Universidade de São Paulo Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto MARIA REGINA MARTINEZ Reatividade vascular de aortas isoladas de ratas ao término da gestação: participação de óxido nítrico e prostanóides Ribeirão Preto 2004 MARIA REGINA MARTINEZ Reatividade vascular de aortas isoladas de ratas ao término da gestação: participação de óxido nítrico e prostanóides Dissertação apresentada ao Departamento de Farmacologia Medicina de da Faculdade Ribeirão Preto de da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Farmacologia Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina de Oliveira Salgado Ribeirão Preto 2004 AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Martinez, Maria Regina Reatividade vascular de aortas isoladas de ratas ao término da gestação: participação de óxido nítrico e prostanóides./ Maria Regina Martinez; orientadora Maria Cristina de Oliveira Salgado. – Ribeirão Preto, 2004. 83 f. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Ciências. Área de Concentração: Farmacologia) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 1. Reatividade vascular. 2. Gravidez. 3. Óxido Nítrico. 4. Prostanóides. Dedico este trabalho ao meu companheiro e amigo Alexandre e ao meu filho Gabriel, pessoas que me inspiram e me amam todos os dias. Agradecimentos Agradeço a todos que, durante esses anos, contribuíram de diferentes formas para minha formação e para o desenvolvimento deste trabalho. Em especial agradeço: à Profa. Dra. Maria Cristina de Oliveira Salgado pela sua orientação, acolhimento e incentivo no desenvolvimento desse trabalho. Agradeço também as oportunidades que me deu para o meu desenvolvimento docente, o seu exemplo de dedicação à docência e a sua amizade. aos Professores Doutores Maria Cristina de Oliveira Salgado, Edson Antunes e Rubens Fazan Júnior pela disponibilidade em fazer parte da comissão julgadora dessa dissertação. ao Prof. Dr. Gustavo Ballejo Olivera pela sua colaboração nesse trabalho e pelas discussões desafiadoras que tanto me fizeram crescer cientificamente. aos técnicos do laboratório, Osmar Vettore e Orlando Mesquita, que dividiram seu conhecimento e me auxiliaram nos experimentos, colaborando para o meu crescimento técnico. Agradeço, ainda, sua amizade e sabedoria de vida que colaboraram para o meu desenvolvimento pessoal. aos colegas Sérgio, Kênia, Cristina, Herbert, Carlos, Marcos Caprio, Marcos Miranda e Murilo que já deixaram o laboratório, mas que me ensinaram muito sobre ciência e amizade. aos colegas de laboratório, Christiane, Disney, Luiz, Batata, Zé Vitor, Milene e Laura, por tornarem o meu dia-a-dia um constante aprendizado e divertimento. aos demais colegas da pós-graduação pela ajuda constante e alegre convivência. aos docentes do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pela transmissão de conhecimentos durante o curso de pós-graduação. aos docentes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pelas várias oportunidades de ministrar aulas em seus cursos, contribuindo, assim, para o meu desenvolvimento docente. aos funcionários da secretaria, Ramon, Sônia e Fátima, e do biotério, Eliana e Inês, pelo constante atenção e disponibilidade. à minha família, em especial meu marido Alexandre e meu filho Gabriel, que acompanharam meu trabalho desde os primeiros experimentos até a confecção da dissertação com muito amor e carinho. à Capes, pelo apoio financeiro concedido durante a realização desse trabalho. SUMÁRIO RESUMO......................................................................................................................8 ABSTRACT................................................................................................................10 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................12 1.1. Adaptações hemodinâmicas durante a gestação...............................12 1.2.Controle do tônus vascular durante a gestação..................................13 1.2.1. Participação do óxido nítrico....................................................15 1.2.2. Participação de prostanóides...................................................19 2. OBJETIVOS...........................................................................................................23 3. METODOLOGIA....................................................................................................25 3.1. Animais...............................................................................................25 3.2. Reatividade Vascular..........................................................................25 3.3. Influência da tensão passiva na reatividade vascular de anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas...............................................................26 3.4. Participação do NO e de prostanóides nas alterações de reatividade associadas ao término da gestação: importância da condição experimental...............................................................................................27 3.4.1. Experimentos utilizando 1 grama de tensão passiva inicial..................................................................................................28 3.4.2. Experimentos utilizando 0,5 grama de tensão passiva inicial..................................................................................................29 3.5. Drogas e substâncias utilizadas..........................................................29 4. ANÁLISE DOS DADOS.........................................................................................31 5. RESULTADOS.......................................................................................................33 6. DISCUSSÃO..........................................................................................................55 7. CONCLUSÕES......................................................................................................68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................70 Resumo MARTINEZ, M. R. Reatividade vascular de aortas isoladas de ratas ao término da gestação: participação de óxido nítrico e prostanóides. 2004. 83f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004. Ao final da gestação de ratas se observa hiporeatividade a agentes constritores que tem sido atribuída à produção alterada de óxido nítrico (NO) e prostanóides. Nesse estudo foi observada a participação dos derivados da sintase de NO (NOS) e ciclooxigenase (COX) nas alterações de reatividade vascular à fenilefrina (FE) durante a gestação, bem como a interferência da tensão passiva inicial na importância relativa dessas enzimas. Foi avaliada a resposta vasoconstritora à fenilefrina em anéis de aorta de ratas não grávidas (NG, fase estro do ciclo estral) e grávidas (G, 19o e 20o dias de gestação) com o endotélio íntegro ou lesado, e após -7 inibição da COX ou da NOS. Fixando a concentração de FE (10 M) e variando a tensão passiva inicial (0,25, 0,50, 0,75, 1 ou 2g) a que o anel foi submetido, foi observado aumento da magnitude da resposta vasoconstritora dependente do aumento do estiramento do tecido em G e NG, sendo anéis de aorta de G menos reativos à FE do que NG nas diferentes tensões. A retirada do endotélio, a inibição da NOS por L-NNA ou da COX por diclofenaco de sódio (DF) reverteram parcialmente essa hiporeatividade. A adição de concentrações cumulativas de FE em anéis de aorta de G e NG submetidos às tensões passivas de 0,5 e 1 g demonstrou, novamente, hiporeatividade associada à gestação. A retirada do endotélio foi capaz de igualar a resposta constritora à FE de G e NG. A inibição da via NOS/guanilato ciclase com L-NNA e ODQ aumentou a reatividade de G e NG não alterando as diferenças de ambos; no entando, utilizando 0,5 g de tensão passiva, a adição de L-NNA igualou a resposta constritora à FE de G e NG. A adição de DF diminuiu a reatividade de NG igualando os grupos nas tensões de 0,5 e 1,0 g. O relaxamento induzido por acetilcolina em vasos pré-contraídos com FE não foi alterado pela gestação. Os resultados sugerem que a hiporeatividade à fenilefrina em anéis de aorta de ratas ao término da gestação está relacionada a uma alteração da ação de fatores derivados do endotélio, da NOS e da COX, sendo que as condições iniciais determinam a importância relativa desses agentes. Palavras-chave: Reatividade vascular. Gravidez. Óxido Nítrico. Prostanóides. Abstract MARTINEZ, M. R. Vascular reactivity of isolated aorta of late pregnant rats: role of nitric oxide and prostaglandins. 2004. 83f. Disertation (Mestrado) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004. Late pregnancy is associated with diminished reactivity to vasoconstrictor agents that may be mediated by altered production/release of nitric oxide (NO) and prostaglandins. In the present study the role of NO synthase (NOS) and cyclooxygenase (COX) derived products in the altered vascular reactivity to phenylephrine (PE) was investigated in the isolated aorta of late-pregnant rats at different basal conditions. The vasoconstrictor response to PE was recorded in aorta rings of non-pergnant (NP, estrous) and late pregnant rats (P, 19- to 20 day) in the presence and absence of the endothelium, and with COX or NOS inhibition. The contractile response to PE (10-7 M) augmented with increasing resting tension from 0.25 to 2.0 g in both P and NP aorta; however, the responses in aortic rings from P were smaller at all passive tension employed. Endothelium removal or NOS inhibition with L-NNA or COX inhibition with sodium diclofenac (DF) attenuated but did not abolished the hyporesponsivity of P aorta. Concentration-response curves induced by PE were also attenuated in aortic rings of P compared with those of NP at both 0.5 and 1.0 g of resting tensions. Endothelium removal potentiated the constrictor response induced by PE in both P and NP aortas and abolished the difference between the groups. The NOS/guanilato cyclase pathway inhibition enhanced the PE-induced responses in P and NP but aortas of P maintained at 1.0 g of passive tension still respond less to PE; at 0.5 g of resting tension, however, L-NNA abolished the differences between P and NP. DF blunted PE-induced contraction only in NP aorta at both resting tensions and abolished the difference between P and NP aorta responses to PE. The relaxant responses of aortic rings to acetylcholine were not influenced by pregnancy. These results suggest that the refractoriness to PE-induced contraction observed in aortic rings of late-pregnant rats is related to altered production of NOS and COX endothelial factors. In addition, the basal conditions determine the relative contribution of these factors to the observed refractoriness to vasoconstrictor agent. Keywords: Vascular reactivity. Pregnancy. Nitric oxide. Prostanoids. 