REFLEXÃO DA DOCÊNCIA: CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE TRABALHO PEDAGÓGICO REALIZADO COM CRIANÇAS BEM PEQUENAS. Cleide Selma Pereira dos Santos1 Adriana Rodrigues Braga2 Naiane Silva Santos3 Resumo: O presente trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões sobre experiências vivenciadas em um período de docência em sala de aula com crianças de 8 meses a 2 anos de idade, revelando como as concepções adotadas no processo de ensino aprendizagem contribuíram para o desenvolvimento infantil e a ruptura de paradigmas preconceituosos sobre a educação infantil, em especial com o trabalho desenvolvido com crianças nessa faixa etária. Ressaltamos, portanto, a importância do papel da educação infantil e do educador no desenvolvimento das crianças, trazendo também relatos de alguns projetos de intervenção pedagógica desenvolvidos neste período. A metodologia adotada foi a pesquisa qualitativa, utilizando o relato autobiográfico das experiências vivenciadas na educação infantil. Concluímos que quando realizamos um trabalho imbuído de afetividade, compromisso e objetivos educativos concretos conseguimos contribuir significativamente para o desenvolvimento das crianças e superação de alguns paradigmas preconceituosos acerca da educação infantil que permeiam ainda hoje na sociedade. Palavras Chaves: Docência. Desenvolvimento Infantil. Concepções. Prática Pedagógica. Introdução Durante muito tempo as creches foram visualizadas como um depósito de crianças e nos dias atuais ainda há resquícios destes pensamentos até mesmo em educadores que tornam seu fazer docente apenas uma prática restrita ao cuidado. Isso se deve ao fato de que com o advento do capitalismo surgiu a necessidade de inserção das mulheres no mercado de trabalho, constituindo assim um novo modelo de sociedade. Com isso, as mães precisaram sair de suas casas para trabalhar e deixar seus filhos sob os cuidados de alguém. Neste contexto surgiram as primeiras creches a partir do séc. XVIII, na França, em 1770, e em outros países europeus com o objetivo de assegurar aos filhos das mães trabalhadoras um lugar acolhedor. No Brasil as primeiras organizações desse tipo foram criadas no início do século XX. Para Mello 1 Graduada em Pedagogia e Pós-graduanda em gestão educacional pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Assistente de alunos no IFBA. Email: [email protected] 2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Professora auxiliar no Centro de Convivência Infantil Casinha do Sol- UESB. Email: [email protected] 3 Graduanda pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Professora no Centro de Convivência Infantil Casinha do Sol- UESB. Email: [email protected] (1988), elas eram destinadas inicialmente a abrigar crianças pobres e abandonadas. O Referencial Curricular para Educação Infantil afirma: O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao longo de sua história concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande parte dessas instituições nasceu com o objetivo de atender exclusivamente às crianças de baixa renda. (BRASIL, 1998, p. 17). Devido ao fato histórico do surgimento das creches estar atrelado ao cuidar, os educadores de educação infantil enfrentam, hoje, alguns desafios, entre os quais se destaca a constituição de sua identidade que até o momento se encontra desconhecida por falta de reconhecimento da importância do seu papel como educador, pois o mesmo é visto por muitas pessoas apenas como um cuidador de crianças, além de ser mal remunerado e ter uma jornada de trabalho que não lhe possibilita uma formação continuada para melhorar seu desempenho no exercício da docência. Pudemos vivenciar isso em nossa experiência como docentes numa instituição de educação infantil, onde presenciamos em falas de alguns pais e até de alguns educadores uma concepção de que a educação infantil é algo restrito ao cuidado e que as atividades para crianças na faixa etária de 8 meses a 2 anos de idade são irrelevantes, pois elas não aprendem. Essas posturas nos levaram a refletir sobre nosso papel como educadoras e da influência que tínhamos na formação das crianças e na mudança dessas concepções. Assim, buscamos por meio de nosso discurso e prática pedagógica mostrar aos pais e demais pessoas envolvidas nesse contexto que a educação