1
ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS COMO RECURSO PSICOPEDAGÓGICO
Roseli Pelais Molina 1
Maria Guilhermina Coelho De Pieri 2
RESUMO:
Essa pesquisa tem como proposta refletir sobre a importância de se trabalhar os
sentimentos e as emoções das crianças usando a história como principal recurso.
Apresenta uma forma de como se pode utilizar a história no trabalho psicopedagógico.
Procura demonstrar a utilização da arte de contar histórias como recurso
psicopedagógico, por considerar que essa prática tem potencial para estimular e
promover os vários aspectos do desenvolvimento infantil. Tendo em vista que a
psicopedagogia utiliza atividades como instrumento para sua intervenção, o contar
histórias pode ser considerado um rico recurso psicopedagógico. Este recurso, quando
utilizado, auxilia na elaboração dos conflitos internos, favorecendo a estruturação da
personalidade e estimula e facilita na elaboração dos processos cognitivos. De maneira
lúdica, fácil e subliminar, possibilita o brincar, permitindo reformulações estruturais na
maneira de ser, tornando-se um mecanismo para lidar com as angústias e fantasias do
ser humano.
PALAVRAS-CHAVE: Contação de história. Psicopedagogia Institucional. Educação
infantil.
1.
INTRODUÇÃO:
O objetivo desse artigo é propor uma reflexão sobre a importância de se
trabalhar os sentimentos e as emoções das crianças usando a história como principal
recurso.
Ao longo do curso de psicopedagogia nasceu o desejo e o interesse de pesquisar
sobre o tema da contação de histórias na práxis da psicopedagogia institucional, com o
objetivo de refletir sobre a importância de se trabalhar os sentimentos e as emoções das
crianças usando a história como principal recurso, pois é uma proposta comprometida
com a melhoria das condições de aprendizagem. É um excelente recurso
psicopedagógico, o trabalho com a contação de histórias. A metodologia usada foi o
levantamento de referências bibliográficas e execução de um Projeto de leitura.
Neste artigo, vale ressaltar o que Sunderland (2005) fala, “Quando a criança não
expressa seus sentimentos dolorosos ou inquietantes, ela pode passar a ter
1 Discente do Curso de Pós Graduação em Psicopedagogia Institucional da Faculdade Católica de
Uberlândia, graduada em Pedagogia pela FAFICA - Faculdade de Catanduva .
2 Docente e orientadora da Faculdade Católica de Uberlândia.
2
comportamentos difíceis e provocadores, ou sintomas neuróticos.” É preciso desde
pequeno aprender a expressar os sentimentos e emoções. Isso ajuda a criança a crescer
mais equilibrada, mais estruturada. Ela oferece, também, orientações úteis sobre como
aproveitar as histórias criadas espontaneamente pela criança com sentimentos difíceis.
Por que contar histórias é um meio tão eficaz de ajudar as crianças a lidar com seus
sentimentos? Assim, de que recursos você pode se valer quando conta histórias? Como
criar a sua própria história terapêutica para uma criança? O que fazer quando a criança
conta-lhe uma história? São indagações que o profissional deve articular com a proposta
utilizar a contação de história.
2. O RE-CONTAR DE UMA PRÁXIS PSICOPEDAGÓGICA
A psicopedagogia tem como proposta estudar o processo de aprendizagem a
partir de uma contextualização teórica-prática que vem das áreas da pedagogia e da
psicologia.
A práxis psicopedagógica apresenta propostas educacionais que
convidam a criança a participar ativamente de seu processo de
aprendizagem, o que configura a necessidade de uma mudança
qualitativa no ensinar e no aprender. O aprender vivido de forma mais
integrada propõe um conhecimento experienciado na totalidade das
relações intrínsecas e extrínsecas à aquisição do conhecimento.
(Allessandrini, 1996, p.2).
