Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.4, p.403-410, 2014 ISSN: 1517-8595 403 COMPOSIÇÃO E ACEITABILIDADE ENTRE CRIANÇAS DE UMA CRECHE/ESCOLA DE UBERABA-MG DE BOLO DE CHOCOLATE ADICIONADO DE GRÃOS DE FEIJÃO COZIDOS Patrícia Cristina Mosca1, Fabiana Machado Oliveira2, Fernanda De Cássia Zanardo3, Fernanda Maria Rosatto4, Jordana Moreira Almeida5, Estefânia Maria Soares Pereira6, Olga Luisa Tavano7 RESUMO No setor de panificação o bolo é um dos principais produtos, que apresenta importância crescente quanto ao consumo e à comercialização no Brasil, devido à facilidade e baixo custo de preparo. Mas, geralmente são produtos vistos como fontes de carboidratos apenas. Sendo o bolo de chocolate uma das variações mais aceitas, sobretudo pelo público infantil, este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento e avaliação de uma receita de bolo diferenciada, visando a melhoria da qualidade nutricional através do acréscimo de feijão comum à uma receita de bolo de chocolate. Foram avaliadas as composições, digestibilidade protéica e aceitabilidade da preparação com e sem acréscimo de feijão. O acréscimo de feijão ao bolo de chocolate melhorou seu valor nutricional, em especial no que se refere à composição de fibras e proteínas entre seus sólidos totais, e os valores de digestibilidade protéica não foram alterados. Pode-se esperar ainda um ganho nutricional no que se refere ao aumento dos teores de ferro carreados pelo feijão acrescido. Através da análise sensorial observou-se boa aceitação deste bolo de chocolate com feijão, como aqui formulado, entre crianças de 3 a 12 anos. Em conjunto, as observações aqui realizadas indicam que esta formulação com feijão pode ser um produto nutricionalmente interessante e viável para a alimentação infantil. Palavras-chave: bolo, feijão, valor nutricional, digestibilidade protéica, análise sensorial COMPOSITION AND ACEPTABILITY AMONG CHILDREN OF A NURSERY/SCHOOL OF UBERABA-MG OF CHOCOLATE CAKE ADDED COOKED COMMOM BEAN ABSTRACT In the bakery products sector, cakes make up an important part of growth regarding consumption and commercialization in Brazil, owing to how easy and cheap it is to make. However, they are generally seen as source of carbohydrate. Chocolate cake being one of the most typical varieties, especially amongst children. The aim of this study was to formulate a different cake recipe and investigate its nutritional and taste properties, aiming to improve nutritional aspects via the incorporation of beans to the tradicional chocolate cake recipe. The composition, protein digestibility and acceptability of both recipes were assessed. The beans addition improved the nutritional characteristics of the cake with regards to fiber and protein Protocolo 15 2013 37 de 16/12/2013 1 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 2 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 3 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 4 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 5 Aluna do Curso de Graduação em Nutrição - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 6 Professora Doutora do Departamento de Nutrição – Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 7 Professora Doutora do Departamento de Nutrição – Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Rua Getúlio Guaritá, 159, Uberaba –MG. CEP 38025 440. E-mail: [email protected] 404 Composição e aceitabilidade entre crianças de bolo de chocolate adicionado de grãos de feijão cozidos Mosca et al. aspects, although the protein digestibility did not change. Other points to be considered were the possible increase of iron concentration and other minerals present in beans. Sensory analyses indicated a good acceptance by children between the ages of 3 and 12. Overall, when considering our results, the incorporation of beans leads to a good acceptance and can be a valid nutritional choice for infantile food. Keywords: Cake, bean, nutritional value , protein digestibility, Sensory analysis INTRODUÇÃO Um alimento além de seu valor nutritivo deve apresentar características agradáveis que tragam satisfação ao consumidor, o que reflete uma resultante entre equilíbrio de diferentes parâmetros de composição e qualidade sensorial. No desenvolvimento de um novo produto é imprescindível otimizar parâmetros, como forma, cor, aparência, odor, sabor, textura, e consistência, com a finalidade de alcançar um equilíbrio entre qualidade e aceitabilidade. Dentre os alimentos tradicionalmente consumidos no Brasil encontra-se o feijão, o principal