| e d i ç ã o 1 5 | a b r / m a i / j u n 2 0 1 3 | Qualidade e Segurança Reacreditação da Joint Commission International (JCI) reconhece o empenho e o trabalho pela melhoria contínua Págs. 18 a 21 Giro pelo Hospital Conselho Deliberativo do Hospital tem novo Presidente Pág. 4 Giro pelo Hospital PET-CT amplia possibilidades de exames no CDI Pág. 5 Entrevista Superintendência Médica: pela melhoria contínua Págs. 10 e 11 13 04 05 09 GIRO PELO HOSPITAL Conselho Deliberativo do Hospital tem novo Presidente 14 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Estudo demonstra benefícios do tratamento cirúrgico para doenças microvasculares decorrentes da diabetes Interpretando Exames Laboratoriais Diagnóstico laboratorial do angioedema hereditário - uma doença genética ainda pouco conhecida giro pelo hospital PET-CT amplia possibilidades de exames no CD Dia a dia do médico Dúvidas relacionadas à distribuição de dividendos. 10 e 11 entrevista Pela melhoria contínua 22 24 31 TEMPO LIVRE Nas ondas do Dr. Elie PERSONAGEM HAOC Já dizia Dr. Negrini... Responsabilidade Jurídica AIDS e sigilo médico EDITORIAL Um passo à frente A conquista da reacreditação da Joint Commission International (JCI) representa um grande passo em nosso desafio de melhoria contínua. Os esforços realizados nas atividades diárias para garantir os padrões exigidos pela JCI resultam em um ambiente seguro e de qualidade para exercer a Medicina. Unindo o selo internacional ao início da operação do Bloco E, seguiremos fortalecendo o diálogo entre Administração e Diretoria Clínica, priorizando o crescimento e procurando oferecer as melhores condições de tratamento aos pacientes.. José Henrique do Prado Fay Superintendente Executivo Desafios e escolhas profissionais O HAOC, como todos os grandes hospitais da cidade de São Paulo, passa por uma grande discussão. Qual caminho a seguir: a Medicina personalista baseada fortemente no médico e sua própria relação com o paciente, sem vínculos diretos com o Hospital, ou a Medicina institucional, com médicos e serviços vinculados à Instituição, com relação empregatícia ou associativa? Acredito que o assunto é importante e contempla questões ainda não resolvidas ou de difícil implantação. O fato é que uma das questões envolve a postura dos médicos nos últimos anos, onde muitos colegas não privilegiaram a construção de uma sólida relação médico-paciente e também não foram buscar atualização científica e assistencial. Esta situação acarreta a perda do personalismo na assistência ao paciente, a migração direta no institucionalismo, ou a ausência de opção no mercado, por não serem personalistas, nem poderem integrar um time de especialistas institucionais. Por isso, fica um conselho aos colegas mais jovens, que iniciam agora uma carreira hospitalar: construam uma robusta relação médico-paciente e, ao mesmo tempo, nunca deixem de atualizar-se. A Diretoria Clínica, junto com a Administração, irá promover dentro em breve um amplo debate sobre esse e outros temas. Participem. Dr. Marcelo Ferraz Sampaio Diretor Clínico edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 3 PET-CT amplia possibilidades de No final de março, o Conselho Deliberativo do Hospital elegeu o administrador de empresas e advogado Marcelo Lacerda como seu novo Presidente. O executivo, que está há nove anos à frente da multinacional alemã Lanxess no Brasil e há dois atua como Conselheiro da Instituição, assumiu o cargo, tendo como Vice-Presidente Edgar Silva Garbade, ex-Presidente da Bosch. Com a conclusão das obras de ampliação do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI), os serviços de Neurologia, Cardiologia e Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz passam a contar com um importante aliado: o novo equipamento PET-CT (Positron Emission Tomography - Computed Tomography). De acordo com o novo Presidente, o momento exige a revisão da estratégia adotada nos últimos anos, a fim de confirmá-la, aprofundá-la ou ajustá-la ao contexto do setor da Saúde atual. “Nossas ações se concentrarão no aumento da competitividade, bem como nos recursos necessários à perpetuidade da organização. No Conselho, tratamos os temas de maneira aberta e profunda e, quando nos decidimos, mantemos a união e partimos para a implantação das ações e projetos por meio do time executivo do Hospital”, explica Lacerda. exames no CDI “Só para que se tenha ideia, no diagnóstico oncológico – área que realiza cerca de 95% dos pedidos para exames deste tipo –, além de detectar tumores, o PET-CT auxiliará na verificação e identificação de metástases, assim como a eficácia de determinado tratamento. Nas avaliações cardiológicas, o novo aparelho é capaz de determinar qual o fluxo de sangue que alcança o músculo cardíaco, ou verificar lesões no coração capazes de provocar um infarto, por exemplo. Da mesma forma, em avaliações neurológicas, é possível avaliar anormalidades no cérebro, tais como tumores e alterações da memória. Então, Constituído por associados que exercem suas funções sem qualquer remuneração, o Conselho Deliberativo é um órgão de orientação geral do Hospital que, trabalhando em sinergia com o Conselho Fiscal, dá diretrizes, fixa objetivos e políticas de organização, operação e administração da Instituição. GIRO PELO HOSPITAL GIRO PELO HOSPITAL Conselho Deliberativo do Hospital tem novo Presidente posso dizer que este foi um reforço muito bem-vindo”, revela Dr. Sérgio Tazima, médico especialista em Medicina Nuclear. De acordo com Dr. Tazima, para a realização dos exames, utiliza-se glicose marcada com o elemento radioativo flúor-18 (FDG-18F). “A substância administrada no paciente é utilizada no metabolismo de várias estruturas do corpo humano e também por alguns tumores malignos. Então, na presença de tumor ávido por FDG-18F, o exame mostra uma alteração com captação aumentada do mesmo. Os cortes tomográficos permitem a localização do tumor, sua extensão e resposta ao tratamento indicado pelo médico oncologista”, explica o médico, lembrando que, depois da capacitação das equipes biomédicas e de técnicos de enfermagem, a expectativa é que o PET-CT atenda até oito pacientes por dia. Marcelo Lacerda De acordo com o executivo, com a conquista da reacreditação da Joint Commission International (JCI), assim como a inauguração do novo prédio, o Hospital reitera suas condições e diferenciais para permanecer em posição de destaque entre as principais Instituições de Saúde do Brasil. Mas alerta que esta manutenção só será possível com o compromisso de todos que fazem parte da Instituição. “Tenho um profundo respeito pela competência do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Sinto-me honrado em participar e compartilhar conhecimentos e experiências com esse time vencedor. Nosso objetivo, daqui em diante, é fazer com que o Hospital seja cada vez mais competitivo e, para isso, será fundamental contar com o apoio de nossos médicos”, conclui. 4 Visão Médica PET-CT Edgard Silva Garbade edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 5 artérias coronarianas Em funcionamento desde outubro de 2012, o novo tomógrafo dedicado a estudos vasculares representa mais um acréscimo importante ao arsenal tecnológico do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. O aparelho – um tomógrafo helicoidal multislice de 128 detectores é conhecido mundialmente como um dos mais modernos equipamentos para exames cardiovasculares e, com grande velocidade de giro e deslocamento, permite a realização de exames completos em poucos segundos. De acordo com o médico, além do escore de cálcio coronariano, agora o Hospital pode realizar angiotomografias das artérias coronárias, um exame com contraste endovenoso, que permite avaliar com precisão diversos aspectos destas artérias, tais como perviedade, calibre, origem, trajeto, presença de placas ateromatosas e se estas placas determinam ou não estenose. Visão Médica serviço da assistência Resultado do trabalho conjunto realizado pelas equipes das áreas de Tecnologia da Informação (TI), Enfermagem e Farmácia, a iniciativa entrou na fase de testes em abril e até o mês de outubro deve estar em funcionamento em toda a estrutura do Hospital. Por meio do projeto e da implantação de um sistema de leitura de códigos de barras e de transmissão de dados, os profissionais poderão Dr. Andrei Skromov de Albuquerque realizar os lançamentos dos materiais e medicamentos a partir de um computador móvel que irá até a beira do leito do paciente. “No modelo atual, quando a Farmácia realiza a dispensação para os andares, a medicação segue vinculada ao paciente. A partir da implementação do projeto, aperfeiçoaremos esta prática, permitindo a confirmação dos medicamentos, por parte da equipe de Enfermagem, à beira do leito. Esta é, sem dúvida, uma evolução importante no modelo de alta qualidade de atendimento oferecido pelo Hospital e ampliará a segurança, tanto para nossos pacientes quanto para as equipes assistenciais”, explica Denis da Costa Rodrigues, Gerente de TI. Dicas do Tasy “Com as mudanças realizadas no SIGHA-Tasy, há alguma alteração relacionada à visualização dos prontuários?” Sim. Criamos uma opção de visualização mais prática e que, habilitada, permitirá aos médicos que atuam nas Unidades de Internação do Hospital o acesso direto ao Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), sem passar pela tela principal do Tasy. A angiotomografia das artérias coronárias é um estudo anatômico que, em associação com estudos funcionais como a cintilografia miocárdica, ou os testes de esforço, por exemplo, podem elevar consideravelmente a precisão na identificação de lesões coronarianas significativas. “Este tipo de exame oferece aos clínicos e cirurgiões mais uma boa opção na estratificação de risco de pacientes que irão se submeter a procedimentos médicos de maior complexidade”, finaliza Dr. Andrei. 