Design e moda no século XIX: princípios e valores do
movimento de Artes e Ofícios e da Alta-costura.
Design and fashion in the 19th century: principles and values of the movement of Arts
and Crafts to Haute couture.
Büttner, Ana Julia; Universidade Anhembi Morumbi.
[email protected]
Faria, José Neto de; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi.
[email protected]
Navalon, Eloize; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi.
[email protected]
Resumo
Este artigo traça um paralelo entre o movimento de Arts & Crafts, representado pelo trabalho
de William Morris, e a alta-costura, desenvolvida por Charles Frédéric Worth. O objetivo é
estabelecer e compreender aproximações e afastamentos entre o movimento de Artes e
Ofícios e de Alta-costura no design e na moda.
Palavras Chave: alta-costura; arts and crafts; design de moda.
Abstract
This article make a parallel between the haute couture, developed by Englishman Charles
Frederick Worth, and the Arts and Crafts movement, represented by the work of William
Morris. The aim is to establish and to understand differences in design and fashion between
the Arts & Crafts and the Haute couture.
Keywords: haute couture; arts and crafts; fashion design.
Design e moda no século XIX: princípios e valores do movimento de artes e ofícios a alta-costura.
Introdução.
A pesquisa estuda e analisa as aproximações existentes entre a alta-costura1, pelo
trabalho de criação, desenhado para moda exclusiva, de Charles Frédéric Worth, e o
movimento Arts and Crafts2, originário na Inglaterra, representado por William Morris. O
objetivo é compreender como suas similaridades e diversidades determinaram o caminho do
design e da moda no século XIX.
Arts and Crafts defendia o artesanato como uma alternativa à mecanização. Walter
Crane, um dos representantes do movimento, afirmava que a base e a raiz da arte
encontravam-se no trabalho manual. Entre os precursores da arte moderna, está William
Morris, o qual, por sua formação acadêmica, estava apto para compreender e questionar os
fundamentos sociais da arte, em decadência durante a Revolução Industrial. Sua doutrina
contra a produção feita por máquinas foi seguida e expressa por outros que acreditavam que
esse instrumento, desencadeador dos processos de mecanização da produção, foi a causa da
deterioração do design. É importante lembrar que o grau de mecanização da época era muito
menor do que este que presenciamos em nossos dias. Nos locais onde foi introduzida, era
raramente empregada em todas as etapas da produção, e muitos dos processos continuaram a
ser feitos à mão. Nesse contexto, pode-se citar o corte e a confecção de roupas utilizados
somente em poucos tipos de costura.
Antes de falar sobre esse fenômeno da alta moda, é preciso entendê-lo. Moda e
movimento são palavras que estão diretamente relacionadas; ambos estão sujeitos a uma
constante mudança, uma vez que estão condicionados a um contexto proporcionado pelos
hábitos, que são desfeitos pelo tempo. Esse fenômeno se iniciou quando o gosto pelo enfeite e
pelo adorno tornou-se cada vez mais evidente pela vontade de experimentar o novo. Foi a
partir desse desejo de experimentação que o vestuário tornou-se um dos elementos que
compõe uma pessoa em sua individualidade e particularidade.
Em meados do século XIX, Charles Frédéric Worth, inglês, ajudou a consolidar o
conceito de alta-costura com sua maison3 em Paris. Alta-costura refere-se à criação
customizada, exclusiva de roupas, confeccionada por um costureiro específico, com alta
qualidade e extrema atenção nos detalhes, utiliza tecidos caros, e é finalizada pela mais
experiente e apta costureira, que geralmente utiliza demoradas técnicas executadas à mão. O
designer da maison cria modelos com base em um molde para prova, que são executados sob
medida para as clientes. A casa também conta com um grupo de especialistas que
desenvolvem aviamentos, bijuterias, chapéus e adornos de alta qualidade. Esse conceito
continua sendo um forte símbolo publicitário que depende da fama das grandes casas, mas,
atualmente, esse tipo de vestimenta deixou de ser um fator econômico importante.
Metodologia.
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa teórica, qualitativa, dedutiva e
indutiva, a qual foi desenvolvida em cinco momentos: pesquisa e levantamento de dados;
organização, classificação e análise dos dados relevantes; análise dos resultados da pesquisa;
reflexão e descrição dos resultados da pesquisa.