representante do grupo das leguminosas. Além de sua importância comercial, já que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, segundo dados da FAO (2012), este grão apresenta-se como uma das mais importantes fontes protéicas da população, estimando-se um consumo médio per capita de 44,31 g de feijão/dia. Além de fonte protéica o feijão apresenta-se como importante fonte de fibras, insolúveis e solúveis, entre outros elementos, como o ferro (Mechi et al., 2005; Antunes et al., 1995; Sathe & Salunke, 1981). A anemia por deficiência de ferro é a mais comum das carências nutricionais, com maior prevalência em mulheres e crianças. No Brasil estudos demonstram que a prevalência de anemia ferropriva alcança a média de 50 % entre crianças (Carpenter & Mahoney, 1992; Jordão et al., 2009). O teor protéico de feijões pode variar entre as diferentes variedades, mas em média situa-se na faixa de 22 a 25 %, podendo alcançar teores de 36% (Mesquita et al., 2007; Ramirez-Cardenas et al., 2008). Também seu teor de fibras pode ser variado, de acordo com a linhagem avaliada, sendo encontrados valores que variam entre 10 e 20 % (Mesquita et al., 2007; Ramirez-Cardenas et al., 2008). O consumo de fibras, em especial as solúveis, está associado a um melhor controle glicêmico em indivíduos portadores de diabetes mellitus (Chandalia et al., 2000; Tungland & Meyer, 2002) e à diminuição da concentração sérica de colesterol (Brown et al., 1999; Tungland & Meyer, 2002). No setor de panificação, o bolo é um dos principais produtos, que apresenta importância crescente quanto ao consumo e à comercialização no Brasil, devido à facilidade e baixo custo de preparo. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (ABIMA) o consumo brasileiro médio per capita de bolos tem sido crescente, alcançando a média de 1,9 kg/ano em 2012. O bolo de chocolate é uma das variações mais aceitas, sobretudo pelo público infantil (Moscatto et al., 2004). Mas, geralmente são produtos vistos mais como fontes de carboidratos, com pouco aporte de outros nutrientes. Sendo assim, este trabalho visou o desenvolvimento e avaliação de uma receita de bolo diferenciada, visando a melhoria da qualidade nutricional de preparações tradicionais, através do acréscimo de um ingrediente fonte de proteínas, de ferro e fibras, e de fácil acesso à população, como o feijão comum, à uma receita de grande aceitabilidade como a do bolo de chocolate. Além da busca pela melhoria da qualidade no que se refere a sua composição, também se verificou a aceitabilidade da preparação, em especial perante o público infantil. MATERIAL E MÉTODOS Preparação do bolo de chocolate Duas receitas de bolo de chocolate foram elaboradas para as análises, sendo uma de acordo com receita tradicional e outra acrescida de grãos de feijão cozidos. Para elaboração desta segunda preparação utilizou-se grãos de feijão carioquinha, Tipo 1, obtido em comércio local, previamente cozidos. Após testes prévios chegou-se a formulação descrita na Tabela 1, e seguinte elaboração: os feijões (Phaseolus vulgaris) foram selecionados, lavados e cozidos em panela de pressão por 30 minutos, somente na presença de água (1:3 m/v). Após o cozimento somente os grãos foram utilizados na preparação, sem a presença Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.4, p.403-410, 2014 Composição e aceitabilidade entre crianças de bolo de chocolate adicionado de grãos de feijão cozidos do caldo. Ambos os bolos seguiram o seguinte modo de preparo: as claras foram separadas das gemas, batidas em neve em batedeira, velocidade máxima, por 2 minutos, e reservadas. As farinhas, açúcar e chocolate em pó foram peneirados e misturados. As gemas, óleo, água e feijões previamente cozidos (para a receita acrescida de feijão) foram batidos em liquidificador por 1 minuto e então misturados aos pós, às claras e por fim foi adicionado o fermento químico. Ambos foram assados em forno convencional, a 180º C, por 40 minutos. Tabela 1. Formulações dos bolos de chocolate com e sem feijão. Ingredientes Farinha de Trigo Farinha de Rosca Açúcar Ovos Óleo de soja Água Feijão cozido sem tempero Chocolate em pó Fermento em pó Formulações Bolo sem Bolo com Feijão Feijão 125 g 125 g 142 g 142 g 230g 230g 52g 52g 120 ml 120 ml 130 ml 130 ml 75 g 13 g 350g 75 g 13 g Composição centesimal Para determinação da composição centesimal dos bolos, com e sem feijão na preparação, as amostras foram primeiramente direcionadas à determinação de umidade para que então as determinações posteriores fossem realizadas em base seca a partir do