6 Tecnologia e segurança a Um novo modelo de lançamento de materiais e medicamentos que favorecerá a rastreabilidade, ampliando a capacidade de verificação e o controle por parte das equipes de Enfermagem e Farmácia. Em síntese, estes serão os principais benefícios do projeto de Lançamento à Beira do Leito. “Hoje, além de quatro médicos radiologistas especialistas em exames cardiovasculares, uma equipe de Enfermagem altamente capacitada para a realização deste tipo de exame, protocolos otimizados para atingir a melhor qualidade diagnóstica utilizando as menores quantidades de contraste e radiação possíveis e do suporte que só um grande Hospital como este pode oferecer, contamos com este aparelho no estado da arte, que representa um grande salto tecnológico quando o assunto é exame cardiovascular”, explica Dr. Andrei Skromov de Albuquerque, Coordenador do Serviço de Imagem Cardiovascular do CDI. GIRO PELO HOSPITAL GIRO PELO HOSPITAL Hospital realiza novo exame das Se o acesso ao sistema não for motivado pelas informações do prontuário, basta fechar o PEP para retornar à tela principal do Tasy, como ocorria anteriormente. edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 7 Comitiva Chinesa Em fevereiro, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz recebeu uma comitiva chinesa interessada em conhecer os processos e o dia a dia de uma instituição privada de saúde no Brasil. O grupo, liderado por Yang Xinli, vice-prefeita da cidade de Hengshui, e pelo Secretário de Saúde, Hao Yanbin, era formado por representantes de hospitais públicos da cidade e procurava referências de excelência, principalmente nas áreas de UTI e atendimento de emergência. “Os visitantes ficaram muito impressionados com o nosso Hospital e fizeram muitos elogios. Acho que a disseminação e a transferência do conhecimento é algo fundamental e, se de alguma forma conseguirmos colaborar para a melhoria dos serviços de saúde em uma cidade com mais de 4,5 milhões de habitantes, já terá valido a pena”, explica Dr. Jefferson Fernandes, Superintendente de Educação e Ciências, que recebeu a delegação junto com Fátima Silvana Furtado Gerolin, Superintendente Assistencial. Dia a dia do médico/ QuaL É a sua opinião? GIRO PELO HOSPITAL Hospital recebe Dia a dia do médico Com o final do prazo para o envio da declaração do Imposto de Renda, no dia 30 de abril, recebi algumas dúvidas relacionadas à distribuição de dividendos. Então, para ser prático, vou direto ao ponto. Dentro do ano-calendário, a distribuição de lucros ou dividendos aos sócios, com base nos resultados apurados em escrituração contábil completa e tributados a partir do regime do lucro presumido, é considerada isenta para efeito de Imposto de Renda na fonte desde que, cumulativamente: que a sociedade tenha saldo de lucros acumulados em períodos anteriores. Então, basta que a Clínica ou Prestadora de Serviços não atenda a um destes requisitos para que a Receita Federal possa considerar o montante distribuído aos sócios, ou mesmo o excedente do saldo de lucros, como rendimento tributável com base na tabela progressiva vigente. b) o resultado apurado ou o saldo de lucros acumulados seja maior que o total distribuído aos sócios; Outro item relevante é a necessidade de se destacar o rendimento a título de pró-labore do rendimento oriundo do capital, ou seja, do resultado do período. Muitos colegas da área de contabilidade desconhecem a existência de uma cláusula no Regulamento da Previdência Social que impõe esta distinção aos rendimentos dos sócios. Então, vale ficar de olho. c) a data da distribuição seja posterior ao período de apuração de resultados. Assim, para que seja possível efetuar uma distribuição de lucros, é necessário Celso Hideo Fujisawa [email protected] (11) 3469-8788 / (11) 99975-1186 a) o procedimento esteja previsto em cláusula contratual da sociedade; Qual é a sua opinião? Caso relatado por Dr. Andrei Skromov de Albuquerque O Passado vivo Paciente masculino, 41 anos, sem comorbidades ou fatores de risco para doença arterial coronariana. Refere episódios de dor torácica do tipo anginosa relacionada à atividade física de grande intensidade. Realizou teste de esforço inconclusivo para isquemia miocárdica. Solicitado angiotomografia das artérias coronárias. Fotos antigas da estrutura do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, no mesmo terreno em que está localizado o atual complexo hospitalar no bairro do Paraíso, em São Paulo. 8 Visão Médica Resposta na pág. 27 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 9 ENTREVISTA ENTREVISTA D epois de cinco anos à frente da Superintendência de Sustentabilidade Social, Dr. Mauro Medeiros Borges aceitou o desafio de liderar a nova Superintendência Médica. Com atuação focada no gerenciamento contínuo de indicadores e protocolos para qualidade e segurança da assistência médica, a área contemplará também apoio ao desenvolvimento dos Centros de Especialidades e fortalecimento do relacionamento com o Corpo Clínico. Pela melhoria contínua Visão Médica – Qual será a principal atribuição da nova Superintendência Médica do Hospital? Dr. Mauro Medeiros Borges: O trabalho que agora será institucionalizado por meio da Superintendência Médica teve início com o esforço do Hospital em obter a acreditação da Joint Comission International (JCI), em 2009. Já naquele período, iniciamos uma atividade de revisão e aprimoramento dos protocolos que orientam a conduta da equipe médico-assistencial, desde a chegada do paciente. A partir de agora, realizaremos o gerenciamento destes protocolos, avaliando-os de acordo com um método de mensuração que segue os mesmos indicadores utilizados no acompanhamento das principais instituições de saúde do mundo. Este trabalho agregará valor e rastreabilidade aos nossos procedimentos e, ao mesmo tempo, evidenciará, por meio de auditorias e divulgação dos resultados, o nosso esforço e compromisso com a excelência. Visão Médica Visão Médica – Em sua opinião, qual será seu grande desafio como Superintendente Médico? Dr. Mauro Medeiros Borges: Acredito que avançar permanentemente, principalmente, quando atuamos em uma Instituição reconhecida pela excelência e que conta com um Corpo Clínico tão qualificado, será sempre o grande desafio. Com a participação de todos, tenho certeza de que teremos êxito nesta nova empreitada. Visão Médica - Além da atuação pautada na qualidade, que ações o senhor acredita que a Superintendência deve realizar ainda neste início de trabalho? Dr. Mauro Medeiros Borges: Além do gerenciamento de protocolos e da avaliação quanto à adesão das equipes, especialmente em Cardiologia, Neurologia e Infecção, temos como meta apoiar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos Centros de Especialidades, assim como aperfeiçoar ações com foco no médico e no paciente. Pensando em qualidade, por exemplo, queremos contratar, ainda neste primeiro semestre, médicos 100% dedicados às Unidades de Internação, dinamizando o atendimento e oferecendo assistência imediata aos pacientes. Em atuação sinérgica com a Diretoria Clínica, trabalharemos também para aprimorar constantemente o relacionamento com nossos médicos. A ideia é ampliar o acesso destes profissionais às agendas do Centro Cirúrgico e do Centro de Diagnóstico por Imagem, por exemplo, facilitando a organização do dia a dia e a utilização da estrutura do Hospital. Dr. Mauro Medeiros Borges 10 Visão Médica - A criação da Superintendência tem relação com a recertificação da JCI? Dr. Mauro Medeiros Borges: Podemos dizer que o trabalho vai além dos critérios e parâmetros de avaliação estabelecidos pela JCI. Apesar da importância da certificação, que atesta nossos avanços e a adequação do Hospital aos mais altos padrões mundiais de saúde, trata-se apenas de um instrumento. O que buscamos é a segurança e a qualidade, por isso, além deste intenso trabalho com relação ao monitoramento dos protocolos, buscaremos a certificação da JCI também para programas específicos, como os de AVC e de Infarto. Este avanço institucionalizará melhorias e padrões que precisarão ser mantidos na execução dos programas. Dr. Mauro Medeiros Borges edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 11 No dia 1º de março, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugurou suas primeiras turmas de Residência Médica nas áreas de Anestesiologia e Medicina Intensiva. Aprovados em 2012 pela Comissão Nacional de Residência Medica do Ministério da Educação, os programas realizaram um rigoroso processo seletivo em fevereiro 2013, do qual participaram mais de 50 candidatos. “Foi uma grande conquista. Depois de evidenciar o cumprimento de todas as solicitações realizadas, a iniciativa reforça o compromisso do Hospital com a capacitação e o aperfeiçoamento dos profissionais médicos”, explica Dr. Andrea Bottoni, Coordenador de Educação Médica do Instituto de Educação e Ciências do Hospital que presidiu a Comissão responsável para elaboração dos programas. Além de ampliar o número de atividades voltadas à capacitação e ao aperfeiçoamento médico, o Programa de Residência Médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz fortalece a tendência de instituições de saúde como centros de disseminação de conhecimento. O Hospital oferece ainda iniciativas como os Programas de Pós-Graduação e as Reuniões Científicas realizadas com a participação do Corpo Clínico. De acordo com o Coordenador, este conjunto de ações, colocado em prática em uma Instituição de excelência e que conta com um Corpo Clínico reconhecido, além de realizar inúmeras atividades de cooperação com instituições estrangeiras, desperta e justifica o interesse de estudantes de Medicina de outros países. Durante duas semanas, três universitários alemães acompanharam o funcionamento das áreas de Ortopedia, Medicina Intensiva e Anestesiologia. “A visita ocorreu em fevereiro, graças à cooperação estabelecida entre o Hospital e a Charité Universitätsmedizin Berlin, da Alemanha. Logo que retornaram ao seu país, entraram em contato conosco para nos cumprimentar pela qualidade técnica e pelo acolhimento com que foram recebidos, assim como para saber se poderiam indicar o Hospital para estudantes austríacos, também interessados em nosso trabalho”, conta Dr. Andrea. Conhecimento compartilhado Com uma visão plural e detalhada sobre a gestão universitária no Brasil, o livro ‘Gestão Universitária – Os Caminhos para a Excelência’, lançado em março pela Editora Penso, caminha para se tornar leitura obrigatória para gestores educacionais, professores universitários, coordenadores pedagógicos, estudantes de Pedagogia e de Administração de Empresas, assim como para profissionais de Marketing. Organizada por Sonia Simões Colombo, a obra aborda o andamento de instituições de educação superior, a partir de reflexões de especialistas, como o Dr. Andrea Bottoni, Coordenador de Educação Médica do Instituto de Educação e Ciências do Hospital. 