1. Introdução 12 1. Introdução 1.1. Adaptações hemodinâmicas durante a gestação A gestação de mulheres é caracterizada por diversas alterações hemodinâmicas. O volume sangüíneo aumenta cerca de 30%, sendo uma adaptação importante para a nutrição e oxigenação do feto e para a perda de cerca de 500 a 1000 ml de sangue que ocorre durante o parto. Há um incremento de 50% do débito cardíaco que está relacionado a um aumento do volume sistólico e da freqüência cardíaca. O volume sistólico está aumentado por um aumento do volume diastólico final acompanhado por uma manutenção da fração de ejeção e por um aumento da força contrátil, mantidos pelo remodelamento do ventrículo esquerdo (Hennessy e cols, 1996; Gilson e cols, 1997; Thornburg e cols, 2000). Embora o aumento do débito cardíaco acompanhado por aumento da freqüência cardíaca devesse levar a um aumento da pressão arterial, durante a gravidez humana observa-se exatamente o inverso. Nos dois primeiros trimestres de gestação há uma queda da pressão arterial média que se deve à diminuída resistência periférica (Chapman e cols, 1998). Adicionalmente, a diminuição da resistência periférica é acompanhada por uma diminuída resposta pressora a constritores como a angiotensina II (Gant e cols, 1973). Essas adaptações hemodinâmicas durante a gestação também são observadas em outras espécies animais. Em ratas, a diminuição da pressão arterial é progressiva, atingindo seu máximo ao término da gestação e retornando aos níveis de não grávidas após o parto (Teew & De Jong, 1973). Observa-se, também, durante a gestação desses animais, uma diminuída resposta pressora a 13 vasoconstritores como angiotensina II, vasopressina e noradrenalina (Teew & De Jong, 1973; Paller, 1984; Pan e cols, 1990), assim como hiporeatividade vascular a agentes constritores em vasos isolados (Aloamaka e cols, 1993; Cadorette e cols, 2000; Harrison & Moore, 1989; St-Louis & Sicotte, 1992; Ballejo e cols, 2002). Essas adaptações hemodinâmicas que acompanham a gravidez permitem que o feto se desenvolva adequadamente e que o sistema cardiovascular materno não sofra sobrecarga pelo aumento do volume sangüíneo circulante. No entanto, uma pequena parcela das mulheres grávidas desenvolve a pré-eclâmpsia, patologia relacionada à alta morbidade e mortalidade da mãe e do feto, caracterizada por aumento da pressão arterial e da resistência vascular periférica, proteinúria, redução do volume plasmático e hiperreatividade a agentes constritores (Visser & Wallenburg, 1991; VanWijk e cols, 2000). Não é completamente compreendida a patofisiologia da pré-eclâmpsia e o seu tratamento consiste no alívio dos sintomas e adiantamento do parto se necessário; portanto, um melhor entendimento do controle do tônus vascular durante a gestação normal poderá auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias para prevenção e controle dessa doença. 1.2. Controle do tônus vascular durante a gestação Na literatura encontramos diversos trabalhos investigando alterações de reatividade vascular durante a gestação. Podemos observar, no entanto, que os dados são inconclusivos, uma vez que variações na espécie animal, no leito vascular e nas condições experimentais produzem resultados distintos. A maioria dos trabalhos mostra uma hiporeatividade a constritores associada ao término da gestação. Vasos de condutância isolados de cobaias e 14 ratas grávidas, como aorta, apresentam hiporeatividade à fenilefrina, sendo que alguns trabalhos mostram diminuição da resposta máxima (Aloamaka e cols, 1993; Cadorette e cols, 2000) e outros deslocamento da curva concentração-efeito para a direita (Harrison & Moore, 1989; St-Louis & Sicotte, 1992; Ballejo e cols, 2002). Esses tecidos também apresentam diminuição da reatividade a outros agentes vasoconstritores como KCl e vasopressina (Aloamaka e cols, 1993; Cadorette e cols, 2000). No entanto, dois trabalhos de um mesmo laboratório mostram hiperreatividade de anéis de aorta a constritores associada ao término da gestação de ratas (Jansakul e cols, 1989 e 1990). A hiporeatividade durante a gestação também está presente em vasos de pequeno calibre de diferentes espécies animais. Em anéis de artéria mesentérica observa-se diminuição da reatividade a vasoconstritores como fenilefrina, noradrenalina e vasopressina, associada ao término da gestação em ratas e cobaias (Parent e cols, 1990; St-Louis e cols, 1995; Davidge & McLaughlin, 1992). Em leito arterial mesentérico isolado e perfundido, em ratas grávidas observa-se hiporeatividade à fenilefrina, à noradrenalina, à angiotensina II, à vasopressina, à endotelina e à estimulação elétrica perivascular em relação a preparações de ratas não grávidas (Chu & Beilin, 1993; Ralevic & Burnstock, 1996; Coelho e cols, 1997). Artérias uterinas de cobaias grávidas apresentam hiporeatividade à noradrenalina, serotonina e U46619 (um análogo do tromboxano) quando comparadas com artérias de não grávidas (Weiner e cols, 1991 e 1992). Em coelhas ao término da gestação se observa aumento da condutância de artérias mesentérica e femoral e hiporeatividade à noradrenalina e U46619 em arteríolas isoladas da musculatura esquelética (Brooks e cols, 2001; Ungvari e cols, 2002). 15 Tem sido proposto que essa hiporeatividade arterial aos vasoconstritores pode ser conseqüência de uma produção aumentada de autacóides vasodilatadores de origem endotelial, desde que em vários modelos a retirada do endotélio aumenta a reatividade e iguala as respostas à estimulação com vasoconstritores dos vasos obtidos de grávidas e não-grávidas. Dentre os autacóides vasodilatadores derivados do endotélio melhor caracterizados estão o óxido nítrico (NO) e a prostaciclina (PGI2). 1.2.1. Participação do óxido nítrico Em 1980, a partir do estudo de Furchgott e Zawadsky, ficou estabelecida a importância do endotélio para o controle do tônus vascular. Neste estudo, os pesquisadores demonstraram que o efeito vasodilatador da acetilcolina em vasos isolados dependia da liberação de um fator relaxante derivado do endotélio, o EDRF. Inicialmente, foi sugerido que o EDRF fosse um radical livre derivado do metabolismo do ácido araquidônico (Furchgott, 1984). Mais tarde, em 1987, Palmer e colaboradores demonstraram que cultura de células endoteliais de aorta liberava NO, detectável por quimioluminescência, em concentrações suficientes para produzir vasodilatação, mostrando que o EDRF era o NO. O NO é um radical livre biatômico, instável, que contém um elétron não pareado e que, portanto, pode reagir com qualquer composto oxidante fraco ou com agentes redutores (Kanner e cols, 1991) e pode difundir-se livremente através de membranas biológicas (Welch & Loscalzo, 1994). O NO é sintetizado pela enzima sintase de NO (NOS) que utiliza o aminoácido L-arginina como substrato (Palmer e cols, 1988). A síntese do NO pela 16 NOS implica inicialmente na formação do Nϖ-hidróxi-L-arginina (L-OHArg) pela monooxigenação da L-arginina dependente de NADPH e tetrahidrobiopiterina (BH4). Num segundo passo, a L-OHArg tem a ligação C=N clivada ocorrendo a formação de citrulina e NO. Em ambos os passos ocorre o consumo de NADPH e O2 (Alderton e cols, 2001). A NOS é uma enzima presente em uma grande variedade de células e que pode se apresentar sob as isoformas constitutivas (NOS neuronal ou endotelial) ou induzível. No vaso podemos encontrar expressas a NOS endotelial (NOSe) na camada endotelial (Knowles & Moncada, 1994) e a NOS neuronal (NOSn) na camada muscular (Papadaki e cols, 1998; Cheah e cols, 2002), além de poder haver expressão de NOS induzível após um estímulo apropriado tanto no endotélio como no músculo (Knowles e cols, 1990; Rees e cols, 1990). A NOSe é considerada uma enzima que depende da ligação do complexo cálcio-calmodulina para ser ativada. A formação desse complexo ocorre com o aumento da concentração de cálcio intracelular estimulado por agonistas dependentes ou independentes de receptor, como a acetilcolina e o ionóforo de cálcio A-23187 respectivamente. Uma forma de ativar a NOSe independentemente do aumento intracelular de cálcio é a fosforilação dessa enzima, que ocorre durante o estresse de cisalhamento (shear stress) induzido por fluxo por exemplo (Ayajiki e cols, 1996; Fleming & Busse, 1999). O NO gerado pela NOS se difunde pelas membranas e pode atingir a guanilato ciclase (GC) solúvel presente nas células musculares lisas, estimulando essa enzima a converter GMP em GMPc (Ignarro, 1992). A formação de GMPc induz relaxamento da musculatura lisa vascular (Rapoport & Murad, 1983). 