Prof. Ismael Dantas
[email protected]
www.dantas.pro.br
[11] 8517-1911
QUINHENTISMO
Enquanto
fomos
país-colônia
(1500/1822), a nossa expressão literária
foi rigorosamente um prolongamento da
literatura portuguesa.
Com a chegada da família real ao
Brasil (1808), podemos didaticamente
dividir a nossa literatura em duas eras: Era
Colonial
(Quinhentismo,
Barroco
e
Arcadismo) e Era Nacional (Arcadismo,
Romantismo,
Realismo,
Simbolismo,
Modernismo).
O Quinhentismo brasileiro corresponde cronologicamente ao
Classicismo português. Tem com marco inicial a Carta (1500) de Pero Vaz
de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, ao rei Dom Manuel e
se prolonga até a publicação do poema épico Prosopopeia (1601), de Bento
Teixeira, que dá início ao período Barroco colonial.
As duas manifestações literárias do Quinhentismo:
Literatura Informativa dos Viajantes ou dos Cronistas (portugueses e
estrangeiros). Deram informações sobre o novo mundo. Entre esses
aventureiros destacamos: Pero Vaz de Caminha, Pero de Magalhães
Gândavo, Gabriel Soares de Sousa, Pero Lopes de Sousa, Jean de Léry e
entre outros.
Literatura Informativa dos Jesuítas. Teve início em 1549 com a
chegada da primeira missão jesuítica ao Brasil, chefiada pelo Padre Manuel
da Nóbrega. Podemos lembrar outros jesuítas como o Padre José de
Anchieta, Padre Fernão Cardim. Esses padres tinham não só a finalidade de
catequizar os índios, mas também de dar assistência religiosa e moral.
................................................................................................
..............................................................................................
1
CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
Descobrimento do Brasil
O descobrimento do Brasil
foi um capítulo das grandes
navegações que, buscando o
caminho das Índias (do Oriente)
ampliaram o mundo conhecido nos
fins da Idade Média. Para
comandar a expedição, o monarca
D. Manuel escolheu um fidalgo,
Pedro Álvares Cabral (1468/1520].
A esquadra cabralina partiu com
treze naus e com 1500 homens,
entre
capitães,
marinheiros,
missionários, soldados, funcionários, negociantes e agregados.
No dia 22 de abril de 1500, a terra foi avistada, no litoral baiano (Porto
Seguro).
Entretanto, durante as comemorações dos 500 anos do
descobrimento
do
Brasil,
o
município pernambucano do Cabo
(atualmente Cabo de Santo
Agostinho) reivindicou a prioridade
do
descobrimento,
com
a
passagem do navegador espanhol
Vicente Pinzón (1462-1515), no
cabo de Santo de Santo Agostinho,
litoral desse município, em 26 de
janeiro de 1500.
Cabo de Santo Agostinho – PE [2011]
Posted by Sara
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...............................................................................................
2
A viagem de Fernão de Magalhães
A viagem de Fernão Magalhães
ao redor do mundo (1519-1521) foi
uma das grandes aventuras da época.
Fome, tempestade, combate com os
índios e tripulações amotinadas foram
os grandes problemas do navegador,
que veio a falecer na ilha de Cebu
(Filipinas), quando lutava contra os
selvagens.
.................................................
.................................................
.................................................
................................................................................................
Os Indígenas
Quando os portugueses aportaram
no Brasil, encontraram nossa terra
habitada por desconhecidos seres
humanos. Os naturais do país, logo
conhecidos
por
índios,
gentios,
ameríndios, selvagens, eram de baixa
estatura, rosto largo, olhos pretos e
pequenos, nariz também pequeno e
achatado, lábios espessos, cabelos
longos e lisos e pouca barba. Sua
origem permanece até hoje mal
conhecida. (*)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
_______
(*)COSTA, Aída et alli. Admissão ao ginásio. São Paulo: Editora do Brasil, 1961. p. 346.
3
Expedições Colonizadoras
Em 1501, Dom Manuel enviou para
o Brasil uma expedição composta de três
navios, comandada por Gaspar de
Lemos, com a missão de reconhecer o
litoral brasileiro. Nessa expedição
também fazia parte o piloto Américo
Vespucci. Os acidentes geográficos
encontrados eram batizados de acordo
com os santos do dia: cabo de São
Roque (16 de agosto); cabo de Santo Agostinho (28 de agosto); rio São
Francisco (4 de outubro); baía de Todos dos os Santos (1 de novembro);
ilha de São Vicente (22 de janeiro) etc.
Em 1503, a segunda expedição foi comandada por Gonçalo
Coelho. Consta também a participação do piloto Américo Vespucci.
Essa expedição foi organizada em função dum contrato assinado entre
o Rei de Portugal e um grupo de comerciantes interessados na
exploração do pau-brasil.
Em 1520 e 1526, Portugal enviou duas expedições guarda-costas
comandada por Cristóvão Jacques para combater o contrabando do
pau-brasil praticado por piratas franceses e espanhóis. Essas
expedições não foram bem sucedidas devido à extensão do litoral
brasileiro.
A Expedição de Martim Afonso de Sousa
No reinado de Dom João III, «O
Colonizador», em 1530, organizou a mais
importante de todas as expedições,
comandada por Martim Afonso de Sousa. A
esquadra trazia cinco navios e uma
tripulação de cerca de 400 tripulantes. A
expedição tinha a missão de combater os
corsários estrangeiros que comercializavam
o comércio do pau-brasil, explorar a costa
brasileira do Maranhão até o Rio da Prata e,
ainda estabelecer núcleos de povoamento
no litoral.
