MATEGOGIA – ENSINANDO O CÉREBRO A PENSAR MATEMATICAMENTE 1 2 3 Rasângela Rosa Martins Sandra Brenner Oesterreich Jeferson Fernando de Souza Wolff RESUMO Este trabalho busca descrever oficinas de matemática para séries iniciais que foram desenvolvidas na Universidade Luterana do Brasil, Campus São Jerônimo, e algumas escolas da região Cabonífera em uma parceria dos cursos de Matemática e Pedagogia. Objetivo destas oficinas é a apresentação de alguns meios através dos quais possam proporcionar o entendimento de conceitos matemáticos, que pela manipulação de materiais concretos é possível conseguir com que os alunos desenvolvam experimentações matemáticas que levem ao desenvolvimento do pensamento abstrato. Palavras – chave: matemática, pedagogia, abstrato, concreto. INTRODUÇÃO Sabemos que a matemática é uma disciplina estigmatizada nas escolas, tanto que quando falamos nela, sem sequer apresentarmos algum conceito, já assustamos. Mas porque ocorre isto, uma vez que a matemática existe nas nossas vidas desde que nascemos em nosso próprio corpo e fora dele em todas as nossas ações e na própria natureza? Este medo da matemática já vem de muito tempo e já esta inserido na cabeça dos indivíduos de forma a promover inclusive sentimentos negativos que acabam bloqueando qualquer tentativa de aprendizado nesta disciplina. Os professores de maneira geral sempre tiveram dificuldades em apresentar de forma clara conceitos matemáticos que acabam ficando vagos na cabeça de nossos alunos, principalmente pela forma como são abordados. A abordagem utilizada por muitos desses docentes, partem do abstrato e ai permanece não utilizam o concreto como exemplificação e aplicação dos conceitos matemáticos, o que dificulta em muitas situações a aprendizagem. Uma vez que a matemática é uma ciência exata, logo pensamos em números quando nos referimos a esta disciplina, porém, hoje sabemos que podemos alcançar o entendimento de 1 2 3 Acadêmico do Curso de Matemática da Universidade Luterana do Brasil, Campus São Jerônimo. Docente do Curso de Pedagogia da Universidade Luterana do Brasil, Campus São Jerônimo. Docente do Curso de Matemática da Universidade Luterana do Brasil, Campus São Jerônimo 523 diversos conceitos sem utilizar em especial os números, apenas nos fazendo valer de objetos concretos, através dos quais podemos problematizar questões e chegar a conclusões apenas por deduções. Por exemplo, na área da geometria, a manipulação de figuras geométricas leva a um entendimento espacial muito maior num primeiro momento do que se utilizarmos fórmulas complicadas. REFERÊNCIAL TEÓRICO Segundo Piaget [1] a manipulação do concreto leva ao pensamento abstrato. As crianças desde cedo aprendem a enxergar o mundo através dos movimentos, assim que compreendem estas manifestações como possíveis de levá-las a resultados, suas descobertas tornam-se maiores uma vez instigadas, ou seja, estímulos exteriores são fundamentais no desenvolvimento cognitivo das crianças. De acordo com Piaget [1], o conhecimento lógico-matemático consiste nas relações mentais, as quais tem origem na mente de cada indivíduo, ou seja, é uma fonte interna. Porém, esta fonte interna, necessita de outras fontes externas que por sua vez farão parte da realidade psicológica da criança, ou seja, a abstração lógico-matemática esta relacionada com outros dois tipos de conhecimentos determinados também por Piaget, o conhecimento físico (cuja fonte está parcialmente nos objetos) e o conhecimento social (que tem origem nas palavras que são convencionadas pelas pessoas). Segundo a teoria Piagetiana [1] o conhecimento resulta da interação do sujeito com o ambiente, da sua ação, ou do modo como esta ação irá se converter num processo de construção interna, onde a estrutura mental está em livre expansão. ORGANIZAÇÃO DA OFICINA Pensando nesta expansividade mental a que o sujeito está predisposto, entendo que apresentando mecanismos concretos a este sujeito, podendo ele manipulá-los, e principalmente perceber pelo sentido tátil e visual conceitos matemáticos que levarão a abstração dos mesmos com maior facilidade, devemos então inserir estas formas concretas logo nas séries iniciais que são a base fundamental para um bom desempenho nas posteriores. Desta forma selecionou-se e organizou uma série de trabalhos, muitos dos quais baseado no livro Matemática primeiros passos [2], que definem conceitos matemáticos importantes e que foram construídos praticamente a partir de sucatas e disponibilizados e apresentados na forma de uma oficina intitulada Mategogia – Ensinando o Cérebro a Pensar Matematicamente. 524 Nesta oficina a multiplicação é apresentada através de uma “tabuada de tampinhas”, onde as tampinhas foram agrupadas de dez em dez em cordões num total de dez grupos. Com este trabalho podemos apresentar uma forma de atingir o entendimento do processo de multiplicação através da manipulação das tampinhas, deixando o ato de decorar de lado e se valendo da verdadeira função da tabuada que é a de simples consulta. O aluno compreendendo o processo de multiplicação não sentirá a necessidade de decorar. Outro conceito importante apresentado é a posição decimal de cada número, para isso, utiliza-se uma “escada numérica”, onde os números são dispostos de maneira sobreposta auxiliando a compreensão. Sabemos que muitas vezes a criança ao escrever um número, associa a maneira que falamos à escrita, com este trabalho podemos promover a compreensão do valor posicional de cada número de maneira facilitada. Conceitos geométricos são descobertos através do geoplano que é uma placa de madeira com