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JORNAL DE BRASÍLIA
Brasília, quarta-feira,
19 de março de 2014
Cidades.
FOTOS: RAFAELA FELICCIANO
DESRESPEITO AO ECA
Joana (nome fictício) já procurou o Conselho
Tutelar, a polícia e o Ministério Público
Luta para tentar
salvar Marília
Desde os 12 anos, menina se relaciona com
suposto traficante maior de idade. Mãe busca
ajuda do Estado, que até agora nada fez
Júlia Carneiro
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Apreensão por porte de arma dentro do colégio, internação devido a um aborto, marcas
de violência no corpo e fugas constantes. Essas são as cenas que Joana (nome fictício) tem
de assistir de longe, enquanto perde a filha
Marília (nome fictício), 13 anos, para o mundo das drogas e dos crimes. A menina meiga e
comunicadora se transformou em uma pessoa agressiva e inconsequente aos 12 anos.
Tudo em nome de um amor proibido – pela
mãe e pela lei – com um homem de 18 anos.
Só o apego a Deus acalma a mãe, que buscou amparo em todos os poderes do Estado
para recuperar a sua garotinha. Foram muitas
madrugadas perambulando pelas esquinas
perigosas da cidade à procura da filha desa-
parecida. Pelo menos seis ocorrências na 16ª
Delegacia de Polícia de Planaltina, onde mora, e duas idas ao IML. Inúmeras visitas ao
Conselho Tutelar e ao Ministério Público. Joana chegou a conseguir, após uma verdadeira
guerra, uma vaga em um internato cristão em
Goiânia (GO). Mas, por falta de posicionamento da Justiça, a garota perdeu a vaga. Enquanto isso, Marília continua ameaçando a
mãe, agredindo a irmã e só aparece em casa
para tomar banho, um dia ou outro. Depois,
some sem previsão de retorno.
FLAGRANTE
Tudo começou há aproximadamente um
ano, quando Marília iniciou um relacionamento com Thiago (nome fictício), um suposto traficante conhecido na região, maior
de idade. A mãe ficou sabendo disso da pior
maneira possível, no meio de uma operação
policial. “No dia 5 de abril de 2013, ela falou
que ia para a casa de uma amiga e logo voltava. Quando cheguei em casa, do trabalho, ela
ainda não estava lá”, lembra a mãe, que chegou a registrar ocorrência na 16ª DP naquela
noite, pelo desaparecimento da filha.
De madrugada, enquanto Joana procurava
pela filha, ela encontrou duas viaturas da PM
e pediu ajuda. “Um amigo me contou que ela
estaria com esse Thiago. O policial baixou a
ficha dele e fomos até a sua casa. Lá, encon-
tramos ele e minha filha, embriagados, dormindo juntos na mesma cama. Ele foi levado à delegacia e eu fui com ela
ponto
devista
Para Herbert Alencar Cunha (foto),
presidente da Comissão de Defesa da
Criança e do Adolescente da OAB, a
situação deixa claro que há um menor em
condição de risco e que deveriam ter sido
tomadas algumas medidas cautelares
desde o início, como sugeriu a própria
mãe. “O dano na questão moral e
psicológica dela pode até afeta-la pelo
resto da vida. Ela é absolutamente
incapaz. Só seria considerada
relativamente capaz a partir dos 14 anos.
Uma menina de 12 anos não tem
capacidade de decidir o que é melhor para
ela”, pressupõe. Herbert demonstrou
interesse em conhecer a fundo as
denúncias feitas pela mãe, pois entende
que houve um despreparo do Estado para
tomar medidas protetivas imediatas
asseguradas no ECA. “Isso aí para mim tem
outro nome: pedofilia pura, abuso sexual e
esse homem tem que ser punido.”
para o hospital”, conta a mãe, que faz questão
de repetir – a menina tinha apenas 12 anos.
Naquela noite, o autor confessou que estava “ficando” com a vítima, mas negou qualquer tipo de relacionamento sexual. A afirmação teria sido desmentida pela irmã dele,
que disse à polícia que Marília a mostrou um
diário onde registrava que teria perdido a virgindade com ele e que poderia estar grávida.
ARQUIVO PESSOAL
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19/03/2014 1a. Caderno A_4_Tb