Em 22 de Janeiro de 1532, fundou
Martim Afonso a Vila de São Vicente, a
primeira do Brasil e, por isso chamada «célula mater da nacionalidade».
4
Capitanias Hereditárias
Em
1534,
Portugal
com
a
necessidade de diminuir as despesas com
as expedições necessárias à defesa e
colonização das costas brasileiras, resolve
transferir essa tarefa para a iniciativa
privada. Sistema que tinha dado bons
resultados nas ilhas dos Açores e da
Madeira.
Pelo novo sistema, o Brasil foi divido
em 15 capitanias ou donatarias e
distribuídas entre homens ilustres que
tinham destacados em lutas de ultramar.
Entre os principais direitos dos
donatários,
podemos
destacar
os
seguintes: podiam fundar vilas, povoados;
distribuir terras aos colonos que
quisessem povoar e cultivar; tinham o
direito de escravizar índios para o seu
serviço, bem como o de vendê-los nos mercados de Lisboa.
De todas as capitanias somente duas deram resultados: a de
Pernambuco (doada a Duarte Coelho) e a de São Vicente (doada a Martim
Afonso de Sousa).
Governo-Geral
A Coroa portuguesa reconhecendo a
fraqueza do sistema das capitânias hereditárias
resolveu
criar
um
governo
geral.
Os
governadores foram os seguintes: Tomé de
Sousa (1549-1553), Duarte da Costa (1553 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572).
O primeiro Governador-Geral, Tomé de
Sousa, chegou à Bahia no dia 29 de março de
1549, acompanhado de colonos e missionários
jesuítas, entre os quais o Padre Manuel da
Nóbrega. Esses missionários não só se
dedicavam à catequese e civilização dos índios,
mas também ainda à instrução e moralização dos
colonos. Durante seu governo foi fundada a
primeira capital do Brasil, Salvador. Nesse
governo também se desenvolveu a cultura da
cana- de- açúcar. [Chegada de Tomé de Sousa à Bahia, SP, Biblioteca Municipal]
5
Estácio de Sá partindo contra os franceses invasores do Rio de Janeiro.
A Invasão Francesa
Em 1555 uma esquadra francesa, comandada por Nicolau Durand de
Villegaignon, desembarcou na baía de Guanabara (Rio de Janeiro) com
objetivo de fundar uma colônia e que daria o nome de França Antártica. Essa
invasão pendurou até 1567, ano em que os franceses foram, definitivamente,
derrotados pelos portugueses.
Em 1612, os franceses, liderados por Daniel de La Touche, Senhor de
La Ravardière, ocuparam o Maranhão, onde permaneceram até 1615. Os
Franceses chegaram a fundar um núcleo de povoamento chamado de
«França Equinocial» e um forte chamado «Fort Saint Louis». Esse foi início
da fundação da cidade de São Luís (8 de setembro de 1612).
6
FIGURAS ILUSTRES
Pero Vaz de Caminha
[Porto, Portugal; 1450? / Calicute, Índia; 1500]
Escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
Em 1476, herdou do pai, Vasco Fernandes de
Caminha, o cargo de mestre de Balança da Casa de
Moema. Em 1497, Pero Vaz de Caminha foi
escolhido, entre outros, para a redação dos
Capítulos que seriam apresentados na reunião de
Cortes marcada para 20 de janeiro de 1498 por D.
Manuel.
Pero Vaz de Caminha notabilizou-se pela
Carta dirigida a D. Manuel em 1500, relatando o
descobrimento da nova terra, o Brasil.
.................................................................
.................................................................
..............................................................
Julgamento Crítico
De Jaime Cortesão:
“A Carta de Caminha não é um caso único. Pertence a um gênero, o
mais vivo e original da literatura portuguesa: as narrativas de viagem.”
(A Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo, 1943)
De Francisco Augusto Pereira da Costa:
“Caminha se revela um homem de regular instrução literária,
criterioso e dotado de um espírito de observação muito aprimorado, sabendo
além disso externar todos esses predicados com elegância e precisão.”
(Carta de Pero Vaz de Caminha. Pernambuco, 1900)
De Capistrano de Abreu:
Caminha resume em poucas palavras todo o cabedal espiritual e material
desta gente (os índios), com uma penetração maravilhosa.”
(O Descobrimento do Brasil pelos portugueses. Rio de Janeiro, 1900)
7
Carta
A missiva de Pêro Vaz de Caminha ficou inédita até 1817, quando
Manuel Aires do Casal a inseriu na Corografia Brasílica, dada à estampa no
Rio de Janeiro. Sua existência, porém, já havia sido acusada em 19 de
janeiro de 1773, por José de Seabra da Silva, Guarda-mor da Torre do
Tombo. Texto corrido, composto numa ordem que pressupõe começo, meio
e fim, ocupa vinte e sete folhas. (*)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
............................................................................................
Fragmentos da carta descrevendo os índios
A feição deles é serem pardos maneiras
d`avermelhados, de bons rostos e bons narizes
bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura,
nem estimam nenhuma cousa cobrir nem
mostrar suas vergonhas e estão acerca disso
com tanta inocência como têm de mostra o rosto.
[...]
Os cabelos seus são corredios. E andavam
tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobreponte, de boa grandura e rapados até por cima
das orelhas. E um deles trazia por baixo da
solapa, de fonte a fonte para detrás, uma
espécie de cabeleira de penas de ave amarelas,
que seria do comprimento de um coto, mui basta
e mui cerrada, que cobria o toutiço e as orelhas.
