Comparação de ensaios de adensamento realizados em equipamento de cisalhamento simples (DSS) e em prensa de adensamento. Natália Lopes Rodrigues Escola Politécnica/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Graziella Maria Faquim Jannuzzi COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Fernando Artur Brasil Danziger COPPE e Escola Politécnica, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Ian Schumann Marques Martins COPPE e Escola Politécnica, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] RESUMO: Nos ensaios de cisalhamento simples (DSS) os corpos de prova são geralmente adensados para as tensões de campo antes de serem cisalhados. Dois são os tipos de equipamento de ensaio de DSS: com anéis metálicos e membrana reforçada. Em nenhum dos casos o corpo de prova tem a mesma restrição do anel rígido da célula da prensa tradicional de ensaio de adensamento. O presente trabalho objetiva apresentar uma comparação entre ensaios de adensamento efetuados em equipamento de DSS com anéis justapostos com os realizados em célula tradicional de adensamento. Os ensaios em célula tradicional foram realizados no Laboratório de Reologia da COPPE/UFRJ, enquanto aqueles realizados com o equipamento de DSS foram efetuados no Laboratório de Ensaios de Campo e Instrumentação, também da COPPE/UFRJ. Em todos os ensaios manteve-se temperatura controlada, de 20°C. O solo utilizado para os ensaios foi a argila mole de Sarapuí II. Os resultados obtidos em ambos os ensaios foram muito semelhantes, indicando a confiabilidade do ensaio de DSS na fase de adensamento. PALAVRAS-CHAVE: ensaio de adensamento, prensa de adensamento, DSS, argila mole. 1 INTRODUÇÃO O ensaio de cisalhamento simples (direct simple shear – DSS) ainda não representa uma prática usual no Brasil e, de modo especial no caso da argila mole de Sarapuí, ainda não havia sido realizado. Devido à falta de difusão deste ensaio no Brasil um pequeno resumo deste ensaio será apresentado. Os primeiros equipamentos de DSS foram desenvolvido por Kjellman (1951) e por Roscoe (1953). Vale ressaltar que nesta ocasião Kjellman e Roscoe não tinham se dado conta que se tratava de um ensaio diferente, imaginavam que estavam realizando um ensaio de cisalhamento direto melhorado. Em 1961 o Instituto Norueguês de Geotecnia (NGI) começou um estudo detalhado das propriedades fundamentais tensão-deformaçãoresistência de argilas normalmente adensadas de alta sensibilidade. O estudo foi iniciado por resultados obtidos de investigações do deslizamento ocorrido em Furre (Hutchinson, 1961). A proposta deste estudo foi obter melhor entendimento dos fatores que influenciam a resistência ao cisalhamento de campo para este tipo de argila e desenvolver métodos que permitissem avaliar a estabilidade de taludes naturais. Uma descrição detalhada do DSS foi realizada no trabalho clássico de Bjerrum e Landva (1966). Segundo Vucetic e Lacasse (1982), o DSS tornou-se relevante por causa do maior conhecimento da importância da anisotropia no comportamento tensão-deformação nos problemas geotécnicos e da simplicidade do ensaio DSS com relação aos ensaios triaxiais. O ensaio DSS pode reproduzir aproximadamente as condições de campo onde se espera um estado de cisalhamento simples. Esta condição pode existir, por exemplo, em análises de aterros, fundações offshore e problemas de estabilidade de taludes. No ensaio de cisalhamento simples, as condições de deformação cisalhante simples são impostas ao corpo de prova após o adensamento. Pode-se dizer que existem dois tipos de equipamento de ensaio de DSS: com anéis justapostos e membrana reforçada. Comparações entre os dois tipos foram levadas a efeito por Baxter et. al., 2010, para maiores informações ver Jannuzzi (2013). Em ambos, o corpo de prova é adensado para condições de campo. Surgiu o questionamento quanto à capacidade do equipamento de DSS, com anéis justapostos, realizar corretamente a fase de adensamento. Para sanar esta dúvida foi desenvolvida a pesquisa de Rodrigues (2014), cujos resultados são apresentados no presente trabalho. 