infantil tem grande relevância na formação dos educandos e que o trabalho desenvolvido em sala de aula contribui significativamente para a formação social, motora e cognitiva desses sujeitos. Desenvolvemos nosso trabalho pedagógico por meio de projetos que foram elaborados a partir de observações realizadas em sala de aula tendo como princípio a busca ao atendimento das necessidades e interesses dos alunos. As atividades se efetivavam numa perspectiva metodológica interdisciplinar, em que o objetivo era proporcionar às crianças experiências com o mundo de forma que lhes possibilitasse uma aprendizagem significativa e prazerosa, contribuindo para o desenvolvimento social, motor, cognitivo e afetivo das mesmas. Esse artigo tem como objetivo relatar como nossas concepções e prática pedagógica contribuíram para a superação de paradigmas preconceituosos acerca da educação infantil. A metodologia adotada na elaboração deste trabalho foi a pesquisa qualitativa, tendo como suporte a autobiografia que se fundamentou na reflexão da prática educativa e das experiências vivenciadas no processo de ensino aprendizagem na educação infantil. Concepções e prática pedagógica No que diz respeito à educação infantil, o ato de educar se traduz numa atividade de viabilização da inserção do ser em formação, a criança, para viver em sociedade. Esta educação pode formar um sujeito autônomo ou alienado e dependente a depender da postura do educador e do modo como conduz seu trabalho em sala de aula, no entanto, não é de exclusiva responsabilidade da educação infantil, a formação desses sujeitos, pois o ambiente familiar e demais organizações sociais que a criança freqüenta também exercem grande influência na formação de sua personalidade. Nas creches o ato de educar está também atrelado ao cuidar, pois através do cuidado com o corpo pode se influenciar o indivíduo a cerca de valores referentes à saúde e higiene, através do dialogo entre docente e criança no momento do cuidado com o corpo, pode-se ajudar à criança a identificar partes do corpo pelo nome, as suas necessidades e priorizá-las, além de favorecer a formação de um vínculo afetivo entre educador e educando. O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, são necessários que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades sócio-culturais. (BRASIL, 1998, p. 25). Apesar de o cuidado ser fator preponderante na educação infantil, esta modalidade de educação não deve se restringir ao cuidado, pois educar crianças requer uma atenção voltada não apenas para suas necessidades corporais requer uma sensibilidade para perceber desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo destes sujeitos, bem como suas dificuldades em todos os âmbitos, buscando intervir de forma que lhe favoreça não apenas sanar suas problemáticas como também colaborar para que consigam conquistar sua autonomia. Apesar de nos dias atuais ainda se encontrar resquícios de um pensamento paradigmático sobre o papel das creches na atual sociedade, muitos estudiosos tem provado cientificamente a importância da educação infantil no desenvolvimento das crianças, no que diz respeito à construção da autonomia, identidade e apropriação da cultura. Nesta perspectiva, Vinha (2000) afirma que as atitudes, a forma de ensinar, a maneira de agir dentro da sala de aula refletem a concepção de autonomia do educador e são determinantes no processo de construção de autonomia por parte das crianças. Procuramos contribuir significativamente para a promoção do desenvolvimento integral das crianças desenvolvendo um trabalho que se embasava em algumas teorias pedagógicas, assim buscamos refletir em algumas concepções de aprendizagem, entre as quais destacamos a teoria de Vygotsky, Wallon e Piaget. Para Vygotsky (1989), a criança nasce inserida num meio social, local onde a criança encontrará elementos que lhe favoreça a socialização, para isso será preciso um processo de mediação, que o autor define como sendo a necessária intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça os instrumentos utilizados para esta mediação são a linguagem e os signos. Segundo Vygotsky (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo aquele que aprende e aquele que ensina e a relação entre eles. Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento, para em seguida, chegar a dominá-los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial). Para Wallon (2002), a criança é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. Segundo Galvão (2000), Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Diante disso, a criança utiliza a imitação para expressar seus desejos de participar e se diferenciar dos outros se constituindo em sujeito social, para tanto a cultura e a linguagem fornecerão ao pensamento das crianças os elementos necessários para evoluírem. Piaget (1993), em sua teoria construtivista, afirma que o conhecimento ocorre por meio da ação do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, ou seja, o sujeito não pode ser passivo, receptor de instruções e sim construtor da sua aprendizagem. Através do contato com os objetos, a criança vai se adaptando as características daquele objeto, essa adaptação ocorre através da organização, sendo que o organismo discrimina entre estímulos e sensações, selecionando aqueles que irá organizar em alguma forma de estrutura. Essa adaptação possui dois mecanismos opostos, mas complementares, que garantem o processo de desenvolvimento, são eles: a assimilação e a acomodação. A assimilação é a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis da criança, como exemplo, a criança aprende a língua e assimila tudo o que ouve. A acomodação, por sua vez, ocorre quando a criança utiliza as palavras que ouve e começa a balbuciar em resposta à conversa ao seu redor e gradativamente vai passando a falar de forma compreensível. Piaget (1978) afirma que através da imitação é que a criança vai desenvolvendo a linguagem e se apropriando da cultura, o autor descreve seis fases no desenvolvimento inicial de imitação (0 a 2 anos) são elas: fase 1 – exercícios ou reflexos; fase 2 – imitação esporádica; fase 3 – imitação esporádica de sons e movimentos visíveis que já pertencem ao repertório; fase 4 – imitação de movimentos já executados pelo sujeito, mas de maneira visível para ele, e início de imitação de modelos sonoros ou visuais novos; fase 5 – imitação sistemática de modelos novos, compreendendo os que correspondem a movimentos invisíveis do próprio corpo; fase 6 – início da imitação representativa e da imitação diferida. Wallon (1942), como Piaget, liga o desenvolvimento da imitação ao aparecimento da função simbólica. Durante minha experiência na docência de educação infantil busquei, juntamente às minhas auxiliadoras, proporcionar às crianças um ambiente acolhedor rico em fantasias, brincadeiras e jogos, de forma que contribuísse com o desenvolvimento integral das crianças. Quanto à nossa concepção de criança, comungamos com o pensamento de que esta é um ser ativo em formação, que se constitui através das relações sociais estabelecidas e das experiências que lhes são propostas, assim uma criança não nasce preconceituosa, mas pode se tornar caso seja educada para isso. Conscientes da importância do papel do educador na formação das crianças, procuramos agir coerentemente às nossas concepções, tanto no desenvolvimento do trabalho pedagógico como na forma de agir e se relacionar com os colegas e crianças para que assim se concretizasse um efetivo aprendizado do que discursávamos. Pois, acreditamos que a conduta do professor em sala de aula se constitui em algo de grande importância especialmente na educação infantil e séries iniciais, pelo fato de o professor ser considerado um modelo de personalidade, já que sua conduta e valores expostos acabam deixando sua marca no aluno. O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida a das gentes, professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio burocrático, racionalista, nenhum desses passam pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p. 73) Corroboramos também com o pensamento de que a motivação é um dos fatores preponderantes para a efetivação de uma aprendizagem significativa, pois a motivação do professor influi na motivação do aluno, além disso, a maneira como o professor trata o aluno e se comporta em sala de aula é muito mais significante do que o conteúdo transmitido e a maneira como o profissional da educação age na sala de aula reflete nos resultados nãointencionais da apreensão do aluno, é o que coloca Morales (2000 p.15-16): [...] O que se ensina sem querer ensinar e