12 Visão Médica 14 Mai/ • Janeiro edição edição 15 • Abr/ Jun • 2013 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Evolução e aperfeiçoamento Estudo demonstra benefícios do tratamento cirúrgico para doenças microvasculares decorrentes da diabetes Uma pesquisa inédita, realizada pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz por meio do Instituto de Educação e Ciências, pretende comprovar que o tratamento cirúrgico apresenta mais benefícios que os melhores tratamentos clínico para doenças microvasculares retinianas, renais e neuropatias decorrentes da diabetes tipo 2. Aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa e pela Comissão Científica da Unidade de Pesquisa em Saúde do IEC, a investigação terá início logo após conclusão do estudo que, também coordenado por Dr. Ricardo, comprovou o controle da diabetes tipo 2 em pacientes com obesidade leve e sobrepeso por meio da intervenção metabólica. Com conclusão prevista para 2015, o estudo recrutará 72 pacientes com histórico de diabetes há 15 anos ou menos, índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 kg/m2, sem obesidade mórbida e que apresentem sinais e sintomas iniciais das doenças referidas. “Já naquele estudo, os resultados apontaram que 88% dos pacientes tiveram a doença completamente revertida e 11% diminuíram o uso de medicamentos. Ou seja, estamos protagonizando uma etapa histórica no desenvolvimento da cirurgia gastrointestinal para o tratamento do diabetes”, conclui. “Vamos focar nesses tipos de complicações porque são os que registram as mais altas incidências entre diabéticos. Atualmente, as doenças retinianas em pessoas com diabetes ocupam o primeiro lugar na lista das principais causas de cegueira no mundo, assim como a doença renal diabética é a principal cauda de diálises. Além disso, podem progredir para lesões mais graves, comprometendo os grandes vasos, aumentando os eventos e a mortalidade cardiovasculares”, explica Dr. Ricardo Cohen, investigador principal da pesquisa. De acordo com o cirurgião, a técnica utilizada será o bypass gástrico em Y de Roux, procedimento em que se realizao grampeamento do estômago e o desvio do intestino inicial para alterar o trânsito de alimentos. A partir da cirurgia, a expectativa é de que os sinais e sintomas regridam parcial ou totalmente. “Se comprovada a hipótese, que está embasada em relatos da literatura médica, será possível vislumbrar uma mudança de política na saúde pública, já que o tratamento cirúrgico demonstrará ser mais econômico e eventualmente apresentar maior eficácia do que o clínico a longo prazo”, afirma Dr. Ricardo. edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Dr. Ricardo Cohen Visão Médica 13 angioedema hereditário: uma doença genética ainda pouco conhecida COMO EU TRATO EXAMES LABORATORIAIS Diagnóstico laboratorial do COMO EU TRATO: Rinossinusites agudas Dra. Eliana Rodrigues Biamino Dra. Eliana Rodrigues Biamino Assessoria médica: Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade Ainda hoje pouco conhecido na comunidade médica, o angioedema hereditário (AEH) é uma doença rara, frequentemente subdiagnosticada e confundida com outras condições, como reação adversa a drogas ou alergia alimentar. De herança autossômica dominante, é causado por uma mutação no gene do inibidor de C1 (C1-INH), o que leva a uma deficiência quantitativa ou funcional desta proteína. O C1-INH atua na regulação inibitória das vias de ativação do complemento, além de participar dos sistemas de contato, de coagulação e de fibrinólise e, portanto, sua baixa concentração favorece a ativação desordenada de todos esses sistemas. Atualmente se sabe que o principal mediador do AEH é a bradicinina, que se liga aos receptores das células endoteliais, levando à vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e edema. O AEH se caracteriza por episódios recorrentes de edema subcutâneo ou submucoso, não pruriginoso, que acometem, frequentemente, face, braços, pernas, mãos, pés e genitália, geralmente sem associação com urticária. Outro importante aspecto clínico da doença é o envolvimento do trato gastrointestinal, com dor abdominal intensa. O quadro mais grave do AEH ocorre quando há comprometimento de vias aéreas, incluindo a laringe. Nesses casos, o paciente pode apresentar alterações de voz, evoluindo com dispneia e estridor. Embora não se consiga determinar um fator desencadeante para a maioria das crises, sabe-se que trauma, estresse, menstruação, gravidez, infecções e medicamentos podem estar relacionados ao seu desenvolvimento. Devido à morbimortalidade do AEH associada, especialmente, à falta de diagnóstico, é importante que os médicos saibam reconhecer o quadro clínico e os exames laboratoriais que confirmam a doença. O diagnóstico do angioedema hereditário é feito, inicialmente, com a mensuração do componente C4 do complemento – que se encontra, geralmente, abaixo do normal – e com a determinação quantitativa e funcional do C1-INH. A deficiência quantitativa caracteriza o angioedema hereditário tipo I (mais comum), enquanto a funcional, o tipo II. Já o angioedema hereditário tipo III, mais raro, apresenta níveis e função normal de C1-INH, e pode estar associado ao uso de estrogênio ou a mutações no gene do Fator XII da coagulação. Em indivíduos mais velhos, um importante diagnóstico diferencial é o angioedema adquirido, frequentemente associado a doenças linfoproliferativas ou autoimunes. Os níveis de C1q auxiliam nesse diagnóstico, pois, se normais no angioedema hereditário, apresentam-se diminuídos no angioedema adquirido. Exames laboratoriais para diagnóstico e classificação do angioedema: Angioedema Hereditário C4 C1-INH C1q Tipo 1 Tipo 2 Diminuído Diminuído Níveis e atividade diminuídos Normal Níveis normais e atividade reduzida Normal Tipo 3 Angioedema Adquirido Normal Diminuído Normal Diminuído Normal Diminuído Referências: Hsu D, Shaker M. An update on hereditary angioedema. Curr. Opin. Pediatr. 2012 Oct; 24(5):638-46. doi: 10.1097/MOP.0b013e328357b25e. Valle SOR, França AT, Campos RA, Grumach AS. Angioedema hereditário. Rev. Bras. Alerg. Imunopatol. 2010; 33 (3): 80-7. Giavina-Bianchi P et al. Diretrizes do diagnóstico e tratamento do angioedema hereditário. Rev. Bras. Alerg. Imunopatol. 2010; 33 (6): 241-252. 14 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Introdução Rinossinusite aguda (RSA) é definida por processo inflamatório agudo das cavidades nasais e sinusais, com incidência e prevalência variáveis de acordo com a região. Os vírus de gripes e resfriados são os agentes etiológicos mais prevalentes das RSAs: predominam os rinovírus influenza e parainfluenza. Somente 0,5% a 2% dos casos evoluem para infecções bacterianas (RSABs), com predomínio do Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis. Bactérias anaeróbicas ocorrem na infecção sinusal secundária à doença odontogênica. A chance de RSAB se eleva nos pacientes internados em UTI, vítimas de queimadura, em uso de sonda nasoenteral ou entubação nasotraqueal prolongada. Nesse grupo, a doença pode se manifestar como febre de origem indeterminada, e predominam Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter species, Proteus mirabilis, Serratia marcescens e S. aureus. As RSAs progridem nos pacientes imunodeprimidos ou com diabetes não controlado, com risco de infecção fúngica invasiva por Mucor, Rhizopus, Aspergillus, Absidia e Basidiobolus. O principal desafio é diferenciar as rinossinusites agudas virais das bacterianas. Em geral, as virais regridem em 7 a 10 dias, sem necessidade de tratamento. Por sua vez, as bacterianas também são autolimitadas e 75% dos casos se resolvem em um mês. Antibióticos são indicados nas RSABs com evolução desfavorável, sendo ineficazes e não recomendados nas RSAs virais. Fisiopatologia A homeostase nasosinusal depende da patência do complexo ostiomeatal, do batimento ciliar e da qualidade do muco nasal. A alteração destes fatores resulta em inflamação com aumento da permeabilidade vascular, hipersecreção nasossinusal, diminuição do edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 clearence ciliar, edema da mucosa e obstrução dos óstios, perpetuando o quadro. A infecção viral se inicia com inoculação na mucosa nasal e replicação viral observada em 8 a 10 horas, seguida pela disseminação direta ou sistêmica aos seios da face. Os sintomas surgem após 24 horas. A RSAB ocorre pela infecção bacteriana secundária na cavidade sinusal inflamada, em geral como complicação de infecções virais, descompensação alérgica, obstrução mecânica do nariz, infecção odontogênica, natação, uso nasal de cocaína e diminuição da função ciliar. Quadro clínico e diagnóstico Os sintomas das RSA incluem congestão e obstrução nasal, secreção nasal purulenta, dor e pressão na face e dentes, especialmente unilaterais, associados a febre, fadiga, tosse, hiposmia, cefaleia, ouvido tampado e halitose. Pacientes com febre alta, dor facial aguda, abaulamento e eritema devem receber tratamento para rinossinusite aguda e ser avaliados por imagem. Os achados de diplopia e cegueira, edema periorbitário e confusão mental indicam possíveis complicações extrassinusais das RSABs. O exame revela edema difuso das mucosas, estreitamento do meato médio, hipertrofia de cornetos e rinorreia purulenta. Pólipos e desvio septal demonstram fatores de risco no desenvolvimento da RSAB. A escolha do antibiótico nas RSABs se baseia nos patógenos habituais e suscetibilidade do indivíduo. A cultura de secreções do meato médio, realizada pelo otorrinolaringologista com uso do endoscópio, é indicada em pacientes sem resposta adequada ao tratamento inicial, ou na suspeita de complicações. Também é útil em pacientes imunocomprometidos, na mucoviscidose ou fibrose cística e após recente hospitalização. Em geral, o estudo por imagem não é obrigatório na avaliação inicial de RSA: o nível líquido pode ocorrer tanto nas RSABs como nas RSAVs. No entanto, a to- Visão Médica 15 Tratamento Nas RSA virais e bacterianas não complicadas, o tratamento consiste em analgésicos, descongestionantes tópicos e sistêmicos de curta duração, irrigação com solução salina e corticosteroides intranasais. REFERÊNCIAS 1. Meltzer EO, Hamilos DL, Hadley JA, ET al. Rhinosinusitis: Establishing definitions for clinical research and patient care. Otolaringol Head Neck Surg 2004; 131: S1. 