E andava pegada aos cabelos, pena a pena,
com uma confeição branda como cera (mas não
o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui
igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar. [...]
................................................................................................
................................................................................................
(*)MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1990.
8
Pero de Magalhães Gândavo
[Braga, Portugal; ? / ..............?]
De origem flamenga (o nome deriva de Gand). A sua estada no Brasil
parece ter coincidido com o Governo-Geral de Mem de Sá (1558-1572).
Exerceu o magistério de Latim em Portugal. Era amigo de Luís Vaz de
Camões.
“Cronologicamente, segundo sua própria confissão, é quem primeiro se
abalança, inclusive com pretensões de fazer obra histórica, a escrever sobre
o Brasil, onde viveu durante certo tempo. Dos trabalhos que compôs, a
História da Província de Santa Cruz, que vulgarmente chamamos Brasil
(1858), que data de 1576, é o mais conhecido. A sua obra, com exceção do
título sobre a língua, é de intuito revelador da terra brasileira. Nela faz ligeira
crônica histórica do descobrimento, das capitanias e da administração
central. O restante é descrição das plantas, cereais, frutas, mamíferos, aves,
repteis. Descreve, também, os costumes dos índios, não deixando de fazer a
apologia da obra missionária jesuítica. Sobre os metais e pedras preciosas
faz sempre entusiásticas alusões, inferidas de relatos indígenas.” (*)
Obras: Tratado da Terra do Brasil (1570 – publicado em 1826); Regras
que ensinam a maneira de escrever a ortografia portuguesa com um Diálogo
que adiante se segue em defensão da mesma língua (1574); História da
Província de Santa Cruz, que vulgarmente chamamos Brasil (1576).
Os livros de Pero de Magalhães Gândavo são as melhores fontes da
história brasileira, nos seus primeiros 70 anos.
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
[GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil; história da província Santa Cruz. Belo
Horizonte: Atatiaia, 1980.]
(*)MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário da literatura brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1980. p. 173.
9
Gabriel Soares de Sousa
[Lisboa? Portugal; 1540? / Santa Isabel de Paraguaçu; BA, 1591]
Por volta de 1570, veio para o Brasil e torna-se próspero senhor de
engenho na Bahia. Entre 1584 e 1590, encontra-se na corte de Madrid para
obter direito à exploração de minas situadas nas cabeceiras do Rio São
Francisco, herdada de seu irmão, João Coelho de Sousa. Obtida à
concessão, parte novamente para o Brasil (Bahia), agora como «capitão-mor
e governador da conquista e descobrimento do Rio São Francisco».
Obra: Tratado Descritivo do Brasil 1587 ou, conforme a edição, Notícia
do Brasil.
“Dos cronistas da «América portuguesa» é talvez o mais rico e o mais
interessante. Seu «tratado descritivo» inclui informações de toda natureza
sobre a terra e a gente do Brasil, revelando espírito de observação incomum
e saber quase enciclopédico.” [...]
“Como os outros cronistas da época, denota acentuado nativismo e
indisfarçavel orgulho em narrar as grandezas e superioridades do «novo
mundo»” (*)
“Como todas as coisas têm fim ...” (Notícia do Brasil)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...............................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...............................................................................................
(*)LUFT, Celso Pedro. Dicionário de literatura portuguesa e brasileira. Porto Alegre: Globo, 1979. p. 362.
10
Pero Lopes de Sousa
[Portugal 1501? / Madagascar ? 1539]
Navegador e cronista português que
acompanha seu irmão, de Martim Afonso de
Sousa, na expedição ao Brasil (1530).
Realiza a exploração do Rio da Prata,
colocando marcos da posse portuguesa
(padrões). Em Pernambuco, combate os
franceses que ali estão estabelecidos,
restaurando a soberania portuguesa (1532).
Durante o regime de capitanias hereditárias,
D. João III doa-lhe três lotes de terra
(Itamaracá, Santo Amaro e Santana).
Obra: Diário da Navegação de Pero
Lopes de Sousa 1530-1532. (descoberto por Varnhagen e publicado em
1839, em Lisboa).
“A sua entrada para nossa história literária deve-se tão-somente ao
relato que fez da sua viagem ao Brasil e que chegou até nós, incompleto.
Esse texto, impropriamente chamado de Diário de Navegação, constitui uma
das fontes mais preciosas que temos da primeira metade do século XVI,
período em que escasseiam os documentos históricos sobre o Brasil. Nele, o
autor revela-se grande prático na arte de navegar, descrevendo o itinerário
litorâneo, os sucessos no mar e em terra, onde teve oportunidade de
numerosos contatos com os indígenas, que lhe mereceram interessantes
descrições, não só sobre a aparência, como sobre os usos e costumes. Do
mesmo valor histórico, se bem que menos minudentes, são as referências
aos personagens brancos de misteriosa procedência que encontra na terra,
bem como aquelas aos entrelopos franceses surpreendidos em plena
atividade.” (*)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
______
NOTAS:
miudente – minucioso.
entrelopo [ô] – contrabandista, aventureiro. [Bras.] comerciante marítimo que, no período colonial, infringia
os monopólios de Portugal e Espanha. [Do ingl. interloper.] [pl. entrelopos (ô).]
(*)MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário da literatura brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1980. p. 406.
