Antecedentes da Primeira Guerra Mundial Ilustração do interesse econômico britânico e francês por regiões de exploração imperialista. O capitalismo concorrencial do século XIX motivou o conflito entre diversas potências européias. O interesse em ampliar mercados e o domínio sobre regiões de interesse imperialista fez com que a Europa se transformasse em um verdadeiro barril de pólvora. A França desejava reconquistar a região da Alsácia-Lorena perdida para a Alemanha. Os grupos nacionalistas balcânicos indispunham-se com a dominação exercida pela Áustria e a Rússia. Ao mesmo tempo, as tensões diplomáticas entre Alemanha e Inglaterra pelo domínio de regiões afroasiáticas pioravam essa situação. Dessa forma, a frustração em torno das vias de negociação diplomática incentivou uma grande corrida armamentista entre as nações européias. O incentivo na compra e fabricação de armas agravou ainda mais as disputas econômicas, pois os grandes gastos no setor armamentista ampliavam a demanda por lucros e matériaprima. Em meio a tantas animosidades, duas conferências ainda tentaram selar a paz entre as potências. Em 1898 e 1907, a cidade de Haia foi o lugar onde ainda tentaram vetar uma possível guerra. Nesse período, as disputas também fortaleceram a criação de acordos de cooperação militar entre algumas nações da Europa. Na Convenção de São Petersburgo, em 1873, russos e alemães prometiam cooperação mútua em caso de agressão militar. Logo em seguida, os austríacos e italianos aproximaram-se desses dois países. Dessa forma, Alemanha, Áustria, Rússia e Itália pareciam formar um grupo de oposição frente a seus possíveis inimigos econômicos e militares. Outro campo de disputas concentrava-se na região do Bálcãs. A opressiva dominação dos turcos na região era vista como uma grande oportunidade onde, através de um conflito armado, as nações industrialistas da Europa poderiam ampliar seus negócios. Foi quando em 1877, a Rússia, com apoio da Áustria, resolveu declarar guerra contra o Império Turco. Após derrotarem os turcos, os russos reconquistaram antigos territórios perdidos na Península Balcânica e a Áustria obteve controle sobre a Bósnia-Herzegovina. A hegemonia russa na região reorganizou as alianças anteriormente firmadas. Em 1879, a Alemanha aliou-se secretamente à Áustria caso ocorresse uma invasão russa que, em troca, estaria livre de participar de um possível conflito entre a França e a Alemanha. No ano de 1882, o Tratado da Tríplice Aliança firmou um acordo de cooperação militar reunindo Alemanha, Áustria e Itália. Todas essas manobras sinalizavam que o mundo parecia ser “pequeno demais” frente a tantas nações ansiosas em firmarem sua supremacia econômica a qualquer custo. No final do século XIX, a antiga hegemonia industrial inglesa começou a ser ameaçada. Os alemães conseguiram em um curto período formar um parque industrial que começou a superar a tradicional solidez industrial britânica. Sentindo-se ameaçados, os britânicos saíram de seu isolamento político-geográfico para firmarem acordos com a França. Após resolverem suas contendas, França e Inglaterra assinaram a Entente Cordial, em 1904. Tempos depois, a Rússia também se aproximou dos britânicos e franceses. A partir disso, estava formada a Tríplice Entente. Dessa maneira, a Europa estava politicamente dividida entre os dois grandes acordos firmados na época. A Tríplice Entente e a Tríplice Aliança perfilavam a rivalidade num cenário bastante conturbado. A mobilização de potências em blocos preparou boa parte das condições necessárias para que ocorressem os conflitos da Primeira Guerra Mundial. O início da Primeira Guerra O arquiduque Francisco Ferdinando momentos antes de ser assassinado em Sarajevo. Após a queda do Império Turco-Otomano, um grupo de novas nações surgiu na Península Balcânica. Durante a definição de seus limites territoriais ocorreram