2. Rosenfeld RM, Andes D, Bhattacharyya N, et al. Clinical practice guideline: adult sinusitis. Otolaryngol Head Neck surg 2007; 137:S1. 3. Young J, De Sutter A, Merenstein D, et al. Antibiotics for adults with clinically diagnosed acute rhinosinusitis: a metaanalysis of individual patient data. Lancet 2008; 371:908. Nos casos de RSAB com sintomas moderados a severos ou piora durante o tratamento inicial, indica-se antibióticos: amoxacilina é a primeira opção. As alternativas são macrolídeos e trimethoprim-sulfamethoxazole. A terapia combinada de amoxacilina-clavulanato, cefuroxima ou quinolonas são opções nas situações de resistência antimicrobiana. As RSAFIs requerem cirurgia para debridamento aliada à terapia antifúngica. A mortalidade alcança mais de 50% dos casos. Dra. Janice C. Nazareth Bioética em debate Por Dra. Janice C. Nazareth preocupação com o próximo está na essência da Medicina. Os medicamentos evoluíram, as técnicas se aprimoraram, paradigmas desabaram. No entanto, os atos de observar, amparar e cuidar permanecem firmes, como molas-mestras na terapêutica, facilitando a atuação da tecnologia ou tendo papéis preponderantes. A Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Sugeriu o resgate da missão de ajudar o próximo como principal premissa na escolha da Medicina. Também salientou a importância da força e otimismo dos profissionais, que incentivam e reforçam a crença nas possibilidades terapêuticas, mesmo que remotas, se elas de fato existirem. A Comissão de Bioética (CoBi) e a Diretoria Clínica organizaram debate sobre o filme “Um Golpe do Destino” (The Doctor – EUA, 1991). Dirigido por R. Haines, narra a história real do Dr. E. Rosenbaum, através de Jack (William Hurt), que, portador de câncer e agora paciente, percebe as dificuldades de lidar com suas angústias e a frieza da equipe de saúde no hospital em que trabalha há anos. Dra. Ingrid Esslinger (Doutora em Psicologia e integrante da CoBi do Hospital) defendeu o cultivo do “olhar e escutar”, que permite melhor identificação da dor total do paciente, assim como a adequada compreensão daquele sobre o que o profissional diz. É preciso oferecer ao profissional da saúde recursos para sua melhor atuação, como apoio psicológico, social e orientação em casos conflituosos, como os que fornece a CoBi, para que mantenham equilíbrio e atitudes adequadas. Os presentes manifestaram sua surpresa em participar de sessão tão consistente, apesar de eventos similares, organizados pela CoBi, ocorrerem, no mínimo, a cada quatro meses, no auditório do Hospital. Houve unanimidade quanto à dificuldade e necessidade de se cultivarem características humanísticas no médico. O corticosteroide tópico diminui o edema da mucosa nasal, porém sua eficácia se reduz nas RSA com secreção espessa ou bloqueio ostiomeatal. Irrigações nasais com soluções salinas favorecem a limpeza das secreções. Dr. Jorge Sabaga (oncologista, atuante no Hospital Alemão Oswaldo Cruz em outros centros de Oncologia) destacou a transformação ocorrida com o personagem: portador de enorme capacidade técnica, regada de impessoalidade e frieza, não só na sua postura como médico, ele descobre a importância das atenções e delicadezas dos profissionais envolvidos no seu tratamento, ao perceber ser visto como um número pela maioria deles. Passa, então, a valorizar pequenas atitudes, antes consideradas piegas ou ridículas, que fazem toda a diferença para o bem-estar de um ser humano, enquanto objeto de cuidado. Também sublinhou a observação do respeito ao paciente, mesmo quando em estado confusional e coma, natural ou induzido, cuja percepção real do ambiente nunca pode ser estabelecida. Os corticoides sistêmicos têm efeitos colaterais como hiperglicemia, hipertensão, insônia, alteração de humor e de apetite. Além disso, não há ensaio clínico controlado relacionado ao seu uso na RSA, o que restringe sua indicação nos casos de complicações extrassinusais, em pacientes de UTI ou falhas no tratamento inicial, devendo ser evitados nos pacientes imunocomprometidos que requerem cultura guiada por endoscópio, cirurgia e ampliação do espectro de tratamento antimicrobiano. COMISSÃO DE BIOÉTICA COMO EU TRATO mografia computadorizada sem contraste é o exame de escolha no diagnóstico diferencial de dores atípicas faciais, em processos alérgicos, em sintomas que indiquem complicações das RSABs, em sinusites recorrentes ou resistentes a tratamentos habituais. Nas rinossinusites agudas fúngicas invasivas (RSAFIs), o diagnóstico é realizado com exame endoscópico e biópsia. À histopatologia observa-se invasão intravascular dos fungos. Próximos eventos da CoBi: • Simpósio de Bioética Hospitalar HAOC/CREMESP: “Transtornos mentais nos profissionais de saúde” – palestras/debates sobre prevenção e atuação precoce em dependências químicas, transtornos do humor e transtornos de ansiedade e estresse (29/6/13, 8h30 - 13h30). Consultoria permanente da CoBi: solicitar à Diretoria Clínica ou qualquer um de seus membros. Dr. Içami Tiba (psiquiatra, autor de vários livros), que esteve internado por longos períodos no nosso e outros hospitais, teceu paralelos entre sua percepção como paciente, o comportamento dos profissionais de saúde e o calor humano e diálogo adequados no 16 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 17 CAPA CAPA Qualidade e Segurança Reacreditação da Joint Commission International (JCI) reconhece o empenho e o trabalho pela melhoria contínua Ao conquistar a reacreditação da Joint Commission International (JCI), em dezembro de 2012, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz iniciou uma nova etapa em seu trabalho de aprimoramento. Mesmo em conformidade com a maioria dos mais de 1.200 itens avaliados, a Instituição segue com a meta de evoluir em todos os aspectos, priorizando a preocupação com a excelência de seus serviços. De acordo com Cleusa Ramos Enck, Superintendente de Desenvolvimento Humano e Institucional, o trabalho colocado em curso logo após a obtenção da certificação possui objetivos que vão além das rigorosas exigências para a manutenção da reacreditação, prevista para em 2015. “A avaliação nos serve como um instrumento estratégico para mapear pontos de melhoria. Os avaliadores elogiaram nosso Corpo Clínico, assim como nossos colaboradores, e classificaram positivamente elementos como nosso mapa de risco por área, envolvimento, rápida capacidade de resposta, cuidados baseados nos princípios do modelo assistencial Relationship Based Care (RBC) e, claro, o acolhimento aos pacientes. Ainda assim, enfatizaram que o trabalho precisa ser constante”, explica Cleusa, lembrando que, a partir de agora, podem acontecer visitas não agendadas com a finalidade de testar e validar os padrões do Hospital. 18 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 19 CAPA CAPA Participação de todos Para Daniella Romano, Supervisora de Desenvolvimento Institucional, os conceitos de melhoria contínua já foram assimilados à cultura do Hospital e, por isso, o trabalho prossegue de forma intensa. “Já estamos atuando na elaboração de um plano estratégico, consolidado a partir dos achados apontados no relatório da JCI. Além disso, mesmo com os grandes investimentos realizados no ano passado, temos desafios constantes relacionados à manutenção da qualidade e segurança, que além de levados à diante, precisam ser devidamente evidenciados e documentados”, explica. E para Daniella, o Corpo Clínico do Hospital contribuiu de maneira fundamental para os resultados alcançados. “Nossos médicos são atores essenciais no processo de cuidar. A partir de protocolos transparentes, bem estabelecidos, profissionais e Instituição atestam o compromisso com um atendimento padronizado e sem erros”, explica a Supervisora. Ela lembra que “nosso trabalho tem atenção especial dedicada aos pacientes, mas sem dúvida, abrange também os médicos, que precisam ter plenas condições para atender e promover a saúde de acordo com os padrões internacionais de qualidade exigidos para a certificação”. Fortalecimento Organização não governamental norte-americana, a JCI é a principal agência de acreditação em Saúde dos Estados Unidos e, hoje, atua em mais de 40 países. Na avaliação de Cleusa, obter e manter a certificação de uma entidade desse porte representa mais que a profissionalização e a sistematização de processos institucionais. “Nossa primeira acreditação pela JCI ocorreu em agosto de 2009 e, uma vez inseridos neste processo de aperfeiçoamento, estabelecemos rotinas de trabalho que priorizam o atendimento às exigências estabelecidas por esta Comissão Internacional. Estamos caminhando para o quarto ano desde a primeira certificação e posso dizer que nossa evolução evidencia isso”, enfatiza. Para a Superintendente, desde o início, as transformações realizadas a partir da adoção do conceito de melhoria contínua agregaram valor ao trabalho realizado e trouxeram benefícios a colaboradores, médicos, pacientes e familiares. “Acredito que, entre os inúmeros avanços, podemos destacar o preenchimento de formulário de notificação de eventos adversos e quase falhas, que permite trabalhar melhorias em cima desses fatos; a implantação de cinco protocolos clínicos (acidente vascular cerebral, dor torácica, sepse, síndrome coronariana aguda e tromboembolismo venoso), que terão indicadores geridos e monitorados pela nova Superintendência Médica do Hospital; o aumento dos treinamentos institucionais; e a adoção de apresentações mais práticas das rotinas. Todos estes itens são resultado de um trabalho competente, realizado em equipe e que é voltado ao desenvolvimento de nosso Hospital, mas principalmente ao bem-estar de nossos pacientes.” 