material então obtido. A determinação de umidade, em estufa a 105°C, cinzas, em Forno Mufla a 550°C, lipídeos, por método de Soxhlet, e proteínas, através de Método de Kjeldahl utilizando-se o fator 6,25 para conversão dos resultados de nitrogênio para proteínas, foram realizadas de acordo com métodos oficiais da AOAC (1990). A determinação de fibra alimentar total foi realizada utilizando-se o método de detergente ácido (973.18, AOAC). O teor de carboidratos foi estimado por diferença dos demais componentes calculados subtraindose de 100. Todas as análises foram realizadas em triplicata e os resultados expressos como média e desvio padrão das três determinações. Digestibilidade protéica in vitro A digestibilidade in vitro foi deter- Mosca et al. 405 minada como descrito por Akeson & Stahman (1964) utilizando-se seqüência de incubação com pepsina e pancreatina, a 37ºC, por 3 e 24 h, respectivamente. A reação foi interrompida por adição de ácido tricloroacético, até concentração final de 10%, seguida de centrifugação 7.000 g/15 min. O sobrenadante foi utilizado para determinação do grau de hidrólise, calculado pelo aumento da concentração de amino grupos em solução, como descrito por Church et al. (1983), com uso de reagente OPA (o-phthaldialdehyde). Uma curva analítica de L-leucina foi utilizada como referência. As análises foram realizadas em triplicata e os resultados expressos como média e desvio padrão das três determinações. Análise sensorial Os testes de aceitação dos bolos de chocolate formulados com e sem feijão foram realizados entre alunos da creche/escola Lar Fabiano de Cristo – Uberaba – MG, em cuja Instituição o Departamento de Nutrição – UFTM realiza projetos conjuntos que incluem educação nutricional. Os testes foram realizados após consentimento da direção da Instituição e dos pais ou responsáveis pelos alunos. O procedimento foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFTM (protocolo de aprovação nº1473). As duas turmas de crianças que participaram nos testes foram compostas por 21 crianças entre 3 a 7 anos e 16 crianças entre 8 a 12 anos, somando-se, portanto, 37 provadores não treinados. Para os testes afetivos foram utilizadas fichas com escala hedônica de expressão facial correspondentes a cinco categorias (desgostei muito, desgostei, indiferente, gostei e gostei muito), onde as crianças indicavam a expressão correspondente à opinião sobre cada produto. Os dados foram avaliados por análise de variância (ANOVA, p<0,05) com comparação entre as médias. Em um segundo momento, um teste de preferência entre os bolos de chocolate com e sem feijão também foi aplicado, nas mesmas condições acima descritas, através da utilização de teste pareado-preferência (Moraes, 1988). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 encontram-se as formulações utilizadas para a elaboração dos dois bolos a serem avaliados, sendo uma receita tradicional e a receita adaptada com as alterações testadas, incluindo-se a adição do feijão cozido. A receita original para bolo de Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.4, p.403-410, 2014 406 Composição e aceitabilidade entre crianças de bolo de chocolate adicionado de grãos de feijão cozidos chocolate convencional recomendava 2 xícaras de açúcar, ou seja, cerca de 300 g. Nesta preparação foi testada préviamente uma redução nesta quantidade de sacarose, sendo possível a redução até 230 g, sem prejuízo considerável para o sabor. Após preparação das duas receitas foi possível observar uma clara diferença entre as texturas dos dois bolos analisados. O bolo de chocolate com feijão apresentava massa mais úmida, com aparência de mais densa e alvéolos menores. Em estudo de produção de bolos destinados a celíacos, exclusivamente elaborados com farinhas de leguminosas, Gularte, Gomez & Rosell (2011) verificaram modificações e parâmetros que poderiam estar diretamente relacionados com esta aparência mais pesada da massa, como aumento de viscosidade, que se apresentou como três vezes maior do que para a massa da preparação controle quando farinha de feijão foi utilizada. Outros autores também demonstram que as proteínas e carboidratos dos feijões têm alta capacidade de retenção de óleo e principalmente de água, gerando a formação de géis (Boye et al., 2010; Makri & Doxastakis, 2006; Sathe & Salunke, 1981). A maior concentração de hemicelulose na massa também pode aumentar seu teor final de umidade, como confirma estudo apresentado por Zabik & Thiel (1983). Estas observações estão de acordo com os teores de umidade