o que se aprende sem querer aprender, pode ser, e com freqüência é, o mais importante e o mais permanente do processo de ensino-aprendizado, isso por sua vez depende, em boa medida do estilo de relação que estabelecemos com os alunos. Logo, se o objeto da aprendizagem não parte do interesse das crianças, as mesmas não se envolverão nas atividades, se canto na rodinha ou conto uma história desmotivada, fazendo apenas para cumprir um dever, não poderei envolver os alunos nos cânticos nem proporcionar o desenvolvimento de sua imaginação, se não planejo minhas aulas e reflito como vou fazer antes mesmo de entrar em sala de aula, e não busco os recursos necessários com antecedência para a concretização dos objetivos almejados, mas atuo por meio do improviso, a aprendizagem não ocorrerá de forma significativa, pois a criança como um ser ativo não se concentrará na aula e os objetivos propostos não serão alcançados. Vale ressaltar a importância do planejamento no exercício da docência como um ato contínuo, pois na educação infantil assim como em todas as etapas da educação o planejamento tem o potencial de levar o professor a refletir e inovar a prática pedagógica. Para Veiga (2002), planejar é “Lançarmo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente”. Em outras palavras, significa analisar o presente, verificar o que deve ser mudado e as possibilidades de adquirir tais mudanças, ou seja, prever o futuro, e a partir daí agir de forma que garanta a efetivação dos planos. Outro aspecto que consideramos de grande relevância no processo de ensino aprendizagem é a afetividade do professor com os alunos. Assim, buscamos dedicar tempo a comunicação com as crianças e expressão de afeto, como também observá-los em seu desenvolvimento e seus interesses para posteriormente desenvolver projetos que atendessem suas necessidades partindo do que sabiam e se interessavam. Além disso, buscamos dedicar tempo a nossa formação, buscando crescer em conhecimento e refletir sobre nossa prática pedagógica, aperfeiçoando a cada dia o fazer docente e crescendo em conhecimento e experiências. Buscamos dar o melhor de nós nos envolvendo no processo educativo devido à nossa afetividade pelas crianças e pelo ato de educar, elemento essencial que move o educador para essas ações. [...] E o que dizer, mas, sobretudo que esperar de mim, se, como professor, não me acho tomado por outro saber, o de que preciso está aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos e a própria prática educativa de que participo. E esta abertura ao querer bem [...] significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer a maneira que tenho de, autenticamente, selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica de ser humano. Na verdade preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. (FREIRE, 1996, pag. 159) Prática pedagógica desenvolvida por meio de projetos Quanto ao desenvolvimento do trabalho metodológico com as crianças, este se efetivou por meio de projetos que foram elaborados a partir do interesse das crianças, os quais eram constatados através das observações realizadas em sala de aula. Quanto a este tipo de trabalho, Leite (1996, p. 33), faz o seguinte comentário: “A Pedagogia de Projetos é um caminho para transformar o espaço escolar em um espaço aberto à construção de aprendizagens significativas para todos que dele participam.” Os projetos desenvolvidos no exercício de nossa docência se fundamentaram numa concepção Sócio-interacionista onde as necessidades das crianças foram respeitadas e a aprendizagem ocorreu numa interação entre o sujeito e o meio social e nós, educadoras, assumimos o papel de mediadoras na construção desta aprendizagem, visando cooperar para o desenvolvimento integral das crianças. Entre os projetos desenvolvidos no percorrer do ano os que mais se destacaram quanto ao envolvimento das crianças foi: Meu corpo percebendo o mundo; Eu sou um pequeno artista e Minhas canções, minhas histórias. O projeto “Meu corpo percebendo o mundo” surgiu a partir de observações em sala de aula, nas quais notamos que as crianças encontravam-se mais ativas, subindo e descendo obstáculos, correndo, pulando etc., subtendemos assim que as mesmas estavam com desejo de explorar mais seus movimentos corporais. Além disso, partimos da premissa de que o