2 QUALIDADE DA AMOSTRA 2.1 Generalidades O corpo de prova pode ser definido como uma porção de solo moldado a partir de uma amostra para se realizar ensaios. Assim, o que é chamado qualidade da amostra é na realidade qualidade do corpo de prova, uma vez que, na maioria dos casos, o que é avaliado ao final é a qualidade do corpo de prova para a realização do ensaio e não da amostra. Entretanto, o termo qualidade da amostra tornou-se tão consagrado que será mantido no presente trabalho. A qualidade da amostra depende de vários fatores, envolvendo os processos desde a recuperação da amostra no processo de amostragem até a extrusão (quando realizada) (ver Ladd e DeGroot, 2003) e o processo de moldagem até a colocação no equipamento de ensaio. Não existe método definitivo para se determinar a qualidade absoluta da amostra (Ladd e DeGroot, 2003). A influência do amolgamento no caso de curvas de compressão edométrica se manifesta na diminuição da tensão de sobreadensamento (ou da razão de sobreadensamento) e do índice de compressão; já no trecho de recompressão há um aumento do valor do índice de recompressão. Além disso, a curva em formato de “S” é característica de uma boa qualidade da amostra, tal como ilustrada, por exemplo, por Coutinho (1976) para a argila mole de Sarapuí I. As observações acima são de natureza qualitativa. Alguns poucos critérios quantitativos para se avaliar a qualidade da amostra foram propostos, e a sugestão de Lunne et al. (1997) é muito utilizada atualmente. O uso do critério de Lunne et al. (1997) implica na necessidade de realização do ensaio. Para se avaliar a qualidade da amostra a priori podem-se realizar ensaios, tal como raio X, usado há muitos anos (Hvorslev, 1949). Medidas da sucção inicial da amostra, comparação entre as velocidades de onda cisalhante obtidas no corpo de prova no laboratório e no campo têm sido utilizadas (e.g., Hight e Leroueil, 2003, Landon, 2004, Lunne e Long, 2006, Tanaka e Nishida, 2007). Lunne et al. (1997) basearam-se no valor de Δe/e0, onde Δe é a diferença observada no ensaio entre o índice de vazios inicial da amostra e0 e o índice de vazios associado à tensão vertical efetiva sob a qual a amostra se encontrava submetida no campo. A Tabela 1 apresenta a classificação proposta por Lunne et al. (1997). Com base nos resultados de ensaios em argilas moles brasileiras, Coutinho (2007) propôs alterações nos limites da tabela de Lunne et al. (1997), tornando o critério menos rigoroso (ver Tabela 2). As argilas ensaiadas por Coutinho (2007) possuem OCR entre 1 e 2,5. Andrade (2009) sugeriu uma modificação da proposta de Coutinho (2007) - definindo melhor os intervalos -, apresentada na Tabela 3. Tabela 1 - Classificação da qualidade da amostra (Lunne et al., 1997). Δe/eo OCR Muito boa a Boa a Pobre Muito excelente regular pobre 1-2 <0,04 0,040,07-0,14 >0,14 0,07 2-4 <0,03 0,030,05-0,10 >0,10 0,05 Tabela 2 - Classificação da qualidade da amostra (Coutinho, 2007). Δe/eo OCR Muito boa Boa a Pobre Muito a excelente regular pobre 1-2,5 <0,05 0,05-0,08 0,08-0,14 >0,14 Tabela 3 - Classificação da qualidade da amostra (Andrade, 2009). Δe/eo Muito Mui- Boa Re- Pobre Muito OCR boa a to a gular a pobre exce- boa a regua muito lente boa lar pobre pobre 1-2,5 <0,05 0,05- 0,065 0,08- 0,11- >0,14 0,065 -0,08 0,11 0,14 3 METODOLOGIA O equipamento de ensaio de DSS empregado na presente pesquisa está instalado no Laboratório de Ensaios de Campo e Instrumentação da COPPE/UFRJ, onde várias pesquisas têm sido desenvolvidas, (Jannuzzi, 2013, Rodrigues, 2014). A Figura 1 ilustra o equipamento. O procedimento empregado para a moldagem dos corpos de prova é o mesmo utilizado para moldagem dos corpos de prova indeformados do Laboratório de Reologia da COPPE/UFRJ, também recomendado por Ladd e DeGroot (2003). Foram realizados ensaios de adensamento com duração de 3 horas por estágio. A primeira tensão aplicada é 3,2 kPa, oriunda do próprio peso do top cap, e em seguinda são efetuados carregamentos com incrementos do dobro do anterior: 6,25 kPa; 12,5 kPa; 25 kPa; 50 kPa; 100 kPa; 200 kPa; 400 kPa e descarregamento de 400 - 200 kPa e de 200 - 100 kPa, semelhante ao realizado no ensaio de adensamento padrão 24 horas. Figura 1 – Vista geral do equipamento instalado no Laboratório de Ensaios de Campo e Instrumentação (Jannuzzi, 2013). 