11
Jean de Léry
[Côte-d'Or, França; 1534 / Berna, Suíça; 1611]
Pastor calvinista, viajante e escritor francês. Em 1556,
com um grupo de ministros reformados, atendeu ao apelo de
Nicolau Durand de Villegaignon no sentido de que
seguissem para a França Antártica (Rio de Janeiro). As
ocorrências nos dois anos que aqui viveu estão contadas no
livro que publicou em 1578: «Narrativa de uma Viagem Feita
à Terra do Brasil também dita América», que nas traduções
recente tem o título reduzido de «Viagem à Terra do Brasil».
Incompatibilizado na França Antártica, voltou à França.
Em 1564, foi nomeado ministro em Nevers.
................................................................................................
................................................................................................
“De acordo com relatos dos primeiros
Europeus
que
por
aqui
passaram,
principalmente Jean de Léry, um calvinista
francês, os Tupinambás comiam seus
adversários e acreditavam que com isso o
espírito guerreiro do inimigo se incorporava ao
seu”.
...........................................................
...........................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
..............................................................................................
12
Padre José de Anchieta
[Tenerife, ilhas das Canárias; 1534 / Reritiba (hoje Anchieta), ES; 1597]
Filho de pai de origem navarra,
parente de Santo Inácio de Loyola, e mãe
canarina, com algum sangue indígena
(guanche). Ingressa na Companhia de
Jesus. Em 1553, chega ao Brasil (Bahia),
na comitiva de Duarte da Costa, segundo
Governador-Geral. Ao lado do Padre
Manuel da Nóbrega, desenvolve intensa
atividade catequizadora. Colabora na
fundação do Colégio de Piratininga
(25/01/1554), núcleo da cidade de São
Paulo. Dedica-se ao estudo da língua
indígena.
Obras: Arte de Gramática da Língua
mais Usada na Costa do Brasil (primeira
gramática da língua tupi -1595); Cartas,
Informações, Fragmentos Históricos e
Sermões (1554/1559 – editada em 1933);
De Beata Virgine Dei Matre Maria (poema em latim, em louvor à virgem
Maria); Na Festa de São Lourenço (teatro, 1583).
Anchieta usa a arte métrica: redondilha menor e maior (tradição
medieval). A poesia é de inspiração religiosa e moral. Quanto ao seu teatro,
predomina a temática religiosa (ao modo dos autos de Gil Vicente).
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
..............................................................................................
13
Julgamento Crítico
De Edith Pimentel Pinto:
“Primeiro professor, primeiro historiador, primeiro diplomata, primeiro
literato do Brasil, Anchieta inaugura um sistema objectivo de produção
cultural. A sua obra, que parte de uma formação clássica, logo depois, em
contacto com a nova realidade brasileira, adapta-se à mesma e de
consequência se renova quanto aos processos expressivos, tanto na prosa,
quanto na produção lírica. Ainda que ligada ao grande projecto catequista da
actividade jesuítica, a obra anchietana supera o primeiro plano utilitarista do
qual nasce, para se transformar, predominantemente, em produto estético
Autônomo”.
[História da Literatura Brasileira – Sílvio Castro]
................................................................................................
...............................................................................................
De Afrânio Coutinho:
“Anchieta não foi literato. Sua preocupação era a obra de catequese,
inteiramente voltado a ela; é o Apostolo do Brasil. Humanista exímio, soube
atingir a ingenuidade do nativo, e para ele compôs autos singelos como
veículos de evangelização. Por isso lhe chamam iniciador do teatro
brasileiro. «Irmão vindo ao Brasil em 1552, que deve ser considerado o
iniciador da literatura brasileira pelas poesias que compôs, em Tupi e
Português, autos que fez representar, sermões que orou, cartas e
informações que escreveu.»”
[Panorama da Literatura Brasileira – Afrânio Coutinho]
................................................................................................
................................................................................................
De Manuel Bandeira:
“Grande figura e grande obra desse passado medular é o Pe. Anchieta.
Desde meninos aprendemos a amar a doçura formidável do canarinho que
se tornou tão brasileiro quando ainda o Brasil estava nos limbos.”
[Poesia e Prosa, Aguilar, Rio,1958, vol. II, pág. 1191.]
................................................................................................
................................................................................................
14
O Santíssimo Sacramento
Ó que pão, ó que comida,
ó que divino manjar
se nos dá no santo altar
cada dia!
Filho da Virgem Maria,
que Deus-Padre cá mandou
e por nós na cruz passou
crua morte,
e para que nos conforte
se deixou no sacramento,
para dar-nos, com aumento,
sua graça
Igreja da Sé – São Paulo
[by Dantas]
esta divina fogaça
é manjar de lutadores,
galardão de vencedores
esforçados,
deleite de namorados,
que, c’o gosto deste pão,
deixam a deleitação
transitória.
Quem quiser haver vitória
do falso contentamento,
goste deste sacramento
divinal.
Este dá vida imortal,
este mata toda fome,
porque nele Deus e homem
Se contêm.
É fonte de todo bem,
da qual quem bem se embebeda
não tem medo da queda
do pecado.
15
Ó que divino bocado,
que tem todos os sabores!
Vinde, pobres pecadores,
a comer!
Não tendes de que temer,
senão de vossos pecados.
Se forem bem confessados,
isto basta,
Qu’ este manjar tudo gasta,
porque é fogo gastador,
que com seu divino ardor
tudo abrasa.
É pão dos filhos de casa,
com que sempre se sustentam
e virtudes acrescentam
de contino.
Todo al é desatino,
se não comer tal vianda
com que a alma sempre anda
satisfeita. (*)
[...]
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...............................................................................................