20 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Unidade Ambulatorial de Sustentabilidade Social Excelência Compartilhada Em um processo totalmente independente do que certificou o Hospital, a Unidade Ambulatorial de Sustentabilidade Social, situada no Bairro da Mooca, também foi acreditada pela Joint Comission International (JCI). “Nossa Unidade de Sustentabilidade Social é a primeira, dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) a receber este reconhecimento. Os indicadores mostraram 98,3% de conformidade e apenas 14 achados entre os mais de 500 itens avaliados”, comemora Cleusa. Para Izolda Machado Ribeiro, Gerente de Sustentabilidade Social, depois de um processo que teve início no segundo semestre de 2010, “a acreditação atesta um serviço de excelência oferecido aos pacientes encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde e que aqui encontram ambiente seguro e atendimento com a mesma qualidade e acolhimento encontrados no Hospital”. edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 21 LIVRARIA TEMPO LIVRE Nas ondas do Dr. Elie Uma paixão passada de filho para pai. Assim começou a relação do Dr. Elie Fiss, Coordenador Médico da Unidade de Pesquisa em Saúde do Instituto de Educação e Ciências, com o surfe. “Há pouco mais de dois anos, meu filho Victor, decidiu que aprenderia a surfar. Depois de acompanhar algumas aulas e de ver a persistência com que ele ia e voltava, às vezes em pé, às vezes não, decidi me arriscar para saber se conseguiria”, explica. sultório. “A lista de atividades é extensa, mas acho que, quando você equaciona bem o seu tempo, é possível fazer tudo. Hoje, me dedico à corrida, à musculação, ao tênis e, quase todos os finais de semana, ao surfe. Isso sem deixar de cumprir as muitas atribuições profissionais com a dedicação necessária. Defendo que, quando você se programa é possível cuidar do trabalho sem, com isso, negligenciar outros aspectos da vida.” Mesmo com uma relação muito estreita e longeva com esportes como o futebol, tênis e a corrida de rua, Dr. Elie viu nas ondas um desafio interessante e começou a ter aulas também. “Frequento o litoral Paulista há décadas e nunca imaginei que um dia me tornaria um surfista. Hoje tenho uma prancha para chamar de minha e, acompanhado ou não pelo meu filho, sou mais um entre aqueles que olham fixamente para o mar, avaliando as ondas para saber se estão num tamanho legal”, afirma. E a relação surfe e trabalho não ficou apenas no acréscimo de bem-estar ao dia a dia. “Conversando com meu instrutor, que na época fazia um trabalho relacionado a doenças respiratórias para sua Pós-Graduação, realizei uma pesquisa e verifiquei que não havia nenhum trabalho relacionado à reabilitação pulmonar utilizando este esporte como ferramenta. Apresentei a ideia à minha equipe de trabalho na Faculdade e, em pouco tempo, levamos mais de 30 pessoas com enfisema pulmonar de moderada a grave para a praia, onde praticamos atividades de surfe. Os resultados obtidos foram muito positivos nos aspectos médicos e de qualidade de vida e, mesmo que não fossem, só os sorrisos daqueles pacientes já valeriam a pena”, explica. E mesmo com um tempo relativamente curto no esporte, Dr. Elie pode se orgulhar de uma de suas proezas, afinal, em 2011, realizou aquele que, para muitos surfistas, é o sonho de uma vida. “Coincidentemente, fui convidado a participar de um congresso no Havaí na época em que estava aprendendo a surfar. Não podia perder a oportunidade, então, logo que pude, fui para uma praia famosa e, com o apoio de um professor local, peguei ondas em um dos principais paraísos do surfe do mundo”, recorda. Aos 56 anos de idade e com muita disposição, o médico concilia uma rotina quase diária de atividades físicas às exigências de suas funções no Hospital, na Faculdade de Medicina do ABC, onde é professor titular de Pneumologia, e em seu con- 22 Visão Médica Hoje, com um pouco mais de experiência sobre a prancha, a companhia da esposa Nina, que começou a praticar stand up surfe, e da filha Julia que também surfa quando o cursinho deixa, Dr. Elie já planeja suas próximas manobras. “Saber que é possível agregar uma atividade à outra é algo que me deixa muito feliz, mas ainda assim pretendo realizar uma viagem exclusivamente para surfar. Talvez conhecer outro paraíso do surfe ou, quem sabe, voltar ao Havaí e me sair um pouco melhor do que a primeira vez”, diverte-se. edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Coragem e criatividade na cirurgia cardíaca A partir desta edição da revista Visão Médica, teremos sugestões variadas de leituras que certamente serão do interesse de médicos de todas as especialidades. A ideia não é oferecer dicas de conteúdo técnico, mas de obras saborosas, que traçam, em palavras, a história da Medicina, com seus avanços, percalços e curiosidades. A seção traz recomendações do Dr. Stefan Cunha Ujvari, infectologista do Hospital e autor de “Pandemias” e “A História da Humanidade Contada pelos Vírus”. Estreando a Livraria Visão Médica, a obra “Cada segundo conta: a corrida pelo primeiro transplante de coração”, de Donald McRae. Em março de 1954, o cirurgião americano Clarence W. Lillehei abre o tórax e expõe o coração do pequeno Gregory Glidden, com 13 meses de vida. Lillehei grampeou as veias que chegavam ao coração da criança que, agora seco, não ejetava sangue à aorta. A estratégia para manter a criança viva? A virilha dissecada do pai do garoto, anestesiado na maca ao lado, cedia a artéria inguinal de grosso calibre. Uma mangueira emprestada da indústria de cerveja foi introduzida na artéria paterna, e a outra extremidade colocada na artéria aorta da criança. O sangue arterial do pai fluía à aorta do filho. Outra mangueira introduzida nas veias que chegavam ao coração do menino desviava o retorno sanguíneo à veia da virilha paterna. Uma bomba mecânica empregada na indústria de laticínios abraçava a tubulação e comandava o fluxo. O corpo do pai cumpriu o papel das atuais máquinas de circulação extracorpórea. Assim, Lillehei invadiu a cavidade cardíaca seca da criança para suturar o orifício malformado no septo ventricular. O método só foi possível pelo baixo peso da criança, que necessitava uma pequena parcela emprestada do sangue paterno: Gregory tinha sete quilos. Após dezenove minutos de cirurgia dentro do coração, Dr. Clarence fechou a cavidade cardíaca e desconectou o sistema. edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Essa é uma das histórias relatadas pelo escritor Donald McRae no seu livro “Cada segundo conta: a corrida pelo primeiro transplante de coração”, Editora Record, 2009. O livro descreve a história da cirurgia cardíaca desde as primeiras ousadas experiências de invasão à cavidade cardíaca até o impensável transplante cardíaco. O avanço desse ramo da ciência médica ocorreu à custa da coragem, da criatividade e da ousadia médica do século passado. Essas curiosidades históricas recheiam o fio condutor do livro: a corrida dos grandes centros médicos na busca dos holofotes pelo primeiro transplante cardíaco. Cada segundo conta: a corrida pelo primeiro transplante de coração Donald McRae 1ª edição Editora Record – 2009, Rio de Janeiro 420 p. R$ 57,90 Visão Médica 23 REVISÃO SISTEMÁTICA E METANALISE PERSONAGEM HAOC Novos tratamentos antiplaquetários nas Síndromes Já dizia o Dr. Negrini... Coronarianas Agudas Uma figura lembrada por muitos de seus alunos, tanto por suas inúmeras contribuições para o fortalecimento da Urologia brasileira, quanto por suas características marcantes e por suas histórias pitorescas. Assim era o Dr. Benedito Negrini. Por Dr. Ricardo C. Moraes Médico Cardiologista Internista do Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Nascido em 28 de dezembro de 1908, no seio de uma das muitas colônias italianas estabelecidas na região de Araraquara, o jovem Negrini foi mandado para São Paulo logo que concluiu o primário e, na capital, ficou interno no Colégio Arquidiocesano. Aos 19 anos, decidido pela Medicina, Benedito seguiu para o Rio de Janeiro e, mesmo tomado de assalto pela beleza e a diversão abundante da cidade maravilhosa, dedicou-se aos estudos e ao trabalho com afinco. Antes de concluir a graduação na Faculdade Nacional de Medicina, em 1933, atuou como assistente do Professor Miguel Couto, um dos nomes citados pelo médico como inspiração. Retornou a Araraquara e, depois de alguns anos, seguiu para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Lá, um dia, lhe foi mandado um paciente, também de Araraquara, com tuberculose renal. Ao buscar apoio do Dr. Martins Costa, contemporâneo na Faculdade Nacional e que, já na capital paulista, tornara-se Livre-Docente em Urologia, Dr. Benedito decidiu rendeu-se à área e, poucos anos depois, ajudou a fundar a cadeira de Urologia na Santa Casa. De acordo com o urologista Ricardo Miguel Calado, que por 20 anos foi assistente do médico, muito do que foi realizado pelo Dr. Negrini tinha laços fortes com o trabalho desenvolvido por ele com o Professor Dr. Martins Costa, um dos profissionais por quem tinha revelada admiração e com quem atuou por mais de 18 anos, tanto no Hospital das Clínicas quanto em seu consultório particular. “Com ele, assim como com profissionais de renome como os médicos Darcy Vilella Itiberê, Athayde Pereira e Rodolpho de Freitas, Dr. Negrini também foi um dos fundadores do Departamento de Urologia da Associação Paulista de Medicina, que funcionava como um ponto de encontro científico e um centro de atenções voltadas aos debates urológicos”, explica. 24 Visão Médica Antiplaquetários são agentes diversos que inibem funções plaquetárias, como adesividade e agregação, inibem a secreção das plaquetas, reduzem agregados plaquetários circulantes e inibem a formação do trombo, induzido predominantemente por plaquetas. Dr. Benedito Negrini Integrante do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz de 1942 a 1993, o médico montou equipes de que sempre se orgulhou e, nelas, deixou marcas significativas tanto pelos ensinamentos quanto pela personalidade forte e as anedotas que adorava contar. De acordo com Dr. Calado, além dos inúmeros causos da infância em Araraquara, quanto da juventude em São Paulo e no Rio de Janeiro, as mais populares eram as que envolviam o seu time de coração, o Palmeiras e, claro, as da esposa Arline. Em entrevista ao Jornal de Informações Urológicas (JIU), editado pela Seccional São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia, em 1989, Dr. Negrini revelou: “Eu já tinha consultório, automóvel, estabilidade na profissão e já estava cansado de ser solteiro, além de já estar me considerando um pouco velho para casar. Foi quando, em novembro de 1945, apareceu uma moça para ser operada de rim. Quando a vi na sala de espera falei pro Martins Costa: vou casar com essa moça – ‘Você é louco? Ela é noiva de um engenheiro’ – Não se incomode, retruquei. A moça foi para a sala de cirurgia e eu fiz a anestesia. Ela virou-se de lado para mim e disse ‘Não vá me anestesiar para toda a vida...’ Até hoje Arline está anestesiada por mim”. 14 Mai/ • Janeiro edição edição 15 • Abr/ Jun • 2013 Aspirina (AAS) O AAS deve ser administrado a todos os pacientes com Síndrome Coronariana Aguda (SCA) com e sem supradesnivelamento do segmento ST (SCA SSST) na dose de 162 a 325 mg, mastigado e deglutido, no momento do diagnóstico. A dose mostrou rápido efeito antitrombótico pela imediata e quase completa inibição da produção de tromboxano A2. Como manutenção, 75 a 100 mg diários indefinidamente são tão eficazes quanto doses mais altas e acarretam menos riscos de intolerância gastrintestinal. O estudo CURRENT OASIS-7 não mostrou diferenças no desfecho primário de morte cardiovascular (CV), infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular encefálico (AVC) em 30 dias com pacientes que receberam doses mais altas de AAS (300 a 325 mg) em relação a doses mais baixas (75 a 100 mg), e observou-se elevada taxa de sangramentos menores e gastrintestinais com doses mais altas de AAS. Assim, e conforme a última diretriz da AHA/ACC/ SCAI, a dose de manutenção de aspirina para todos os pacientes, incluindo os submetidos a implante de stents, é de 75 a 100 mg. Clopidogrel O estudo CURE avaliou a eficácia do clopidogrel – mais de 12.000 pacientes nas primeiras 24 horas com SCA SSST – que receberam AAS isolado (75 a 325 mg) ou em associação com clopidogrel (dose de ataque de 300 mg e 75 mg de manutenção). Ao edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 final de 9 a 12 meses, o clopidogrel em associação com AAS promoveu redução do risco relativo (RRR) em até 20% do desfecho primário composto de morte CV, IAM e AVE, principalmente pelas baixas taxas de IAM e com benefícios tanto para pacientes tratados clinicamente quanto para os que foram para revascularização cirúrgica ou percutânea. A terapia combinada com clopidogrel foi associada a baixas taxas de isquemia refratária e desenvolvimento de insuficiência cardíaca intra-hospitalar, mas com relativo aumento do risco significativo de até 38% nas taxas de sangramento maior. Não houve aumento significativo nas taxas de AVC hemorrágico ou de sangramento com risco de morte, mas sim nas taxas de sangramento maior, menor e gastrintestinal. Ao analisar todos pacientes do estudo, os benefícios do clopidogrel na redução de eventos isquêmicos superam os riscos de sangramento. Após a fase aguda, as diretrizes recomendam manter o clopidogrel por pelo menos 12 meses, com a implantação ou não de stents convencionais ou farmacológicos. Alguns autores utilizam estudos PCI-CURE, CURE e CREDO para recomendar o clopidogrel por mais de um ano em alguns cenários clínicos, como pacientes de mais alto risco (IAM prévio, doença vascular periférica, evento cerebrovascular, ICP com stent farmacológico em tronco de coronária esquerda), porém as evidências são insuficientes para essa recomendação, além de o estudo CHARISMA não ter mostrado benefício no desfecho primário em pacientes que utilizaram o clopidogrel por mais de um ano. Prasugrel Considerado um tienopiridínico de 3ª geração, esse inibidor do receptor P2Y12 é também uma pró-droga, necessitando de metabolização hepática para produção da substância ativa que inibe a agregação Visão Médica 25 REVISÃO SISTEMÁTICA E METANALISE REVISÃO SISTEMÁTICA E METANALISE plaquetária de maneira irreversível. Apresenta início de ação mais rápido, alto grau de inibição plaquetária e supressão da atividade plaquetária em maior número de pacientes em relação ao clopidogrel. Seus efeitos antiplaquetários não são afetados de maneira significativa pelos inibidores do citocromo P450, como omeprazol, e não há perda de função de acordo com a variabilidade genética, assim como com o clopidogrel. No estudo TRITON TIMI-3830, incluíram-se pacientes com SCA com e sem supradesnivelamento do segmento ST de moderado a alto risco, randomizados para prasugrel (60 mg de ataque e 10 mg/dia de manutenção) e clopidogrel (300 mg de ataque e 75 mg de manutenção), além do AAS e de outras medicações a critério do investigador. A duração média de tratamento foi de 14,5 meses. O desfecho primário composto de eficácia (morte CV, IAM não fatal e AVE não fatal) teve 19% menos de RRR em pacientes do grupo prasugrel, principalmente devido a baixas taxas de IAM não fatal, tanto em pacientes tratados conservadoramente quanto por via percutânea com implante de stent, resultando em número necessário para tratamento (NNT) do prasugrel de 46 pacientes. A taxa de trombose de stent (convencionais e farmacológicos), tanto definitiva quanto provável, foi 52% mais baixa com prasugrel. Entretanto, a redução de eventos isquêmicos acarretou também elevada taxa de sangramento. Não houve diferença significativa entre os grupos em relação à mortalidade. prasugrel, o ticagrelor tem início de ação mais rápido que o clopidogrel (30 minutos, ao contrário de duas a quatro horas), uma vantagem para os pacientes agudos que serão submetidos a ICP precoce. O estudo PLATO incluiu mais de 18.000 pacientes com SCA com moderado a alto risco (60% com SCA SSST) para AAS (dose de ataque habitual de 325 mg), com ticagrelor (dose de ataque de 180 mg seguida por manutenção de 90 mg 2x/dia) ou com clopidogrel (dose de ataque de 300 a 600 mg seguida por manutenção de 75 mg/dia). A duração do tratamento variou de 6 a 12 meses. Houve redução relativa de 16% no desfecho primário composto de morte cardiovascular, IAM e AVE aos 12 meses a favor do ticagrelor, resultando em NNT de 54 com redução de 21% nas taxas de morte cardiovascular e 16% nas de IAM, não havendo diferenças nas taxas de AVE. Houve redução nas taxas de morte por qualquer causa com o uso do ticagrelor, com NNT de 71,4. Pacientes tratados com stent (farmacológico ou convencional) tiveram redução nas taxas de trombose. Para pacientes com necessidade de RM, a droga se mostrou segura, sem aumentos nas taxas de sangramento maior e com redução nas taxas de mortalidade precoce e tardia. Recomenda-se a suspensão da droga pelo menos cinco dias antes da RM para reduzir a taxa de sangramento. Em relação ao AVE hemorrágico, houve alta incidência com ticagrelor, sem significância estatística. Como recomendação das diretrizes do AHA/ACC a droga não deve ser administrada em pacientes com SCA SSST que são tratados com estratégia conservadora, já que a mesma não foi testada no estudo TRITON e encontra-se em avaliação em outro estudo clínico. 26 Visão Médica 1. Wright RS, Anderson JL, Adams CD, et al. 2011 ACCF/AHA Focused Update of the Guidelines for the Management of Patients With Unstable Angina/Non-ST-Elevation Myocardial Infarction (Updating the 2007 Guideline): a reorpt of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2011; 123(18):2022-60. 2. Current OASIS 7 Investigators, Metha SR, Bassand JP, Chrolavicius S, et al. Dose comparisons of clopidogrel and aspirin in acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2010;363(10):930-42. 3. Budaj A, Yusuf S, Metha SR, et al. Clopidogrel in Unstable angina to Prevent Recurrent ischemic Events (CURE) Trial. Benefit of Clopidogrel in patients with acute coronary syndromes without ST-segment elevation in various risk groups. Circulation. 2004; 110 (10):1202-8. 4. Steinhubl SR, Berger PB, Mann JT 3rd, Fry ET, DeLago A, Wilmer C, Topol EJ; CREDO Investigators. Clopidogrel for the Reduction of Events During Observation. Early and sustained dual oral antiplatelet therapy following percutaneous coronary intervention: a randomized controlled trial. JAMA. 2002; 288(19): 2411-20 5. Wiviott S, Braunwald E, McCabe C, et al. TRITON-TIMI 38 Investigators. Prasugrel versus clopidogrel in patients with acute coronary syndromes. N Engl J Med. 2007; 357:2001-15. 6. James S, Budaj A, Aylward P, et al. Ticagrelor versus clopidogrel in acute coronary syndromes in relation to renal function: results from the Platelet Inhibition and Patient Outcomes (PLATO) trial. Circulation. 2010; 122(11):1056-67 Resposta: Qual é a sua opinião? Cangrelor Potente inibidor do receptor P2Y12 plaquetário de utilização endovenosa que não mostrou superioridade ao clopidogrel no estudo CHAMPION PCI e CHAMPION PLATFORM, não sendo aprovado para uso clínico. Ticagrelor Inibidor do receptor P2Y12 que, ao contrário do clopidogrel e prasugrel, não é pró-droga e liga-se de modo reversível com as plaquetas, pertencendo a uma nova classe de antiplaquetários. Assim como o Referências Bibliográficas: A angiotomografia das artérias coronárias mostra ausência de calcificações ou de outros sinais de ateromatose coronariana (escore de cálcio igual à zero). No entanto, é possível detectar origem anômala da artéria coronária direita (CD), que se faz no seio coronariano esquerdo, próximo a origem do tronco da artéria coronária esquerda. Perfaz trajeto entre a aorta (Ao) e o tronco da artéria pulmonar (AP), para então assumir seu curso habitual. Em seu segmento inicial, observa-se que o vaso sofre compressão extrínseca do AP contra a Ao, o que determina redução luminal acentuada, presumivelmente a causa da dor torácica referida pelo paciente. A angiotomografia das artérias coronárias atualmente é reconhecida como o método de referência na pesquisa e estadiamento das anomalias das artérias coronárias, pois além de excelente capacidade para avaliá-las, permite também a verificação de todas as demais estruturas mediastinais e as relações entre elas, fornecendo informações úteis para o estabelecimento do prognóstico, assim como para orientar a decisão terapêutica. Dr. Ricardo C. Moraes edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 27 apêndice cecal. O que realmente importa para o prognóstico Por Dr. Ryan Yukimatsu Tanigawa e Dr. Venancio A. F. Alves Comentário sobre o artigo Tumor staging but not grading is associated with adverse clinical outcome in neuroendocrine tumors of the appendix. Volante et al. American Journal of Surgical Pathology 2013; 37(4): 606-612. Embora tumores neuroendócrinos (TNE) do apêndice cecal sejam raros, correspondem ao grupo de neoplasias mais frequentes nesta topografia. Geralmente são achados incidentais localizados no corpo