UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA 4CCHLADELEMMT02 PARA ALÉM DO FATO LITERÁRIO: O CONTEXTO TEATRAL DA DRAMATURGIA SHAKESPEREANA Larissa Meireles da Silva 1 ; Sandra Luna 3 Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes/ Departamento de Letras Estrangeiras Modernas/MONITORIA RESUMO O espaço de tempo correspondente ao reinado da rainha Elizabeth I, chamado de período elisabetano, é caracterizado por uma intensa fertilidade artística, sendo esta época considerada a “Era Dourada” do teatro inglês. Como resultado da alta produção teatral no decorrer deste período, pode­se ver o nascimento de diversos estabelecimentos públicos apropriados a encenações dessas produções. Esses espaços cênicos podiam assumir variadas formas arquitetônicas, cada uma apelativa a um determinado tipo de público. A importância destes locais de encenação teatral está relacionada à interação social entre a platéia e os personagens. A hierarquização interna presente nos teatros refletia a ascensão do capitalismo e sua divisão em classes. Nesses espaços surgem célebres autores, a citar William Shakespeare, cujas habilidades cênicas profícuas se consolidam neste contexto histórico. Ainda assim, havia aqueles contrários a estes espaços teatrais, dentre os quais, os Puritanos, que por motivos religiosos argumentavam que as peças ali retratadas possuíam um cunho herege, incitando aos pecados capitais. Este trabalho, resultado de pesquisa ligada ao projeto de monitoria intitulado Quem tem medo de Chaucer e Shakespeare? , investiga o contexto teatral da dramaturgia shakespereana. Palavras­chaves: teatro elisabetano; William Shakespeare O projeto ao qual se vincula esta pesquisa intitula­se Quem tem medo de Chaucer e Shakespeare? e tem por objetivo imediato a facilitação e a expansão do processo de aprendizado dos conteúdos da disciplina Literatura Inglesa III, ofertada a alunos do Curso de Graduação em Letras, habilitação em Língua Inglesa. O projeto justifica­se, sobretudo, porque, embora o público alvo da disciplina seja composto em sua grande maioria de concluintes e pré­concluintes, ou seja, de alunos com habilidades já bem desenvolvidas em Língua Inglesa, o estudo dos textos literários escritos ao longo de três diferentes períodos da História do Inglês – Inglês Antigo, Medieval e Renascentista – acaba por se constituir um desafio ao interesse e à capacidade dos quadros discentes. Nossa tarefa na monitoria é contribuir para a investigação de fontes literárias e extra­ literárias que possam ser convertidas em material de apoio didático no processo de transmissão dos conteúdos da disciplina. Assim, por exemplo, temos realizado pesquisas acerca de mapas antigos, sítios arqueológicos, relíquias e objetos transformados em signos literários, quadros de informações históricas, tais como, listagem cronológica de reis, árvores genealógicas das famílias reais, relações culturais e políticas entre a Inglaterra e nações circunvizinhas que tenham relevância para a compreensão das obras literárias, enfim, investigações sobre dados da realidade que contextualiza cada texto estudado, de modo a tornar o passado mais vivo, por isso, mesmo mais presente e sedutor aos olhos do alunado. Nessa busca de material de apoio ao processo de ensino de aprendizagem, recursos a textos fílmicos ficcionais e documentais, mas também material capturado na Internet, sobretudo coletado em sítios oficiais de reconhecidas instituições de ensino superior têm se mostrado extremamente valiosos na construção de estratégias didático­metodológicas aplicadas ao processo de ensino­ aprendizagem das origens da Literatura Inglesa, onde o estudo da obra de Shakespeare destaca­ se como grande desafio. Para além dos sofisticados padrões de elaboração retórica dos textos shakespereanos, parece estranho que a maioria de nossos alunos jamais tenham assistido a uma montagem teatral dos textos originais. Nesse sentido, o recurso ao cinema tem sido utilizado com freqüência pela Profª Sandra Luna. Mesmo cientes das peculiaridades que distinguem a linguagem do teatro da linguagem fílmica, o cinema ainda é uma forma efetiva de contornar o estudo do drama longe das vivências da mise­en­ scène. É justamente com o propósito de tornar mais efetivo o conhecimento da dramaturgia shakespereana que decidimos realizar uma pesquisa mais ampla sobre as condições do teatro elisabetano, sendo esse o tema que passaremos agora a desenvolver. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ (1) (2) (3) Monitor(a)Bolsista; Monitor(a) Voluntário(a); Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a);
UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA A Inglaterra, em meados do século XVI, foi atingida por um profundo desenvolvimento cultural, de fertilidade literária e poética, uma “Era Dourada" denominada de Período Elisabetano, nome dado em alusão à rainha Elizabeth I (1558­1603), uma vez que esta possuía uma grande admiração pela arte. Nesse espaço de tempo, verifica­se o ápice da renascença inglesa, do florescimento artístico que traz como conseqüência a ascensão dos teatros, de grande importância para a população. Durante este período, a Inglaterra dispunha de três diferentes tipos de espaços destinados à apresentação de peças literárias: os Inn­yards (pátios dos albergues), os Open Air Amphitheatres (anfiteatros ao ar­livre) e os Indoor Playhouses (teatros cobertos). Os Inn­yards caracterizavam­se pelo cunho comercial em suas apresentações, até então assistidas gratuitamente em lugares públicos. Representam, portanto, o primeiro tipo de espaço público a cobrar para que a platéia pudesse assistir às encenações, mesmo que valores ínfimos. Outra característica relevante diz respeito ao espaço físico dos Inn­yards, que podiam acomodar centenas de espectadores. Havia, no total, seis Inn­yards em Londres, na segunda metade do século dezesseis: The Bull Inn; The Bell Savage; The Cross Keys; The Bell; The White Hart e The George Inn. Os teatros cobertos (Indoor Playhouses) eram locais pequenos, e assim como os Inn­yards, seu acesso não era gratuito, tendo a diferença de possuir uma platéia melhor selecionada que adquiria os ingressos com preços ovacionados. Seu espaço físico era semelhante aos Inn­Yards. Havia no total, nove Indoor Playhouses na Inglaterra Elizabetana: o Middle Temple Inn Theatre (1573); Paul’s (1576); Gray’s Inn Theatre (1576); Blackfriars – o primeiro (1576); Blackfriars – o segundo (1596); Whitehall Theatre (1576); Whitefriars (1606); The Cockpit (1616) e Salisbury Court (1629). Os anfiteatros (Open Air Amphitheaters) seriam os teatros elizabetanos por excelência e caracterizavam­se por sua grande estrutura, desprovida de teto, e com a capacidade de acomodar milhares de espectadores. O valor do ingresso variava de 1 penny (popular) a 5 pences (realeza). Havia no total, onze desses teatros em Londres, sendo eles: The Theater (1576); The Curtain (1577); The Rose (1587); The Swan (1595); The Globe (1598); The Fortune (1600); The Boar’s Head (1600); The Red Bull (1604); The Bear Garden (1576); The Bull Ring (1576) e, mais tardiamente, The Hope (1614). O primeiro deles, “O Teatro” (The Theatre), tendo sido construído em 1576, durante um período de seis meses, tendo James Burbage como seu empresário. Mesmo sendo feito de madeira e pedra, este teatro exibia um estilo impressionante. O fato é que, com ele, nascia então um novo entretenimento para os ingleses. Deve­se considerar que, naquele contexto, o ato de “ver” uma peça estava intrinsecamente ligado às cerimônias e a uma série de rituais públicos, rituais que estavam presentes no cotidiano da população, como, por exemplo, a abertura do Parlamento, as realizações festivas em homenagem à rainha, que eram acompanhadas de canto, dança e declamações de versos. Dentre esses ritos públicos, um lugar especial deve ser atribuído