______
NOTAS:
manjar – qualquer substância alimentar; iguaria delicada e apetitosa; [fig.] tudo que pode deleitar ou
fortalecer o espírito. [Do it. mangiare «comer»]
sacramento – rito destinado a conceder ou confirmar a graça concedida a um fiel.
fogaça – pão grande e doce; bolo que se oferece à igreja em festas populares e é vendido em leilão.
todo al – tudo o mais.
vianda – alimento.
(*)PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos, 36] p.13-15.
16
A Santa Inês
Codeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!
Cordeirinha santa,
de Iesu querida,
vossa santa vinda
o diabo espanta.
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
fugirá depressa,
pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.
Vossa formosura
honra é do povo,
porque vossa vinda,
lhe dá lume novo.
Virginal cabeça
pola fé cortada,
com vossa chegada,
já ninguém pereça.
Vinde mui depressa
ajudar o povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.
Vós sois, cordeirinha,
de Iesu formoso,
mas o vosso esposo
já vos fez rainha.
17
Também padeirinha
sois de nosso povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
............................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
............................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
______
NOTAS:
pola – pela
folgar – estar de folgar; desapertar. Ter prazer com alguma coisa; alegrar-se com
lume – fogo; luz.
(*)PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos, 36]
18
Quando, Espírito Santo, se Recebeu uma Relíquia das Onze Mil
Virgens
I
Diabo: Temos embargos, donzela,
a serdes deste lugar.
Não me queirais agravar,
que, com espada e rodela,
vos hei de fazer voltar.
Se lá na batalha do mar
me pisastes,
quando as onze mil juntastes,
que fizestes em Deus crer,
não há agora assim de ser.
Se, então, de mim triunfastes,
hoje vos hei de vencer.
Não tenho contradição
em toda a Capitania.
Antes, ela, sem porfia
debaixo de minha mão
se rendeu com alegria.
Museu Anchieta – São Paulo
by Dantas
Cuido que errastes a via
e o sol tomastes mal.
Tornai-vos a Portugal,
que não tendes sol nem dia,
senão a noite infernal
de pecados,
em que os homens, ensopados
aborrecem sempre a luz.
Se lhes falardes na Cruz,
dar-vos-ão, mui agastados,
no peito, c’ um arcabuz.
(Aqui dispara um arcabuz.)
Anjo: Ó peçonhento dragão
e pai de toda a mentira,
que procuras perdição,
com mui furiosa ira,
contra a humana geração!
19
Tu, nesta povoação,
não tens mando nem poder,
pois todos pretendem ser,
de todo seu coração,
imigos de Lucifer.
Diabo: Ó que valentes soldados!
Agora me quero rir!...
Mal me podem resistir
os que fracos, com pecados,
não fazem senão cair!
Anjo: Se caem, logo me levantam,
e outros ficam em pé.
Os quais, com armas da fé,
te resistem e te espantam,
porque Deus com eles é.
Que com excessivo amor
lhes manda suas esposas
- onze mil virgens formosas -,
cujo contínuo favor
dará palmas gloriosas.
E para te dar maior pena,
a tua soberba inchada
quer que seja derribada
por u’a mulher pequena.
Diabo: Ó que cruel estocada
m’ atiraste
quando a mulher nomeaste!
Porque mulher me matou,
mulher meu poder tirou,
e, dando comigo ao traste,
a cabeça me quebrou.
Anjo : Pois agora essa mulher
traz consigo estas mulheres,
que nesta terra hão de ser
as que lhe alcançam poder
para vencer teus poderes.
20
Diabo : Ai de mim, desventurado!
(Acolhe-se Satanás.)
Anjo - Ó traidor, aqui jarás
de pés e mãos amarrado,
pois que perturbas a paz
deste pueblo sossegado!
Diabo : Ó anjo, deixa-me já,
que tremo desta senhora!
Anjo - Contanto que te vás fora
e nunca mais tornes cá.
Diabo : Ora seja na má hora!
(Indo-se, diz ao povo:)
Ó, deixai-vos descansar
sobre esta minha promessa:
eu darei volta, depressa,
a vossas casas cercar
e quebrar-vos a cabeça!
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
............................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
______
NOTAS:
embargo – impedimento, obstáculo.
rodela – dim. de roda; pequena roda em disco; escudo redondo; [pop.] mentira.
porfia – discussão; disputa.
arcabuz – antiga arma de fogo portátil, espécie de bacamarte.
imigo – apócope (= inimigo). [Apócope – supressão de fonema.]
soberba [ê] – orgulho excessivo; arrogância.
jarás – arc. (= jazerás).
21
Padre Manuel da Nóbrega
[Minho, Portugal; 1517 / Rio de Janeiro, RJ; 1570]
Forma-se em Cânones (Coimbra, 1541).
Ingressa na recém-criada Companhia de Jesus
(1544) e chega ao Brasil em 1549, juntamente
com o primeiro Governador-Geral, Tomé de
Sousa, chefiando a primeira Missão Jesuítica.
Colabora na fundação da cidade de Salvador,
a primeira capital do Brasil, e do Rio de
Janeiro. Em 25 de janeiro de 1554, participa da
fundação de São Paulo de Piratininga, atual
cidade de São Paulo, juntamente com o Padre
José de Anchieta. Dedica-se à catequese dos
índios, mas procura respeitar sua cultura,
combatendo apenas práticas como a poligamia
e a antropofagia.
Museu Anchieta – São Paulo
[by Dantas]
Obras: Cartas do Brasil (publicadas em conjunto em 1886); Diálogo
Sobre a Conversão do Gentio (composto entre 1556 e 1558, e impresso em
1880).
