico não são importantes para a formação em odontologia, porém 89,2% acham que deveria haver maior aproximação entre o ciclo básico e a prática odontológica, sendo que alguns (53,6%) avaliam negativamente o fato de o ciclo profissional iniciar apenas no 4º período. Apenas 24,3% dos respondentes relataram ter vontade de participar do movimento de representação estudantil, enquanto 75,7% não apresentaram essa disposição. As disciplinas que mais agradaram na visão dos alunos foram relacionadas no Gráfico 1. Conforme pode ser observado, foram citadas: r Anatomia (19,9%); r Periodontia (9%); r Endodontia (8,3%); r Dentística (6,6%); r Odontopediatria (6,0%) e r Odontologia Social e Preventiva (OSP; 6,0%). As disciplinas que menos agradaram na visão dos alunos foram relacionadas no Gráfico 2. Conforme pode ser observado, foram citadas: r Genética (16,9%); r Embriologia (15,1%); r Biologia Celular (7,8%); r Biofísica (6,8%); r Anatomia (6,4%) e r Cirurgia Bucal (6,4%). Com relação à prática que os alunos gostariam de estar exercendo mais, o atendimento clínico foi o Disciplinas que mais agradam na FOUFF de Niterói RJ - 2008. (m) (a) Anatomia 20,6% (l) (b) Periodontia 3,3 % (k) (a) 3,3 % (j) (c) Endodontia (d) Dentística 19,9% 4,0% (e) Odontopediatria (f) OSP (i) 4,0% (g) Radiologia (h) Histologia (h) 4,3% (i) Cirurgia bucal 9,0% (j) Biofísica 4,7% (b) (g) 6,0% (f) (l) Bioquímica 8,3% 6,0% (k) Ortodontia (m) Outras 6,6% (c) (e) (d) Revista da ABENO r 12(2):233-9 235 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ que definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Odontologia). Por sua vez, o Sistema Único de Saúde criado em 1988, vem desafiando os cursos superiores em saúde para mudanças na qualidade da formação, em especial no que diz respeito à fundamentação flexneriana dos projetos pedagógicos, cujas consequências Filho (2010)7 descreve bem: mais requisitado (37,5%), seguido de atividades em comunidades (18,8%), iniciação à pesquisa (17,8%), ações preventivas (15,8%), atividades educativas (8,9%), como mostra o Gráfico 3. DISCUSSÃO Considerando que o último PPPC da FOUFF data de 1986, depreende-se que sua reformulação pressupõe ruptura com conceitos que antecedem mudanças importantes no campo da educação e da saúde. No campo da educação, a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), (Brasil, 1996), explicitou a responsabilidade da União em definir prioridades e garantir a melhoria da qualidade do ensino. Especificamente na área da saúde, em 2001 foi aprovada a Resolução CNE/CES (as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia, aprovadas pelo CNE8 “Do ponto de vista conceitual, reiteradamente identificam-se, no modelo flexneriano, diversos elementos (ou defeitos): perspectiva exclusivamente biologicista de doença, com negação da determinação social da saúde; formação laboratorial no Ciclo Básico; (...); estímulo à disciplinaridade, numa abordagem reducionista do conhecimento. Do ponto de vista pedagógico, o modelo de ensino preconizado por Flexner é considerado massificador, passivo, (...), individualista e tendente à superespecialização, com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a formação profis- Disciplinas que menos agradaram na FOUFF de Niterói - RJ - 2008. (a) (m) (a) Genética 16,9% 17,8% (l) (b) Embriologia (c) Biologia celular 2,3% (d) Biofísica (k) 3,2% (j) (e) Anatomia 15,1% 3,2% (i) (f) Cirurgia bucal (b) (g) Endodontia 3,7% (h) Imunologia (i) Farmacologia 5,0% (h) (j) Virologia 7,8% 5,5% (g) (k) Patologia (c) 6,4% (l) Radiologia 6,8% (m) Outras 6,4% (d) (f) (e) (%) ? Práticas que gostaria 50 de estar exercitando na FOUFF de Niterói - RJ - 2008. 