Segundo Mendes (1994), a Psicopedagogia é um campo de atuação relativo à
aprendizagem, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. O psicopedagogo realiza
este trabalho através de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do
aprendiz e seu contexto educacional. Conforme o código de ética da ABPp do artigo 1º
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que
lida com o processo de aprendizagem humana e seus padrões normais
e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e
sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos
próprios da Psicopedagogia.
A Psicopedagogia Institucional é uma ciência que problematiza os estudos
referentes às dificuldades de aprendizagem dos alunos, buscando formas de intervenção
que levem à superação dos problemas de aprendizagem encontrados durante os anos de
vida escolar. Atualmente, os profissionais da educação deparam-se com vários
problemas dentro das escolas, que muitas vezes interferem nos processos de
aprendizagem dos alunos, sejam eles: culturais, sociais, metodológicos, cognitivos,
emocionais e psicológicos. Nesse sentido, saber identificar e conduzir os problemas de
3
aprendizagem encontrados, bem como preveni-los dentro da instituição escolar torna-se
um dos objetivos fundamentais da educação nos dias atuais, haja vista, o grande número
de alunos que possuem dificuldades de aquisição da leitura e da escrita, dentro dos
espaços escolares. “A psicopedagogia nasceu com a necessidade de uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem e tornou-se uma área de estudo específica
que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio objeto de estudo” (Bossa,
2000, p. 23). Pensar nos problemas de aprendizagem dos alunos significa, também,
pensar nos processos que envolvem as práticas de ensinar e de aprender e,
consequentemente, na formação do profissional que atua em sala de aula (o professor) e
fora dela, como é o caso do orientador educacional, do coordenador pedagógico e do
diretor de escola que necessitam de conhecimentos especializados para poder intervir
frente às dificuldades apresentadas pelos professores em como ensinar e pelos alunos
em como aprender.
No âmbito institucional, as contribuições de Pichon-Riviére (1988) ensinam a
importância da interação grupal. Fundamentado na perspectiva da aprendizagem, o
aprender a pensar é organizado através da tarefa em grupo com objetivos em comum.
No grupo, as pessoas articulam-se para concretizar os objetivos e aprendem a lidar com
as ansiedades e obstáculos, a questionar a falta e a buscar soluções. A sistematização do
conhecimento dá-se através do coletivo. A tarefa educativa como produto da ação
coletiva só é possível quando o grupo aprende a transformar a ação individual numa
coletiva.
Segundo Bossa (1994, p.23),”[... ]cabe ao psicopedagogo perceber eventuais
perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade
educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo
com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos
de orientação”. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes
responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das
políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores
possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais
de aprendizagem da criança ou da própria ensinagem.
A leitura e a contação de histórias são excelentes recursos psicopedagógicos.
Contar histórias é a possibilidade de formar leitores, num verdadeiro ato de
4
subsistência, não só do já inventado, mas do universo que as palavras transcriam para
levitar.
De repente, os homens atravessaram o tempo por túneis, pirâmides,
caravanas, mares e espelhos. E trouxeram histórias nas linhas das
mãos. De todas as partes, veio sempre alguém com uma história na
boca, saindo pelos olhos, derramando-se pelo corpo, inventando
cenários: um acampamento, uma varanda, um átrio de igreja, uma
aldeia, uma vila, uma taba, uma casa de avó, uma sala de aula. Dos
pequenos núcleos familiares ou populacionais às salas das bibliotecas
e dos teatros, o contador de histórias manteve-se na ordem do dia.
Alguns o quiseram esquecido, outros acreditaram na força solidária de
quem junta pessoas para encantar pela palavra. Mais do que agregar, o
contador de histórias tornou-se obrigatório na promoção da leitura e
no resgate do lúdico e da fantasia! (SISTO, 2005, P.74)
Através das histórias, podemos abordar (com sutileza) assuntos que precisam ser
trabalhados com as crianças do cotidiano escolar.
