Vida Associativa Para 1.418 casos em 2010 Reclamações no provedor aumentam 73,8% Um ano atípico na indústria das viagens e turismo levou a um aumento, em 73,8%, no número de reclamações recebidas no Provedor do Cliente das Agências de Viagens e Turismo. O "Caso Marsans", a nuvem de cinzas e as greves, além do aumento de notoriedade do instituto liderado por Vera Jardim explicam, em boa parte, este aumento, que reforça também a sua importância e a vantagem que constitui para consumidores e agências de viagens. A As 366 reclamações relacionadas com o chamado "Caso Marsans" que o Provedor recebeu, ao longo do ano passado, foram a principal razão pela qual o total de queixas apresentadas se elevasse para um recorde de 1.418. Ou seja, por si só, acresceram em 34,8% o número das demais reclamações. Mas também outros factores exógenos à actividade das agências potenciaram o recurso dos clientes ao Provedor instituído pela APAVT em 2002. Sem contabilizar as que envolviam a Marsans, o número de reclamações atingiria ainda assim as 1.052, mais 28,9% que em 2009, ou mais 7% que em 2008, o ano em que se havia registado o mis elevado volume de queixas. Do total, não puderam ser apreciadas 334, quer por estarem fora do prazo de reclamação (vinte dias após o término da viagem) quer por terem simultaneamente sido apresentadas a outros, estarem fora do âmbito de competências do Provedor, nomeadamente reclamações directas a companhias aéreas, seguradoras, etc., ou ainda dizerem respeito a agências não associadas da APAVT e, consequentemente, não aderentes ao Provedor. CANCELAMENTOS NO TOPO DAS RECLAMAÇÕES Os cancelamentos constituíram, pela primeira vez, a principal razão invocada pelos reclamantes (27,9%), seguida pela alteração do programa (19,7%), pelas más condições de alojamento/transporte (18,2%), incumprimento (12,8%) e atrasos nos voos (11,3%). Com menor expressão, o extravio de bagagem (5,9%) e a falta de acompanhamento (4,3%). O encerramento da Marsans, a nuvem de cinzas e as greves, ou ameaças de greve, estiveram, de acordo com fonte do gabinete do Provedor, na origem da maioria dos cancelamentos que suscitaram reclamações por parte de passageiros e turistas que viram as suas expectativas de viagem defraudadas. Também a situação económica do País terá conduzido a um reajuste da oferta em relação a uma procura inferior à esperada, conduzindo ao cancelamento de algumas operações, adianta a mesma fonte. Recorde-se que a Marsans deixou em terra centenas de passageiros, muitos dos quais tinham já pago em parte ou na totalidade as suas viagens, ao encerrar as suas lojas depois de a direcção da agência ter dado instruções aos balcões, dias antes, para que procedessem à cobrança daqueles que lá 32 fimbloco2.pmd REVISTA APAVT · JANEIRO/FEVEREIRO 2011 32 21-02-2011, 09:30 Vida Associativa tinham efectuado reservas. O caso, inédito, foi considerado pelo Provedor do Cliente "um caso de polícia", que também acusou o Estado de "falta de fiscalização", pelo facto de não ter assegurado que o montante da caução depositada pela Marsans junto do Turismo de Portugal correspondesse ao valor adequado para uma empresa com o volume de vendas daquela rede. A APAVT acabaria por expulsar a Marsans e as reclamações recebidas no Provedor foram enviadas para a Comissão Arbitral das Agências de Viagens. vPor seu lado, a nuvem de cinzas, projectada pelo vulcão islandês Eyjafjallajökull, provocou a maior disrupção do tráfego aéreo europeu de que há memória no pós-guerra, tendo dado origem ao encerramento de diversos aeroportos em Abril e Maio do ano passado e, consequentemente, ao cancelamento de milhares de voos. Conquanto Portugal não tenha sido directamente afectado pela nuvem de cinzas, muitas das viagens para a Europa não se puderam efectuar o que impediu não só os planos de viagem para os destinos afectados como também todas as operações que utilizavam os aeroportos encerrados como hubs para outros destinos mais longínquos. ALTERAÇÕES AO PROGRAMA Uma tipologia que integra as situações em que o itinerário de viagem tenha sido alterado após o início da viagem, alterações de destino, alojamento, visitas ou outros serviços que estejam incluídos. Constituindo habitualmente uma das tipologias com maior número de reclamações, em 2010 decorreu também, em grande parte, dos cancelamentos que se verificaram pelas situações atrás descritas. ALOJAMENTO: EXPECTATIVAS E REALIDADE Embora não tenha tido a expressão de outros anos, as más condições de alojamento continuam a constituir motivo de reclamação. Este ano, ocupou o 3º lugar no ranking, com 18,2% do total (142). Pese embora a variedade dos casos relativos a esta categoria, o gabinete do Provedor explica que, na sua maioria, as queixas residem nas diferenças entre as expectativas dos clientes e o que efectivamente encontram nos alojamentos contratados, sobretudo