40 37,5 30 17,8 20 15,8 18,9 8,9 10 1,2 0 Atendimento clínico 236 Iniciação à pesquisa Atividades educativas Revista da ABENO r 12(2):233-9 Ações preventivas Atividades em comunidades Outros Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ sional em saúde. Do ponto de vista da prática de saúde, dele resultam os seguintes efeitos: educação superior elitizada, subordinação do Ensino à Pesquisa, (...), privatização da atenção em saúde, controle social da prática pelas corporações profissionais. Do ponto de vista da organização dos serviços de saúde, o Modelo Flexneriano tem sido responsabilizado pela crise de recursos humanos que, em parte, produz crônicos problemas de cobertura, qualidade e gestão do modelo assistencial, inviabilizando a vigência plena de um sistema nacional de saúde integrado, eficiente, justo e equânime em nosso país. Do ponto de vista político, por ter sido implantado no Brasil a partir da Reforma Universitária de 1968, promovida pelo regime militar, tal modelo de ensino e de prática mostra-se incompatível com o contexto democrático brasileiro e com as necessidades de atenção à saúde de nossa população, e dele resultam sérias falhas estruturais do sistema de formação em saúde.” Realmente, a análise do PPPC de 1986 vigente na FOUFF mostra que a matriz curricular segue o modelo de currículo mínimo, extinto pela LDB/1996, com características de “grade” curricular, isto é, uma relação estática de disciplinas e cargas horárias sem coerência com a base epistemológica que fundamenta esses elementos. Essa formatação está em desacordo com as diretrizes curriculares, que preconizam a aproximação precoce com as necessidades de saúde da população e a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capaz de propiciar uma atuação em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico.3 Cabe ressaltar que a partir da orientação das DCNs, nacionalmente vários cursos de odontologia iniciaram discussões sobre as necessárias mudanças, encontrando porém resistências em sua operacionalização. Nesse sentido, estudo realizado na Universidade Estadual do Ceará comparando diversas Faculdades do país no período de 1992 a 2005, constatava a dificuldade de se reorientar mudanças e o PPPC no sentido das necessidades sociais. A pesquisa de que é objeto esse artigo, procurou conhecer com os alunos, opiniões e principais críticas e sugestões com relação à matriz curricular na qual estavam inseridos, representando portanto, uma real oportunidade de manifestação anônima com relação a suas insatisfações com o curso. No entanto, observou-se que apenas 50,4% concordaram em preencher o questionário. Esse percentual poderia ser explicado por um possível desinteresse na problematização da matriz curricular vigente, consi- derando que por já estarem cursando, não seriam beneficiados por qualquer mudança. Zeneti (2001),13 estudando o perfil do jovem brasileiro com base em pesquisa sobre juventude e revolução, mostrou jovens nada alienados a sua realidade político-social. No entanto, apesar de se mostrarem conscientes das questões sociais, os jovens revelaram menor participação nas questões ligadas mais diretamente às lutas políticas. No caso da FOUFF, a intensa carga horária curricular, a busca por estágios remunerados nos horários vagos e um certo descrédito com relação ao papel das organizações estudantis, vem afastando os estudantes de seus espaços de mobilização o que pode ser comprovado pelo fato de que dentre os respondentes, 75,7% relataram não ter interesse em participar do diretório acadêmico ou de outro movimento de representação estudantil. O resultado revela a desarticulação entre os estudantes e seus representantes, mas concordando com Zeneti, talvez revele antes de tudo, desarticulação entre os próprios estudantes, não só em termos de organização como no plano das ideias. Um importante descontentamento dos alunos participantes revelado pela pesquisa, diz respeito à divisão do currículo em dois ciclos, já que 89,2% dos participantes gostariam de aproximar o ciclo básico com a prática clínica odontológica Esse resultado pode ser associado ao fato de que dentre as disciplinas que menos agradam, as mais citadas foram as pertencentes ao ciclo básico (Gráfico 2). Por outro lado, apenas 3,6% dos