17 A produção de NO pode ser inibida por análogos da L-arginina como Nωnitro-L-arginina (L-NNA) e Nω-nitro-L-arginina metil éster (L-NAME) (Moncada e cols, 1991; Chinellato e cols, 1998), que inibem de maneira competitiva a atividade da NOS. Outra maneira de impedir a ação do NO é utilizar inibidores de GC, como o 1H-[1,2,4]oxadiazol[4,3-a]quinoxalim-1-ona (ODQ; Schrammel e cols, 1995), ou seqüestradores de NO, como a hemoglobina (Gruetter e cols, 1981; Martin e cols, 1984). A infusão de inibidores da NOS em ratas grávidas e não grávidas aumenta e iguala a pressão arterial de ambas, além de restaurar a resposta pressora à angiotensina II, vasopressina e noradrenalina nas primeiras (Molnár & Hertelendy, 1992; Nathan e cols., 1995). Mas os mesmos inibidores em vasos isolados respondem de maneira diversa dependendo das condições experimentais. Chu e Beilin (1993), estudando reatividade vascular em leito arterial mesentérico de ratas ao término da gestação, perfundido in situ, observaram hiporeatividade vascular à noradrenalina, à estimulação elétrica perivascular e à angiotensina II em relação a preparações de ratas não grávidas. Essa hiporeatividade foi corrigida nos vasos estimulados com noradrenalina com uma infusão de L-NNA 30 min antes da administração do vasoconstritor; porém, esse tratamento, embora tenha aumentado a reatividade vascular de ratas grávidas e não grávidas, não foi capaz de igualar os grupos que sofreram estimulação elétrica perivascular ou administração de angiotensina II. No entanto, dados do nosso laboratório demonstram que a presença de L-NNA na solução de perfusão de leito arterial mesentérico isolado de ratas grávidas reverte a hiporeatividade à fenilefrina e à estimulação elétrica perivascular observada em relação a de não grávidas (Coelho e cols, 1997; Ballejo e cols, 2002). 18 A pré-incubação com L-NAME, outro inibidor da NOS, não reverte a hiporeatividade à fenilefrina associada ao término da gestação em anéis de artéria mesentérica isolada de ratas, apesar do aumento da reatividade a esse vasoconstritor observado em grávidas e não grávidas (Davidge & McLaughlin, 1992). No entanto, em nosso laboratório demonstramos que a presença de L-NNA em anéis de aorta de ratas é capaz de, além de aumentar a resposta dos vasos de grávidas e não grávidas, abolir as diferenças de reatividade à fenilefrina entre esses grupos (Ballejo e cols, 2002). Em outras espécies animais a importância do NO na hiporeatividade associada à gestação também não está bem elucidada. Em coelhas ao término da gestação, quando se observa a diminuição da pressão arterial e aumento da condutância de artérias aorta, mesentérica e femoral, a infusão de L-NNA não é capaz de igualar a pressão arterial e a condutância das artérias aorta e femoral de grávidas e não grávidas, porém elimina as diferenças de condutância mesentérica (Brooks e cols, 2001). Pretendendo investigar se somado às alterações de resposta contrátil a diferentes agentes constritores há alterações no relaxamento dependente do NO, vários estudos têm investigado a vasodilatação induzida por nitroprussiato de sódio, um doador de NO, e estimulada por substâncias que induzem a liberação de NO de maneira dependente ou independente de receptor como acetilcolina e ionóforo de cálcio A-23187, respectivamente. Em aorta de cobaias grávidas se observa um aumento da sensibilidade ao efeito vasodilatador da acetilcolina que é revertido por L-NNA (Gregg e cols, 1995). Em aorta de ratas grávidas, embora a maioria dos trabalhos não relate diferenças no efeito vasodilatador do nitroprussiato de sódio e de substâncias que induzem a liberação de NO (Honda e cols, 1998; Parent e cols, 19 1990; St-Louis & Sicotte, 1992; Whittemore e cols, 1994; Ballejo e cols, 2002), alguns trabalhos demonstram aumento do relaxamento induzido por acetilcolina e por A-23187 em relação a não grávidas (Goetz e cols, 1994; Dantas e cols, 1999). Além dos estudos funcionais, estudos moleculares sugerem que durante a gestação pode haver uma maior produção de NO. Goetz e cols (1994) encontraram aumento da quantidade de RNA mensageiro da NOSe em aorta torácica de ratas grávidas e Xu e cols (1996) encontraram aumento da expressão dessa enzima nesses mesmos tecidos e também em artérias mesentéricas. Magness e cols (1997) demonstraram aumento da expressão de NOSe na camada endotelial de artérias uterinas de ovelhas grávidas. Nelson e cols (2000) encontraram aumento da atividade e da expressão da NOSe em artérias uterinas de mulheres grávidas. Porém, em nosso laboratório não encontramos aumento da atividade cálciodependente da NOSe em aorta ou artéria mesentérica de ratas ao término da gestação (Ballejo e cols, 2002). Portanto, dependendo do animal, do vaso estudado e das condições a que ele é exposto podemos observar resultados diferentes, indicando que há a participação do NO e também de outros agentes vasoativos nas alterações de reatividade observadas. 1.2.2. Participação de prostanóides Além do NO, outras substâncias vasoativas, como prostanóides, são importantes moduladoras do tônus vascular, podendo participar da hiporeatividade associada à gestação. A produção desses agentes é regulada pela disponibilidade do ácido araquidônico e pela atividade da enzima ciclooxigenase (COX). Essa 20 enzima catalisa, a partir do ácido araquidônico, a formação de endoperóxido cíclico (PGG2), que sofre redução formando um outro endoperóxido cíclico, PGH2. Uma vez formado, PGH2 é convertido por diferentes enzimas a vários prostanóides, como prostaciclina (PGI2) e tromboxano (TxA2) (Goodwin e cols, 1999). Nos vasos, a PGI2 exerce importante função vasodilatadora que se sobrepõe à ação vasoconstritora do TxA2 (Davidge, 2001). Durante a gravidez humana há um aumento progressivo dos níveis plasmáticos de PGI2 e diminuição progressiva dos níveis de TxA2 (Wang e cols, 1991). Em ratas, há aumento da excreção de metabólitos urinários de prostanóides (Schafer e cols, 1993 e 1996) e em artérias uterinas de ovelhas há aumento da produção de prostaciclina basal e estimulada por angiotensina II (Magness & Rosenfeld, 1993). Adicionalmente, em aortas de ratas e em células endoteliais de artérias uterinas de ovelhas grávidas foi detectada maior expressão de COX (Davidge e cols, 1993; Habermehl e cols, 2000; Janowiak e cols, 1998). Em mulheres grávidas, Everett e cols (1978) observaram que o tratamento com indometacina ou aspirina, inibidores da COX, é capaz de aumentar a reatividade pressora à angiotensina II. De maneira semelhante em ratas, foi demonstrado que o tratamento com outro inibidor da COX, o meclofenamato, foi capaz de aumentar as respostas pressoras a angiotensina II, noradrenalina e vasopressina de grávidas igualando-as a de não grávidas (Paller, 1984). No entanto, em leito arterial mesentérico de rata perfundido in situ o pré-tratamento com indometacina aumentou a reatividade à noradrenalina e à estimulação elétrica perivascular mas não alterou as diferenças entre grávidas e não grávidas (Chu & Beilin, 1993) e em artérias mesentéricas e aortas torácicas isoladas de ratas a presença de meclofenamato não alterou a resposta contrátil à fenilefrina em grávidas 21 e não grávidas (Davidge & McLaughlin, 1992; Harrison & Moore, 1989). No entanto, em artérias uterinas isoladas de cobaias e arteríolas da musculatura esquelética de ratas grávidas há uma diminuição da sensibilidade ao tromboxano (verificada pelo efeito contrátil de doses cumulativas do seu análogo U46619) (Weiner e cols, 1992; Ungvari e cols, 2002). Esses dados sugerem que derivados da COX podem determinar a hiporeatividade a constritores associada à gestação, no entanto as condições experimentais podem mascarar sua participação. 2. Objetivos 23 2. Objetivos Gerais: Considerando as divergências encontradas na literatura sobre a importância da ação da NOS e da COX na determinação da hiporeatividade vascular associada à gestação, nesse trabalho nos propomos investigar os efeitos da inibição dessas enzimas na reatividade à fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas em diferentes situações experimentais. Específicos: 1. Identificar como as variações da tensão passiva inicial influenciam a hiporeatividade a fenilefrina observada durante a gestação de ratas; 2. Verificar se as alterações observadas com a variação da tensão passiva inicial dependem da produção de derivados da NOS ou COX; 3. Determinar se a inibição da produção de NO e/ou prostanóides altera a reatividade de anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas a concentrações crescentes experimentais diferentes. de fenilefrina em duas condições 3. Metodologia 25 3. Metodologia 3.1. Animais: Os experimentos foram realizados utilizando ratas Wistar (200g) provenientes do biotério Central do Campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Os animais foram mantidos no biotério do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, em sala com ciclos luz/escuro de 12 horas a 25 ± 2 °C, e foram alimentados com ração padrão e água ad libitum. Os animais foram divididos de modo que parte deles foi destinada a compor o grupo de ratas não grávidas e a outra parte foi submetida ao acasalamento. As ratas foram utilizadas ou no período final da gestação (19-20° dia), sendo que o dia "zero" de gestação foi determinado pela presença de espermatozóides no esfregaço vaginal matinal, ou na fase estro do ciclo estral. As fases do ciclo estral foram determinadas pela diferenciação celular observada no esfregaço vaginal das ratas, conforme demonstrado anteriormente por Montes & Luque (1988). 3.2. Reatividade Vascular: As ratas foram anestesiadas com tribromoetanol 2,5% (1 mL/100g de peso) e, em seguida, sacrificadas por decapitação. A seguir, a aorta torácica foi isolada e dissecada de tecidos conectivos e, de sua parte proximal, foram cortados anéis de aproximadamente 3 mm de largura. Dois ganchos de metal foram inseridos 26 no lúmen de cada anel. Um destes ganchos estava fixado à base da cuba e o outro conectado a um transdutor de força isométrica (FT 03, Grass Instrument Division, Astro-Med) acoplado a um amplificador (Gould Instrument Systems). Esse sistema foi conectado a um computador para registro, em gramas, da tensão isométrica. Para aquisição e análise dos dados foram utilizados, respectivamente, os softwares Summit for ACQuire e Data Viewer (Gould Instrument Systems). O anel de aorta permaneceu em cuba para órgão isolado contendo solução nutriente de Krebs (em mM: NaCl: 118; KCl: 4,7; CaCl2+2H2O: 2,5; MgSO4+7H2O: 1,64; KH2PO4: 1,18; NaHCO3: 24,9; Glicose: 11,1), com pH 7,4, mantida a 37°C e sob aeração constante com mistura carbogênica (95% O2 e 5% CO2). Antes do início de cada experimento, os anéis de aorta, após o equilíbrio em uma determinada tensão passiva, foram desafiados com uma concentração fixa de fenilefrina (10-7 M), um agonista α1-adrenérgico, até apresentarem respostas vasoconstritoras semelhantes; a presença do endotélio vascular foi verificada pela resposta vasodilatadora à acetilcolina (10-6 M) em preparações pré-contraídas com fenilefrina. Naqueles protocolos experimentais que pretendíamos verificar a importância da camada endotelial na reatividade vascular, foi realizada a retirada do endotélio, por meio de leve fricção do anel entre os dedos indicadores, antes do início do experimento. O sucesso do procedimento foi verificado pela ausência de resposta vasodilatadora à acetilcolina (10-6 M). 