Prof. Ismael Dantas [email protected] www.dantas.pro.br [11] 8517-1911 QUINHENTISMO Enquanto fomos país-colônia (1500/1822), a nossa expressão literária foi rigorosamente um prolongamento da literatura portuguesa. Com a chegada da família real ao Brasil (1808), podemos didaticamente dividir a nossa literatura em duas eras: Era Colonial (Quinhentismo, Barroco e Arcadismo) e Era Nacional (Arcadismo, Romantismo, Realismo, Simbolismo, Modernismo). O Quinhentismo brasileiro corresponde cronologicamente ao Classicismo português. Tem com marco inicial a Carta (1500) de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, ao rei Dom Manuel e se prolonga até a publicação do poema épico Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, que dá início ao período Barroco colonial. As duas manifestações literárias do Quinhentismo: Literatura Informativa dos Viajantes ou dos Cronistas (portugueses e estrangeiros). Deram informações sobre o novo mundo. Entre esses aventureiros destacamos: Pero Vaz de Caminha, Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de Sousa, Pero Lopes de Sousa, Jean de Léry e entre outros. Literatura Informativa dos Jesuítas. Teve início em 1549 com a chegada da primeira missão jesuítica ao Brasil, chefiada pelo Padre Manuel da Nóbrega. Podemos lembrar outros jesuítas como o Padre José de Anchieta, Padre Fernão Cardim. Esses padres tinham não só a finalidade de catequizar os índios, mas também de dar assistência religiosa e moral. ................................................................................................ .............................................................................................. 1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Descobrimento do Brasil O descobrimento do Brasil foi um capítulo das grandes navegações que, buscando o caminho das Índias (do Oriente) ampliaram o mundo conhecido nos fins da Idade Média. Para comandar a expedição, o monarca D. Manuel escolheu um fidalgo, Pedro Álvares Cabral (1468/1520]. A esquadra cabralina partiu com treze naus e com 1500 homens, entre capitães, marinheiros, missionários, soldados, funcionários, negociantes e agregados. No dia 22 de abril de 1500, a terra foi avistada, no litoral baiano (Porto Seguro). Entretanto, durante as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o município pernambucano do Cabo (atualmente Cabo de Santo Agostinho) reivindicou a prioridade do descobrimento, com a passagem do navegador espanhol Vicente Pinzón (1462-1515), no cabo de Santo de Santo Agostinho, litoral desse município, em 26 de janeiro de 1500. Cabo de Santo Agostinho – PE [2011] Posted by Sara ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................... 2 A viagem de Fernão de Magalhães A viagem de Fernão Magalhães ao redor do mundo (1519-1521) foi uma das grandes aventuras da época. Fome, tempestade, combate com os índios e tripulações amotinadas foram os grandes problemas do navegador, que veio a falecer na ilha de Cebu (Filipinas), quando lutava contra os selvagens. ................................................. ................................................. ................................................. ................................................................................................ Os Indígenas Quando os portugueses aportaram no Brasil, encontraram nossa terra habitada por desconhecidos seres humanos. Os naturais do país, logo conhecidos por índios, gentios, ameríndios, selvagens, eram de baixa estatura, rosto largo, olhos pretos e pequenos, nariz também pequeno e achatado, lábios espessos, cabelos longos e lisos e pouca barba. Sua origem permanece até hoje mal conhecida. (*) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ _______ (*)COSTA, Aída et alli. Admissão ao ginásio. São Paulo: Editora do Brasil, 1961. p. 346. 3 Expedições Colonizadoras Em 1501, Dom Manuel enviou para o Brasil uma expedição composta de três navios, comandada por Gaspar de Lemos, com a missão de reconhecer o litoral brasileiro. Nessa expedição também fazia parte o piloto Américo Vespucci. Os acidentes geográficos encontrados eram batizados de acordo com os santos do dia: cabo de São Roque (16 de agosto); cabo de Santo Agostinho (28 de agosto); rio São Francisco (4 de outubro); baía de Todos dos os Santos (1 de novembro); ilha de São Vicente (22 de janeiro) etc. Em 1503, a segunda expedição foi comandada por Gonçalo Coelho. Consta também a participação do piloto Américo Vespucci. Essa expedição foi organizada em função dum contrato assinado entre o Rei de Portugal e um grupo de comerciantes interessados na exploração do pau-brasil. Em 1520 e 1526, Portugal enviou duas expedições guarda-costas comandada por Cristóvão Jacques para combater o contrabando do pau-brasil praticado por piratas franceses e espanhóis. Essas expedições não foram bem sucedidas devido à extensão do litoral brasileiro. A Expedição de Martim Afonso de Sousa No reinado de Dom João III, «O Colonizador», em 1530, organizou a mais importante de todas as expedições, comandada por Martim Afonso de Sousa. A esquadra trazia cinco navios e uma tripulação de cerca de 400 tripulantes. A expedição tinha a missão de combater os corsários estrangeiros que comercializavam o comércio do pau-brasil, explorar a costa brasileira do Maranhão até o Rio da Prata e, ainda estabelecer núcleos de povoamento no litoral. Em 22 de Janeiro de 1532, fundou Martim Afonso a Vila de São Vicente, a primeira do Brasil e, por isso chamada «célula mater da nacionalidade». 