Estruturação e ação política de massas Na última coluna falamos de campanha eleitoral e sua relação com o crescimento partidário. Há outro aspecto nodal da mesma questão política: vincular a estruturação partidária à ação política de massas. Aliás, é a novidade introduzida no IV PEP. Somos um Partido de ação política de massas, aí abarcada a luta eleitoral, institucional e de massas propriamente ditas. Em tempos de refluxo, como na década de 90, compreende-se o predomínio da luta institucional – mobilizações são mais possíveis nas eleições de entidades, ou mesmo as eleições parlamentares, de executivos locais, etc. É uma espécie de adaptação à correlação de forças. Mas a conjuntura está se modificando paulatinamente. A crise neoliberal e o emergir de uma consciência crítica mundial, manifestada nos fóruns antiglobalização, bem como em algum grau de retomada da luta popular, exigem flexões claras. Na América Latina, nos últimos anos, isso ficou evidenciado, muito embora ao mesmo tempo se manifestou a falta de uma direção orgânica para o movimento de protesto. Na Itália, manifestações de milhões em defesa do trabalho, inclusive uma greve geral, falam do mesmo sentido. Mesmo na França, surpreendida pelo ascenso eleitoral da extrema direita, o povo soube mobilizar suas reservas de energias republicanas para dar uma resposta contundente ao fato. O caráter dos embates por dar uma saída avançada para a encruzilhada estrutural do país aponta no mesmo sentido de exigências: o movimento de massas foi decisivo para a redemocratização, sofreu um refluxo com a década perdida neoliberal, e precisa ser retomado enquanto um poderoso movimento cívico mudancista. É o novo que vai surgindo pouco a pouco, sem ainda uma definição mais demarcada, sem ainda inverter a correlação de forças estrategicamente desfavorável do mundo hoje, mas que significam um degelo da situação anterior. Permite-se mesmo pensar na possibilidade de abordar um caminho mudancista num país com as dimensões do Brasil, por intermédio de vitória eleitoral, que se inscreve nas possibilidades concretas de hoje. Retoma-se numa situação desse tipo a exigência de conectar a luta institucional com a ação política de massas, unificar não apenas a política geral mas a própria ação política realizada pelo partido. Bradar contra a institucionalização e os pecados que geralmente a acompanham na vida de um partido revolucionário, será brado impotente se não for enfocado no contexto concreto dessas modificações das possibilidades da luta e das criteriosas flexões que nos exige. A questão da ação política de massas é uma questão central da nossa tática, e como tal precisa ser levada à esfera da direção política e geral do partido, romper com a compartimentação a que estão submetidas as diversas frentes. Ademais, exige-se atitude pedagógica dos dirigentes, investigar e elaborar linhas politizadoras e de massa para o trabalho militante, com a mesma tenacidade e sagacidade que marcam nosso pensamento político. Ao mesmo tempo – e isso foi muito marcado no debate do IV PEP - precisamos conectar a presença na luta de massas com o esforço de estruturação partidária. Porque afinal, mesmo nas difíceis condições em que atuamos nos anos 90, o militante comunista esteve sempre ao lado do povo, vivendo suas lutas e agruras, esforçando-se em manter ativas as entidades como sindicatos, associações de moradores, juvenis, femininas, anti-racistas, e outras. A questão é a de infundir a cada uma das lutas de que participamos uma perspectiva política e ligada ao projeto político do partido. Isso, entre outros procedimentos que elevem a consciência do povo, inscreve como nossa obrigação militante construir o partido no seio das lutas travadas. A questão se relaciona com outra de fundo, também presente em nossas reflexões congressuais. É o da frente ampla da frente ampla necessária à derrota das forças neo-liberais, que exige um sagaz processo de unidade e luta, destinado à construção da hegemonia de forças avançadas no processo da própria luta. Esse sempre foi problema complexo, resolvido na base da política mais justa e da capacidade de pôr em movimento forças de massa. Aí entra a questão: intensificar hoje a presença de massa do partido, disputar ativamente a base social que apóia a ruptura com a política neoliberal é irrecusável e tem, na ação política de massas, aspecto que não é secundário. Se falamos conseqüentemente em amplo movimento cívico mudancista, não devemos perder de vista um instante a questão de dar-lhe sólidas e profundas bases de apoio de massa. O IV PEP pôs em questão esses elementos. Toma corpo a noção de que o Partido precisa demarcar mais sua identidade por intermédio de campanhas políticas próprias de massa. É nossa rica tradição com a luta contra o nazifascismo e pela Força Expedicionária Brasileira, a Campanha O Petróleo é nosso, as jornadas de luta contra a carestia, para não dizer do Araguaia e do impeachment. Hoje algumas bandeiras podem ser centrais a esse esforço, como a campanha contra a ALCA e pela redução da jornada de trabalho. Sem negar a amplitude em torno dessas bandeiras - marca “genética” de nossa identidade -, campanhas políticas próprias são instrumentos e meios para alcançar amplas massas e vincar identidade política e de massa para o partido. Está aí um bom mote para as entidades sob nossa direção política, como UJS, CSC, UBM e UNEGRO: orientá-las para o esforço da batalha eleitoral em ligação com suas próprias bandeiras permanentes, e ligar tudo isso ao fortalecimento do partido com novos lutadores, provindos da luta concreta, no seio das batalhas concretas. Enfim, como nosso tema recorrente é fortalecimento e estruturação do partido, mais uma vez se demonstra que esse é um processo eminentemente político, a par de seus aspectos ideológicos e organizativos. Ligar o atual esforço de estruturação a uma maior presença na luta de massas é o modo de cumprir nosso papel, reafirmar a sadia radicalidade do partido, dar-lhe mais visibilidade e identidade própria para constituir uma maior base e influência de massa. Digressão... A coluna rende seu preito de homenagem à memória do bravo guerreiro JOÃO AMAZONAS. Foise com a serenidade dos que cumpriram sua missão. Os que ficamos, os comunistas de seu partido, educados por ele, seguiremos em frente com sua obra. Essencialmente, construir o PCdoB, pelo qual ele deu o melhor de sua energia ao longo de 67 anos. Que sua memória se perenize nesse esforço cotidiano de cada um de nossos militantes! Publicado em 31 de maio de 2002