16 Ademar Pozzatti Junior, Rafael de Miranda Santos & Ricardo Soares Stersi dos Santos o oprimido, mas como representação aos que não conseguem lugar em um contexto globalizante, capitalista, totalitário e excludente, no qual o “subalterno é sempre aquele que não pode falar, pois, se o fizer, já não o é” (SPIVAK, 1988, p. 275). Spivak (1988, p. 280) demonstra que a construção da história não consiste unicamente na identificação, elaboração e ordenação desinteressada de fatos sociais e dados históricos, mas sim constitui um processo de “violência epistêmica”, tendo como resultado a sujeição dos saberes, tal como analisados por Foucault (2005 e 2007). Spivak (1988, p. 280) diz que “o mais claro exemplo disponível de violência epistêmica é o remotamente orquestrado, estendido e heterogêneo projeto de constituir o sujeito colonial como o Outro”. Para Spivak (1988), o subalterno não é um sujeito que ocupa uma posição discursiva a partir da qual possa fazer uso da fala. Sendo assim, a voz do subalterno não existe, pois se o subalterno falasse ou se representasse teria começado a deixar de ser subalterno10. De modo que não se pode combater a violência epistêmica mediante a produção de textos que falam de uma posição nativista, pela simples razão que não há uma história nativista alternativa. Tal argumento nativista reproduz uma fantasia das origens que é puramente ocidental; quer dizer, reproduz a fantasia europeia sobre a sua própria origem. Spivak (1988, p. 280) diz que os que se limitam a inverter a dialética do colonizador mantêm-se dentro dos termos instaurados por ele. A inversão das oposições é um indício de que se é prisioneiro de seus termos ou de que estes termos foram intimamente aceitos, embora se denuncie sua hierarquia. De uma forma geral, esses são os estudos da subalternidade e os estudos pós-coloniais, cujas ideias irão repercutir na América Latina com o nome de estudos decoloniais. 2.2 Estudos decoloniais na América Latina A partir da década de 1990 vêm se destacando na América Latina os estudos ditos “decoloniais” (também encontrado como “descoloniais”). Eles 10 Para Spivak (1988), a condição de subalternidade é a condição do silêncio, ou seja, o subalterno carece necessariamente de um representante por sua própria condição de silenciado. Por um lado, observa-se a divisão internacional entre a sociedade capitalista regida pela lei imperialista e, por outro, a impossibilidade de representação daqueles que estão à margem ou centros silenciados. Sobressai aí o questionamento instigante de Spivak: os subalternos podem falar? Para tanto, propõe-se a produção de uma história que represente a narrativa da verdade dos subalternos.