Podem-se articular as mediações de leitura ou contações de histórias sobre
diversos assuntos desde o comportamento humano, sensações e emoções, situações
traumáticas (separação dos pais, morte de familiares, etc.), dificuldades de
aprendizagem, etc. Ainda aliar a leitura também com outros recursos artísticos, tais
como a pintura, a música, a dramatização, o desenho e a expressão corporal. Como
recurso é comum, contar história e, logo em seguida, solicitar a criança um desenho
sobre o que ouviu, a dramatização ou a dança, pois dá mais leveza ao corpo ao dançar,
encena com mais propriedade, recria e reconta.
A criança identifica-se com os
personagens, com o protagonista da história, com o cenário e quando há algum
problema aparente, percebe que não está sozinho com seu problema afinal de contas,
seu problema está relatado num livro.
ORTHOF (2008) relata que a criança que não tem autonomia, autoconfiança,
autoestima, ao ouvir a história Maria vai com as outras, sente que precisa mudar, ter
opinião própria, senso crítico e autonomia.
[...] pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o
pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na
pedra e chorava: mé!E assim quarenta duas ovelhas pularam,
quebraram o pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular.
Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu uma
feijoada.Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.( ORTHOF,
2008, p.22 a 32)
Outra história onde pode ajudar a criança a mudar de comportamento é “Bibi
compartilha suas coisas”. As crianças pequenas que não conseguem emprestar seus
5
pertences ao contarmos a história, visivelmente tentam novos comportamentos menos
egocêntricos. O livro auxilia em seus primeiros processos de socialização, valorizando a
solidariedade.
Bibi ganhou um estojo superbacana de presente. Na escola, um dos
amigos (Pedrinho) precisava de um lápis azul para colorir seu
desenho. Então Bibi pensou: “Eu tenho”. Mas e se eu emprestar e ele
perder? Ai ela se lembrou da mãe que emprestou açúcar para a
vizinha, do pai que não tinha uma ferramenta para arrumar o carro.
Então Bibi pensou: Eu tenho o lápis azul que ele precisa. Bibi
empresta o livro para Pedrinho. (ROSAS, p. 5-33).
Segundo Sunderland (2005), trabalhar os sentimentos e emoções das crianças
usando a história é um excelente recurso. As crianças ainda não têm uma estrutura
interior para resolver ou entender seus próprios sentimentos ou suas perturbações
interiores. Muitas vezes, as pessoas responsáveis por ela não se dão conta de suas
angústias, de seus sentimentos e que não estão preparadas emocionalmente para
verbalizar o que sentem. Elas precisam de ajuda. Os adultos não tem muita noção disso
e acabam omitindo essa ajuda tão necessária para o processo de crescimento da criança.
Muitas vezes, a criança tem que encontrar sozinhas um caminho de solução, no que
deveria encontrar num adulto compreensivo e que possa lhe dar atenção necessária, com
respostas inteligentes. Quando não encontram essa ajuda, seus sentimentos podem
transformar-se numa terrível confusão. Oportuniza trabalhar as emoções escondidas,
sentimentos guardados que se exteriorizam através dos materiais que são colocados nas
mãos, neste caso, a história.
A arte de contar histórias é uma forma fantástica de falar das emoções e dos
sentimentos que pode ser com espontaneidade, sem tirar a liberdade ou forçar a criança
a falar. Uma história bem contada, bem dinâmica incentiva as crianças a falar sobre seus
sentimentos, conseguindo compreender melhor os conceitos como: alegria, medo,
tristeza, raiva, ciúmes.
As histórias sempre fascinam o ser humano. Os episódios contados por um bom
narrador, adquirem vida. Através da contação de histórias somos transportados para
outro mundo. Nesse mundo acompanhamos os personagens em suas aventuras e
dramas, compartilhando suas emoções e sentimentos. Contar histórias é importante por
desenvolver a imaginação, resgata a cultura oral e incentiva a escrita, proporcionando
momentos lúdicos e de interação com outras pessoas.
