COMPARAÇÃO ENTRE MEMBRANAS ARTIFICIAL E BIOLÓGICA NA PRÁTICA DE DIÁLISE Thais Heloise da Silva Almeida1; Cidélia Alves de Oliveira2; Claudeir Dias da Silva Junior3; Rossana Suelle Nascimento dos Santos4, George Chaves Jimenez5, Margareth Mayer6 e Marliete Maria Soares da Silva7 Introdução Em geral o termo membrana é definido como uma estrutura delgada que tem como função delimitar um espaço, podendo ser considerada impermeável, permeável ou semipermeável. A membrana plasmática serve como uma barreira de permeabilidade que permite a célula manter uma composição interna diferente da composição do líquido extracelular. [1] Os mecanismos de difusão de substâncias representam um importante recurso seletivo para a obtenção de compartimento com determinado tipo de substâncias químicas específicas. Esta seletividade geralmente está condicionada à qualidade das membranas que eventualmente podem delimitar pelo menos uma face destes compartimentos.[2] As membranas podem apresentar diferentes estruturas dentre as sintetizadas artificialmente ou mesmo as membranas biológicas, exibindo condições de permeabilidade características.[1] Está sendo implementada nas aulas práticas de biofísica a técnica de diálise para demonstração dos fatores que influenciam na difusão das moléculas através das membranas. Uma vez que essa prática utiliza membranas artificiais de elevado custo, nossa proposta é substituir essas membranas por membranas biológicas provenientes de segmentos intestinais de suínos adquiridas em mercado público. Assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência entre membranas biológica e artificial para serem utilizadas nas aulas práticas de Biofísica dessa instituição. Material e métodos Os experimentos foram realizados nas dependências do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Bloco D da Área de Saúde, da Faculdade Maurício de Nassau, Campus Recife-PE; em 10.09.2009. As condições ambientais foram controladas, tendo-se temperatura ambiente de 25 oC e umidade relativa acima de 75%. Foram utilizados seis agitadores magnéticos, seis béqueres, seis bastões de vidro, doze pipetas de 5ml, três membranas sintéticas para diálise (Inlab® 25x 16 mm) e três segmentos de intestino grosso de suíno, adquiridas do Mercado Público de Carpina-PE. Diferentes soluções aquosas de Azul de metileno (PM 373,91, em grau analítico), 40% e 100% foram aplicadas em bolsas construídas com as membranas acima, onde os suportes de vidro atrelados eram justapostos em recipientes contendo 500 mL de água destilada e os magnetos para agitação induzida. Seis montagens foram realizadas: a primeira com membrana artificial e solução à 40%. A segunda com membrana artificial em 100%. A terceira com membrana artificial, solução a 40% e aquecimento de 80 ºC por todo experimento. Uma quarta montagem consistia de uso de membrana biológica e solução a 40% de azul de metileno. A quinta montagem foi com membrana biológica e solução à 100%. Finalmente a última montagem foi efetuada com membrana biológica, solução a 40% mais aquecimento de 80 ºC também por todo experimento. Amostras do conteúdo de cada recipiente foram coletadas a cada 5 min. e o respectivo conteúdo foi avaliado em Espectrofotômetro visível (Biospectro ®), a 660nm. As concentrações de cada amostra foram determinadas a partir de uma curva padrão para o azul de metileno mediante avaliação espectrofotométrica nas mesmas condições acima assinaladas. Em seguida os dados foram devidamente tabulados, mediante emprego de planilha estatística do programa Excel/ do Office/Vista da Microsoft. Resultados e Discussão Os resultados referentes à variação da concentração do ________________ 1. Primeiro Autor é monitor da Disciplina Biofísica Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – Recife/PE. CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é discente do curso de Biomedicina, Faculdade Maurício de Nassau. Rua Guilherme Pinto 114 -. Recife/ PE. CEP 52011-210. Email: [email protected], ,. 3 Terceiro Autor é discente do curso de Biomedicina , Faculdade Maurício de Nassau. Rua Guilherme Pinto 114 -. Recife/ PE. CEP 52011-210. Email: [email protected] 4.Quarto Autor é monitor da Disciplina Biofísica do curso de Biomedicina , Faculdade Maurício de Nassau. Rua Guilherme Pinto 114 -. Recife/ PE. CEP 52011-210. Email: [email protected] 5.Quinto Autor é Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Área de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – Recife/PE. CEP: 52171-900. Email: [email protected] 6.Sexto Autor é Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Área de Biofísica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – Recife/ PE. CEP: 52171-900. Email: [email protected] 7.Sétimo Autor é Professor Assistente do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Área de Biofísica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos – Recife/ PE. CEP: 52171-900. Email: [email protected] azul de metileno nos diferentes tipos de preparações realizadas podem ser visualizados na figura 1. No gráfico, pode-se verificar que a preparação que apresentou maior