às execuções de criminosos, que aconteciam em praça pública. Como as peças, muitas vezes, concorriam com execuções de criminosos, compreende­se como esses espetáculos teatrais eram permeados de violência explícita, cheios de cenas de sangue e morte. No geral, o público que acorria aos teatros não era elitizado e a linguagem das peças podia chegar a ser bastante vulgar, ainda quando poeticamente elaborada. Aliás, esses teatros não se limitavam à encenação de peças. Também havia jogos de aposta, embates de animais, nos teatros elisabetanos, o que tornava esses espaços locais de diversão e entretenimento, antes de serem espaços intelectualizados de arte ou cultura. Em relação às peças, verificava­se uma intensa participação do público, incluindo vaias, aplausos, e até mesmo interrupções. Como os recursos cênicos eram poucos, a criatividade da platéia era convidada a suprir qualquer espécie de falha ou até mesmo de falta de cenário. O The Theatre possuía um formato octogonal, Havia três tipos de palco feitos de madeira: um palco externo, um palco interno, e um palco superior. No palco externo, também chamado de “palco avental”, localizado de frente para a platéia, havia um laço de intimidade com o público, uma vez que quase envolvia essas pessoas durante a encenação. No palco interno, as cenas eram mais íntimas, enquanto o palco superior era essencial para cenas que necessitassem, por exemplo, de muralhas de um castelo, balcões, torres, etc. É importante lembrar a presença de uma certa tecnologia que resultava em interessantes “efeitos especiais”: alçapões superiores e inferiores, de onde surgiam personagens; deuses desciam do céu através de recursos voltados para a parte superior do teatro, enquanto o inferno e suas circunvizinhanças (covas, cemitérios, cruzes) se revelavam através de recursos inseridos nas dimensões inferiores da cena. No que diz respeito ao espaço arquitetônico, a estrutura desses anfiteatros elisabetanos era baseada no modelo do Coliseu, mas em proporções menores.
UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA A infra­estrutura desse teatro era muito primitiva: possuía apenas uma entrada e não havia banheiro, obrigando os mais necessitados a buscar alívio do lado de fora, nas imediações do prédio teatral. Essa irresponsabilidade higiênica chegaria a ser uma das mais importantes causas do desencadeamento de uma grave praga que assolou a Inglaterra em 1603, a chamada “peste bubônica”. No geral, as peças eram realizadas no verão, e no horário vespertino. Os espetáculos aconteciam a céu aberto, e, como o efeito de iluminação ou de escurecimento do ambiente era impossível, os atores sinalizavam a escuridão utilizando­se de uma tocha. No geral, as falas dos personagens eram as responsáveis pelo detalhamento do horário das cenas, No entanto, quando o inverno chegava, as peças eram encenadas nos teatros cobertos (indoor playhouses). Os teatros elisabetanos podiam ser freqüentados por todas as classes sociais, mas havia uma certa hierarquização. Enquanto os menos abastados ficavam no pátio, em pé ou sentados, os nobres podiam assistir aos espetáculos em áreas separadas, mais caras. Essas áreas mais nobres davam direito a uma boa acústica e uma melhor visão da peça, assim como permitia a aquisição de assentos estofados. Esse local também possuía uma área dedicada aos cavalheiros, que custava um pouco menos do que o espaço direcionado aos nobres, mas que também era muito confortável. O processo de propaganda das peças se dava através de bandeiras, que eram postadas em uma torre no interior do teatro. Eram erguidas, apenas, no dia do espetáculo, e anunciavam, através de figuras, a próxima peça que seria apresentada. Quando as trombetas soassem significava que a peça estava prestes a começar. Um segundo teatro que se destacou profundamente durante o período elisabetano foi o Globe Theatre. Localizado nas proximidades do Rio Tamisa, em Southwark, sua