pregos dispostos de modo a formar uma malha que pode ter vários aspectos estruturais, acompanha o material um conjunto de elásticos que permitem desenhar várias figuras geométricas. Neste espaço o aluno ao manipular os elásticos poderá reproduzir diversas figuras geométricas, inclusive letras do alfabeto, o que pode ser utilizado para auxiliar a alfabetização. Podemos trabalhar com o geoplano conceitos de área, perímetro, localidades “interior”, “exterior”, “direita”, “esquerda”, “fronteira”, simular trajetos entre dois pontos, etc. Ainda na área da geometria, a qual é dada especial importância, já que vivemos num mundo geométrico e compreende-lo desta forma será significativo para o raciocínio lógico matemático, temos o reconhecimento de figuras geométricas através da manipulação de varetas unidas pela extremidade por conectores feitos de garrote. A formação de figuras através desta atividade proporciona uma visualização de formatos geométricos e a sua composição. Também nesta área são apresentados mais dois trabalhos, um se trata da “memória geométrica” que é um jogo de memória que promove através da identificação de figuras geométricas a relação que estas possuem com objetos do dia-a-dia, o outro trabalho é a “inteligência espacial reconhecendo pilhas”, trata-se de um trabalho que utiliza caixinhas de fósforo para montar diferentes pilhas as quais serão apresentadas aos alunos na forma de desenhos de cada uma das suas vistas. Com este trabalho de identificação de cada pilha pela visualização de suas diferentes vistas promovemos o desenvolvimento da capacidade de perceber os espaços, dimensões, projeções. O trabalho da “sequência lógica” é interessante para que o professor identifique no aluno o seu pensamento lógico e intensidade de percepção. Nesta atividade é apresentada uma sequência à criança na qual ela deverá seguir com as peças avulsas esta sequência, desta 525 forma pode-se proporcionar além do raciocínio lógico, percepção, reconhecimento de figuras ou objetos, organização e posicionamento. Para auxiliar na construção da ideia da soma, reconhecimento de conjuntos e entendimento do zero é bastante útil o trabalho “somando com tampinhas”, que utiliza duas bandejas onde são depositadas as tampinhas que posteriormente serão somadas numa terceira. A “lógica dos círculos” é um trabalho que capacita a criança à se apropriar das noções básicas de frações, pois manipulando os círculos divididos desde o inteiro até dez partes, através de atividades de classificação e seriação, bem como equivalência, a criança terá maior facilidade para enxergar as divisões fracionárias e chegar as operações com os números. A “regra de três com caixinhas de fósforos” apresenta de forma visual como que as grandezas se relacionam inversa ou proporcionalmente. Todos estes trabalhos assim organizados e construídos basicamente com material de sucatas e de baixo custo, têm na intensão pedagógica, trazer para sala de aula, o objetivo de apresentar uma matemática concreta que pode trazer resultados satisfatórios se assim os professores desejarem. RESULTADOS OBTIDOS Esta oficina de matemática já passou por algumas apresentações, sendo que primeiro foi disponibilizada na APAE de Charqueadas/RS a convite da Diretora desta instituição, que também é responsável pela criação da oficina, os professores que participaram da oficina aprovaram o trabalho e já o constroem junto com os alunos, demonstrando que, além de utilizar um material concreto os próprios alunos podem se empenhar em construí-lo. Foto 01 – APAE Charqueadas Na ULBRA Campus São Jerônimo a oficina já esteve presente em dois momentos, primeiro contemplando alunas do curso de pedagogia e depois numa amplitude ainda maior foi disponibilizada para professores e alunos da região. Em ambas as ocasiões contou com um 526 público considerável e que demonstra que os professores estão cada vez mais voltados ao uso de material concreto para aulas de matemática. Foto 02 – ULBRA/SJ A Escola Vasconcelos Jardim de General Câmara/RS solicitou também a apresentação da oficina em dois momentos, no primeiro deles estiveram presentes mais de oitenta pessoas entre professores e estudantes de várias escolas desta cidade. Esta escola pode observar uma melhora nas aulas de matemática logo após a oficina, demonstrando mais uma vez o interesse que está se expandindo no uso de matérias concretos para o ensino de matemática. Foto 03 – Escola Vasconcelos Jardim CONSIDERAÇÕES FINAIS Com este trabalho pode-se concluir que apesar da matemática ser uma ciência vista como abstrata, hoje podemos perceber que se utilizarmos as formas concretas para apresentarmos seus conceitos podemos atingir resultados muito mais satisfatórios, além de tornar esta disciplina mais atraente para o aluno e porque não dizer também para o professor. Desta forma, dando um sentido mais emocionante para a matemática estamos permitindo que nossos alunos sintam-se, ao serem instigados pela curiosidade, atraídos pelos números. 527 Outro ponto importante de ser ressaltado, que a aprendizagem através do concreto não é apenas mais uma opção de ensino da matemática, mas sim uma necessidade, em que o professor deve iniciar as suas atividades a partir do concreto para somente após vislumbrar uma aprendizagem que contemple o abstrato, e não apenas apresentado conceitos matemáticos apenas de uma forma totalmente abstrata. BIBLIOGRAFIA 1 PIAGET, Jean. A construção do real na criança. 3ª ed.São Paulo.Editora Ática. 2006. 2 SOUZA, Andréia F; RAFFA, Ivete; SOUZA, Silva da Silva. Matemática primeiros passos. 1ª ed. São Paulo. Giracor.2008. 528