1
Alta-costura: tradução do francês ‘haute couture’ ou abreviação ‘couture’.
2
Arts and Crafts: do inglês ‘Arts and Crafts’ que traduzido significa ‘artes e ofícios’.
3
Maison: do francês ‘maison’ que traduzido quer dizer ‘casa’, na moda, loja ou ateliê de moda e costura.
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Arts and Crafts.
O movimento Arts and Crafts, influenciado por idealistas como John Ruskin e
William Morris, foi um movimento estético que surgiu na Inglaterra, de acordo com Adams
(1998, p.9), na segunda metade do século XIX. Os idealistas reafirmavam a importância do
design e do artesanato em todas as artes diante da produção em massa, a qual estava
sacrificando a qualidade em favor da quantidade.
Ruskin enfatizava o valor do trabalho, em particular o criativo, e argumentava que a
máquina criava uma divisão de ocupação na qual era impossível estabelecer uma formação
humana mais completa. Fracionar o labor significava alienar o proletário, ou seja, fazer com
que desconhecesse e não controlasse todo o processo de produção.
Thomas Carlyle e John Ruskin, os mais importantes autores que contribuíram para o
movimento, protestaram contra o industrialismo. Segundo Adams (1998, p. 17), ambos foram
lidos pelos jovens e exerceram uma forte influência sobre os pré-rafaelitas, seus
correspondentes nos EUA, e sobre o progresso e desenvolvimento do movimento nos dois
lados do oceano Atlântico, ou seja, tanto nos EUA quanto na Inglaterra.
As ideias desses críticos de arte e do medievalista Augustus Pugin foram fundamentais
para consolidar os ideais do movimento, nos quais Pugin via afinidades com o ressurgimento
do medievalismo. As ideias das criações modernas tinham impacto sobre Ruskin, que
destacava o padrão artesanal e a organização das guildas medievais durante o trabalho. O
passo fundamental na transposição desses ideais ao plano prático é dado por William Morris,
que faz uma adequação das teses, defendendo uma arte “feita pelo povo e para o povo”:
(...) a ideia é que o operário se torne artista e possa conferir valor estético ao
trabalho desqualificado da indústria. Com Morris, o conceito de belas-artes é
rechaçado em nome do ideal das guildas medievais, onde o artesão desenha e
executa a obra, num ambiente de produção coletiva (ITAÚ CULTURAL, 2010).
Os reformadores do design do século XIX argumentavam que a prática do design, ao
separar a responsabilidade pela aparência do produto da tarefa de fabricá-lo, havia mudado
com uma consequente deterioração da qualidade. Também diziam que, quando a Inglaterra se
encontrava na Idade Média e a América em seus anos pioneiros, o material e a estrutura moral
eram melhores, com isso havia “o desejo de melhorar ambos, o padrão estético e as condições
de trabalho que gerariam mais distante um artigo de confiança compartilhado por muitas
atividades dentro do Arts and Crafts” (ADAMS, 1998, p.9).
Apesar dessa busca pela qualidade por meio do trabalho artesanal, Morris não obteve
sucesso em sua produção. Morris caiu em evidentes contradições, já que sua negativa em
utilizar em seus projetos os procedimentos de produção moderna teve como consequência um
custo elevado (FLORES, 1992, p.65), pois, se comparasse com o custo final dos objetos de
uso cotidiano, o produto feito pelo povo para o povo ficou resumido a apenas um pequeno
grupo de compradores. Sem dúvida, a contribuição da revolução industrial foi o barateamento
dos custos de produção, que Morris não poderia enfrentar com sua defesa do trabalho
artesanal.
O reconhecimento e a visibilidade pública eram essenciais para que os objetivos do
movimento de reforma fossem alcançados. Foi a partir deles que se estimulou a exposição
Arts and Crafts Exhibition Society, exposição quadrienal de móveis, tapeçaria, estofados e
mobiliário, de 1888, da qual participaram vários adeptos dos princípios do movimento. Podese citar também a Exposição do Centenário, realizada na Filadélfia em 1876. Essa exposição
demonstrou o poder econômico e político dos EUA como a casa da empresa privada e da
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democracia. Isso era aparente nas esferas da arte, arquitetura e artes decorativas e na cultura
de moda que o país possuía.
