XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL ESTRUTURA DIÁMETRICA DE UMA MATA CILIAR EM MONTES CLAROS-MG Alisson Borges Miranda Santos – Engenheiro Florestal. [email protected] Ellen Ires Silva – Graduanda em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, MG. Maria Auxiliadora Pereira Figueiredo – Professora assistente da Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, MG. INTRODUÇÃO A existência das matas ciliares nas margens de nascentes e cursos de água é de grande relevância para a preservação ambiental e em especial para a manutenção das fontes de água e da biodiversidade (CHAVES, 2009). No entanto, por ocorrerem em solos mais férteis e úmidos, essas formações são muito propensas a derrubadas, dando lugar às atividades agrícolas (BOTELHO; DAVIDE, 2002; OLIVEIRA FILHO et al., 1994). Com isso, ao longo dos anos, as matas ciliares foram utilizadas, e algumas intervenções antrópicas foram devastadoras em várias regiões do Brasil, incluindo Minas Gerais, onde as florestas ciliares foram extremamente degradadas (VILELA et al., 2000). Neste sentido, estudos detalhados sobre a estrutura, florística, fitossociologia e ecologia das matas ciliares se mostram fundamentais para embasar iniciativas de proteção, enriquecimento e recuperação destes ecossistemas (SANTOS; VIEIRA, 2005). Desta forma, o presente estudo tem o objetivo de caracterizar a estrutura de uma vegetação ciliar em Montes Claros - MG, a fim de contribuir com informações para trabalhos de restauração ambiental em áreas similares. MATERIAL E MÉTODOS O levantamento foi realizado em uma vegetação ciliar no Assentamento de Reforma Agrária Estrela do Norte em Montes Claros – MG, nas coordenadas UTM 629380,40 E e 8169363,11 S, durante os meses de abril e maio de 2014. Foram mensurados e identificados todos os indivíduos de espécies arbóreas ocorrentes nos 32 pontos quadrantes alocados na área de estudo. Como critério de inclusão foi utilizado o DAP (diâmetro a 1,30 m do solo) igual ou superior a 4,77 cm. Os indivíduos amostrados na área estudo foram agrupados em classes diamétricas de acordo com a fórmula de Spiegel (1976): ??=??⁄ e ?=1+3,3∗????, onde “IC” é o intervalo de classes, “a” é a amplitude dos diâmetros, o “K” é a constante de Spiegel e “n” é o número de indivíduos. Também foi determinado o quociente de recrutamento entre as classes, através do quociente de De Liocourt. Esse quociente foi obtido pela divisão do número de indivíduos de uma classe pelo número de indivíduos da classe anterior (LIOCOURT, 1898 citado por MEYER,1952). RESULTADOS E DISCUSSÕES Os 128 indivíduos amostrados foram distribuídos em oito classes de diâmetro. A primeira classe teve como valor central 7,0 cm, e o intervalo entre classes foi de 5,0 cm. O menor diâmetro coincidiu com o critério de inclusão de 4,77 cm e apresentou cinco indivíduos (Machaerium stipitatum, Astronium fraxinifolium, Myracrodroun urundeuva e dois indivíduos de Guazuma ulmifolia). Já na maior classe, o maior diâmetro foi amostrado em um indivíduo de 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Piptadenia viridiflora com 43,90 cm. O diâmetro médio foi 11,10 cm. A primeira classe apresentou o maior número de indivíduos (69). Em seguida aparecem a segunda classe (36) e a terceira (11). Juntas representam 90,63% do total de indivíduos amostrados. Esses resultados demonstraram que a estrutura diamétrica da mata ciliar é composta principalmente por árvores de pequenos diâmetros. Segundo Nunes et al. (2003), grande quantidade de indivíduos pequenos e finos pode indicar a ocorrência de severas perturbações no passado. No entanto, essa concentração de indivíduos na primeira classe infere também que existe um balanço positivo entre recrutamento e mortalidade, o que caracteriza