3.3. Influência da tensão passiva na reatividade vascular de anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas: 27 Para determinar a influência da tensão passiva sobre a resposta à fenilefrina em anéis de aorta de ratas virgens em estro e ao final da gestação foram realizados experimentos onde se fixou a concentração do vasoconstritor (10-7 M) e foi variada a tensão passiva a qual o anel estava submetido (0,25, 0,50, 0,75, 1,0 e 2,0 gramas). Após período de estabilização, a 0,25 g de tensão passiva, os anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas, foram estimulados com uma única concentração de fenilefrina e, após lavagem, a tensão passiva foi aumentada. Após nova estabilização, os anéis foram novamente estimulados com a mesma concentração de fenilefrina; este procedimento foi repetido a tensões crescentes. O incremento de tensão provocado pela adição do vasoconstritor foi chamado de tensão ativa. Com a finalidade de identificar o papel do endotélio vascular nessas preparações, foram utilizados anéis de aorta com ou sem a camada endotelial e, com o objetivo de identificar quais as substâncias responsáveis pelas alterações observadas durante a gestação nas diferentes tensões passivas, foram repetidos os experimentos na presença de inibidor da NOS (Nω-nitro-L-arginina - L-NNA – 100 µM) e de inibidor da COX (diclofenaco de sódio, 10 µM disponibilizado na solução nutriente de Krebs). 3.4. Participação do NO e de prostanóides nas alterações de reatividade associadas ao término da gestação: importância da condição experimental Para avaliar quanto a alteração da tensão passiva influenciava a participação de NO e prostanóides nas alterações de reatividade associadas à 28 gestação, foram construídas curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x106 M) em duas tensões passivas iniciais diferentes (0,5 e 1 gramas). 3.4.1. Experimentos utilizando 1 grama de tensão passiva inicial: A tensão passiva inicial de 1 grama foi escolhida por ser a menor tensão que permitia a maior visualização do efeito de 10-7 M de fenilefrina. A princípio foi verificado se as alterações de reatividade associadas à gestação dependiam da integridade do endotélio vascular, para tanto os experimentos foram realizados na presença e ausência da camada endotelial. Para avaliar a participação de alguns dos fatores vasoativos derivados do endotélio, como NO e derivados da COX, foram construídas curvas concentraçãoefeito para fenilefrina nos anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas. Os experimentos foram realizados na presença de L-NNA (100 µM) ou veículo (10 µl/ml de HCl 0,05 N), de diclofenaco de sódio (10 µM, disponibilizado na solução nutriente de Krebs) e de diclofenaco sódio e L-NNA simultaneamente. Para uma abordagem complementar da via NOS/NO/GMPc, também foram realizados experimentos na presença de 1H-(1,2,4)Oxadiazolo[4,3-a]quinoxaline-1-ona (ODQ, 25 µM), inibidor da guanilato ciclase, ou veículo (1 µl/ml de DMSO). Adicionalmente, com a intenção de verificar se nessas condições experimentais havia alteração na vasodilatação mediada por liberação de óxido nítrico, foram feitas curvas concentração-efeito para acetilcolina (ACh 10-8-10-5 M) em anéis de aortas de ratas grávidas e não grávidas pré-contraídos com 60 a 80% do efeito máximo da fenilefrina. 29 3.4.2. Experimentos utilizando 0,5 grama de tensão passiva inicial: Escolhemos 0,5 grama por ser uma tensão passiva que rotineiramente era utilizada no nosso laboratório e que permitiu a observação da participação da via NOS/NO durante a gestação em experimentos prévios utilizando anéis isolados de aorta de ratas (Ballejo e cols, 2002). Repetimos os experimentos com os inibidores de NOS e COX, realizando curvas concentração-efeito para fenilefrina nos anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas na presença de L-NNA (100 µM) ou veículo (10 µl/ml de HCl 0,05 N), de diclofenaco de sódio (10 µM, disponibilizado na solução nutriente de Krebs) e de diclofenaco sódio e L-NNA simultaneamente. 3.5. Drogas e substâncias utilizadas: Dentre as drogas: fenilefrina e L-NNA foram obtidos da Sigma; acetilcolina da Merck; diclofenaco de sódio e ODQ da Research Biochemicals International; e tribromoetanol 2,5% da Aldrich Chemical Company. Dentre os sais que compuseram a solução de Krebs: clroreto de sódio foi obtido de J.T. Baker; cloreto de potássio, cloreto de cálcio, bicarbonato de sódio e glicose da Merck; sulfato de magnésio da Vetec; fosfato de potássio da Mundial Química. 4. Análise dos dados 31 4. Análise dos dados As respostas vasoconstritoras são apresentadas como o aumento de tensão em gramas nos anéis de aorta a partir da tensão passiva inicial imposta e as respostas vasodilatadoras são expressas como porcentagem de relaxamento em relação à pré-contração com fenilefrina. Nos experimentos onde se variou a tensão passiva foi utilizado análise de variância (ANOVA) de duas vias e, quando diferenças significativas foram encontradas, foi aplicado o pós-teste de Bonferroni. Nos experimentos onde se realizaram curvas concentração-efeito os resultados são apresentados como média±erro padrão da média (EPM) dos valores de pD2 (-log EC50) e de efeito máximo (Emax). Os valores de pD2 para fenilefrina foram calculados por equação de regressão não-linear. Foram comparados os valores de Emax e pD2 das curvas concentração-efeito obtidas de anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas. Para a análise estatística foram utilizados teste t de Student e um valor de P<0,05 foi considerado estatisticamente diferente. Todos os testes estatísticos foram realizados utilizando o programa Graph Pad Prism versão 3.0, 1999. 5. Resultados 33 5. Resultados Inicialmente foram realizados experimentos que visavam verificar como as alterações na tensão passiva inicial modificavam a resposta vasoconstritora à fenilefrina em ratas não grávidas e grávidas. Em anéis de aorta de ratas não grávidas o aumento da tensão passiva inicial induziu aumento da reatividade à fenilefrina (P<0,001, ANOVA). A remoção mecânica do endotélio vascular aumentou a reatividade à fenilefrina demonstrando que fatores relaxantes endoteliais são responsáveis pela modulação do efeito vasoconstritor deste agonista α1-adrenérgico. A inibição da NOS com L-NNA aumentou a reatividade à fenilefrina de forma semelhante à retirada do endotélio sugerindo que o NO é o principal agente relaxante liberado pelo endotélio vascular que é capaz de modular a resposta vasoconstritora a esse agonista. A inibição da COX com diclofenaco promoveu diminuição da resposta vasoconstritora à fenilefrina em relação ao grupo controle (E+), indicando que parte do efeito constritor induzido pela estimulação de receptores α1-adrenérgicos em anéis de aorta de ratas não grávidas se deve a liberação de prostanóides constritores (FIG. 1). Embora a magnitude da resposta à fenilefrina possa ser modulada pelo endotélio, por NO e por derivados da COX, esses fatores não evitaram que essa resposta vasoconstritora fosse aumentada pelo estiramento do tecido, isto é, pelo aumento da tensão passiva, em anéis de aorta de ratas não grávidas. Ou seja, aumentos da tensão passiva promovem aumentos da tensão ativa induzida por fenilefrina, sendo que esses aumentos são amplificados pela retirada do endotélio e pela adição de L-NNA e deprimidos pela adição de diclofenaco. 34 Tensão Ativa (g) 2 E+ (n=10) E- (n=10) E+/ L-NNA (n=7) # E+/ DF (n=10) * 1 * * * * # # # 0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Tensão Passiva (g) FIGURA 1. Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas não grávidas com ou sem endotélio (E+ ou E-,respectivamente), na presença de L-NNA ou diclofenaco (DF). Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=7-10, *P<0,05, # P<0,01 ANOVA, em relação ao grupo E+). 35 Em anéis de aorta de ratas grávidas o aumento da tensão passiva inicial também induziu aumento reatividade à fenilefrina (P<0,05, ANOVA). A remoção mecânica do endotélio vascular, como nos anéis de aorta de ratas não grávidas, foi capaz de aumentar a reatividade à fenilefrina, demonstrando que, também durante a gestação, os fatores relaxantes endoteliais são responsáveis pela modulação do efeito vasoconstritor de agonistas α1-adrenérgicos. A inibição da NOS com L-NNA aumentou a reatividade à fenilefrina de forma semelhante à retirada do endotélio, como em não grávidas, sugerindo que o NO nesses vasos também é o principal agente relaxante liberado pelo endotélio vascular capaz de modular a resposta vasoconstritora a agonista α1-adrenérgico. A adição de diclofenaco não promoveu alterações na resposta vasoconstritora à fenilefrina sugerindo que, diferentemente de não grávidas, não há participação dos derivados da COX na vasoconstrição dependente da estimulação α1-adrenérgica em aortas de ratas grávidas (FIG. 2). Em anéis de aorta de ratas grávidas também se observou que o aumento da tensão ativa induzida por fenilefrina dependente do estiramento do tecido continua existindo apesar da retirada do endotélio e da pré-incubação com L-NNA ou diclofenaco. No entanto, o diclofenaco adicionado aos anéis de aorta de ratas grávidas não promoveu alterações em relação ao controle e, reproduzindo os dados observados nos vasos de não grávidas, a retirada do endotélio e a adição de L-NNA amplificaram o aumento da tensão ativa induzida por fenilefrina que se observava com o aumento do estiramento do tecido. 