ou na ponta. O prognóstico é bom quando a doença é localizada ou há apenas disseminação regional, com taxas de sobrevida maiores que 80-90% em 5 anos. Por outro lado, recorrências locais e metástases são difíceis de prever ao diagnóstico. O tamanho do tumor é o maior preditor de comportamento, tendo os menores que 1 cm boa evolução clínica, enquanto os maiores que 2 cm estão associados a mortalidade de 29% em 5 anos. Graduação e estadiamento de tumores são parâmetros distintos: graduação é uma análise semiquantitativa de quão anormais são as células tumorais ao exame microscópico; estadiamento se refere à extensão de disseminação da neoplasia, levando em conta tamanho, número de lesões e metástases linfonodais ou em órgãos distantes. ARTIGO INTERNACIONAL COMENTADO ARTIGO INTERNACIONAL COMENTADO Tumores neuroendócrinos do margens de ressecção, padrão de crescimento e estadio T de acordo com os sistemas ENETS e OMS/AJCC. Os pacientes foram acompanhados, em média, por 86,5 meses: 24 doentes morreram, mas apenas 4 por complicações do tumor. Nenhum caso de carcinoma neuroendócrino pela classificação OMS 2010 foi diagnosticado. A presença de invasão neoplásica da subserosa e do mesoapêndice e o acometimento de margens cirúrgicas tiveram impacto na sobrevida. Por outro lado, o tamanho do tumor por si só não foi um fator prognóstico relevante. O resultado mais surpreendente foi a ausência de associação da contagem mitótica ou do índice de proliferação avaliado pelo Ki-67, parâmetros cruciais da graduação da OMS 2010, com risco de morte pela doença. Em toda a série, os índices mitóticos (0,7/10 campos de grande aumento) e de proliferação (1,9%) foram muito baixos. Por isso, é provável que a graduação atualmente proposta não tenha correlação com o comportamento clínico desses tumores. Apêndice O fator prognóstico mais relevante nesta série de casos foi o estadio pT, representado principalmente pela invasão neoplásica do mesoapêndice, presente nos 4 casos dos pacientes que morreram da doença. Consensos americanos e europeus orientam que tumores maiores que 2 cm, com margens de ressecção comprometidas, invasão do mesoapêndice, invasão angiolinfática e grau intermediário (G2) devem ser tratados com hemicolectomia direita. Os dados do presente estudo mostram que alguns desses parâmetros, como tamanho, invasão vascular e grau histológico, devem ser reconsiderados em novos guidelines para prevenir condutas radicais. Assim, deve-se alertar que, para tumores neuroendócrinos do apêndice cecal, a presença de invasão do mesoapêndice, o status das margens cirúrgicas e o estadiamento da neoplasia são os aspectos prognósticos mais importantes. Por outro lado, a interpretação isolada da graduação OMS 2010 pode levar a terapias agressivas desnecessárias. Apêndice Cromogranina Apêndice Ki67 Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), TNEs do trato gastrointestinal (TGI) são graduados de acordo com o índice mitótico e atividade proliferativa avaliada pelo antígeno Ki-67. Mas, ao contrário de outros tumores do TGI, a utilidade clínica desta classificação para o apêndice cecal não foi validada e os sistemas de estadiamento americano (AJCC) e europeu (ENETS) divergem quanto aos valores de classificação da categoria T, dificultando a padronização de estratégias terapêuticas e de acompanhamento clínico. Neste estudo retrospectivo, Volante et al. testaram a aplicabilidade e o significado prognóstico da classificação da OMS de 2010 e compararam os sistemas de estadiamento ENETS e AJCC/OMS na tentativa de identificar os parâmetros patológicos mais relevantes clinicamente. Dois patologistas reexaminaram 138 casos de tumores neuroendócrinos diagnosticados em apendicectomias de 7 hospitais italianos, conforme as classificações da OMS de 2000 e 2010, já excluídos 9 “carcinoides de células caliciformes” e não tendo sido detectados carcinomas neuroendócrinos de alto grau. O estudo incluiu a avaliação do índice mitótico e de proliferação celular pelo antígeno Ki-67, além de tamanho, localização no apêndice, espessura e porcentagem de acometimento da parede do órgão, extensão da invasão subserosa, presença de comprometimento do mesoapêndice, invasão vascular e perineural, 28 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Figura do manuscrito original: Sobrevida associada à doença dos 138 TEN de apêndice cecal conforme classificações OMS 2000 e 2010 e sistemas de estadiamento. Ryan Yukimatsu Tanigawa Médico Patologista; Médico Assistente, D. Anatomia Patológica, HC-FMUSP Sócio do CICAP - Anatomia Patológica, HAOC Venancio A. F. Alves Médico Patologista; Sócio-Diretor Técnico do CICAP - Anatomia Patológica, HAOC Professor Titular, Faculdade de Medicina da USP edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 29 American College of Cardiology São Francisco – 2013 Por Dr. Ricardo C. Moraes, Dr. Carlos Augusto e Dr. Carlos Otto Médicos Cardiologistas Internistas do Instituto de Medicina Cardiovascular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz PARTNER A Trial: O Dr. Vinod Thourani (Universidade de Emory, Atlanta, EUA) apresentou o acompanhamento de três anos do estudo PARTNER coorte A, que comparou a segurança e eficácia do dispositivo de implante de bioprótese aórtica por cateter (TAVI) contra cirurgia convencional. No seguimento dos pacientes com estenose aórtica importante e alto risco para a cirurgia de troca valvar, o implante percutâneo de prótese aórtica apresentou resultados clínicos e ecocardiográficos semelhantes à cirurgia de troca valvar convencional. Os resultados promissores levaram o Food and Drug Administration (FDA) a autorizar o início de estudos randomizados analisando o implante percutâneo de prótese aórtica em pacientes com risco cirúrgico intermediário (PARTNER II A e SURTAVI). PRATO-ACS Trial: A Dra. Anna Toso (Misericordia e Dolce Hospital, Prato, Itália) baseado na fisiopatologia da nefropatia da coronariopatia aguda e da nefropatia por contraste, onde a inflamação tem o papel relevante, e com os mecanismos pleitrópicos anti-inflamatórios das estatinas, demonstrou que a rosuvastina em altas doses foi eficaz em prevenir a nefropatia induzida por contraste em pacientes sem tratamento prévio com síndrome coronariana aguda submetidos a intervenção coronariana precoce. STREAM Trial: Com o estudo apresentado no ACC e publicado concomitantemente na New England Journal of Medicine, o Dr. Paul Armstrong demonstrou que a estratégia de fibrinólise (tenecteplase) é uma alternativa eficaz nos pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST com menos de 3h do início dos sintomas e que não têm acesso à angioplastia primária (<1h). HPS2-THRIVE Trial: A Dra. Jane Armitage (Universidade de Oxford, Inglaterra) apresentou um ensaio clínico com mais de 25.000 pacientes que testou a niacina de liberação prolongada na prevenção de eventos isquêmicos. Apesar de a niacina ser eficaz em aumentar o HDL e diminuir o LDL, não demonstrou benefício na prevenção cardiovascular e foi associada a maiores taxas de eventos adversos graves, proscrevendo o uso da droga. RESPONSABILIDADE JURÍDICA CONGRESSOS EM DESTAQUE Atualizações do Congresso do AIDS e o sigilo médico Por Dr. Sergio Pittelli [email protected] O tema já foi tratado genericamente nesta coluna. Vejamos agora o caso de pessoas soropositivas que se recusam a informar o (a) parceiro (a). A violação do sigilo é tipificada no art. 154 do Código Penal: Revelar a alguém, sem justa causa, segredo de que tenha ciência, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Na esfera ética, vigora o artigo 73: Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude de exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente. Vê-se que a justa causa exime o agente da obrigação do sigilo. Maria Helena Diniz caracteriza-a assim: “Critério básico de avaliação de conceitos jurídicos indefinidos e variáveis no tempo e no espaço; regra que concede ao agente certa margem de apreciação, dando-lhe o poder de discricionariedade; critério avaliativo de relações jurídicas concretas que exprime a conduta social média e deriva da lei ou da jurisprudência; conduta média da pessoa que atua como referencial para a decisão judicial sobre fatos novos não previstos na lei”. Veloso França dispõe: “Por justa causa entende-se o interesse de ordem moral ou social que autorize o não cumprimento de uma norma, contanto que os motivos apresentados sejam, na verdade, justificadores de tal violação”. Do exposto, sobressai o elemento de imprecisão, discricionariedade, inexistência de precisa definição legal e de comportamento médio como critérios definidores. Ressalte-se, ainda, o fundamento na ordem moral e social e não na lei (tanto que autoriza o não cumprimento de uma norma). Vê-se, portanto, que o médico pode romper o sigilo desde que haja justa causa e esta dependerá de seu próprio juízo. Para completar a preleção, cumpre colacionar o artigo 10 da Res. CFM 1665/03, cujo objeto vem a ser as obrigações éticas do médico com relação à AIDS: O sigilo profissional deve ser rigorosamente respeitado em relação aos pacientes portadores do vírus da SIDA (AIDS), salvo nos casos determinados por lei, por justa causa ou por autorização expressa do paciente. Mais uma vez aparece a justa causa como eximente da obrigação de guardar sigilo e as circunstâncias deixam claro que a justificativa para a quebra do sigilo é exatamente a situação aqui tratada. O CREMESP adota posição superponível a essa com referência à pedofilia (Parecer/consulta 51.676/03). É aceitável, portanto, que a defesa da saúde e da vida do parceiro possa ser considerada justa causa. Dado o caráter discricionário, sugerimos que a decisão seja compartilhada com outros profissionais e mesmo com a Comissão de Ética Médica. Por último, lembramos que, nos casos em que a doença já estiver instalada, impõe-se a notificação compulsória, o que torna o caso do conhecimento da Vigilância Sanitária e, por extensão, dos possíveis contaminados. Além disso, em caso de óbito, o diagnóstico da causa mortis deverá ser obrigatoriamente lançado na declaração. Dr. Carlos Augusto, Dr. Ricardo C. Moraes e Dr. Carlos Otto 30 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição Mai/ Jun • 2013 edição15 14••Abr/ Janeiro • 2013 Visão Médica 31 REUNIÕES CIENTÍFICAS REUNIÕES CIENTÍFICAS Reuniões