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste trabalho foram consideradas as profundidades nominais de 3 m e 6 m. As amostras utilizadas na presente pesquisa foram coletadas com um novo amostrador, desenvolvido e considerado por Jannuzzi (2013) aquele que forneceu amostras de melhor qualidade dentre os amostradores diferentes empregados por aquela pesquisadora. Os ensaios de adensamento padrão 24 horas realizados na prensa de adensamento, no Laboratório de Reologia da COPPE/UFRJ, estão detalhados em Jannuzzi (2013). Neste trabalho serão descritas apenas as amostras obtidas nos ensaios de adensamento realizados no equipamento de DSS. A primeira amostra, na profundidade de 3,53 m - 3,57 m (profundidade média 3,55 m) foi retirada do mesmo tubo amostrador utilizado para a realização dos ensaios de adensamento padrão 24 horas. A argila apresentava coloração cinza claro e não aparentava fragmentos de concha significativos. A Figura 2 ilustra o corpo de prova após o ensaio. A segunda amostra, na profundidade de 3,63 m - 3,67 m, (profundidade média 3,65 m), não foi possível ser moldada devido à grande concentração de conchas, algumas inteiras e fechadas, outras abertas, além de muitos fragmentos; nas extremidades da amostra as conchas encontravam-se fechadas. Outro fragmento de tubo foi cortado, com uma espessura maior, de 10 cm, (profundidade 3,39 m – 3,49 m), e, novamente, não foi possível moldar o corpo de prova devido à grande concentração de conchas, conforme ilustra a Figura 3. Matéria orgânica Figura 2 – Amostra seca e aberta após a realização do ensaio, profundidade média de 3,55 m. Figura 4 - Concentração profundidade 6,51 m - 6,56 m. de matéria orgânica, 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 5.1- Qualidade da amostra Figura 3 – Amostra com fragmentos de conchas, profundidade 3,39 – 3,49 m. Optou-se assim por realizar os ensaios com outro tubo na mesma profundidade nominal. A amostra na qual foi moldado o corpo de prova na profundidade de 3,63 m - 3, 67 m apresentou fragmentos de conchas, conchas inteiras abertas e fechadas. As conchas e a maioria dos fragmentos de conchas foram removidas e o corpo de prova foi moldado e ensaiado. Na profundidade nominal de 6 m foram moldados dois corpos de prova, nas profundidades de 6,51 m - 6,56 m, (profundidade média 6,53m), e 6,47 m - 6,51 m, (profundidade média 6,49 m). Observou-se nos corpos de prova grande concentração de matéria orgânica e na profundidade 6,51 m - 6,56 m foi encontrada uma lente de areia, que foi removida durante a moldagem. A Figura 4 mostra fragmentos de matéria orgânica na amostra. A classificação da qualidade da amostra obtida através dos métodos de Lunne et al. (1997), com as alterações de Coutinho (2007) e Andrade (2009), é apresentada na Tabela 4, na qual também é realizada a comparação entre os ensaios de adensamento feitos no equipamento de DSS e na prensa de adensamento. Tabela 4 – Classificação das amostras através dos métodos de Lunne et al. (1997), com as alterações de Coutinho (2007) e Andrade (2009). Prof. Lunne at Coutinho Andrade ∆e/eo OCR (m) al (1997) (2007) (2009) 3,55 0,01 2,5 Muito boa a excelente Muito boa a excelente Muito boa a excelente 3,65 0,04 1,9 Muito boa a excelente Muito boa a excelente Muito boa a excelente 3,54 0,02 2,9 Muito boa a excelente Muito boa a excelente Muito boa a excelente 6,49 0,04 1,8 Muito boa a excelente Muito boa a excelente Muito boa a excelente 6,54 0,03 1,8 Muito boa a excelente Muito boa a excelente Muito boa a excelente 6,53 0,04 2,3 Boa a Regular Muito boa a excelente Muito boa a excelente Pode-se observar que todas as amostras são de qualidade muito boa a excelente de acordo com os métodos analisados, exceto uma na profundidade de 6,53 m, que obteve qualidade de boa a regular pelo método de Lunne et al., 1997. Pode-se então verificar que não há necessidade de flexibilização do critério de Lunne et al. (1997) para as argilas brasileiras. 