4 Capitanias Hereditárias Em 1534, Portugal com a necessidade de diminuir as despesas com as expedições necessárias à defesa e colonização das costas brasileiras, resolve transferir essa tarefa para a iniciativa privada. Sistema que tinha dado bons resultados nas ilhas dos Açores e da Madeira. Pelo novo sistema, o Brasil foi divido em 15 capitanias ou donatarias e distribuídas entre homens ilustres que tinham destacados em lutas de ultramar. Entre os principais direitos dos donatários, podemos destacar os seguintes: podiam fundar vilas, povoados; distribuir terras aos colonos que quisessem povoar e cultivar; tinham o direito de escravizar índios para o seu serviço, bem como o de vendê-los nos mercados de Lisboa. De todas as capitanias somente duas deram resultados: a de Pernambuco (doada a Duarte Coelho) e a de São Vicente (doada a Martim Afonso de Sousa). Governo-Geral A Coroa portuguesa reconhecendo a fraqueza do sistema das capitânias hereditárias resolveu criar um governo geral. Os governadores foram os seguintes: Tomé de Sousa (1549-1553), Duarte da Costa (1553 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572). O primeiro Governador-Geral, Tomé de Sousa, chegou à Bahia no dia 29 de março de 1549, acompanhado de colonos e missionários jesuítas, entre os quais o Padre Manuel da Nóbrega. Esses missionários não só se dedicavam à catequese e civilização dos índios, mas também ainda à instrução e moralização dos colonos. Durante seu governo foi fundada a primeira capital do Brasil, Salvador. Nesse governo também se desenvolveu a cultura da cana- de- açúcar. [Chegada de Tomé de Sousa à Bahia, SP, Biblioteca Municipal] 5 Estácio de Sá partindo contra os franceses invasores do Rio de Janeiro. A Invasão Francesa Em 1555 uma esquadra francesa, comandada por Nicolau Durand de Villegaignon, desembarcou na baía de Guanabara (Rio de Janeiro) com objetivo de fundar uma colônia e que daria o nome de França Antártica. Essa invasão pendurou até 1567, ano em que os franceses foram, definitivamente, derrotados pelos portugueses. Em 1612, os franceses, liderados por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, ocuparam o Maranhão, onde permaneceram até 1615. Os Franceses chegaram a fundar um núcleo de povoamento chamado de «França Equinocial» e um forte chamado «Fort Saint Louis». Esse foi início da fundação da cidade de São Luís (8 de setembro de 1612). 6 FIGURAS ILUSTRES Pero Vaz de Caminha [Porto, Portugal; 1450? / Calicute, Índia; 1500] Escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. Em 1476, herdou do pai, Vasco Fernandes de Caminha, o cargo de mestre de Balança da Casa de Moema. Em 1497, Pero Vaz de Caminha foi escolhido, entre outros, para a redação dos Capítulos que seriam apresentados na reunião de Cortes marcada para 20 de janeiro de 1498 por D. Manuel. Pero Vaz de Caminha notabilizou-se pela Carta dirigida a D. Manuel em 1500, relatando o descobrimento da nova terra, o Brasil. ................................................................. ................................................................. .............................................................. Julgamento Crítico De Jaime Cortesão: “A Carta de Caminha não é um caso único. Pertence a um gênero, o mais vivo e original da literatura portuguesa: as narrativas de viagem.” (A Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo, 1943) De Francisco Augusto Pereira da Costa: “Caminha se revela um homem de regular instrução literária, criterioso e dotado de um espírito de observação muito aprimorado, sabendo além disso externar todos esses predicados com elegância e precisão.” (Carta de Pero Vaz de Caminha. Pernambuco, 1900) De Capistrano de Abreu: Caminha resume em poucas palavras todo o cabedal espiritual e material desta gente (os índios), com uma penetração maravilhosa.” (O Descobrimento do Brasil pelos portugueses. Rio de Janeiro, 1900) 7 Carta A missiva de Pêro Vaz de Caminha ficou inédita até 1817, quando Manuel Aires do Casal a inseriu na Corografia Brasílica, dada à estampa no Rio de Janeiro. Sua existência, porém, já havia sido acusada em 19 de janeiro de 1773, por José de Seabra da Silva, Guarda-mor da Torre do Tombo. Texto corrido, composto numa ordem que pressupõe começo, meio e fim, ocupa vinte e sete folhas. (*) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ Fragmentos da carta descrevendo os índios A feição deles é serem pardos maneiras d`avermelhados, de bons rostos e bons narizes bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostra o rosto. [...] Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobreponte, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena a pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar. [...] ................................................................................................ ................................................................................................ (*)MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1990. 