36 Tensão Ativa (g) 2 E+ (n=12) E- (n=11) E+/ L-NNA (n=7) E+/ DF (n=8) 1 * * * * * * * * # # 0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Tensão Passiva (g) FIGURA 2. Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas grávidas com ou sem endotélio (E+ ou E-, respectivamente), na presença de L-NNA ou diclofenaco (DF). Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=7-12, *P<0,01, #P<0,001 ANOVA, em relação ao grupo E+). 37 Nossos resultados demonstram que o aumento da tensão passiva inicial aumentou a reatividade à fenilefrina em anéis de aorta tanto de ratas grávidas como de não grávidas. Podemos observar, ainda, que há uma hiporreatividade a constritores associada à gestação que não é corrigida pelo estiramento do tecido, pelo contrário, as diferenças de reatividade, que se apresentam mais discretas nas menores tensões, são amplificadas nas maiores tensões. Adicionalmente, não houve interação da tensão com a gestação (FIG. 3 e 4). FIGURA 3. Registro representativo da contração induzida por fenilefrina (10-7 M) em anéis de aorta com o endotélio preservado de ratas grávidas e não grávidas nas tensões passivas de 0,25, 0,50, 0,75, 1 e 2 gramas. 38 Tensão Ativa (g) 1.5 NG G 1.0 * * * 0.50 0.75 1.00 0.5 ** 0.0 0.25 2.00 Tensão Passiva (g) FIGURA 4. Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) na presença do endotélio vascular (n=10-12, *P<0,01; ** P<0,001 ANOVA, G vs. NG). Assim, de acordo com nossos resultados, dependendo das condições experimentais impostas, a hiporeatividade durante a gestação pode ser mais ou menos claramente visualizada. A lesão do endotélio diminuiu a hiporeatividade vascular à fenilefrina de grávidas em relação a não grávidas, fazendo desaparecer as diferenças estatísticas observadas antes da retirada do endotélio nas tensões passivas de 0,5, 0,75 e 1 grama. No entanto, como o estiramento aumenta consideravelmente a vasoconstrição induzida por fenilefrina de não grávidas e altera pouco a de grávidas, 39 na tensão passiva de 2,0 gramas as diferenças de reatividade entre os grupos foram mantidas (FIG. 5). Tensão Ativa (g) 1.5 NG G * 1.0 0.5 0.0 0.25 0.50 0.75 1.00 2.00 Tensão Passiva (g) FIGURA 5. Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) na ausência do endotélio vascular (n=10-11, *P<0,05; ANOVA, G vs. NG). Esse resultado demonstra a importância da presença da camada endotelial para o controle do tônus vascular e para determinar parte das alterações vasculares observadas durante a gestação. Demonstra, ainda, a diminuída capacidade contrátil da musculatura lisa vascular durante a gestação evidenciada, principalmente, nas maiores tensões passivas. 40 A adição de diclofenaco de sódio, por reduzir o efeito contrátil da fenilefrina em não grávidas, diminuiu as diferenças de reatividade entre os grupos, fazendo desaparecer as diferenças observadas na ausência dessa droga nas tensões passivas de 0,5, 0,75 e 1 grama. Como o efeito vasoconstritor da fenilefrina nos anéis de aorta de ratas grávidas é pouco modificado pelo aumento da tensão passiva e nos anéis de aorta de não grávidas é aumentado, as diferenças de reatividade entre os grupos reaparecem na tensão de 2,0 gramas, maior tensão que utilizamos (FIG. 6). Esse dado sugere que parte da hiporeatividade à fenilefrina associada ao término da gestação está relacionada a alterações na produção de derivados da COX. Tensão Ativa (g) 1.5 NG G 1.0 * 0.5 0.0 0.25 0.50 0.75 1.00 2.00 Tensão Passiva (g) FIGURA 6. Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) na presença de 10 µM de diclofenaco (n=8-10, *P<0,001 ANOVA, G vs. NG). 41 A adição de L-NNA não modificou a diminuída reatividade à fenilefrina observada em ratas grávidas quando comparadas com não grávidas, embora tenha atenuado as diferenças observadas na ausência dessa droga nas tensões passivas de 0,5 e 0,75 gramas (FIG. 7A). Esse resultado mostra a pouca participação do NO na hiporeatividade da aorta a agonistas α1-adrenérgicos associada à gestação. A concentração utilizada de L-NNA foi eficaz em abolir a resposta vasodilatadora à acetilcolina (10-6 M) em ambos os grupos (FIG. 7B). % Relaxamento ACh 1.5 Tensão Ativa (g) B 125 A NG G NG G 100 75 50 25 0 Controle 1.0 * * 1.00 2.00 L-NNA 0.5 0.0 0.25 0.50 0.75 Tensão Passiva (g) FIGURA 7. A, Resposta vasoconstritora à fenilefrina (10-7 M) nas diferentes tensões passivas em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) na presença de 100 µM de LNNA. B, Relaxamento à acetilcolina (ACh, 10-6M) antes e após a adição de L-NNA (n=7, *P<0,05 ANOVA, G vs. NG). 42 Com a finalidade de verificar como a hiporeatividade à fenilefrina associada à gestação se manifestava com adições crescentes dessa droga, realizamos curvas com concentrações cumulativas desse vasoconstritor (10-9 – 3x10-6 M) em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas utilizando 1 grama como tensão passiva inicial. A fenilefrina foi capaz de induzir contrações dependentes da concentração nos anéis de aorta de ratas não grávidas e grávidas. Anéis de aorta com o endotélio preservado obtidos de ratas grávidas apresentaram diminuição da reatividade à fenilefrina quando comparados com os obtidos de ratas não grávidas, manifestada por diminuição de efeito máximo (FIG. 8). Esses resultados demonstram claramente a hiporeatividade associada ao término da gestação e confirmam os achados descritos na literatura. Tensão Ativa (g) 1.5 NG G 1.0 0.5 0.0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) NG G pD2 7,43±0,08 7,14±0,13 Emáx 1,04±0,09 0,61±0,05* * P<0,01 em relação à NG FIGURA 8. Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta com o endotélio preservado isolados de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) utilizando 1 grama de tensão passiva inicial. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=8). 43 A fim de identificar se a camada endotelial participa da hiporeatividade associada à gestação nesta condição experimental provocamos a lesão mecânica do endotélio. A remoção do endotélio vascular aumentou a eficácia em anéis de aorta de ratas grávidas (P<0,05) e a sensibilidade à fenilefrina em grávidas e não grávidas (P<0,001) quando comparado com os grupos com o endotélio preservado. Quando comparamos grávidas e não grávidas, a retirada do endotélio foi capaz de abolir as diferenças entre os grupos, evidenciando, portanto, a importância dos fatores endoteliais na determinação da hiporeatividade associada à gestação (FIG. 9). Tensão Ativa (g) 1.5 NG G 1.0 0.5 0.0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) NG G pD2 8,16±0,13 8,13±0,15 Emáx 1,10±0,09 1,02±0,14 FIGURA 9. Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta com o endotélio retirado isolados de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) utilizando 1 grama de tensão passiva inicial. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=8-11). 44 A adição de L-NNA aumentou a potência e a eficácia da fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas, e não foi capaz de alterar as diferenças de reatividade entre esses grupos (FIG. 10A). O relaxamento induzido por acetilcolina (10-6 M) foi completamente abolido com a concentração utilizada de LNNA, mostrando a eficácia da inibição da NOS (FIG. 10B). % Relaxamento ACh 125 A Tensão Ativa (g) 2 G NG G (L-NNA) NG (L-NNA) NG G 100 B 75 50 25 0 Controle L-NNA 1 0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle L-NNA NG G NG G pD2 7,23±0,05 7,12±0,09 7,95±0,07# 7,73±0,09# Emáx 0.96±0,04 0,73±0,04** 1,61±0,06# 1,31±0,09*# *P<0,05 e **P<0,01 em relação à NG; #P<0,001 em relação ao controle. FIGURA 10. A, Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) com o endotélio preservado na tensão passiva inicial de 1 grama na presença ou ausência de L-NNA. B, Porcentagem de relaxamento induzido por acetilcolina (ACh, 10-6 M) antes e após a adição de L-NNA em G e NG. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=8). 45 Com o intuito de confirmar a pouca participação do NO na hiporeatividade associada ao término da gestação na aorta na tensão passiva de 1 grama, utilizamos como segunda abordagem experimental a pré-incubação com ODQ, um inibidor de guanilato ciclase. A enzima guanilato ciclase é ativada pelo NO produzido nas células endoteliais e transforma GTP em GMP cíclico que, por sua vez, promove relaxamento da musculatura lisa vascular. A adição de ODQ em uma concentração capaz de abolir o relaxamento por acetilcolina (FIG. 11B), apesar de ter aumentado a potência e a eficácia da fenilefrina em ambos os grupos, como observado com a pré-incubação de L-NNA, não reverteu a hiporeatividade dos anéis de aorta de ratas no final da gestação em relação a ratas não grávidas (FIG. 11A). Esses dados reforçam a hipótese de que outros fatores vasoativos além da via NOS/NO/GMPc podem colaborar para as diferenças nas respostas vasculares entre grávidas e não grávidas. 46 3 G NG G (ODQ) NG (ODQ) 2 B 125 % Relaxamento ACh Tensão Ativa (g) A 1 NG G 100 75 50 25 0 Controle ODQ 0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle ODQ NG G NG G pD2 7,17±0,06 7,00±0,11 8,10±0,10* 7,86±0,11* Emáx 1,12±0,08 0,69±0,08* 2,47±0,28* 1,44±0,17*# * P<0,001 em relação ao controle; # P<0,001 em relação à NG FIGURA 11. A, Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) com o endotélio preservado na tensão passiva inicial de 1 grama na presença ou ausência de ODQ. B, Porcentagem de relaxamento induzido por acetilcolina (ACh, 10-6 M) antes e após a adição de ODQ em G e NG. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=5-7). 