5.2 - Compressibilidade e índice de vazios Para a profundidade nominal de 3 metros, os dois ensaios realizados no equipamento de DSS, com estágios de 3 horas de duração, e o ensaio realizado na prensa de adensamento, com estágios de 24 horas, tiveram deformações volumétricas semelhantes (Figura 6). Isso significa que, apesar dos ensaios realizados no equipamento de DSS não possuírem o anel de adensamento, que impede as deformações laterais, os anéis justapostos não permitem que as mesmas ocorram, pelo menos não de forma significativa, o que corrobora que a fase de adensamento do ensaio de DSS apresenta resultados confiáveis. Observa-se que o índice de vazios na profundidade de 3,65 m é ligeiramente maior do que os demais, o que pode ter resultado numa maior deformação do corpo de prova no decorrer do ensaio. Para a profundidade nominal de 6 metros (Figura 8), o corpo de prova da profundidade média de 6,49 m apresenta deformação maior do que a dos demais, possivelmente devido ao maior índice de vazios inicial do corpo de prova. A deformação volumétrica para os ensaios realizados com o equipamento de DSS é semelhante aos realizados na prensa de adensamento, o que reafirma a capacidade do equipamento de DSS de realizar a fase de adensamento corretamente. Esperava-se uma maior deformação para os ensaios realizados com estágios de 24 horas de duração, o que não se verificou, uma vez que essa comparação não pôde ser realizada corretamente devido à diferença nos índices de vazios iniciais dos corpos de prova (Figuras 6 e 8). Acredita-se que a diferença entre os índices de vazios iniciais de cada corpo de prova pode ser devido à heterogeneidade do solo. Figuara 5 – Curvas deformação volumétrica pelo logaritmo da σ’v, na profundidade nominal de 3m. Figura 6 - Curva índice de vazios versus tensão vertical efetiva, profundidade de 3m. Figuara 7 – Curvas deformação volumétrica pelo logaritmo da σ’v, na profundidade nominal de 6m. corretamente o descarregamento, por esse motivo este valor não foi apresentado. Figura 8 - Curva índice de vazios versus tensão vertical efetiva, na profundidade de 6m. 5.3 - Tensão de pré-adendensamento e índices de recompressão, compressão e descompressão. Os valores de encontrados nos ensaios padrão 24 horas realizados na prensa de adensamento foram maiores que os resultados encontrados nos ensaios realizados no equipamento de DSS com 3 horas de duração o que não era esperado -, a diferença, entretanto é atribuída à diferença entre os índices de vazios inicial de cada corpo de prova. A Tabela 5 mostra o equipamento utilizado no ensaio de adensamento, a profundidade do ensaio bem como Para as amostras na profundidade nominal de 3 m, o valor de realizados na prensa foi semelhante ao realizado com equipamento de DSS na profundidade de 3,55 m e diferente do realizado da profundidade de 3,65 m, esta diferença pode estar associada aos diferentes índices de vazios iniciais de cada amostra. Já para a profundidade de 6 m, o valor de foi nitidamente maior para o ensaio realizado na prensa (na profundidade de 6,53 m) do que para os realizados no equipamento de DSS, uma vez que o índice de vazios inicial do corpo de prova (na profundidade de 6,53 m) é bem menor do que a dos demais. Os valores de , e obtidos com os ensaios de adensamento realizados no equipamento de DSS e na prensa de adensamento foram semelhantes. A pequena diferença pode ser atribuída ao estágio de carregamento ser de 3 horas ao invés de 24 horas. Na profundidade de 3,65 m, houve um problema no equipamento, que não mediu Tabela 5 – Valores encontrados de , , , . Tipo de DSS DSS Prensa DSS DSS Prensa ensai o Prof. 3,55 3,64 3,54 6,49 6,54 6,53 (m) 2,00 2,00 2,30 1,82 1,62 1,44 0,26 0,35 0,39 0,17 0,23 0,27 0,25 0,20 0,22 0,21 0,15 25,10 19,18 28,40 35,70 34,11 45,04 5.4 - Coeficiente de adensamento. O coeficiente de adensamento foi calculado pelo Método de Taylor, uma vez que o método de Casagrande leva em consideração o adensamento secundário que não se manifestou nitidamente para os estágios de 3 horas de duração. A Figura 9 mostra a comparação entre os valores encontrados para o método de Taylor, na profundidade nominal de 3 m, e a Figura 10 para a de 6 m. Observa-se que os valores do coeficiente de adensamento são maiores para o trecho sobreadensado do que para o normalmente adensado. Para tensões acima de 100 kPa tanto para a profundidade de 3 m quanto para profundidade de 6 m os valores de encontrados foram da mesma ordem de grandeza cm2/s. Figura 9 - Comparação entre os valores encontrados para o método de Taylor, na profundidade nominal de 3 m. Tabela 6. Valores do coeficiente de permeabilidade K ( cm/s), nas profundidades nominais de 3 e 6 m Est. 3,55 3,65 3,54 6,49 6,53 6,54 (kPa) m m m m m m 6,25 2,67 2,07 1,51 12,5 5,01 8,85 9,50 1,12 1,06 25 5,68 2,64 3,90 1,27 1,41 