sérios desentendimentos diplomáticos entre os Estados ali formados. Apoiada pelo Império Austro-húngaro, a Bulgária – em 1913 – acabou entrando em conflito contra a Sérvia, Romênia, Grécia e Montenegro. Nessa mesma época, os povos eslavos da Bósnia-Herzegovina, apoiados pela Sérvia, tentaram dar fim à dominação austro-húngara na região. Para tentar contornar o conflito, o Império Austro-húngaro decidiu elevar a Bósnia-Herzegovina à condição de parte integrante de seu Estado. Foi quando o arquiduque Francisco Ferdinando, príncipe do Império AustroHúngaro, foi até Sarajevo, capital da Bósnia, para anunciar a elevação política destes territórios. Porém, Francisco Ferdinando acabou vítima de um assassinato tramado pela facção nacionalista sérvia Mão Negra. Em resposta, o Império Austro-Húngaro exigiu que o governo sérvio punisse duramente os autores do crime e reprimisse todas as facções radicais do país. Sem obter respostas satisfatórias o Império Austro-Húngaro decidiu, com o apoio da Alemanha, declarar guerra à Sérvia. A Rússia, contrária à ocupação austríaca, concedeu apoio aos sérvios. Logo em seguida, a Alemanha declarou guerra contra a Rússia e, posteriormente, contra a França. Itália e Inglaterra não mostraram clara definição política frente aos conflitos. Porém, a força dos acordos diplomáticos firmados e os interesses econômicos obrigaram ambos os países a se envolverem na guerra iniciada. A generalização do conflito contou com a posterior adoção de outras nações, entre elas o Brasil. De forma geral, o conflito dividiu as potências européias em dois blocos: Tríplice Entente, formada por França, Inglaterra e Rússia; e Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro. O desenvolvimento da Primeira Guerra Mundial Tropas alemãs em combate contra os exércitos britânicos. Os conflitos iniciados em 1914 foram, ao longo do tempo, tomando um contorno diferente do programado pelas nações envolvidas. A “Grande Guerra”, envolvendo as grandes potências do mundo ocidental, não contava com uma projeção de longo prazo. Nenhuma das nações esperava ou tinha condições para sustentar um conflito que se estendesse anos a fio. No entanto, a Primeira Guerra Mundial se desenvolveu ao longo de quatro anos e três meses, o que acabou exigindo maiores esforços e diferentes estratégias militares. Os esforços mobilizados para o conflito deram aos Estados o controle massivo sobre suas economias e exigiu o recrutamento de pessoas para lutarem ou trabalharem em prol da guerra. Várias novas tecnologias começaram a ser empregadas, mostrando ao mundo uma tecnologia de destruição nunca antes observada. Encouraçados, tanques de guerra, obuses, submarinos e aviões inauguravam um novo conceito aos conflitos bélicos até então conhecidos. Além disso, com o desenvolvimento da guerra, outras nações foram trazidas aos campos de batalha. Várias das nações colonizadas na África e na Ásia foram obrigadas a dispor de homens e recursos para a guerra. O Império Turco-Otomano e a Bulgária resolveram apoiar as tropas alemãs. Isso porque essas duas nações nutriam contendas com a Rússia e a Sérvia. No ano de 1915, assinando o Tratado de Londres, a Itália resolveu apoiar a Tríplice Aliança. Seduzidos pela promessa de ganhos territoriais na Turquia e na Áustria, os italianos mudaram sua posição no conflito. Somente em 1917, uma importante aliança começou a definir os rumos da Primeira Guerra. Nesse ano, os Estados Unidos resolveram aliar-se à Tríplice Entente. A adesão norte-americana deu-se graças à saída dos russos e o interesse em preservar suas possessões imperialistas. Envolvendo uma complexa trama de alianças e interesses, a Primeira Guerra também se dividiu em duas diferentes etapas militares. A primeira foi a guerra de movimento, quando as tropas alemãs fizeram um ataque incisivo sobre a França. Com essa estratégia os alemães esperavam