“Missionário exemplar, defensor dos Índios, animado dum grande amor
ao Brasil, «a terra melhor do mundo», dedicou-se por inteiro à instrução e à
catequese.” (*)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
............................................................................................
(*)COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Figueirinha,
1985. p.733.
22
Padre Fernão Cardim
[Viana de Alvito, Portugal; 1540? 1548?/ Abrantes, BA, 1625]
Em 1555, entra para a Companhia de Jesus.
Veio para o Brasil em 1583, para acompanhar o
visitador Cristóvão de Gouveia e Manuel Teles
Barreto, o primeiro governador- geral nomeado sob
o domínio espanhol (1580). Faz longa peregrinação
pelas capitanias da Bahia, Ilhéus, Porto Seguro,
Pernambuco, Espírito Santos, Rio e São Vicente,
acompanhado do visitador. Reitor do Colégio da
Bahia e do Rio de Janeiro. Eleito Procurador do
Brasil em Roma, segue para lá em 1598. De volta,
em 1601, é preso e levado para Inglaterra pelo
corsário Francis Cook, onde os seus manuscritos
são furtados. Retorna ao Brasil em 1604, como
Provincial, cargo exerce até 1609. Ocupa a reitoria da Bahia, quando os
holandeses invadem a cidade.
Obra: Tratados da Terra e Gente do Brasil (publicados no Brasil em
1925 por Afrânio Peixoto).
“Cardim sentiu os encantos da Terra e a beleza e poesia das coisas,
como se pode ver na descrição da Baía de Guanabara - «que bem parecia a
pintara o supremo pintor e arquiteto do mundo» - nas referências à
formosura dos arvoredos, dos rios, da passarada e até dos cantos e danças
dos Índios.” (*)
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...........................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
...........................................................................................
(*)COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira. Porto: Figueirinha,
1985. p. 152.
23
ATIVIDADES
01)ENEM -2009
Distantes uma da outra quase 100
anos, das duas telas seguintes,
que integram o patrimônio cultural
brasileiro, valorizam a cena da
primeira missa no Brasil, relatada
na carta de Pero Vaz de Caminha.
Enquanto a primeira retrata
fielmente a carta, a segunda- ao
excluir a natureza e os índios –
critica a narrativa do escrivão da
frota de Cabral. Além disso, na
segunda, não se vê a cruz fincada
no altar.
Ao comparar os quadros e
levando-se em consideração a
explicação dada, observa-se que
[A] a influência da religião católica
na caracterização do povo nativo é
objeto das duas telas.
[B] a influência dos índios na
segunda tela significa que Portinari
quis enaltecer o feito dos
portugueses.
[C] ambas, apesar de diferentes,
retratam um mesmo momento e apresentam uma mesma visão do fato
histórico.
[D] a segunda tela, ao diminuir o destaque da cruz, nega a importância da
religião no processo dos descobrimentos.
[E] a tela de Vítor Meireles contribuiu para uma visão romantizada dos
primeiros dias dos portugueses no Brasil.
24
02) Estudo do texto
Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de
Sousa, em 1549, e em pouco tempo se espalharam por outras regiões da
colônia, permanecendo até sua expulsão, pelo governo de Portugal, em
1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é correto afirmar que
[A] criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do
barroco mineiro.
[B] defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos
direitos civis dos nativos.
[C] foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da
criação de colégios secundários e escolas de “ler e escrever”.
[D] causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses
religiosos, a preservação das culturas indígenas.
[E] formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a
incorporação da região amazônica ao domínio português.
03) Associe:
[1] José de Anchieta
[2] Pero de Magalhães Gândavo
[ ] Tratado Descritivo do Brasil
[ ] A Carta
[3] Gabriel Soares de Sousa
[ ] Na Festa de São Lourenço
[4] Pero Lopes de Sousa
[ ] História da Província de Santa
Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil
[5] Pero Vaz de Caminha
[ ] Diário da Navegação da Armada
que foi à terra do Brasil
[6] Jean de Léry
[ ] Viagem à Terra do Brasil
25
04) Estudo do texto:
A causa principal que me
obrigou a lançar mão da presente
história, e sair com ela à luz, foi por
não haver até agora pessoa que a
empreendesse, havendo já setenta e
tantos anos que esta Província é
descoberta. [................] parece cousa
decente e necessária terem também
os nossos naturais a mesma notícia,
especialmente para que todos
aqueles que nestes reinos vivem em
pobreza não
duvidem escolhê-la
para seu amparo, porque a mesma
terra é tal, e também favorável aos que a vão buscar, que a todos agasalha e
convida com remédios por pobres e desamparados que sejam. E também há
nela cousas dignas de grande admiração e tão notáveis que parecerá
descuido e pouca curiosidade nossa, não fazer menção delas em algum
discurso, e dá-las à perpetua memória, como costumavam os antigos.
[CASTELO, J. Aderaldo. Manifestações literárias do período colonial; 1500-1808/1836]
[A] Por que Gândavo resolveu escrever sua obra?
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
[B] Para quem em especial Gândavo escreve?
................................................................................................
................................................................................................
................................................................................................
[C] Segundo o texto, qual será a grande utilidade do Brasil?
................................................................................................
................................................................................................
26
O5) Estudo do texto:
O capitão, quando eles vieram, estava
sentado em uma cadeira, com uma
alcatifa aos pés, por estrado, e bem
vestido com um colar de ouro muito
grande ao pescoço. E Sancho de
Tovar e Simão de Miranda e Nicolau
Coelho e Aires Correia e nós outros
que aqui vamos, com ele, na nau,
sentados no chão, nessa alcatifa.