ao nível do serviço, mas também em termos de infra-estruturas. Conforme tem vindo desde há muito a insistir, é fundamental que o Agente de Viagens alerte o seu cliente que existem diferenças de classificação de unidades hoteleiras nos diversos destinos, ou seja, que os padrões de qualidade variam de país para país e que um 4-estrelas num qualquer destino exótico poderá ser de qualidade inferior a um hotel da mesma categoria em Portugal, por exemplo. "Por vezes os clientes, mesmo pagando preços que se podem considerar efectivamente muito baixos, esperam ter um nível de serviços idêntico ao que teriam se optassem por soluções mais onerosas, o que não é de todo sensato", afirma a referida fonte. "Torna-se, assim, imprescindível que o agente de viagens alerte para estas circunstâncias, evitando que sejam criadas expectativas que não se encontrem reflectidas no serviço contratado e pago". CLIENTES COM, SEM E ALGUMA RAZÃO Entre os clientes que o Provedor considera não terem qualquer razão na sua reclamação e aqueles a quem reconhece total justiça na sua demanda, a diferença percentual não é significativa, embora pendente para os primeiros casos. Das reclamações apreciadas em 2010, 32,6%, ou quase um terço, foram objecto de decisão desfavorável. Por outras palavras, entendeu Vera Jardim, após a necessária instrução do processo, que não assistia qualquer razão ao cliente. Em sentido inverso, decidiu 29,7% dos casos. Nas restantes, que constituem 37,7% do total de reclamações apreciadas, a decisão foi no sentido de atribuir parcial razão ao cliente. 33 REVISTA APAVT · JANEIRO/FEVEREIRO 2011 fimbloco2.pmd 33 21-02-2011, 09:30 Vida Associativa Aposta na Internet é uma das estratégias O provedor como instrumento de credibilização “O Provedor do Cliente é um órgão independente da APAVT, que tem por função principal a defesa e promoção dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos utilizadores de serviços das agências de viagens e turismo (cliente) e a dignificação destes serviços, em Portugal e no estrangeiro, junto do público em geral". Se um dos pressupostos da criação da figura do provedor, aqui expresso no artigo 1º dos seus estatutos, já assentava na credibilização das empresas aderentes, conceito posteriormente alargado a todos os associados da APAVT, este fundamento não só permanece válido como tem vindo a ser reforçado pela crescente utilização dos seus serviços por parte dos consumidores. A liberalização do acesso à actividade de agente de viagens, decorrente da transposição da Directiva da Livre Prestação de Serviços, vulgo Bolkestein, vem abrir novas oportunidades para a utilização do Provedor do Cliente enquanto ferramenta de credibilização, para as quais poderá também contribuir a possibilidade, já existente na Região Autónoma da Madeira, de a legislação passar a conferir ao Provedor a possibilidade de accionar as cauções das agências de viagens em todo o território. A estratégia da APAVT neste domínio passa, nomeadamente, pelo aumento da no to ri edade de st e se r vi ç o e n t r e o s consumidores, que, de acordo com os resultados do inquérito encomendado à Marktest (ver pág. 20 desta edição), se situa nos 15,7%. Neste sentido, está em curso o desenvolvimento de um website do Provedor do Cliente - que permitirá, inclusive, a apresentação de reclamações online - além da criação de uma presença nas redes sociais e da análise de oportunidades para uma maior conjugação de esforços com a Associação para a Defesa do consumidor (DECO), designadamente no que diz respeito à promoção desta alternativa. "Cada vez mais importa que a opinião pública ganhe consciência da diferença e das vantagens, nos mais variados aspectos, de optar por uma agência de viagens associada da APAVT, logo aderente ao Provedor do Cliente. Com a nova directiva, torna-se mesmo fundamental para a própria segurança dos clientes, e o Provedor é sem dúvida uma mais-valia que tem de fazer parte deste processo de credibilização", afirma a propósito o presidente da associação, João Passos. O PAPEL DOS ASSOCIADOS Para João Passos, cabe também aos associados um importante papel nesta missão. "A APAVT criou o Provedor, tem vindo a desenvolver as suas capacidades, irá continuar a investir neste desígnio, mas é fundamental que os próprios associados se envolvam cada vez mais neste processo", defende. A atribuição de maior destaque à sua condição de aderentes ao Provedor, quer nos seus próprios websites, como nas redes sociais, bem como nos suportes de promoção e publicidade junto dos clientes, como forma de diferenciação dos demais prestadores de serviços não aderentes, são alguns dos exemplos citados pelo presidente da associação. 34 fimbloco2.pmd REVISTA APAVT · JANEIRO/FEVEREIRO 2011 34 21-02-2011, 09:30 dom pedro 35 REVISTA APAVT · JANEIRO/FEVEREIRO 2011 fimbloco2.pmd 35 21-02-2011, 09:30