INTERVENÇÃO DA SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL BERTA DE MELO CABRAL 1.º Fórum de Saúde Militar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Lisboa, 17 de março de 2014 Só serão válidas as palavras proferidas pela oradora Exmo. Senhor Diretor-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar Exmo. Senhor Diretor do Polo de Lisboa do Hospital das Forças Armadas Ilustres participantes e convidados Minhas Senhoras e meus Senhores, É para mim uma grande honra presidir à sessão de abertura do 1.º Fórum de Saúde Militar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Com um histórico de cooperação que passou por vários Encontros de Saúde Militar da CPLP, não deixa de ser muito significativo estar aqui na altura em que entramos numa nova dimensão desta cooperação, precisamente com a criação do Fórum de Saúde Militar da CPLP. Os Encontros de Saúde Militar da CPLP, como sabemos, permitiram importantes desenvolvimentos científicos nesta área da saúde, que é complexa, e, simultaneamente, possibilitaram estreitar o relacionamento entre os profissionais de saúde militar. Profissionais que exercem a sua atividade em contextos bastante distintos, com experiências muito diversificadas, mas todos com um denominador comum: a Língua Portuguesa. Apesar do longo caminho percorrido nestas duas décadas de intercâmbio, desde o primeiro Encontro Luso-Brasileiro de Medicina Militar, em 1991, é preciso reconhecer que o trabalho desenvolvido nem sempre teve reflexo no quotidiano das Forças Armadas dos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Deposito, por isso, e todos depositamos, enorme expectativa no Fórum agora criado, esperando que ele possa assegurar mais regularidade e uma efetiva troca de experiências entre todos os que têm o Português como língua e se dedicam à saúde militar em geografias tão afastadas como a Europa, a América, a África ou a Ásia. Sendo um objetivo primordial criar condições para que se produzam ganhos de eficácia e de efetividade na cooperação entre os vários serviços de saúde militar dos Estados-membros, importa que este Fórum contribua decisivamente para que esses serviços implementem as orientações e as medidas que têm resultado dos Encontros anteriores. O Fórum deve assumir-se, assim, como uma plataforma onde se promova a colaboração entre todos os países lusófonos e onde cada um possa dar o seu contributo, tendo em consideração as capacidades próprias. Naturalmente que a vertente formativa deverá ser colocada na primeira linha das ações de cooperação. Mas a cooperação terá de ser igualmente um espaço privilegiado para a troca de experiências, de práticas e de métodos de trabalho entre os serviços de saúde militar dos vários países em diversas áreas, da Cirurgia Plástica e Reconstrutiva ao Stress Pós-traumático de Guerra, passando pela Toxicologia, pela Traumatologia, pela Ortopedia, pela Medicina Tropical, pela Prevenção de Epidemias, pela Saúde Pública e por outras que venham a ser consideradas pertinentes. Minhas Senhoras e meus Senhores, A criação do Fórum da Saúde Militar da CPLP é uma realidade internacional, com uma dimensão multicontinental. Para nós, que temos o privilégio de acolher em Lisboa esta primeira reunião, trata-se de uma realização muito importante para o cumprimento do objetivo estratégico de “internacionalizar a saúde e aprofundar a cooperação no domínio da saúde com a CPLP e a União Europeia”, consagrado nas Grandes Opções do Plano para 2014. Este documento orientador é explícito quanto à intenção de “aprofundar a cooperação com a CPLP, facilitando a transferência de conhecimento e o desenvolvimento de uma agenda comum de cooperação em saúde, nos domínios técnico e científico”. A cooperação na saúde militar insere-se, assim, no âmbito mais vasto da Cooperação Técnico-Militar, reconhecidamente um importante vetor da nossa política de Defesa Nacional. O conceito de cooperação atinge uma dimensão acrescida quando o interpretamos no contexto da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, precisamente por partilharmos o mesmo idioma e por termos uma história comum que nos irmana. As realidades atuais de cada um dos Estados-membros justificam uma estreita cooperação em todas as dimensões e, por maioria de razão, na área da saúde militar. Com efeito, ensinar e exercer medicina em áreas onde se oferecem práticas insuficientes, quer pela reduzida expressão do mercado quer pela falta