construção durou seis meses e sua tão esperada inauguração ocorreu em 1598. A primeira peça realizada nesse teatro foi a valiosa obra de William Shakespeare, Julius Caesar. O anúncio dessa peça foi feito através de uma bandeira que mostrava a figura do herói Hércules trazendo em seus ombros um globo que mostrava a seguinte afirmação: totus mundus agit histriorem, que significa “o mundo todo é um teatro”. Todos esses símbolos reunidos representavam a magnitude do Globe Theatre. Um dos nomes mais influentes da Era Elisabetana é, sem dúvida, o de William Shakespeare. Nascido em 23 de abril de 1564, Shakespeare iniciou sua vida literária em 1590, com a obra A Comédia dos Erros. A finalização dessa obra ocorreu em 1594, coincidindo com o período em que ingressou na Companhia de Teatro do Lord Chamberlain, o Lorde Camareiro. É válido ressaltar que essa companhia possuía um excelente teatro em Londres, facilitando assim, a representação de suas peças. O período elisabetano é caracterizado pela ascensão teatral, e é exatamente nesse contexto que William Shakespeare vai transmitir suas habilidades literárias ao alcance da população inglesa. Contudo, uma vez sócio da Companhia do Lord Chamberlain, suas obras eram escritas não para a leitura, mas sim para fins teatrais, e por tal motivo, jamais publicou seus escritos. Shakespeare, além de escrever, dirigir e fazer parte da Companhia podia, por vezes, encenar algumas peças. Como ator possui, em seu currículo, atuações em Hamlet (como o pai de Hamlet), MacBeth (Rei Duncan) e Henry IV (como o rei Henry). Estas atuações, embora pequenas, eram sempre muito importantes para o desenvolvimento da peça. Devido ao grande sucesso de suas obras literárias, Shakespeare adquiriu propriedades e chegou a experimentar da fama e da riqueza que suas obras lhe rendiam. O Globe Theatre possuía características estruturais, no que se diz respeito ao espaço cênico, semelhante aos demais teatros elisabetanos da época. Cita­se: o formato octogonal (apenas o Fortune Theater possuía forma retangular) e a presença de três tipos de palco (o externo, o interno e o superior). Esse palco elevado situava­se de costas para o sol forte da tarde, com o intuito de proteger os atores, fazendo­os atuar na sombra. Neste tipo de configuração teatral, a adaptação do palco por parte da platéia é feita pela frente e pelas laterais, e também, como muitas vezes não havia a caixa cênica, freqüentemente os recursos técnicos, como as varas de cenário, ficavam à vista do espectador. Havia, como nos demais teatros elisabetanos, a divisão de locais para a apreciação da peça: os mais abastados assistiam às peças em lugares alcochoados, protegidos por teto de sapê. Os plebeus ficavam em pé no centro do teatro, a céu aberto. Todos os espectadores tinham o direito de comprar comida e bebida durante o espetáculo que, geralmente, iniciava às duas horas da tarde e finalizava por volta das cinco horas, depois de um número de canto e dança. O anúncio para a apresentação dos espetáculos também se dava através de bandeiras. Essas bandeiras, que possuíam a tarefa de anunciar o gênero da próxima peça, eram dotadas de cores
UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA singulares, e dependendo das condições climáticas, eram erguidas ao meio­dia. Caso a próxima peça a ser encenada fosse uma tragédia, a cor da bandeira seria preta; caso fosse uma peça histórica, seria amarela; sendo uma comédia, branca. O Globe Theatre, caracterizava­se pelas intensas produções, embora os detalhes do cenário que representavam uma peça fossem quase inexistentes. Por exemplo, na peça Romeu e Julieta, o cenário que representava a tumba dos Capuletos foi transmitido ao público através de um único banco. Em relação ao figurino, não havia a necessidade da adaptação ao tempo que a peça exigia. As roupas das personagens, mesmo sendo italianas, foram produzidas baseadas no modelo inglês. Tais