corpo é o principal instrumento utilizado pela criança na fase de 0 a 2 anos de idade para perceber o mundo em sua volta. Assim procuramos desenvolver um trabalho que capacitasse às crianças o conhecimento das partes do seu corpo e suas respectivas funções, os cuidados e necessidades que este corpo requer, além de explorar movimentos energéticos e rápidos como: correr, agachar, gritar, rolar, ou seja, movimentos corporais no espaço amplo, que são próprios dessa faixa etária. O objetivo almejado foi promover para as crianças habilidades cognitivas e motoras por meio da percepção do mundo pelo próprio corpo. Por meio deste projeto buscamos: Ampliar o vocabulário, desenvolver a sociabilidade, explorar movimentos corporais e rítmicos, promover o desenvolvimento da destreza, equilíbrio e freio inibitório, conhecer diferenças e igualdades entre si e os colegas, estimular a percepção das funções dos órgãos dos sentidos observando elementos da natureza, cores, sabores, texturas, estimular hábitos de higiene, conhecer cada parte do corpo pelo nome e possibilitar a exploração de mímicas e expressões faciais. As atividades que utilizamos para o alcance dos objetivos foram: brincadeiras com bonecos, danças, produção de desenhos e cartazes, contação e dramatização de histórias, exploração de circuitos, pinturas, rodinhas de conversas e atividades que estimularam a percepção dos órgãos dos sentidos, a oralidade e sociabilidade, além do movimento corporal e das expressões faciais das crianças. Quanto ao projeto intitulado “Eu sou um pequeno artista” foi elaborado com o objetivo de proporcionar para as crianças experiências artísticas, de forma que promovessem o desenvolvimento da linguagem, de habilidades cognitivas, a interação social e possibilidades de expressões corporais e artísticas. O tema foi escolhido por ser constatado um interesse das crianças em cantar, pintar, dançar e apreciar imagens também por inicialmente na educação infantil as crianças interessarem-se mais pelo fazer, pela experiência, do que pelas atividades que exijam elaboração racional. Além disso, as crianças na faixa etária de 0 a 2 anos têm experiências com o mundo por meio da boca, necessitando, portanto de uma modificação de contato com o mesmo, deixando que este ocorra por meio da percepção dos órgãos dos sentidos e este projeto proposto ofereceu um mundo rico de possibilidades para corroborar com o desenvolvimento infantil. Nós, professoras, como mediadoras de experiencias culturais significativas, pudemos propiciar o fazer artístico, abrindo espaço para a apreciação e a reflexão sobre as artes ao selecionar e eleger produções artísticas culturais que ultrapassam a dimensão do gosto pessoal e que podem instigar e enriquecer as experiências infantis. Para isso, foi necessário disponibilizar elementos artístico-culturais construídos ao longo da história e que fazem parte das experiências de diferentes grupos sociais possibilitando às crianças apropriar-se desse patrimônio. Procuramos também estimulá-las a criar, assim proporcionamos momentos de pintura, dramatização, show de calouros, toque de instrumentos musicais e danças. Para Moura, a criança precisa expressar a arte por meio das brincadeiras antes mesmo de desenvolver a linguagem. Antes, porém, de desenvolver acuidades e habilidades específicas de cada linguagem, a criança precisa experimentar essa síntese das artes no brincar, e a educação infantil, ao abrir espaços para a manifestação infantis, pode ser um importante espaço para as crianças vivenciarem uma experiência mais abrangente e integradora com a arte. ( MOURA, 2009, p. 81) O terceiro projeto citado anteriormente surgiu também a partir de observações onde percebemos o interesse por parte das crianças em estarem folheando livros de histórias infantis balbuciando como indicação de interesse pela história, além de notarmos que na rodinha, mais especificamente na hora da história, as crianças demonstraram um maior interesse e atenção durante a execução desta atividade. Nosso objetivo com o desenvolvimento deste projeto foi desenvolver um trabalho voltado para a narração e dramatização de contos infantis e de letras de músicas, que se constituem também como pequenas histórias cantadas, no intuito de propiciar aos alunos um mundo rico em fantasias, por meio do qual foi