8 Pero de Magalhães Gândavo [Braga, Portugal; ? / ..............?] De origem flamenga (o nome deriva de Gand). A sua estada no Brasil parece ter coincidido com o Governo-Geral de Mem de Sá (1558-1572). Exerceu o magistério de Latim em Portugal. Era amigo de Luís Vaz de Camões. “Cronologicamente, segundo sua própria confissão, é quem primeiro se abalança, inclusive com pretensões de fazer obra histórica, a escrever sobre o Brasil, onde viveu durante certo tempo. Dos trabalhos que compôs, a História da Província de Santa Cruz, que vulgarmente chamamos Brasil (1858), que data de 1576, é o mais conhecido. A sua obra, com exceção do título sobre a língua, é de intuito revelador da terra brasileira. Nela faz ligeira crônica histórica do descobrimento, das capitanias e da administração central. O restante é descrição das plantas, cereais, frutas, mamíferos, aves, repteis. Descreve, também, os costumes dos índios, não deixando de fazer a apologia da obra missionária jesuítica. Sobre os metais e pedras preciosas faz sempre entusiásticas alusões, inferidas de relatos indígenas.” (*) Obras: Tratado da Terra do Brasil (1570 – publicado em 1826); Regras que ensinam a maneira de escrever a ortografia portuguesa com um Diálogo que adiante se segue em defensão da mesma língua (1574); História da Província de Santa Cruz, que vulgarmente chamamos Brasil (1576). Os livros de Pero de Magalhães Gândavo são as melhores fontes da história brasileira, nos seus primeiros 70 anos. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ [GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil; história da província Santa Cruz. Belo Horizonte: Atatiaia, 1980.] (*)MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 173. 9 Gabriel Soares de Sousa [Lisboa? Portugal; 1540? / Santa Isabel de Paraguaçu; BA, 1591] Por volta de 1570, veio para o Brasil e torna-se próspero senhor de engenho na Bahia. Entre 1584 e 1590, encontra-se na corte de Madrid para obter direito à exploração de minas situadas nas cabeceiras do Rio São Francisco, herdada de seu irmão, João Coelho de Sousa. Obtida à concessão, parte novamente para o Brasil (Bahia), agora como «capitão-mor e governador da conquista e descobrimento do Rio São Francisco». Obra: Tratado Descritivo do Brasil 1587 ou, conforme a edição, Notícia do Brasil. “Dos cronistas da «América portuguesa» é talvez o mais rico e o mais interessante. Seu «tratado descritivo» inclui informações de toda natureza sobre a terra e a gente do Brasil, revelando espírito de observação incomum e saber quase enciclopédico.” [...] “Como os outros cronistas da época, denota acentuado nativismo e indisfarçavel orgulho em narrar as grandezas e superioridades do «novo mundo»” (*) “Como todas as coisas têm fim ...” (Notícia do Brasil) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................... ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................... (*)LUFT, Celso Pedro. Dicionário de literatura portuguesa e brasileira. Porto Alegre: Globo, 1979. p. 362. 10 Pero Lopes de Sousa [Portugal 1501? / Madagascar ? 1539] Navegador e cronista português que acompanha seu irmão, de Martim Afonso de Sousa, na expedição ao Brasil (1530). Realiza a exploração do Rio da Prata, colocando marcos da posse portuguesa (padrões). Em Pernambuco, combate os franceses que ali estão estabelecidos, restaurando a soberania portuguesa (1532). Durante o regime de capitanias hereditárias, D. João III doa-lhe três lotes de terra (Itamaracá, Santo Amaro e Santana). Obra: Diário da Navegação de Pero Lopes de Sousa 1530-1532. (descoberto por Varnhagen e publicado em 1839, em Lisboa). “A sua entrada para nossa história literária deve-se tão-somente ao relato que fez da sua viagem ao Brasil e que chegou até nós, incompleto. Esse texto, impropriamente chamado de Diário de Navegação, constitui uma das fontes mais preciosas que temos da primeira metade do século XVI, período em que escasseiam os documentos históricos sobre o Brasil. Nele, o autor revela-se grande prático na arte de navegar, descrevendo o itinerário litorâneo, os sucessos no mar e em terra, onde teve oportunidade de numerosos contatos com os indígenas, que lhe mereceram interessantes descrições, não só sobre a aparência, como sobre os usos e costumes. Do mesmo valor histórico, se bem que menos minudentes, são as referências aos personagens brancos de misteriosa procedência que encontra na terra, bem como aquelas aos entrelopos franceses surpreendidos em plena atividade.” (*) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ______ NOTAS: miudente – minucioso. entrelopo [ô] – contrabandista, aventureiro. [Bras.] comerciante marítimo que, no período colonial, infringia os monopólios de Portugal e Espanha. [Do ingl. interloper.] [pl. entrelopos (ô).] (*)MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 406. 11 Jean de Léry [Côte-d'Or, França; 1534 / Berna, Suíça; 1611] Pastor calvinista, viajante e escritor francês. Em 1556, com um grupo de ministros reformados, atendeu ao apelo de Nicolau Durand de Villegaignon no sentido de que seguissem para a França Antártica (Rio de Janeiro). As ocorrências nos dois anos que aqui viveu estão contadas no livro que publicou em 1578: «Narrativa de uma Viagem Feita à Terra do Brasil também dita América», que nas traduções recente tem o título reduzido de «Viagem à Terra do Brasil». Incompatibilizado na França Antártica, voltou à França. Em 1564, foi nomeado ministro em Nevers. ................................................................................................ ................................................................................................ “De acordo com relatos dos primeiros Europeus que por aqui passaram, principalmente Jean de Léry, um calvinista francês, os Tupinambás comiam seus adversários e acreditavam que com isso o espírito guerreiro do inimigo se incorporava ao seu”. ........................................................... ........................................................... ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ .............................................................................................. 12 Padre José de Anchieta [Tenerife, ilhas das Canárias; 1534 / Reritiba (hoje Anchieta), ES; 1597] Filho de pai de origem navarra, parente de Santo Inácio de Loyola, e mãe canarina, com algum sangue indígena (guanche). Ingressa na Companhia de Jesus. Em 1553, chega ao Brasil (Bahia), na comitiva de Duarte da Costa, segundo Governador-Geral. Ao lado do Padre Manuel da Nóbrega, desenvolve intensa atividade catequizadora. Colabora na fundação do Colégio de Piratininga (25/01/1554), núcleo da cidade de São Paulo. Dedica-se ao estudo da língua indígena. Obras: Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil (primeira gramática da língua tupi -1595); Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões (1554/1559 – editada em 1933); De Beata Virgine Dei Matre Maria (poema em latim, em louvor à virgem Maria); Na Festa de São Lourenço (teatro, 1583). Anchieta usa a arte métrica: redondilha menor e maior (tradição medieval). A poesia é de inspiração religiosa e moral. Quanto ao seu teatro, predomina a temática religiosa (ao modo dos autos de Gil Vicente). ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ .............................................................................................. 13 Julgamento Crítico De Edith Pimentel Pinto: “Primeiro professor, primeiro historiador, primeiro diplomata, primeiro literato do Brasil, Anchieta inaugura um sistema objectivo de produção cultural. A sua obra, que parte de uma formação clássica, logo depois, em contacto com a nova realidade brasileira, adapta-se à mesma e de consequência se renova quanto aos processos expressivos, tanto na prosa, quanto na produção lírica. Ainda que ligada ao grande projecto catequista da actividade jesuítica, a obra anchietana supera o primeiro plano utilitarista do qual nasce, para se transformar, predominantemente, em produto estético Autônomo”. [História da Literatura Brasileira – Sílvio Castro] ................................................................................................ ............................................................................................... De Afrânio Coutinho: “Anchieta não foi literato. Sua preocupação era a obra de catequese, inteiramente voltado a ela; é o Apostolo do Brasil. Humanista exímio, soube atingir a ingenuidade do nativo, e para ele compôs autos singelos como veículos de evangelização. Por isso lhe chamam iniciador do teatro brasileiro. «Irmão vindo ao Brasil em 1552, que deve ser considerado o iniciador da literatura brasileira pelas poesias que compôs, em Tupi e Português, autos que fez representar, sermões que orou, cartas e informações que escreveu.»” [Panorama da Literatura Brasileira – Afrânio Coutinho] ................................................................................................ ................................................................................................ De Manuel Bandeira: “Grande figura e grande obra desse passado medular é o Pe. Anchieta. Desde meninos aprendemos a amar a doçura formidável do canarinho que se tornou tão brasileiro quando ainda o Brasil estava nos limbos.” [Poesia e Prosa, Aguilar, Rio,1958, vol. II, pág. 1191.] ................................................................................................ ................................................................................................ 14 O Santíssimo Sacramento Ó que pão, ó que comida, ó que divino manjar se nos dá no santo altar cada dia! Filho da Virgem Maria, que Deus-Padre cá mandou e por nós na cruz passou crua morte, e para que nos conforte se deixou no sacramento, para dar-nos, com aumento, sua graça Igreja da Sé – São Paulo [by Dantas] esta divina fogaça é manjar de lutadores, galardão de vencedores esforçados, deleite de namorados, que, c’o gosto deste pão, deixam a deleitação transitória. Quem quiser haver vitória do falso contentamento, goste deste sacramento divinal. Este dá vida imortal, este mata toda fome, porque nele Deus e homem Se contêm. É fonte de todo bem, da qual quem bem se embebeda não tem medo da queda do pecado. 15 Ó que divino bocado, que tem todos os sabores! Vinde, pobres pecadores, a comer! Não tendes de que temer, senão de vossos pecados. Se forem bem confessados, isto basta, Qu’ este manjar tudo gasta, porque é fogo gastador, que com seu divino ardor tudo abrasa. É pão dos filhos de casa, com que sempre se sustentam e virtudes acrescentam de contino. Todo al é desatino, se não comer tal vianda com que a alma sempre anda satisfeita. (*) [...] ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................... ______ NOTAS: manjar – qualquer substância alimentar; iguaria delicada e apetitosa; [fig.] tudo que pode deleitar ou fortalecer o espírito. [Do it. mangiare «comer»] sacramento – rito destinado a conceder ou confirmar a graça concedida a um fiel. fogaça – pão grande e doce; bolo que se oferece à igreja em festas populares e é vendido em leilão. todo al – tudo o mais. vianda – alimento. (*)PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos, 36] p.13-15. 16 A Santa Inês Codeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Cordeirinha santa, de Iesu querida, vossa santa vinda o diabo espanta. Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo. Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tão pura. Vossa formosura honra é do povo, porque vossa vinda, lhe dá lume novo. Virginal cabeça pola fé cortada, com vossa chegada, já ninguém pereça. Vinde mui depressa ajudar o povo, pois, com vossa vinda, lhe dais lume novo. Vós sois, cordeirinha, de Iesu formoso, mas o vosso esposo já vos fez rainha. 17 Também padeirinha sois de nosso povo, pois, com vossa vinda, lhe dais lume novo. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ______ NOTAS: pola – pela folgar – estar de folgar; desapertar. Ter prazer com alguma coisa; alegrar-se com lume – fogo; luz. (*)PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos, 36] 18 Quando, Espírito Santo, se Recebeu uma Relíquia das Onze Mil Virgens I Diabo: Temos embargos, donzela, a serdes deste lugar. Não me queirais agravar, que, com espada e rodela, vos hei de fazer voltar. Se lá na batalha do mar me pisastes, quando as onze mil juntastes, que fizestes em Deus crer, não há agora assim de ser. Se, então, de mim triunfastes, hoje vos hei de vencer. Não tenho contradição em toda a Capitania. Antes, ela, sem porfia debaixo de minha mão se rendeu com alegria. Museu Anchieta – São Paulo by Dantas Cuido que errastes a via e o sol tomastes mal. Tornai-vos a Portugal, que não tendes sol nem dia, senão a noite infernal de pecados, em que os homens, ensopados aborrecem sempre a luz. Se lhes falardes na Cruz, dar-vos-ão, mui agastados, no peito, c’ um arcabuz. (Aqui dispara um arcabuz.) Anjo: Ó peçonhento dragão e pai de toda a mentira, que procuras perdição, com mui furiosa ira, contra a humana geração! 19 Tu, nesta povoação, não tens mando nem poder, pois todos pretendem ser, de todo seu coração, imigos de Lucifer. Diabo: Ó que valentes soldados! Agora me quero rir!... Mal me podem resistir os que fracos, com pecados, não fazem senão cair! Anjo: Se caem, logo me levantam, e outros ficam em pé. Os quais, com armas da fé, te resistem e te espantam, porque Deus com eles é. Que com excessivo amor lhes manda suas esposas - onze mil virgens formosas -, cujo contínuo favor dará palmas gloriosas. E para te dar maior pena, a tua soberba inchada quer que seja derribada por u’a mulher pequena. Diabo: Ó que cruel estocada m’ atiraste quando a mulher nomeaste! Porque mulher me matou, mulher meu poder tirou, e, dando comigo ao traste, a cabeça me quebrou. Anjo : Pois agora essa mulher traz consigo estas mulheres, que nesta terra hão de ser as que lhe alcançam poder para vencer teus poderes. 20 Diabo : Ai de mim, desventurado! (Acolhe-se Satanás.) Anjo - Ó traidor, aqui jarás de pés e mãos amarrado, pois que perturbas a paz deste pueblo sossegado! Diabo : Ó anjo, deixa-me já, que tremo desta senhora! Anjo - Contanto que te vás fora e nunca mais tornes cá. Diabo : Ora seja na má hora! (Indo-se, diz ao povo:) Ó, deixai-vos descansar sobre esta minha promessa: eu darei volta, depressa, a vossas casas cercar e quebrar-vos a cabeça! ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ______ NOTAS: embargo – impedimento, obstáculo. rodela – dim. de roda; pequena roda em disco; escudo redondo; [pop.] mentira. porfia – discussão; disputa. arcabuz – antiga arma de fogo portátil, espécie de bacamarte. imigo – apócope (= inimigo). [Apócope – supressão de fonema.] soberba [ê] – orgulho excessivo; arrogância. jarás – arc. (= jazerás). 21 Padre Manuel da Nóbrega [Minho, Portugal; 1517 / Rio de Janeiro, RJ; 1570] Forma-se em Cânones (Coimbra, 1541). Ingressa na recém-criada Companhia de Jesus (1544) e chega ao Brasil em 1549, juntamente com o primeiro Governador-Geral, Tomé de Sousa, chefiando a primeira Missão Jesuítica. Colabora na fundação da cidade de Salvador, a primeira capital do Brasil, e do Rio de Janeiro. Em 25 de janeiro de 1554, participa da fundação de São Paulo de Piratininga, atual cidade de São Paulo, juntamente com o Padre José de Anchieta. Dedica-se à catequese dos índios, mas procura respeitar sua cultura, combatendo apenas práticas como a poligamia e a antropofagia. Museu Anchieta – São Paulo [by Dantas] Obras: Cartas do Brasil (publicadas em conjunto em 1886); Diálogo Sobre a Conversão do Gentio (composto entre 1556 e 1558, e impresso em 1880). “Missionário exemplar, defensor dos Índios, animado dum grande amor ao Brasil, «a terra melhor do mundo», dedicou-se por inteiro à instrução e à catequese.” (*) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ (*)COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Figueirinha, 1985. p.733. 22 Padre Fernão Cardim [Viana de Alvito, Portugal; 1540? 1548?