Científicas As Reuniões Científicas têm o importante papel de possibilitar que temas atuais e de interesse de todos sejam compartilhados com o Corpo Clínico do Hospital. Confira o resumo de algumas das apresentações. O jejum pré-operatório é mesmo necessário? Por Dr. Cláudio Bresciani P or que manter o paciente em jejum antes da cirurgia? A razão do jejum completo, de seis a oito horas, tem base no conhecimento de que, durante a indução anestésica, podem ocorrer náuseas, vômitos e broncoaspiração. Ainda que Lister, em 1883, tenha proposto a administração de uma xícara de chá duas horas antes do início da anestesia, até pouco tempo não se havia discutido o jejum e ele foi mantido. A introdução da cirurgia minimamente invasiva e de novas drogas anestésicas aprimoraram as intervenções. É indiscutível que, com esta evolução, obteve-se a redução do trauma cirúrgico e da perda sanguínea, melhora da qualidade anestésica e da monitorização, o que permitiu reduzir a quantidade de drogas, possibilitando intervenções ambulatoriais e aumento do bem-estar ao acordar. Dor, sonolência, náuseas e vômitos retardam a recuperação e a alta do doente. As náuseas e vômitos têm um mecanismo periférico – a hipoperfusão da mucosa intestinal e liberação de serotonina – e um mecanismo central, consequente do estímulo ao centro quimiorreceptor da náusea e vômito na medula oblonga. Tais mecanismos são deflagrados pela desidratação. Portanto, é importante manter o paciente hidratado nas horas que precedem a cirurgia. carboidratos, menos que duas horas; proteínas, quatro; e lipídeos, seis. Observa-se, então, que líquidos com carboidratos podem ser utilizados até duas horas antes do ato cirúrgico com razoável segurança – água, suco de fruta sem polpa, bebidas à base de carboidratos, chá e café. Uma sugestão de protocolo para abreviar o jejum: seis horas de jejum para sólidos, 400 ml de solução com carboidrato seis horas antes do procedimento, 200 ml de solução com carboidrato até duas horas antes do procedimento e jejum absoluto duas horas antes do procedimento. As vantagens são a diminuição da resposta ao estresse cirúrgico, menor resistência hepática e periférica à insulina, diminuição das perdas de nitrogênio, menor risco de complicações relacionadas à hiperglicemia, menor translocação bacteriana, preservação da função do SRE hepático, não aumento da ocorrência de broncoaspiração ou de complicações pós-operatórias e bem-estar. Dessa forma, a cirurgia ambulatorial deverá dominar a prática cirúrgica com a possibilidade de alta da recuperação pós-anestésica, redução do tempo intra-hospitalar, diminuição dos custos e maior conforto pós-operatório. Ainda que se planeje o jejum para seis a oito horas, na maioria das vezes a duração é muito maior, o que provoca uma série de alterações orgânicas: desidratação, estresse, aumento da resistência à insulina, neoglicogênese e catabolismo. Assim, o paciente, além de sofrer o trauma cirúrgico, sofre com a resposta orgânica ao jejum. O trauma cirúrgico é inevitável, mas pode ser minorado com a utilização de técnica cirúrgica adequada. As Porfirias Dr. Guilherme Fleury Perini Agudas Por Dr. Guilherme Fleury Perini A s Porfirias são um grupo de doenças genéticas metabólicas causadas por alterações na atividade das enzimas envolvidas na biossíntese do radical heme. Tais alterações levam ao acúmulo de metabólitos intermediários tóxicos, responsáveis pelo quadro clínico dos pacientes. Clinicamente, as Porfirias podem ser divididas em dois grandes grupos: as agudas, com quadros predominantemente neuroviscerais; e as cutâneas, com quadros de fotossensibilidade. As Porfirias Agudas, então, são quadros cujas manifestações principais são os sintomas neuroviscerais. Este grupo inclui quatro tipos: Porfiria Aguda Intermitente (PAI), Coproporfiria Hereditária (CPH), Porfiria Variegata (PV) e uma forma rara de herança recessiva, a Porfiria por deficiência da enzima ALA-desidratase (Porfiria ALA-D). As manifestações ocorrem, geralmente, após a puberdade, podendo variar de quadros inespecíficos de dor abdominal a quadros neurológicos com risco de vida. A manifestação mais comum é a dor abdominal, não localizada, podendo ser acompanhada de constipação, distensão abdominal ou diarreia. Outras manifestações comuns associadas incluem vômitos, taquicardia, hipertensão e agitação psicomotora. Os quadros neurológicos podem incluir qualquer forma de manifestação, variando de alucinações visuais e quadros psicóticos, até crises convulsivas, coma e morte. Na suspeita de Porfiria Aguda, dois exames são mandatórios para o diagnóstico: a dosagem urinária de Porfobilinogênio (PBG) e do ácido aminolevulínico (ALA), que são os dois metabólitos intermediários tóxicos responsáveis pelos quadros cutâneos. É importante salientar que a dosagem do PBG e do ALA não diferenciam os subtipos de Porfiria (PAI, CPH, PV, ALA-D), mas demonstram o mecanismo fisiopatológico comum a todas Porfirias Agudas. Esta dosagem pode ser feita em amostra isolada de urina (“spot”), não sendo necessárias coletas de 24 horas para o diagnóstico da crise aguda. Consideram-se positivas dosagens que maiores que três vezes o valor normal. Assim, caso se confirme o aumento de PBG e ALA, tem-se o diagnóstico clínico de Porfiria Aguda. Como se trata de uma urgência médica, o ideal é iniciar a medicação (hematina) o mais rápido possível, na dose de 3-5 mg/ kg/dia. Por se tratar de medicação importada, a disponibilidade é restrita. Neste caso, é importante contar com o apoio da Associação Brasileira de Porfiria (ABRAPO) – www.porfiria.org.br –, que tem coordenado a distribuição de hematina disponível no Brasil para os casos urgentes. E o jejum? É mesmo necessário? Depende do tempo de esvaziamento gástrico de cada alimento: água e cristaloides, doze minutos; bebida com Dr. Cláudio Bresciani 32 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 Visão Médica 33 agenda / expediente REUNIÕES CIENTÍFICAS DO ALMOÇO REUNIÕES CIENTÍFICAS Coordenação: Instituto de Educação e Ciências e Diretoria Clínica Local: Bloco B – 5° andar – Restaurante dos médicos Horário: 12h às 13h 28/05 – 11 e 26/06 Reunião Científica de Neurologia e Neurocirurgia Coordenação: Jefferson Gomes Fernandes e Roberto Carneiro Oliveira Horário: 11h30 às 12h30 Local: Bloco B – 14° andar – Auditório 06/06 Pacientes Oncológicos na UTI Palestrante: Felipe Aires Duarte Moderador: Jacques Tabacof 13/06 Suscetibilidade genética a câncer Palestrante: Israel Gomy Moderador: Rodrigo Perez 20/06 Tratamento multidisciplinar do câncer gástrico aspectos atuais do tratamento Palestrante: a definir Moderador: Marcelo Ferraz Sam 27/06 Manejo das infecções em implantes médicos Palestrante: Mauro José Costa Salles Moderador: Ícaro Boszczowski 28/05 – 27/06 Melhores Práticas em Terapia Intensiva Coordenação: Unidade de Terapia Intensiva Horário: 19h30 às 22h Local: Bloco B – 14° andar – Auditório 27/05 Discussão de Casos em Endoscopia Coordenação: SOBED Horário: 19h às 22h Local: Bloco B – 14° andar – Anfiteatro e Sala 1 29/05 - 05, 12, 19 e 26/06 Reuniões Científicas de Infectologia Coordenação: Gilberto Turcato Jr. Horário: 13h às 14h Local: Bloco B – 14° andar – Sala 1 29/05 – 05, 12, 19 e 26/06 Reunião de Oncologia Coordenação: Centro de Oncologia Horário: 12h às 13h30 Local: Bloco B – 14° andar – Auditório 10/06 Reunião Científica Mensal da Clínica Cirúrgica Coordenação: Cláudio Bresciani Horário: 12h30 Local: Bloco B – 14° andar – Auditório 11/06 Discussões de Casos da Clínica Médica Coordenação: Pedro Renato Chocair Horário: 12h às 13h30 Local: Bloco B – 14° andar – Sala 1 17/06 Reunião Mensal do CDI Coordenação: Equipe Fleury Diagnóstico Horário: 19h30 às 21h30 Local: Bloco B – 14° andar – Sala 1 18/06 Reunião Científica Mensal do Pronto Atendimento Coordenação: Pedro Renato Chocair Horário: 19h30 às 22h Local: Bloco B – 14° andar – Auditório 19/06 Reunião Científica da Cardiologia Coordenação: Eberhard Grube e Pedro Graziosi Horário: 11h às 13h Local: Bloco B – 14° andar – Anfiteatro Programação sujeita a alteração e cancelamento EXPEDIENTE A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik. Projeto Gráfico: Bruno Valiante | Edição de Arte: Bruno Valiante Coordenação Editorial: Aline Shiromaru Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525 Fotos: banco de imagens do Hospital Tiragem: 2.500 exemplares 34 Visão Médica edição 15 • Abr/ Mai/ Jun • 2013 A um passo do futuro profissional. Na ETES. A Escola Técnica de Educação em Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz nasce com 115 anos de credibilidade. Técnico em Enfermagem: INSCRIÇÕES ABERTAS PARA 2013. Alunos da ETES terão prioridade nos processos de seleção e contratações do Hospital. Melhor do que se preparar para o mercado de trabalho é se preparar dentro dele. Na ETES, Escola Técnica de Educação em Saúde, o aluno estuda no próprio Hospital Alemão Oswaldo Cruz, uma Instituição com 115 anos de história, investimentos contínuos na saúde das pessoas e que também tem como missão a geração de conhecimento técnico-científico. E por meio da ETES consegue ampliar a disseminação de A ESCOLA TÉCNICA DO conhecimento e formação profissional. www.etes.org.br Rua João Julião, 245 – 1º andar - Paraíso - São Paulo Próximo às estações Brigadeiro e Vergueiro de Metrô. Informações: 11 3549-0654 – [email protected] Estar junto Seu paciente em boas mãos O Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz conta com uma equipe médica de excelência e referenciada, com enfermeiras especialistas em oncologia, nutricionistas, dentistas, psicólogos, farmacêuticos e fisioterapeutas que alinham as recentes descobertas da ciência a um tratamento integral, humanizado e multidisciplinar. Oferece um atendimento completo e integral ao paciente, com os setores de Quimioterapia, Radioterapia e Cirurgia Oncológica, trabalhando em conjunto, de forma a atender as necessidades de seu paciente e proporcionar o seu bem-estar. Agendamento de Consultas: 11 3549 0673 (das 9h às 16h) Mais Informações: 11 3549 0672/ 3549 0665 (das 8h às 18h) Certificado pela Joint Commission International CENTRO DE ONCOLOGIA Padrão Internacional de qualidade em atendimento médico e hospitalar. Diretor Clínico - Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Dr. Marcelo Ferraz Sampaio - CRM 58952 Centro de Oncologia