proporcionado o desenvolvimento do pensamento lógico das crianças e também de sua imaginação, que, como nos ensina Vygotsky (1999), andam juntos: “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável, do pensamento realista.” De acordo com essa visão, é no modo narrativo que o pensamento consegue instalar seus milagres intemporais na experiência particular, localizando a experiência no tempo e no lugar, adquirindo por meio do imaginário a experimentação com o real. Daí adviria a presença fundamental das histórias como instância pedagógica através das culturas, elas fazem uma ponte entre os valores e crenças abstratas e a materialidade do contexto experimentado pelas crianças. O contato com as histórias na cultura significa para as crianças o reencontro simbólico com um padrão organizativo temporal e mesmo rítmico que elas já vivem em sua experiência com a sucessão dos eventos em sua rotina diária. Vale ressaltar que as atividades com leituras na educação infantil ajudam a despertar nas crianças o posterior desejo pela leitura e aquisição da escrita, não é responsabilidade da educação infantil o processo de alfabetização, mas esta é incumbida de instigar na criança o hábito pela leitura, além de revelar para que serve a escrita, ou seja, sua importância e utilidade. Crianças que têm desde sua tenra idade contato com a leitura, ouvindo histórias, manuseando livros, ou seja, que estão inseridas em um ambiente letrado terão uma maior probabilidade de se tornarem bons leitores. Nesta perspectiva desenvolvemos atividades brincadeiras e jogos de imitações, dramatizações, narração de histórias e de letras de músicas que em seguida eram cantadas, leitura de imagens, produção de cartazes com os personagens das histórias para que as crianças os visualizasse, produção de desenhos e pinturas, rodinhas de conversas. Todas as atividades se constituíram em oportunidades para desenvolver a interação entre as crianças, a consciência de si mesmo, do mundo e dos outros, além de habilidades lingüísticas e motoras. Buscamos também, para o desenvolvimento deste projeto, a participação dos pais e familiares, pois neste processo de formação em leitura é também fundamental conhecer as histórias das crianças a expressão de suas experiências de vida, na forma de relatos históricos. Mostraram-se, também, muito atraentes e interessantes para as crianças, os contos de fadas. Quanto a esse interesse, Vieira (2003, p.10) comenta; Há alguns aspectos bem interessantes a considerar quando pretendemos nos deter na reflexão e no porque dos contos de fadas. Em primeiro lugar, o fato de que eles falam sempre de relacionamentos humanos primitivos e por isso exprimem sentimentos muito arcaicos do psiquismo humano. Mas porque arcaicos não deixam de ser atuais, talvez até extremamente atraentes e instigadores porque mostra o que se evita manifestar nas nossas sociedades contemporâneas: a raiva, a inveja, a mentira, também o amor, a fidelidade, a generosidade, com suas enormes conseqüências no viver humano. [...] outro aspecto extremamente importante a considerar é que os contos de fadas, sob múltiplas variações, apresentam sempre uma mesma estrutura e temática: falam da busca da totalidade psíquica, da plenitude do ser. Ainda segundo Vieira (2003) “Os contos de fadas se fundamentam em “lições de vida” dadas pela sabedoria ancestral, a sabedoria dos povos, que desde a origem dos tempos, vêm constituindo a humanidade em continua evolução”. Neste sentido, é possível perceber que as temáticas dos contos de fadas não se distanciam das vivências humanas e são apreciados desde os tempos remotos aos atuais. Nesta mesma perspectiva, Wallon (1986) propõe uma escola engajada e comprometida com o desenvolvimento dos indivíduos que integre uma dimensão social e individual. Neste sentido, o autor definiu seu método de trabalho como sendo o do materialismo dialético, assumindo que o progresso intelectual do ser humano acontece com o desenvolvimento da função simbólica. A passagem do ato motor (inteligência sensório-motora), para esta outra forma de inteligência (do plano simbólico), supondo que a vida social seja um meio, em que a linguagem e a emoção desempenham papel fundamental para a aprendizagem. No desenvolvimento desse projeto também trabalhamos com histórias das próprias crianças, onde utilizamos