Acenderam-se tochas e entraram; e
não fizeram nenhuma menção de
cortesia nem de falar ao Capitão nem
a ninguém. Mas, um deles viu o colar
do Capitão e começou de acenar com
a mão para a terra e depois para o
colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e também viu um castiçal
de prata e da mesma forma acenava para terra e para o castiçal, como que
havia, também prata. Mostraram-lhe um papagaio pardo que o Capitão aqui
traz; tomararam-no logo na mão e acenaram para terra, como que os havia
ali; mostararam-lhe um carneiro e não fizeram caso dele; mostraram-lhe uma
galinha e quase tiveram medo dela e não lhe quiseram pôr a mão; e depois
pegaram como que espantados. Deram-lhe, então, de comer pão e peixe
cozido, confeitos fartéis, mel e figos secos. Não quiseram comer daquilo,
quase nada; e alguma coisa, se a provavam, lançavam-na logo fora.
Trouxeram-lhe vinho por uma taça; puseram um pouco na boca e não
gostaram nada dele, nem o quiseram mais. Trouxeram-lhe água, por uma
albarrada; tomaram dela um uma pouca e não beberam. Somente levaram a
boca e a lançaram fora. (*)
A] Como se apresentava o capitão quando os índios subiram a bordo?
................................................................................................
................................................................................................
B] Como os portugueses entenderam a reação do indígena diante do colar
de ouro do capitão e do castiçal de prata?
................................................................................................
............................................................................................
(*)VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). “Pero Vaz de Caminha” In: Cronistas e
viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. [Literatura Comentada]
27
06) A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a «certidão de
nascimento» do Brasil, pois:
[A] Descreve meticulosamente os costumes indígenas e nossa fauna e flora.
[B] Trata-se do primeiro texto sobre nosso país escrito em latim, a língua
oficial da época.
[C] Constitui a maior fonte de informações sobre o descobrimento do Brasil.
[D] Documenta o primeiro século da colonização portuguesa aqui
desenvolvida.
07) Enquanto gênero literário, as narrativas de viagem têm sua origem:
[A] Nos tratados teológicos da Idade Média.
[B] Na Odisseia, do grande poeta da Antiguidade, Homero.
[C] Nas cartas enviadas pelos jesuítas ao papa.
[D] Nos diários de bordos das navegações portuguesas.
08) A «literatura Jesuítica» nos primórdios de nossa história:
[A] Tem grande valor informativo.
[B] Marca nossa maturação clássica.
[C] Visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência
religiosa e moral.
[D] Está a serviço do poder central.
[E] Tem fortes doses nacionalistas.
Brasil
O Brasil que, sem justiça,
andava mui cego e torto,
vós o metereis no porto
se lançar de si a cobiça
que de vivo o torna morto.
[José de Anchieta]
28
09) O culto a natureza, característica da literatura brasileira, tem sua origem
nos textos da literatura de informação.
Assinale o fragmento da carta de Caminha que já revela a mencionada
característica.
[A] “Viu um deles umas contas rosário, brancas; acenou que lhes dessem,
folgou muito com elas, e lanço-as ao pescoço.”
[B] “Assim, quando o batel chegou a foz do rio, estavam ali dezoito ou vinte
homens pardos todos nus sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas
vergonhas.”
[C] “Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados como os
de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os
achávamos como os de lá. Águas são muitas e indefinidas. De tal maneira é
graciosa e querendo aproveita-las, dar-se-à nela tudo por bem das águas
que tem.”
[D] “Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar, me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela
deve lançar.”
[E] “Mostrara-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo, tornaramno logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os estavam
ali.”
10) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira,
é correto afirmar que:
[A] É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que
visavam à catequese.
[B] Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira.
[C] É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e
pela literatura jesuítica.
[D] Os textos que a constituem apresentam evidentemente preocupação
artística e pedagógica.
[E] Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao
relatar as condições encontradas no Novo Mundo.
29
11) Estudo do texto
Dali houvemos vista de homens que
andavam pela praia, cerca de sete
ou oito, segundo os navios
pequenos
disseram,
porque
chegaram primeiro. Ali lançamos os
batéis e esquifes à água e vieram
logo todos os capitães das naves a
esta nau do Capitão-mor e ali
conversaram. E o Capitão mandou
no batel, a terra, Nicolau Coelho
para ver aquele rio; e quando
começou a ir ara lá, acudiram, à
Porto Beach [by Dantas - 07/01/10]
praia, homens, aos dois e aos três.
Assim, quando o batel chegou à foz do rio estavam ali dezoito ou vinte
homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas
vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o
batel e Nicolau Coelho fez-lhes sinal para que deixassem os arcos e eles os
pousaram. Mas não pôde ter deles fala nem entendimento que aproveitasse
porque o mar quebrava na costa. (*)
Segundo Pero Vaz de Caminha, Nicolau Coelho não conseguiu comunicarse oralmente com os índios. O que alegou como causa?
................................................................................................
................................................................................................
12) Os primeiros escritos quinhentistas sobre o Novo Mundo o associam,
constantemente, ao Paraíso Terrestre. Assinale as qualidades levantadas
pelos cronistas para sustentar tal associação:
[A] a fertilidade da terra;
[B] a longevidade dos nativos;
[C] a ausência de animais ferozes;
[D] a abundância de pedras e metais preciosos;
[E] o clima ameno e constante.