50 3,34 0,66 5,77 1,36 1,70 1,93 100 0,05 0,45 0,92 0,45 0,17 0,44 200 0,04 0,21 0,25 0,25 0,13 0,14 400 0,02 0,07 0,12 0,08 0,06 0,05 A Figura 10 - Comparação entre os valores encontrados para o método de Taylor, na profundidade nominal de 6 m. 5.5 – Coeficiente de permeabilidade. O coeficiente de permeabilidade foi calculado a partir do ensaio de adensamento de acordo com a equação 1. (1) Percebe-se nitidamente a diminuição do coeficiente de permeabilidade com a redução do índice de vazios. Para os estágios iniciais, observa-se que os valores encontrados para o coeficiente de permeabilidade na profundidade de 3 m são maiores do que os encontrados na profundidade de 6 m, mas apresentam a mesma ordem de grandeza de cm/s, já para os estágios finais, os valores foram semelhantes nas duas profundidades, com ordem de grandeza de . Os valores de coeficiente de permeabilidade encontrados em Sarapuí II encontram-se na mesma ordem de grandeza dos valores obtidos em Sarapuí I, e.g. Coutinho (1976) e Ortigão (1980). As argilas de Sarapuí II são praticamente impermeáveis de acordo com a classificação de Lambe e Whitman (2000). A Tabela 6 mostra os valores da permeabilidade versus tensão vertical efetiva, na profundidade de 3 m e 6 m. 6 CONCLUSÕES Comparando-se os gráficos deformação vertical por logaritmo da tensão efetiva, verifica-se que a deformação lateral utilizando os anéis justapostos não é significativa, podendo ser desprezada. Pode-se dizer que o equipamento de DSS com anéis justapostos se mostrou uma ferramenta capaz de realizar ensaios de adensamento, o que corrobora que a fase de adensamento do ensaio de DSS é corretamente realizada no equipamento de DSS. Para argilas muito compressíveis no qual a variação de altura do corpo de prova ultrapassar a capacidade máxima do curso do equipamento de DSS, este não deve ser utilizado. Analisando-se os resultados obtidos para a qualidade das amostras, percebe-se que não é necessária a flexibilização do método de Lunne et al. (1997) para o solo ensaiado. Verificou-se que, mesmo tomando todos os cuidados durante os procedimentos e transporte da amostra, pode-se ter uma qualidade inferior da amostra devido à concentração de conchas – e os reparos necessários no corpo de prova. É imprescindível o ajuste do equipamento para garantir que toda a deformação do corpo de prova seja medida corretamente. Os valores de encontrados nos ensaios padrão 24 horas realizados na prensa de adensamento foram maiores que os resultados encontrados nos ensaios realizados no equipamento de DSS, devido à variação do índice de vazios inicial do corpo de prova. Observa-se pelos valores de cv calculados pelo método de Taylor que os valores do coeficiente de adensamento são maiores para o trecho pré-adensado ( cm²/s) do que para o normalmente adensado ( cm²/s). Verifica-se a impossibilidade de calcular o pelo método de Casagrande uma vez que a curva que define o fim do adensamento primário e destaca o secundário não fica bem definida. 7 SUGESTÕES FUTURAS PARA PESQUISAS Realizar mais ensaios no equipamento de DSS com duração de 3 horas a fim de aumentar o banco de dados e melhorar a comparação realizada entre os ensaios de adensamento realizados na prensa de adensamento e no equipamento de DSS. Realizar ensaios de adensamento no equipamento de DSS com estágios de duração de 24 horas para melhor comparação com os ensaios 24 horas realizados na prensa de adensamento. Fabricar um top cap mais leve a fim de se poder ensaiar amostras superficiais. Fabricar um anel rígido para a realização do ensaio de adensamento no equipamento de DSS a fim de se efetuar comparações entre os anéis justapostos e o anel rígido no mesmo equipamento. Realizar ensaios de adensamento com membrana reforçada e comparar os realizados nos equipamentos convencionais. REFERÊNCIAS ANDRADE. M.E.S., 2009, Contribuição ao estudo das argilas moles da cidade de Santos. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. BAXTER, C.D.P., BRADSHAW, A.S., OCHOALAVERGNE, M., HANKOUR, A.M., 2010, DSS test results using wire-reinforced membranes and stacked rings. GeoFlorida 2010 ASCE. BJERRUM, L.; LANDAVA, A., 1966, Direct SimpleShear Testes on a Norwegian quick clay. Geotechnique. v.16, n. 1, pp. 1-20. 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