participantes consideram que as disciplinas do ciclo básico não são importantes para a formação em odontologia. O que na verdade 89,2% solicitam é uma maior aproximação entre o ciclo básico e a prática odontológica, e o fato desse “ciclo profissional” iniciar apenas no 4º período. Cristino (2005)10 em artigo sobre limites e possibilidades da antecipação de clínicas integradas, defende a ideia de que é preciso organizar uma dinâmica de trabalho capaz de garantir a experiência clínica nos vários procedimentos básicos da Odontologia. A autora conclui que isso pressupõe a existência de um corpo docente disposto a construir projetos integradores, para além da competência na área específica, e uma organização do trabalho pedagógico que permita a construção coletiva. Com relação às disciplinas que menos agradam e as que mais agradam na FOUFF, podemos perceber que há uma marcada predileção pelas matérias do ciclo profissional. Essas disciplinas respondem me- Revista da ABENO r 12(2):233-9 237 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ lhor à perspectiva dos alunos de atuação profissional e o fato foi reforçado quando 37,5% dos alunos manifestaram que gostariam de realizar mais atendimentos clínicos. Cristino (2005)10 fala ainda que analisando criticamente o Ensino em odontologia reconhece sua fragmentação nas disciplinas clínicas tradicionais de Periodontia, Prótese, Endodontia, Dentística, Cirurgia etc. A autora lembra que geralmente essas disciplinas são ministradas isoladamente, num nível de articulação à beira do inexistente, cuja contribuição para a qualidade de vida das pessoas é, no mínimo, questionável. Para a autora, UFF. Isso pode ser justificado com base no fato de que, mesmo com previsão de implantação do novo PPPC apenas em 2014, desde o seu encaminhamento em 2009, a FOUFF vem promovendo de forma compensatória a oferta de atividades complementares e programas de adesão voluntária, como as clínicas integradoras que aproximam alunos dos primeiros períodos com as clínicas integradas dos últimos períodos ou o programa de tutoria em saúde coletiva para calouros em que os alunos percorrem unidades da rede SUS de saúde problematizando com equipes e usuários necessidades de saúde de um determinado território. “falamos em tratar o paciente como um todo, quando a CONCLUSÃO A atual matriz curricular da FOUFF data de 1986 e ainda não foi reformulada segundo os preceitos da LDB e das DCNs para cursos de graduação em odontologia. Os resultados desse estudo contribuíram para o desenho do novo PPPC que tem previsão de implantação em 2014. O estudo revelou que a matriz curricular na ótica dos alunos corresponde a um modelo tradicional flexneriano, o que poderia direcionar os acadêmicos para uma vivência desumanizadora durante o curso universitário com possibilidade de reflexos na postura profissional futura dos egressos. Os resultados foram divulgados em quiosque organizado pelos próprios alunos durante a jornada acadêmica da FOUFF e representou instrumento para a sensibilização e divulgação do necessário movimento de mudança e do encaminhamento do novo PPPC junto à comunidade acadêmica. nossa prática ensina a lidar com partes de partes. Na melhor das hipóteses, nosso ensino tradicional tem dado conta, quando muito, ‘da boca como um todo’, como se esta pudesse representar ‘algum todo’ de alguém.” A manifestação de 18,8% dos participantes com relação ao desejo de realizar mais atividades em comunidades pode ter justificado a inclusão da disciplina de Odontologia Social e Preventiva (OSP) dentre as que agradaram, uma vez que na FOUFF, todas as ações feitas fora do ambiente universitário são coordenadas pelo Instituto de Saúde da Comunidade que reúne as OSPs. Pode-se afirmar que a conformação de um perfil profissional mais adequado às necessidades em saúde da população, obtido principalmente a partir de vivencias e práticas promovidas na perspectiva da integração ensino-serviço-comunidade, constitui um