ESPAÇO 2 | cmyk CURITIBA, SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 2012 [email protected] 13 HISTÓRIAS CRUZADAS CHEGA ao Brasil após conquistar os EUA Exibição começa no País nesta sexta-feira, e é comparado com A Cor Púrpura e Tomates Verdes Fritos Fotos:Divulgação Luiz Carlos Merten Foi um filme entre amigos. Numa entrevista por telefone, de Los Angeles, o diretor Tate Taylor falou sobre Histórias Cruzadas, que estreia amanhã nos cinemas brasileiros, depois de virar o 'sleeper' do ano nos EUA. 'Sleeper' é o filme pequeno, lançado sem estardalhaço, que conquista o público e, graças ao boca a boca, ganha projeção. Histórias Cruzadas baseiase no best-seller The Help (A Resposta, no Brasil), de Kathryn Stockett. O clima de amizade começou a ser esboçado quando a autora, insegura quanto ao material — depois de receber o não de várias editoras —, foi se aconselhar com o amigo Tate Taylor, que, como ela, também tentava uma carreira de contador de histórias, a dele no cinema "Li o manuscrito no avião, numa viagem de cinco horas entre Nova York e Los Angeles. Quando voava sobre Ohio, já havia sido apanhado pelo material." Taylor deu toda a força para que Kathryn não desanimasse. Quando o livro estourou e Hollywood quis comprar os direitos, a autora bancou a carreira do amigo. Só venderia se ele fosse o diretor. Rodado no Mississippi, por US$ 25 milhões — uma ninharia pelos padrões de Hollywood —, o filme rendeu US$ 170 milhões somente no mercado doméstico. Calcula-se que, em todo o mundo, Histórias Cruzadas deva render pelo menos o dobro. Será mais de dez vezes o valor investido, um sucesso para ninguém botar defeito. E tem mais. Histórias Cruzadas foi indicado para o Oscar de melhor filme, melhor atriz (Viola Davis) e melhor coadjuvante (duas indicações, para Octavia Spencer e Jessica Chastain). No fim de semana, a acirrada disputa no sindicato dos atores — que quase sempre sinaliza para os vencedores do prêmio da Academia de Hollywood —, Viola venceu a favorita Meryl Streep, de A Dama de Ferro, e o filme ainda venceu melhor coadjuvante (Octavia) e melhor conjunto de interpretações. Mesmo assim, muita gente ainda reclama. Histórias Cruzadas seria só 'correto' — por que não honesto? Meio A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, meio Tomates Verdes Fritos, de Jon Avnet, o filme configura a atual tendência da Academia, mais interessada em dramas humanos do que em efeitos. Taylor nunca duvidou que Viola Davis seria perfeita na pele da protagonista, Aibileen, e aqui cabe assinalar que, no livro, existem três narradoras — além de Aibileen, Skeeter e Minny. "Tinha medo de que o filme se tornasse dispersivo. De cara, disse a Kathryn (Stockett) o que pretendia fazer. Queria adotar o ponto de vista da mais oprimida dessas mulheres, da que encarna a mudança. Ela me disse que não entendia nada de roteiro e não ia interferir. Kathryn foi a Greenwood e ficou rondando no set, mas nunca para saber se eu estava sendo fiel. Depois de viajar ao passado no livro, ela acompanhou com muita emoção a recriação viva desse passado no set." Screen Actors — Na noite do domingo passado, aconteceu no palco do Los Angeles Shrine Exposition Center a cerimônia de entrega da 18ª edição dos Screen Actors Guild Awards. A premiação é dada pelos próprios atores e diretores, por isso acaba funcionando como uma espécie de prévia ao Oscar. A festa do domingo consagrou, nas categorias dedicadas ao cinema, o filme Histórias Cruzadas, que deixou o grande favorito O Artista para trás ao faturar as estatuetas de melhor elenco, melhor performance – atriz (Viola Davis) e melhor performance – atriz coadjuvante (Octavia Spencer). O Screen Actors homenageia os melhores em 15 diferentes categorias. Estes astros e estrelas da televisão e do cinema são selecionados pelos mais de 4.000 atores que fazem parte do Screen Actors Guild (SAG), principal sindicato dos atores dos EUA, um dos mais fortes e atuantes da indústria. OUTRAS Quatro longas estreiam em Curitiba hoje Divulgação Nesta sexta-feira também estreiam quatro novos longas nos cinemas de Curitiba. À Beira do Abismo, Viagem 2: Ilha Misteriosa, A Bela e a Fera 3D e A Filha do Mal. À Beira do Abismo é um thriller de ação com Asger Leth, Elizabeth Banks, Sam Worthington e Ed Harris. O filme mostra a história de um ex-policial procurado pela justiça que resolve se matar pulando do alto de um prédio de Nova York. Só que ele avisa a polícia de sua intenção. A cidade se mobiliza para tentar impedir que o homem acabe com a própria vida, levando para o local inclusive uma policial psicóloga especialmente requisitada pelo suicida. No contato com o suicida, ela desvendando outros elementos da trama. A Viagem — O filme tem endereço para o público infanto-juvenil e traz o herói Dwayne Johnson em ação. E bota ação. Ele e sua família vão parar em uma ilha desconhecida, repleta de espécies gigantescas e elefantes minúsculos. Detalhe, a ilha está para afundar por causa de ondas sísmicas. Outro protagonista é Josh Hutcherson (do sensível Ponte para Terabitia 2007). É ele quem insiste na ida para a ilha. Censura livre. A Bela e a Fera 3D — A versão tridimensional de A Bela e a Fera, clássico desenho da Disney de 1992, é uma aposta. De novo, apenas a nova tecnologia. Mas a aposta está em encontrar um novo público no século 21, que ainda não