inclinação foi a Membrana dialítica com aquecimento - MDAQ, seguida das preparações Membrana biológica 100% - MB100%, Membrana biológica com aquecimento - MBAQ, Membrana biológica a 40% - MB40%, Membrana dialítica a 100% - MD100%, Membrana biológica a 100% - MB100% e finalmente Membrana biológica a 40% - MB40%. A inclinação da curva retrata a quantidade de transferência do azul de metileno no recipiente coletor ao longo do tempo. Maiores inclinações significam maior transferência. Embora as curvas não sejam perfeitamente lineares, pode-se afirmar a existência de uma certa relação entre a quantidade de azul de metileno passada pelas membranas e o tempo. O aquecimento tem como peculiaridade aumentar o grau de agitação molecular do sistema. É possível que este fato tenha contribuído para o aumento da taxa de passagem do azul de metileno pelos poros da membrana artificial, considerando-se que nesta preparação o azul de metileno estava a 40% no recipiente de origem. Entretanto este raciocínio não se aplicou quando da utilização da membrana biológica. A sua estrutura física é diferente, uma vez que a sua porosidade é o resultado das conformações finais assumidas pelos espaços paracelulares, existentes entre as células dos enterócitos. [3] A natureza fisicoquímica do tecido biológico é também diferente, respondendo de forma característica em relação ao aquecimento de 100 C aplicados ao sistema. Existe a tendência das moléculas destas membranas assumirem arranjos aleatórios compactados, o que poderia influenciar na dimensão dos poros, por sua vez influenciando na difusão do corante azul de metileno. Uma observação interessante é a de que o aumento da concentração de azul de metileno no recipiente de origem aumentou a passagem do corante ao longo do tempo, independentemente da membrana ser de diálise ou biológica. De qualquer maneira, pode-se verificar que o transporte efetuado pela membrana de diálise foi maior em relação à membrana biológica; bem possivelmente em relação à homogeneidade dos poros na membrana artificial, qualitativamente e quantitativamente. Aqui, ainda é importante assinalar que as membranas artificiais apresentam uma porosidade específica, que de acordo com o fabricante, visa atender ao aspecto de seletividade, através da dimensão dos seus poros. Seja como for, este tipo de preparação proporciona uma importante oportunidade para se discutir os principais parâmetros associados ao processo de difusão de substâncias através de membranas de naturezas diversas. De acordo com Costa [4] o deslocamento dos componentes de uma solução sofre ação das forças termodinâmicas e eletrodinâmicas, obviamente de acordo com as características das interfaces que delineiam os compartimentos envolvidos na transferência de solutos. A lei de Fick estabelece que esta relação deve levar em consideração as constantes termodinâmicas associadas às características de difusibilidade do meio bem como os parâmetros de permeabilidade elétrica também associados, conforme mostra a equação abaixo (Equação 1). Eq.1: Ф = ρ . A. (dCi/dx) É importante verificar que o fluxo de qualquer substância (Ф) é diretamente proporcional ao produto da constante de permeabilidade (ρ), pela extensão de superfície da membrana (A) e pelo gradiente de concentração do soluto ao longo da espessura da membrana ( dCi/dx). Na constante de permeabilidade, devem estar previstos os parâmetros termodinâmicos e eletrodinâmicos associados às características físico-químicas do soluto em relação às características do meio de difusibilidade. Dessa forma concluímos que apesar da eficiência da membrana comercial ter sido evidente, a membrana biológica poderá ser uma alternativa para substituí-la, uma vez que esta respondeu a todos os requisitos importantes para difusibilidade de moléculas. Além disso, seu baixo custo e disponibilidade viabilizam sua utilização. Agradecimentos Agradecemos ao professor George Jimenez pela orientação, dedicação e compromisso. Referências [1] [2] [3] [4] LEVY, M.N.; STANTON, B.A. & KOEPPEN, B.M. 2006. Fundamentos de Fisiologia. Rio de Janeiro: Editora: Elsevier. P. 0318. RAMOS, A. 2003. Desenvolvimento do método do circuito equivalente para análise numéricas de processos elétricos em tecidos bilógicos. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica.UFSC, Florianópolis. JUNQUEIRA, L. C. U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 8. ed. Rio de Janeiro : Guanabara-Koogan, 1995. COSTA, J.G. 1997. Biofísica das Membranas. Recife: Editora Universitária da UFPE. Figura 1. Variação da concentração de azul de metileno em g/mL (leituras feitas em espectrofotômetro a 660 nm), ao longo de 30 min. De diferentes preparações: Membrana dialítica a 40% ( MD 40%); Membrana biológica (MB 40%); Membrana dialítica a 100% (MD 100%); Membrana biológica a 100% (MB 100%); Membrana dialítica com aquecimento a 100 C do meio (MD AQ); Membrana biológica com aquecimento do meio a 100C (MB AQ). DIFUSÃO DO AZUL DE METILENO 2,000 1,800 1,600 1,400 MD 40% MB 40% MD 100% g/ml 1,200 1,000 MB 100% MD AQ MB AQ 0,800 0,600 0,400 0,200 0,000 0 5 10 15 Min. 20 25 30