roupas eram bastante luxuosas e bonitas, a fim de que o público não se decepcionasse. No caso de Hamlet, a personagem era vestida completamente de preto, remetendo ao luto pela morte do pai. Esse tom de roupa causava um choque proposital à platéia devido ao contraste que essa roupa provocava quando encenada concomitantemente com as roupas coloridas dos outros membros da corte. A respeito das produções teatrais, este teatro provia ao seu público um verdadeiro espetáculo de efeitos especiais. Tais efeitos levavam a platéia ao delírio, principalmente em cenas de guerra. Para que se alcançasse um sistema de efeito especial perfeito para as cenas de ação, fazia­se uso de fumaça e de fogo verdadeiro. Os atores podiam encenar personagens suspensos por uma corda, caso houvesse algum ato que necessitasse de tal recurso. Todas essas qualidades, aliadas à música, resultavam no completo sucesso, tanto do espetáculo, quanto do teatro. Um importante elemento, e que deve ser salientado, no teatro elisabetano é a música. Por ser responsável pelo acompanhamento das cenas, ou às vezes até para dar um refinamento ao espetáculo, a música era extremamente necessária para o desenvolvimento da peça. Na maioria das vezes, as apresentações teatrais eram finalizadas com uma giga, que era um tipo de canto e dança popular. Devido à insaciabilidade do público elisabetano por peças teatrais, havia um grande número de espetáculos apresentados a cada semana. Em certas ocasiões, era necessário que as falas fossem passadas por uma pessoa localizada atrás do palco, pois os atores já não tinham condições de se preparar para as peças. É necessário que se tenha em mente que os atores elisabetanos deveriam ser extremamente versáteis, ou seja, além de representar, eles deveriam ter habilidades como a dança, o canto, precisavam saber tocar um instrumento, assim como também saber declamar. Deve­se salientar que a entrada de mulheres em teatros, de uma maneira geral, não era vista com bons olhos. Devido a esse preconceito, essas mulheres eram obrigadas a usar máscaras para que assim pudessem integrar a platéia, inclusive a rainha, que, segundo algumas fontes, teria também, mais de uma vez, feito uso desse recurso para assistir aos espetáculos. Também havia uma lei elisabetana que proibia a presença feminina no palco. Os papéis femininos eram interpretados por rapazes, geralmente mais novos, e com uma freqüência vocal mais aguda. William Shakespeare, talvez com o intuito de deixar esses personagens mais confortáveis, criou em várias peças, personagens femininos que se fantasiavam de homens. Ainda no que diz respeito às mulheres, um tema, várias vezes abordado nas peças elisabetanas, era a infidelidade, como visto, por exemplo, em Otelo, de Shakespeare. A infidelidade feminina era retratada como um perigo à ordem familiar, e todo o preconceito, aliado a uma condição inferior que era atribuído às mulheres nesse período, refletia a imagem feminina nos teatros elisabetanos. O desenrolar das atividades teatrais sofreu alguns reveses durante o período elisabetano. Em 1603, a peste bubônica interrompeu as atividades de vários desses teatros ingleses. Como referido anteriormente, essa grave praga originou­se devido aos maus hábitos higiênicos da população, os próprios teatros tendo contribuído para a proliferação da doença. Esta peste assolou Londres e fez mais de 33.000 vítimas. Com o encerramento das atividades cênicas devido à praga, os teatros elisabetanos acabaram por prejudicar os atores e autores financeiramente. Em 29 de junho de 1613, uma falha no sistema de efeitos especiais ocasionou um grave incêndio no Globe Theatre. Este incêndio ocorreu durante a encenação de uma peça sobre Henrique VIII. Não havendo saída de emergência e com uma estrutura de madeira, o fogo proliferou­se com facilidade. Entretanto, não há dados precisos da quantidade de vítimas, mas este incidente resultou no fechamento temporário do teatro. O principal motivo para o encerramento total das atividades cênicas dos teatros elisabetanos foi atribuído aos Puritanos, também conhecidos como parlamentaristas. Esses cidadãos possuíam um modo de vida centrado na religião, sendo totalmente contra os teatros, uma vez que esses estabelecimentos, segundo eles, incitavam pecados como luxúria, vaidade e ambição. Por muitas vezes os Puritanos tentaram fechar esses estabelecimentos, mas, só após terem derrotado a
UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA monarquia, esses parlamentaristas, que alegavam que os teatros faziam apologia à violência, ao maltrato físico e à dor, traços típicos de obras shakespereanas, conseguiram erradicar as atividades cênicas, fechando esses locais por um período de dezoito anos. No estudo do teatro elizabetano, não se pode esquecer que as palavras eram o principal meio utilizado para unir a dramaturgia e a poesia, portanto este movimento literário inglês foi marcado pelo poder da palavra em si. Devido a essa forte característica, os teatros elisabetanos, em uma perspectiva geral, aliavam esse poder à composição literária e à criatividade da platéia, trazendo à vida um novo modo de contar qualquer tipo de história, fosse por meio da música, das palavras ou do visual das encenações. Considerando­se que a variedade temática alicerçava estes teatros, ela era responsável pelas oscilações entre a tragédia e a comédia, muitas vezes baseada na mitologia e na própria literatura renascentista, e principalmente, pelo processo de adaptação de versos mais refinados à prosa menos rigorosamente trabalhada, a fim de que todos pudessem se divertir, gerando assim o sucesso. Além de todas essas características, verifica­se a interação estabelecida entre os atores com o seu público. A própria estrutura dos teatros já possuía em mente a viabilização da conexão entre o palco e a platéia. É válido salientar ainda que a busca por sucesso financeiro alimentava a rivalidade entre os teatros, interferindo profundamente em todo o processo de criação e de produção. Diante de todos esses aspectos, não se pode negar que o estudo do teatro elisabetano viabiliza um rendimento superlativo nos estudos dramáticos, principalmente no que diz respeito às obras shakespereanas, que certamente adquirem novas feições quando estudadas à luz dessa realidade teatral para a qual eram produzidas as peças do grande dramaturgo. Referências bibliográficas: ABRAMS, M.K., et. al. The Norton Anthology of English Literature. 3 ed. New York: W.W. Norton & Co, 1974. v. 1. BAYLEY, John. Shakespeare and Tragedy. London: Routledge & Kegan Paul, 1981. BAUGH, A.C., & Thomas Cable. A history of the English language. 5 ed. London: Routledge, 2002. BLOOM, Harold. O cânone ocidental: os livros e a escola do tempo. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995. _________. Shakespeare. The invention of the human. New York: Riverhead Books, 1998. BRADLEY, A.C. Shakesperean tragedy. London: Macmillan, 1974. CARLSON, Marvin. Theories of the Theatre. A historical and critical survey, from the Greeks to the present. Ithaca and London: Cornell University Press, 1984. COHEN, Walter. Drama of a Nation. Public theater in Renaissance England and Spain. Ithaca: Cornell University Press, 1988. DAY, M. S. History of English Literature to 1660. Garden City, New York: Doubleday, 1963. EAGLETON, Terry. William Shakespeare. Oxford: Blackwell Publishers, 2000. HONAN, P. Shakespeare: a life. Oxford: Oxford University Press, 1988. KAY, Dennis. Shakespeare: his life, works and era. New York: Quill, 1992. PARIS, Jean. Shakespeare. Trad. Barbara Heliodora. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992. Sítios consultados http://www.william­shakespeare.info/elizabethan­theaters.htm http://www.search.eb.com/shakespeare http://www.elizabethan­era.org.uk/elizabethan­theatre.htm
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