Flores (1992, p. 65-66) afirma que o esforço de Morris é historicamente importante, já
que contribuiu em grande medida para dignificar as formas, depurando, em seus desenhos,
todos aqueles que tinham sido considerados o apogeu em décadas passadas. Além disso,
Morris contagiou jovens pintores e arquitetos com interesse pelo desenho e pela produção –
atividade pouco edificante e desprestigiada até o momento – e deixou como herança um
compromisso social do qual o desenho não poderia mais esquivar-se moralmente.
Alta-costura.
A palavra francesa couture, segundo Callan (2007, p. 158), denota costura ou trabalho
de uma agulha. Haute couture é design e produção encomendada, de alta qualidade, feita sob
medida. Para uma melhor compreensão de alta-costura, é indispensável definir a diferença
entre costura e confecção.
A primeira veste as mulheres sob medida, ao passo que a segunda se dirige à sra.
Todo-mundo. Embora na origem os dois ofícios sejam aparentemente um só, a
confecção, mais dinâmica, assume o risco da estocagem ao produzir de antemão
modelos segundo medidas ditadas pela experiência e passíveis de serem oferecidos a
preços mais acessíveis. Rapidamente, cada profissão se desdobra intensificando suas
respectivas vantagens. Uma procura enfatizar o luxo e o savoir-faire que se exige
dela exaltando a criatividade, ao passo que a outra se padroniza a fim de tornar-se
mais competitiva. Durante esse processo, ambas se moldam aos limites e exigências
de uma sociedade dividida de modo irremediável em duas classes sociais bem
distintas (GRUMBACH, 2009, p.33).
Diante das definições feitas acima, é válido destacar que, para poder ser uma maison
de haute couture, existem normas a serem seguidas:
(...) sindicato, que faz parte da Fédération Française de la Couture du Prêt-à-Porter
des Couturiers de Mode, é também conhecido como Chambre Syndicale de la
Couture ou Chambre Syndicale de la haute Couture. A organização determina que as
maisons de couture devem empregar no mínimo, vinte pessoas nos ateliês; devendo
ainda mostrar para a imprensa reunida em Paris, no mínimo, cinquenta modelos
originais para as coleções de primavera/verão (apresentadas em janeiro) e para o
outono/inverno (em julho). As criações exibidas podem tanto ser feitas para clientes
da respectiva casa como vendidas para compradores autorizados, em moldes de
papel ou de tela (CALLAN, 2007, p. 158-159).
Dependendo da casa e da peça de roupa de alta-costura, o custo de um item é em torno
de 10.000 libras para uma simples blusa. Um tailleur típico Chanel, em 2002, de acordo com
Thomas (2010), custava 20.000 libras. O custo é alto, devido à costura, ao acabamento, à
originalidade oferecida por um design único e à utilização de materiais de ótima qualidade.
Os tecidos empregados nas casas de alta-costura incluem os compostos mais novos do
mercado, tais como, sedas, finas lãs, caxemiras, algodões, linhos, couros, camurças e outras
peles ou pelos. No caso de uma famosa casa, a cor de uma roupa pode ser exclusiva e
reservada.
Com isso, o cliente deseja a perfeição de caimento, somente realizado por métodos
minuciosos de corte e ajuste no corpo do cliente. O trabalho manual de um exato acabamento
para um vestido couture necessita de uma mão de obra entre 100 e 150 horas, pois passa por
milhares de mãos para costurar adornos provavelmente feitos pelo melhor e mais famoso
bordador de Paris.
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Em meados do século XIX, afirma Lehnert (2001, p.9), Charles Frederic Worth,
implantou a alta-costura parisiense, contribuindo para modificar o conceito de moda. Worth
não confeccionava vestidos segundo os desejos de suas clientes, criava coleções e depois as
apresentava às senhoras da sociedade, as quais só tinham de escolher o tecido cujas
qualidades e padrões condiziam exatamente com seus modelos.
Tratava suas clientes com complacência misturada com negócios, algo que ele
considerava lhe ser permitido, e dizia: “Meu trabalho, não é apenas executar, mas
principalmente criar. A criação é o segredo de meu sucesso. Não quero que as pessoas
encomendem suas roupas. Se encomendassem, eu perderia metade de meu comércio” (apud
GRUMBACH, 2009, p.18). Segundo Lehnert (2001, p. 8), Worth inaugurou sua primeira
casa, a “Worth & Bobergh” em 1857, na rue de la Paix, em Paris, juntamente com o
comerciante de sedas, Otto Gustav Bobergh. Não obstante, essa casa tornou-se uma
verdadeira instituição, chegando a ser conhecida em todo o mundo. Concretizou seus ideais
de beleza e, dessa forma, não desenvolvia vestidos, fazia moda. O seu gosto tornara-se o
gosto padrão da alta sociedade - vestia rainhas e princesas, atrizes e burguesas -, e suas
criações foram determinantes para a alta-costura.