(*)VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). “Pero Vaz de Caminha” In: Cronistas e
viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. [Literatura Comentada]
30
Museu Anchieta – São Paulo, SP [02/2010]
By Dantas
13) Identifique a escultura acima:
[A] A índia Lindoia / José de Anchieta
[B] A índia Bartira / Manuel da Nóbrega
[C] A Iracema / José de Anchieta
[D] A Iracema / Manuel da Nóbrega
[E] A índia Bartira / José de Anchieta
14) As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura
Brasileira referem-se a:
[A] Literatura sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obras
dos jesuítas).
[B] Romances e contos dos primeiros colonizadores.
[C] Poesia épica e prosa de ficção.
[D] Obras de estilo clássico, renascentista.
[E] Poemas românticos indianistas.
31
15) A literatura de informação corresponde às obras:
[A] barrocas;
[C] de jesuítas, cronistas e viajantes;
[B] arcádicas;
[D] do Período Colonial em geral.
16] Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha?
[A] Observação do índio como um ser disposto à catequização.
[B] Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical.
[C] Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus
costumes.
[D] Composição sob forma de diário de bordo.
[E] Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das
descrições.
17) São características da poesia do Padre José de Anchieta:
[A] a temática, visando a ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil;
[B] linguagem cômica, visando a divertir os índios; expressão em versos
decassílabos, como a dos poetas clássicos do século XV.
[C] temas vários, desenvolvidos sem qualquer preocupação pedagógica ou
catequética;
[D] função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilha, o que
permitia que fossem cantadas ou recitadas facilmente.
18) O Padre José de Anchieta não só escreveu:
[A] um dicionário ou gramática da língua tupi;
[B] sonetos clássicos, à maneira de Camões, seu contemporâneo;
[C] poemas em latim, português, espanhol e tupi;
[D] autos religiosos, à maneira do teatro medieval;
[E] cartas, sermões, fragmentos históricos e informações.
32
19) Assinale as alternativas corretas e some os valores:
01) No período de 1500 a 1600, houve uma literatura sobre o Brasil.
02) A literatura informativa procura relatar as riquezas da terra
descoberta.
recém-
04) A literatura jesuítica se preocupa com a atividade da catequese.
08) Não se deve procurar na obra anchietiana as características da literatura
clássica renascentista.
16) A poesia e o teatro de José de Anchieta inserem-se na tradição medieval
(concepção teocêntrica do mundo, utilização de versos redondilhos, temática
religiosa e moral, teatro alegórico.)
32) Anchieta não foi literato. Sua preocupação era obra de catequese,
inteiramente voltado a ela; é o Apostolo do Brasil.
64) O Brasil descoberto em 1500 (na Bahia e/ou em Pernambuco), o
processo de colonização e de formação social só ocorrerá depois do século
XVII.
____
20) Assinale as alternativas incorretas e some os valores:
01)As crônicas dos viajantes e os documentos informativos não possuem um
caráter propriamente literário.
02) Além de cartas e relatórios de valor documental e histórico, o Padre José
de Anchieta também escreveu poesia e teatro.
04) O Padre Manuel da Nóbrega chegou ao Brasil, acompanhado do
governador Tomé de Sousa. Escreveu Tratados da Terra e Gente do Brasil.
08) Os escritos do Padre Manuel da Nóbrega (numerosas cartas, uma
«informação das terras do Brasil» de 1549, um «Diálogo sobre a Conversão
do Gentio» de1556-57) valem como documento histórico.
16) «Prosopopeia» é um poema de pretensão épica que dá início ao
Barroco na Literatura Brasileira. Foi escrito para exaltar a Jorge de
Albuquerque Coelho, Capitão e Governador da Capitania de Pernambuco.
_____
[palavras- 6.583]
33
FONTE DE CONSULTA:
AMORA, Antônio Soares. História da literatura brasileira (séculos XVI-XX). São Paulo:
Saraiva, 1967.
AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de e ELIA, Sílvio. As poesias de Anchieta em português:
estabelecimento do texto e apresentação literária. Rio de Janeiro: Edições Antares;
Brasília: INL, 1983.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1997.
__________ . Dialética da colonização. São Paulo: Companhia Das Letras, 1992.
CANDIDO, Antônio. Presença da literatura brasileira – das origens ao realismo. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
CASTELO, José Aderaldo. A literatura brasileira vol. I – manifestações literárias do
período colonial (1500-1808/1836). São Paulo: Cultrix, 1981.
COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário das literaturas portuguesa, galega e brasileira.
Porto: Figueirinha, 1985.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil- era barroca / era neoclássica. São Paulo:
Global, 2001. [v.2]
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros da fase colonial. São
Paulo: Perspectiva, 1979.
KOTHE, Flávio Rene. O cânone colonial: ensaio. Brasília: UnB, 1997.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário de literatura portuguesa e brasileira. Porto Alegre: Globo,
1979.
MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira vol. I (1550-1794). São Paulo: Cultrix,
1977-78.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira – origens, barroco, arcadismo. São
Paulo: Cultrix, 1997. [v.I]
_______________. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1999.
MOISÉS, Massaud e PAES, José Paulo (Org.). Pequeno dicionário de literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 1980.
PORTELLA, Eduardo. Anchieta – poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1966. [Nossos Clássicos,
36]
SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1976.
VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
[Coleção Documentos Brasileiros, 74]
VOGT, Carlos e LEMOS, José Augusto Guimarães de. (Org.). Cronistas e viajantes. São
Paulo: Abril Cultural, 1982. [Literatura Comentada]
34
Download

Literatura Brasileira - Quinhentismo