'Público' contesta queixa de ex-jornalista por partir de um "equívoco" Maria José Oliveira queixou-se por ter sido impedida de aceder ao seu 'e-mail'. Administração fala em "equívoco", direcção desconhece situação. Rebeca Venâncio [email protected] A administração do' Público' con sidera que haverá um "equívoco" na polémica que levou a ex - jorna lista do título a apresentar, há uma semana, uma queixa formal na Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) contra o jornal da Sonaecom. Em causa estará o facto de o jornal ter feito um 'backup' (cópia) do correio electrónico da jornalista e não lhe per mitir agora o seu acesso. Cristina Soares, administrado ra do 'Público', admitiu ao Diário Económico que "é uma prática banalíssima da empresa as pes soas que rescindem contrato assi narem uma declaração de confi dencialidade. A declaração diz apenas respeito a informação da organização interna do jornal, é uma política adoptada há algum tempo à qual nunca nenhum jor nalista se opôs", explicou a admi nistradora do jornal. No entanto, vários ex jornalistas do 'Público', contactados pelo Diário Económi co, confirmaram nunca lhes ter sido pedida qualquer declaração de confidencialidade. Sobre os alegados entraves à jornalista, Cristina Soares consi dera que poderá tratar -se de "um equívoco de ambas as partes. Ma ria José Oliveira ainda tem uma relação contratual com o 'Público' até final de Julho, por isso poderá fazer uso total das instalações do jornal, aceder ao seu 'e mail' e ao seu computador", disse ainda. Fonte da redacção adiantou ao Diário Económico que a jornalista que já apresentara a demissão, alegando perda de confiança na direcção do jornal terá sido in- A empresa terá pedido à jornalista para assinar um acordo de confidencialidade para então lhe ceder o 'back-up' do computador que usava no 'Público'. formada de que, se não assinar uma cláusula de confidencialidade que a impeça de falar sobre a orga nização e funcionamento do jor nal (sob pena de indemnizar a empresa), o 'Público' não lhe en tregará a cópia do seu 'e-mail*. Em causa estão dois discos (CD) com toda a informação do correio electrónico da jornalista de políti ca, que acompanhava o caso das Secretas e que terá sido, alegada mente, alvo de pressões por parte do ministro Miguel Relvas. A directora do 'Público', Bárba ra Reis, diz desconhecer em abso luto a situação, assumindo que é um assunto que não passa pela di recção, mas sim pelos informáti cos, recursos humanos e adminis tração, explicou ao Diário Econó mico. Contactada, a jornalista Ma ria José Oliveira confirma apenas que foi apresentada uma queixa. O Diário Económico sabe que a CNPD está a analisar o proces so e deverá decidir em breve se inicia um processo de averigua ções. O caso está também em análise na Entidade Reguladora da Comunicação Social, cujo conselho regulador reúne esta quarta-feira, dia 20. • Estatuto protege jornalista Segundo o artigo 11°, do Estatuto do Jornalista, inscrito na Constituição, "os directores de informação dos órgãos de comunicação social e os administradores ou gerentes das entidades proprietárias, bem como gualguer pessoa gue nelas exerça funções, não podem, salvo com autorização escrita do jornalista envolvido, divulgar as suas fontes de informação, incluindo os arguivos jornalísticos de texto (...) das empresas". Segundo o ponto 3 do artigo, "os jornalistas não podem ser desapossados do material utilizado ou obrigados a exibir os elementos recolhidos no exercício da profissão". Segundo o advogado Manuel Lopes Rocha, da PLMJ, apesar de haver um dever de reserva dos trabalhadores guanto a informação das empresas, o caso dos Jornalistas inscreve-se noutro plano. " 0 jornalista é como o advogado e médico, há uma componente de confidencialidade a respeitar".