No centro desse novo fenômeno da moda, ao qual Worth ficaria eternamente
relacionado, surgem alguns nomes após a queda do Segundo Império francês, sendo
importante destacar Paul Poiret, Jacques Doucet e Madeleine Vionnet.
A situação citada acima – de a moda ser exclusividade da corte - mantém-se até a
vinda para Paris de um jovem inglês, conhecido por Paul Poiret, que revolucionou os hábitos
de criação de moda.
Até meados do século XIX, a produção do vestuário era um trabalho manual: os
alfaiates confeccionavam o vestuário masculino, enquanto as costureiras e as
modistas serviam para o público feminino (LEHNERT, 2001, p.9).
Foi Poiret quem defendeu a beleza natural do corpo feminino e por isso fez
desaparecer por completo o espartilho através de suas criações com vestidos que fluem ao
longo do corpo. Callan (2007, p. 123) define o espartilho como peça descendente do corpete,
usada sob um vestido ou uma bata fina de algodão ou musselina; a cintura fina era causada
pelos pedaços de barbatanas de baleia e pelas amarrações na frente ou atrás.
“Se Charles Fréderic Worth instituiu as regras da indústria da alta-costura, foi Paul
Poiret quem modificou profundamente seus hábitos” (GRUMBACH, 2009, p.27). Paul Poiret
foi o grande criador de moda do período que precedeu a Primeira Grande Guerra; ele
pretendia renovar a moda sob um ponto de vista estético. Percebe-se esse desejo de
transformação, pois sua criação é oposta às linhas rígidas que marcavam o início do século
com o espartilho.
Aproximação entre o Arts & Crafts e a Alta-costura.
Foi no século XIX, de acordo com Anglo Vestibulares (2010), que a revolução
industrial e as novas doutrinas sociais se iniciaram na Inglaterra. A primeira representou o uso
das máquinas e desenvolvimento da sociedade capitalista, devido ao acúmulo de capitais e
mão de obra existente nesse local. A industrialização, a mecanização e o surgimento da
consciência da formação de uma classe operária, levantaram ao surgimento dos sindicatos, da
luta pelos direitos dos trabalhadores e da luta antiliberal. Ao mesmo tempo surgiram correntes
de pensamento, como o socialismo utópico de Fourier, Saint-Simom e Owen, que propunha
reformas com base nas premissas românticas; o socialismo de Marx e Engels, fundado na
revolução do proletariado; o anarquismo de Bakunin e Tolstoi, defensores da destruição do
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Estado; e a Doutrina Social da Igreja do Papa Leão XIII, com a encíclica Rerum Novarum, a
favor de reforma.
Logo após a queda da dinastia dos Bourbon, na França, criou-se o Primeiro Império
(1804-1814), sob o domínio de Napoleão I. Depois da queda de Bonaparte, após a derrota de
Waterloo, os Bourbons retornaram ao poder com Luís XVIII e Carlos X. Com as eleições de
1848, a burguesia retomou o controle político com o governo populista de Napoleão III,
consolidando então o Segundo Império (1852-1870), que se expandiu do sudeste asiático ao
Pacífico. Ao capturarem e exilarem Napoleão, com a derrota franco-prussiana, selaram o fim
desta forma de governo. Foi com a Terceira República que o país estabilizou-se em 1899,
com a coligação entre o partido radical e o moderado, permitindo um período de
desenvolvimento econômico e social até a Primeira Grande Guerra.
É nesse contexto histórico que se situa o movimento de artes e ofícios e a alta-costura.
A partir da análise feita, nota-se que existem semelhanças e diferenças entre eles. Os
idealistas do movimento reafirmavam a importância do design e do artesanato e utilizavam
matérias-primas com alta qualidade, como a madeira nobre, a prata pura e a cerâmica, criando
uma arte oposta à industrialização, que estava sacrificando a qualidade em favor da
quantidade.