encontrados, como expressos na Tabela 2, onde observa-se teor médio de 35,45% de umidade para o bolo com feijão, sendo aproximadamente o dobro do encontrado para o bolo comum, sem feijão, 17,72 %. Tabela 2. Composição centesimal das amostras de bolo de chocolate com e sem feijão, expressa em base úmida. Componente (g/100 g) Bolo sem Feijão Bolo com Feijão Umidade Cinzas Lipídeos Proteínas Fibras Carboidratos 17,72a ± 0,01 1,22a ± 0,16 12,93a ± 1,19 7,42a ± 0,33 5,67a ± 1,47 55,04 35,45b ± 0,01 0,75b ± 0,03 9,06b ± 0,27 6,76b ± 0,22 6,71a ± 0,11 41,27 366,21 273,66 Valor Calórico (kcal/100 g) Valores na mesma linha com letras iguais sobrescritas não diferem entre si significativamente (p ≤ 0,05). O claro aumento na retenção de água pela massa devido ao acréscimo de feijão à Mosca et al. formulação produziu um efeito de diluição dos demais componentes do bolo, como pode ser observado pelos resultados em base úmida para o bolo com feijão em comparação ao sem feijão (Tabela 2). Mas, quando os resultados em base seca são considerados (Tabela 3) podemos verificar um significativo aumento nos percentuais de proteínas e fibras entre os sólidos totais do bolo com feijão em comparação ao bolo sem feijão, representando um aumento de cerca de 16,2 % na concentração de proteínas, e de 51 % no teor de fibras. Tabela 3. Composição centesimal das amostras de bolo de chocolate com e sem feijão, expressa em base seca. Componente (g/100 g) Proteínas 9,01A ± 0,40 Fibras Carboidratos 6,9A ± 1,79 66,88 Bolo com Feijão 1,16B ± 0,04 14,04A ± 0,42 10,47B ± 0,34 10,4B ± 0,17 63,93 445,04 423,96 Umidade Cinzas Lipídeos Valor Calórico (kcal/100 g) Bolo sem Feijão 1,49A ± 0,19 15,72A ± 1,45 Valores na mesma linha com letras iguais sobrescritas não diferem entre si significativamente (p ≤ 0,05). Este aumento no teor de fibras esta dentro do esperado, já que o feijão cozido acrescentado apresenta cerca de 9 % de fibras em sua composição (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 2006). Vale lembrar que de acordo com método analítico adotado somente fibras insolúveis foram aqui computadas e comparadas. Sendo o feijão rico em fibras solúveis este ganho nutricional poderia ser estimado como ainda maior. As fibras podem ser classificadas quanto a sua solubilidade em água em fibras solúveis e insolúveis (Tungland & Meyer, 2002), cada qual com a capacidade de promover efeitos fisiológicos diferentes. As fibras solúveis retardam o esvaziamento gástrico, a absorção da glicose e reduzem o colesterol no soro sangüíneo. As fibras insolúveis aceleram o trânsito intestinal, aumentam o peso das fezes, contribuindo para a redução do risco de doenças do trato gastrointestinal (Anderson, 1985). Quanto aos teores de proteínas do bolo, embora não haja acréscimo em valores Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.4, p.403-410, 2014 Composição e aceitabilidade entre crianças de bolo de chocolate adicionado de grãos de feijão cozidos Tabela 4. Digestibilidade protéica in vitro das amostras de bolo de chocolate com e sem adição de feijão. Produto Bolo sem feijão Bolo com feijão Digestibilidade protéica* 80,20a 0,54 77,42a 5,31 *Percentuais expressos em relação ao resultado do grau de hidrólise determinado para a amostra de caseína, considerado como 100%. Valores na mesma linha com letras iguais sobrescritas não diferem entre si significativamente (p ≤ 0,05). Também é importante ressaltar que a inclusão de feijão a receita colaboraria para o aumento nos teores de ferro da preparação. Em estudo de Maldonado & Sammán (2000) entre 10 variedades de feijão cru houve uma variação de 0,0891 a 0,7600 mg/g de feijão. De acordo com estudo realizado por Frota et al. (2010), o acréscimo de feijões caupí em formulações de biscoitos e rocambole proporcionou o aumento nos teores de ferro e também de fósforo, potássio, magnésio e zinco, além de piridoxina. Embora a formulação composta de feijões cozidos possa a primeira vista ter sido visualmente identificada por apresentar uma aparência mais densa, e massas com mais alta densidade possam ser vistas como comumente rejeitadas pelos consumidores (Esteller et al., 2006) os testes sensoriais revelaram grande aceitação entre o público infantil deste estudo, sendo que as formulações não apresentaram diferenças significativas entre suas médias de aceitação, como pode ser observado pelas notas atribuídas à amostra e expressas na Figura 1, que apresenta as médias dos valores hedônicos atribuídos às formulações de bolo de chocolate com e sem feijão. Apenas quando consideradas separadamente as médias atribuídas pelo grupo de crianças de 8 a 12 anos foi possível verificar que o bolo sem adição de feijão recebeu notas mais altas (notas máximas, 5,0 = gostei muito) enquanto que o bolo acrescido de feijão recebeu média mais baixa, mas ainda acima da categoria 4 = gostei (média 4,25). 