6
A história é uma narrativa que se baseia num tipo de discurso calcado no
imaginário de uma cultura. As fábulas, os contos, as lendas são organizados de acordo
com o repertório de mitos que a sociedade produz. Quando estas narrativas são lidas ou
contadas por um adulto para uma criança, abre-se uma oportunidade para que estes
mitos, tão importantes para a construção de sua identidade social e cultural, possam ser
apresentados a ela.
Quem nunca parou para ouvir uma boa história contada pelo vovô, pela vovó,
pela mamãe ou papai? Quem não gosta de ler uma boa história?
Uma boa história contada desperta na criança especialmente o gosto pela leitura,
estimula a reflexão e a revisão de valores, atitudes e comportamentos, melhora a
capacidade de se comunicar, de conviver e de respeitar as diferenças. Quando uma
história é contada, há a possibilidade de trocas emocionais. Pais, filhos e professores
podem conversar sobre medos, afetos, ansiedades, viajar, fantasiar e, logicamente,
despertar a sede por mais e mais histórias. Essa fantástica viagem pelo mundo das
histórias auxilia no desenvolvimento da criatividade e até mesmo do autoconhecimento,
uma vez que trabalha com as emoções de cada pessoa. Contar e ouvir histórias são
possibilidades libertárias de aprendizagem de suma importância na construção do
conhecimento e do desenvolvimento ético e significativo da criança, enquanto ser
humano.
Quando fala de seus sentimentos, a criança se abre, baixa a guarda e se
torna, portanto, vulnerável. Por isso, qualquer reação desinteressada;
qualquer julgamento, qualquer crítica; qualquer tentativa de dissuadir a
criança de seus sentimentos; qualquer tentativa de mudar de assunto;
qualquer tentativa de controlar o que ela está dizendo ou fazendo, pode
magoá-la. A criança que é repetidamente magoada por reações desse
tipo perde a vontade de compartilhar seus sentimentos. Ela pode se
tornar defensiva, achando que a sinceridade e a coragem de ser
vulnerável são uma estupidez. (SUNDERLAND,2005,p.12)
Como recurso psicopedagógico, a história possibilita um espaço para a alegria e
o prazer de ler, compreender, interpretar a si próprio e à realidade. Ensinam-nos
convidam-nos a olhar para dentro de nós mesmos. As histórias nos acordam dos nossos
encantamentos, abrem espaço para outros e tornam-se fiéis parceiras em nossos
processos de transformação.
Mas como as histórias podem concretamente ajudar as crianças a expressarem
seus sentimentos e emoções, resolver conflitos internos?
7
Bettelheim,(2000) analisando os contos de fada, diz que a criança vale-se deles
para aprender a lidar com suas angústias e resolver seus conflitos internos. Sem correr
riscos, ela vai vivenciando no imaginário o duelo travado pelos personagens dos contos
com as forças do mal. Cada vitória deles dá a ela a segurança necessária para lidar com
seus próprios conflitos, uma vez que sabe do sucesso garantido no desfecho. Ao ouvir
as histórias favoritas várias vezes, a criança fortalece sua alma, tornando-se capaz de
amadurecer seu emocional. Eis a razão de pedir tantas vezes a mesma história! É
preciso ser este condutor de segurança para as crianças, contando-lhes inúmeras
histórias.
Contar histórias é brincar com as palavras, sonhos, imaginação, expressões,
sentimentos. Foi com essa intenção que foi desenvolvido num dos Colégios da Rede
particular, das Escolas Integradas Ressurreição, na cidade de São Paulo, um Projeto de
Trabalho, através da história Margarida Friorenta. Este Projeto de Trabalho teve como
proposta utilizar diferentes recursos e linguagens num processo de intervenção para que
a criança expressasse seus sentimentos. Tínhamos também como meta observar até que
ponto essa forma de trabalhar despertaria na criança o desejo de revelar seus
sentimentos e emoções.