de recursos ou técnicos qualificados, é um exercício que beneficia ambas as partes envolvidas na cooperação. Ao ensino soma-se a experiência. Quem ensina ganha experiência e melhora o seu conhecimento. Quem aprende fica mais rico e mais capaz de cumprir a sua missão. A cooperação é sempre um caminho com dois sentidos. Nesta oportunidade, apraz-nos registar o facto de estar já em curso um projeto de saúde militar no âmbito da Cooperação Técnico-Militar entre Portugal e Angola. Um projeto que prevê apoio conceptual e técnico, apoio à capacidade laboratorial no controlo de qualidade de produtos químicos e farmacêuticos, apoio no diagnóstico e prevenção de grandes endemias e, ainda, formação de especialistas no diagnóstico laboratorial e prevenção no uso de medidas de combate ao bioterrorismo e medidas de biossegurança. É este o caminho que interessa a todas as partes e que deverá ser melhorado e replicado. Apesar da conjuntura financeira desfavorável, o Governo português tem feito um grande esforço para cumprir as suas responsabilidades no âmbito da Cooperação Técnico-Militar e, este ano, estão disponíveis para serem aplicados nos diversos projetos incluídos nos Programas-Quadro cerca de 5 milhões de euros. As Forças Armadas Portuguesas, no seu conjunto, têm 77 efetivos alocados à Cooperação Técnico-Militar e existe um contingente de 71 bolseiros, oriundos dos países lusófonos, a fazer formação em Portugal. Prevê-se que este número seja brevemente incrementado, atingindo um total de 129 bolseiros já no final deste ano. Minhas Senhoras e meus Senhores, Assistimos a importantes transformações ao nível da saúde militar em alguns dos Estados-membros da CPLP. Portugal também está em vias de terminar uma grande reforma no Sistema de Saúde Militar. A Saúde Militar tem sido uma das prioridades deste Governo. A prova evidente disto é que a reforma prevista para ser implementada em 24 meses, está praticamente concluída com 6 meses de antecipação, graças ao empenho, dedicação e competência de todos os envolvidos neste processo complexo e sensível. A reforma do Sistema de Saúde Militar português era necessária e há muito se afigurava como inadiável mas, na realidade, só agora tomou corpo, em resultado de um empenhamento político efetivo, do aturado esforço de todos os profissionais de saúde e também do apoio e firmeza das chefias militares. A prontidão de resposta às exigências da condição militar, a preparação das Forças Armadas para as missões que lhes são confiadas e a garantia de um elevado padrão de qualidade dos serviços prestados foram as principais motivações da reforma. Além disso, a racionalização de meios, o aproveitamento de sinergias, a eficiente aplicação dos recursos e a sustentabilidade técnica e financeira do Sistema foram igualmente preocupações tidas em conta, na medida em que ninguém pode permanecer indiferente a estas questões, quando são muitas as dificuldades que afetam a generalidade dos portugueses. Estamos certos de que esta dupla ação da reforma – por um lado, a garantia da qualidade do serviço e, por outro, a melhoria da eficiência – permitirá aos utentes reforçarem progressivamente a sua confiança no Sistema de Saúde Militar. Minhas Senhoras e meus Senhores, Termino congratulando-me por recebermos aqui representantes da maioria dos países lusófonos, todos interessados em debater assuntos essenciais para garantir o apoio sanitário à componente operacional das Forças Armadas e às suas missões. Estes são temas que se refletem também na assistência médica aos militares, quer estejam no ativo, na reserva, na reforma ou sejam deficientes, e até se repercutem na assistência às suas famílias e às suas comunidades. Todos os contributos que este Fórum der para engrandecer a cooperação e, concretamente, para aumentar a eficácia na prevenção e combate das grandes endemias e outras catástrofes sanitárias serão muito bem-vindos. A intenção de implementar programas de saúde partilhados é uma ideia que nos agrada sobremaneira e merece o nosso apoio. Faço votos para que esta jornada de trabalho seja muito produtiva e para que seja apenas o primeiro passo de uma longa maratona de intercâmbios técnico-científicos na área da saúde militar, enriquecendo a cooperação no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa num aspeto que é fundamental para a qualidade de vida dos militares dos Estados-membros, das suas famílias e da população dos respetivos Países.