Figura 01 - Cadeira de Philip Webb para Morris and Co., 1865 (OLIVETI; UZZANI, 2009, p.13); Poltrona
reclinável de Philip Webb para Morris and Co., 1870-1890 (OLIVETI; UZZANI, 2009, p.12); Papel de parede
de William Morris, século XIX (OLIVETI; UZZANI, 2009, p.18); e Papel de parede, William Morris
(MORTEU, 2008, p.31).
A produção era totalmente manual, os artesãos possuíam um cuidado extremo com o
acabamento e com a extensão de todo objeto encomendado pelo cliente. O movimento de
artes e ofícios priorizou a função do objeto que está sendo produzido em relação a sua forma e
estilo. Pode-se perceber, nas imagens, o papel de parede com flores e ramificações que
formam a textura de um galho de uma árvore, desenvolvido por William Morris no século
XIX; a cadeira de Philip Webb, desenvolvida pela indústria de Morris, com formas simples e
austeras; a poltrona reclinável, desenhada por Webb e produzida pela Morris and Co., possui
em sua construção pouca madeira trabalhada e muito estofado, evidenciando toda a técnica
manual e priorizando a função; no último papel de parede da figura acima, também se
exploram as formas florais, ramos de árvores com a presença de pássaros.
Na alta-costura, na criação customizada exclusiva de roupas, desenvolvida por Charles
Frédéric Worth, pode-se observar que os tecidos para confecção são de alta qualidade,
compostos por fibras naturais, como algodão, seda, lã e linho, e que também podem incluir
fios de metais nobres, ouro e prata. O criador desenvolve modelos executados sob medida
para as clientes que encomendam sua vestimenta, feita por um específico costureiro,
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costurada com extrema atenção nos detalhes, pois são utilizadas demoradas técnicas
executadas à mão. Por possuir todas essas características, tecidos nobres, execução sob
medida, feitio à mão, modelo único e suprema atenção com o acabamento, produzem-se peças
únicas e direcionadas a um grupo muito seleto de cidadãos.
Figura 02 - Robe de reception, de 1874 (THE KYOTO COSTUME INSTITUTE, 2002, p. 240); Robe de
reception, de 1881 (THE KYOTO COSTUME INSTITUTE, 2002, p. 267); Visite, de 1885 (THE KYOTO
COSTUME INSTITUTE, 2002, p. 260) e Ball gown, de 1887 (KODA; MARTIN, 1996, p.18).
A forma estética da alta-costura prioriza o estilo em relação à forma e à decoração.
Pode-se observar, nas imagens acima, que Worth apura a linguagem de seu estilo para formar
sua identidade visual por meio da construção da silhueta e do decorativismo das peças. Na
primeira imagem, dá austeridade ao look por meio das cores e da simplicidade de forma e
decoração; em seu Robe de reception se apropria de texturas de um jacquard com estampas
listradas e florais, o que provoca um alongamento na silhueta feminina; em Visite desenvolve
trabalho de superfície sob um jacquard de estampa floral; já no traje denominado Ball gown,
destaca-se o uso do espartilho e as anquinhas que provocam a silhueta em S no corpo
feminino, “os tecidos são densos e ricos que o costureiro se permitiu a orla, uma espessura de
fita de gorgorão, próprio para ser concluído e embelezado com ouro e bordados” (KODA;
MARTIN, 1996, p. 19).
Moda/Aspecto
Artes e Ofícios
Material
Madeira nobre, prata pura,
cerâmica.
Processo de produção
Acabamento
Quantidade de
trabalhadores
Quantidade produzida
Pontos de similaridade
Artesanal.
Cuidado extremo.
Artesão e seus aprendizes.
Alta-costura
Tecidos nobres feitos de fibras naturais
como seda, algodão, lã, linho e fios
também metais nobres como a prata e o
ouro.
Artesanal.
Cuidado extremo.
Costureiras e seus aprendizes.
Encomendada.
Encomendada.
Prioriza o funcionalismo, o
Prioriza o estilismo, o formalismo e o
formalismo e o estilismo.
decorativismo.
Abastados.
Abastados.
Consumidor
Guild / cooperativas.
Sindicato.
Associações
Escritos e princípios.
Regras e normas.
Normatização
Tabela 01 - Interpretação do autor, comparação entre aspectos presentes na alta-costura e no movimento de Arts
and Crafts.