/ Abrantes, BA, 1625] Em 1555, entra para a Companhia de Jesus. Veio para o Brasil em 1583, para acompanhar o visitador Cristóvão de Gouveia e Manuel Teles Barreto, o primeiro governador- geral nomeado sob o domínio espanhol (1580). Faz longa peregrinação pelas capitanias da Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santos, Rio e São Vicente, acompanhado do visitador. Reitor do Colégio da Bahia e do Rio de Janeiro. Eleito Procurador do Brasil em Roma, segue para lá em 1598. De volta, em 1601, é preso e levado para Inglaterra pelo corsário Francis Cook, onde os seus manuscritos são furtados. Retorna ao Brasil em 1604, como Provincial, cargo exerce até 1609. Ocupa a reitoria da Bahia, quando os holandeses invadem a cidade. Obra: Tratados da Terra e Gente do Brasil (publicados no Brasil em 1925 por Afrânio Peixoto). “Cardim sentiu os encantos da Terra e a beleza e poesia das coisas, como se pode ver na descrição da Baía de Guanabara - «que bem parecia a pintara o supremo pintor e arquiteto do mundo» - nas referências à formosura dos arvoredos, dos rios, da passarada e até dos cantos e danças dos Índios.” (*) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... (*)COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Figueirinha, 1985. p. 152. 23 ATIVIDADES 01)ENEM -2009 Distantes uma da outra quase 100 anos, das duas telas seguintes, que integram o patrimônio cultural brasileiro, valorizam a cena da primeira missa no Brasil, relatada na carta de Pero Vaz de Caminha. Enquanto a primeira retrata fielmente a carta, a segunda- ao excluir a natureza e os índios – critica a narrativa do escrivão da frota de Cabral. Além disso, na segunda, não se vê a cruz fincada no altar. Ao comparar os quadros e levando-se em consideração a explicação dada, observa-se que [A] a influência da religião católica na caracterização do povo nativo é objeto das duas telas. [B] a influência dos índios na segunda tela significa que Portinari quis enaltecer o feito dos portugueses. [C] ambas, apesar de diferentes, retratam um mesmo momento e apresentam uma mesma visão do fato histórico. [D] a segunda tela, ao diminuir o destaque da cruz, nega a importância da religião no processo dos descobrimentos. [E] a tela de Vítor Meireles contribuiu para uma visão romantizada dos primeiros dias dos portugueses no Brasil. 24 02) Estudo do texto Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de Sousa, em 1549, e em pouco tempo se espalharam por outras regiões da colônia, permanecendo até sua expulsão, pelo governo de Portugal, em 1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é correto afirmar que [A] criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do barroco mineiro. [B] defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos direitos civis dos nativos. [C] foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da criação de colégios secundários e escolas de “ler e escrever”. [D] causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses religiosos, a preservação das culturas indígenas. [E] formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a incorporação da região amazônica ao domínio português. 03) Associe: [1] José de Anchieta [2] Pero de Magalhães Gândavo [ ] Tratado Descritivo do Brasil [ ] A Carta [3] Gabriel Soares de Sousa [ ] Na Festa de São Lourenço [4] Pero Lopes de Sousa [ ] História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil [5] Pero Vaz de Caminha [ ] Diário da Navegação da Armada que foi à terra do Brasil [6] Jean de Léry [ ] Viagem à Terra do Brasil 25 04) Estudo do texto: A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente história, e sair com ela à luz, foi por não haver até agora pessoa que a empreendesse, havendo já setenta e tantos anos que esta Província é descoberta. [................] parece cousa decente e necessária terem também os nossos naturais a mesma notícia, especialmente para que todos aqueles que nestes reinos vivem em pobreza não duvidem escolhê-la para seu amparo, porque a mesma terra é tal, e também favorável aos que a vão buscar, que a todos agasalha e convida com remédios por pobres e desamparados que sejam. E também há nela cousas dignas de grande admiração e tão notáveis que parecerá descuido e pouca curiosidade nossa, não fazer menção delas em algum discurso, e dá-las à perpetua memória, como costumavam os antigos. [CASTELO, J. Aderaldo. Manifestações literárias do período colonial; 1500-1808/1836] [A] Por que Gândavo resolveu escrever sua obra? ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ [B] Para quem em especial Gândavo escreve? ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ [C] Segundo o texto, qual será a grande utilidade do Brasil? ................................................................................................ ................................................................................................ 