aspecto já consensual junto a muitos cursos de odontologia. Nesse sentido, Moimaz et al. (2004)11 reconhecem que as atividades extramuros possibilitam aos alunos dentre outros, o conhecimento das estruturas organizacional, administrativa, gerencial e funcional dos serviços públicos de saúde; a participação no atendimento à população; a compreensão do papel do cirurgião-dentista; a aplicação do método epidemiológico bem como a aplicação de suas bases nos programas de saúde e saúde bucal, além do conhecimento dos parâmetros e/ou instrumentos de planejamento utilizados na organização dos serviços de saúde. Por fim, os resultados evidenciaram críticas feitas pelos alunos com relação à matriz curricular de 1986 vigente, no entanto apesar de reconhecerem necessidades de mudanças, 74,5% afirmaram estar satisfeitos com a escolha pelo curso de Odontologia da 238 ABSTRACT Prospects of a dental education from the viewpoint of dental students from the School of Dentistry of the Fluminense Federal University: new curriculum guidelines and professional profile Following the health reform movement in Brazil and the implementation of the Unified Health System (SUS) as a ramification of the Constitution of 1988, several changes were observed in Brazil’s health scene. However, some dental schools failed to follow through with these changes, and their curriculum lagged behind. The present study sought to examine how the students attending the School of Dentistry of the Fluminense Federal University (FOUFF) in 2008 perceive the current curriculum. Of a total of 102 students, 43 (42.2%) consider the current curriculum poor, whereas 55 (53.9%) consider it good, and only Revista da ABENO r 12(2):233-9 Perspectiva do ensino odontológico na ótica do discente da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense: novas EJSFUSJ[FTDVSSJDVMBSFTFQFSàMQSPàTTJPOBMr(PNFT$4/BEBFT.34FOOB.""(PVWËB.7%JBT/.4JSJNBSDP1/ 4 (3.9%) consider it excellent. On the other hand, of a total of 111 students, 82 (73.9%) believe a change must be made in the current curriculum offered by the dental school, whereas only 2 (1.8%) did not think this change was necessary, and 27 (24.3%) did not know. ção de um novo compromisso na formação e desenvolvimento de profissionais de saúde. Olho Mágico, 9(1), 2002, p. 54-58. 7. Filho NA. Reconhecer Flexner: inquérito sobre produção de mitos na educação médica no Brasil contemporâneo. Cad. Saúde Pública vol.26 no12 Rio de Janeiro Dec. 2010. 8. Parecer da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação – CNE/CES nº 1.300/01, de 06/11/2001; DESCRIPTORS Curriculum Change. Teaching. School of Dentistry. REFERÊNCIAS Resolução CNE/CES nº 3, de 19/02/2002, publicadas no Diário Oficial da União de 04/03/2002) 9. Rodrigues AAAO, Assis MMA. Oferta e demanda na atenção à saúde bucal: o processo de trabalho no Programa Saúde da Família em Alagoinhas-Bahia. Rev. Baiana de Saúde Pública 1. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em 2005; 29:273-85. 10. Cristino OS. Clínicas Integradas antecipadas: limites e possibiMJEBEFTSFWJTUBEBBCFOP3FWJTUBEB"#&/0r W Odontologia. Brasília, 2001. 2. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educa- n. 1, janeiro/junho – 2005) ção. Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares 11. Moimaz SAS, Saliba NA, Garbin CAS, Zina LG, Furtado JF Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Diário AMORIM JA. Serviço Extramuro Odontológico: Impacto na Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar. 2002. Seção 1, p. 10. Formação Profissional. Pesq. Brás Odontoped Clin Integr, Jo 3. Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES 3/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 04 mar 2002 [citado 2005 ago 10]. 4. Garbin CAS, Saliba NA, Moimaz SAS, Santos KT. O papel das universidades na formação de profissionais na área de saúde. o Pessoa, v. 4, n. 1, p. 53-57, jan./abr. 2004 12. Zanetti CHG. A formação do cirurgião-dentista. In: Dias AA, organizador. Saúde Bucal Coletiva: metodologia de trabalho e práticas. São Paulo: Editora Santos; 2006. p. 21-41. 