vencer a guerra sem maiores dificuldades. No entanto, a vitória francesa na batalha do Marne conteve a estratégia dos alemães. Passado esse primeiro momento, os conflitos entraram em uma nova fase que ficou conhecida como a guerra de posições ou guerra de trincheiras. Esse período envolveu batalhas grandes e penosas, que não resultou em nenhum avanço militar significativo para ambos os lados. Apenas com o emprego das novas tecnologias e a chegada de 1,2 milhão de soldados estadunidenses os conflitos seguiram novos rumos. Os alemães, que até então venciam boa parte das batalhas, foram contidos com uma segunda derrota em território francês. A Inglaterra conseguiu subjugar as forças turco-otomanas e a Itália derrotou os exércitos austríacos. Estava assim decretada a vitória da Tríplice Entente. Em novembro de 1918, os alemães foram obrigados a assinarem o armistício de Compiègne. Logo em seguida, o tratado dos Catorze Pontos Para a Paz Mundial, elaborado pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson, prometeu o estabelecimento de uma “paz sem vencedores”. Mesmo com o fim da Primeira Guerra, várias marcas foram deixadas na Europa, local predominante dos combates. Os vários confrontos foram responsáveis pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas e a mutilação de quase 20 milhões de soldados e civis. Além disso, a capacidade econômica européia sofreu um baque que reduziu em quase 40 % a produção agro-industrial do continente. A dívida externa sofreu um aumento exorbitante e as moedas européias sofreram forte desvalorização. Os Estados Unidos, outros países emergentes (como Japão, Suíça, Dinamarca e Espanha) e nações agro-exportadoras saíram ganhando com o caos sócio-econômico instalado no Velho Mundo. Natal dos inimigos Em várias ocasiões, o ódio nacionalista foi ignorado por simples combatentes que participaram da Primeira Guerra. Quando estudamos as motivações para a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), os livros costumam assinalar as rixas políticas e as tendências nacionalistas que instalaram um clima de tensão e ódio entre as nações européias. Contudo, o tom generalizador da narrativa contida nesses textos deixa de abraçar muitas situações peculiares que ocorreram durante esse conflito. Para exemplificar tal ponto, passemos a falar um pouco dos primeiros conflitos da guerra, ocorridos entre 1914 e 1915. Nessa fase, as nações inimigas se entrincheiravam em enormes valas repletas de armamentos e soldados. Contudo, preparados para um conflito desde os fins do século XIX, os países inseridos naquela grande guerra não conseguiam obter vantagem contra inimigos que tinham um poder de destruição equivalente. Além disso, vários relatos contam sobre uma série de práticas e condutas que fugiam daquele “ideal romântico” de luta ininterrupta contra as odiáveis tropas estrangeiras. Na verdade, o ambiente nas trincheiras propiciava uma grande aproximação entre os solados envolvidos no conflito. Segundo alguns escritos dos que estiveram em combate, os solados de uma trincheira conseguiam ouvir as conversas, risadas e cantos de uma trincheira inimiga localizada a poucos metros de distância. De fato, a inserção em uma guerra onde muitos não compreendiam ou acreditavam em suas motivações acabou criando situações de comunhão entre os rivais. Em dezembro de 1914, houve diversas tréguas entre as tropas inimigas, soldados britânicos, franceses e alemães se encontraram para comemorar o Natal. Esse tipo de situação, além de demonstrar a inconsistência do ideário nacionalista, também simbolizava a frustração de uma guerra onde ambos os lados acreditavam em uma vitória rápida. Em certas regiões, inimigos chegaram a trocar presentes e montar pequenas árvores de Natal improvisadas. A surpreendente atitude tomada pelos combatentes acabou incitando uma fiscalização maior dos altos escalões, que