como recursos didáticos, livros construídos com imagens destas e de suas famílias. As atividades desenvolvidas por meio dos projetos tiveram um caráter lúdico, pois a ludicidade atrai indivíduos de diversas faixas etárias, corroboramos com o pensamento de que este deve ser o instrumento principal utilizado para promoção do desenvolvimento da criança, pois reconhecemos a importância e a eficácia da brincadeira na educação infantil, segundo Froebel [apud Kishimoto, p. 98] “Brincar é a fase mais importante da infância do desenvolvimento humano neste período, por ser a auto-ativa representação do interno, a representação de necessidades e impulsos internos”. Quanto aos resultados, percebemos que por meio do desenvolvimento do trabalho com projetos, houve um salto no desenvolvimento das crianças, as quais demonstravam maior destreza corporal ao andar, pular, correr. Passaram a identificar as partes do corpo pelo nome e ter maior interesse em higienizá-los, a conhecer as cores e a identificar animais e instrumentos musicais em imagens quando perguntávamos onde estava tal animal ou instrumento; houve um crescimento na sociabilidade e afetividade entre crianças e crianças e professores e crianças, uma ampliação no vocabulário e maior prazer em estar na creche; também demonstraram maior interesse em ouvir histórias e executar atividades de pintura e movimento com maior autonomia e destreza e até pegavam os livros e nos pediam para contarmos histórias, outras vezes faziam de contas que estavam lendo. Considerações Finais Por meio das experiências vivenciadas podemos afirmar que a forma de agir, falar e atuar do educador em sala de aula assume um papel fundamental no processo educativo repercutindo na aprendizagem de valores transmitidos de forma não intencional, o hábito de planejar também contribui significativamente para este processo, pois possibilita a melhoria continuada da prática pedagógica. È notório que as concepções adotadas pelo educador infantil também influencia na sua forma de atuar e na formação das crianças e que a busca pelo conhecimento e reflexão da docência se constitui em elementos essenciais para o crescimento profissional dos educadores. Podemos afirmar também que o trabalho com projetos contribuem significativamente para o desenvolvimento das crianças quando são elaborados dentro da zona de desenvolvimento proximal destas, e buscam atender aos seus interesses utilizando o lúdico como forte recurso para o alcance de uma aprendizagem significativa. O comprometimento profissional, a afetividade pelos educandos e pela educação e o planejamento do trabalho assumem papeis essenciais, pois propicia uma maior segurança na execução das atividades e maiores possibilidades de alcance dos objetivos almejados. Apesar da forte discriminação existente com a classe de professores de educação infantil, devido à visão deturpada sobre a educação nessa faixa etária ocasionada pela sua origem histórica, os educadores desta modalidade podem buscar o rompimento destes paradigmas por meio da prática docente e da busca do apoio dos pais no processo de aprendizagem das crianças, revelando por meio de discurso e atitudes que educação infantil não se restringe ao cuidado e que o educador de crianças não é uma babá. Podemos concluir dizendo que o período de docência, no qual estivemos imbuídas no processo de ensino aprendizagem das crianças, nos proporcionou momentos prazerosos assim como para as crianças, além disso, nos possibilitou promover uma maior conscientização dos pais das crianças quanto ao papel da educação infantil no desenvolvimento das crianças que foi promovida não apenas pelo nosso discurso, mas também pela nossa ação que se materializava no trabalho em equipe na sala de aula, no desenvolvimento das crianças e nos pareceres entregues aos pais, nos quais relatávamos as atividades executadas, os objetivos propostos e os resultados alcançados, bem como nos eventos promovidos pela coordenação, onde era ressaltada a importância do trabalho pedagógico com crianças. Referências Bibliográficas BRASIL. Referencial Curricular Para A Educação Infantil. v. 1, Brasília: MEC/SEF, 1998. FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia. 13ºedição São Paulo: Paz e Terra, 1996- coleção leitura. 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