Vale destacar que o Projeto de Trabalho tinha a proposta e ação como um agente
propulsor de aprendizagem. Barbosa (2003) afirma que “[...] nenhum novo
conhecimento surge sem estar articulado a conhecimentos anteriores; portanto, a
escolha de um Projeto de Trabalho parte sempre do conhecimento e do interesse já
existente, para que os mesmos possam ser integrados ao novo e dar origem a uma nova
construção”.
Em todas as etapas de realização do projeto, o psicopedagogo deve estar atento
aos avanços e dificuldades na realização por parte da criança, colaborando e sempre
intervindo da melhor maneira possível, visando sempre a superação das dificuldades e
dos bloqueios dos sujeitos envolvidos neste processo.
O Projeto de leitura - contação de histórias – foi um dos principais instrumentos
usados para a realização desse Projeto de Trabalho.
É importante também destacar que o contador de histórias deve-se ter em mente
que, embora o ato de contar histórias possa inserir-se numa proposta terapêutica ou num
projeto pedagógico, não se pode agir de forma mecânica, apenas para cumprir um dever
ou para ensinar o que quer que seja de regras gramaticais a valores doutrinários.
8
O contador de histórias cria imagens no ar materializando o verbo e
transformando-se ele próprio nesta matéria fluida que é a palavra. O
contador de histórias empresta seu corpo, sua voz e seus afetos ao texto
que ele narra, e o texto deixa de ser signo para se tornar significado. O
contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo
nos apresentando outro tempo. Como um mágico, faz aparecer o
inexistente, e nos convence que aquilo existe. O contador de histórias
atua muito próximo, faz aparecer o inexistente, e nos convence que
aquilo existe. Contar histórias é uma arte, uma arte rara, pois sua
matéria-prima é o imaterial, e o contador de histórias um artista que tece
os fios invisíveis desta teia que é o contar. (Bussato, 2003,p.9).
A história do projeto desenvolvida foi Margarida Friorenta de Fernanda Lopes
de Almeida, com crianças de 5 anos, da Rede de Escolas Integradas Ressurreição no ano
de 2010, tendo como objetivos: expressar sentimentos através da linguagem oral e
corporal; perceber as várias maneiras de relacionar-se; estimular aspectos da
socialização, respeito e cuidado mútuo; saber ouvir e esperar a vez para falar;
compartilhar emoções e refletir sobre momentos vividos; estreitar laços de amizade;
estimular atitudes de companheirismo e aprender a dividir e a compartilhar.
2.1. Momentos do Projeto
Iniciamos esse projeto com a contação da história na biblioteca, da Instituição,
onde as crianças manusearam o livro, observaram as imagens e depois fizemos um
momento de debate e comentários sobre a história.
Em seguida buscamos a lenda do Bumba Meu Boi, trabalhando o
relacionamento e o amor entre eles. Contamos a lenda explorando e deixando que
verbalizassem sobre os sentimentos que apareciam na lenda. No momento do registro
confeccionamos um boi, com um trabalho coletivo, onde todos participaram da
construção e confecção, através de materiais gráficos diversos, tais como papéis
coloridos, tintas e papel reciclável. Criamos ainda um momento lúdico no pátio da
escola com o boi confeccionado para que as crianças pudessem expressar seus
sentimentos brincando com o Bumba meu boi. Foram momentos de grande
envolvimento, descontração e alegria.
Outra etapa significativa do projeto foi o momento diário de carinho entre a
turma, que através de uma roda de conversa, refletimos e pontuamos sobre as atitudes
que devemos ter dentro e fora da sala de aula com todas as pessoas para uma boa
convivência. Assim para trabalhar a amizade e desenvolver a autonomia, a socialização
e a expressão dos sentimentos, a professora trabalhou com as crianças a história
9
“Girafinha Flor faz uma descoberta”, da autora Therezinha Cassasanta. Esta é a história
de uma girafa que se sentia sozinha e triste. Todos da floresta eram gentis com ela, mas
como era um tanto tímida, não tinha coragem de conversar com ninguém e, então
começa a pensar que são os outros que não querem conversar com ela. Assim sendo, ela
sai à procura de um remédio para curar solidão. No final da história Girafinha Flor
descobriu o remédio para curar a solidão: AMIGOS!