47 A inibição da COX com diclofenaco de sódio não promoveu nenhuma alteração da reatividade à fenilefrina nos anéis de aorta de ratas grávidas. Em não grávidas houve uma aparente redução de reatividade, no entanto quando comparamos o efeito máximo e o deslocamento na concentração que promove 50% do efeito máximo (pD2) não encontramos diferença significativa (P=0,054 e P=0,87, respectivamente, FIG. 12). Porém, esta pequena redução da reatividade à fenilefrina promovida pelo diclofenaco em não grávidas abole as diferenças associadas à Tensão Ativa (g) gestação. 1.5 NG G NG (DF) 1.0 G (DF) 0.5 0.0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle DF NG G NG G pD2 7,34±0,09 7,22±0,06 7,36±0,09 7,18±0,08 Emáx 1,09±0,07 0,81±0,09* 0,88±0,07 0,82±0,07 *P<0,05 comparado com NG FIGURA 12. Efeito da adição de diclofenaco (DF) na resposta vasoconstritora induzida por fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) com o endotélio preservado utilizando 1,0 grama de tensão passiva. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=7-9). 48 A inibição da NOS somada à inibição da COX aumentou a potência e a eficácia da fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas, como havíamos observado com a pré-incubação isolada de L-NNA, e manteve abolidas as diferenças entre os grupos, de forma semelhante à incubação de diclofenaco (FIG. 13A). A concentração de L-NNA utilizada foi capaz de abolir o efeito vasodilatador da acetilcolina em grávidas e não grávidas (FIG. 13B) A NG G 125 % Relaxamento ACh Tensão Ativa (g) 2 NG (DF+L-NNA) G (DF+L-NNA) 1 NG G B 100 75 50 25 0 Controle DF + L-NNA 0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle DF+L-NNA NG G NG G pD2 7,34±0,09 7,22±0,06 7,88±0,09** 7,66±0,04*** Emáx 1,09±0,07 0,81±0,09# 1,52±0,15* 1,42±0,11** *P<0,05, **P<0,01 ***P<0,001, comparado ao controle; #P<0,05 comparado com NG FIGURA 13. A, Efeito do L-NNA somado ao diclofenaco na resposta vasoconstritora induzida por fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) utilizando 1 grama de tensão passiva. B, Porcentagem de relaxamento induzido por acetilcolina (ACh, 10-6 M) antes e após a adição de L-NNA em G e NG. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=78). 49 Concentrações cumulativas de acetilcolina promoveram relaxamento concentração-dependente em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas précontraídos com 50 a 80% do efeito máximo da fenilefrina. Embora no grupo composto por ratas grávidas houve um aumento aparente da sensibilidade à acetilcolina, não foram encontradas diferenças significativas (P=0,064, FIG. 14). % Relaxamento 0 NG G 50 100 -8 -7 -6 -5 Acetilcolina (log M) NG G pD2 7,7±0,07 8,17±0,21 Emáx 97,3±4,2 107,7±5,3 FIGURA 14. Curvas concentração-efeito para acetilcolina (10-8 – 3x10-6 M) em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não-grávidas (NG) utilizando 1 grama de tensão passiva. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=6-7). 50 Com o objetivo de verificar como pequenas variações experimentais podem modificar a reatividade à fenilefrina em ratas grávidas, foram repetidas algumas abordagens utilizando 0,5 grama como tensão passiva inicial. A fenilefrina foi capaz de induzir contrações dependentes da concentração nos anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas. Anéis de aorta com o endotélio preservado obtidos de ratas grávidas apresentaram diminuição da reatividade à fenilefrina quando comparados com os obtidos de ratas não grávidas, manifestada por diminuição de efeito máximo e deslocamento da curva para a direita (FIG. 15). Esses resultados demonstram claramente a hiporeatividade associada ao término da gestação também nesta tensão passiva, confirmando os achados descritos na literatura. Tensão Ativa (g) 1.5 NG G 1.0 0.5 0.0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) NG G pD2 7,50±0,14 6,97±0,10* Emáx 0,92±0,04 0,65±0,04** * P<0,05, ** P<0,01 em relação a NG FIGURA 15. Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta com o endotélio preservado isolados de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) utilizando 0,5 grama de tensão passiva inicial. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=6-7). 51 A pré-incubação dos anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas com L-NNA utilizando 0,5 grama de tensão passiva inicial aumentou a potência e a eficácia da fenilefrina em ambos os grupos. Foi capaz, ainda, de igualar a reatividade à fenilefrina entre grávidas e não grávidas (FIG. 16A), confirmando dados obtidos previamente em nosso laboratório e demonstrando a importância de pequenas alterações nas condições experimentais para a visualização dos fatores que determinam a hiporeatividade associada à gestação. A concentração utilizada de L-NNA mostrou-se eficaz em abolir o efeito vasodilatador da acetilcolina (FIG. 16B). A NG 125 G NG (L-NNA) % Relaxamento ACh Tensão Ativa (g) 2 G (L-NNA) 1 NG G 100 75 50 25 0 Controle L-NNA 0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle L-NNA NG G NG G pD2 7,50±0,14 6,97±0,10# 7,89±0,08* 7,77±0,08** Emáx 0,92±0,04 0,65±0,04## 1,61±0,19** 1,50±0,08** * P<0,05, ** P<0,01 em relação ao controle; # P<0,05, ## P<0,01 em relação a NG FIGURA 16. A, Curvas concentração-efeito para fenilefrina (10-9 a 3x10-6 M) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta isolados de ratas grávidas (G) e não grávidas (NG) na tensão passiva inicial de 0,5 grama na ausência e presença de L-NNA. B, Porcentagem de relaxamento induzido por acetilcolina (ACh, 10-6 M) antes e após a adição de L-NNA em G e NG. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=57). B 52 A inibição da COX com diclofenaco de sódio em 0,5 grama de tensão passiva, como nos experimentos realizados com 1 grama, não promoveu nenhuma alteração da reatividade à fenilefrina nos anéis de aorta de ratas grávidas. Em não grávidas, novamente houve uma aparente redução de reatividade, no entanto, quando comparamos o efeito máximo e o deslocamento na concentração que promove 50% do efeito máximo (pD2) não encontramos diferença significativa (P=0,36 e P=0,08, respectivamente, FIG. 17). Porém, esta pequena redução da reatividade à fenilefrina promovida pelo diclofenaco em não grávidas, novamente em 0,5 grama de tensão passiva, aboliu as diferenças associadas à gestação. 1.5 NG Tensão Ativa (g) G NG (DF) 1.0 G (DF) 0.5 0.0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle DF NG G NG G pD2 7,50±0,14 6,97±0,10* 7,10±0,15 7,10±0,15 Emáx 0,92±0,04 0,65±0,04** 0,84±0,08 0,73±0,09 * P<0,05, ** P<0,01 em relação a NG FIGURA 17. Efeito da adição de diclofenaco na resposta vasoconstritora induzida por fenilefrina (10-9 a 3x10-6) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não-grávidas (NG) utilizando 0,5 grama de tensão passiva. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=5-7). 53 A adição de L-NNA ao diclofenaco aumentou a potência e a eficácia da fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas, como havíamos observado somente com a inibição da NOS, e aboliu as diferenças entre os grupos de forma semelhante à incubação de diclofenaco (FIG. 18A). A concentração utilizada de L-NNA mostrou-se eficaz em abolir o efeito vasodilatador da acetilcolina (FIG. 18B). A NG G 125 % Relaxamento ACh Tensão Ativa (g) 2 NG (DF+L-NNA) G (DF+L-NNA) 1 NG G B 100 75 50 25 0 Controle DF + L-NNA 0 -9 -8 -7 -6 -5 Fenilefrina (log M) Controle DF + L-NNA NG G NG G pD2 7,50±0,14 6,97±0,10 7,91±0,08* 7,81±0,07** Emáx 0,92±0,04 0,65±0,04 1,51±0,13** 1,62±0,12** *P<0,05, **P<0,01, comparado ao controle FIGURA 18. A, Efeito da somatória de diclofenaco e L-NNA na resposta vasoconstritora induzida por fenilefrina (10-9 a 3x10-6) e valores de pD2 e efeito máximo (Emáx) obtidos em anéis de aorta de ratas grávidas (G) e não-grávidas (NG) utilizando 0,5 grama de tensão passiva. B, Porcentagem de relaxamento induzido por acetilcolina (ACh, 10-6 M) antes e após a adição de L-NNA em G e NG. Os pontos representam a média±EPM dos experimentos realizados (n=5-7). 6. Discussão 55 6. Discussão Inicialmente neste estudo determinamos a influência da tensão passiva sobre a resposta à fenilefrina em anéis de aorta de ratas virgens na fase estro do ciclo estral e de ratas grávidas ao final da gestação. Nosso objetivo era verificar se diferentes condições iniciais poderiam alterar a reatividade vascular durante a gestação, explicando, assim, parte das divergências sobre a participação do NO e/ou prostanóides encontradas na literatura (Davidge & McLaughlin, 1992; Ballejo e cols, 2002; Brooks e cols, 2001; Paller, 1984; Harrison & Moore, 1989) Observamos que existe uma relação entre o estiramento do tecido, imprimido pela tensão passiva inicial, e a reatividade a um agonista α1-adrenérgico, como a fenilefrina, em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas. Em nossos experimentos, quanto maior foi a tensão passiva inicial a que o tecido foi exposto, maior foi a tensão ativa desenvolvida em resposta ao estímulo contrátil. Esse resultado já era esperado, visto que na literatura há diversos relatos do efeito do estiramento na contratilidade de vasos isolados. Sparks e Bohr (1962) demonstraram que o aumento do estiramento de tiras helicoidais de ramificações da artéria mesentérica superior de cão aumenta o efeito vasoconstritor induzido por estímulo elétrico ou por agonista como epinefrina. Esse achado foi reproduzido mais tarde por Peipre e cols (1973), em tiras helicoidais de artéria coronária suína, e por Dobrin (1973), em artéria carótida de cão. Toda e cols (1978), além de confirmarem o aumento da tensão ativa desenvolvida a diferentes agentes vasoconstritores em diferentes vasos de cão relacionado ao aumento da tensão passiva, estudaram o relaxamento induzido por adenosina em tiras de artéria cerebral, encontrando um aumento do efeito vasodilatador correspondente ao aumento da tensão passiva. 