13. Zeneti H. Juventude revolução: uma investigação sobre atitude revolucionária no Brasil. Ed. Endunb, Brasília, 2001. 3FWJTUBEB"#&/0r 5. Marcondes D. A crise de paradigmas e o surgimento da Modernidade. In: Brandão Z, organizadora. A crise dos paradigmas e a educação. 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Parceria entre universidades e serviços: constru- Revista da ABENO r 12(2):233-9 Recebido em 08/10/2012 Aceito em 10/12/2012 239 Índice de artigos v. 12, n. 2, julho/dezembro - 2012 Autores Amorim, Júnia Noronha Carvalhais . . .142 Appel, Tiago Goulart . . . . . . . . . . . . . . .155 Arantes, Diele Carine Barreto . . . . . . . .142 Bandeira, Maria Fulgência Costa Lima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185 Baumgarten, Alexandre . . . . . . . . . . . .170 Bispo, Carina Gisele Costa. . . . . . . . . . .147 Brandão, Gustavo Antônio Martins . . .227 Canto, Graziela de Luca . . . . . . . .190, 198 Conde, Nikeila Chacon de Oliveira . . .185 Cunha-Araújo, Ivana Maria Zaccara . . .163 D’Assunção, Fábio Luiz Cunha . . . . . . .163 Dias, Natasha Moreira . . . . . . . . . . . . . .233 Ferretti, Lúcia Helena . . . . . . . . . . . . . .155 Garrido, Talissa Mayer . . . . . . . . . . . . . .147 Giovannini, José Flávio Batista Gabrich . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142 Gomes, Camila de Siqueira . . . . . . . . . .233 Gouvêa, Mônica Villela . . . . . . . . . . . . .233 Guimarães, Camila Coelho . . . . . . . . . .185 Hayacibara, Mitsue Fujimaki . . . . . . . . .147 Hora, Ignez A. dos Anjos . . . . . . . . . . . .207 Madeira, Luciano . . . . . . . . . . . . . . . . . .155 Magalhães, Ana Carla Carvalho de . . . .227 Marques, André Augusto Franco . . . . .185 Mello, Ana Lúcia S. Ferreira de . . . . . .190 Melo, Ângelo Brito Pereira de . . . . . . .163 Mendonça, Santuza Maria de Souza . . .142 Miguel, Luiz Carlos Machado . . . . . . . .155 Morita, Maria Celeste. . . . . . . . . . .141, 147 Nadaes, Mariana Rocha . . . . . . . . . . . . .233 Nascimento, Liliane Silva do . . . . . . . . .227 Naspolini, Débora Schramm . . . . . . . . .190 Olsson, Laís . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .213 Padilha, Ana Clara Loch . . . . . . . . . . . .213 Pereira, Dayliz Quinto . . . . . . . . . . . . . .178 Pereira, Geraldo Magela . . . . . . . . . . . .142 Pereira, Juliana Vianna . . . . . . . . . . . . .185 Pontes, Flávia Sirotheau Correa . . . . . .227 Rebelo, Maria Augusta Bessa. . . . . . . . .185 Ribeiro, Dayane Machado . . . . . . . . . . .213 Rodrigues, Carlos Rafael do Carmo . . .219 Rösing, Cassiano Kuchenbecker . . . . . .170 Salazar-Silva, Juan Ramon . . . . . . . . . . .163 Sales, Lígia Noemia Parlandin de . . . . .227 Santos, Marcela F. Sousa . . . . . . . . . . . .207 Senna, Marcos Antônio Albuquerque da . . . . . . . . . . . . . . . . .233 Silva, Aline Claudia Ribeiro Medeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147 Silva, Marcos Alex Mendes da . . . . . . . .219 Silva, Rafael Luis da . . . . . . . . . . . . . . . .147 Sirimarco, Priscila Nogueira . . . . . . . . .233 Souza, Elisa Remor de . . . . . . . . . . . . . .190 Souza, Juliana Maciel de . . . . . . . . . . . .170 Sponchiado Júnior, Emílio Carlos . . . .185 Terada, Raquel Sano Suga . . . . . . . . . . .147 Toassi, Ramona Fernanda Ceriotti . . . .170 Vieira, Gabriella Machado . . . . . . . . . . .198 Warmling, Alessandra M. Ferreira . . . .190 Diretrizes Curriculares. . . . . . . . . . . . . .198 Diretrizes Curriculares Nacionais . . . . .155 Educação à Distância . . . . . . . . . . .163, 227 Educação em Odontologia . . . .142, 147, 163, 190, 227 Educação Superior. . . . . . . . . . . . . . . . .190 Endodontia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163 Ensino . . . . . . . . . . . . . . .142, 163, 213, 233 Ensino Odontológico . . . . . . . . . . . . . .170 