conhecia a história. Na sua época, o longa de animação concorreu ao Oscar de Melhor Filme — coisa rara em Hollywood — e levou o de melhor canção.e trilha sonora. Filme “barato”, Histórias Cruzadas conquistou o público nos EUA e deve repetir feito no Brasil Diretor explica suas escolhas Bem antes de conseguir o aval da DreamWorks para dirigir Histórias Cruzadas, Tate Taylor já estava tão possuído pelo livro de Kathryn Stockett (The Help, A Resposta, no Brasil) que não apenas já tinha o roteiro como embarcou numa viagem com o diretor de arte Mark Ricker pelo Mississippi, em busca de locações. Taylor encontrou o cenário que queria em Greenwood. Fotografou minuciosamente casas, ruas, praças. Fez um álbum com o tipo de intervenção que julgava necessária. Na DreamWorks, ele teve o apoio de dois diretores/produtores, Steven Spielberg e Chris Columbus. Quando Spielberg disse que ele tinha de filmar em locação, no Sul dos EUA, Taylor sacou seu álbum e mostrou as fotos de Greenwood. Na entrevista por telefone (de Los Angeles), ele contou como Histórias Cruzadas terminou sendo uma experiência mágica. Sua amiga, a escritora Kathryn Stockett, vendeu os direitos com a condição de que ele dirigisse, Columbus e Spielberg o apoiaram. Em Greenwood, todo mundo alugou casas e, como se fossem, habitantes do local, visitavam-se para almoçar, jantar ou simplesmente falar sobre o filme. O pai, a mãe e a babá de Tate Taylor atuam em pequenas cenas, a irmã de Kathryn faz Skeeter quando jovem, no flash-back. Por quê? "Tenho a impressão de que, quando ficar mais velho, vou gostar de rever Histórias Cruzadas para reencontrar esses rostos amigos, queridos." O filme é sobre um mundo em transformação — é sobre o poder da linguagem, a força das palavras, também. Uma jovem (branca) reconstitui as histórias de domésticas negras, no racista Sul dos EUA, num momento em que o mundo ia começar a mudar. São histórias de mulheres — afro-americanas, mas também brancas — oprimidas, reprimidas e discriminadas, como em A Cor Púrpura, de Spielberg. Histórias de amizades femininas, como em Tomates Verdes Fritos. Histórias não deixa de ser o Tomates Verdes Fritos em versão afro. Taylor conhece bem o filme de Spielberg. Tem um registro mais vago do de Jon Avnet. Fernanda Andrade é a Filha do Mal Por Luiz Carlos Merten Agência Estado Faz parte da estratégia de lançamento de Filha do Mal. A distribuidora Paramount escondeu da imprensa o terror de William Brent Bell, que estreia hoje. Isso nunca promete muito. Em geral, as majors só escondem seus grandes fiascos, mas Filha do Mal chega precedido da fama de ser um daqueles filmes baratos que estouraram no Facebook e arrastam multidões aos cinemas. Cabe ressaltar que a Paramount também fez de tudo para facilitar as entrevistas por telefone com Fernanda Andrade. É a estrela brasileira do filme de Brent Bell. Fernanda quem? Você pode até não conhecer nem identificar pelo nome, mas sabe. Fernanda fez pequenos papéis em séries (CSI, Law & Order e The Mentalist) e estrelou Fallen. Filha do Mal é sobre garota (Fernanda), cuja mãe cometeu três bárbaros assassinatos numa noite, 20 anos atrás. Isabella (é seu nome) nunca soube disso, mas com a morte do pai ela descobre que a mãe está internada num manicômio para criminosos insanos na Itá- lia. Loucura ou possessão demoníaca? A pedido da garota, entram em cena dois jovens exorcistas que usam métodos nada convencionais. E começa o show, que promete ser particularmente violento, pois Maria, a mãe, foi possuída não por um, mas por quatro poderosos demônios. Fernanda — Nascida em São José dos Campos, Fernanda mudou-se cedo com a família para Campinas. Suas lembranças de infância são todas desta cidade. Quando o pai foi transferido para a Flórida, ela iniciou outra vidas, aos 11 anos - a de uma teen norte-americana (embora nem de longe queira negar as raízes brasileiras). Seu sonho era ser bailarina, mas, para se desinibir, ela foi frequentar um curso de interpretação. Adorou, e mudou o rumo. Aos 16 anos, resolveu investir na carreira de atriz. Mudou-se para Los Angeles, a família apoiou. Os pais estão voltando para o Brasil. Ela vai seguir nos EUA, agora que a carreira está deslanchando. Brasil, só nas férias, como no Natal, quando realizou um sonho e conheceu Salvador. O que havia de diferente em Filha do Mal, a pon- to de ela querer fazer o papel? "As histórias de exorcismo são muito parecidas, essa tem outra pegada. A mistura de religião e ciência como método usado pelos exorcistas, o fato de minha personagem ter medo de ser louca, como a mãe, mas na verdade a mãe não está louca. Tudo isso me pareceu muito interessante e, depois, tem a equipe. O produtor, o diretor, o escritor. Todo mundo é jovem, subvertendo regras, querendo se mostrar e chamar atenção", disse. Como foi o processo? "Fiz um teste e depois me chamaram. Assim como não estão mostrando o filme para a imprensa, os produtores eram muito fechados com o roteiro. Não mostravam de jeito nenhum. Só no segundo encontro, no segundo teste, foi que me deram uma cena para decorar e interpretar". As filmagens ocorreram na Europa. "Em Bucareste e Roma. Filmamos em digital. Uma câmera prática, pequena. Tinha de ser, porque o diretor de fotografia passa boa parte do tempo correndo atrás de mim com a câmera na mão. Isso dá uma instabilidade, aumenta a sensação de medo."