56 Nosso trabalho acrescenta aos dados já conhecidos que o efeito do estiramento sobre a contratilidade induzida por fenilefrina em anéis de aorta está alterado ao fim da gestação de ratas. Embora o estiramento do vaso tenha determinado um aumento da resposta vasoconstritora à fenilefrina tanto no grupo de não grávidas como de grávidas, observamos que estas últimas são muito menos reativas ao estímulo vasoconstritor. Esse dado nos permite concluir que os vasos de ratas grávidas são mais resistentes ao estímulo contrátil mesmo quando expostos a aumentos crescentes do estiramento. Um dos mecanismos que poderia explicar essa refratariedade a vasoconstritores associada à gestação que não responde ao estiramento vascular é uma redução na mobilização de cálcio extracelular. Investigando a contração induzida por vasopressina em artéria mesentérica de rata, St-Louis e cols (1995) encontraram diminuição da sensibilidade a esse vasoconstritor durante a gravidez e a incubação de nifedipina, um bloqueador de canal de cálcio operado por voltagem, produziu deslocamento da curva concentração-efeito para a direita de grávidas e não grávidas de modo a sobrepor as curvas. Esse dado sugere que parte da hiporeatividade a constritores se deve a uma menor capacidade de mobilização de cálcio extracelular durante a gestação. Ademais o NO, que aparentemente está aumentado durante a gestação, pode modular parte da mobilização do cálcio extracelular visto que experimentos, utilizando aorta de ratas grávidas, demonstraram que o tratamento prévio com L-NAME aumenta o influxo de cálcio após estímulo com fenilefrina ou KCl (Crews e cols, 1999). A retirada do endotélio, bem como a inibição da NOS com L-NNA, demonstrou que fatores relaxantes endoteliais, dentre eles principalmente o NO, 57 modulam o efeito constritor da fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas nas diferentes tensões passivas. Essa liberação de NO capaz de modular o efeito constritor da fenilefrina pode se dar de maneira espontânea ou estimulada pelo próprio agonista ou pela contração per se. Como nosso modelo experimental não permite a visualização de qualquer efeito relaxante sem a prévia pré-contração do vaso, não conseguimos afirmar a existência de uma produção espontânea de NO, embora seja uma hipótese pertinente. Quanto à estimulação por fenilefrina os são dados controversos. Há evidências que a ativação de receptores α1-adrenérgicos estimulam o influxo de cálcio na célula endotelial, podendo, portanto, ativar a NOSe (Tuttle & Falcone, 2001); por outro lado, outros experimentos demonstram que a fenilefrina não é capaz de alterar a formação de GMPc quando adicionada em anéis de aorta de ratos (Martin e cols, 1986). Finalmente, alguns achados sugerem que a contração per se seria capaz de aumentar a liberação de NO (Fleming e cols, 1999). Nossos resultados demonstram que a retirada do endotélio ou a adição de L-NNA não foram capazes de abolir a diminuída reatividade observada durante a gestação nos anéis de aorta submetidos a maiores tensões passivas, sugerindo que o aumento da produção de NO não é o bastante para explicar as alterações de reatividade vascular observadas nessa condição. Em anéis de aorta de ratas não grávidas observamos que parte do efeito constritor da fenilefrina se deve à produção de prostanóides constritores, desde que a adição de diclofenaco diminuiu a responsividade vascular a esse agonista. Fatores constritores derivados da COX participam do efeito vasoconstritor induzido por fenilefrina em anéis de aorta de ratas não grávidas, mas parecem ausentes em anéis de aorta de ratas grávidas. Esse desaparecimento dos fatores 58 constritores derivados da COX ou a ineficácia do efeito dos mesmos em induzir contração vascular parece determinar parte da hiporesponsividade vascular a constritores observada nesses animais durante a gestação. Verificamos, ainda, em nossos experimentos que, embora tenha havido um aumento da magnitude da resposta à fenilefrina após a retirada do endotélio ou inibição da NOS em anéis de aorta de grávidas e não grávidas e diminuição dessa resposta após a inibição da COX em preparações obtidas de ratas não grávidas, esses tratamentos não evitaram que a resposta vasoconstritora α1-adrenérgica fosse aumentada pelo estiramento do tecido. Esses dados estão de acordo com os achados de Dainty e cols (1990) que demonstraram que a retirada do endotélio em anéis de aorta de rato não altera o aumento da resposta à fenilefrina induzido pelo aumento da tensão passiva. Comparando a resposta a concentrações cumulativas de fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas em relação a não grávidas nas tensões passivas de 0,5 e 1 gramas pudemos observar uma diminuição da reatividade associada à gestação, confirmando os resultados encontrados nos experimentos anteriores onde fixamos a concentração de fenilefrina e variamos a tensão passiva inicial. Esses achados confirmam, ainda, a maioria dos dados da literatura, embora nem todos os trabalhos tenham observado a diminuição de efeito máximo que nós observamos em ambas as tensões (Aloamaka e cols, 1993; Cadorette e cols, 2000; St-Louis & Sicotte, 1992; Ballejo e cols, 2002). Após a retirada do endotélio observamos aumento da resposta contrátil à fenilefrina em anéis de aorta de grávidas e não grávidas submetidos à 1 grama de tensão passiva, confirmando os dados obtidos anteriormente nas diferentes tensões. Esse aumento da resposta contrátil sugere que o endotélio é capaz de liberar 59 substâncias vasodilatadoras que modulam o tônus vascular. No mínimo três substâncias diferentes já foram identificadas: prostaciclina, NO e fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF). A prostaciclina é o principal metabólito da COX nas células endoteliais e induz relaxamento, embora alguns trabalhos demonstrem que o aumento da concentração dessa substância é capaz de contrair aorta isolada de rato (Vam Dam e cols, 1986; Williams e cols, 1994). No entanto, a prostaciclina não parece ter importância no controle do tônus vascular no nosso modelo experimental, visto que a inibição da COX com diclofenaco não aumentou a reatividade à fenilefrina. O NO é reconhecidamente o principal modulador do tônus vascular, sendo que o tratamento de animais com inibidores da NOS é capaz de induzir aumento mantido da pressão arterial (Resende e cols, 1998). Finalmente, o EDHF é capaz de, a partir da ativação de canais de potássio, induzir hiperpolarização da membrana da célula muscular lisa e conseqüente relaxamento vascular. No entanto, este fator não parece importante em vasos de condutância como a aorta e, sim, em vasos de pequeno calibre, como a artéria mesentérica e suas ramificações (Brandes e cols, 2000). Podemos concluir, então, que o aumento da resposta contrátil após a retirada do endotélio está relacionado principalmente à retirada do componente vasodilatador NO. A retirada do endotélio dos anéis de aorta que foram estimulados com concentrações cumulativas de fenilefrina sob 1,0 grama de tensão passiva foi capaz de abolir completamente a hiporeatividade associada à gestação observada nos experimentos realizados com o endotélio íntegro, corroborando os dados da literatura (Aloamaka e cols, 1993; Ballejo e cols, 2002). Esses resultados também confirmam nossos dados obtidos anteriormente nas diferentes tensões passivas e 60 demonstram a participação dos fatores endoteliais na hiporeatividade associada à gestação. Em trabalho recente, Dièye e Gairard (2003) demonstraram hiporeatividade à noradrenalina associada ao término da gestação de ratas em anéis de aorta sem o endotélio. Estes vasos estavam submetidos a 2,0 gramas de tensão passiva inicial e apresentaram hiporeatividade somente após o aumento da concentração de cálcio disponibilizada na solução nutriente de Krebs de 1,25 M para 2,5 M. Esse resultado mostra que o aumento da concentração de cálcio extracelular é suficiente para aumentar a contração de não grávidas, no entanto fracassa em aumentar a reatividade de grávidas. Esse dado não confronta nossos resultados, pois quando estimulamos com fenilefrina os anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas após a retirada do endotélio na tensão passiva de 2,0 gramas também observamos hiporeatividade associada à gestação. Esses resultados, em conjunto, indicam que, além de alterações endoteliais, os vasos de ratas grávidas apresentam alterações musculares, provavelmente relacionadas com a mobilização do cálcio extracelular, que colaboram com a refratariedade ao efeito contrátil de agonistas α1adrenérgicos. Considerando que o NO é o principal fator relaxante modulador do tônus vascular, é razoável pensar que, além de uma capacidade contrátil diminuída, esse vasodilatador possa estar sendo produzido em maior quantidade nas células endoteliais dos anéis de aorta de ratas grávidas, colaborando com a hiporeatividade observada nesses vasos antes da retirada do endotélio. Para testar esta hipótese realizamos experimentos na presença de inibidor da NOS. A pré-incubação com LNNA de anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas promoveu aumento da reatividade vascular a concentrações fixas e cumulativas de fenilefrina nas várias 61 tensões passivas, confirmando novamente que o NO é um importante modulador da contração estimulada por agonistas nesses tecidos. Esse dado corresponde aos achados da literatura que demonstram que a inibição da NOS por diferentes inibidores aumenta a reatividade vascular a diferentes agonistas (Joly e cols, 1994; Srivastava e cols, 2002). Quando comparamos grávidas e não grávidas observamos que, embora a inibição da NOS reverta parte da hiporeatividade associada à gestação, o estiramento do segmento vascular permite identificar outros fatores que participam das alterações de reatividade. Sob a tensão inicial de 0,5 grama a adição de L-NNA foi capaz de sobrepor as curvas de concentração-efeito para fenilefrina de grávidas e não grávidas e com 1 grama de tensão as diferenças de reatividade associadas à gestação foram mantidas. Com a finalidade de fortalecer a hipótese de que o NO tem pouca participação na hiporeatividade associada à gestação quando o segmento vascular está submetido a maiores tensões passivas, utilizamos uma segunda abordagem experimental: realizamos curvas com concentrações cumulativas de fenilefrina na presença de ODQ, um inibidor de guanilato ciclase. Como já dissemos anteriormente, a ativação da guanilato ciclase solúvel por NO estimula essa enzima a converter GMP em GMPc que induz relaxamento da musculatura lisa vascular. A pré-incubação com ODQ de anéis de aorta submetidos a 1 grama de tensão inicial aumentou a reatividade à fenilefrina de grávidas e não grávidas, efeito já observado por outros pesquisadores (Payne e cols, 2003; Giardina e cols, 2002), no entanto não foi capaz de modificar as diferenças entre os grupos, confirmando que, embora o NO exerça importante modulação do efeito contrátil da fenilefrina, seu efeito vasodilatador não é determinante da hiporeatividade associada à gestação nesta condição experimental. 