Outro momento foi a reflexão sobre o nosso dia vivido, conversamos sobre o
que fazemos durante o dia e sobre a necessidade que temos de antes de dormir,
relembrar o que nos aconteceu. Pontuamos sobre a vontade de estarmos juntos a quem
amamos, das saudades daqueles que não estão junto a nós e do quanto é bom darmos
carinho e recebermos carinho. No momento da escuta, as crianças puderam expressar e
verbalizar fatos do seu contexto familiar. Essa conversa proporcionou um maior
conhecimento de cada aluno. Em seguida, puderam registrar e expressar seus
sentimentos e emoções através da linguagem de desenhos.
Criamos uma temática na sala com o Dia do Amigo, com uma conversa sobre o
amor, carinho, amizade, cooperação e partilha. Promovemos o Amigo secreto da
amizade. Cada aluno pegou o seu papel com o nome de seu amigo secreto.
Combinamos a regra de que não podia falar para ninguém de seu amigo secreto. Depois
de muita expectativa houve a revelação desse amigo com troca de cartão confeccionado
por eles mesmos.
Outra temática trabalhada foi a cooperação. Conversamos sobre a necessidade
que temos de nos ajudar, de colaborar uns com os outros, de compartilhar. Ampliamos a
discussão com a história sobre a Partilha do Pão. Em seguida, preparamos uma massa
de pão, coletivamente. Cada criança modelou um pãozinho com a massa, aguardamos o
processo de assar, degustamos e levamos também para casa para partilhar com a
família.
No final desse projeto os alunos apresentaram a história Margarida Friorenta, em
forma de teatro, para outros alunos da Instituição.
As crianças gostaram muito de desenvolver esse projeto e aprenderam um pouco
a expressar e partilhar sentimentos e emoções.
Na avaliação do projeto, numa roda de conversa, os alunos perceberam e
comentaram que se a Margarida Friorenta tivesse dito o que realmente sentia desde o
começo, ela ganharia logo o carinho de todos. Concluímos que isso pode acontecer com
cada um de nós. É necessário ficar atentos com nossos sentimentos e não ter medo de
10
expressá-los. O professor ou o psicopedagogo deve ficar atento com as possíveis
dificuldades de aprendizagem que o aluno possa apresentar diante de um projeto
executado. Através da contação de histórias, como foi o projeto apresentado, o aluno se
sente mais a vontade para expressar suas angustias, seus sentimentos e tudo aquilo que
atrapalha seu crescimento psicológico.
O papel do psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo
ensino-aprendizagem; participar da dinâmica das relações da
comunidade educativa, objetivando favorecer processos de integração e
trocas; realizar orientações metodológicas para o processo ensinoaprendizagem, considerando as características do indivíduo ou grupo;
colocar em prática alguns processos de orientação educacional,
vocacional e ocupacional em grupo ou individual. Estando claro o que é
a psicopedagogia e qual sua área de atuação, cabe-nos refletir sobre os
recursos que o psicopedagogo utiliza para detectar problemas de
aprendizagem e neles intervir. (Porto, 2009, p.110).
Realmente, o papel do psicopedagogo é muito importante, pois atualmente, dá
para perceber números altos de alunos com problemas de ordem emocional social,
afetivo e outros, que acabam interferindo na aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se neste trabalho a importância do olhar psicopedagógico para a
solução de conflitos internos, de como a criança pode expressar seus sentimentos ao
escutar, dramatizar, desenhar a história ou outros recursos que a contação de histórias
pode proporcionar. Os desenhos, as narrativas, enfim, são maneiras de agir para
dominar as emoções; as explosões de sonhos e imagens são dirigidas então para a
criação. Portanto, a criança deve conseguir alimentar seu imaginário e expressá-lo.