a área como auto-regerante (SILVA JÚNIOR, 2004). A distribuição da estrutura diamétrica para comunidade seguiu o padrão J-reverso típico de florestas inequiâneas, onde se tem uma maior concentração de indivíduos de menor diâmetro nas classes iniciais e uma diminuição acentuada no sentido das maiores classes (FELFILI, 1997). Entretanto, essa distribuição não se mostrou balanceada, uma vez que as classes diamétricas apresentam valores de “q” variáveis, mostrando que as taxas de recrutamento e de mortalidade também são variáveis. Segundo Meyer (1952), uma floresta em equilíbrio apresenta um quociente de De Liocourt constante em todas as classes, sendo que variações nos valores de “q” indicam desequilíbrio da estrutura do povoamento, que inferem que a comunidade vegetal pode está sofrendo alguma perturbação. Além disso, essa discrepância entre as taxas de mortalidade e recrutamento pode levar a mudanças na estrutura da floresta (FELFILI, 1997). Das 33 espécies encontradas na área de estudo, 14 apresentam distribuição diamétrica tendendo ao padrão Jinvertido. Essa diferença entre as distribuições diamétricas das espécies pode estar relacionada a diversos fatores, dentre eles a história natural de cada espécie e o histórico de perturbações do fragmento (MACHADO et al., 2010). CONCLUSÃO Apesar de a distribuição diamétrica apresentar o padrão esperado para florestas inequiâneas, a concentração de indivíduos nas menores classes pode demonstrar que a vegetação sofreu algum impacto no passado e as variações no quociente de Liocourt inferem que essa comunidade ainda sofre alguma perturbação. Entretanto, a mesma tem demonstrado capacidade de se regenerar dessas perturbações. AGRADECIMENTO: À FAPEMIG pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CHAVES, A. Importância da mata ciliar (legislação) na proteção dos cursos hídricos, alternativas para sua viabilidade em pequenas propriedades rurais. Universidade de Passo Fundo. 2009. BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C. Métodos silviculturais para recuperação de nascentes e recomposição de matas ciliares. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 5., 2002, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: 2002. p. 123-145. FELFII, J. M. Diameter and height distributions of a gallery forest community nd some of its main species in central brazil over a six-year period (1985-1991). Revista Brasileira de Botânica, v.20, p.155-162, 1997. MACHADO, E. L. et al. Flutuações temporais nos padrões de distribuição diamétrica da comunidade arbóreo- 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL arbustivo e de 15 populações em um fragmento florestal. Revista Árvore, Viçosa, v. 34, n. 4, p. 723-732, 2010. MEYER, H.A. Structure, growth and drain in balanced uneven-aged forests. Journal of Forest. 50: 85-92, 1952 NUNES, Y. R. F. et al. Variações da fisionomia, diversidade e composição de guildas da comunidade arbórea em um fragmento de floresta semidecidual em Lavras, MG. Acta botânica brasileira, 2003. OLIVEIRA-FILHO, A. T. et al. Estrutura fitossociológica e variáveis ambientais em um trecho da mata ciliar do córrego dos Vilas Boas, Reserva Biológica do Poço Bonito, Lavras (MG). Revista Brasileira de Botânica, v. 17, n. 1, p. 67-85. 1994. SANTOS, R.M.; VIEIRA, F.A. 2005. Estrutura e florística de um trecho de mata ciliar do rio Carinhanha no extremo norte de Minas Gerais, Brasil. Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal 5: 1-13. SILVA JÚNIOR, M C. Fitossociologia e estrutura diamétrica na mata de galeria do Pitoco, na reserva ecológica do IBGE, DF. Cerne, Lavras, v. 11, p. 147-158, 2005. VILELA, E.A. et al. Caracterização estrutural de floresta ripária do Alto Rio Grande, em Madre de Deus de Minas, MG. Cerne 6:41-54.2000. 3