5 Médias atribuídas absolutos no total de proteínas da preparação contendo feijão, em base úmida, sua proteína total passa a ser constituída por mistura de proteínas advindas de fontes de cereais (farinhas utilizadas) e leguminosa, o que sabidamente pode ser visto como um potencial ganho nutricional através da complementação de aminoácidos estabelecida pela mistura das duas fontes vegetais (Granito et al., 2010; Griffith et al., 1998; Iqbal et al., 2006; MensaWilmot et al., 2001). Esta mudança no perfil protéico do produto poderia levar à alterações no potencial de digestibilidade de sua proteína total (Oste, 191). Um ensaio de digestibilidade protéica foi então realizado e, como mostram os resultados expressos na Tabela 4, não houve diferença significativa entre os produtos aqui testados. 407 Mosca et al. 4,68a 4,73a 5,0a 4,81a a 4,52 4,25b 4 Sem Feijão Com Feijão 3 2 1 3 a 7 anos 8 a 12 anos Média geral Figura 1. Médias de aceitação do bolo de chocolate com e sem feijão (5 = gostei muito, 4 = gostei, 3 = indiferente, 2 = desgostei, 1 = desgostei muito), avaliados pelos alunos da creche/escola Lar Fabiano de Cristo – Uberaba – MG. Valores com letras iguais sobrescritas não diferem entre si significativamente (p ≤ 0,05). Quando o teste de preferência foi aplicado um perfil semelhante ao descrito acima foi observado (Figura 2). Sendo que na média geral os dois produtos poderiam ser considerados igualmente aceitos, mas também neste caso a maioria deste grupo de crianças de idade entre 3 e 7 anos declarou sua preferência pela amostra contendo feijão em sua formulação, como apresentado na Figura 2 (61,1 % das escolhas), enquanto que apenas 31,3 % declarou preferir a formulação com feijões Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.16, n.4, p.403-410, 2014 408 Composição e aceitabilidade entre crianças de bolo de chocolate adicionado de grãos de feijão cozidos Mosca et al. Preferências (%) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sem Feijão 61,1% Com Feijão 68,7% 51% 49% 38,9% 3a7 anos 31,3% 8 a 12 anos ABIMA. http://www.abima.com.br/est_mp_ nacional.asp. 15 Ago. 2013. Akeson, W.R.; Stahman, M.A.A. Pepsinpancreatin digest index of protein quality evaluation. Journal of Nutrition. v.83, p.257-261, 1964. Média geral Figura 2. Percentuais de escolha para o teste de preferência entre os bolos de chocolate com e sem feijão, avaliados pelos alunos da creche/escola Lar Fabiano de Cristo – Uberaba – MG. Apesar destes resultados do teste de preferência, as altas notas recebidas pelo produto com feijão (Figura 1) o tornam uma formulação promissora para o consumo entre o público infantil. Esta formulação testada foi oferecida à direção da Instituição citada para ser incorporada a sua merenda. CONCLUSÕES O acréscimo de feijão ao bolo de chocolate modifica seu perfil de sólidos totais, representando uma melhora em seu valor nutricional, em especial no que se refere à composição de fibras e proteínas, e não prejudica sua digestibilidade protéica. Poderíamos esperar ainda um ganho nutricional no que se refere ao aumento dos teores de ferro carreado pelo feijão acrescido. Através da análise sensorial, observou-se boa aceitação deste bolo de chocolate com feijão, como aqui formulado, entre crianças de 3 a 12 anos. Em conjunto, as observações aqui realizadas indicam que esta formulação com feijão pode ser um produto nutricionalmente interessante e viável para a alimentação infantil. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Profa Dra. Roseli Aparecida da Silva Gomes, pela disponibilização de recursos do Laboratório de Bioquímica e Biofísica/ ICB/ UFTM. Anderson, J. W. Phisiological and metabolic effects of dietary fiber. Federation Proceedings, Washington, v. 44, n. 14, p. 2902-2906, 1985. Antunes P.L et al. Valor Nutricional do Feijão (Phaseolus vulgaris, L.), cultivares rico 23, carioca, pirata-1 e rosinha-G2. Revista Brasileira de Agrociência. v.1,p.39-45, 1995. AOAC Official Methods of Analysis. 15th ed. Association of Official Analytical Chemists, Arlington, VA, 1990 AOAC. Association of Official Analytical Chemists. Official Methods of Analysis. Association of Official Analytical Chemists, 2005. Boye, J.; Zare, F.; Pletch, A. 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