Desenvolver a função simbólica por meio de textos, imagens e sons é uma forma de
sustentá-lo. O universo da fantasia, repleto de cenários maravilhosos, onde habitam
heróis, fadas, princesas, bruxas, reis e seres inanimados, traz em seus enredos
mensagens positivas e situações de horror, regadas por palavras mágicas, atitudes
nobres e momentos emocionantes, faz com que as crianças guardem na memória, não
somente o conhecimento construído, mas também, os momentos de encantamento
vividos, que todo adulto conserva como parte primordial de sua identidade e foram
originados pelos contos que ouviu durante a infância. Através da leitura, contação de
história e dramatização a criança será desafiada a desenvolver habilidades que
envolvam identificação, observação, análise, síntese, comparações e assim, irá
11
conhecendo suas próprias habilidades, limitações e seus sentimentos. Contar histórias é
uma boa maneira de ajudar as crianças a lidar com seus sentimentos.
O uso da história reconhece que é limitado falar sobre sentimentos
com crianças na linguagem cotidiana. A história fala às crianças num
nível muito mais profundo e imediato do que a linguagem literal
cotidiana. Falar sobre sentimentos na linguagem cotidiana é como
andar em círculos. Isso acontece porque a linguagem cotidiana é a
linguagem do pensamento, enquanto falar por meio de uma história,
fazer uma encenação com bonecos ou fantoches, representar o que
você quer dizer com barro, com uma pintura ou com uma cena na
caixa de areia é usar a linguagem da imaginação. Essa é a linguagem
da criança. (Sunderland, 2005, p.18)
Desta forma, o valor da psicopedagogia é considerado como diferencial para a
aquisição de melhorias educacionais.
Acredita-se que o principal papel do
psicopedagogo é interagir os agentes, para que haja desenvolvimento mútuo
proporcionando melhoras no que diz respeito ao afetivo, cognitivo e social, o que
acarreta para o indivíduo um modo melhor para viver-se em sociedade.
REFERÊNCIAS
ALESSANDRINI,C. D. Oficina Criativa e Psicopedagogia. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1996.
ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A margarida friorenta. 25 ed. São Paulo: Ática.
Coleção passa anel
ASSOCIAÇAO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA. FAQ - O QUE É
PSICOPEDAGOGIA. Disponível <http://www.abpp.com.br/faq_oquee.htm> Acesso 25
agosto 2010.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. O projeto de trabalho: uma forma de atuação
psicopedagogia. 3 ed. Curitiba:Mont, 2003.
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. 14ª ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 2000.
BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto
Alegre, Artes Médicas, 2000.
BUSSATO, Cleo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. 4 ed.
Petrópolis: Vozes, 2003.
12
ESCOLAS INTEGRADAS RESSURREIÇÃO. Projeto de Leitura 2009- Educação
Infantil e anos Iniciais do Ensino Fundamental. Catanduva. Editora Ramon Nobaldos,
2009. Apostila.
MENDES, Monica Hoehne .A Práxis Psicopedagógica, seus Campos de Atuação e sua
Identidade. In: Claudete Sargo; Cybelle Weinberg; Monica Hoehne Mendes; Sonia M.
Colli de Souza; Suely Grimaldi Moreira. (Org.). A Práxis Psicopedagógica Brasileira.
São Paulo: ABPp, 1994
ORTHOF,Sylvia. Maria-vai-com-as-outras. 22 ed.São Paulo: Ática,2008.
PICHON-RIVIERE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes; 1988.
PORTO, Olivia. Teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Wak, 2009.
ROSAS, Alejandro. Bibi compartilha suas coisas. 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2008.
SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. 2. ed. Curitiba:
Positivo, 2005. 142 p.
SUNDERLAND, Margot. O Valor Terapêutico de Contar Histórias. São Paulo:
Cultrix, 2005.
.
Download

clique aqui para iniciar o