passaram a evitar qualquer tipo de trégua não autorizada pelos comandantes. No entanto, para evitar problemas com os comandantes superiores, muitos soldados relatavam em seus diários a aproximação dos inimigos, tentado se eximir de qualquer culpa das tréguas estabelecidas. Contudo, outros diários de soldados de baixo escalão faziam menção sobre “bons vizinhos” ou realizando o chamado “live and let live” (viver e deixar viver). Dessa forma, podemos enxergar nesse tipo de situação uma rica fonte de compreensão do passado onde vemos o descompasso entre o relato oficial e a narrativa dos indivíduos que viveram uma determinada História. Seria, no mínimo, estranho pensar que o ódio e a matança predominaram todos aqueles cinqüenta meses que marcaram a Primeira Guerra. Sendo feita pela ação de homens, a História experimenta descaminhos que, muitas vezes, fogem do nosso olhar. Por Rainer Sousa Os tratados do pós-Primeira Guerra Lloyd George (ENG), Vittorio Orlando (ITA), Georges Clemenceau (FRA) e Woodrow Wilson (EUA) reunidos para o Tratado de Versalhes. A rendição alemã e a assinatura do Tratado dos “Catorze Pontos para a Paz” não selaram definitivamente as questões abertas com o conflito da Primeira Guerra. Algumas potências ainda buscavam um tratamento mais rigoroso às nações derrotadas na guerra, principalmente a Alemanha. Por isso, em 28 de junho de 1919, as principias nações vencedoras do conflito reuniram-se no Palácio de Versalhes, em Paris, para novas negociações de paz. Preocupados com a possibilidade de outra desgastante guerra, os Estados Unidos pleitearam a criação da Sociedade das Nações. Esse órgão teria caráter internacional e deveria julgar as tensões militares na esfera internacional. Em outro lado, França e Inglaterra queriam proteger seus interesses econômicos à custa dos povos vencidos. Os ingleses exigiam o controle sobre as colônias e rotas marítimas alemãs. Já a França, pleiteava a reconquista da região da Alsácia-Lorena e o pagamento de indenização pela Alemanha. Depois das negociações, o Tratado de Versalhes previa os benefícios e punições a cada um dos lados envolvidos na guerra. A Polônia foi colocada como um Estado independente e livre do anterior domínio russo. A França conseguiu reaver a região da Alsácia-Lorena. As colônias alemãs na África foram divididas entre ingleses, belgas, franceses. As colônias alemãs no Pacífico foram entregues ao domínio do Japão e da Inglaterra. Além das perdas territoriais, a Alemanha, considerada principal culpada pela guerra, foi obrigada a reduzir seus exércitos, extinguir sua marinha e foi impedida de produzir qualquer tipo de material bélico. Finalizando o rigor das punições contra a Alemanha, o tratado ainda previu uma indenização de 132 bilhões de marcos-ouro às nações vitoriosas. Tal dinheiro seria utilizado para a recuperação de bens públicos e privados, e o pagamento de pensões às vítimas da guerra. Naquele mesmo ano, o Tratado de Saint-German redesenhou o mapa político-territorial da Europa. O império Austro-Húngaro foi desmembrado em novas nações. A Áustria perdeu suas saídas marítimas e foi obrigada a reconhecer a independência da Iugoslávia, da Hungria, da Tchecoslováquia e da Polônia. O Império TurcoOtomano assinou os tratados de Sèvres e Lausanne, que previa a perda de territórios da Mesopotâmia e da Palestina para a Inglaterra, e o domínio francês sobre a Síria e o Líbano. Os tratados assinados, ao contrário do que diziam defender, não asseguraram a paz e o equilíbrio entre as nações européias. De acordo com diversos historiadores, a pesadas punições estabelecidas contra a Alemanha prepararam todo o clima de ódio e revanche que alimentaram os preparativos da Segunda Guerra Mundial. Com a ascensão dos regimes totalitários ítalo-germânicos e a crise econômica de 1929, as rivalidades políticas e econômicas seriam reascendidas na Europa.