26 O5) Estudo do texto: O capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, com uma alcatifa aos pés, por estrado, e bem vestido com um colar de ouro muito grande ao pescoço. E Sancho de Tovar e Simão de Miranda e Nicolau Coelho e Aires Correia e nós outros que aqui vamos, com ele, na nau, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas e entraram; e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Mas, um deles viu o colar do Capitão e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal de prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal, como que havia, também prata. Mostraram-lhe um papagaio pardo que o Capitão aqui traz; tomararam-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia ali; mostararam-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma galinha e quase tiveram medo dela e não lhe quiseram pôr a mão; e depois pegaram como que espantados. Deram-lhe, então, de comer pão e peixe cozido, confeitos fartéis, mel e figos secos. Não quiseram comer daquilo, quase nada; e alguma coisa, se a provavam, lançavam-na logo fora. Trouxeram-lhe vinho por uma taça; puseram um pouco na boca e não gostaram nada dele, nem o quiseram mais. Trouxeram-lhe água, por uma albarrada; tomaram dela um uma pouca e não beberam. Somente levaram a boca e a lançaram fora. (*) A] Como se apresentava o capitão quando os índios subiram a bordo? ................................................................................................ ................................................................................................ B] Como os portugueses entenderam a reação do indígena diante do colar de ouro do capitão e do castiçal de prata? ................................................................................................ ............................................................................................ (*)VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). “Pero Vaz de Caminha” In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. [Literatura Comentada] 27 06) A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a «certidão de nascimento» do Brasil, pois: [A] Descreve meticulosamente os costumes indígenas e nossa fauna e flora. [B] Trata-se do primeiro texto sobre nosso país escrito em latim, a língua oficial da época. [C] Constitui a maior fonte de informações sobre o descobrimento do Brasil. [D] Documenta o primeiro século da colonização portuguesa aqui desenvolvida. 07) Enquanto gênero literário, as narrativas de viagem têm sua origem: [A] Nos tratados teológicos da Idade Média. [B] Na Odisseia, do grande poeta da Antiguidade, Homero. [C] Nas cartas enviadas pelos jesuítas ao papa. [D] Nos diários de bordos das navegações portuguesas. 08) A «literatura Jesuítica» nos primórdios de nossa história: [A] Tem grande valor informativo. [B] Marca nossa maturação clássica. [C] Visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral. [D] Está a serviço do poder central. [E] Tem fortes doses nacionalistas. Brasil O Brasil que, sem justiça, andava mui cego e torto, vós o metereis no porto se lançar de si a cobiça que de vivo o torna morto. [José de Anchieta] 28 09) O culto a natureza, característica da literatura brasileira, tem sua origem nos textos da literatura de informação. Assinale o fragmento da carta de Caminha que já revela a mencionada característica. [A] “Viu um deles umas contas rosário, brancas; acenou que lhes dessem, folgou muito com elas, e lanço-as ao pescoço.” [B] “Assim, quando o batel chegou a foz do rio, estavam ali dezoito ou vinte homens pardos todos nus sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas.” [C] “Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e indefinidas. De tal maneira é graciosa e querendo aproveita-las, dar-se-à nela tudo por bem das águas que tem.” [D] “Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.” [E] “Mostrara-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo, tornaramno logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os estavam ali.” 10) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que: [A] É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese. [B] Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. [C] É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica. [D] Os textos que a constituem apresentam evidentemente preocupação artística e pedagógica. [E] Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo. 29 11) Estudo do texto Dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, cerca de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, porque chegaram primeiro. Ali lançamos os batéis e esquifes à água e vieram logo todos os capitães das naves a esta nau do Capitão-mor e ali conversaram. E o Capitão mandou no batel, a terra, Nicolau Coelho para ver aquele rio; e quando começou a ir ara lá, acudiram, à Porto Beach [by Dantas - 07/01/10] praia, homens, aos dois e aos três. Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e eles os pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse porque o mar quebrava na costa. (*) Segundo Pero Vaz de Caminha, Nicolau Coelho não conseguiu comunicarse oralmente com os índios. O que alegou como causa? ................................................................................................ ................................................................................................ 12) Os primeiros escritos quinhentistas sobre o Novo Mundo o associam, constantemente, ao Paraíso Terrestre. Assinale as qualidades levantadas pelos cronistas para sustentar tal associação: [A] a fertilidade da terra; [B] a longevidade dos nativos; [C] a ausência de animais ferozes; [D] a abundância de pedras e metais preciosos; [E] o clima ameno e constante. (*)VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). “Pero Vaz de Caminha” In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. [Literatura Comentada] 30 Museu Anchieta – São Paulo, SP [02/2010] By Dantas 13) Identifique a escultura acima: [A] A índia Lindoia / José de Anchieta [B] A índia Bartira / Manuel da Nóbrega [C] A Iracema / José de Anchieta [D] A Iracema / Manuel da Nóbrega [E] A índia Bartira / José de Anchieta 14) As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura Brasileira referem-se a: [A] Literatura sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obras dos jesuítas). [B] Romances e contos dos primeiros colonizadores. [C] Poesia épica e prosa de ficção. [D] Obras de estilo clássico, renascentista. [E] Poemas românticos indianistas. 