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Para compreenderem-se as relações existentes entre os princípios e valores que regiam
o movimento de artes e ofícios e a alta-costura, montou-se uma tabela comparativa, a fim de
analisar e comparar os pontos convergentes, divergentes e as mútuas influências.
O movimento de Arts & Crafts priorizou as funções do objeto produzido integrado
com a simplificação austera das formas e estilos; sua produção era totalmente artesanal com
um cuidado extremo com o acabamento e com a extensão de todo objeto encomendado pelo
cliente; seus produtos eram consumidos por uma minoria abastada; regido por uma
guild/cooperativa; seguia escritos e princípios de Morris. Já na alta-costura, na criação
customizada exclusiva de roupas, os tecidos utilizados para a confecção são de alta qualidade,
podendo incluir fios de metais nobres, como ouro e prata; o criador de moda desenvolve
modelos com base em um molde para prova executados sob medida para as clientes; é feita
por um específico costureiro sob encomenda e costurada com extrema atenção nos detalhes;
modelo único e suprema atenção com o acabamento, o que resulta em peças únicas,
direcionadas a um grupo muito seleto de cidadãos; organizada por meio de um sindicato
conhecido como Chambre Syndicale de la Haute Couture; segue regras e normas
determinadas pela organização.
Relacionando as imagens, notam-se semelhanças entre o movimento de artes e ofícios,
e a alta-costura. No papel de parede com flores e ramificações que formam a textura de um
galho de uma árvore, que foi desenvolvido por William Morris no século XIX, pode-se
observar a mesma textura que há no Robe de recepetion, 1881, de Worth, que utiliza um
jacquard com estampas listradas e florais, o que provoca um alongamento na silhueta
feminina; a cadeira de Philip Webb, desenvolvida pela indústria de Morris, tem formas
simples e austeras, como o Robe de reception, 1874, de Worth, por meio das cores e da sua
simplicidade de forma e decoração; no papel de parede, Morris explora as formas florais com
ramos de árvores e pássaros, criando uma textura como no denominado Visite, no qual Worth,
com excesso de decorativismo, também cria um Jacquard com estampa floral. As
semelhanças e diferenças aqui descritas encontram-se na tabela apresentada anteriormente,
pela qual se possibilita uma efetiva compreensão da relação entre moda e aspecto dentro do
artes e ofícios e da alta-costura.
Considerações finais.
Os teóricos utilizados como referência bibliográfica no estudo do movimento de Arts
and Crafts e do surgimento da alta-costura e a metodologia utilizada pela pesquisa não
possibilitaram uma descrição detalhada dos procedimentos utilizados pela alta-costura pelas
regras ditadas pelo Chambre Syndicale de la haute Couture.
Para entender melhor essa conexão, foi necessário construir uma tabela comparativa
analítica entre moda e aspecto dentro do artes e ofícios e da alta-costura pela qual se observa
que há mais semelhanças que diferenças entre eles. O movimento de Arts & Crafts priorizou a
função do objeto produzido em relação a sua forma e estilo; sua produção era totalmente
artesanal, com cuidado extremo no acabamento do objeto encomendado pelo cliente, que
sempre fazia parte de uma minoria abastada da sociedade. Na alta-costura, na criação
customizada exclusiva de roupas, pode-se observar que os tecidos para confecção são de alta
qualidade, e que também podem incluir fios de metais nobres, ouro e prata; o estilista, por
encomenda das clientes, cria modelos que, com base em um molde para prova, são
executados sob medida, por um específico costureiro, costurados com extrema atenção nos
detalhes, constituindo-se num modelo único, o que resulta em peças únicas, direcionadas a um
grupo muito seleto de cidadãos.
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Compreendeu-se, dessa forma, que o movimento de artes e ofícios e a alta-costura
possuem uma estreita relação, mas ainda se destaca a necessidade do aprofundamento da
análise dos seus aspectos, ampliando os estudos a esse respeito.
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Acesso em: 05 de abril de 2010.
OLIVETI, Chiara; UZZANI, Giovanna. Design. Florença: Taschen, 2009.
THE KYOTO COSTUME INSTITUTE. Fashion: Une historie de la mode du XVIII e au
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THOMAS, Pauline Weston. Haute Couture: Fashion History. Disponível em:
<http://www.fashion-era.com/haute_couture.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2010.
o em: 10 de abril de 2010.
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