62 A adição de concentrações cumulativas de acetilcolina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas pré-contraídos com fenilefrina induziu relaxamento dependente da concentração que não foi alterado pela gestação. Ainda que se saiba que a acetilcolina pode estimular a liberação de EDHFs, há indicação que na aorta essa droga somente é capaz de aumentar a produção de NO (Brandes e cols, 2000); e seu efeito relaxante está relacionado à estimulação da NOS, visto que é abolido após a adição de L-NNA. Como não há diferença no efeito vasodilatador da acetilcolina entre grávidas e não grávidas, podemos sugerir que a produção estimulada por agonistas de NO não está alterada na condição experimental que utilizamos. Utilizando 0,5 grama de tensão passiva, também foi demonstrado que a inibição da NOS é capaz de reverter a hiporeatividade de anéis de aorta de ratas grávidas à fenilefrina, embora a reatividade à acetilcolina não estivesse alterada (Ballejo e cols, 2002), como se uma produção de NO espontânea ou estimulada pela contração vascular estivesse aumentada e a produção estimulada pela ativação da NOS por agonista muscarínico não estivesse alterada. Vários trabalhos mostram que a aplicação de inibidores da NOS ou inibidores da guanilato ciclase em vasos pré-contraídos com o endotélio íntegro é capaz de aumentar o tônus vascular, indicando que pode haver uma liberação espontânea de NO ou até mesmo estimulada pela contração vascular (Martin e cols, 1986; Frew e cols, 1993; Bang e cols, 1999). Essa produção espontânea ou estimulada pela contração pode ser por uma via de ativação da NOSe diferente daquela usada pela acetilcolina, isto é, independente da formação do complexo cálcio-calmodulina. Tem sido demonstrado que a NOSe pode ser ativada por fosforilação em resposta ao estresse de cisalhamento (shear stress) 63 independentemente do aumento da concentração de cálcio intracelular (Fleming e cols, 1997; Fleming e cols, 1998). Reforçando essa hipótese, a inibição da fosforilação da NOSe reverte o aumento do tônus vascular induzido por L-NNA em vasos pré-contraídos (Fleming e cols, 1999). Se a hiporeatividade associada à gestação ainda é presente nas maiores tensões apesar da inibição da NOS, é possível que o estiramento do tecido tenha tornado aparente outros produtos vasculares determinantes desse fenômeno. A fim de identificar quais seriam esses outros produtos vasculares realizamos experimentos na presença de um inibidor da COX, o diclofenaco de sódio. Anéis de aorta de ratas não grávidas apresentaram diminuição da reatividade à fenilefrina após a inibição da COX com diclofenaco nas tensões de 0,5 e 1 grama, de modo a abolir as diferenças de reatividade associadas à gravidez nessas tensões passivas, confirmando os resultados obtidos anteriormente com concentração única de fenilefrina e variações da tensão passiva. A adição de L-NNA à pré-incubação com diclofenaco nesses experimentos apenas aumentou a reatividade à fenilefrina em ambos os grupos sem alterar o efeito inicial de abolir a hiporeatividade associada à gestação do inibidor da COX. A diminuição da reatividade à fenilefrina nos anéis de aorta de não grávidas após a adição de diclofenaco pode estar relacionada à inibição da produção de prostanóides constritores. Em perfusão de trem posterior de ratas grávidas e não grávidas Ahokas e cols (1997) observaram diminuição da reatividade à noradrenalina após a pré-incubação com indometacina, um outro inibidor da COX, apenas nos leitos vasculares obtidos de não grávidas. Fulton & Stallone (2002) encontraram diminuição de reatividade a fenilefrina e vasopressina em anéis de aorta de fêmeas na presença de indometacina. Nestes experimentos a pré- 64 incubação com SQ-29548, antagonista do receptor de endoperóxido e tromboxano (prostanóides constritores), diminuiu a reatividade à vasopressina e fenilefrina de maneira semelhante à adição de indometacina. Como a inibição da COX igualou a reatividade à fenilefrina de grávidas e não grávidas à medida que diminuiu a responsividade das últimas, podemos inferir que durante a gestação a aorta não produz prostanóides vasoconstritores ou a produção é normal mas a célula muscular lisa é insensível ao seu efeito constritor. Como já dissemos em outro momento, em artérias uterinas de cobaias e arteríolas da musculatura esquelética de coelhas há uma diminuída reatividade ao U46619, análogo do tromboxano, e em aortas há uma diminuição na concentração de receptores para tromboxano ao término da gestação (Weiner e cols, 1992; Ungvari e cols 2002). Alterações da COX ou a diminuída sensibilidade dos receptores de prostanóides podem estar relacionadas às alterações hormonais que acompanham a gravidez. Durante a gestação de ratas há um aumento significativo dos níveis séricos de estrogênio (Honda e cols, 1998) e este hormônio parece interagir com a COX e com os receptores dos seus derivados. A produção de tromboxano e prostaciclina é diminuída em células endoteliais bovinas em cultura após a adição de estradiol e em artérias mesentéricas de ratas ovarectomizadas há diminuição da reatividade ao análogo do tromboxano, U46619, e ao endoperóxido (PGH2) após tratamento crônico com estrogênio (Stewart e cols, 1999; Davidge & Zang, 1998). Adicionalmente, concentrações crescentes de ácido araquidônico induz contração em artérias cerebrais de ratas ovarectomizadas e relaxamento em animais tratados cronicamente com estrogênio, mostrando que o estrógeno diminui a produção de prostanóides constritores e aumenta a de dilatadores (Ospina e cols, 2003). Em 65 trabalho recente foi observado, ainda, que o tratamento crônico de ratas grávidas com um modulador seletivo de receptores de estrogênio, o tamoxifeno, diminuiu os níveis séricos de estradiol e reverteu a hiporeatividade à fenilefrina de anéis de artéria mesentérica (Zhang e cols, 2001). O estrogênio também pode aumentar a produção de NO pela estimulação da NOSe. O estradiol induz relaxamento vascular concentração-dependente sensível à inibição da NOS (Smolders e cols, 2002). O tratamento crônico com estradiol aumenta o relaxamento induzido por acetilcolina em leito coronariano de cobaias e em anéis de aorta de ratas ovarectomizadas, além de aumentar a expressão de NOSe (Thompson e cols, 2000; Gonzales e cols, 2001). Células endoteliais de aorta e células endoteliais de veia umbilical humana em cultura apresentam, respectivamente, aumento da expressão de NOSe acompanhado por liberação aumentada de NO (Hishikawa e cols, 1995) e aumento da atividade dessa enzima após exposição ao estradiol (Hisamoto e cols, 2001). Essa ativação da NOSe por estrogênio pode ser independente da formação do complexo cálcio-calmodulina, desde que a adição de estradiol em cultura de células endoteliais promove o aumento da expressão da NOSe na sua forma fosforilada (Haynes e cols, 2000). O estrogênio ainda pode alterar a contribuição relativa de NO e de prostanóides. Em leito mesentérico de rata pré-contraído com fenilefrina, por exemplo, o relaxamento induzido por agonista de receptor H1 de histamina, 2-TEA, depende de NO e prostanóides. Após a ovarectomia desses animais há a redução dos níveis de estradiol e os componentes derivados da COX ganham mais importância para determinar o relaxamento ao 2-TEA e o tratamento crônico com estradiol faz com que o NO seja o responsável por esse relaxamento. Portanto, na falta do estrogênio os derivados vasodilatadores da COX são mais importantes e na 66 sua presença o NO é o componente relaxante mais importante no relaxamento induzido por 2-TEA nesses vasos (Case & Davison, 1999). Finalmente, diante dos nossos resultados, podemos sugerir que as adaptações vasculares durante a gravidez modulam o aumento do efeito constritor da fenilefrina estimulado pelo aumento da tensão passiva, não aumentando o tônus apesar do aumento do estiramento vascular. Concluímos, ainda, que uma maior produção de fatores relaxantes, como NO, e menor produção ou reatividade vascular a fatores contráteis, como prostanóides constritores, determinam a hiporeatividade de aortas de ratas ao término da gestação, sendo que as condições experimentais impostas podem alterar a participação relativa desses fatores. 7. Conclusões 68 7. Conclusões Os dados apresentados nessa dissertação permitem concluir: • O aumento da tensão passiva determina aumento da reatividade à fenilefrina em anéis de aorta de ratas grávidas e não grávidas; • Anéis de aorta de ratas grávidas apresentam hiporeatividade à fenilefrina quando comparados com anéis de não grávidas, sendo que o estiramento do tecido não é capaz de corrigir essa diferença de reatividade; • A maior produção de fatores relaxantes, como NO, e menor produção ou reatividade vascular a prostanóides constritores, determinam a hiporeatividade de aortas de ratas ao término da gestação; • O estiramento do tecido vascular altera a contribuição relativa de NO e de prostanóides na alteração de reatividade a constritores em aortas de ratas grávidas. Referências Bibliográficas 70 Referências Bibliográficas ALDERTON WK, COOPER CE, KNOWLES RG. Nitric oxide synthases: structure, function and inhibition. Biochem J 357:593-615, 2001. AHOKAS RA, FRIEDAMAN SA, SIBAI BM. 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