31 15) A literatura de informação corresponde às obras: [A] barrocas; [C] de jesuítas, cronistas e viajantes; [B] arcádicas; [D] do Período Colonial em geral. 16] Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha? [A] Observação do índio como um ser disposto à catequização. [B] Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical. [C] Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus costumes. [D] Composição sob forma de diário de bordo. [E] Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das descrições. 17) São características da poesia do Padre José de Anchieta: [A] a temática, visando a ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil; [B] linguagem cômica, visando a divertir os índios; expressão em versos decassílabos, como a dos poetas clássicos do século XV. [C] temas vários, desenvolvidos sem qualquer preocupação pedagógica ou catequética; [D] função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilha, o que permitia que fossem cantadas ou recitadas facilmente. 18) O Padre José de Anchieta não só escreveu: [A] um dicionário ou gramática da língua tupi; [B] sonetos clássicos, à maneira de Camões, seu contemporâneo; [C] poemas em latim, português, espanhol e tupi; [D] autos religiosos, à maneira do teatro medieval; [E] cartas, sermões, fragmentos históricos e informações. 32 19) Assinale as alternativas corretas e some os valores: 01) No período de 1500 a 1600, houve uma literatura sobre o Brasil. 02) A literatura informativa procura relatar as riquezas da terra descoberta. recém- 04) A literatura jesuítica se preocupa com a atividade da catequese. 08) Não se deve procurar na obra anchietiana as características da literatura clássica renascentista. 16) A poesia e o teatro de José de Anchieta inserem-se na tradição medieval (concepção teocêntrica do mundo, utilização de versos redondilhos, temática religiosa e moral, teatro alegórico.) 32) Anchieta não foi literato. Sua preocupação era obra de catequese, inteiramente voltado a ela; é o Apostolo do Brasil. 64) O Brasil descoberto em 1500 (na Bahia e/ou em Pernambuco), o processo de colonização e de formação social só ocorrerá depois do século XVII. ____ 20) Assinale as alternativas incorretas e some os valores: 01)As crônicas dos viajantes e os documentos informativos não possuem um caráter propriamente literário. 02) Além de cartas e relatórios de valor documental e histórico, o Padre José de Anchieta também escreveu poesia e teatro. 04) O Padre Manuel da Nóbrega chegou ao Brasil, acompanhado do governador Tomé de Sousa. Escreveu Tratados da Terra e Gente do Brasil. 08) Os escritos do Padre Manuel da Nóbrega (numerosas cartas, uma «informação das terras do Brasil» de 1549, um «Diálogo sobre a Conversão do Gentio» de1556-57) valem como documento histórico. 16) «Prosopopeia» é um poema de pretensão épica que dá início ao Barroco na Literatura Brasileira. Foi escrito para exaltar a Jorge de Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de Pernambuco. _____ [palavras- 6.583] 33 FONTE DE CONSULTA: AMORA, Antônio Soares. História da literatura brasileira (séculos XVI-XX). São Paulo: Saraiva, 1967. AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de e ELIA, Sílvio. As poesias de Anchieta em português: estabelecimento do texto e apresentação literária. Rio de Janeiro: Edições Antares; Brasília: INL, 1983. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1997. __________ . Dialética da colonização. São Paulo: Companhia Das Letras, 1992. CANDIDO, Antônio. Presença da literatura brasileira – das origens ao realismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. CASTELO, José Aderaldo. A literatura brasileira vol. I – manifestações literárias do período colonial (1500-1808/1836). São Paulo: Cultrix, 1981. COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Figueirinha, 1985. COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil- era barroca / era neoclássica. São Paulo: Global, 2001. [v.2] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. KOTHE, Flávio Rene. O cânone colonial: ensaio. Brasília: UnB, 1997. LUFT, Celso Pedro. Dicionário de literatura portuguesa e brasileira. Porto Alegre: Globo, 1979. MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira vol. I (1550-1794). São Paulo: Cultrix, 1977-78. MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira – origens, barroco, arcadismo. São Paulo: Cultrix, 1997. [v.I] _______________. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1999. MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1980. PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos, 36] SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. [Coleção Documentos Brasileiros, 74] VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Cultural, 1982. [Literatura Comentada] 34