Ensino Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170 Estudantes de Odontologia . . . . . . . . . .207 Faculdade de Odontologia . . . . . . . . . .233 Interdisciplinaridade . . . . . . . . . . . . . . .198 Materiais de Ensino . . . . . . . . . . . . . . . .163 Mudança Curricular . . . . . . . . . . . . . . .233 Odontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .198 Órgão Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185 Pacientes Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . .207 Pró-Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Produtividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155 Promoção de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . .213 Recursos Humanos em Saúde . . . . . . . .147 Saúde Bucal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .213 Sistema Único de Saúde . . . . . . . . . . . .219 Tecnologia da informação . . . . . . . . . . .227 Education, Dental . . . . . . . . . . . . .142, 190 Education, Distance . . . . . . . . . . . . . . . .163 Education, Higher . . . . . . . . . . . . .170, 190 Educational Mesurement . . . . . . . . . . .142 Endodontics . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163 Health Promotion . . . . . . . . . . . . . . . . .213 Human Organ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .185 Human Resources in Health . . . . . . . . .147 Information Technology . . . . . . . . . . . .227 Institutional Evaluation . . . . . . . . . . . . .147 Integrated Clinics. . . . . . . . . . . . . . . . . .155 Interdisciplinarity. . . . . . . . . . . . . . . . . .198 National Curriculum Guidelines . . . . .155 Oral Health . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .213 Practice Scenarios . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Primary Care . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Pro-Health . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Productivity. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155 School of Dentistry . . . . . . . . . . . . . . . .233 Special-needs Patients . . . . . . . . . . . . . .207 Students, Dental . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207 Teaching . . . . . . . . . . . . .142, 163, 213, 233 Teaching Materials . . . . . . . . . . . . . . . . .163 Tooth Bank . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178, 185 Unified Health System . . . . . . . . . . . . . .219 Descritores Atenção Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Atitudes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207 Avaliação Curricular . . . . . . . . . . . . . . .170 Avaliação Educacional . . . . . . . . . . . . . .142 Avaliação Institucional . . . . . . . . . . . . . .147 Banco de Dentes . . . . . . . . . . . . . .178, 185 Bioética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 Biossegurança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 Cenários de Prática . . . . . . . . . . . . . . . .219 Clínica Integrada . . . . . . . . . . . . . . . . . .155 Currículo . . . . . . . . . . . . . . . .170, 190, 198 Cursos de Odontologia . . . . . . . . . . . . .178 Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .198 Descriptors Attitudes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207 Bioethics . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 Biosafety . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 Curricular Evaluation . . . . . . . . . . . . . .170 Curriculum . . . . . . . . . . . . . . .170, 190, 198 Curriculum Change . . . . . . . . . . . . . . . .233 Curriculum Guidelines . . . . . . . . . . . . .198 Dental Education . . . . . . . . . .147, 163, 170 Dentistry . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .198 Dentistry Courses . . . . . . . . . . . . . . . . . .178 Diagnosis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .198 Distance Learning . . . . . . . . . . . . . . . . .227 Education in Dentistry . . . . . . . . . . . . . .227 240 Revista da ABENO r 12(2):240